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A Lei Do Sacrifício

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A Lei do Sacrifício

“Nem todas as tendências dentro de nós são boas, de forma a poderem levar-nos a
excessos. As três tendências básicas dentro de nós dizem respeito ao espírito, ao corpo e às
coisas. O instinto que pede aumento de conhecimentos pode transformar-se em orgulho e
a liberdade em licença. O instinto da carne e da propagação pode transformar-se em
sensualidade invulgar. O instinto, ávido de posse, pode vir a ser avareza e exagero de gula.
Se deixarmos à solta estes ímpetos, sem disciplina, serão como o potro por treinar ou cão
que não foi habituado à casa.

Há ainda outra razão para disciplina: é que existe em nós uma dupla lei de gravidade: uma,
a lei espiritual impele-nos para Deus, nosso Criador; a outra, resultado da herança do
pecado, é a lei que nos empurra para baixo, para a Matéria. Todas as pessoas se
transformam, de acordo com o que amam. Se a criatura ama o espírito, espiritualiza-se. Se
ama a carne, materializa-se. As duas leis da gravitação podem ser comparadas a uma
encosta. Se o homem sobe por meio do seu esforço e autodomínio, obedece à primeira lei.
A segunda é o precipício, onde se cai fatalmente sem energias defensivas.

No egoísmo, o ego é centro de tensão, preocupação e satisfação, enquanto que aos outros
se oferece a circunferência. De forma a podermos desenraizar o eu, e colocá-lo na
circunferência, de forma a levar-mos uma vida consagrada toda ao sacrifício, os outros têm
de ser localizados no centro. Para isto, porém, é necessário domesticar os impulsos
errantes, matar em nós toda a tendência para o que é baixo, por vezes disciplinar até as
mais legítimas satisfações. A vida pode então atingir um ponto em que, em vez de serem os
outros o centro, é Deus que começa a sê-lo. Nesta altura, o ser humano começa a ser
utilizado pelo Omnipotente como instrumento Seu. Assim como um lápis escreve seja o
que for que a pessoa dita, assim a pessoa inteiramente consagrada a Deus é instrumento do

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poder divino. Se o lápis se voltasse contra a mão que o segura, a sua eficácia correria
perigo. As obras máximas na terra são executadas por aqueles que totalmente se entregam à
vontade de Deus, em sacrifício absoluto, de forma que nos seus pensamentos, palavras e
acções só o poder divino se manifesta.

O desejo de erguer-se a alguma coisa de superior acaba por dar a morte a tudo que é
inferior. Se as cordas de um violino pudessem ser conscientes, no momento em que o
violinista as repuxa, gritariam de dor e agonia em protesto vibrante. Então o violinista teria
de lhes assegurar que só submetendo-se a esta disciplina momentânea poderiam executar as
mais belas melodias escondidas dentro delas. Se a um bloco de mármore fosse concedida
consciência, gritaria de angústia ao ver aproximar-se o escultor com martelo e cinzel.
Escondida dentro de cada bloco de mármore existe uma imagem, mas, precisamente como
é impossível fazer surgir essa imagem sem retalhar, matar e sacrificar, assim é impossível
ver aparecer a Divina Imagem, oculta em cada um de nós, sem ser à custa de cortes e
mortificações. Tal como uma árvore dá melhor fruto depois de podada, assim a criatura
produz mais e melhor se nela vier esculpir-se a cruz. O solo no outono e no inverno fica
coberto de folhas podres, hastes e raízes, mas tudo isto produz o que é conhecido como
húmus, ou antes matéria que vivifica a terra.Graças a esta morte, salpicando o chão, novas
folhas, novas raízes, novas hastes surgem, cada vez em maior abundância. Como Francisco
Thompson disse:

‘Nada começa e nada acaba


Sem seu preço de sofrimento.
Todos nós nascemos da dor alheia,
E morremos na angústia só nossa. ’

Muita gente vive abaixo do normal; se soubessem, se fossem assaz fortes para viver
segundo a lei do sacrifício, começariam a exercer um autodomínio e, tornando-se senhores,
capitães do próprio destino, achariam aquela paz que ultrapassa todo entendimento.

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Referência Bibliográfica:

SHEEN, Fulton. A Vida Faz Pensar. Trad.: Maria Henriques Osswald. Porto: Editora
Educação Nacional, 1956. 280 pg.

