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Terapia Cognitivo-Comportamental Bittencourt e Seixas 2019

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2019

©Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos & Editora Sanar Ltda. pela Lei nº | COORDENADORA E AUTORA
9.610, de 19 de Fevereiro de 1998, É proibida a duplicação ou reprodução deste volume ou qualquer
parte deste livro, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico,
gravação, fotocópia ou outros), essas proibições aplicam-se também 3 editoração da obra, bem como Joana Azevêdo Lima
às suas características gráficas, sem permissão expressa da Editora.
Doutora em Psicologia Social, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Universidade
Complutense de Madri (UCM), Mestre em Psicologia (UFPB) com ênfase em violência contra
Título] Teorias Psicológicas Crianças, adolescentes e de gênero, direitos humanos, políticas públicas. Graduação em Psi-
Editor] Fernanda Femandes cologia, pela Universidade Salvador (UNIFACS), MBA em Gestão de Projetos, pelo IBMEC.
Capa] Fabricio Sawczen Pós-Graduação em Psicoterapia Analítica, pelo Instituto Junguiano da Bahia (UBA). Atua como
Edição e Diagramagao | Carla Plaggio Design professora de graduação e pós-graduação e supervisora clínica.
Conselho Editorial | Caio Vinícius Menezes Nunes
| AUTORAS
Itaciara Lazorra Nunes
Paulo Costa Lima
Sandra de Quadros Uzéda
Silvio José Albergaria da Silva
Luana Flor Tavares Hamilton Andrea Dérea
Mestre em Psicologia Experimental com Mestre em Psicologia Clínica pelo Insti-
ênfase em Análise do Comportamento tuto de Psicologia da Universidade de
e Graduação em Psicologia, ambas as São Paulo. Especialista em Psicologia
Dados Internacionais de Catalogação-na- Publicação (CIP) formações na Universidade de São Pau- Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da
lo. Atualmente é professora no Centro Faculdade de Medicina da Universidade
L732t Lima, Joana Universitário Ruy Barbosa Wyden eem de São Paulo. Psicanalista. Atualmente
Teorias Psicológicas / Joana Lima. - 1. ed. - Salvador: diversos cursos de pós-graduação Lato é docente em cursos de Graduação e
Editora Sanar, 2019, Sensu no brasil. Atua como psicóloga e Pós-Graduação e atua na clínica, com cri-
supervisora clínica em consultório par- anças, adolescentes e adultos.
366 p;il; 16x23 cm. ticular.

15BN 978-85-5462-192-6

1. História 2. Humanismo 3. Psicologia 4.


Marlene Brito de Jasus Pereira Carolina Villa Nova Aguiar
Teorias 1.Título II. Autora.
Psicóloga. Doutora em Família na So- Doutora em Psicologia (UFBA). Mestre
CDD150.1 ciedade Contemporânea, pela Universi- em Psicologia (UFBA). Graduada em Psic-
CDU 159.9 dade Católica do Salvador UCSal-Brasil e ologia (UFBA) e em Administracao de Em-
École des Hautes Études em Sciences So- presas (FRB-Devry). Vice-Lider do Núcleo
Ficha catalográfica etaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Games CRB-8 8846
ciales - EHESS, em Paris-França. Profa. Ad- de Estudos em Pracessos Psicossociais e
junta do Curso de Psicologia do Centro Trabatho (NEPPT/EBMSP) e Pesquisadora
Editora Sanar Ltda. Universitério UniRuy ~WYDEN. Atuacio nos grupos de pesquisa Individuo, Or-
Rua Alceu Amoroso Lima, 172 em atendimento clinico/ psicanalise. ganizagao e Trabalho (UFBA) e Pró-Ensi-
., Caminhodas Árvores, no na Satide (EBMSP). Professora Adjunta
e NP Edf. Salvador Office& Paol,
3° andar. no curso de Psicologia da Escola Bahiana
% CEP:41820-770, Salvador - BA. de Medicina e Saúde Publica (EBMSP) e
SANAR" ricione: 7130524831 professora no curso de Administração da
www.editorasanar.com.br Faculdade Ruy Barbosa - Wyden.
atendimento@editorasanar.combr
Terapia cognitivo-
comportamental (TCC)

Prof. Ms. Ana Carolina Neiva Bitencourt


e Dra. Camila Seixas

HISTÓRIA DA TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL (TCC)

A TCC ou Terapia Cognitiva (TC) foi desenvolvida por Aaron Beck na


década de 60, na Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos da Améri-
ca. Psiquiatra com formação psicanalítica, Beck dedicou-se primeiramente
aos pacientes com depressão e percebeu que a teoria freudiana sobre a
hostilidade retrofletida reprimida não explicava as manifestações emo-
cionais e comportamentais de seus pacientes. Essa teoria propunha que
0s sujeitos com depressão tinham hostilidade e raiva não manifestadas,
as quais geravam os sintomas da depressdo. Ao invés disso, Aaron Beck
observou que os pacientes apresentavam interpretações com forte viés
negativo sobre as situagdes, o que gerava emoções também negativas
e ações proporcionais a essas percepgdes distorcidas dos eventos. Outra
observação importante feita por Beck foi a de que os pacientes, mesmo
com depressao grave, demonstravam desejo de melhora, o que não era
postulado pela teoria psicanalitica, a qual afirmava a tendéncia incons-
ciente para permanecer no estado depressivo'.
A partir de suas observagdes, Beck formulou a premissa basica do mo-
delo cognitivo, afirmando que as cognições são responsaveis por gerar
emoções e comportamentos e, dessa forma, também por dar origem ao
funcionamento psíquico saudével ou patoldgico. Para desenvolver esta
premissa, Beck, durante o desenvolvimento da TC, sofreu diversas influén-
cias que questionavam a teoria psicanalitica e tentavam tirar o foco da in-
vestigação psiquica do inconsciente, apontando para um tratamento mais
voltado para o presente e com técnicas comportamentais. Como exemplos

