Livro Otites Na Pratica Clinica
Livro Otites Na Pratica Clinica
Livro Otites Na Pratica Clinica
ILUSTRAES:
NA PRTICA
CLNICA
GUIA
DE DIAGNSTICO
E TRATAMENTO
JOO PAO
F. VILHENA DE MENDONA
OTITES
NA PRTICA
CLNICA
GUIA
DE DIAGNSTICO
E TRATAMENTO
OTITES
NA PRTICA CLNICA
GUIA DE DIAGNSTICO
E TRATAMENTO
FICHA TCNICA
[ AUTOR ] Prof. Doutor Joo Pao
[ ILUSTRAO CIENTFICA ] Dr. Fernando Vilhena de Mendona
Crculo Mdico - Comunicao e Design
JOO PAO
ILUSTRAO CIENTFICA
F. VILHENA DE MENDONA
OTITES
NA PRTICA
CLNICA
GUIA
DE DIAGNSTICO
E TRATAMENTO
AUTORES
GUIA DE DIAGNSTICO E TRATAMENTO
Ilustrao Cientfica
Dr. Fernando Vilhena de Mendona
Otorrinolaringologista
Director do Crculo Mdico
I Introduo
PG.
NDICE
13
25
26
27
28
Patologia Infecciosa
29
30
31
Patologia Traumtica
31
Corpos Estranhos
32
Patologia Neoplsica
33
IV Tmpano Normal
Tcnicas de Observao
35
37
Espculos Auriculares
37
Iluminao da Membrana
39
Otoscpio
42
Teleotoscpio
43
Microscpio Binocular
46
47
48
Cor
50
Superfcie e Orientao
52
Brilho
53
Transparncia
54
Mobilidade
55
Pontos a Salientar
56
PG.
NDICE
V Tmpanos Patolgicos
59
60
Fase Congestiva
62
Fase Supurativa
64
Fase Resolutiva
65
Miringite Bolhosa
65
67
Otite Serosa
Otite Serosa - Sinopse
Bolsas de Retraco
69
75
77
Localizao
77
Fixao
80
Controlo
82
Morbilidade
83
84
90
93
Otite Fibroadesiva
Otite Fibroadesiva - Sinopse
Otite Mdia Crnica Purulenta Simples
Otite Mdia Crnica Purulenta Simples - Sinopse
94
97
98
102
103
Desenvolvimento do Colesteatoma
de acordo com o local da perfurao
112
119
Timpanosclerose
Timpanosclerose - Sinopse
121
127
PG.
|7
Otite Traumtica
Otite Traumtica - Sinopse
Otite Barotraumtica
128
129
129
Perfurao Traumtica
131
132
Complicaes Extracranianas
133
Complicaes Intracranianas
136
137
145
Quadro Sinptico
Principais Patologias Infecciosas
do Ouvido Externo, Microbiologia
e Antibioterapia
147
Quadro Sinptico
Principais Patologias Infecciosas
do Ouvido Mdio, Microbiologia
e Antibioterapia
148
149
151
Fundamentos Antomo-clnicos
na Abordagem Cirrgica do Tmpano
152
Miringocentese
152
154
I . INTRODUO
Joo Pao
I . INTRODUO
As doenas inflamatrias do ouvido so sem dvida das situaes
mais frequentes que surgem tanto nos atendimentos permanentes como nas consultas do nosso dia-a-dia.
Cedo nos podem apoquentar, sobretudo nos primeiros anos de
vida, provocando otites muitas vezes recorrentes que, para alm
da otalgia, podem levar otorreia e nalguns raros casos perfurao timpnica que se pode, desde logo, instalar limitando a qualidade de vida da criana e mais tarde do adulto.
tambm nestes primeiros tempos que surge aquela que ainda
hoje a primeira causa de surdez infantil, a otite serosa, com a
instalao de um exsudado seroso ou seromucoso na caixa do
tmpano que vai limitar os movimentos da membrana timpnica e
cadeia ossicular, retardando a progresso das zonas sonoras em
direco ao ouvido interno.
Muitos so os casos de otite serosa que evoluem e curam espontaneamente, porm, outros apenas se resolvem com teraputica
mdica ou cirrgica com a aplicao de tubos transtimpnicos.
Nalguns casos nenhuma teraputica eficaz para a disfuno tubria que se pode tornar persistente dando origem ao aparecimento de bolsas de retraco do tmpano, que com o passar do
tempo podem evoluir para um estdio fixo e definitivo.
Nesta altura entra em campo o novo agente, a migrao epidrmica na superfcie timpnica que naturalmente expulsa pelas
paredes do conduto auditivo externo, mas nos casos das bolsas
| 11
de retraco pode acumular-se em sacos que surgem e se desenvolvem a partir do fundo das bolsas, crescendo para o interior
do ouvido mdio provocando os clebres, mas cada vez mais
raros, colesteatomas que podem chegar a provocar largas destruies e no raras complicaes.
Otalgia, otorreia, hipoacsia, otorragia, acufenos, vertigens e alteraes do equilbrio, autofonia, plenitude auricular, hiperacsia so
muitas das queixas que podem surgir associadas a todos estes
problemas.
O tmpano vai espelhando entretanto todos os processos que atingem o ouvido mdio, deixando de ser transparente ou translcido,
sofrendo uma ingurgitao e hiperemia de todos os seus vasos,
espessando-se com inflamao, abaulando-se sobre a presso
dos exsudados intratimpnicos que, por aumento de volume e fraqueza da membrana, podem provocar a sua ruptura e o aparecimento da otorreia.
Simultaneamente passada esta fase, a sua armadura colagnia
pode ficar enfraquecida e passar a ceder com mais facilidade s
presses positivas, mas sobretudo negativas intratimpnicas, estando na gnese das bolsas de retraco e do colesteatoma.
Este Guia Ilustrado de Otites dirige-se a mdicos de Medicina Geral
e Familiar, Pediatras e Otorrinos, pretendendo ser um auxiliar de
diagnstico e teraputica.
A abordagem fisiopatolgica detalhada, a riqueza iconogrfica de
fotografias e ilustraes cientficas, os quadros sinpticos de diagnstico e teraputica, fazem deste manual um utilitrio de grande
interesse para a prtica clnica.
Por ltimo, um agradecimento a todos os que colaboraram nesta
obra, muito obrigado ao Fernando Vilhena de Mendona por todas
as suas ilustraes e pela forma como dirigiu a edio deste manual, e finalmente BIAL que tornou possvel a sua publicao.
A todos bem hajam.
II . ATLAS DE ANATOMIA
APLICADA
Fig. 2.1 - Diviso anatmica do ouvido
Fig. 2.2 - Anatomia do ouvido
Fig. 2.3 - Anatomia do pavilho auricular
Fig. 2.4 - Aspecto macroscpico da membrana timpnica
normal (ouvido direito)
Fig. 2.5 - Estruturas situadas no interior da caixa
do tmpano, observveis transparncia
(ouvido direito)
Fig. 2.6 - Estruturas situadas no interior da caixa
do tmpano (ouvido direito - corte sagital)
Fig. 2.7 - Cadeia ossicular do ouvido mdio
Fig. 2.8 - Estruturas situadas no interior da caixa
do tmpano (ouvido direito - corte coronal)
Fig. 2.9 - Estruturas anatmicas vizinhas do ouvido
| 15
FIG. 2.1
FIG. 2.2
| 17
FIG. 2.3
FIG. 2.4
| 19
FIG. 2.5
FIG. 2.6
| 21
FIG. 2.7
FIG. 2.8
| 23
FIG. 2.9
| 27
FISIOLOGIA DO CANAL
AUDITIVO EXTERNO (CAE)
A sua funo a de canalizar as ondas sonoras para o ouvido
mdio, ajudando ao reconhecimento da origem do som. Por
outro lado, ao funcionar como caixa de ressonncia permite amplificar o som, sobretudo nas frequncias conversacionais.
O som produzido por ondas mecnicas longitudinais de compresso e rarefaco no ar em frequncias que podem ir dos 20
Hz a 20000 Hz nos humanos.
As ondas sonoras possuem caractersticas que permitem uma
melhor propagao: reflexo, refraco, interferncia e ressonncia.
Assim, a forma como a onda sonora progride atravs do meio
depende da sua natureza, suas irregularidades e ligaes com
o mesmo. Quando uma onda sonora atinge um local de maior
impedncia, a presso sonora desenvolvida no lado do ar ser
inadequada para promover a mesma amplitude de vibrao
local.
Em resultado, o som ser reflectido e apenas uma pequena proporo transmitida.
PATOLOGIA DO CANAL
AUDITIVO EXTERNO
Podemos dividi-la em congnita e adquirida. A ttulo de curiosidade, a patologia congnita compreende as malformaes do
ouvido externo, que vo desde a atrsia completa (ausncia de
CAE e pavilho), at malformaes isoladas do pavilho, estenose do meato ou do CAE. Todas as malformaes do ouvido externo podem surgir isoladamente ou associadas a malformaes
do ouvido mdio ou interno, ou ainda, no contexto de sndromes
mais complexas, a malformaes craniofaciais associadas, ou
mesmo de outros rgos e sistemas.
A patologia adquirida do ouvido externo pode ser infecciosa, intrnseca da pele, ssea benigna, traumtica, corpos estranhos e
neoplsica.
| 29
Patologia Infecciosa
Otite Externa (OE)
um processo infeccioso do ouvido externo. Pode envolver unicamente a poro cartilaginosa do pavilho auricular (pericondrite) que tem a particularidade de poupar o lbulo, ou afectar a
pele do CAE. A clnica inclui otalgia mais ou menos intensa, prurido, sensao de plenitude auricular com hipoacsia. No captulo VI poder consultar um quadro que resume as principais
caractersticas dos diferentes processos infecciosos do ouvido,
pelo que no texto apenas referiremos algumas particularidades
importantes das vrias patologias.
Na Otite Externa Difusa, quando h um grande edema do CAE,
pode ser til colocar um tampo de Merocel durante 24 a 48h
para permitir a entrada do antibitico tpico.
No caso da Furunculose, habitualmente necessrio associar a
drenagm da coleco purulenta ao tratamento antibitico.
Otomicose
uma otite externa fngica, que ao exame pode ter dois aspectos principais: ou se visualizam hifas do fungo a que vulgarmente
nos referimos como bolor, ou tem um aspecto de exsudado
Zona
uma infeco provocada pelo vrus Herpes Zooster. Caracteriza-se por uma erupo na concha, tragus, zona de Ramsay-Hunt (regio sensitiva do intermedirio de Wrisberg), associada
a paralisia do facial e a surdez por envolvimento do nervo coclear. A sintomatologia inicia-se por prurido, sensao de parestesias da concha e otalgia, instalando-se progressivamente
o quadro completo.
| 31
Osteomas do CAE
So proliferaes sseas nicas, frequentemente pediculadas e
arredondadas. O tratamento cirrgico.
Displasia Fibrosa
uma patologia ssea pouco frequente. Trata-se de uma fibrose
do osso com alterao da arquitectura ssea. Pode ser uma
doena monosttica ou poliosttica atingindo frequentemente os
ossos do crnio, podendo tambm afectar outros ossos e em
quadros mais graves cursar com alteraes endocrinolgicas.
Trata-se de uma mutao ps-zigtica que causa uma doena
tanto mais grave quanto mais cedo ocorrer.
Patologia Traumtica
Em relao patologia traumtica do ouvido externo, podemos ter
traumatismos do Canal Auditivo Externo ou do pavilho auricular.
Traumatismo do CAE
frequentemente originado pelo prprio com cotonete, arames, chaves, ganchos de cabelo, etc., habitualmente sem gravidade, mas podendo atingir a membrana timpnica e a cadeia ossicular.
Traumatismo do Pavilho
Do traumatismo do pavilho auricular pode resultar hematoma,
lacerao ou amputao. A amputao do pavilho uma situao que deve ser tratada sob anestesia geral em ambiente
hospitalar, se possvel recuperar o fragmento amputado at 6
horas. A lacerao pode ser tratada sob anestesia local com sutura dos topos lacerados e antibioterapia. O hematoma, que
bastante mais frequente, deve ser drenado e efectuado penso
compressivo e antibioterapia, caso contrrio pode suceder uma
necrose da cartilagem ou deformao da mesma.