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37 regras de conversação para cavalheiros de 1875

1. Ainda que convencido de que seu oponente está errado, renda-se graciosamente, evite
seguir com a discussão, ou deliberadamente mude de assunto, mas não defenda
obstinadamente sua opinião até ficar irritado… Há muitos que, expressando opinião como
se fossem leis, defendem posições com frases do tipo “Se eu fosse presidente, ou
governador, iria…”, — e embora pelo calor do argumento só comprovem que são
incapazes de governar o próprio temperamento, seguirão tentando persuadi-lo de que são
perfeitamente competentes para liderar a nação.

2. Mantenha, se puder, uma opinião política fixa. Não a exponha em todas as ocasiões e,
acima de tudo, não se proponha a forçar os outros a concordar com você. Ouça
calmamente as ideias deles e, se não puder concordar, discorde polidamente e consiga que
seu oponente, porquanto considere suas opiniões erradas, se veja obrigado a reconhecer
que você é um cavalheiro.

3. Nunca interrompa ninguém; é rude apontar uma data ou um nome que a pessoa esteja
hesitando em dizer, a não ser que te peçam para fazer isso. Outro erro crasso de etiqueta é
antecipar algum ponto da história que a pessoa está contando, ou terminar a frase para
roubar o final para si. Algumas pessoas justificam isso dizendo que o orador estava
estragando uma boa história, mas isso não justifica. É muito grosseria deixar um homem
entender que você não o considera apto a terminar uma anedota que ele começou.

4. É falta de educação se mostrar cansado durante o discurso de outra pessoa, e é muita


grosseria olhar para o relógio, ler uma carta, folhear um livro, ou qualquer outra ação que
mostre que você está entediado com o orador ou com o assunto.

5. Nunca fale quando outra pessoa está falando, e nunca eleve a voz para cobrir a dos
outros. Não fale de maneira ditatorial e faça com que sua conversa seja sempre amável e
franca, livre de afetações.

6. Nunca, a não ser que peçam, fale dos seus negócios ou profissão em público. Confinar a
conversa apenas à sua própria especialidade é vulgar. Faça o assunto se adequar à
companhia. Conversas leves e alegres são, de vez em quando, tão desnecessárias quanto
sermões numa festa, então deixe que o assunto seja grave ou feliz de acordo com o tempo
e lugar.

7. Numa briga, se você não tem como reconciliar as partes, se abstenha. Você certamente
faria um inimigo, talvez dois, ao tomar um lado numa discussão onde ambos os lados já
perderam a calma.

8. Nunca chame a atenção apenas para si. É rude entrar numa conversa com um grupo e

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tentar tirar algum dos participantes dele para um diálogo.

9. Um homem inteligente é geralmente modesto. Ele pode sentir que é intelectualmente


superior em sociedade, mas não procura fazer os outros se sentirem inferiores, nem
mostrar sua vantagem em relação a eles. Ele discutirá com simplicidade os tópicos
propostos pelos outros, e evitará aqueles que os outros não consigam discutir. Tudo que
ele diz é marcado pela polidez e deferência aos sentimentos e opiniões dos outros.

10. Escutar com interesse e atenção é uma conquista tão válida quanto falar bem. Ser bom
ouvinte é indispensável para ser um bom orador, e é no papel de ouvinte que você você
consegue detectar mais facilmente se um homem é educado para a vida social.

11. Nunca escute a conversa de duas pessoas que se afastaram de um grupo. Se elas estão
tão próximas que não há como evitar ouvi-las, você pode, apropriadamente, mudar de
lugar.

12. Faça que sua parte da conversa seja tão modesta e breve quanto consistente com o
assunto em debate, e evite longos discursos e histórias tediosas. Se, no entanto, outra
pessoa, particularmente mais velha, conta um caso mais longo, escute respeitosamente até
que ela termine, antes de falar novamente.

13. Fale pouco de si. Seus amigos conhecerão suas virtudes sem forçá-lo a nomeá-las, e
você pode estar certo de que é igualmente desnecessário expor você mesmo seus defeitos.

14. Se você aceita a lisonja, deve também aceitar quando inferem que você é bobo e
convencido.

15. Ao falar de seus amigos, não compare uns aos outros. Fale dos méritos de cada
indivíduo, mas não tente aumentar as virtudes de um ao contrastá-las com os vícios de um
outro.

16. Evite, numa conversa, todo assunto que possa ferir alguém ausente. Um cavalheiro
nunca calunia ou dá ouvidos à calúnia.