331
CAPÍTULO 6 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (T )

dessas influências, são citados os neoanalistas Alfred Adler, Karen Harney do terapeuta em instigar o paciente, mediante um diálogo que conduz a
Otto Rank e Harry Sullivan; os fenomenologistas Kant, Heidegger e Hus: um processo denominado descoberta guiada®.
serl’; a terapia centrada no cliente de Carl Rogers?; a teoria do apego de Outra caracteristica marcante da TC é a estruturagéo das sessões. Nelas,
John Bowbly', bem como outros autores: George Kelly'; Piaget'; Richarg elabora-se uma agenda, ou seja, uma programagao do que ocorrerd du-
Lazarus'; Goldfried e D'Zurilla®; Albert Bandura® e Donald Meichenbaums rante a consulta, priorizando-se a demanda do paciente e as necessidades
A TC sugeriu o abandono do foco no passado para a melhora do pa- observadas pelo terapeuta. Essa estruturagao permite que haja uma orga-
ciente e a busca de soluções mais rapidas e eficazes para os sintomas apre- nizacao do atendimento e um melhor entendimento dos passos e metas
sentados. Utilizando-se do empirisme colaborativo, a TC propde um pape| da terapia®.
ativo por parte do paciente em todo o tratamento. Juntamente com o te-
A psicoeducagéo é parte fundamental da TC e baseia-se na ideia de
rapeuta, o paciente estabelece metas para a terapia, para as quais traça que o paciente necessita compreender o que acontece com ele mesmo,
os objetivos a serem alcancados. Assim, a TC constitui-se em um proces- para que possa evoluir no tratamento. A explicagdo tedrica dos concei-
so focal, participativo, com tempo reduzido e sessões estruturadas, que tos cognitivos e do transtorno mental oferecida ao paciente e seus fami-
proporcionam a oportunidade de compreensão de todo o processo de — liares permite o esclarecimento sobre as dificuldades e oferece a opor-
tratamento psicolégico, levando o paciente a dominar o arsenal tedrico e tunidade para o seu engajamento ativo. A psicoeducação pode ser feita
técnice da terapia, culminando em sua independéncia e fazendo com que mediante uma apresentacao didatica sobre o assunto, por meio de livros
o paciente aprenda a ser seu préprio terapeuta®.
indicados pelo terapeuta ou com o auxilio de ferramentas tecnolégicas
O arsenal técnico da TC cresceu imensamente após a década de 1960. como a internet’.
Muitos instrumentos foram desenvolvidos com o objetivo de facilitar a A conceituagio cognitiva é a formulação de caso do terapeuta cogni-
evolução do paciente e documentar sua melhora. Pesquisas tém sido rea: tivo. Nesta, o terapeuta busca sintetizar as informagdes sobre o paciente,
lizadas, principalmente com o intuito de analisar a eficacia dessa aborda-. enquadrando os dados encontrados no modelo cognitivo, com o obje-
gem psicoterapica. Assim, a TC passou a ser reconhecida especialmente tivo de proporcionar um melhor entendimento dos sintomas e das suas
por um conjunto de técnicas eficazes e rapidas que atuam sobre os trans- causas, com consequente otimização do planejamento do tratamento. A
tornos mentais. Entretanto, é importante afirmar outros pressupostos fun- conceituação é realizada de forma colaborativa com o paciente e contém
damentais e inerentes a prática da TC como, por exemplo, a relevancia da dados como diagnéstico (quando necessario); experiéncias significativas
alianga terapéutica; o uso do questionamento socrético; a estruturagao da infancia; situagdes desencadeadoras; PA; crenças intermediarias; cren-
das sessdes; a psicoeducação; e a elaboração da conceituacio cognitiva a cas centrais; possiveis dificuldades a serem encontradas no tratamento; e
ser compartilhada com os pacientes’.
pontos fortes do paciente. A figura 1 ilustra um modelo de formulério de
O vinculo terapéutico na TC tem grande importancia, ja que é apenas conceituagao cognitiva'.
por meio de uma alianca terapéutica sélida que o terapeuta consegue
aplicar o empirismo colaborativo. Durante as sessões, o paciente é estimu-
lado a colaborar ativamente, respondendo as intervenções do terapeuta;
realizando tarefas extraconsulta e oferecendo retorno (feedback) sob a
forma de comentarios sobre o tratamento. Dessa forma, na TC surge um
trabalho de equipe paciente-terapeuta que busca ativamente alcangar as
metas estabelecidas. Para atingir a participacao integral do paciente, o te-
rapeuta utiliza questionamento socratico, o qual consiste na habilidade

332 333
CABITULO 6 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)

Figura 27: Formulário de Conceituação Cognitiva Os pensamentos geradores de emoções e ações são denominados
pensamentos automaticos (PAs). Eles sao rapidos, esponténeos, privados,
Diagrama de concaituaiizagao cognitiva. Gopyrig Beck IS
resultantes das interpretagGes das situagoes do mundo concreto™. Alguns
DIAGRAMA DE CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA
autores, como Clark, Beck e Alford (1999), utilizam a terminologia “pré-
Noma: Terapeviz: consciente” para caracterizar esses tipos de pensamentos, ja que pode-
Diagnóntico: L 1 eem —— S
mos acessé-los com um pouco mais de esforço”!.
Entretanto, na maioria das vezes, os PA são aceitos como verdades ab-
DADOS RELEVANTES DA INFÂNCIA
solutas e nem sequer sua presenca é identificada. De modo geral, presta-se
+ mais atenção aos sentimentos do que aos pensamentos. ATC visa a fornecer
CRENÇAS HUCLEARES mecanismos ao paciente para que ele acesse os PA e os questione, podendo
assim avaliar sua interpretacéo dos fatos e analisar a realidade de maneira
+
mais neutra. O processo de modificar os PA e, consequentemente, as emo-
PRESSUPOSTOS / REGRAS
ções e os comportamentos são denominados reestruturacio cognitiva e
4 representa o aspecto mais importante do trabatho do terapeuta cognitivo®.
ESTAATEGIAS COMPENSATORIAS Contudo, é importante assinalar que nao se trata de trocar pensamen-
tos negativos por positivos, já que isso não oferece uma transformacéio
significativa, mas sim buscar evidéncias a favor e contrarias ao PA. Ao
SITUAGAD 7 SITUAÇÃO 2 SITUAÇÃO 3
transformar os PAs em possibilidades ao invés de verdades, o paciente é
+ + 3 capaz de ter uma visdo menos enviesada, avaliando a reafidade o mais
Pansamento autamáios Ponsamento autsmatics Pensamento automático próximo possivel de como ela é. O primeiro passo na reestruturagio cog-
nitiva consiste na identificagdo das distorções cognitivas®,
L 4 4
As distorções cognitivas referem-se a erros de pensamentos, a partir
Sigrificado do PA Signiicado do PA “Significada do PA
dos quais o sujeito apreende a realidade de uma maneira tendenciosa e
+ + + equivocada. Esses equivocos lógicos são PA disfuncionais que geram con-
Emoção Emoção Emoção sequéncias desagradaveis, pois culminam em emoções negativas exage-
radas e comportamentos desadaptativos. Todas as pessoas distorcem a
+ + +
realidade,ja que a interpretação de cada situação é particular, entretanto,
Comportamento Comportamento Comportamento
quando ocorre excesso de equivocos, há maior tendéncia ao sofrimento
psiquico e ao desenvolvimento de transtornos mentais'2,
As distorges cognitivas vém classificadas no quadro abaixo.
Fonte: Beck®