Corpos Estranhos
Os corpos estranhos do CAE so sobretudo frequentes em crianas e devem ser removidos rapidamente. Podem ser animados
(organismos vivos) ou inanimados (material inerte ou organismos
mortos). Acima de tudo importante ter a noo que no se deve
tentar remover um organismo vivo do CAE sem o imobilizar primeiro. Pode-se optar por utilizar um material viscoso, como leo
de amndoas doces ou vaselina lquida, e no uma substncia
alcolica agressiva, uma vez que provoca agitao do organismo com consequente aumento dos danos no CAE. A remoo
pode ser depois tentada com uma micropina. No caso de um
corpo estranho inanimado deve-se tentar a remoo com um
gancho e nunca com uma micropina porque pode provocar o
deslizamento do mesmo para o fundo do CAE. Em algumas situaes pode ser necessria anestesia geral para remoo do
corpo estranho.
| 33
Patologia Neoplsica
Os tumores do ouvido externo so raros, sendo que os malignos so os mais frequentes. Podem ser de origem epitelial, glandular, nervosa, vascular, ssea ou cartilaginosa.
Os mais frequentes so os carcinomas pavimento-celulares do
pavilho, sendo que os basaliomas so bastante mais raros. O
tratamento predominantemente cirrgico complementado com
radioterapia ou quimioterapia nos casos em que se justifica.
IV . TMPANO NORMAL
IV . TMPANO NORMAL
A observao da membrana do tmpano, situada na extremidade interna do conduto auditivo externo, depende em grande
parte da morfologia deste canal.
Se analisarmos a poro cartilagnea do conduto, constatamos
existirem duas partes de direces distintas, que fazem entre si
ngulos de 100 a 110 aberto para trs (Testut, 1949).
No plano vertical, o conduto fibrocartilagneo tem uma direco
transversal, cncava para baixo. J a poro ssea, descrita no
captulo anterior, tem sempre um istmo mediano e um eixo que
se dirige para baixo, para diante e para dentro.
Pelo facto da cartilagem do pavilho auricular constituir simultaneamente a parede interior da poro cartilagnea do conduto,
a sua traco modifica a curvatura ou angulao que esta poro apresenta e, uma vez alterada, poder ser mantida atravs
da colocao de um espculo auricular.
O mesmo no sucede na poro ssea, qual o observador se
deve adaptar, quer pela mudana da sua posio, quer pela colocao da cabea do doente em distintas posies.
Para alm de se corrigirem os diferentes segmentos do conduto fibrocartilagneo de forma a modificar os seus eixos colocando-os em linha recta, necessrio iluminar este canal a fim
de podermos observar a membrana do tmpano.
| 37
TCNICAS DE OBSERVAO
Espculos Auriculares
As observaes do conduto auditivo destinavam-se inicialmente
extraco de corpos estranhos.
Em 1363, Guy de Chauliac, no seu tratado Collectorium Artis Chirurgicalis Medicinae, descreveu a extraco de corpos estranhos
do canal auditivo, para o que utilizava a luz solar e um espculo
(Hawke e col., 1984).
Para este autor, a primeira ilustrao de um espculo auricular
deve-se a um cirurgio alemo, Fabricius Hildanus, que no sculo XVI empregava um espculo bivalve para a extraco de
corpos estranhos. Este tipo de espculo vai continuar a ser utilizado nos sculos seguintes.
Segundo Garcia-Ballester e col. (1978), Itard, 1821, apresenta um
espculo de valvas com o qual observa a membrana do tmpano, servindo-se da luz solar que deve passar acima do ombro
do observador em direco ao ouvido do doente. As duas valvas,
que eram apenas introduzidas no conduto membranoso, ao
afastarem-se corrigiam as respectivas curvaturas, opunham-se
presso do tragus e possibilitavam que os raios luminosos atingissem a face externa do tmpano.
Newberg (1827), utilizava um espculo cilndrico, que para alm
de ser introduzido na poro membranosa do conduto, penetrava ligeiramente na poro ssea.
Bonnafont (1860), comenta este tipo de espculos, afirmando que
o seu calibre limita o campo de viso, e que as suas paredes cilndricas contactavam de uma forma dolorosa com as paredes
do conduto. Defende a utilizao dos espculos de valvas, uma
vez que estas se adaptam a qualquer conduto e a presso exercida pelas valvas nunca chega a ser dolorosa, pois regulvel e
possvel de controlar.
IV . TMPANO NORMAL
| 39
Todos estes espculos, com mais ou menos modificaes, continuam a ser utilizados hoje em dia.
Os espculos em forma de cone, segundo Alonso (1961), so muitas vezes conhecidos pelos nomes dos seus autores. Os cones
truncados, que terminam em forma de crculo, so chamados
espculos de Hartman. Os que tm a sua terminao ovalada,
so denominados espculos de Alexander. Dentro de cada tipo
existem 3 a 4 dimetros que vo de 3 a 8 mm.
Durante a cirurgia so ainda utilizados espculos de metal, enegrecidos e baos, pois evitam a reflexo da luz no perturbando
o observador, e criam melhores condies para a iluminao
das paredes do conduto e do tmpano. Alguns destes espculos
tm a sua extremidade em bisel, de modo a melhor se adaptarem morfologia do conduto (espculos de Plester).
IV . TMPANO NORMAL
Mais tarde, com o aparecimento da luz produzida por leos minerais, so criadas por Buchanan, em Inglaterra, e por Kramer,
na Alemanha, caixas que no seu interior contm uma fonte de
luz, um espelho reflector e uma lente convexa, possibilitando iluminar de uma forma mais adequada o conduto e o tmpano.
Para Politzer (1865) a luz artificial tinha, contudo, o inconveniente
de alterar as sombras naturais do tmpano, perturbando a sua
imagem de conjunto.
Este autor descreve que sempre prefervel a luz natural, reflectida num espelho ou numa parede branca e dirigida para o interior do canal (Garcia-Ballester e col., 1978).
Tillaux (1897), escreve que a luz natural superior artificial, e a
melhor ser aquela que provm de um cu carregado de nuvens
brancas, ou a que reflectida de um muro branco, pois v-se mal
com um cu azul.
O exame com luz viva em pleno sol, oferecia contudo a vantagem de mostrar melhor certos detalhes do interior da caixa. Este
autor indica porm que usa a luz artificial na prtica corrente.
O uso de espelhos especiais com um orifcio central atribudo
a Troltsch, que os divulga em 1855 num Congresso em Paris.
Politzer (1865) preconiza o seu uso na prtica corrente, afirmando
que estes devem ser utilizados nos quartos dos doentes ou em dias
de muitas nuvens, servindo-se quer da luz natural quer da artificial.
Os espelhos de Troltsch podiam ser utilizados de vrias formas,
desde colocados na fronte, os espelhos frontais, nos culos, na
mo do otologista e mesmo nos seus dentes (Hawke e col., 1984).
Politzer aconselhava o uso destes espelhos na mo direita, enquanto a esquerda segurava o espculo auricular. O espelho
devia ser colocado de forma a fazer concentrar a maior intensidade de luz na membrana do tmpano.
A desvantagem deste mtodo resultava do facto de o observador ter de se colocar a uma distncia tal, que a sua cabea no
interrompesse completamente a iluminao do tmpano, ao
| 41
IV . TMPANO NORMAL
As cores do tmpano e da epiderme do conduto variam com a intensidade da luz, sendo diferentes consoante a forma de iluminao. Uma grande intensidade luminosa no significa uma
melhor observao do tmpano, pois esta membrana perde a
sua colorao natural tornando-se esbranquiada devido reflexo dos raios luminosos.
Otoscpio
Os primeiros otoscpios surgem no final do sculo XIX, propostos por Bonnafont, Bruntons, Hawke e col. (1984). Eram constitudos por um espculo auricular que dispunha de um espelho
perfurado, colocado a 45 na extremidade de um cilindro oco,
encontrando-se na outra extremidade a fonte de luz. O espculo
e o espelho faziam um ngulo de 90.
O otoscpio de Bruntons possua j uma lente de aumento e era
usado sobretudo pelos mdicos generalistas, pois os otologistas preferiam o espelho frontal e o espculo auricular, de forma
a terem as mos livres.
Este otoscpio acabou por dispor de uma lmpada, e ser deste
modo o primeiro a usar iluminao elctrica.
Segundo Hawke e col. (1984), Schall, em 1890, produz o primeiro
otoscpio da Alemanha e Verdor em Barcelona, em 1895, cria
igualmente um aparelho deste tipo.
Todos estes otoscpios possuam um cabo, um corpo e um espculo. A lmpada contida no corpo ocupava parcialmente a cavidade do espculo, o que limitava a viso.
Os espculos auriculares podiam ter calibres diferentes, que se
mudavam conforme as dimenses do conduto.
No espculo de Bruntons existia uma adaptao lateral para um
tubo de borracha atravs do qual o observador soprava ou fazia
suco, de forma a modificar a posio do tmpano.
A grande evoluo nestes otoscpios d-se no sistema de iluminao. At muito recentemente, a iluminao era produzida
| 43
Teleotoscpio
O teleotoscpio veio introduzir uma nova dimenso na observao, assim como no registo fotogrfico e em vdeo, da membrana do tmpano.
As verses mais recentes destas pticas utilizam um sistema inventado pelo Professor Hopkins da Universidade de Reading
Inglaterra.
Os teleotoscpios tradicionais que eram uma evoluo do citoscpio de Nitze (1879), utilizavam pequenas lentes colocadas
a intervalos regulares no interior do endoscpio. O sistema de
Hopkins emprega uma srie de lentes em forma de varetas,
separadas por intervalos que contm ar e que funcionam
como lentes.
IV . TMPANO NORMAL
Este sistema, relativamente ao convencional, ocupa menos espao, o que se traduziu por uma reduo do calibre externo dos
endoscpios. Os teleotoscpios mais recentes apresentam dimenses entre 2,7 e 4 mm, facto que possibilita a sua utilizao
mesmo em crianas ou adultos com grande procidncia das paredes do conduto auditivo.
Se tivermos em conta que o calibre do conduto tem 5,3 mm no
istmo, e que entre este e o tmpano distavam cerca de 3 mm na
parede posterior e 5 mm na parede anterior, compreendemos
que possvel ultrapassar esta barreira ficando o teleotoscpio
a escassos milmetros da membrana timpnica.
As lentes de Hopkins proporcionam igualmente um largo ngulo
de viso e, apesar da curta distncia do teleotoscpio ao tmpano, permitem observar a totalidade desta membrana (Fig. 4.1).
Os obstculos anatmicos levantados pela procidncia das paredes do conduto, numa otoscopia normal efectuada com um
espculo auricular, impedem muitas vezes a observao da totalidade dos quadrantes anteriores e do respectivo segmento do
annulus, e podem ser ultrapassados se utilizarmos um teleotoscpio (Figs. 4.1-A e B).
Para alm destes aspectos, os teleotoscpios de Hopkins transmitem mais luz que os sistemas convencionais e tm melhor
poder de resoluo e contraste.
A iluminao obtida atravs de fontes de luz fria de diferentes intensidades, possibilita a documentao fotogrfica da imagem,
assim como o seu registo em vdeo, com uma qualidade e um
pormenor que nenhum dos outros mtodos consegue atingir.
O teleotoscpio , contudo, apesar das inmeras vantagens,
apenas um aparelho de observao que possibilita, desde que
acoplado a uma mquina fotogrfica ou a um sistema de vdeo,
o registo das imagens, no permitindo todavia qualquer manipulao.
A sua utilizao exige que tenham sido removidos do conduto
auditivo externo o cermen e os restos epidrmicos que a se
| 45
FIG. 4.1
IV . TMPANO NORMAL
Microscpio Binocular
O microscpio binocular igualmente um aparelho indispensvel na observao da membrana do tmpano.
Os modelos mais recentes utilizam todos luz fria, transmitida por
cabos de fibras pticas, o que possibilita uma iluminao difusa,
sem pontos de penumbra, aumentando-se deste modo a profundidade do campo visual. As pticas so todas estereoscpicas e do uma viso tridimensional da membrana do tmpano.
Este tipo de viso evita sobreposies ou efeitos pticos, que muitas vezes esto na origem de erros de observao.
Os microscpios actuais tm grande mobilidade, o que associado a um espculo correctamente colocado, e modificando a
posio da cabea do doente, possibilita o controlo e a inspeco da quase totalidade da membrana do tmpano.
Ao contrrio do teleotoscpio, na otoscopia efectuada com o microscpio, devemos contar com as dificuldades anatmicas colocadas pela morfologia das paredes do conduto.
| 47
O microscpio de observao apresenta vantagens relativamente ao teleotoscpio, possibilitando efectuar manobras como
aspirao de exsudados, remoo de corpos estranhos, e pequenos actos cirrgicos, que se tornam muito mais seguros se
efectuados desta maneira.