17. O homem mais sagaz se torna chato e mal educado quando pretende atrair toda a
atenção de um grupo no qual deveria interpretar um papel mais modesto.

18. Evite frases feitas, e faça citações raramente. Elas às vezes temperam uma conversa,
mas quando se tornam hábito constante, são extremamente tediosas e de mau gosto.

19. Não seja pedante; é uma marca, não de inteligência, mas de estupidez.

20. Fale sua língua corretamente; ao mesmo tempo não seja maníaco em relação à
formalidade e correção das frases.

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21. Nunca repare se outros cometem erros de linguagem. Pontuar isso verbalmente ou por
olhar, naqueles ao seu redor, é falta de educação.

22. Se o assunto é de trabalho ou científico, evite o uso de termos técnicos. São de mau
gosto, porque muitos não entenderiam. Entretanto, se você os usa inconscientemente
numa frase, não cometa o erro maior de explicar o significado. Ninguém o agradecerá por
destacar-lhes a ignorância.

23. Ao conversar com um estrangeiro que não fale Inglês corretamente, escute com
atenção, mas não sugira uma palavra ou frase se ele hesitar. Acima de tudo, não demonstre
por ação ou palavra se está impaciente com as pausas e erros do orador. Se você entender a
língua dele, avise isso assim que se falarem; não é uma exibição do seu conhecimento, mas
uma gentileza, já que um estrangeiro ficará feliz em falar e ouvir a língua materna num país
estranho.

24. Tenha cuidado, em sociedade, para nunca se colocar no papel de bufão, ou logo você
será conhecido como o “engraçado” da turma, e nada é mais perigoso para a dignidade de
um cavalheiro. Você se expõe à censura e ao ridículo, e pode estar certo que, para cada
pessoa que ri com você, duas riem de você, e para cada um que o admira, dois assistem a
tudo com reprovação.

25. Evite se gabar. Falar de dinheiro, boas relações ou do luxo à sua disposição é de mau
gosto. É indelicado falar da sua intimidade com pessoas importantes. Se os nomes deles
ocorrerem naturalmente no curso da conversa, tudo bem; mas ficar constantemente
citando, “meu amigo, o Governador,” ou “meu amigo íntimo, o Presidente,” é pomposo e
de mau gosto.

26. Quando se recusar a fazer piadas, não demonstre desprezo pela alegria alheia. É mal
educado propor assuntos graves quando uma conversa prazerosa está ocorrendo. Junte-se à
diversão e esqueça seus problemas mais graves, e você será mais popular do que se tentar
converter a alegria inocente em discussão grave.

27. Quando em sociedade com acadêmicos, não os questione sobre seus trabalhos. Mostrar
admiração por um autor é de mau gosto, mas você pode ser gracioso se, com um citação
ou referência, mostrar que é um leitor e que aprecia a obra.

28. É extremamente rude e pedante, numa conversa geral, fazer citações em língua
estrangeira.

29. Usar frases de duplo sentido não é cavalheiresco.

30. Se estiver ficando irritado com a conversa, mude de assunto ou fique em silêncio. Você
pode dizer, num arroubo de paixão, palavras que nunca usaria num momento mais calmo,
e as quais você lamentaria depois de dizer.

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31. “Nunca fale de cordas para um homem cujo pai foi enforcado” é um ditado vulgar, mas
popular. Evite assuntos que possam ferir personalidades e assuntos de família. Evite, se
puder, conhecer os segredos de seus amigos, mas se algum lhe for confidenciado, nunca o
revele a terceiros.

32. Se você é viajado, não fale constantemente disso. Nada é mais cansativo do que um
homem que começa todas as frases com, “Quando estive em Paris,” ou, “Na Itália eu vi…”

33. Quando fizer perguntas sobre pessoas que não conhece num salão, evite usar adjetivos;
ou você pode perguntar à uma mãe, “Quem é a garota feia, esquisita?” e receber como
resposta, “Senhor, aquela é minha filha.”

34. Evite a fofoca; numa mulher é detestável, mas num homem é simplesmente
desprezível.

35. Não ofereça assistência ou conselho à sociedade geral. Ninguém irá agradecê-lo por
isso.

36. Evite a lisonja. Um elogio delicado é permitido numa conversa, mas o excesso é rude,
vulgar, e para pessoas sensíveis, repugnante. Se você lisonjeia seus superiores, eles deixam
de confiar em você, acreditando que você tem algum motivo egoísta; se lisonjeia damas,
elas o desprezam, por pensarem que você não tem outro assunto.