Quadro 14: Distor¢des Cognitivas segundo). . Beck

PRINCIPIOS BÁSICOS DA TCC Distor¢so Explicagio


Acredito que posso dizer o que as outras pessoas estão pensanda ou que
Retomando a premissa basica da TC, que relaciona pensamento, emo-
Leitura mental - | elas sabem o que estou pensando
Exemplo: “Ele acha que sou boba’.
ção e comportamento, percebe-se a relevéncia dos pensamentos. Segun-
do Beck (1964), a maneira como pensamos, determina a forma como nos Previsão do futuro ou Posso prever o futuro, que as coisas vão piorar ou que há perigo à frente.
catastrofização Assim, passo para toda sorte de conclusões precipitadas.
sentimos e, consequentemente, como agimos. Exemplo: “You ser reprovado no vestibular”

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TERAPIA COGN{TIVO-COMPORTAMENTAL (TCO)
CAPÍTULO 6

pénsamentodotipo:’.| Fico imaginando e se..isto ou aquilo acontecer... e raramente fico satis- Ao observar a maneira como as pessoas interpretavam a realidade, ou
“ese feito com as respostas. Exempio:"Sim, mas... e se eu ficar ansioso?” seja, como elas tendiam a distorcer as situações, Beck em 1964 percebeu
Desqualificação dos As minhas realizações não contam ou contam pouco. que os individuos tinham PA baseados em conceitos negativos, rigidos e
aspectos positivos. Exemplo:"A prova foi facil, por isso consegui tirar 107 preconcebidos sobre si mesmos, sobre o mundo e o futuro. Aisto ele con-
Foco minha atenção quase exclusivamente nos detalhes negativos e ra- ceituou de crencas centrais. Essas são ideias enraizadas que se desenvol-
Filtro negativo oú ramente noto o todo da situação,
abstração seletiva vem principalmente nas experiéncias mais significativas da infancia, que
Exemplo: “A irmã da anfitriá da festa não gostou de mim”
levamos conosco por toda a vida, gerando os PA nas situações da vida
Noto um padrão global de aspectos negativos com base em um único diaria. Como exemplo de crencas centrais, pode-se citar os autoconceitos:
Súpergeneralizáção | acontecimento.
Exemplo:“Isto sempre acontece comigo. Falho
em tudo que tenho que fazer” “sou incapaz’, “não sou amado”; as crengas sobre o mundo: "o mundo é
perigoso’; "o mundo é para as pessoas espertas”; e sobre o futuro:"o futuro
Rótulação: Dou atribuos umneg fracassado” m
atributos negativos a mim
Exemplo:"Sou
e a outras
pessoas,
0as,
é ameacador”, “o futuro serd injusto””.
As crencas centrais conferem caracteristicas rigidas ao sujeito, levan-
Interpreto os acontecimentos em termos de como as coisas deveriam ser
Pensamentodo tipo | e do que eu deveria fazer ao invés de como as coisas são e do que posso do-o a interpretar o mundo sobre o panorama dessas concepgdes. Assim
devéiia fazer agora ou no futuro. não há saidas para visbes mais alternativas ou amplas sobre a realidade. O
Exemplo:"Eu deveria fazer tudo bem”
individuo torna-se verdadeiro escravo de suas crencas, comportando-se
Interpreto comentários, questões e comportamentos de outras pessoas de maneira a perpetud-las'. :
como crítica sobre o meu valor, mesmo quando não tenho certeza de
Personalização. ser o caso. Dessa forma, Beck desenvolveu o conceito de crenças intermediárias”".
Exemplo: "Ela disse que estava cansada, mas o que realmente queria di- Essas são as regras e pressupostos que as pessoas impõem a si mesmas
zer foi que não queria ficar comigo” para garantir a homeostase psíquica, ou seja, o equilíbrio mediante a con-
Vejo os acontecimentos e as pessoas em termos de pensamentos tipa firmação, a todo instante, que as crenças centrais são verdadeiras. As cren-
Pensamento “tudo ou nada” “preto-branco’ “oito ou oitenta”, ças intermediárias, chamadas também de secundárias, manifestam-se por
dicotémico Exemplo: "Se eu não for aceita por todos, isso significa que sou um fra-
casso.” pensamentos do tipo “deveria ou devo”, a exemplo de: “Devo fazer tudo
Interpreto acontecimentos utilizando padrões pouco realistas, focando perfeito”; “Devo evitar situações de exposições”; e por pensamentos do
Comparações poucs . | minha atengdo naqueles que se saem melhor do que eu e, então, me tipo "se... então”: “Se eu não fizer tudo perfeito, então sou incapaz”; "Se
tazodvels julgo inferior nessas comparagdes. eu me expuser, então as pessoas perceberão o quanto sou frágil”. Nesses
Exemplo: “Ela conseguiu mais sucesso do que eu’’
exemplos, ficam nítidas as crenças centrais de incapacidade e fragilidade,
g Foco minha atenção na ideia do que poderia ter feito melhor no passado geradoras das crenças intermediárias. Os PA originam-se, assim, das cren-
jamernitação
á enãoá no que posso fazer melhor
h agora. À Exemplo;“Eu
:“Eu nãonár deveriai ter dito
aquilo” cas centrais e intermediárias que, por sua vez, iniciam-se e desenvolvem-

Foca minha atenção nas outras pessoas como fontes dos meus senti-
se a partir de experiéncias remotas de vida”".
Atribuição de culps || MSNtos negativos e recuso-me a assumir a responsabilidade da minha
própria mudança.
| Exemplo:"Ela é culpada pelo que estou sentindo agora”.
Permito que os meus sentimentos determinem a minha interpretação
Raciocinio'emocional
dos fatos.
Exemplo:“Tenho um bom emprego e parece que meus colegas me apre-
ciam, mas eu me sinto incompetente’.
Fonte: Beck’

