Dissertação - Tempos de Construção
Dissertação - Tempos de Construção
Dissertação - Tempos de Construção
MESTRADO PROFISSIONAL EM
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (PROFEPT)
CURITIBA
2020
VANESSA CAUÊ KRUGEL
CURITIBA
2020
Dados da Catalogação na Publicação
Instituto Federal do Paraná
Biblioteca do Campus Curitiba
Cora Coralina
RESUMO
This research was born from the desire to understand and enhance the memory of the
IFPR (Federal Institute of Education of Paraná) Curitiba campus, analyzing the
historical context in which the ET-UFPR (Technical School of the Federal University of
Paraná) developed during the decade of 1990. To this end, legislation is used,
historical documents stored by the IFPR Memories Center project, in addition to oral
history, which emerges as the main method in the research, through interviews with
five professors, who led this trajectory. It is a historical research, using the perspective
of Edward Thompson (1981), which values experiences, that is, the daily history of the
different subjects in history. It is a work carried out for ProfEPT (Professional Master
in Professional and Technological Education), in the area of teaching, in the line,
Organizations and Memories of Pedagogical Spaces in EPT, in Macroproject 4 -
History and memories in the context of EPT, of the same program masters. He is also
part of the research group registered at CNPq and certified by IFPR: History and
Policies of Professional Education. During the studied period there was an expansion
in relation to the number of technical courses offered by ET-UFPR, after many years
offering only the technical course related to the trade area.
Initially, a relevant context for the school in the 1990s was approached. A theoretical
survey on public policies for technical education at a high school level in Brazil, during
the period under investigation. The relationship of Schools linked to Brazilian
Universities with the creation of Federal Institutes of Education, Science and
Technology. And a brief history of ET-UFPR, from its predecessor German School in
1869, its acquisition by the University in 1941, to the meeting with the rector Riad
Salamuni in 1986. And finally, the beginning of the decade with the expansion of new
four courses: Dental Prosthesis, Dental Hygiene, Nursing and Data Processing
technicians. ET-UFPR acquired its own headquarters in 1993, the Riad Salamuni
Complex and expanded. The troubled moment of disintegration of integrated high
school was also investigated, with the school's resistance to the decree 2.208 / 97 and
its implementation, through ordinance 646/97. And the end of the decade with the
expansion of lightened courses in conjunction with strong general education. To meet
the educational product requirement, required by the professional master ProfEPT, a
documentary was made, entitled Construction Times: The Technical School of UFPR,
during the 1990s, which included a team from the IFPR Audio and Video Technician
course. Mainly produced with the oral history of the five teachers interviewed, in this
research. The situation of the School in the early 1990s was precarious, suffered from
an intense structural duality in the daily life of classes in relation to the University, but
the support of UFPR was fundamental in the struggle for quality technical education at
the end of the decade. Its resistance as a technical school was fundamental for the
construction of the IFPR, Campus Curitiba.
Figura 5 - Professor Sidney, Reitor Faraco e Pró-Reitora Maria Amélia, em exposição sobre
a história da ET-UFPR, em 1993.............................................................................................56
Figura 16 -Bolsistas PBIS Leandro, selecionando fontes para o Projeto Centro de Memórias
do IFPR, 2018.........................................................................................................................85
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15
2 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL BRASILEIRA E A ET-UFPR................................. 19
2.1 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL NA DÉCADA DE 1990 ................ 19
2.2 AS ESCOLAS TÉCNICAS VINCULADAS ÀS UNIVERSIDADE FEDERAIS E
SUA HERANÇA AOS INSTITUTOS FEDERAIS ....................................................... 29
2.3 UM BREVE HISTÓRICO DA ET-UFPR .............................................................. 35
3 A ESCOLA TÉCNICA DA UFPR NA DÉCADA DE 1990 ...................................... 44
3.1 PRIMEIRA EXPANSÃO DE CURSOS ................................................................ 44
3.2 COMPLEXO RIAD SALAMUNI ........................................................................... 57
3.3 EDUCAÇÃO GERAL E ENSINO PROFISSIONAL ............................................. 68
4 PRODUTO EDUCACIONAL .................................................................................. 78
4.1 O DOCUMENTÁRIO ........................................................................................... 79
4.2. A CONSTRUÇÃO: RELATO DA EXPERIÊNCIA ............................................... 85
4.3 APLICAÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL E RESULTADOS ....................... 89
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 93
FONTES .................................................................................................................... 97
FONTES ORAIS ....................................................................................................... 97
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 101
APÊNDICE A .......................................................................................................... 106
APÊNDICE B .......................................................................................................... 108
APÊNDICE C .......................................................................................................... 115
APÊNDICE D .......................................................................................................... 116
APÊNDICE E .......................................................................................................... 117
ANEXO A ................................................................................................................ 118
15
1 INTRODUÇÃO
1 O Centro de Memórias do IFPR foi criado no ano de 2015, como consequência do projeto Catalogação
de fontes para a educação profissional. Atualmente, ocorre no IFPR, Câmpus Curitiba, e já contou
com bolsistas da modalidade Programa de Bolsas Acadêmicas de Inclusão Social (PBIS), Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica aos Estudantes de Ensino Médio (Pibic Jr) e voluntários.
