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Aurelio Rodrigues Da Silva
Aurelio Rodrigues Da Silva
Aurelio Rodrigues Da Silva
A CONTRIBUIÇÃO DA EXTENSÃO
NA FORMAÇÃO DO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO
Brasília - DF
2011
AURÉLIO RODRIGUES DA SILVA
A CONTRIBUIÇÃO DA EXTENSÃO
NA FORMAÇÃO DO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO
Brasília
2011
S586c Silva, Aurélio Rodrigues da
A contribuição da extensão na formação do estudante
universitário. / Aurélio Rodrigues da Silva – 2011.
96f. ; 30 cm
CDU 378
__________________________________
Professor Doutor Luiz Síveres
Orientador
__________________________________
Professor Doutor Afonso Celso Tanus Galvão
Membro Interno
__________________________________
Professora Doutora Luciane Pinho de Almeida
Membro Externo
Brasília
2011
A minha amada esposa, Elaine, por ter
sido paciente e companheira na
construção desse trabalho. Ao meu filho
Adam que a cada dia tem demonstrado o
quanto ser pai é um processo de
aprendizagem realizado com amor.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador professor Dr. Luiz Síveres, pela disponibilidade e empenho com
que orientou na elaboração dessa pesquisa. Obrigado por acreditar e por confiar em
mim.
Aos meus queridos familiares, em especial aos meus pais, irmãos, sogra, cunhada,
tios e tias que acreditaram e incentivaram para não desaminar nos momentos de
dificuldade.
A professora Dra. Luciane Pinho de Almeida, que gentilmente aceitou o convite para
participar de minha banca examinadora.
RESUMO
CF – Constituição Federal
CRUTAC – Centros Rurais Universitários de Treinamento e Ação Comunitária
ES – Entrevista Semi-estruturada
GF – Grupo Focal
IES – Instituição de Educação Superior
LDBEN – Diretrizes de Base da Educação Nacional
MEC – Ministério da Educação
MOBRAL – Movimento Brasileiro e Alfabetização
UDF – Universidade do Distrito Federal
UnB – Universidade de Brasília
USP – Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 11
1.1 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA.................................................................... 12
1.2 OBJETIVOS................................................................................................... 13
1.1.1 Geral........................................................................................................... 13
1.1.2 Específicos................................................................................................ 13
1.2 JUSTIFICATIVA............................................................................................. 14
2 REVISÃO DA LITERATURA............................................................................ 17
2.1 MODELOS DE UNIVERSIDADES................................................................. 17
2.1.1 Modelos históricos de universidade....................................................... 17
2.1.2 Modelo norte-americano de universidade.............................................. 19
2.1.3 Experiências originárias das universidades brasileiras....................... 22
2.2 UNIVERSIDADE APRENDENTE................................................................... 24
2.3 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA....................................................................... 27
2.4 EXTENSÃO APRENDENTE.......................................................................... 31
2.5 EXTENSÃO MULTICULTURAL..................................................................... 33
2.5.1 Pressupostos educativos para uma educação multicultural................ 33
2.5.2 O multiculturalismo................................................................................... 36
2.5.3 Educação para a democracia................................................................... 37
2.5.4 Educação para cidadania......................................................................... 38
2.6 O PROTAGONISMO DO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO............................ 40
2.6.1 Juventudes e identidades........................................................................ 40
2.6.2 Ética e juventudes..................................................................................... 41
2.6.3 Políticas para juventude........................................................................... 44
3 METODOLOGIA............................................................................................... 47
3.1 PESQUISA QUALITATIVA............................................................................. 47
3.2 PROJETO DE EXTENSÃO............................................................................ 49
3.3 LOCAL E DURAÇÃO TOTAL DA PESQUISA............................................... 50
3.4 DESCRIÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA.................................. 51
3.5 ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE DOS DADOS................................................. 52
4 RESULTADOS.................................................................................................. 53