337
336
É
CAPÍTULO 6 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)

Beck utiliza a nomenciatura de “esquemas” para caracterizar um con-


Deficiéncia em limites internos, responsabilidade
junto de crencas agrupadas por similaridade™. Nessa perspectiva, os es- para com outros indivíduos ou orientação para
quemas seriam organizações psiquicas utilizadas pelas pessoas visando objetivos de longo prazo. Leva a dificuldades de
respeitaros direitos alheios, cooperar com outros,
a compreens&o de suas experiéncias e do mundo em sua volta, formados estabelecer compromissos ou definir e cumprir
em etapas iniciais da vida. Essas organizagdes psiquicas se autoconfirmam Atrogo/grandiosidade objetivos
S pessoaisais realistas.
reall .
A origem familiar típica caracteriza-se por per-
com o objetivo de estabelecer uma coeréncia cognitiva, já que a visão de e Auto;_un_n?le/ missividade, excesso de tolerancia, falta de orien-
si mesmo, do mundo e dos outros permanece estével desde a infancia oy .| autodisciplina tação ou sensação de superioridade, em lugar de
acontecimentos marcantes na vida adulta. insuficientes confrontação, discipiina e limites adequados em
relação a assumir responsabilidades, cooperar de
Jeffrey Young dedicou-se ao estudo dos esquemas e denominou es- forma reciproca e definir objetivos. Em alguns ca-
quemas desadaptativos primarios aqueles capazes de provocar danos sos, a crianca pode não ter sido estimuladaa toferer
níveis normais de desconforto e nem ter recebido
psiquicos mais profundos, podendo gerar os transtornos de personalida- supervisão, direção ou orientação adequados.
de. Ele categorizou 18 esquemas desadaptativos remotos em 5 dominios
Foco excessivo nos desejos, sentimentos e soli
(Quadro 15). Esses dominios referem-se &s necessidades emocionais não. tações dos outros, às custas das próprias necessi-
satisfeitas durante a infancia, pois o citado autor acredita que os esque- o dades, para obter aprovação, manter o senso de
nam justamente dos déficits e/ou excessos emocionais que
Subjugação conexão e évitar retaliação. Geralmente, envolve a
Direcionamento | Autossacrífício supressão e a falta de consciência condicional: as
passamos principalmente na infancia e na adolescéncia™. párácdutro | Buscadeaprovação/ criangas devem suprimir importantes aspectos de
busca de simesmas para receber amor, atenção e aprovação.
Quadro 15: Dominios e esquemas reconhecimento Em muitas famílias desse tipo, as necessidades
emocionais e os desejos dos país - ou a aceitação
social e seu status - são valorizados mals do que
Dominios Esquemas Definições as necessidades e sentimentos de cada filho.
Abandono/instabilidade | -. sctativa de que as necessidades de ter prote- Enfase excessiva na supressão dos próprios
Desconfiança/abuso ção, segurança, estabilidade, cuidado e empatia; sentimentos, impulsos e escolhas espontâneas,
Desconexoe || Privação emocional de compartilhar sentimentos e de ser acelto e res.. ou no cumprimento de regras e expectativas
rejeição Defectividade/vergonha | Peitado, não serão satisfeitasde maneira previsível Negativismo/ internalizadas e rígidas sobre desempenho e
comportamento ético, às custas da felicidade,
: , A origem familiar tipica é distante, fria, rejeitadd- pessimismo
Isolamento social/ ra, solitária, impaciente, imprevisível e abusiva. autoexpressão, descuido com relacionamentos
alienação s pervigilancia
Inibição emocionat Íntimos ou com a saúde.
Padrões inflexíveis/ A origem familiar tipica é severa, exigente e, às
Dependência/ Expectativas sobre si mesmo e sobre o ambiente, einibição
postura crítica vezes, punitiva: desempenho, dever, perfeccio-
incompetência que interferem na própria percenção da capacr- exagerada nismo, cumprimento de normas, ocultagio de
- i dade de se separar, sobreviver, funcionar de forma. emoções e evitação de erros predominam sobre
Autonomiae V"';'f,':b'"dªdº 200aN0 | e pendente ou ter bom desempenho. Postura punitiva
o prazey, sobre a alegria e sobre o relaxamento,
desempenho, | ouádoença A família de origem costuma ter funcionamento Geralmente, há pessimismo subjacente e preo-
prejudicados | Emaranhamento/self emaranhado, solapando a confiancada crianca,su- cupag3o de que as coisas desabarao se nao hou-
subdesenvolvido perprotegendo ou não estimulando para que ela ver vigilancia e cuidado o tempo todo.
Fracasso tenha um desempenho competente extrafamiliar. -.
Fonte: Young""

ATCtem como objetivo identificar e alterar o processamento cognitivo


desadaptativo com foco no presente e futuro. Ela busca, pela identificação
dos PA e da análise de evidências da realidade, eliminar as distorções cog-
nitivas e suas origens. Diversos estudos vêm sendo realizados para verifi-
car a eficácia da TC e de suas técnicas.

338
339
CAPÍTULO 6 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)