16
das classes dominantes. Sendo assim, o estudo da esfera política se faz relevante no
entendimento dos caminhos da ET-UFPR.
Outro ponto abordado é a relação das escolas vinculadas às universidades
brasileiras com a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.
Esse contexto é importante por explicar a desvinculação da ET-UFPR da Universidade
Federal do Paraná (UFPR), para se tornar o Câmpus Curitiba do IFPR. Fechando o
capítulo, é relatado um breve histórico da ET-UFPR nos períodos anteriores à década
de 1990.
No terceiro capítulo, investigam-se fatos relevantes à ampliação dos cursos da
ET-UFPR, assim como as motivações, dificuldades, conflitos, conquistas e
contradições que existiram nesse processo. Conforme relata Julia (2001), essa
análise é fundamental para a compreensão dos motivos pelos quais certas práticas
são escolhidas, em detrimento de outras:
Essa cultura escolar não pode ser estudada sem a análise precisa das
relações conflituosas ou pacíficas que ela mantém, a cada período de sua
história, com o conjunto das culturas que lhe são contemporâneas: cultura
religiosa, cultura política ou cultura popular (JULIA, 2001 pg. 10).
2 Sugere tornar íntegro, inteiro, o ser humano, partido pela divisão social do trabalho, envolvendo a
ação de executar e a ação de pensar, dirigir ou planejar. Trata-se de superar a redução da preparação
para o trabalho ao seu aspecto operacional, simplificado, escoimado dos conhecimentos que estão
na sua gênese científico-tecnológica e na sua apropriação histórico-social (CIAVATTA, 2005, p. 2).
18
3 A relação entre a educação básica e a profissional no Brasil está marcada historicamente pela
dualidade. Nesse sentido, até o século XIX, não há registros de iniciativas sistemáticas que hoje
podem ser caracterizadas como pertencentes ao campo da educação profissional. O que existia até
então era a educação propedêutica para as elites, voltada para a formação de futuros dirigentes.
Assim sendo, a educação cumpria a função de contribuir para a reprodução das classes sociais, uma
vez que aos filhos das elites estava assegurada essa escola das ciências, das letras e das artes e
aos demais lhes era negado o acesso (MOURA, 2007, p. 5).
19
educação continuou sendo o conflito dos que defendem a educação pública, laica,
gratuita e de qualidade para todos, contra os defensores da submissão dos direitos
sociais, sob a alegação da necessidade de diminuir gastos. Assim, surgiu o desafio
de desenvolver uma educação que atendesse à necessidade do século XXI, com um
projeto educacional para a formação humana e para o trabalho, estabelecido logo
após a promulgação da nova Constituição.
A década de 1990 foi marcada por muita luta no campo progressista:
O balanço no campo educativo da década de 1990 indica que pelo fato de
haver forte mobilização política, sindical, dos intelectuais, dos artistas e dos
movimentos sociais engajados na luta democrática, mantinha-se a esperança
de que a conclusão da transição para a democracia, e com sentido
progressista, poderia ocorrer, com as eleições de 1989 (FRIGOTTO, 2006, p.
42).
que não dominasse o processo completo, mas, sim, várias partes dele, se isentando
do questionamento das suas condições de trabalho. Políticas públicas que promoviam
a educação profissional integrada ao ensino médio foram rejeitadas, contrariando a
tendência da Constituição de 1988 e das primeiras discussões sobre a LDB (CAIRES;
OLIVEIRA, 2016). Assim, a educação técnica iniciou a década de 1990 com a
tendência de servir aos interesses do mercado financeiro, sendo o currículo um campo
ideológico, interessado em transmitir e produzir uma visão de mundo vinculada aos
interesses das classes dominantes, enquanto as subalternas sentem grandes
dificuldades de mudar a própria realidade (ARAUJO; FRIGOTTO, 2005).
Devido à autonomia administrativa da Rede Federal de Escolas Técnicas, as
ações sugeridas pelo Banco Mundial não foram acatadas durante o governo Collor, o
que não significou que as políticas públicas para a educação profissional não
permaneceram submetidas aos ideais neoliberais. Como afirmam Caires e Oliveira
(2016), para promover a gestão da educação profissional, foi criada pelo Ministério da
Educação (MEC) a Secretaria Nacional de Educação Tecnológica (Senete), passando
a ser responsável pelas ações de desenvolvimento, promoção e coordenação da
formação tecnológica. Caberia a ela “subsidiar as instituições de Educação
Tecnológica na implementação de ações concretas, levando em consideração a
evolução científica e tecnológica, com reflexos no mundo do trabalho, dentro da visão
atual e prospectiva da realidade” (BRASIL, apud GARCIA; LIMA FILHO, 2004).
Pela concepção do governo Collor, a educação tecnológica guardava o
compromisso prioritário com o futuro, no qual o conhecimento tem se transformado no
principal recurso gerador de riquezas, seu verdadeiro capital, exigindo uma renovação
da escola, para que assume seu papel de transformadora da realidade econômica e
social do país (BRASIL, 1991, p. 57), conceito afinado com a lógica do capital:
Neste conceito de educação tecnológica formulado pela SENETE, ressurge,
então, a velha retórica da educação redentora dos males sociais. A retórica
do valor econômico da educação é acompanhada, agora em sua roupagem
neoliberal, dos paradigmas da competitividade e da modernização o que, no
campo das políticas educacionais, passou a orientar a aproximação das
instituições do ensino técnico ao mundo empresarial, sobretudo, pela
recomendação de que tais instituições deveriam adotar o modelo de gestão
da iniciativa privada, dotado de flexibilidade e operacionalidade no âmbito da
lógica mercantil (GARCIA; LIMA FILHO, 2004, p. 17).