4.1 ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA........................................................... 53
4.1.1 Motivação para participar do projeto de extensão................................ 53
4.1.2 Aprendizagens mais importantes............................................................ 58
4.1.3 Aprendizagens conceituais, procedimentais e atitudinais................... 63
4.1.4 Consequências para o desenvolvimento acadêmico e para o
compromisso social........................................................................................... 68
4.2 GRUPO FOCAL............................................................................................. 71
4.2.1 Motivação para participar do projeto de extensão................................ 72
4.2.2 Aprendizagens mais importantes............................................................ 74
4.2.3 Aprendizagens conceituais, procedimentais e atitudinais................... 75
4.2.4 Consequências para o desenvolvimento acadêmico, profissional e
para o compromisso social............................................................................... 76
5 DISCUSSÃO..................................................................................................... 80
5.1 MOTIVAÇÕES............................................................................................... 80
5.2 APRENDIZAGENS MAIS IMPORTANTES.................................................... 81
5.3 APRENDIZAGENS CONCEITUAIS, PROCEDIMENTAIS E ATITUDINAIS.. 83
5.4 CONSEQUÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO ACADÊMICO,
PROFISSIONAL E PARA O COMPROMISSO SOCIAL...................................... 84
6 CONCLUSÕES................................................................................................. 87
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 89
ANEXOS.............................................................................................................. 92
ANEXO I: ROTEIRO DAS QUESTÕES UTILIZADAS NAS ENTREVISTAS
SEMI-ESTRUTURADAS E NO GRUPO FOCAL................................................. 94
ANEXO II: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO............... 95
11
1 INTRODUÇÃO
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Geral
Investigar a experiência de aprendizagem de estudantes que participam da
extensão universitária em uma universidade privada do Distrito Federal.
1.2.2 Específicos
• Investigar a percepção dos estudantes quanto à aprendizagem nos projetos
de extensão;
• Identificar competências conceituais, atitudinais e procedimentais;
• Explorar conseqüências do envolvimento de estudantes em projetos de
extensão para o desenvolvimento acadêmico, profissional e para o
compromisso social.
14
1.3 JUSTIFICATIVA
2 REVISÃO DA LITERATURA
trabalho e o exercício da cidadania. Este por sua vez, percebido pela comunidade
acadêmica como prática por justiça ou como compromisso social (BRASIL, 2008).
Uma universidade aprendente necessita refletir a palavra-ideia compreensão.
Esta, segundo Aragão (2002), é usada de forma inadequada para expressar a
mensuração dos objetivos na aprendizagem, pois a palavra compreensão refere-se
a uma qualidade, nesse caso não mensurável, presente em qualquer processo de
aprendizagem adequado na educação de forma geral.
Tendo como referência o processo de ensino e de aprendizagem em uma
universidade aprendente, este não pode ser avaliado de forma linear e nem dirigido
linearmente. Segundo Aragão (2002) rotineiramente este processo requer mudança
tanto das ideias pré-concebidas, quanto daquelas a serem descobertas e
assimiladas pelos estudantes por meio do ensino ou da condução de seus
professores. Visto que a visão de mundo adquirida pelo individuo – ideias ou
sentidos – são concepções de uma experiência anterior, ou seja, não vemos aquilo
que não conhecemos. Dessa forma, cada indivíduo construirá uma concepção de
mundo por meio de seu olhar.
Aragão (2002) ao olhar para a prática do ensino nas universidades identifica
que os professores, de modo geral, não percebem essa pré-concepção – essa
experiência de mundo – existente em seus estudantes ao ingressarem em um curso
superior. A partir destas pré-concepções que será desenvolvida a aprendizagem do
conhecimento científico nos estudantes, ocorrendo em certos momentos distorções
de compreensão de paradigmas científicos.
A partir das práticas de ensino e de aprendizagens presentes nas
universidades e na educação de forma geral, o professor, conforme Aragão (2002),
é convidado a ser co-responsável pelos resultados da aprendizagem de cada
estudante. Será aquele que fica a frente – detentor de todo o conhecimento – ou
adversário de seus estudantes, mas está com ele em todo o processo de ensino e
de aprendizagem.
A presença no processo de ensino aprendizagem de uma universidade
aprendente deve ter como referência o ato de filosofar. Este, segundo Síveres
(2006), é entendido como uma reflexão a partir da realidade ou de um fenômeno,
baseados em conceitos filosóficos com o objetivo de contribuir no entendimento de
determinada situação, sobre o qual pode se orientar para uma ação crítica por meio
de princípios éticos.