ESTRUTURA DAS CONSULTAS EM TCC dos sobre a condição experienciada pelo paciente no momento, o seu nivel
de sofrimento e possiveis questées relacionadas a0 seu processo adaptativo.
A TCC propõe que as sessões sejam estruturadas em tópicos especifi- Considerando os objetivos mencionados, a primeira sessao em TCC tem
cos de forma a otimizar a eficácia terapêutica. A estrutura que guia a ma- uma organizac&o propria que a difere das demais consultas. Judith Beck es-
neira como o atendimento sera realizado auxilia não apenas o terapeuta, tabelece algumas metas para o terapeuta na primeira sessdo de terapia. Faz
mas também o paciente ao longo do processo terapéutico. De acordo parte da primeira consulta que seja estabelecida a alianca terapéutica com o
com essa perspectiva, o estabelecimento da agenda com os elementos a fomento de uma relagao de confianga, compartilhar com o paciente os ele-
serem trabalhados em cada sessao, conduzidos de uma maneira especifi- mentos da terapia cognitiva, psicoeducar o paciente em relagao a terapia,
ca, permite que o terapeuta saiba como procedera em cada atendimento, ao modelo cognitivo e ao transtorno que apresenta, instaurar a esperanga
focando o trabatho no objetivo de cada atendimento, favorecend_o oal- do paciente, ajustar as expectativas do paciente com a terapia, identificar
cance de metas terapêuticas”. as dificuldades que o paciente apresenta e utilizar essas informagdes para o
Além dos benefícios obtidos oriundos da estrutura das sessões para o estabelecimento da fista com as metas do tratamento®.
terapeuta, o paciente também se beneficia dessa organização à medida Dessa maneira, a estrutura da primeira sesséo é construida de maneira
que a agenda terapêutica permite que o mesmo saiba previamente o que a atender as metas descritas anteriormente. A estrutura do atendimento
será abordado em cada atendimento, o que pode esperar da terapia en- inicial é estabelecida a partir de dez elementos, sendo eles: a) estabele-
quanto um processo compreensível pelo quail é responsável e possui uma cimento da agenda, b) realizar a checagem do humor de forma objeti-
participação ativa. A agenda de cada sessão permite uma apropriação do va (escores), c) revisar o problema presente (atualizando-o), d) identificar
paciente sobre o que será trabalhado, gerando clareza e conforto do mes- problemas e estabelecer metas, e) educar o paciente em relação ao mo-
mo sobre cada momento da terapia. delo cognitivo, f) verificar as expectativas do paciente sobre a terapia, g)
Dessa maneira, as sessões de TCC seguem uma estrutura específica educar o paciente sobre ¢ seu transtorno, h) definir a tarefa de casa, i) fazer
que é partilhada pelo terapeuta com o paciente, o que torna esse último um resumo e j) obter o feedback da sessão”.
também consciente e responsável por seu próprio processo terapêutico, Esses elementos que estruturam a primeira sessdo são organizados
otimizando os resultados obtidos. Porém, vale ressaltar que existem es-. com a finalidade de atender as metas estabelecidas para primeira ses-
pecificidades que caracterizam cada momento da terapia, o que reflete são. As informações coletadas são imprescindiveis para o planejamento
na maneira como as sessões são estruturadas. De acordo com essa infor- terapéutico por parte do terapeuta. Para além disso, a associação entre
mação, podem ser identificadas dois modeios diferentes que organizam os aspectos que precisam ser trabalhados em terapia, a sintomatologia
as sessões, a estrutura que caracteriza a primeira sessão e a estrutura dos apresentada pelo paciente e o conhecimento sobre o modelo cognitivo
demais atendimentos. faz com que o mesmo compreenda os processas cognitivos que estão en-
volvidos em seu funcionamento, fazendo com que saiba o que esperar do
processo terapéutico.
Estrutura da primeira consulta Perém, a estrutura da primeira sessdo não poderd ser aplicada da ma-
neira como foi descritam se o terapeuta identificar uma tendéncia suicida
O primeiro atendimento tem por objetivo realizar uma avaliação al nesse primeiro contato com o paciente. Desse. modo, se o paciente apre-
do paciente. Para atingir essa finalidade, é necessário coletar informações sentar na primeira sessão ou em outras sessdes ideação suicida, as metas,
específicas sobre o indivíduo, tais como história de vida, sinais e sintomas bem como a estrutura da sessão devem ser modificadas. Portanto, faz-se
apresentados, demanda atual, uso de medicação, diagnóstico prévio. O fun- necessario que a tendéncia suicida seja avaliada para verificar de que ma-
cionamento atual do paciente também é investigado para a obtenção de da- neira o terapeuta conduzird a sessdo e quais providéncias precisam ser

340 341
CAPÍTULO 6 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)

tomadas. Essa avaliação demanda a investigação dos fatores que promo- ocupa um lugar importante na terapia, € revisada em cada sessao, de forma
vem a desesperança do paciente, em que medida a falta de esperança que o paciente compreenda que o trabalho terapéutico ndo acontece somen-
repercute em seu funcionamento colocando a sua vida em risco. te durante as sessdes, mas entre as sessões, obtendo melhora significativa.
Após as etapas contempladas na estrutura da primeira sessão, o tera- Na TCC, é importante que o paciente acesse conteúdos anteriores,
peuta e paciente já dispõem de elementos para que a terapia seja conti- aspectos que foram discutidos durante as sessões e relacione com o re-
nuada de forma a atender as metas terapéuticas. A partir desse momento, sumo do que foi trabalhado na sessao atual. Essa associação de informa-
as sessões seguintes se desvelam a partir de uma estrutura que favoreca o ções permite que o conhecimento em relagéo aos préprios processos seja
alcance dos objetivos previstos. consolidado de maneira satisfatéria. É importante, também, que ao final
da sessdo, o paciente relate como foi a sessão para o terapeuta, como se
sentiu, quais pontos foram importantes e quais aspectos não foram con-
Estrutura das demais consultas templados. O mecanismo de feedback faz com as estratégias e ferramen-
tas utilizadas durante as sessões possam ser reavatiadas pelo terapeuta
A estrutura das sessdes seguintes é diferente do proposto para a pri- delineando a maneira como as préximas sessdes podem ser conduzidas.
meira sessão, pois essa nova configuragdo incorpora informagdes obtidas Os elementos descritos anteriormente que compdem a estrutura das
anteriormente e são intimamente relacionadas as metas terapéuticas. Ju- sessões contribuem para tornar a terapia focada em objetivos especificos,
dith Beck propôs que essas sessdes fossem compostas por um roteiro que otimizando o uso do tempo para a obtenção de resultados eficazes. A es-
contemple breve atualizagao do humor, da medicação e da semana, rela- trutura das sessões promove seguranga para os terapeutas, principalmen-
ção com a sessao anterior, estabelecimento do roteiro, revisao da tarefa de te para os iniciantes que podem apresentar dificuldade em como a sessão
casa, discussão de tópicos do roteiro, definição da proxima tarefa de casa serd realizada, e para o paciente que se sente confortavel em saber o que
e resumos periddicos, resumo final e feedback®. acontecera em cada sessao.
No primeiro momento, a checagem do humor e uso da medicação são
avaliados concomitantemente com os acontecimentos da semana, para ve-
rificar a congruéncia entre ambos. Em seguida, é realizada uma comparagao ATCC NOS TRAMSTORNOS MENTAIS
desses dados com as informagdes obtidas na semana anterior, de forma a ve-
rificara evolugao do quadro clinico do paciente. As questões que foram traba- ATCC é uma proposta de tratamento que inclui uma abordagem es-
Ihadas na sessão anterior também são retomadas a fim de preparar o pacien- truturada com a utilizagao de ferramentas e protocolos especificos. Essa
te para a sessão atual e entrar em contato com o conteúdo a ser trabalhado. condigdo contribuiu para que fossem desenvolvidos diversos estudos
O estabelecimento do roteiro com os temas a serem trabalhados du- cientificos controlados com o objetivo de verificar os efeitos da terapia
rante a sessdo, em geral, é uma tarefa realizada, nas primeiras sessoes, nos sintomas que eram apresentados pelos pacientes com diversos tipos
pelo terapeuta. Porém, é importante que o paciente seja encorajado a as- de transtornos mentais. Nesses estudos, os pacientes eram avaliados em
sumir essa atividade gradualmente, de maneira que ele se responsabilize, sua sintomatologia e condição psiquica antes e apds o tratamento para
cada vez mais, pelo percurso do préprio processo terapéutico. O desen- verificar a eficácia terapéutica.
volvimento da autonomia e conhecimento do paciente em relagéo ao seu O trabalho de revisao sistematica e metanalise desenvolvido por Hol-
proprio processo se coaduna com o objetivo final da TCC, que é tornar o fmann e colaboradores' avaliou outros 106 estudos de metanalise para
paciente o seu proprio terapeuta. verificar a eficicia da TCC nos diversos tipos de transtornos. A anélise dos
A tarefa de casa é uma ferramenta utilizada pela TCC para aprimorar as estudos demonstrou que a TCC é eficaz em uma ampla variação de trans-
habilidades trabalhadas em contextos clinicos pelo paciente e possibilite a tornos psiquiatricos como, por exemplo, em depressao, distimia, transtor-
generalizagdo de ganhos obtidos para diversos contextos. Dessa maneira, ela no bipolar, transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, transtorno