Uma vez focado um determinado ponto do tmpano, podem
aumentar-se as ampliaes at se ter um detalhe suficiente,
transformando a observao microscpica do tmpano numa
manobra dinmica.
Tal como no teleotoscpio, o microscpio possibilita o registo das
imagens em fotografia e em vdeo, permitindo a documentao
dos actos cirrgicos. A observao das imagens associada ao
controlo de resultados, traduz-se numa melhoria dos cuidados
assistnciais para alm de desempenhar um papel fundamental no ensino.
IV . TMPANO NORMAL
| 49
FIG. 4.2
IV . TMPANO NORMAL
Cor
A cor do tmpano varia habitualmente entre cinzento prola e o
cinzento azulado, clssica cor de fumo.
Ao analisarmos esta caracterstica do tmpano, temos que referir que a membrana tmpnica semitransparente, translcida,
existindo, portanto, raios luminosos que a atravessam e se vo
reflectir no promontrio, influenciando a sua cor.
O tipo de iluminao utilizado tem igualmente importncia nesta
colorao, pois ela varia consoante se utllize uma lmpada de filamento de halognio ou luz fria. Uma luz demasiado fraca d
ao tmpano uma colorao sombreada, ao passo que uma luz
muito potente lhe confere uma cor plida, para alm de alterar
igualmente a colorao das paredes do conduto.
A limpeza deste canal influencia igualmente a cor do tmpano,
pois a presena de cermen, atravs do qual passam os raios luminosos, pode-lhe atribuir diferentes tonalidades.
A colorao do tmpano resulta pois de uma combinao de
cores, que influenciada pela transparncia desta membrana,
tipo de luz utilizada e grau de limpeza do conduto.
Politzer (1865) referia-se j ao facto de a cor do tmpano ser diferente consoante fosse observado com luz natural ou artificial.
Para este autor, o tmpano era cinzento neutro com tons de violeta e de amarelo (Garcia-Ballester e col., 1978).
Considera-se hoje como normal a cor cinzento prola, que apresenta variaes de acordo com a poro do tmpano considerada.
Estas alteraes de cambiante esto em regra relacionadas com
a morfologia do conduto auditivo, surgindo normalmente a metade anterior do tmpano mais sombreada que a posterior.
So as procidncias das paredes anterior e inferior do conduto
que se interpem entre raios luminosos e o tmpano, e que tornam os quadrantes anteriores mais escuros e os posteriores
mais claros. Contudo, estas alteraes no se verificam caso as
| 51
IV . TMPANO NORMAL
Superfcie e Orientao
O tmpano no se apresenta plano e tem inclinaes e orientaes distintas consoante a rea considerada.
Para este facto muito contribui a disposio do martelo, e a forma
como estabelece relaes com esta membrana, s quais j nos
referimos em pormenor.
A curta apfise do martelo o ponto mais saliente da superfcie
do tmpano, pelo que chama de imediato a ateno numa otoscopia. Tem cor branca, e Tillaux (1897), comparou-a mesmo a
uma prola. Esta apfise tem a sua localizao mais prxima do
bordo anterior que do posterior, facto que traduzido pela diferena de dimenses das pregas timpanomaleolares, para a qual
chammos a ateno no Captulo 3.
Apesar da sua localizao, a curta apfise sempre visvel, o
que se compreende se tivermos em conta a morfologia da parede superior, sempre cncava, e o valor do ngulo tmpano-meatal superior.
Num tmpano normal, esta apfise pode parecer nuns casos mais
procidente que noutros, e ter mesmo uma colorao diferente.
Este facto deve-se ao prolongamento da epiderme da parede
superior do conduto, que depois da pars flaccida pode continuar-se para baixo sobre a curta apfise e o cabo do martelo.
Esta apfise pode, ento, ficar envolvida pela epiderme e no ter
a tpica colorao esbranquiada.
O cabo do martelo e a esptula destacam-se pela sua forma e
cor, diferente da cor cinzento prola do resto da membrana.
A obliquidade normal da membrana do tmpano, analisada no
captulo anterior, pode modificar-se devido, geralmente, a presses negativas intratimpnicas. Nesta situao, a observao do
martelo constitui um importante indicador, pois enquanto a curta
apfise se torna mais saliente, o cabo acompanha a depresso
timpnica ocupando uma posio prxima da horizontal.
| 53
Brilho
A membrana do tmpano no seu estado normal apresenta uma
poro que se destaca pela sua maior luminosidade.
Esta superfcie mais brilhante localiza-se por baixo da esptula
do martelo, entre esta e o aro timpnico.
Wild chamou-lhe cone luminoso e Politzer tringulo luminoso
(ambos citados por Testut, 1949).
Efectivamente, esta rea tem uma forma tringular de vrtice superior, situado na extremidade inferior do martelo, alargando-se a
partir deste ponto at atingir o aro tmpnico.
Enquanto o cabo do martelo se dirige obliquamente para baixo
e para trs, o tringulo luminoso dirige-se para baixo e para a
frente.
O cabo deste ossculo faz com o tringulo luminoso de Politzer
um ngulo obtuso, aberto para diante. Testut (1949) indica como
valor para este ngulo 100 a 110.
As dimenses deste tringulo luminoso variam de caso para
caso e de acordo com o estado da membrana, mais ou menos
deprimida.
Quanto s causas deste cone de luz, vrias tm sido as explicaes. Wild afirma que a este nvel a parede do tmpano era convexa, argumentos mais tarde rebatidos por Politzer, que atribui a
sua existncia forma cncava da pars tensa, descrevendo que
nenhuma luz seria reflectida se a membrana fosse plana. Troltsch
da mesma opinio, quando diz que este cone luminoso tem o
seu incio precisamente no ponto de maior concavidade.
As razes sero, portanto, a obliquidade do tmpano relativamente ao eixo do canal, associada depresso provocada pelo
cabo do martelo. A comprovar esta explicao est o facto de
este tringulo se modificar durante uma manobra de Valsalva,
quando o tmpano altera a sua posio. Por outro lado, e sempre que o tmpano se torna mais espesso devido a fenmenos
IV . TMPANO NORMAL
inflamatrios, a sua superfcie deixa de reflectir os raios luminosos e este tringulo desaparece.
A localizao do tringulo luminoso no quadrante ntero-inferior faz com que nalguns casos, dada a procidncia da parede
anterior do conduto, nem todo o tringulo seja visvel.
Este tringulo , portanto, uma caracterstica do tmpano normal,
constitui o reflexo da luz projectada sobre a sua superfcie cncava,
no um acidente anatmico, apenas resulta do acto da otoscopia.
Transparncia
A membrana do tmpano apresenta-se transparente ou translcida, possibilitando observar o interior da caixa (Fig. 4.2).
Nem toda a membrana tem esta caracterstica. A pars flaccida
sempre opaca, tal como algumas zonas da pars tensa. Muitos tmpanos apresentam normalmente uma opacidade junto
ao annulus, que se estende dos quadrantes anteriores, onde
mais evidente, at aos posteriores. De todos os quadrantes, o
mais transparente o pstero-superior.
Relacionamos estes factos com a espessura da membrana.
Assim, a pars flaccida a poro mais espessa do tmpano
custa da sua camada epidrmica, enquanto que na pars tensa
esta membrana mais espessa periferia, resultado da disposio da camada de fibras circulares.
Com efeito, o quadrante pstero-superior que praticamente s
possui fibras radirias, ser o menos espesso e, portanto, o
mais transparente. Neste quadrante possvel observar transparncia, de trs para diante: a lmina timpnica, o nervo da
corda do tmpano, o ramo vertical da bigorna, a articulao incudo-estapdica e, por vezes, o ramo posterior do estribo.
A lmina timpnica surge imediatamente para dentro e para
diante do annulus tmpnico, com uma cor esbranquiada, relacionando-se com o nervo da corda do tmpano. Este nervo
cruza obliquamente, de baixo para cima, este quadrante.
| 55
Mobilidade
A membrana do tmpano tem uma mobilidade natural, que pode
ser analisada sempre que se efectuem numa otoscopia, as manobras de Valsalva e Toynhee, ou atravs da utilizao do espculo de Siegle.
A manobra de Valsalva provoca uma hiperpresso positiva no
cavum, que transmitida pela Trompa de Eustquio ao ouvido
mdio, faz aumentar a presso intratimpnica e movimenta o
tmpano em direco ao observador.
Por sua vez, a manobra de Toynbee provoca uma presso negativa que transmitida ao ouvido mdio implica uma depresso
do tmpano, em sentido contrrio ao da manobra de Valsalva.
Pudemos comprovar atravs da manobra de Valsalva, efectuada
em 30 doentes isentos de patologia otolgica e com timpanogramas normais, que o tmpano no se distende da mesma maneira ao longo de toda a sua superfcie.
IV . TMPANO NORMAL
Em todos constatmos que o quadrante pstero-superior se distendia mais do que qualquer outro quadrante da pars tensa. Simultaneamente verificmos sempre a disteno da pars flaccida.
A prega timpanomaleolar posterior, que separa estas duas pores do tmpano, desaparecia como resultado desta distenso.
A observao da mobilidade do tmpano pode ser igualmente
efectuada com o otoscpio pneumtico, assim como com o espculo de Siegle.
Podemos, pois, afirmar que o tmpano mvel na sua totalidade,
mas que existem pores desta membrana mais distensveis
que outras. Estas localizam-se no quadrante pstero-superior da
pars tensa e na pars flaccida.
PONTOS A SALlENTAR
1. A existncia e a disposio das vrias camadas de fibras do
tmpano condicionam o seu grau de transparncia aos raios
luminosos, o que clinicamente valorizado na interpretao
das otoscopias.
O quadrante pstero-superior, onde existe apenas uma camada de fibras (radirias), tem em regra um grau de transparncia superior da restante pars tensa. Atravs dele
visvel a lmina tmpnica, para alm das estruturas habitualmente descritas na regio correspondente da caixa do
tmpano.
A pars flaccida a poro mais espessa do tmpano, o que
sucede custa da camada epidrmica, razo da sua falta de
transparncia.
No recm-nascido a obliquidade do tmpano torna-o mais espesso aos raios luminosos, e impede ou dificulta a reflexo
destes no interior da caixa, pelo que se acentua a colorao
da membrana timpnica.
| 57
2. A mobilidade da membrana do tmpano, atravs da manobra de Valsalva, possibilitou verificar que perante uma hiperpresso positiva no ouvido mdio, esta membrana reage
de forma diferente, consoante a rea considerada.
Conclumos ento que o tmpano mvel na sua totalidade,
mas que existem pores desta membrana mais distensveis que outras, localizadas no quadrante pstero-superior
da pars tensa e da pars flaccida. Estas zonas possuem caractersticas anatmicas comuns, tendo menos fibras colagnias, e sendo igualmente distinto o modo como se inserem
no tmpano.
O quadrante pstero-superior que apresenta maiores dimenses, est por este motivo mais sujeito s diferenas de
presso. A inexistncia do ligamento timpanomaleolar posterior possibilita que o quadrante pstero-superior e a pars
flaccida se distendam simultaneamente.
V . TMPANOS PATOLGICOS
Joo Pao
V . TMPANOS PATOLGICOS
Neste captulo, tendo como base as imagens otoscpicas de tmpanos patolgicos, comentaremos as principais alteraes que
ocorrem na estrutura desta membrana, no martelo e no aro timpnico, de acordo com os resultados do estudo morfolgico efectuado.
Procuraremos assim contribuir para a compreenso da fisiopatologia das mais frequentes entidades nosolgicas que afectam
esta membrana.
| 61
V . TMPANOS PATOLGICOS
Aps um episdio de otite aguda, e j depois da aco dos antibiticos, o exsudado resultante pode levar at um ms para ser
completamente reabsorvido. A audio volta ento ao normal, e
a sensao de plenitude desaparece.
O carcter evolutivo da otite mdia aguda possibilita distinguir 3
fases congestiva, supurativa e resolutiva.
Fase Congestiva
Esta fase habitualmente precedida dum curto perodo de obstruo da Trompa de Eustquio, no qual o tmpano se encontra
deprimido, a curta apfise saliente e o cabo horizontalizado. A
membrana perde o seu brilho natural e podem mesmo observar-se transparncia nveis lquidos.
A fase congestiva propriamente dita caracteriza-se pela hiperemia. Esta, inicialmente localizada pars flaccida e ao cabo do
martelo, surge depois junto ao annulus timpnico (Fig. 5.1).