26
Para Coelho o ato de filosofar “não é um afastar-se do mundo, nem com ele
se identificar, mas nele mergulhar para aprendê-lo em seu ser” (2001, p. 38). O ato
de pensar é necessário em qualquer espaço educativo ou não. É uma atitude
humana. Síveres (2006) afirma que na medida em que a filosofia se transformou em
escolas epistemológicas, deixando de ser uma atividade livre com ideal democrático,
foi compreendida como instrumento para interpretação da história. Esse
entendimento aproximou a universidade da tecnologia e se distanciou do ato de
filosofar.
Para Síveres (2006) o ato de filosofar é uma atitude crítica diante da realidade
confrontada pelo estudante universitário. Este deixa de perceber a universidade
como algo a parte da sociedade e se posiciona como sujeito autor de seu
conhecimento, interpretando o fenômeno social como algo que provoca uma ação.
Em uma universidade aprendente a formação acadêmica é vista como integral.
Homens e mulheres estão integralmente nesse espaço acadêmico e são – capax
universi – capacitados com objetivo de abarcar o conjunto geral de todas as coisas
existentes.
A universidade não é um lugar somente da certeza, mas também da crise,
segundo Síveres (2006) é a partir da crise que as universidades desenvolvem seu
potencial de criação, criatividade e de comprometimento. A palavra crise tem sua
raiz no verbo acrisolar, que segundo o Novo Dicionário Aurélio (2004) significa
“purificação, depuração”, ou seja, as crises nesse sentido são positivas, pois
provocam a ruptura de paradigmas e o aperfeiçoamento do conhecimento
elaborado. Dessa forma, o pensar como ato de filosofar não produz apenas bens e
serviços, mas elabora conceitos e informações, por isso o conhecimento possibilita a
habilidade e a capacitação do aprender, desaprender e reaprender.
Nesse contexto, segundo Síveres (2006), a universidade aprendente tem a
função e a necessidade de estar comprometida com o desenvolvimento da
sociedade. Ribeiro (1986) irá dizer que a universidade brasileira tem o dever de
pensar o Brasil como problema. Segundo a Constituição Federal – CF de 1988 e a
LDBEN (Lei 9.394/1996), a finalidade da educação, de forma geral, é o pleno
desenvolvimento do educando, do preparo para o exercício da cidadania e da
qualificação para o trabalho (BRASIL, 2008).
27
Este conceito não é oficial para todas as universidades brasileiras, mas sim
setorial para as universidades públicas, possui certo reconhecimento das Instituições
de Educação Superior – IES brasileiras. Segundo Bessa da Silva (2002) se a
indissociabilidade fosse incorporada, de fato, na prática acadêmica das
universidades, o processo de aprendizagem de cada estudante seria mais
aprimorado.
A partir da história da extensão universitária brasileira alguns teóricos como
Lucchesi (2002) entendem a extensão como atividades permanentes que
possibilitam o envolvimento da universidade na comunidade onde está situada ou
30
atua. Esta deve estar integrada ao ensino, possibilitando ações práticas aos
estudantes de graduação e da pesquisa.
Como já apresentado, a extensão universitária está consolidada na CF de
1988. No artigo 207 foi redigido o seguinte texto: “as universidades gozam de
autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial
obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”
(BRASIL, 2008, p. 21). Este artigo define as três “atividades meio” da universidade,
com a finalidade de buscar o conhecimento.
Botomé (2002) compreende que houve um grande esforço no Brasil nas duas
últimas décadas do século XX para dar significado a extensão universitária. Os
estudos têm mostrado que a extensão universitária abrange um papel muito
importante em diversas investigações sobre a sociedade, voltada para as
necessidades sociais. Diante desse problema percebe-se que a extensão vem
buscando reconhecimento principalmente no que diz respeito aos aspectos sociais.
Outro ponto importante, destacado por Botomé (2002), é pensar na função da
extensão dentro da universidade, sem que ela perca a característica de sua gênese,
isto é, de ampliar o conhecimento. Aqui podem ser analisadas duas questões: a
primeira seria o incentivo e participação do governo, para que não haja paternalismo
e a utilização desmedida da extensão como marketing institucional, ou até mesmo,
balcão de negócios; a segunda indica a ocupação de espaço acirrado pelos fóruns
existentes, como: o Fórum de Pró-reitores de Extensão das Universidades Públicas
– ForPROEx, fundado em 1987, e o Fórum Nacional de Extensão e Ação
Comunitária das Universidades e Instituições de Ensino Superior Comunitárias –
ForExt, fundado em 1999.