4 O termo “2º grau” foi utilizado até a LDB de 1996, que alterou a nomenclatura desse nível educacional
para ensino médio.
25
país, exceto nas ETFs, Escolas Agrícolas Federais e em alguns poucos sistemas
estaduais. Nos artigos do capítulo 3, a educação profissional ficou assim configurada:
Art.39 – A educação profissional, integrada às diferentes formas de
educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente
desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva.
Parágrafo único. O aluno matriculado ou egresso do Ensino Fundamental,
Médio e Superior, bem como o trabalhador em geral, jovem ou adulto, contará
com a possibilidade de acesso à educação profissional.
Art. 40 – A educação profissional será desenvolvida em articulação com o
ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em
instituições especializadas ou no ambiente de trabalho.
Art. 41 – O conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no
trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para
prosseguimento ou conclusão de estudos.
Parágrafo único. Os diplomados de cursos de educação profissional de nível
médio, quando registrados, terão validade nacional.
Art. 42 – As escolas técnicas e profissionais, além dos seus cursos regulares,
oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a
matrícula à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível
de escolaridade (BRASIL, MEC, 1996a).
5
Educação politécnica representa o domínio de técnicas em nível intelectual e a possibilidade de um
trabalho flexível, com a recomposição das tarefas em nível criativo (MACHADO, 1992).
27
professores e as turmas do ano seguinte foram ofertadas sem os projetos dos cursos
estarem prontos. O novo modelo enfrentou resistência da ET-UFPR e o governo
federal enviou um representante para pressionar os servidores.
6 O curso técnico pós-médio ou subsequente é voltado aos estudantes que já concluíram o ensino
médio e buscam formação técnica. O curso tem duração de dois anos e confere ao formado o diploma
de técnico de nível médio. (IFPR)
29
Segundo o próprio Condetuf (2019), ativo até os dias atuais, seu funcionamento
é mantido por doações e mensalidades de associados, que se envolvem na
elaboração dos projetos pedagógicos dos cursos.
Quando criado, o conselho não teve a receptividade esperada das secretarias
vigentes. A Secretaria de Ensino Superior (Sesu) ameaçou retirar as escolas das
universidades e passá-las para o comando dos municípios e dos estados; já a Senete
não reconheceu as escolas vinculadas às instituições superiores de ensino como
instituições legalizadas para a oferta do ensino técnico de nível médio. Outro problema
que ocorria com essas escolas, conforme aponta Azeredo e Carvalho (2009), era a
discriminação pelas próprias universidades, que as consideravam um peso financeiro.
Por serem de ensino secundário, necessitavam de um quadro de docentes próprio e
as políticas públicas da época, para o ensino profissional de nível técnico, eram alvo
34
Guilherme declarou ter sido professor da antiga escola alemã, hoje Ginásio
Progresso, lecionando a língua alemã até novembro do ano passado, mas
que devido a situação os alunos se tornarem poucos, passando então a
lecionar violino do que atualmente é professor.
Com respeito aos livros apreendidos em sua residência, diz, serem os
mesmos instrutivos: dicionários, físicas, gramaticas e livros de leitura, todos
em idioma alemão (DOPS, 1943).
Em 1938, uma reunião, que contou com a presença de militares, mudou o nome
da escola, que passou a se chamar Sociedade do Colégio Progresso, com a
justificativa de atribuir-lhe um caráter educativo, de acordo com as leis (SOUZA, 2012).
Getúlio Vargas estabeleceu que o ministro da Educação supervisionasse todos
os livros das escolas elementares e secundárias. A fiscalização aconteceu no Colégio
Progresso e pode ser verificada nos livros de inspetoria, que possuem registros a partir
de março de 1938 (SOUZA, 2012). O controle era feito regularmente pelos inspetores
estaduais e uma vez por mês pelo inspetor federal, sendo as visitas registradas no
Relatório de Inspetoria. Em várias passagens, percebe-se um tom controlador e
ameaçador, como, por exemplo, no registro no qual o inspetor relatou as
consequências negativas para o colégio caso não cumprisse as circulares e portarias
enviadas anteriormente:
Nesta data aqui estive, verificando o andamento das aulas. Deixei com o Snr.
secretário cópias do decreto lei nº 2/335, de 24 de junho deste ano, sobre
segunda chamada para provas e do telegrama da D>E>C nº 446 de 22/8
último sobre atrazo do fornecimento dos dados que devem acompanhar os
relatórios de fiscalização, fazendo ciente esta Academia das penalidades que
incorrerá em caso de infração de qualquer disposição das Instruções em vigor
(RELATÓRIO DE INSPETORIA DO COLÉGIO PROGRESSO, 1940, s/p).