A vasodilatao da arterola do martelo, que da parede superior
do conduto desce sobre a pars flaccida e sobre o cabo, a responsvel pela hiperemia. Simultaneamente surge a vasodilatao dos crculos vasculares peri-anulares, que acompanhada
por alteraes nos vasos das paredes adjacentes do conduto.
Com a hiperemia difusa passam a estar envolvidos, para alm
das arterolas j mencionadas, os vasos radirios que as
anastomosam e que se distribuem sobre toda a superfcie do
tmpano.
Para alm das modificaes da colorao, o tmpano torna-se
progressivamente espesso e edemaciado, esbatendo-se progressivamente os pontos de referncia, como a curta apfise e o
cabo do martelo.
Como consequncia o brilho desaparece, no se encontra o
tringulo luminoso, enquanto o aumento de espessura implica a
perda de transparncia.
| 63
FIG. 5.1
V . TMPANOS PATOLGICOS
Nesta altura, a acumulao de exsudados purulentos intratimpnicos vai provocar um abaulamento que se inicia no quadrante pstero-superior, o que est perfeitamente justificado
pelas suas caractersticas anatmicas.
De facto, o quadrante pstero-superior o que tem maior rea,
estando, portanto, mais sujeito s variaes de presso. A sua
constituio favorece ainda a distensibilidade, uma vez que esta
a zona do tmpano com menor nmero de fibras.
Com efeito, em 60% dos tmpanos estudados as fibras circulares
terminavam no incio deste quadrante, junto emergncia do
nervo da corda do tmpano. Nos restantes casos identificava-se
apenas uma estreita faixa de fibras junto ao annulus.
A acompanhar o abaulamento, que se pode estender posteriormente a outras reas, nomeadamente pars flaccida, observam-se, muitas vezes, zonas de colorao branca amarelada
sobre um fundo hipermico.
Hawke e Jahn (1988), relacionam esta mudana de colorao com
fenmenos locais de necrose, premonitrios da fase supurativa.
Fase Supurativa
Surge na sequncia da fase congestiva e a perfurao ocorre em
geral no ponto de maior distenso. Esta, provoca um dfice de irrigao seguido de necrose.
A existncia de perfuraes vai determinar que este local, aps
a cicatrizao, constitua um ponto de menor resistncia na estrutura timpnica. o que sucede com as otites de repetio
da criana.
S aps a aspirao dos exsudados possvel observar o orifcio da perfurao num tmpano que mantm uma colorao
branca amarelada, e no qual dificilmente se identificam os pontos de referncia.
| 65
Fase Resolutiva
O tmpano recupera gradualmente a sua cor, brilho, aspecto e
posio anatmica, e a perfurao, se existe, acaba na maioria
dos casos por se encerrar espontaneamente.
No interior da caixa processam-se igualmente uma srie de alteraes ao nvel das bolsas timpnicas. Estas, que na fase supurativa da otite mdia aguda podem estar envolvidas pelo
contedo purulento da caixa, retomam a sua morfologia, o que
permite restabelecer a comunicao entre elas e os andares superior e mdio da caixa. Deste modo, volta a processar-se o arejamento e a normalizao da mucosa.
A permanncia no seu interior dos exsudados inflamatrios pode
originar a formao de bridas cicatriciais e implicar o encerramento do istmo timpnico externo, que consideramos como
sendo fundamental para o arejamento do tico externo. Nesta
eventualidade, a comunicao do tico com o mesotmpano ficar limitada aos istmos timpnicos anterior e posterior, ambos
localizados no tico interno.
A recuperao dura em regra 4 a 6 semanas, sendo possvel
durante este intervalo surgir uma descamao anormal sobre a
superfcie timpnica.
A normalizao da mobilidade timpnica sinal de evoluo favorvel de um otscopio pneumtico e registada pelo timpanograma.
A recuperao da audio verifica-se, habitualmente, apenas
cerca de um ms aps o incio do tratamento.
Miringite Bolhosa
Caracteriza-se pela presena de flictenas na superfcie da membrana timpnica.
Nalguns casos, estas bolhas que tm um contedo seroso ou
hemorrgico, podem confluir e ocupar a quase totalidade da
V . TMPANOS PATOLGICOS
FIG.5.2
| 67
V . TMPANOS PATOLGICOS
MICROBIOLOGIA
Streptococcus pneumoniae, Haemofilus influenzae e Moraxella
catarrhalis so os microrganismos que, com maior frequncia, encontramos. Em cerca de 2% das crianas podem-se
encontrar bacilos Gram-negativos. Os vrus podem ser encontrados em aproximadamente 4% dos exsudados com
os vrus respiratrio sincicial e o influenza a serem os mais
comuns.
TERAPUTICA
A amoxicilina continua a ser o frmaco de eleio, com doses
de 10mg/kg/dia. Tendo em conta a resistncia do Streptococcus
pneumoniae, logo seguida da associao amoxicilina-cido
clavulnico, cefuroxime axetil e, nos casos mais graves, da ceftriaxone. Nos doentes sensveis penicilina dever ser usada
a eritrocina ou seus derivados ou cefixime.
Devem igualmente ser administrados analgsicos e, com o
fim de restabelecer o normal funcionamento da Trompa de
Eustquio, gotas nasais vasoconstritoras, descongestionantes nasais ou mucolticos.
Os exsudados no interior do ouvido mdio podem persistir
em crianas entre os 2 e os 6 anos, at dois meses aps o
episdio agudo, ficando s nessa altura completamente restabelecida a audio.
Timpanocentese
realizada atravs de um fino catter, que possibilita aspirar
o contedo do ouvido mdio, permitindo identificar o/os microrganismo(s) envolvidos.
| 69
Miringocentese
a inciso da membrana timpnica que facilita a imediata drenagem dos exsudados do ouvido mdio. habitualmente precedida da timpanocentese e est indicada em casos de otalgia
severa, otites de repetio que no cedem teraputica mdica, ou complicaes como a paralisia facial ou a meningite.
OTITE SEROSA
A otite serosa, uma das principais causas da surdez de transmisso na criana, surge como consequncia de uma disfuno
tubria, de que resulta a produo pela mucosa de um exsudado
que se acumula no interior do ouvido mdio (Figs. 5.3 e 5.4).
Na otoscopia, o tmpano apresenta-se deprimido, com o cabo
do martelo horizontalizado, curta apfise procidente e ligamentos timpanomaleolares bem evidentes. Para alm destes aspectos possvel observar alteraes da cor, aspecto, brilho,
transparncia e mobilidade.
Mas na otite serosa, e como resultado da depresso timpnica,
no so apenas a curta apfise e o cabo que modificam a sua
posio:
a cabea do martelo desloca-se do segmento atical da parede
externa da caixa. Como consequncia, o corredor interno do
tico alarga-se em toda a sua extenso, enquanto o corredor
externo se torna praticamente inexistente. O limite deste movimento vai ser a prpria parede externa do tico, uma vez que
o ligamento superior do martelo, com poucas ou nenhumas fibras colagnicas, quase no oferece resistncia;
o colo, tal como a cabea do martelo, movimenta-se para fora
e aproxima-se, ou entra em contacto com a pars flaccida, tornando a bolsa timpnica superior, um espao virtual. Esta disposio, reversvel na maioria dos casos, pode, sempre que o
processo se arraste e evolua para a cronicidade, implicar a epidermizao desta rea.
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 71
FIG. 5.3
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 73
FIG. 5.4
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 75
ETIOLOGIA
Trata-se da acumulao de exsudados fluidos no ouvido
mdio, na ausncia de inflamao ou infeco. Por o fluido
ser muitas vezes extraordinariamente viscoso designado
pelos autores anglo-saxes de glue ear.
V . TMPANOS PATOLGICOS
TERAPUTICA MDICA
Saber esperar. Uma otite serosa pode resultar da evoluo
duma otite aguda, estando os exsudados do ouvido mdio a
ser reabsorvidos, o que pode demorar 3-6 meses.
Devem ser utilizados descongestionantes, mucolticos, anti-histamnicos e por vezes antibiticos (infeco bacteriana
associada).
Auto-insuflaes so muitas vezes bem vindas e facilitam o
retorno ao normal da funo tubria, porm, a idade da
criana condiciona estas manobras.
As alergias condicionam, muitas vezes, o bom xito da teraputica e aceleram a indicao cirrgica.
TERAPUTICA CIRRGICA
Recorre-se teraputica cirrgica quando falha a teraputica
mdica aps pelo menos 3-4 meses de tratamento, se a surdez ultrapassa os 30 decibis no melhor ouvido, ou se se formam bolsas de retraco e se esboam atelectasias.
A colocao dos tubos transtimpnicos sob anestesia geral
constitui um bypass a uma Trompa disfuncionante e serve
para arejar o ouvido mdio e no para drenar, devendo ser
associada remoo simultnea dos adenides, a fonte da
infeco e inflamao da Trompa.
Aps 8-10 meses, os tubos so expulsos espontaneamente,
podendo verificar-se uma recidiva em 8 a 10%.
| 77
BOLSAS DE RETRACO
As bolsas de retraco so um processo dinmico, muitas vezes
reversvel mesmo sem qualquer tratamento, traduzindo uma insuficincia tubria associada a reas de menor resistncia do
tmpano.
Podem apresentar uma fase de actividade na qual existe uma inflamao, por vezes com a presena de um exsudado intratimpnico, e uma fase de sequela, de acalmia do processo
inflamatrio e de cicatrizao.
Contudo, na otoscopia a caracterizao das bolsas de retraco
passa obrigatoriamente pela anlise de outros aspectos, como
a localizao, fixao, controlo e mobilidade.
Localizao
As bolsas de retraco podem ser localizadas, caso existam
numa rea circunscrita do tmpano, ou difusas, se estiver envolvida toda a pars tensa.
A pars flaccida o local onde mais frequentemente se situam as
bolsas de retraco, existindo factores anatmicos que podem
explicar esta incidncia:
as fibras colagnicas, em reduzido nmero, apresentam-se
desorganizadas, e ao contrrio das da pars tensa no possvel proceder sua sistematizao, pois encontram-se de
uma forma anrquica, no se associando em feixes e dispondo-se apenas numa camada;
o sulco e o annulus timpnico no existem ao nvel da incisura
de Rivinus, pelo que as fibras da pars flaccida se continuam
com as do periosteo da incisura;
os ligamentos timpanomaleolares que eventualmente poderiam servir de apoio so igualmente inexistentes;
a pars flaccida o local do tmpano que apresenta maior mobilidade.
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 79
FIG. 5.5
V . TMPANOS PATOLGICOS
Fixao
Na sequncia de processos inflamatrios e da manuteno das
presses negativas que estiveram na origem das bolsas de retraco, pode suceder uma fixao das paredes da bolsa s superfcies sseas do interior da caixa, paredes ou ossculos, com
os quais entra em contacto (Fig. 5.5).
Esta disposio das bolsas de retraco pode ser provisria e reversvel, contudo, a partir de determinado momento torna-se irreversvel, contribuindo para a invaso definitiva da caixa da epiderme.
Os locais de mais frequente fixao das bolsas de retraco so:
o colo e a cabea do martelo, nas bolsas de retraco da pars
| 81
FIG. 5.6
V . TMPANOS PATOLGICOS
Controlo
As bolsas de retraco podem, de acordo com as suas dimenses e localizao, ser controladas pela observao microscpica e pelo teleotoscpio.
Se forem utilizados todos os ngulos de viso, uma boa iluminao e uma ampliao adequada, possvel em muitos casos
observar a abertura da bolsa, as suas paredes e fundo, situados no interior da caixa.
Controla-se deste modo se est a haver ou no acumulao de
queratina, e se esta segue a sua via natural, a expulso pelo
conduto auditivo externo.
Considera-se que a bolsa deixa de ter controlo quando, pela
otoscopia com o microscpio ou o teleotoscpio, se tornou impossvel observar o fundo da bolsa e detectar a acumulao
| 83
Mobilidade
O tmpano, nas bolsas de retraco, tem a sua mobilidade alterada consoante as bolsas sejam mveis, fixas ou estejam em
perodo de actividade.
Nos casos de actividade, com sinais inflamatrios, independentemente das bolsas estarem localizadas na pars tensa ou na pars
flaccida, de terem ou no controlo, o tmpano encontrava-se imvel e os timpanogramas eram planos.