A extensão universitária atende, em especial, as necessidades de uma
comunidade, e nela, deve ser incluída uma preparação efetiva tecnológica e ética
para lidar com as diversas necessidades. Em seu desenvolvimento inicial a extensão
universitária deve buscar uma compreensão, que por muito tempo ficou esquecida,
isto é, a de recuperar o equilíbrio do trabalho público. Na extensão a prática deve
estar presente no agir e no pensar criticamente, superando problemas comunitários
existentes. As transformações da concepção da extensão universitária por si mesma
já possuem características de mudanças e reformulações. Esse processo surge
como oportunidade de novas elaborações culturais e novos acessos de
conhecimento, conforme nos diz Botomé (2002).
31
2.5.2 O multiculturalismo
sua face, também requer essa atitude. As instituições sociais, como por exemplo, à
universidade, estão escutando o que o estudante universitário tem a dizer?
O eliminar distâncias, o ser responsável pelo outro, são ações que hoje
transcendem as relações humanas. Para Birck (2005) a sociedade pós-moderna
clama um cuidado muito especial com a natureza, pois, para que as futuras
gerações tenham uma vida digna na terra será preciso um novo olhar, ou uma nova
ótica para a natureza, isso é possível por meio do estudante que está aí (ser aí).
Para poder encarar o outro: “é indispensável respeitar o outro como outro, deixar o
outro ser distinto, ser livre enquanto outro” (BIRCK, 2005, p. 40).
Ser ateu ao sistema, segundo Birck (2005), é buscar ações que desenvolvam
o ser humano, e não acreditar no estudante como um problema, ou sinônimo de
violência, mas despertar seu potencial e entender que ele é agente e sujeito de suas
ações. Dessa forma, em um projeto de extensão universitária o estudante tem um
papel de protagonista de sua formação, pois é confrontado diariamente com várias
situações sociais da comunidade que requer iniciativa e capacidade de tomar
decisões.
Nesse único desafio apresentado, que faz alusão aos jovens, percebe-se uma
conotação negativa, a associação à violência, pois tem como objetivo a redução da
violência. Propor atitudes que desenvolvam ações preventivas à violência a esse
jovem é louvável, mas associar à violência existente nas cidades brasileiras a
imagem desse jovem não contribui para uma efetivação dessa política pública.
45
protagonismo que tanto esperam ou que estão em sua busca. Para essa ação será
preciso a criação de espaços onde os jovens possam se expressar de uma forma
autônoma e autêntica. Um espaço para essa expressão do jovem são as
universidades.
Foi possível identificar no estudante universitário o agente e sujeito de sua
formação. Percebe-se uma complexidade na constituição da identidade desses
estudantes, na sociedade contemporânea. Essa complexidade da identidade
universitária contribui para pensar como a universidade pode ser, ou não, o espaço
do protagonismo desse estudante.
Para Freire (1987, p. 88): o “nosso papel não é falar ao povo sobre a nossa
visão do mundo, ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com ele sobre a sua e a
nossa”. Esse autor provoca uma reflexão crítica sobre a visão de mundo não
discutida com todos, mas particularizada. O desafio emergente é compreender a
multiplicidade de juventudes presente em nossa sociedade, mesmo sabendo que
existem poucas ações de governo (políticas públicas) direcionadas para esse
público. Nessas poucas ações governamentais os jovens não são sujeitos e
protagonistas de seu desenvolvimento.
Olhar o outro como outro, possibilitou uma reflexão ética sobre a ação desse
jovem como estudante universitário na sociedade e a importância do envolvimento
dos professores nas ações de promoção desse estudante. Identificar a necessidade
dos excluídos, promover uma ação política, envolvendo a todos como seres
humanos diferentes uns dos outros é o desafio ético. A construção de uma cultura
de alteridade se torna presente na relação entre professor e estudante.
Portanto, com persistência e participação de todos da comunidade
acadêmica, pequenas ações podem transformar o seu cotidiano. O desenvolvimento
de ações que possam envolver estudantes, professores e colaboradores de uma
mesma universidade podem contribuir na ação protagonista e na conquista da
autonomia e liberdade acadêmica aos estudantes universitários.