38
Visitei hoje essa Academia e nada tive a registrar de anormal. Consigno aqui
a mudança do nome do Curso para o de Academia Comercial Progresso,
conforme despacho de 5 deste, publicado no diário Oficial de 9, página
15.345, proc nº S. C. 13.208/40 (RELATÓRIO DE INSPETORIA DO
COLÉGIO PROGRESSO, 1940, s/p).
7 São cursos de educação profissional técnica de nível médio integrados ao ensino médio. O curso é
planejado de modo que o aluno conclua o ensino médio uma habilitação profissional técnica. Essa
forma é oferecida somente a quem já tenha concluído o ensino fundamental (IFPR, 2019).
40
Nós tínhamos só o curso de contabilidade, que era integrado, né? Não sei
como é que se falava na época. Mas era o curso de contabilidade, que era o
ensino médio junto com o curso de contabilidade. Tive alguns problemas na
Santos Andrade, a gente compartilhava as salas de aula com os professores
de Direito, e umas quatro, cinco vezes, eu tinha a última aula do período da
tarde e a aula começava 17h10, e lá pelas 17h30, mais ou menos, chegava
um professor do Direito e batia na porta, eu estava na sala com uns 35, 40
alunos, né? Faltando 15 minutos para terminar minha aula, ele chegava e
falava que precisava da sala. Daí a gente saia e ele entrava com três alunos
de Direito, para uma sala de 60 pessoas.
41
Salamuni (1997) contou que, diante do que foi exposto a ele, concluiu que a
escola técnica, a partir daquele momento, passaria a ser uma das prioridades da
Reitoria. Assim, com o diretor da escola, professor Sidney da Conceição Vaz, agendou
um encontro com o ministro da Educação e diversos assessores. Nessa reunião,
foram informados de que uma das metas do governo federal era fortalecer o ensino
técnico. Segundo o professor Moraes (2019), os dois conseguiram dar
encaminhamento para legalizar e fazer com que esses servidores passassem a fazer
parte do quadro da instituição.
Schmidlin (2019) narrou como recebeu a notícia de que a escola faria parte do
efetivo da UFPR: “Será que é verdade? Será que é mentira? Que vai acontecer? Daí,
numa tarde, a gente foi lá na sala do Reitor, que era o Riad Salamuni e ele oficializou”
(SCHMIDLIN, 2019, s/p.). Moraes (2019) enfatizou que os professores tiveram que se
submeter a bancas formadas por professores da UFPR, para avaliar os
conhecimentos e averiguar as condições para entrar em uma instituição pública.
O MEC, segundo Salamuni (1997), não disse de que maneira, nem que tipo de
ensino técnico a universidade deveria elaborar ou os respectivos projetos, incluindo o
quadro de pessoal, os planos curriculares e o de viabilidade de novas instalações;
então, trataram de conseguir um terreno adequado, que fosse da própria universidade.
Enquanto isso, o professor Sidney viajava a Brasília diversas vezes, começando as
negociações, junto ao MEC e ao Ministério do Planejamento, para a ampliação da
escola, muitas vezes com recursos próprios (MORAES, 2019).
A Reitoria começou a questionar se a ET-UFPR realmente precisava sofrer
uma ampliação, criar alicerces, raízes sólidas. Com o empenho do corpo docente,
iniciaram-se as conversas em prol da diversificação dos cursos da escola
43
cuja primeira ata da reunião refere-se à sua própria criação. Tratava-se de uma
sugestão do reitor da universidade de 1990 até 1994, o Professor Doutor Carlos
Alberto Faraco, que, em entrevista anos mais tarde, explicou o processo pelo qual a
universidade passava e em que a escola técnica estava incluída:
No período 1990-94, procuramos cumprir várias metas, pensando no futuro
da UFPR a longo prazo, apesar das inúmeras restrições orçamentárias e
financeiras do período. Acredito que vivemos, naquele período, um ponto de
inflexão importante: deixamos para trás os traumas da reforma universitária
de 1968, principalmente o viés tecnocrático que ainda embaraçava as ações
da Universidade e pudemos assentar as bases para o desenvolvimento mais
intenso das atividades de ensino, de pesquisa e de extensão (FARACO,
2012).
escola também mudar. Uma das novas funções da ET-UFPR consistia em atender a
projetos de extensão de alguns cursos universitários, como o curso Técnico em
Enfermagem, que pretendia fornecer mão de obra para o curso de Medicina e
Enfermagem dentro do Hospital de Clínicas. Já o curso Técnico em Prótese Dentária
foi criado para atender às necessidades protéticas de atendimentos odontológicos à
população pelo curso de Odontologia, intenção confirmada pelo professor Celinski
(2019), que atua como professor do curso desde o ano de 1991: “Na época era para
atender a disciplina de clínica Integrada. Então, nós tentamos esse tipo de trabalho
com os alunos de Odontologia” (CELINSKI, 2019).
Fornecer um local para que os estagiários da UFPR pudessem atuar também
era uma necessidade da época, apontada por Moraes (2019):
A premissa básica era fazer com que a nossa instituição servisse de
laboratório para os professores da Universidade. Professores do
núcleo comum, professores do núcleo técnico poderiam ali ter os
alunos fazendo estágios. Estágios didáticos, e nós tínhamos estrutura
para tal e isso aconteceu. Eu recebia como professor de química
muitos alunos do curso de Química e utilizávamos os laboratórios
deles também, para ministrar aulas.