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CAPÍTULO 6 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)

somatoforme, esquizofrenia e outras psicoses, além de-outros problemas Em pacientes deprimidos, a falha no processamento da informacao faz
de caráter emocional, como insônia, dor crônica e estresse generalizado, com os eventos sejam percebidos de maneira distorcida, a exemplo da
Este estudo também apontou que a TC possui alta eficácia em diferentes culpa excessiva por acontecimentos negativos. Qutra caracteristica que
faixas etárias, gêneros e culturas. pode ser observada em pacientes com o citado diagnéstico é uma difi-
Em relação à ansiedade e depressão mais especificamente, foi publicado culdade em isolar os eventos negativos, de maneira que eles ganham um
um estudo de metanálise por Cuijpers'” e colaboradores que analisou 144 grande alcance e relevancia, passando a ocupar de maneira significativa a
ensaios clínicos. Nesse trabalho, foi verificada a eficácia da TCC no tratamen- vida do individuo. Adicionalmente, as situações problemiticas são vistas
to do Transtorno Depressivo Maior, do Transtorno de Ansiedade Generaliza- como imutaveis com melhora improvavel''.
da, do Transtorno do Pânico e do Transtorno de Ansiedade Social. Esses re- A falha no processamento da informagéo faz com que os pacientes fre-
sultados demonstram que há evidências científicas que subsidiam a escolha quéntemente apresentem pensamentos distorcidos sobre a sua vivéncia
da TCC enquanto tratamento eficaz para sintomas de ansiedade e depressão, no mundo. Considerando que a cognigao influencia a emogao e compor-
tamento, pensamentos distorcidos em pacientes deprimidos poderiam
promover emoções como a tristeza e comportamento de esquiva. Porém
ATCC na Depressão e a triade cognitiva essa não é uma via de mao dnica, o modo como agimos também inter-
fere nas cognigbes e emoções, tornando o sistema cognitivo ainda mais
De acordo com o DSM-V'8, o Transtorno Depressivo Maior (TDM) reúne. complexo. Dessa maneira, o funcionamento do individuo passa a operar a
um conjunto de sinais e sintomas específicos apresentados pelo indivíduo partir de uma lógica oriunda de um processamento falho, que pode trazer
em um determinado período de tempo. Segundo o citado manual diag- consequéncias como desesperanca e ideagdes suicidas'".
nóstico, cinco ou mais dos seguintes sintomas dever estar presentes por Assim, quando o paciente inicia o tratamento, o funcionamento do
pelo menos duas semanas, sac eles: humor deprimido, acentuada dimi- mesmo é avaliado por meio da triade e conceitualizacao cognitiva. Am-
nuição do interesse ou prazer em atividades, perda ou ganho significativo bas são recursos fundamentais para o delineamento do plano terapéuti-
de peso sem estar fazendo dieta, insénia ou hipersonia, agitação ou retar- co, 0s aspectos que serdo trabalhados durante a terapia. A identificação
do psicomotor, fadiga ou perda de energia, sentimentos de inutitidade, ou dos pensamentos disfuncionais vinculados a determinadas emoções e
culpa excessiva ou inapropriada, capacidade diminuida para pensar ou se comportamentos é um processo necessario para mudar a maneira como
concentrar ou indecisdo, pensamentos recorrentes de morte. Esses sinto- o individuo lida com ele mesmo e com o mundo, Esse modo de funcionar
mas sdo apresentados todos os dias ou quase todos ou dias e pelo menos geralmente está associado a uma crenga que o paciente possui e que es-
um deles é humor deprimido ou perda de interesse ou prazer. trutura o processamento da informação. A partir da compreensao desses
Além dos sintomas acima os individuos com Transtorno Depressivo aspectos, o terapeuta pode utilizar técnicas especificas visando diminuir
Maior apresentam um funcionamento cognitive especifico que envolve a sintomatologia apresentada, bem como o sofrimento apresentado pelo
a percepgao de si mesmo, do mundo e do futuro. Esses elementos com- paciente. A avaliação sintomatoldgica pode ser realizada por instrumen-
pdem a triade cognitiva da TCC, a partir deles é possivel compreender o tos que contribuem no mapeamento de sintomas durante o tratamente.
funcionamento do paciente, as relagdes que estabelece com o mundo Considerando o conteúdo exposto acima, de acordo com Leahy”, a
e as expectativas sobre o futuro. Os pacientes com depressao, em geral, TCC aplicada em pacientes com TDM reúne estratégias que se agrupam
apresentam uma visão negativa de si mesmos, do mundo e do futuro, nao em trés aspectos: a) énfase em esquemas relacionados à depressao, b)
favorecendo a remissão sintomatoldgica apresentada no transtorno. O in- foco na relagao que a pessoa estabelece com os outros e ¢) mudanga de
dividuo frequentemente se vé como inapto ou inadequado, repercutindo comportamentos para enfrentar a situagao-problema. Esse trabalho en-
nas relações interpessoais e desesperanga em relação ao futuro'. volve a participação ativa do terapeuta e paciente, de forma que o indivi-
duo seja agente do seu processo terapéutico.