47
3 METODOLOGIA
nas pesquisas realizadas pelos diferentes paradigmas. O que se tem acesso são as
representações vistas por meio das lentes embaçadas dos pesquisadores.
Portanto, as entrevistas semi-estruturadas e o grupo focal empregados nessa
pesquisa, partiram de amostras, ou seja, indivíduos ou grupos restritos. Segundo
Turatto (2004), as amostras são usadas em pesquisas qualitativas e quantitativas
por ser impossível, por razões práticas, abordar todos os sujeitos que compõem o
grupo de interesse do pesquisador.
As entrevistas individuais ou grupais (grupo focal) estão presentes em
pesquisas educacionais de base qualitativa. Para o desenvolvimento das entrevistas
foi necessário um treinamento prévio, antes de sua aplicação, nos grupos
selecionados. O objetivo dessa capacitação foi a prevenção de possíveis erros na
aplicação das entrevistas por parte do pesquisador entrevistador. Dessa forma, as
entrevistas foram gravadas para não ocorrer a perda de dados importantes, por falta
de condições do pesquisador em anotar todas as falas dos entrevistados.
O desenvolvimento da habilidade do pesquisador nas entrevistas e no grupo
focal foi muito importante na execução da coleta de dados. Essa melhoria contribuiu
na criação de um clima de tranquilidade com os entrevistados. Os estudantes
participantes davam as pistas a serem seguidas. O pesquisador esteve atento ao
pesquisado e às pistas que foram sendo manifestadas. O sucesso das entrevistas e
da realização do grupo focal foi por ter sido construído um clima de diálogo dinâmico
e tranquilo, onde pesquisador soube ouvir os estudantes participantes da pesquisa.
Nas entrevistas semi-estruturadas foi importante decidir a quantidade de
pessoas a serem entrevistadas, nesse caso foram convidados 11 estudantes que
participam de projetos de extensão. Foi adotado um roteiro de entrevistas bem
preparado, com uma postura amigável e com certa formalidade nas entrevistas
realizadas, tais como táticas verbais e não-verbais. O planejamento foi desde a
elaboração das questões à execução da entrevista semi-estruturada e do grupo
focal, conforme afirma Gaskell (2002). No anexo I encontra-se o roteiro das
questões utilizadas nas entrevistas semi-estruturadas e no grupo focal.
O grupo focal, apresentado por Abramovay e Rua (2002), é uma forma de
entrevista qualitativa em que os entrevistados são selecionados por características
comuns. Teve por objetivo, nesta pesquisa, conhecer as atitudes, percepções e
comportamentos desses sujeitos sociais. A busca pela diversidade de opiniões
propicia a grande manifestação das ideias da vida real dos participantes. Dessa
49
Ago. / 2010
Nov. / 2009
Nov. / 2010
Mar. / 2010
Jun. / 2010
Dez. / 2010
Fev. / 2010
Out. / 2010
Fev. / 2011
Set. / 2010
Jul. / 2010
Descrição
4 RESULTADOS
competências adquiridos ao longo do curso. Essa compreensão foi nos relatada pela
estudante abaixo:
Foi mais por motivo de conhecimento, porque eu consegui bem na época
que passei aqui passei no concurso para o TCU para estagiário, mas lá eu
não iria aprender praticamente nada porque lá iria dar apenas a ginástica
laboral e aqui eu senti por mais que esteja recebendo menos eu iria
conseguir aprender mais, pois a gente está lidando como dar uma aula
mesmo, é mais próximo da minha prática (Rosa, ES).
• Motivação prática
• Convívio Social
Isso é relatado na seguinte fala: “[...] as mais importantes foram a convivência entre
muitas pessoas, o trabalho do grupo, o trabalho que com poucos materiais e fazer
grandes eventos tudo em grande grupo para muita gente”. Essa aprendizagem se
torna significativa, principalmente na sociedade contemporânea, onde o ser humano
não é detentor de todo conhecimento, mas precisa saber partilhá-lo.