✓ Técnico em Contabilidade
Objetivo: Desenvolver o curso de Contabilidade, objetivando o aperfeiçoamento da
clientela do 2º grau na área contábil.
Estatística História
Química
Aparelhos Ortodônticos
Equipamentos e Instrumentais
Estágio Supervisionado I
Estágio Supervisionado II
Materiais Protéticos
Prótese Fixa I
Prótese Fixa II
Prótese Total II
✓ Técnico em Enfermagem
Objetivo: Formar técnicos em Enfermagem para atender à demanda por profissional
de nível médio em instituições hospitalares e de saúde coletiva.
Quadro 12 – Matriz curricular do curso Técnico em Higiene Dental Integrado da ET-UFPR, em 1991.
Disciplinas profissionalizantes Disciplinas acadêmicas
Programa de Saúde
Química
para dedicação exclusiva. Também foi apresentado o regulamento com as regras das
próximas eleições a diretor (ESCOLA TÉCNICA, 1991).
A escola não possuía poder de decisão dentro da universidade, porém a
comunidade acadêmica participava das eleições para reitor, conforme estabelecido
no Edital COUN nº 10/1993.
Sempre tinha a conversa: E aí, e a Escola Técnica? Não, vai sair, vai sair?
Eu particularmente não acreditava, mas, daqui a pouco saiu os pilares...Daqui
a pouco saiu o primeiro barracão, barracão não: uma estrutura da Escola, a
primeira metade, não lembro quantas salas tinha, mas devia ser umas 5, 6
salas, que depois viraram auditório, inclusive. E daí começou a sair e foi indo,
foi indo e virou o que é hoje, mas foi uma batalha muito grande.
A mudança de sede também foi descrita pelo professor Gilson Moraes (2019):
Bom, tecnicamente, foi um sonho, porque estávamos num espaço que tinha
muito mais condições do que o prédio da Santos Andrade, lá nós éramos
estranhos no ninho, efetivamente nós ocupamos os espaços que deixavam por
último, realmente era assim. As partes dos porões eram nossas [...] lá em 82,
fomos para baixo e sempre com problemas de iluminação. De repente
chegamos em um prédio todo adequado, com salas, pé direito elevado, com
acústica perfeita. Foi maravilhoso, nós tínhamos um espaço. Claro, tivemos
dificuldades, como toda escola normal, falta de servidores. Tanto é que tinha
um secretário para atender de manhã, de tarde e de noite.
reitor do IFPR entre 2008 e 2011, em discurso na colação de grau dos estudantes da
ET-UFPR (1997), afirmou:
A construção de uma nova Escola Técnica da Universidade Federal,
construção essa que não se resumiu à ampliação dos espaços físicos, a
aquisição de novos e importantes equipamentos, mas principalmente na
transformação sofrida num curto espaço de tempo. Passamos de uma
simples escola, de segundo grau, abrigada no seio de uma universidade, para
constituirmos em uma unidade universitária. Equiparando assim aos demais
setores da Universidade Federal do Paraná, com os mesmos direitos e com
os mesmos deveres (LEAL NETO, 1991, s/p.).
prédio de administração e cantina. Segundo Moraes (2019), o terreno foi cedido pela
prefeitura para o Centro Politécnico e uma das condições para a doação era a criação
de cursos que atendessem à população, principalmente na área da saúde:
Houve uma concessão da prefeitura para a Universidade Federal para utilizar
aquele terreno, mas deveriam ser criados cursos que fossem de interesse da
população da cidade, principalmente na área que nós mais atuamos, que era
a saúde, para o SUS e para as unidades de atendimento. Então ali começou o
planejamento da instituição, cursos que eram da enfermagem, da saúde bucal,
da massoterapia e da informática também, para serem utilizados, esses alunos,
estagiando dentro das unidades de saúde do município (MORAES, 2019, s/p.).
Ficou definido que a escola trabalharia com os dois modelos e que, por debates
do colegiado, fosse determinado o número de vagas para cada modo. O curso de
Higiene Dental Integrado foi extinto no ano de 1997 (UFPR, 1998).
A discussão passou para o novo curso de Técnico em Transações Imobiliárias,
que seria noturno e teria os mesmos professores do curso de Contabilidade,
necessitando de apenas mais um, com formação em Engenharia Civil. O curso iniciou
ofertando 40 vagas (ET-UFPR, 1993). O professor Claudir Schmidlin (2019) contou,
em entrevista, as motivações da criação desse curso:
Em 1994 foi criado o de Transações Imobiliárias, era um curso que o mercado
precisava, o de corretor. A maioria dos corretores, não tinha CRECI. Existia
uma prova que se fazia para ser corretor, tinha apostila, a pessoa estudava e
tal, fazia a prova e passando acabava sendo corretor. O curso veio para que?
Para fazer com que esses corretores tivesse uma melhor qualificação e
tivesse um estudo mesmo sobre o que é ser corretor.
Enfermagem Cirúrgica
Enfermagem Materno-Infantil
Enfermagem Médica
Enfermagem Neuropsiquiátrica
Nutrição e Dietética
Quadro 15 – Matriz curricular do curso Técnico em Higiene Dental Especial da ET-UFPR, em 1991.