J nas bolsas de retraco fixadas, apesar da ausncia de sinais inflamatrios, a mobilidade do tmpano dependia da localizao e extenso da bolsa. Assim, uma bolsa de retraco da
pars flaccida, apesar de fixada, no significa que a pars tensa se
encontre tambm imvel. Da mesma maneira, numa bolsa pstero-superior fixada, os quadrantes anteriores do tmpano
podem apresentar-se mveis.
Ser a manobra de Valsalva, a utilizao de espculo de Siegle,
ou de um otoscpio pneumtico que possibilitam determinar se
uma bolsa de retraco, localizada ou difusa, ou no mvel.
Na manobra de Valsalva, aps a introduo de ar na caixa pela
Trompa de Eustquio, a bolsa vai-se deslocar para fora em direco ao observador, fazendo no conduto uma procidncia ou
um abaulamento correspondente rea da bolsa de retraco.
De todas as bolsas, so as pstero-superiores que enquanto no
esto fixadas apresentam maior distensibilidade e flexibilidade,
facto que pensamos estar relacionado com a rea deste quadrante, insero e caractersticas da lamina propria.
Nas bolsas de retraco, as perdas audiomtricas atingem essencialmente a via rea e so variveis, de acordo com a sua
localizao, extenso e existncia ou no de leses da cadeia
ossicular.
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 85
Pars Flaccida
O desenvolvimento das bolsas de retraco da pars flaccida
condicionado pela bolsa timpnica superior, da qual esta membrana constitui a parede externa.
Valorizamos nesta bolsa timpnica a parede interna formada
pelo ligamento lateral externo do martelo, que do colo deste ossculo se dirige ao bordo inferior do muro do tico, onde se insere
conjuntamente com a membrana de Shrapnell (Fig. 5.7-A).
Assim, enquanto este ligamento existir constitui uma verdadeira
barreira progresso das bolsas de retraco, que ficam confinadas ao espao da bolsa timpnica superior. Este facto possvel de avaliar atravs de um corte coronal de tomografia
computorizada que passe pelo cabo do martelo (Figs. 5.7-B ).
J com a bolsa de retraco a ocupar na ntegra este espao,
h que ter em conta que a sua parede inferior comunica directamente, em 65% dos casos com a bolsa timpnica posterior, e
em 20% com a bolsa anterior.
Esta relao possibilita a progresso inferior da bolsa de retraco ou j do colesteatoma pela face interna do tmpano, que
desce do tico para o atrium, atravs do que apelidamos de
istmo timpnico externo.
Clinicamente possvel suspeitar desta invaso quando bolsa
de retraco da pars flaccida se associa uma hipoacsia superior a 30-40 decibis, que poder significar uma interrupo da
cadeia ossicular, apesar de a pars tensa se apresentar ntegra.
A anlise pela tomografia computorizada poder ento, nestes
casos, demonstrar a existncia de leses no mesotmpano, no
detectadas pela otoscopia.
Aps a eroso do antemuro, aspecto que radiologicamente se expressa nos cortes coronais pela alterao da imagem em cunha
da incisura de Rivinus que passa a arredondada, constata-se na
maioria dos casos a invaso do corredor externo do tico devido
desinsero do ligamento lateral externo (Fig. 5.7-C).
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 87
FIG. 5.7
V . TMPANOS PATOLGICOS
Pars tensa
Nas bolsas de retraco da pars tensa destacamos as pstero-superiores, por serem mais frequentes, marginais, e pelas relaes que estabelecem com a cadeia ossicular e a regio
posterior da caixa do tmpano.
Ao desenvolver-se uma bolsa neste quadrante, esta vai encontrar duas estruturas, uma ssea, a lmina timpnica, e outra
membranosa, a prega malear posterior (Fig. 5.9).
Esta prega poderia ter funes semelhantes s do ligamento lateral externo, constituindo neste local uma barreira anatmica,
contudo, o seu contedo escasso em tecido fibroso.
| 89
FIG. 5.8
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 91
FIG. 5.9
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 93
ETIOLOGIA
Comprometimento contnuo do funcionamento da Trompa de
Eustquio, associado a reas de menor resistncia da camada mdia do tmpano, sujeita, por razes anatmicas, a
maiores presses e deflexes da membrana timpnica.
Sucessivas infeces podem igualmente ajudar ao enfraquecimento das fibras colagnias da lamina propria.
Em crianas devemos pensar na hipertrofia dos adenides, enquanto que nos adultos devemos examinar sistematicamente
a nasofaringe para afastar a hiptese dum tumor desta rea.
V . TMPANOS PATOLGICOS
TERAPUTICA MDICA
Tratar a causa da disfuno tubria, por exemplo uma coriza,
uma rinite ou sinusite.
O ouvido mdio deve ser reventilado atravs de manobras de
Valsalva associadas teraputica mdica que nalguns casos
deve incluir corticosterides, por via intramuscular. Tudo deve
ser feito na tentativa de evitar a passagem de uma bolsa de
retraco, de mvel a fixa.
TERAPUTICA CIRRGICA
Esto indicadas as cirurgias de reforo timpnico, com materiais resistentes s mudanas de presso, associados ou no
colocao de tubos de ventilao e introduo de materiais
inertes intratimpnicos que impeam a adeso.
EVOLUO
O perigo, sempre presente, da evoluo de uma bolsa de retraco o desta deixar de ter a possibilidade de espontaneamente expelir (auto-limpar-se) os restos epidrmicos,
infectar-se ou no, e evoluir para o colesteatoma, invadindo
os recessos da caixa e passando para a mastide.
OTITE FIBROADESIVA
A otite fibroadesiva caracteriza-se pela ausncia da camada intermdia do tmpano, associada a uma retraco completa da
membrana timpnica que acaba por aderir parede interna da
caixa, como se pode observar numa otoscopia (Fig. 5.10).
A curta apfise torna-se procidente, o cabo horizontaliza-se, e a
esptula pode aderir ao promontrio, cuja convexidade muitas
vezes bem evidente, estando apenas revestida por um tmpano
atrfico.
Esta forma de otite pressupe um processo inflamatrio da mucosa
do ouvido mdio, que evolui por detrs de um tmpano ntegro.
| 95
FIG. 5.10
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 97
tornam-se evidentes (Fig. 5.10). Noutros casos, e em consequncia de processos mais arrastados, surgem, inclusive, eroses sseas a este nvel.
ETIOLOGIA
Tudo comea na disfuno tubria; uma evoluo das bolsas de retraco. Nas fases avanadas, a mucosa deixa de
existir nos pontos de fixao e d-se a adeso da epiderme
ao peristeo das paredes do ouvido mdio.
TERAPUTICA
Apenas vigiar na grande maioria dos casos, e evitar a entrada
da gua para impedir a progresso da doena.
Caso exista uma boa reserva coclear, encarar a hiptese
duma adaptao prottica.
Dependendo do estado do ouvido contralateral, possvel,
em casos seleccionados, pensar numa cirurgia de reconstruo, em um ou dois tempos, com reforo timpnico e a colocao de material inerte para criar espao e impedir novas
adeses.
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 99
FIG. 5.11
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 101
V . TMPANOS PATOLGICOS
Uma surdez de transmisso acima dos 30 decibis obriga a considerar a existncia de alteraes ossiculares associadas perfurao timpnica. A lise do ramo vertical da bigorna sem
dvida a situao mais frequente. Porm, associada, ou no, a
essa alterao, pode existir o bloqueio da cadeia ossicular, habitualmente ao nvel do tico, facto que independente das dimenses da perfurao.
A tomografia computorizada, no estudo dos doentes com uma
otite mdia crnica purulenta simples ou das suas sequelas, permite esclarecer dvidas e discrepncias que possam eventualmente surgir entre a imagem otoscpica e o audiograma.
Esta tcnica possibilita tambm analisar o estado do ramo vertical da bigorna, assim como dos ramos do estribo, para alm de
em alguns casos permitir esclarecer a presena, ou no, de focos
de timpanosclerose, em especial ao nvel da janela oval. Igualmente, a fixao da esptula ao promontrio poder ser avaliada pela tomografia computorizada, sempre em associao
com a otoscopia e o estudo audiomtrico.
nestes casos que a utilizao das pticas ou do fibroscpico
pode vir em auxlio do cirurgio, revelando o contedo da caixa,
as leses e os tecidos cicatriciais.
| 103
ETIOLOGIA
Sucessivos episdios de otorreia, nalguns casos associados a
infeces virais e ao mau funcionamento do arejamento natural da caixa, e no tratadas medicamente.
TERAPUTICA
Secar o ouvido o objectivo, aps aspirao cuidadosa ao
microscpio seguida da aplicao de gotas contendo uma
associao de corticides e antibiticos.
Dado que em muitos casos existe em simultneo uma infeco respiratria, necessrio administrar um antibitico por
via oral aps a secagem do ouvido e do controlo do estado
da mucosa, e tendo em conta a idade do doente e do estado
do ouvido contralateral.
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 105
FIG. 5.12
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 107
FIG. 5.13
V . TMPANOS PATOLGICOS
FIG. 5.14
| 109
A inexistncia de annulus ou sulco timpnico na incisura de Rivinus explica por outro lado, que estas perfuraes sejam marginais, pois no existe qualquer barreira progresso da
epiderme.
Caso esta entre em contacto com o bordo da incisura, provoca a
sua eroso e a desinsero simultaneamente do ligamento lateral externo, que abre caminho invaso do corredor externo
do tico.
Ao estudarmos a epiderme da pars flaccida, verificmos que esta
se apresentava em todos os casos mais espessa que a da pars
tensa, com maior nmero de camadas celulares, associada a uma
vascularizao suportada pela arterola do cabo do martelo.
Valorizmos ento trs aspectos na constituio da pars flaccida,
que relacionamos com o colesteatoma uma lamina propria frgil e desorganizada, ausncia de sulco e annulus timpnico, espessura e vascularizao da epiderme.
Na pars tensa so as perfuraes pstero-superiores marginais
que se associam com maior frequncia formao de colesteatomas.
Segundo a teoria da invaginao proposta por Bezold (1890) e a
teoria ex-vacuum de Wittmaack (1993), ser uma presso negativa intratimpnica que est na origem da formao do saco hernirio do colesteatoma.
Estas teorias esto de acordo com o facto do quadrante pstero-superior apresentar uma rea sempre superior s dos outros
quadrantes, que perante a mesma fora de presso sofre maior
retraco.
Para alm disso, o quadrante pstero-superior apresenta uma
armadura fibrosa menos resistente que qualquer dos outros
quadrantes s modificaes de presso, uma vez que a lamina
propria tem, a este nvel, uma constituio mais frgil, pois formada na grande maioria dos casos apenas pela camada das fibras radirias, reforadas perifericamente por uma estreita
banda de fibras circulares.
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 111
Histologicamente formado por um invlucro de tecido conjuntivo constitudo por epitlio malpighiano queratinizado, a matriz
do colesteatoma. Neste epitlio, que no contm papilas nem
anexos, distinguem-se quatro camadas como na epiderme do
tmpano de onde provm: os estratos germinativo, espinhoso,
granuloso e crneo, que produz a queratina.
Verificmos que a epiderme se encontra sempre espessada, com
aumento do nmero das camadas celulares, e que os ncleos
das clulas deixam de estar alinhados, passando a haver como
que uma inquietao celular, sinal do processo inflamatrio.
A massa do colesteatoma, que resulta da descamao do epitlio, acumula-se no interior do saco hernirio em estratos sucessivos, com uma disposio lamelar onde se reconhecem as
lamelas de queratina, cidos gordos e colesterol, que pode surgir sob a forma de agulhas.
Para alm das leses tpicas do colesteatoma, constatmos
igualmente importantes alteraes nas pores restantes da
membrana timpnica, que pode apresentar um infiltrado de polimorfonucleares, tecido de granulao com capilares neoformados, sendo as fibras da camada intermdia sede de um
processo de degenerescncia hialina.
Os ossculos, cobertos pela matriz, podem igualmente sofrer modificaes como a fragmentao da cortical e a infiltrao por
clulas inflamatrias, que chegam a localizar-se no interior dos
canais de Havers.
O estudo audiomtrico, num doente com colesteatoma, pode
em certa medida traduzir o grau de extenso das leses. Assim,
e sempre que exista uma interrupo da cadeia ossicular, constata-se uma perda de transmisso superior a 30 decibis. Contudo, este exame no permite excluir que a cadeia ossicular haja
sido destruda pelo colesteatoma, que a pode substituir para o
efeito de transmisso.