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TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)
CAPÍTULO 6

Para avaliar a eficácia da TCC e conseguir acompanhar de maneira sis- adaptativo, aumentando a possibilidade de ocorréncia de comportamen-
temática a evolução do tratamento, alguns instrumentos foram criados. O tos evitativos em diversos contextos.
Além do trabatho cognitivo que envolve a reestruturagdo de pensa-
Beck Depression Inventory (BDI), por exemplo, foi desenvolvido por Aaron
Beck, sendo traduzido e adaptado para o português brasileiro por Cunha?, mentos disfuncionais, mudangas de emoções e comportamentos, a TCC
inclui os sintomas fisicos como alvos da terapia. Para sintomas dessa na-
Este instrumento é constituido por 21 itens que avaliam a gravidade dos
sintomas depressivos por meio de uma escala de 4 pontos”. tureza, os pacientes aprendem técnicas de relaxamento, respiracao e são
O uso de inventdrios como o BDI possibilita a mensuracao dos sin- encorajados a enfrentar a situação que promove o desconforto. A psico-
tomas apresentados pelo individuo em um determinado momento por educação sobre o transtorno, a compreensao do ciclo da ansiedade e a
meio de escores, conferindo um dado objetivo a avaliação dos sintomas, aquisição de ferramentas para lidar com o problema permitem que o pa-
Além disso, esse recurso permite o acompanhamento da evolugao sinto- ciente compreenda a importancia do enfrentamento de situações temi-
matolégica durante todo o processo terapéutico, favorecendo, portanto, das, e gradualmente se encorajem assumindo a posição de protagonistas
o manejo da terapia. em seu préprio processo.
A TCC tem por finalidade ajudar os pacientes no desenvolvimento de
estratégias para os mesmos lidarem de maneira assertiva com a ansieda-
A TCC nos Transtornos de Ansiedade de, contribuinda para o controle ou remissão dos sintomas’. Para atingir
essa finalidade, instrumentos podem ser utilizados para mapeamento e
Segundo o DSM-V'® os Transtornos de Ansiedade (TA) se caracterizam avaliagdo sintomatoldgica. Essas ferramentas contribuem para identificar
por medo e ansiedade excessivos. O medo pode ser compreendido en- os sintomas mais frequentes e fazer uma avaliação global do paciente du-
quanto uma ameaca real ou percebida e a ansiedade está relacionada a rante a terapia. Dessa maneira, paciente e terapeuta acompanham a pre-
um processo antecipatério de ameaga futura. Mais especificamente, nesse senca dos sintomas e os recursos terapéuticos podem ser alocados para
grupo de transtornos são identificados Transtorno de Ansiedade de Sepa- aumentar a eficécia terapéutica.
ração, Mutismo Seletivo, Fobia Especifica, Transtorno de Ansiedade Social, Um dos instrumentos mais utilizados para mapear e quantificar os sinto-
Transtorno de Panico, Agorafobia, Transtorno de Ansiedade Generalizada, mas de ansiedade é o Beck Anxiety inventory (BAI). O BAI é um inventario de-
Transtorno de Ansiedade Devido a Outra Condição Médica, Outro Transtor- senvolvido por Aron Beck, traduzido e adaptado para o portugués brasileiro
no de Ansiedade Especificado e Transtorno de Ansiedade Nao Especificado. por Cunha?' para identificar a presenga de sintomas de ansiedade por meio
As condições que envolvem medo e/ou ansiedade nos TA precisam ser de 21 itens que analisem a presenga de sintomas fisicos e emocionais®. A
identificadas, de que maneira esses dois aspectos se vinculam aos pensa- avaliacdo e o acompanhamento da sintomatologia apresentada podem ser
mentos automaticos, emoções e comportamentos. O individuo com TA utilizados como medida para acompanhar os avangos do paciente.
tem o seu funcionamento cognitivo prejudicado por uma falha no pro-
cessamento da informacao que se relaciona com o medo e/ou excesso de
ansiedade, podendo trazer prejuizos significativos para a vida do indivi- A TCC e os demais transtornos mentais
duo. Essa condigdo, em muitos casos, promove sensagao de extrema vul-
nerabilidade ao individuo que pode gerar um estado excessivo de alerta e ATCC dispõe de recursos terapéuticos variados e protocolos de trata-
excitabilidade persistente relacionada ao excesso de tensao’. mento especificos para os mais diversos transtornos mentais. Como abor-
Além de falhas no processamento cognitivo, a ansiedade frequente- dagem terapéutica baseada em evidéncias, protocolos utilizados no tra-
mente é associada a sintomas fisicos, como tremores, taquicardia, sudo- tamento a partir dessa abordagem foram testados por meio de estudos
rese, sensacdo de falta de ar, calafrios, dentre outras'. Esses sintomas pro- controlados, com o objetivo de verificar a eficacia do tratamento de ampla
vocam desconforto para o paciente, fortalecendo um ciclo funcional não gama de quadro psicopatolégicos.