Disciplinas profissionalizantes
Educação em Saúde
Estágio Supervisionado I
Estágio Supervisionado II
Estudos Regionais
Fundamentos de Enfermagem
Higiene Dental I
Higiene Dental II
Odontologia Social I
Odontologia Social II
Química Aplicada
Economia de Mercado I
Economia de Mercado II
Estágio Supervisionado I
Estágio Supervisionado II
Matemática
Matemática Financeira I
Matemática Financeira II
Noções de Contabilidade
Operações Imobiliárias I
Operações Imobiliárias II
Condetuf com a Semtec, como mostra o relatório das atividades desenvolvidas pela
ET-UFPR de 1997:
Como resultado da atuação no CONDETUF, foi possível o entendimento com
a SEMTEC/MEC, para a instituição de uma comissão Especial, sob a
coordenação da direção da ET-UFPR, para estudar a integração das Escolas
Técnicas vinculadas às Universidades no Sistema Nacional de Ensino
Tecnológico que prevê, dentre outras medidas a serem adotadas, a
elaboração de proposta que contenha estrutura mínima para o
desenvolvimento das atividades deste segmento da Educação Tecnológica
(ET-UFPR, 1997, s/p.).
✓ Ensino Geral
Objetivo: A implantação do Ensino Médio na Escola Técnica da UFPR tem
por objetivo fundamental propiciar à população um ensino multidisciplinar de
alta qualidade que proporcione ao educando: uma capacitação efetiva para o
mundo do trabalho, o prosseguimento dos estudos em outros níveis, e,
principalmente, o aprimoramento de valores humanos essenciais.
Educar, no sentido mais amplo, é gerar uma consciência de liberdade em
homens e mulheres, pois a educação é a base sobre a qual se sustentam os
direitos humanos, a luta contra as desigualdades sociais, o desenvolvimento
dos povos e a preservação da paz no mundo. Somente essa consciência de
liberdade é que pode fazer o educando transformar a sua própria vida,
desenvolvendo a sensibilidade criativa na observação das coisas, a
responsabilidade, o espírito democrático e o comportamento ético e solidário
nas relações interpessoais (UFPR, 1999, pg. 7).
Moura, Leite Filho e Silva (2015) esclarecem que a formação é um produto das
relações sociais e de produção e, relacionada à sociedade capitalista, está a
pedagogia das competências, objetivando distanciar os que fazem daqueles que
pensam, negando uma educação emancipadora, pautada no compromisso com a
transformação social.
O aspecto dualista fica evidenciado, pois se trata de um curso bastante
completo e de formação sólida. No entanto, é uma educação que valoriza o
individualismo e a competitividade, que estão presentes no projeto de implantação.
“Este ambiente escolar está inteiramente voltado para fornecer aos alunos condições
de realizarem sua individualidade da melhor forma, e isto representa a estruturação
de uma concepção de mundo mais produtiva para eles e para a coletividade” (ET-
UFPR, 1999, p. 14). Pela primeira vez e somente para o curso de Educação Geral, os
temas transversais foram incluídos no currículo, para enriquecimento do processo
educacional, a exemplo de meio ambiente, sexualidade, saúde, direitos do
consumidor, qualidade de vida, ética, Mercosul e outros (ET-UFPR, 1999). Recursos
financeiros foram destinados à abertura do curso de Educação Geral, que deveriam
ser usados para custear: curso de aperfeiçoamento, aquisição de material didático,
laboratório de línguas, viagens, eventos culturais, projetos do ensino médio e
aquisição de livros (ET-UFPR, 1999).
Mesmo com o Decreto nº 2.208/1997 trazendo a obrigatoriedade de
desarticulação do ensino regular e profissional, a ET-UFPR resistiu à ordem do
governo federal. Thompson (1981) explica que os acontecimentos reais não
obedecem a regras, mas não podem ser compreendidos sem elas, que oferecem suas
próprias irregularidades. Os cursos que continuaram integrados foram: Enfermagem,
com turmas nos dois períodos diurnos; Processamento de Dados e Contabilidade, no
período da tarde; e o novo curso Técnico em Atendente de Consultório Dentário, na
parte da manhã, com 30 vagas (UFPR, 1999).
A professora Mércia Machado (2019) relembrou esse processo de resistência
por parte da escola:
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Florido (2019) também expôs que esse foi o primeiro curso superior da escola:
Funcionava junto com os cursos técnicos, era o único curso superior que nós
tínhamos na Escola Técnica. Hoje, eles têm mais cursos superior. Então, mas
a maioria dos professores que faziam parte do colegiado ficaram na
Universidade Federal, nós viemos apenas três professores.
A ET-UFPR levou 129 anos para eleger sua primeira diretora, contando desde
a criação da Escola Alemã. Somente no final da década de 1990, uma mulher
alcançou o cargo. A Figura 11 mostra um momento da campanha para o cargo de
diretor, podendo-se observar que, além do candidato a vice-diretor, professor Gerson,
todas as apoiadoras presentes na imagem são mulheres.