A natureza do prprio colesteatoma, bem como o seu poder
migratrio associado compartimentao do ouvido mdio,
V . TMPANOS PATOLGICOS
no possibilitam estabelecer uma correlao entre as dimenses da perfurao, a extenso do colesteatoma e o estudo
audiomtrico. De facto, um pequeno colesteatoma situado no
tico, limitado pelas barreiras anatmicas a existentes, pode
acompanhar-se de um audiograma praticamente normal.
Nestes casos, a anlise do estado do ouvido contralateral fundamental e obrigatria, pois pode ser determinante na escolha
da tcnica operatria.
Uma vez vencida a barreira do tmpano, o colesteatoma progride
no interior da caixa, condicionado pelos compartimentos e mesos
que encontra.
As estruturas que descrevemos na face interna da membrana
timpnica e as suas relaes topogrficas, possibilitam compreender esta progresso e acompanh-la, se articularmos a
otoscopia com os cortes de tomografia computorizada.
Desenvolvimento do Colesteatoma
de acordo com o local da perfurao
O conhecimento das bolsas da face interna do tmpano, dos
mesos da caixa e dos istmos timpnicos, permitem seguir a evoluo do colesteatoma de uma forma sistematizada.
Esta progresso que depende do local onde se situa a perfurao, pode ser acompanhada por cortes de tomografia computorizada, a exemplo do que fizemos para as bolsas de retraco.
| 113
FIG. 5.15
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 115
FIG. 5.16
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 117
FIG. 5.17
V . TMPANOS PATOLGICOS
A lmina timpnica e a prega malear posterior, a que j nos referimos, no constituem uma barreira anatmica. A eroso desta
lmina quase uma constante e arrasta consigo a desinsero
da prega.
Tendo em conta a relao topogrfica dada pela emergncia do
nervo da corda do tmpano e baseados na sistematizao proposta por Andrea (1975) para a regio posterior da caixa, possvel prever, numa fase inicial, quais as fossetas desta regio que
vo ser invadidas, a exemplo do que j havamos efectuado para
as bolsas de retraco (Fig. 5.17-B).
A partir de uma perfurao marginal situada acima do nervo da
corda do tmpano, o colesteatoma, aps contornar a lmina timpnica ou destru-la, invade o recesso facial. Caso se dirija para
cima, pode atingir o aditus ad antrum e entrar para a mastide.
Se a perfurao se encontrar abaixo do nervo da corda do tmpano a sua progresso faz-se para a fosseta de Grivot e, mais
para dentro, para o seio timpnico (Fig. 5.17).
Em qualquer das hipteses, ao ultrapassar o tendo do msculo
do estribo e atingir os ramos deste ossculo, o colesteatoma
pode, utilizando os istmos timpnicos internos que a se situam,
progredir para cima em direco ao corredor interno do tico.
Junto ao tmpano, a partir de uma perfurao pstero-superior,
possvel ao colesteatoma insinuar-se sob a prega timpanomaleolar posterior e utilizar o istmo timpnico externo, para se
alojar na bolsa timpnica superior.
Atravs de cortes axiais, a topografia computorizada possibilitar identificar o colesteatoma na regio posterior da caixa. Contudo, dadas as reduzidas dimenses das fossetas desta regio,
este exame requer para alm de aparelhos de alta resoluo
um profundo conhecimento anatmico.
| 119
ETIOLOGIA
Na base de tudo est uma disfuno tubria que, de uma
otite serosa inicial passa a uma bolsa de retraco que ultrapassa as barreiras anatmicas naturais e evolui para
uma perfurao marginal ou atical associada a uma doena
crnica progressiva e destrutiva do ouvido mdio.
PROGRESSO
Os colesteatomas resultam, em geral, da progresso ou evoluo das bolsas de retraco de zonas consideradas perigosas
o quadrante pstero-superior da pars tensa e a pars flaccida
que tm como denominador comum a ausncia do annulus.
V . TMPANOS PATOLGICOS
TERAPUTICA
Colesteatoma diagnosticado, colesteatoma operado.
Quatro princpios orientam a cirurgia: erradicao das leses,
preveno das recidivas, preveno das complicaes e restaurao da funo auditiva.
Duas tcnicas:
aberta com rebatimento do muro do facial e realizao de
uma cavidade de esvaziamento associado a uma timpanoplastia.
fechada com preservao da parede posterior do conduto
auditivo externo e reconstruo do sistema tmpano-ossicular.
Esta tcnica obriga a uma vigilncia regular, com tomografia
computorizada, sempre com hiptese de segunda interveno.
A opo tcnica, aberta ou fechada, depende da extenso do
colesteatoma, das regies invadidas, da reserva coclear, da
existncia, ou no, de complicaes, do estado do ouvido
contralateral, da idade, profisso e condio social do doente,
da experincia do cirurgio e, por fim, da garantia do controlo
regular do ouvido operado.
| 121
Caso no seja possvel uma recuperao funcional em simultneo com a erradicao da doena, e se verifique que
existe uma boa reserva ssea, sempre possvel colocar
considerao do doente a possibilidade de uma adaptao
prottica.
TIMPANOSCLEROSE
Zollner (1956) quem introduz o termo de timpanosclerose e a
descreve como uma doena da lamina propria.
Em 1974 Tos define esta entidade como um processo irreversvel,
produto final de uma infeco crnica na qual se formam massas que para alm de alterarem a estrutura do tmpano, podem
fixar o estribo, a bigorna e o martelo.
Kinney (1978) e Schiff (1980) relacionam-na com doenas auto-imunes. Dois factores parecem ser necessrios para obter esta
resposta; so eles uma imunizao de anticorpos contra a lamina propria que pode surgir aps vrios episdios de otites mdias e um traumatismo que concentre os anticorpos nesse local
(Hawke e Jahn, 1988).
A timpanosclerose pode ser diferentemente considerada, consoante exista ou no uma perfurao.
Na sua forma mais simples, a tmpano fechado, encontramos
pequenas manchas brancas isoladas, em nmero varivel, dispersas pelo tmpano. Podem ser encontradas em todos os grupos etrios, incluindo crianas, nas quais esto muitas vezes
associadas otite serosa.
Nos casos por ns estudados, muitos tinham sido submetidos a
actos teraputicos, como a miringocentese e colocao de tubos
transtimpnicos. Para estes, Mckinnon (1071) indica uma percentagem de 33% nos tmpanos que colocaram tubos transtimpnicos, e de 1% nos que ficaram sem tubos.
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 123
FIG. 5.18
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 125
FIG. 5.19
V . TMPANOS PATOLGICOS
No estudo histolgico efectuado em fragmentos de tmpano, encontrmos zonas de estrutura conservada, que se modificavam
medida que nos aproximvamos das placas de timpanosclerose.
As fibras colagnicas acabam por perder o seu arranjo, tornam-se irregulares, distorcidas, sendo impossvel distinguir as
circulares das radirias.
Existem numerosas clulas inflamatrias polimorfonucleares infiltradas no seio da lamina propria, de acordo com a etiologia inflamatria atribuda a este processo.
O tecido fibroso acaba por perder completamente a sua identidade, sendo substitudo por um tecido hialino mais espesso, podendo nalguns locais serem observados fibroblastos.
Segue-se uma fase de homogeneizao dos tecidos, com infiltrao de eosinfilos, criando-se desta forma as condies para
surgirem depsitos de clcio.
Simultaneamente comeam a verificar-se metaplasias que conduzem formao do tecido cartilagneo.
No seio destas alteraes que espessam a lamina propria, encontram-se por vezes algumas fibras colagnias que mantiveram o seu aspecto normal.
Sempre que se verifica uma dissociao entre a extenso de timpanosclerose na membrana do tmpano e o audiograma, deve
ser levantada a hiptese das principais alteraes se encontrarem no interior da caixa.
Nestas circunstncias, o estudo radiolgico por tomografia computorizada torna-se particularmente importante, pois constitui a
nica forma de podermos avaliar o grau de extenso das leses.
A tomografia pode revelar uma massa de timpanosclerose, que
situada no tico e envolvendo a cadeia ossicular, fixa o martelo
ou a bigorna s paredes da caixa. No mesotmpano as placas de
timpanosclerose podem mesmo fixar a articulao incudo-estapdica e o estribo ao promontrio.
| 127
TIMPANOSCLEROSE - SINOPSE
QUADRO CLNICO
diferente consoante temos uma timpanosclerose a tmpano
fechado ou associada a uma perfurao.
No primeiro caso, e se as placas ocupam a membrana timpnica como focos de algodo, pode no existir compromisso
funcional e a doena ser assintomtica.
Se existir uma perfurao podemos encontrar uma sintomatologia semelhante s otites purulentas simples com
otorreia intermitente. O compromisso funcional depende do
V . TMPANOS PATOLGICOS
grau de extenso das placas que podem, para alm do tmpano, envolver a cadeia ossicular e ocupar largas extenses
da caixa do tmpano.
ETIOLOGIA
Estas placas brancas resultam de uma degenerao hialina
na camada mdia do tmpano e na submucosa do ouvido
mdio, consequncia de uma infeco ou inflamao.
TERAPUTICA
Nada consegue eliminar as placas de timpanosclerose, e a
indicao cirrgica deve limitar-se ao encerramento das perfuraes, pois os resultados funcionais so, em regra, pobres.
No caso de existir uma boa reserva coclear deve encarar-se
a colocao de uma prtese auditiva.
OTITE TRAUMTICA
A membrana do tmpano, quando submetida a agresses fsicas, poder sofrer leses que nalguns casos tm como consequncia o aparecimento de uma perfurao (Fig. 5.19).
Estas agresses so essencialmente de dois tipos. Na primeira
hiptese encontram-se as diferenas sbitas de presso, quer
em meio areo e em campo livre, quer no meio lquido, que ao
embaterem na membrana lhe provocam alteraes (a otite barotraumtica).
No segundo tipo consideramos as agresses directas ao tmpano por um objecto introduzido atravs do conduto auditivo externo, que provoca na membrana timpnica uma perfurao de
maiores ou menores dimenses.
| 129
ETIOLOGIA
varivel, podendo a agresso resultar de um objecto contundente, duma variao sbita da presso exterior, caso dos
rebentamentos de bombas ou das agresses fsicas ou ainda
de leses por produtos qumicos
TERAPUTICA
Acalmar a dor, evitar a infeco, delimitar a inflamao e
esperar. Se as leses se restringem membrana timpnica
podem em muitos casos e, naturalmente, encerrar espontaneamente.
No caso de se manterem, deve encarar-se a possibilidade
de uma timpanoplastia associada, caso necessrio, a uma
ossiculoplastia.
OTITE BAROTRAUMTICA
O tmpano encontra-se geralmente deprimido, a curta apfise
procidente e o cabo do martelo horizontalizado.
Existe uma alterao da colorao, com hiperemia da membrana
de Shrapnell e do cabo do martelo. O brilho desaparece e deixa
de se observar o tringulo luminoso na maioria dos casos.
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 131
PERFURAES TRAUMTICAS
As perfuraes que resultam da agresso directa do tmpano
por um objecto contundente, situam-se em regra nos quadrantes posteriores, com maior frequncia no pstero-superior e so
de maiores ou menores dimenses, de acordo com a violncia
da agresso e o objecto utilizado (Fig. 5.19).
Nestes casos a anatomia do conduto auditivo que condiciona
o local da perfurao. Assim, e de acordo com os resultados que
obtivemos, constatamos que as paredes anterior e inferior deste
canal so na maioria dos casos procidentes, protegendo os quadrantes do tmpano que lhe esto adjacentes.
Por outro lado, o quadrante pstero-superior o que est situado
mais prximo do orifcio externo do tmpano e o que est mais
exposto devido prpria morfologia do conduto, uma vez que as
paredes que o rodeiam so rectilneas ou cncavas, e os ngulos timpanomeatais, obtusos.
Por este motivo, um objecto introduzido no conduto auditivo externo acaba por ser conduzido, pela procidncia das paredes
anterior e inferior, em direco a este quadrante.
Nestas circunstncias devemos ainda ter em ateno as relaes topogrficas com a cadeia ossicular, nomeadamente com
o ramo vertical da bigorna e a articulao incudo-estapdica,
que podero ser lesadas. Estes traumatismos podem ento provocar, para alm de uma interrupo ossicular, uma concusso
labirntica.
Uma surdez de conduo mais ou menos grave pode surgir
como resultado destes traumatismos por leses no conduto auditivo externo, membrana do tmpano ou ouvido mdio.