• Experiência profissional
Esse fato de aprender a planejar uma aula, para um público específico como
os idosos, foi o conhecimento mais significativo dessa estudante. Aprender a
adaptar as aulas para um determinado público ou o local de trabalho, com o material
disponível de uma empresa, com objetivo de prevenir e melhorar a qualidade de vida
dos colaboradores foi na verdade uma das aprendizagens mais significativas
desenvolvidas nos projetos de extensão. O exercício de uma prática profissional
também está presente na fala da estudante a seguir:
E na parte mais profissional eu aprendi muito, o que a gente não aprende
em sala de aula, fazer laudos ergonômicos orientação postural que a gente
aprende a ser feito, mas não aprende na prática como que é feito e aprendi
que as vezes não dá para mudar tudo, mas tem como você adaptar ao que
a empresa tem dentro da instituição e pra mim como profissional foi muito
bom (Anne, ES).
• Compromisso social
• Conceituais
• Procedimentais
• Atitudinais
Essa atitude de poder conhecer e fazer uma experiência das várias áreas de
seu curso levou o estudante a procurar maior formação na área do conhecimento
desejado. Nesse espaço o estudante poderá visualizar o seu campo de trabalho e
buscar aprofundar sua área de conhecimento.
67
Nessa mesma reflexão a estudante Anne (ES) diz que sua atuação no
projeto: “teve muita coisa positiva para estar passando da extensão pra mim foi o
crescimento, como falei no começo pessoal e profissional”. Esse crescimento
pessoal e profissional é visto direta e indiretamente em grande parte nas falas dos
estudantes.
• Desenvolvimento acadêmico
• Desenvolvimento profissional
• Compromisso social
• Desenvolvimento acadêmico
• Desenvolvimento profissional
esse horizonte”. São os grupos atendidos pelos projetos de extensão aos quais os
estudantes se deparam que contribuem para ampliar o seu conhecimento.
• Compromisso social
5 DISCUSSÃO
5.1 MOTIVAÇÕES
relações sociais. Estas vivenciadas de forma intensa nas atividades realizadas pelos
estudantes nos projetos de extensão.
A relação de confiança também foi relatada como aprendizagem importante
adquirida na atuação em um projeto de extensão. O vínculo que se cria com a
comunidade atendida, entre os participantes das atividades extensionistas e a
relação professor estudante são mais próximas. Isso, sem dúvida, contribui para a
formação em qualquer área do conhecimento gerando amor ao saber. Assim,
estudantes e professores se organizam como sujeitos de seu aprendizado levando
em conta a democratização e a socialização do saber acadêmico, conforme
Nogueira (2000).
A confiança, relacionada ao outro, é despertada nas comunidades e pessoas
beneficiadas pelo projeto de extensão, é apresentada pelos estudantes participantes
da pesquisa como o saber fazer a atividade com segurança. Lucchesi (2002)
compreende a extensão como atividade permanente na universidade com objetivo
de promover atividades práticas e elaboração de pesquisas buscando beneficiar as
comunidades atendidas. O saber fazer ou o dominar certa prática e conhecimento
acadêmico dependerá do desenvolvimento de pesquisas com um olhar social
apresentadas pela pesquisadora acima.
Para Levinas (1998) e Birck (2005) é nesse encontro face-a-face ético e
autêntico que há a eliminação de toda a distância entre os sujeitos. A extensão
universitária proporciona esse encontro entre a comunidade beneficiada com os
estudantes e professores. Essa aprendizagem sempre vem associada à interação
com o outro. Em um projeto de extensão essa interação é constante. Visto que,
acontece com o professor responsável pelo projeto, com a comunidade ou público a
qual o projeto beneficia. É no projeto de extensão que o estudante consegue dar
passos à sua autonomia universitária. Conforme diz Lucchesi (2002) o estudante ao
olhar os problemas sociais de forma crítica busca ser autor de seu conhecimento.
Essa busca deve ser constante desde os primeiros anos da vida acadêmica.
O diálogo foi outro ponto extremamente relatado entre eles, a troca de
saberes, a multidisciplinaridade. Para Wolff (1993) o objetivo central das
universidades é provocar nos estudantes o diálogo e despertar o conhecimento das
grandes ideias presentes no meio acadêmico, desenvolvendo sua sensibilidade e
percepção dos vários conhecimentos produzidos no mundo universitário e a
capacidade de compartilhar esses saberes entre estudantes e professores. De forma
83
falas dos estudantes foi possível identificar que a própria qualidade de vida
melhorou.