37. Uma dama de bom senso se sentirá mais elogiada se você conversar com ela sobre
assuntos interessantes e instrutivos, ao invés de apenas sobre sua beleza. Neste caso ela
concluirá que você a considera incapaz de discutir assuntos elevados, e você não pode
esperar que ela fique satisfeita em ser considerada uma pessoa boba e vaidosa, que precisa
ser adulada para ficar de bom humor.

Livre tradução de A Gentleman’s Guide to Etiquette, de Cecil B. Hartley

A educação moderna criou adultos que se comportam como bebês

A educação moderna exagerou no culto à autoestima – e produziu adultos que se comportam como crianças.
Como enfrentar esse problema é o tema da reportagem a seguir, publicada na revista Época.

Os alunos do 3º ano de uma das melhores escolas de ensino médio dos Estados Unidos, a
Wellesley High School, em Massachusetts, estavam reunidos numa tarde ensolarada para o
momento mais especial de sua vida escolar: a formatura. Com seus chapéus e becas
coloridos e pais orgulhosos na plateia, todos se preparavam para ouvir o discurso do

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professor de inglês David McCullough Jr. Esperavam, como sempre nessas ocasiões, uma
ode a seus feitos acadêmicos, esportivos e sociais. O que ouviram do professor, porém,
pode ser resumido em quatro palavras: vocês não são especiais. Elas foram repetidas nove
vezes em 13 minutos. “Ao contrário do que seus troféus de futebol e seus boletins
sugerem, vocês não são especiais”, disse McCullough logo no começo. “Adultos ocupados
mimam vocês, os beijam, os confortam, os ensinam, os treinam, os ouvem, os aconselham,
os encorajam, os consolam e os encorajam de novo. (…) Assistimos a todos os seus jogos,
seus recitais, suas feiras de ciências. Sorrimos quando vocês entram na sala e nos deliciamos
a cada tweet seus. Mas não tenham a ideia errada de que vocês são especiais. Porque vocês
não são”.

O que aconteceu nos dias seguintes deixou McCullough atônito. Ao chegar para trabalhar
na segunda-feira, notou que havia o dobro da quantidade de e-mails que costumava receber
em sua caixa de entrada. Paravam na rua para cumprimentá-lo. Seu telefone não parava de
tocar. Dezenas de repórteres de jornais, revistas, TV e rádio queriam entrevistá-lo. Todos
queriam saber mais sobre o professor que teve a coragem de esclarecer que seus alunos não
eram o centro do universo. Sem querer, ele tocara num tema que a sociedade estava louca
para discutir – mas não tinha coragem. Menos de uma semana depois, McCullough fez a
primeira aparição na TV. Teve de explicar que não menosprezava seus jovens alunos, mas
julgava necessário alertá-los. “Em 26 anos ensinando adolescentes, pude ver como eles
crescem cercados por adultos que os tratam como preciosidades”, disse ele à revista Época.
“Mas, para se dar bem daqui para a frente, eles precisam saber que agora estão todos na
mesma linha, que nenhum é mais importante que o outro”.

A reação ao discurso do professor McCullough pode parecer apenas mais um desses


fenômenos de histeria americanos. Mas a verdade é que ele tocou numa questão que
incomoda pais, educadores e empresas no mundo inteiro – a existência de adolescentes e
jovens adultos que têm uma percepção totalmente irrealista de si mesmos e de seus
talentos. Esses jovens cresceram ouvindo de seus pais e professores que tudo o que faziam
era especial e desenvolveram uma autoestima tão exagerada que não conseguem lidar com
as frustrações do mundo real. “Muitos pais modernos expressam amor por seus filhos
tratando-os como se eles fossem da realeza”, afirma Keith Campbell, psicólogo da
Universidade da Geórgia e coautor do livro Narcisism epidemic (Epidemia narcisista), de
2009, sem tradução para o português. “Eles precisam entender que seus filhos são especiais
para eles, não para o resto do mundo”.

Em português, inglês ou chinês, esses filhos incensados desde o berço formam a turma
do “eu me acho”. Porque se acham mesmo. Eles se acham os melhores alunos (se tiram
uma nota ruim, é o professor que não os entende). Eles se acham os mais competentes no
trabalho (se recebem críticas, é porque o chefe tem inveja do frescor de seu talento). Eles
se acham merecedores de constantes elogios e rápido reconhecimento (se não são
promovidos em pouco tempo, a empresa foi injusta em não reconhecer seu valor). Você
conhece alguém assim em seu trabalho ou em sua turma de amigos? Boa parte deles, no
Brasil e no resto do mundo, foi bem-educada, teve acesso aos melhores colégios, fala
outras línguas e, claro, é ligada em tecnologia e competente em seu uso. São bons, é fato.