O canal auditivo pode estar preenchido por cogulos, restos epidrmicos e de cermen, ou hematomas. A membrana timpnica pode estar danificada e a caixa do tmpano tambm
V . TMPANOS PATOLGICOS
envolvida e repleta de cogulos. A cadeia ossicular pode estar interrompida, sendo a articulao incudo-estapdica a mais atingida, seguida da deslocao da bigorna e da fractura dos ramos
do estribo, estando estas ltimas leses associadas habitualmente a fracturas do temporal com otorragia.
A ausncia da correco destas leses, em fase aguda, pode
implicar mais tarde estenoses do conduto e anquiloses da cadeia ossicular, associada a surdez de transmisso.
Os traumatismos cranianos severos esto, muitas vezes, associados a perda auditiva por leses traumticas ou concusso,
estando comprometidos, para alm do sistema de transmisso,
o componente sensorioneural da audio.
Nestas situaes podem resultar como sequela fstulas labirnticas, que se revelam por uma perda auditiva flutuante, associada
a alteraes do equilbrio com mudana de presso.
| 133
Complicaes Extracranianas
Mastoidite Aguda
Definio: processo inflamatrio da mastide, num doente sem
histria de otite mdia crnica purulenta simples ou colesteatomatosa.
Epidemiologia:
maior incidncia em crianas com idade inferior a 8 anos;
1/3 dos doentes tm histria prvia de otite mdia aguda.
Patogenia: O ouvido mdio deve ser entendido como uma unidade funcional, em que a caixa do tmpano e a mastide se encontram em continuidade, comunicando entre si atravs do
aditus ad antrum.
Por princpio, todos os doentes com otite mdia aguda apresentam algum grau de inflamao da mastide. Quando o processo
inflamatrio/infeccioso da mastide ultrapassa o mucoperisteo
e envolve o osso, verifica-se a desmineralizao e a eroso dos
septos das clulas mastoideias, com a formao de um empiema
intramastoideu. S nesta fase, em que a mastide transformada
numa grande cavidade abcedada, deve ser considerada como
complicao de otite mdia.
Etiologia (agentes mais frequentes):
Streptococcus pneumoniae;
Streptococcus pyogenes;
Staphylococcus aureus;
Staphylococcus coagulase negativos.
Clnica:
sintomas otolgicos sugestivos de otite mdia aguda (otalgia,
otorreia, febre);
sinais inflamatrios da mastide (dor, calor, eritema e edema
retroauricular, apagamento do sulco retroauricular com deslocamento do pavilho para a frente e para baixo e abaulamento
da parede pstero-superior do canal auditivo externo).
V . TMPANOS PATOLGICOS
Labirintite
Definio: Inflamao do labirinto.
Etiologia: Raramente surge como complicao de otite mdia
aguda, mais frequentemente associado a otite mdia crnica.
| 135
V . TMPANOS PATOLGICOS
Paralisia Facial
Etiologia: Complicao geralmente associada a otite mdia crnica colesteatomatosa, ou otite mdia aguda em doentes com
deiscncia do aqueduto de Falpio (raro).
Clnica: Paralisia facial perifrica de instalao rpida, num contexto de otalgia e otorreia.
Diagnstico: Clnico + TC (localizar a eroso do aqueduto de
Falpio).
Teraputica:
internamento hospitalar;
antibioterapia endovenosa/corticoterapia endovenosa;
proteco ocular para evitar as leses da crnea
por diminuio da produo de lgrimas;
cirurgia (drenagem e ventilao do ouvido mdio).
Complicaes Intracranianas
Tromboflebite do Seio Lateral
Definio: Trombose sptica do seio lateral.
O sangue da mastide drena para o seio lateral, logo qualquer
processo sptico do ouvido mdio pode extender-se ao seio.
Esta complicao est associada a uma alta taxa de mortalidade (15-38%) e est frequentemente associada a outras complicaes intracranianas.
Etiologia (agentes mais frequentes):
Streptococcus pneumoniae tipo III;
Streptococcus -hemolticos.
Clnica:
otalgia + otorreia + sinais inflamatrios retroauriculares;
febre (em picos, com calafrios);
cefaleias ligeiras;
| 137
nuseas e vmitos;
diplopia, fotofobia, vertigem, rigidez da nuca.
Diagnstico:
angiografia/RM;
TC (excluso de outras complicaes intracranianas);
puno lombar LCR normal;
hemoculturas positivas.
Teraputica:
antibioterapia endovenosa;
soluo cirrgica do foco otognico (laqueao prvia
da veia jugular interna a nvel cervical).
TMPANOS PATOLGICOS
- PONTOS A SALIENTAR
1. O abaulamento do tmpano na otite mdia aguda localiza-se na pars flaccida e no quadrante pstero-superior, o
que se justifica por:
as fibras da pars flaccida serem em reduzido nmero e disporem-se de um modo desorganizado;
o quadrante pstero-superior, que tem maiores dimenses,
est mais sujeito s foras de presso intratimpnicas;
neste quadrante identificam-se apenas fibras radirias,
facto que o torna simultaneamente mais frgil e menos espesso. A existncia de perfuraes a este nvel pode encontrar nesta disposio a sua justificao;
V . TMPANOS PATOLGICOS
a ausncia do ligamento timpanomaleolar posterior possibilita que a pars flaccida se distenda em conjunto com o
quadrante pstero-superior.
2. Na otite serosa a manuteno das presses negativas vai
provocar o colapso das bolsas timpnicas. Este processa-se
de acordo com a sua constituio, iniciando-se pela bolsa timpnica superior, situada por detrs da membrana de Shrapnell, seguida da bolsa timpnica posterior, correspondente ao
quadrante pstero-superior. Por ltimo, a mais resistente ser
a anterior, localizada por detrs do quadrante ntero-superior.
Verificmos tambm que na otite serosa todas as camadas
do tmpano acabam por estar envolvidas pelo processo inflamatrio, mesmo a camada mais externa de queratina que
contm no seu interior numerosas clulas polimorfonucleares, ao mesmo tempo que se observa um aumento de calibre
das arterolas radirias. Este facto constitui uma das caractersticas otoscpicas de uma das fases da otite serosa.
3. A maior incidncia das bolsas de retraco ao nvel da pars
flaccida justifica-se por:
as fibras colagnias serem sempre escassas e disporem-se
de uma forma desorganizada e apenas numa camada;
inexistncia do sulco, do annulus, assim como dos ligamentos timpanomaleolares. Para alm da maior mobilidade da
prpria membrana, verificamos ainda que a progresso das
bolsas de retraco da pars flaccida est condicionada pela
constituio das paredes da bolsa timpnica superior. De
facto, enquanto existe o ligamento lateral externo do martelo (a parede interna da bolsa), este oferece resistncia
progresso das bolsas de retraco que, deste modo, ficam
limitadas ao espao da bolsa timpnica superior, o que visvel numa tomografia computorizada.
Com a eroso da incisura de Rivinus, este ligamento acaba
por se desinserir e a bolsa de retraco pode invadir o corredor externo do tico.
| 139
O facto da bolsa timpnica superior no possuir parede inferior, dando origem ao istmo timpnico externo, possibilita que
as bolsas de retraco da pars flaccida progridam para baixo
em direco ao mesotmpano.
4. As bolsas de retraco da pars tensa localizam-se com
maior frequncia no quadrante pstero-superior, sendo habitualmente marginais. De facto:
o quadrante pstero-superior o que tem a maior rea, tornando-se mais sensvel s variaes de presso;
este quadrante sempre mais frgil, o que se compreende
pela sua constituio (s fibras radirias);
insero do quadrante pstero-superior diferente da dos
outros quadrantes, dada a diminuio da profundidade do
sulco e a alterao do calibre do annulus, aspectos que tornam menos resistente a amarragem do tmpano a este nvel
e que aumentam a sua mobilidade e distensibilidade.
Na sua progresso, uma bolsa de retraco do quadrante
pstero-superior, vai contactar com a prega malear posterior
da face interna do tmpano, a qual, devido sua estrutura,
no constitui barreira.
Esta bolsa ter ento apenas que contornar a lmina timpnica para invadir a regio posterior da caixa e atingir a cadeia ossicular, situao que a tomografia computorizada
possibilita acompanhar.
5. O tringulo interradial de Kopsch, situado junto ao bordo
anterior do cabo do martelo, constitui um ponto de menor resistncia da lamina propria, dada a ausncia de fibras colagnias. Este facto permite explicar a existncia das bolsas de
retraco, que apesar de menos frequentes se desenvolvem
a este nvel.
6. Na otite fibroadesiva pode verificar-se um colapso da quase
totalidade da membrana do tmpano, resistindo apenas o
quadrante ntero-superior.
V . TMPANOS PATOLGICOS
Este facto est de acordo com a constituio da lamina propria, que neste quadrante apresenta duas camadas de fibras
(radirias e circulares) solidamente fixadas atravs do annulus no sulco timpnico, que neste local se apresenta sempre
bem definido.
Superiormente, a resistncia deste quadrante ainda reforada pela prega timpanomaleolar anterior, a qual suportada pelo ligamento anterior do martelo e pela espinha
timpnica anterior. Estes elementos contribuem para impedir
a retraco deste quadrante.
7. A localizao das perfuraes das otites mdias crnicas purulentas simples pode ser justificada pela organizao da lamina
propria e pela distribuio vascular da membrana do tmpano:
na rea correspondente s perfuraes mesotimpnicas,
volta do cabo do martelo apenas existe uma camada de fibras, as radirias, irrigadas pelos vasos do mesmo nome;
periferia o tmpano apresenta-se sempre mais resistente,
uma vez que possui para alm das fibras radirias uma espessa camada de fibras circulares, solidamente fixadas no
annulus e vascularizadas atravs dos crculos arteriais peri-anulares, dispostos dos dois lados deste anel.
8. Nas perfuraes das otites mdias crnicas purulentas
simples, as dimenses da perfurao so limitadas pela reaco inflamatria que se verifica no local de encontro do epitlio malpighiano com a mucosa da face interna do tmpano.
Cirurgicamente este facto deve ser tido em considerao.
9. Na compreenso do aparecimento das perfuraes das
pars flaccida e na gnese do colesteatoma, h a considerar:
maior nmero de camadas ao nvel da epiderme;
fibras da lamina propria em escasso nmero, dispostas
anarquicamente e apenas numa camada;
ausncia de sulco e annulus timpnico.
| 141
Estes aspectos condicionam e facilitam a progresso da epiderme atravs dos bordos da perfurao para o interior da
incisura de Rivinus.
10. As perfuraes pstero-superiores marginais da otite
mdia crnica colesteatomatosa esto igualmente relacionadas com a maior incidncia de bolsas de retraco neste
quadrante, o que se justifica por uma maior rea do quadrante pstero-superior, constituio da lamina propria, morfologia do annulus e do sulco timpnico.
Valorizamos a inexistncia do sulco e a diminuio do calibre
do annulus na regio pstero-superior do conduto, que facilita a migrao da epiderme para o interior da caixa.
11. A tomografia computorizada desempenha um papel fundamental na avaliao da extenso dos colesteatomas, que
se desenvolvem a partir das perfuraes pstero-superiores
marginais.
as perfuraes situadas acima da emergncia da corda do
tmpano, aps contornarem a lmina timpnica invadem
primeiramente o recesso facial, podendo-se estender para
o aditus ad antrum e mastide;
abaixo deste nervo, o colesteatoma insinua-se para a fosseta de Grivot, seio timpnico e hipotmpano.
12. As reas isoladas de timpanosclerose surgem com maior
frequncia no quadrante pstero-superior, o que concorda
com a maior distensibilidade deste quadrante. As microrupturas ao nvel das fibras da lamina propria, associadas aos
processos inflamatrios e presena de exsudados esto na
origem da timpanosclerose.
13. As grandes placas calcrias, que se dispem junto ao
annulus de acordo com a orientao das fibras circulares,
podem provocar o bloqueio da cadeia ossicular, o que mais
frequente no quadrante ntero-superior:
V . TMPANOS PATOLGICOS
| 143
BIBLIOGRAFIA
LUNTZ M., BRODSKY A.: Acute Mastoiditis. In Advanced Therapy of Otitis Media,
Mosby Company, 64, 325-329, 2004.
LUNTZ M., KEREN G., NUSEM S., KRONENBERG J.: Acute Mastoiditis Revisited. ENT
Journal, 73, n9, 648-654, Setembro 1994.
FREDRICHSEN J.M., HAIBER L.A., KRAURE C.J., SCHULLER D.E.: Complications of
Temporal Bone Infection. In Otolaryngology Head and Neck Surgery, Cummings.
Mosby Company, 2988-2997, 1986.