Contabilidade I 1952 3 _ 40 36 5 41
Enfermagem I 1991 4 T 10 4 15 19
Administração P 1997 2 N 40 19 21 40
Massoterapia P 1998 2 N 80 21 65 86
Informática I 1999 2 T 25 4 16 25
Secretariado P 2000 2 N 30 1 28 29
As vagas estipuladas nos testes seletivos não eram supridas à risca. Em alguns
casos, sobravam vagas e, em outros, o número de alunos era maior. Alguns cursos
evidenciavam, pela quantidade de mulheres e homens, a questão da divisão de
76
em 2000 (UFPR, 2001). A professora Mércia Machado (2019) afirma que essa
resistência da escola técnica, enquanto estava vinculada à universidade, serviu como
suporte para, no futuro próximo, criar o IFPR – Câmpus Curitiba:
A gente resistiu, meio que pagou para ver o que ia acontecendo, mas a gente
teve o endosso da direção, da gestão da época que pensava parecido.
Porque acredito que se eles tivessem um outro olhar, um outro
posicionamento a gente sabe que isso aconteceria de cima para baixo
automaticamente. E aí eu lembro que a gente ainda estava discutindo 2000,
2001, 2003 até que terminou o governo e a gente permaneceu. Continuou
com o ensino médio, continuou com o ensino integrado. E aí veio o Instituto
Federal e as coisas aconteceram de uma maneira mais tranquila, eu acredito
(MACHADO, 2019, s/p.).
4 PRODUTO EDUCACIONAL
9 Filme de caráter informativo e/ou didático dedicado a assuntos variados: animais, acontecimentos,
grandes personagens ou pessoas famosas, fatos políticos, históricos e culturais, diferentes culturas,
arte, emoções, saúde etc.; em geral, são filmes de curta-metragem (MICHAELIS, 2020).
79
4.1 O DOCUMENTÁRIO
10 Considera a construção temporal, mediante estudos de memória da EPT, que, ao longo do tempo,
vem configurando os processos de ensino e de organização de seus espaços pedagógicos (ProfEPT,
2020).
80
Cada entrevista foi individual e cada entrevistado recebeu uma caixa contendo
algumas lembranças para ativar as memórias, como fotos antigas, diários de classe e
atas de reunião de diretoria. Esse material teve como finalidade aflorar as memórias
e emoções dos participantes. As imagens feitas nos momentos de análise das
lembranças não fizeram parte do documentário, mas foram gravadas com a intenção
de diminuir o estranhamento dos entrevistados com os equipamentos de gravação.
“Muitas vezes, uma imagem, um som, um aroma ou um determinado sabor podem
nos aproximar do passado, trazendo lembranças de acontecimentos, lugares ou
pessoas que pensávamos ter esquecido” (BOSCHILIA, 2012, p. 9).
comentou: “Você devia olhar com carinho para essas fontes e ir pensando em que
período gostaria de estudar”. Foi o que a autora fez: pensou e escolheu a década de
1990. Todo o material datado desse período começou a ser separado para a futura
pesquisa.
Figura 17 - Equipe do Centro de Memórias do IFPR,
1º semestre, 2018.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ensino secundário e vista na universidade como algo de menor valor, condição que
pode ser percebida pelos documentos e fotos, que mostram as instalações a ela
destinadas, e pelos relatos dos professores, que contribuíram com a história oral nesta
pesquisa.
Após a escola ganhar prestígio junto à comunidade e se tornar bastante
requisitada, não sendo mais possível seu funcionamento no prédio histórico da UFPR,
ganhou sede própria, o Complexo Riad Salamuni, logo ocorreu mais uma expansão
de cursos. Destaca-se a abertura do curso de Transações Imobiliárias, em 1995, de
uma demanda oriunda da sociedade. Com sede própria, a ampliação ocorreu de forma
natural. Foi um período de relativa fartura para a escola, visto que outras escolas
técnicas vinculadas às universidades federais passavam por momentos de muito
abandono.
A terceira fase de expansão ocorreu após o conturbado período em que o
governo Fernando Henrique Cardoso, em um explícito ato de fortalecer a dualidade
estrutural, projetou separar cursos para os privilegiados e para os mais necessitados,
desarticulando a educação profissional integrada ao ensino médio, pelo Decreto nº
2.208/1997. Isso obrigou as escolas técnicas, pela Portaria nº 646/1997, a implantar
o ensino geral já no ano de 1998.
A ET-UFPR atendeu à necessidade de ofertar ensino geral em 1998, mas só
concluiu seu projeto de curso em 1999, o que faz perceber a pressão para que essa
implantação acontecesse. Ela conseguiu resistir à total desarticulação do ensino
técnico e médio, mantendo alguns dos seus cursos na modalidade integrada. Essa
resistência provavelmente só foi possível pela tutela da universidade, que vinha
sofrendo ataques e cortes de verba do governo federal, mas que mantinha sua
autonomia universitária.
Mesmo assim, a ET-UFPR terminou a década de 1990 oferecendo um grande
número de cursos pós-médios aligeirados de forma polivalente. Exceto algumas
turmas especiais, esses cursos eram ofertados no período noturno, enquanto o ensino
geral, em períodos matutinos e vespertinos, deixando muito claro o projeto de caráter
dualista.