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TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC)
CAPÍTULO &

Além de protocolos de tratamento para a depressão e ansiedade, o tra- ATCC NA PRATICA CLÍNICA
tamento de outras psicopatologias tem sido mencionado pela literatura
com reportada eficácia, como visto anteriormente em estudos de meta- ATCC supde de que o funcionamento psiquico se estrutura a partir dare-
nalise e revisão sistematica’®". Até mesmo nos Transtornos de Personali- lação entre pensamento, emoção e comportamento cuja base é uma crenca
dade (TP), cujo padrão crônico e rígido de funcionamento desadaptativo estruturante. De acordo com a citada proposta, o funcionamento cognitivo
torna o tratamento desafiador, a TCC tem se consolidado como um trata- do paciente é compreendido mediante a interagao entre os componentes
mento eficaz. Devido às especificidades desses transtornos, a ênfase do do modelo cognitivo que ira direcionar as intervencbes terapéuticas.
trabalho terapêutico para essa categoria psicopatológica frequentemente inicialmente, as metas sdo estabelecidas com o paciente, de maneira
se vincula à modificação de esquemas de funcionamento que interferem objetiva, para que possam ser revisitadas ao longo do tratamento. Ainda
de maneira significativa na vida do indivíduo. nessa fase, a psicoeducação em relagdo ao modelo cognitivo é realizada
Para além do diagnóstico do paciente e do protocolo sugerido, a com- para favorecer a compreensao dos componentes do citado modelo e as
preensão do funcionamento cognitivo do mesmo, a visão de si, do mun- peculiaridades de seu funcionamento. A conceitualizagdo cognitiva é uma
do, expectativas sobre o futuro, a maneira como estabelece as relações, o ferramenta que materializa o funcionamento cognitivo do individuo, sen-
processo adaptativo do mesmo e o nível de sofrimento apresentado serão do de fundamental import&ncia ndo apenas para o terapeuta, mas para o
guias importantes para a estruturação de objetivos terapéuticos e técni- entendimento do paciente sobre o seu proprio modo de funcionar.
cas que serao utilizadas. Em geral, os pensamentos automaticos sao os primeiros a serem in-
Os pontos mencionados anteriormente e a conceitualizagdo individual vestigados. Eles comp&em o primeiro nivel de investigacdo e intervencao
do caso permitiréo que o individuo seja tratado mediante uma proposta devido à acessibilidade cognitiva, ao contrario das crencas, cuja estrutura
de intervencéo baseada em evidéncias cientificas, considerando as singu- rigida não permite essa avaliação inicial. Os pensamentos não são genui-
laridades presentes em cada pessoa, independentemente de ter um diag- namente verdadeiros e, por esse motivo, não considerados verdadeiros ou
nostico prévio. Avaliando as particularidades do individuo e o seu fun- falsos a priori. O terapeuta irá auxiliar o individuo na busca de evidencias
cionamento, é possivel realizar o ajuste entre protocolo e especificidades se os pensamentos sao distorcidos ou não.
individuais, ou seja, a fazer a “customizagdo do tratamento”. Customizar o A técnica de reestruturagdo cognitiva, frequentemente utilizada na
tratamento seria adaptar, de maneira responsavel, o protocolo de trata- TCC, tem inicio com o trabalho que se desvela no primeiro nivel, o dos
mento original proposto para cada transtorno com as particularidades de pensamentos automaticos, segue para as crengas intermedidrias ou cren-
cada caso clinico. Esses ajustes podem promover um maior engajamento cas-regras e por fim nas crencas centrais. Estas Gltimas sao construidas a
do paciente a terapia e, por conseguinte, otimizar a eficacia terapéutica. partir de experiéncias vivenciadas pelo individuo ao longo da vida, fazen-
Algumas ferramentas para o mapeamento de sintomas em outros do com que pensem, sintam e ajam de determinada maneira diante das
transtornos também podem ser utilizadas. Os inventarios para avaliar de- situagdes. Devido à estrutura rigida que a compde, a sua modificagéo ou o
pressão e ansiedade auxiliam no mapeamento e mensuração desses sin- seu enfraquecimento supbe que pensamentos e as crengas intermediarias
tomas em diversos transtornos, contribuindo não apenas para o manejo tenham sido previamente trabalhados.
terapéutico, mas como recurso que auxilia o préprio paciente no monito- ATCC enquanto abordagem terapéutica requer uma relacao colabora-
ramento da sintomatologia apresentada. Dessa maneira, terapeuta e pa- tiva entre terapeuta e paciente. Nessa relação, o paciente também é ativo
ciente seguem desenvolvendo um trabalho colaborativo de acordo com no processo, compreendendo o proprio funcionamento, desenvolvendo
os objetivos e metas definidos no inicio do tratamento. estratégias para lidar com os problemas, pensando em alterativas junto
com o terapeuta. Como recurso avaliativo do que foi trabalhado em cada
sessdo, o paciente é encorajado a dar um feedback ao terapeuta no final

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CAPÍTULO 6 QUESTOES COMENTADAS —
{SEDS-T0Q, Analista Socioeducador - FUNCAB - 2014}
de cada sessão. À partir da avaliação do paciente, novas estratégias po-
Aterapia cognitiva baseia-se na hipótese de que as cren-
dem ser pensadas para trabalhar assuntos específicos.
cas influenciam:
Por fim, a TCC tem por objetivo maior prover o paciente com as infor-
mações sobre os seus processos cognitivos, desenvolver os recursos ne-
cessários para favorecer os processos adaptativos e diminuir o sofrimento.
@ nas relagdes entre os contetidos inconscientes e seus respectivos sin-
Para tanto, é esperado que ao final do trabalho terapêutico, o paciente
tomas.
tenha adquirido autoconhecimento e as ferramentas para que ele possa
& na moralidade determinante dos processos sociais.
ser seu proprio terapeuta.
(O na visdo de uma situacdo, no pensamento e no comportamento do in-
dividuo.
(@ no desenvolvimento biolégico dos bebés.

Respostas: '
Alternativa A: INCORRETA. A TC não tem como base de que as cren-
ças influenciam os contetdos inconscientes.
Alternativa B: INCORRETA. As crengas não estao relacionadas & mora-
lidade.
Alternativa C; CORRETA. As crengas influenciam na maneira como o
individuo compreende uma determinada situagéo, nos pensamentos e
comportamentos.
Alternativa D: INCORRETA. As crengas não influenciam o desenvolvi-
mento biolégico do bebé.

(Tribunal Regional do Trabalho 32 Regido (MG), Anaiista


/ Psicolegia - FCC - 2015) A terapia cognitivo-comporta-
mental é uma intervencao semiestruturada, objetiva, orien-
tada para metas e prioritariamente voltada para:

& o presente e o futuro, sendo que, no tratamento dos transtornos ali-


mentares, ela aborda fatores cognitivos, emocionais, comportamentais e
interpessoais.
() o passado e na necessidade de se reviver todos os traumas, sendo que,
no tratamento dos transtornos de humor, ela aborda fatores de depen-
déncia afetivo emocional, laboral, social e transpessoal.
(O o passado e experiéncias marcantes, sendo que, no tratamento dos
transtornos de ansiedade, ela aborda fatores ambientais, atitudinais, me-

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