Nas atitudes pode-se perceber uma grande mudança no comportamento.
Seria uma complementação em seus conhecimentos que provocaria um grande
benefício social com uma formação humanista transcendendo para uma
aprendizagem de cunho social humanizado e de postura dialogante. Síveres (2006)
identifica essa mudança como uma atitude crítica da realidade, provocando até a
mudança simples nos hábitos de estudo, para desenvolver as atividades
extensionista, se fazia necessário maior estudo pessoal.
6 CONCLUSÕES
A convivência com o outro foi identificada pelos estudantes como uma das
aprendizagens mais importantes adquiridas na extensão universitária. Estes ao
participarem de atividades de extensão aprenderam a conviver com o outro, a
respeitar e a desenvolver atividades de forma cooperativa. O conviver com o outro
está ligado à mudança de atitude e de compromisso social, pois ao participar de
projetos de extensão, os estudantes mudaram de comportamento e percepção
social.
Aprender a cultura e o comportamento, por meio do projeto de extensão, foi
relevante para os estudantes participantes da pesquisa. Essa interação com as
pessoas, realizadas na extensão, contribuíram para desenvolver maior confiança ao
executar uma ação. Nas atividades extensionistas a relação educador e educando
são mais próximas, pois o contado é direto e diário, desenvolvendo uma relação
mais humanizada.
Uma inquietação apresentada pelos estudantes participantes da pesquisa,
tanto nas entrevistas semi-estruturadas quanto no grupo focal, estão ligadas a pouca
adesão de estudantes nas atividades de extensão. Algumas suposições dessa baixa
adesão foram: em primeiro, a pouca divulgação e incentivo por parte da instituição
das atividades de extensão, corrigida de certa forma com a implantação de um
programa de iniciação a extensão; segundo, a falta de interesse dos próprios
estudantes, atrelada ao pouco conhecimento do que é uma atividade extensionista;
e terceiro, a falta de tempo de alguns estudantes que precisam trabalhar para
bancar seus estudos.
As inquietações acima não são empecilhos para os estudantes universitários
serem protagonistas de seu processo de formação. As aprendizagens adquiridas no
projeto de extensão iniciam na contextualização dos objetivos e nas ações a serem
realizadas para a comunidade interna ou externa a universidade. Nesse caso, o
estudante exerce um papel fundamental no desenvolvimento das ações
extensionistas, é ele que faz a relação entre a práxis e a teoria.
O projeto de extensão contribui na formação integral da pessoa humana, pois
tanto o estudante como o professor deparam com situações onde podem refletir
sobre sua conduta, seu comportamento em relação ao contexto social aos quais
estão vivenciando. A extensão universitária contribui na formação dos estudantes
proporcionando a qualificação profissional, o exercício da cidadania e sua autoria
acadêmica.
89
REFERÊNCIAS
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SEN, Amartya. Identidad y Violencia: La Ilusión Del Destino. Buenos Aires: Katz,
2007.
93
SILVA, Enio Waldir da. Extensão Universitária no Rio Grande do Sul: concepções
e práticas. Porto Alegre. 2003. 282 f. Tese de Doutorado (Programa de Pós-
Graduação em Sociologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2003.
ANEXO I
ANEXO II
EU_________________________________________________________, declaro
que fui informado e devidamente esclarecido do projeto de pesquisa intitulado:
Processos de Aprendizagem na Extensão Universitária desenvolvido pelo
professor responsável Doutor Luiz Síveres do Mestrado em Educação da
Universidade Católica de Brasília-UCB, quanto aos itens da resolução 196/96.
Declaro, que após ser esclarecido pelo pesquisador a respeito da pesquisa, consinto
voluntariamente em participar desta pesquisa.
_____________________________________
Sujeito da pesquisa
Nome:______________________________________________________________
_____________________________________________
Assinatura do declarante
96
Declaração do pesquisador
Declaro, para fins da realização da pesquisa, que cumprirei todas as exigências
acima, na qual obtive de forma apropriada e voluntária, o consentimento livre e
esclarecido do declarante acima, qualificado para a realização desta pesquisa.
____________________________________
Doutor Luiz Síveres