GLASSCOCK, SHAMBAUGH: Pathology and Clinical Course of Inflammatory Diseases of the Middle Ear Surgery of the Ear. In Surgery of the ear. Fourth Edition, Saunders Company, 167-178, 1990.
SOUZA C., STANHIEWIEZ J., PELLITTERI P.: Complications of Otitis Media in Children.
In Textbook of Pediatric Otorhinolaryngology Head and Neck Surgery. Singular Publishing Group, Inc., 11, 115-135, 1999.
SOM P., CURTIN H.: Temporal Bone Inflammatory Disease. In Head and Neck Imaging. 3th Edition, Mosby Company, 1391-1393.
KLUWE L., COSTA S., CRUZ O.: Complicaes das Otites Mdias. In Otalgia Clnica
e Cirrgica. Revinter, 217-224, 2000.
NETO A., FLORES P., RUAH C., SOUSA E., PEREIRA P., NORONHA F., PALMINHA J.,
PENHA R.: Mastoidites Agudas na Criana. Acta Mdica Portuguesa, 11, 643-647,
1998.
TELLO J., BAQUERO E.: Complicaciones de las Infecciones Sinusales Otolgicas. In
Urgncias ORL, RyC, 89-92, 1998.
VI . MICROBIOLOGIA
E GUIA DE ANTIBIOTERAPIA
EM OTITES
Quadro Sinptico
PRINCIPAIS PATOLOGIAS INFECCIOSAS DO OUVIDO EXTERNO,
MICROBIOLOGIA E ANTIBIOTERAPIA
Quadro Sinptico
PRINCIPAIS PATOLOGIAS INFECCIOSAS DO OUVIDO MDIO,
MICROBIOLOGIA E ANTIBIOTERAPIA
| 147
Quadro Sinptico
PRINCIPAIS PATOLOGIAS INFECCIOSAS DO OUVIDO EXTERNO,
MICROBIOLOGIA E ANTIBIOTERAPIA
Diagnstico
Etiologia
Teraputica
Alternativa
Teraputica
Comentrios
lcool 70 sat.
c. brico ou
neomicina/
polimixina/
hidrocortisona
Staph. aureus
Cefalosporinas
1G
Clindamicina po;
dicloxacilina po
Furunculose
Otite Externa
Crnica
Otite Externa
Maligna
Pseudomonas Ciprofloxacina/
aeruginosa ofloxacina tpica +
ciprofloxacina ou
levofloxacina po ou
ev associado a antipseudomonas ev:
piperacilina/
tazobactan ev +
gentamicina ev ou
tobramicina ev ou
amicacina ev;
ceftazidima ev;
imipenem ou
meropenem ev
Preveno: shampoo
anticaspa com
selnium ou de
ketonazol com
aplicaes noite
de corticide tpico
Considerar
oxignioterapia
hiperbrica
Otomicose
Aspergillus sp;
Candida
albicans
Soluo
clotrimazole
c. actico/ctrico
em lcool; sol mertiolato; iodopovidona; violeta de
genciana 2% em
lcool 95%
Zona
Herpes
Zooster
Aciclovir;
Valaciclovir
Pode associar-se
corticides
sistmicos
Limpeza do CAE
essencial
Quadro Sinptico
PRINCIPAIS PATOLOGIAS INFECCIOSAS DO OUVIDO MDIO,
MICROBIOLOGIA E ANTIBIOTERAPIA
Diagnstico
OMA
Etiologia
Teraputica
Alternativa
Teraputica
Comentrios
Streptococcus
Amoxicilina
Cefpodoxime po; Durao tratamento:
pneumoniae; (altas doses) po
cefdinir po;
<3 anos 10 dias
Hemophilus
ou Amoxicilina cefuroxima axetil
mnimo; > 3 anos;
influenzae;
+ c.
po; cefprozil po;
caso ligeiro sem
Moraxella
clavulnico
ceftriaxona IM; histria de otite prvia
catarrhalis;
(altas doses) po levo-gati-moxi 5 a7 dias. M
Streptococcus
floxacina po
resposta teraputica
pyogenes ou
(adultos)
ao fim de 48-72h de
amox. teraputica
Staphylococcus
alternativa 10 dias
aureus; Vrus
ou 3 dias ceftriaxona
3 dias
ALRGICOS PENICILINA: Eritromicina po ou clindamicina po
+ sulfonamida po
Nas crianas com reaco alrgica tipo rash
cefalosporina 3G (cefpodoxime po ou ceftriaxona im)
Nos adultos quinolonas respiratrias [ levofloxacina;
gatifloxacina; moxifloxacina ] po
Miringite
Bolhosa
OMA Supurada
OM Persistente Estril ou bactrias Teraputica alternativa para a OMA
com Derrame de baixa virulncia
ou estirpes resistentes da OMA
OMC
com Derrame
= OMA
Sem teraputica AB
necessria se: dor/inflamao ausente ou
hipoacsia no um
problema
A hipoacsia dita a
urgncia da cirurgia
Tpica:
ofloxacina ou
ciprofloxacina
Sistmica:
ciprofloxacina
po ou
levofloxacina
po - adultos
com ou sem
clindamicina
po;
piperacilina/
tazobactam ev
Mastoidite
S. pneumoniae; Vancomicina ev
Aguda
Streptococci gr A + ceftriaxona
- hemoltico
ev com ou sem
(complicao
(Strep. pyogenes); rifampicina po
invasiva
Staph. aureus
de OMA)
e coag neg.
Hemophilus;
proteus;
Bacteroides sp
Tpica:
iodopovidona ou
c. brico iodado
Sistmica:
ceftazidime ev ou
cefepima ev com ou
sem clindamicina
po; meropenem ev
com ou sem
clindamicina ev ou
metronidazole ev
* colesteatoma
infectado
| 149
Dose PO
Amicacina
Amoxicilina
Dose EV
5mg/Kg/8h
(500mg/12h)
500mg/8h
45mg/Kg/12h
Amoxicilina
875+125mg/12h
+ c. clavulnico ou 500+125mg/8h
ou 2g+125mg/12h
Ampicilina
Sulbactam
10mg/Kg/8h
45mg/Kg/12h
1,5-3g/6h
25-75mg/Kg/6h
Cefalexina
500mg/12h
10mg/Kg/6h
Cefdinir
600mg/24h
7mg/Kg/12h
ou 14mg/Kg/24h
Cefepima
2g/12h
Cefpodoxime
200mg/12h
Cefprozil
500mg/12h
10mg/Kg/24h
ou 5mg/Kg/12h
15mg/Kg/12h
Ceftazidime
1-2g/8-12h
50mg/Kg/8h
Ceftriaxona
1g/12h ev/im
50-75mg/Kg/24h
ev/im ou
100mg/Kg/24h ev
(meningite)
750-1500mg/8h 15mg/Kg/12h
50mg/Kg/8h
ou 80mg/Kg/8h
(meningite)
Ciprofloxacina
500mg/12h
400mg/12h
Clindamicina
300-450mg/6-8h 600mg/6-8h
Dicloxacilina
500mg/8h
Eritromicina
1g/12h ou
500mg/6h
Gentamicina
7,5mg/Kg/6h
15mg/Kg/6-8h
10mg/Kg/6h
1mg/Kg/8h
(80mg/8h)
Imipenem
Levofloxacina
1g/6h
10mg/Kg/8h
2,5mg/Kg/8h
500mg/6h
500mg/24h
Meropenem
750mg/24h
1g/8h
Metronidazol
500mg/8h
500mg/6-8h
Moxifloxacina
400mg/24h
400mg/24h
Piperacilina/
tazobactan
7,5mg/Kg/6h
3,375/4-6h
ou 4,5/8h
Rifampicina
600mg/24h
Sulfonamida
160mg TMP/12h
75mg/Kg/4-6h
10-20mg/Kg/24h
4mg TMP/Kg/12h
Tobramicina
1mg/Kg/8h
(80mg/8h)
2,5mg/Kg/8h
Vancomicina
500mg/6h
ou 1g/12h
10-15mg/Kg/6h
MIRINGOCENTESE
Na miringocentese, atravs da inciso das trs camadas do tmpano, estabelece-se uma comunicao entre a caixa do tmpano
e o conduto auditivo externo (Fig. 7.1).
Esta manobra, utilizada como complemento da teraputica das
otites mdias agudas e das otites crnicas a tmpano fechado,
tem como objectivo efectuar a drenagem e a ventilao do ouvido mdio.
| 153
FIG. 7.1
Miringocentese.
A) O espculo auricular possibilita uma boa iluminao
e exposio do tmpano; B) Inciso radiria.
COLOCAO DE TUBOS
TRANSTIMPNICOS
A colocao de um tubo transtimpnico tem por objectivo a manuteno de uma abertura na membrana do tmpano que possibilite, na sequncia da miringocentese e da drenagem de
exsudados, assegurar o arejamento da caixa do tmpano.
Est actualmente reconhecido que a principal funo destes
tubos a ventilao, mais do que a drenagem, Gibb (1980). Com
o aumento da ventilao, o epitlio alterado do ouvido mdio,
voltar gradualmente ao estado normal, apesar da disfuno da
Trompa de Eustquio.
A grande vantagem deste acto teraputico reside no facto de,
para alm de permitir uma recuperao imediata da audio
aps a remoo do contedo da caixa, promover a normalizao da mucosa do ouvido mdio.
So mltiplos os factores que intervm na resoluo de uma otite
mdia crnica a tmpano fechado, ou otite com derrame e, como
afirmado por Sade e Haley (1976), o tubo no mais do que
um paliativo disfuno tubria.
Os tubos inicialmente utilizados por Armstrong em 1954 eram de
vinil, com um dimetro interno de 1,5 mm. Muitos dos utilizados
hoje em dia, so de polietileno, de teflon ou de silicone e tm habitualmente um rebordo interno que evita a sua sada prematura, e um externo que impede a sua queda para o interior da
caixa (Fig. 7.2-D).
De dimenses e morfologia varivel, os diferentes modelos de
tubos, so muitas vezes conhecidos pelos nomes dos seus autores, caso dos tubos de Armstrong, de Donaldson, de Paparella, de
Shepard, entre outros.
Em qualquer dos casos, a colocao dos tubos de ventilao na
membrana do tmpano, tal como a miringocentese, depende de
vrios factores como a morfologia do conduto, as dimenses dos
| 155
| 157
FIG. 7.2
Em tmpanos sujeitos a fortes presses negativas intratimpnicas, o quadrante ntero-superior, tendo em conta a resistncia
da sua camada fibrosa, constitui muitas vezes o nico local onde
possvel colocar um tubo de ventilao.
Por outro lado, e como foi demonstrado por Alberti (1974), a migrao do tecido epitelial mais lenta neste quadrante, factor
que retardar a expulso do tubo.
A este nvel, o tmpano apresenta ainda a vantagem de no relacionar com qualquer estrutura intratimpnica, pois tanto o
nervo da corda do tmpano como a bolsa timpnica anterior se
situam apenas junto prega timpanomaleolar anterior.
So trs as sequelas que podem surgir como consequncia da
colocao de um tubo de ventilao a timpanosclerose, a perfurao e mais raramente o colesteatoma.
A timpanosclerose aparece sobretudo sob a forma de pequenas manchas isoladas, de cor branca e nmero varivel, que
no atingem a periferia do tmpano.
Segundo McKinnon (1971), estas leses surgem em 33% dos tmpanos, nos quais haviam sido colocados tubos de ventilao.
Para Aguado e col. (1987), esta forma de timpanosclerose encontra-se em 70,4% dos casos, atribuindo estes autores, o aumento da incidncia, existncia de patologia alrgica.
No encontrmos, na bibliografia, unanimidade quanto ao facto
de ser apenas o tubo o agente desencadeante do processo, uma
vez que o fenmeno inflamatrio, prprio da otite serosa, dever
estar igualmente envolvido.
A perfurao do tmpano sem dvida menos frequente. Morgan
e col. (1985), de acordo com os resultados de um inqurito efectuado em Frana, referem apenas 2% de perfuraes residuais.
Estas perfuraes, caso sejam de pequenas dimenses, acabam
muitas vezes por encerrar, pelo que a indicao de uma miringoplastia no deve ser posta de imediato.
| 159
JOO PAO
ILUSTRAES:
NA PRTICA
CLNICA
GUIA
DE DIAGNSTICO
E TRATAMENTO
JOO PAO
F. VILHENA DE MENDONA
OTITES
NA PRTICA
CLNICA
GUIA
DE DIAGNSTICO
E TRATAMENTO