O estudo permitiu perceber as condições de trabalho precárias que os
professores da escola enfrentaram ao longo dos anos, em especial, os do ensino
profissional. Observou-se também o espírito de luta dessa categoria, que não desistiu
do ensino, mesmo nos momentos mais delicados. Enfatiza-se que a dicotomia na
95
educação não era vista como um grande problema pela maioria da comunidade na
época, questionamento que ganhou força a partir da criação dos Institutos Federais
de Educação.
Pesquisar em fontes primárias, como as do Centro de Memórias do IFPR,
possibilitou observar as políticas públicas sendo aplicadas e se sensibilizar pelo fato
de a escola ter sido feita de pessoas de carne e osso, com seus sonhos, atribuições
e limitações. Nem sempre o que está colocado na lei atende às particularidades de
cada escola.
Os centros de memórias vêm ganhando importância na história da educação
profissional e a organização desses acervos fez parte desta pesquisa, contribuindo
com a riqueza do material encontrado. Já as sutilezas das convivências e nuanças
dos acontecimentos puderam ser estudadas de forma mais profunda com a história
oral, que, embora seja uma história contada sob o viés do sujeito entrevistado,
preenche muitas lacunas que os documentos não conseguem explicar.
A produção do produto educacional foi uma experiência de conhecimentos
novos, além de aprendizados técnicos com o curso de Áudio e Vídeo. A interação
entre os entrevistados, a autora e a equipe geraram várias inquietações nos
estudantes, que passaram a questionar o seu papel na história da instituição e a se
interessar pela trajetória de luta desses professores. É preciso destacar que
aconteceram algumas dificuldades no convencimento de alguns entrevistados e
desistência de outros. A participação feminina foi mais difícil de conseguir; acredita-
se que decorra do fato de essas professoras não se sentirem à vontade para expor
seus feitos da mesma maneira que os professores homens.
Esta pesquisa evidencia a dualidade estrutural da educação brasileira e a luta
pelo educação profissional integrada ao ensino médio , principalmente pela história
oral dos professores envolvidos, uma história de professoras e professores e de suas
lutas por uma educação mais justa, que não desistiram da ET-UFPR e com
determinação batalharam pela sua permanência e crescimento em épocas de
dificuldade. Essa resistência e coragem de abrir cursos, sem estrutura nem recursos,
foram fundamentais para anos mais tarde, a escola ser uma opção na concretização
do IFPR – Câmpus Curitiba.
Em 2008, foram criados os Institutos Federais, com uma proposta contra-
hegemônica, reconhecendo a relevância de estudos e práticas educativas que
promovam a oferta e a consolidação de um ensino público, gratuito e de qualidade,
96
FONTES
Fontes Orais
Outras Entrevistas
Documentos da ET-UFPR
Documentos da UFPR
Legislação
BRASIL. Lei n. 8.948, de 8 de dezembro de 1994. Diário Oficial da União. Dez. 1994.
Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8948.htm>.
Acesso em: 16 de julho de 2020.
BRASIL. Projeto de Lei nº 1603 de 4 de março de 1996. Dispõe sobre a Rede Federal
de Educação Profissional e das Outras Providências.
REFERÊNCIAS
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UNESP. São Paulo, SP, 1998.
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LEMOS JR, Wilson; KRUGEL, Vanessa Cauê; SCHEMES, Ana Flávia (2017). Centro
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(1936 – 1941). Anais do XIII Educere. PUC-PR. Curitiba, 2017.
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MOURA, Dante Henrique; LIMA FILHO, Domingos Leite; SILVA, Mônica Ribeiro.
Politênica e formação integrada: confrontos conceituais, projetos políticos e
contradições históricas da educação brasileira. Revista Brasileira de Educação, v.
20, n. 63, p. 1057–1080, 2015.
104
MRAZ, John. Narrando a história com luzes e sons. In: MAUAD, Ana Maria. História
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OLIVEIRA, Francisco de. A nova hegemonia da burguesia no brasil dos anos 1990 e
os desafios de uma alternativa democrática. In: FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA,
Maria. Teoria e educação no labirinto do capital. São Paulo. Expressão Popular,
2016.
APÊNDICE A
Linha do tempo da ET-UFPR
107
108
APÊNDICE B
Produto educacional – encarte
109
110
111
112
113
114
115
APÊNDICE C
APÊNDICE D
APÊNDICE E
3. Lugares de memória contribuem para a construção de uma identidade singular e ao mesmo tempo
coletiva, como pertencimento a um tempo, a um grupo com as marcas desse tempo. (Ciavatta, 2008)
Você acredita que o IFPR influência na formação da sua identidade?
☐ Sim ☐Não
5. Você considera que a história oral foi uma metodologia eficiente na documentação da história da
Instituição?
☐Sim ☐ Não
7. O passado humano não é um agregado de histórias separadas, mas uma soma unitária do
comportamento humano, cada aspecto do qual se relaciona com outros de determinadas maneiras,
tal como os atores individuais se relacionavam de certas maneiras. (Thompson, 1981) Você considera
que o documentário te ajudou a compreender a relação da Escola Técnica da Universidade Federal do
Paraná, com a Universidade?
☐Sim ☐Não
8. Você considerou claro o objetivo do documentário?
☐Sim ☐Não
ANEXO A