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Mas se acham mais do que ótimos.

A expectativa exagerada dos jovens foi detectada no livro Generation me (Geração eu),
escrito em 2006 por Jean Twenge, professora de psicologia da Universidade Estadual de
San Diego, nos Estados Unidos. No trabalho seguinte, em parceria com Campbell, ela
vasculhou os arquivos de uma pesquisa anual feita desde os anos 1960 sobre o perfil dos
calouros nas universidades. Descobriu que os alunos dos anos 2000 tinham traços
narcisistas muito mais acentuados que os jovens das 3 décadas anteriores. Em 2006, dois
terços deles pontuaram acima da média obtida entre 1979 e 1985. Um aumento de 30%.
“O narcisismo pode levar ao excesso de confiança e a uma sensação fantasiosa sobre seus
próprios direitos”, diz Campbell. Os maiores especialistas no assunto concordam que a
educação que esses jovens receberam na infância é responsável por seu ego inflado e
hipersensível. E eles sabem disso. Uma pesquisa da revista Time e da rede de TV CNN
mostrou que dois terços dos pais americanos acreditam que mimaram demais sua prole.

Sally Koslow, uma jornalista aposentada, chegou a essa conclusão depois que seu filho,
que passara 4 anos estudando fora de casa e outros dois procurando emprego, voltou a
morar com ela. “Fizemos um superinvestimento em sua educação e acompanhamos cada
passo para garantir que ele tivesse sua independência”, diz ela. “Ao ver meu filho de quase
30 anos andando de cueca pela sala, percebi que deveria tê-lo deixado se virar sozinho”.
Que criação é essa que, mesmo com a garantia da melhor educação e sem falta de atenção
dos pais, produz legiões de narcisistas com dificuldade de adaptação? Os estilos de criação
modernos têm em comum duas características. A primeira é o esforço incansável dos pais
para garantir o sucesso futuro de sua prole – e esse sucesso depende, mais do que nunca,
de entrar numa boa universidade e seguir uma carreira sólida. Nos Estados Unidos, a
tentativa de empacotar as crianças para esse modelo de vida começa desde cedo. Escolas
infantis selecionam bebês de 2 anos por meio de testes. Isso acontece no Brasil também.
No colégio paulista Vértice, um dos mais bem classificados no ranking do Enem, há fila
para uma vaga no jardim da infância.

O segundo pilar da criação moderna está na forma que os pais encontraram para
estimular seus filhos e mantê-los no caminho do sucesso: alimentando sua autoestima. É
uma atitude baseada no “movimento da autoestima”, criado a partir das ideias do
psicoterapeuta canadense Nathaniel Branden, hoje com 82 anos. Em 1969, ele lançou um
livro pregando que a autoestima é uma necessidade humana. Não atendida, ela poderia
levar a depressão, ansiedade e dificuldades de relacionamento. Para Branden, a chave para o
sucesso tanto nas relações pessoais quanto profissionais é nutrir as pessoas com o máximo
possível de autoestima desde crianças. Tal tarefa, diz ele, cabe sobretudo a pais e
professores. Foi uma mudança radical na maneira de olhar para a questão. Até a década de
1970, os pais não se preocupavam em estimular a autoestima das crianças. Temiam mimá-
las. O movimento de Branden chegou ao auge nos Estados Unidos em 1986, quando o
então governador da Califórnia, George Deukmejian, assinou uma lei criando um grupo de
estudos de autoestima. Os pesquisadores deveriam descobrir como as escolas e as famílias
poderiam estimulá-la.

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Os pais reuniram esses dois elementos – o desejo de ver o filho se dar bem na vida e a
ideia de que é preciso estimular a autoestima – e fizeram uma tremenda confusão. Na ânsia
de criar adultos competentes e livres de traumas, passaram a evitar ao máximo criticá-los. O
elogio virou obrigação. Para fazer com que as crianças se sintam bem com elas mesmas,
muitos pais elogiam seus filhos até quando não é necessário. O resultado é que eles
começam a acreditar que são bons em tudo e criam uma imagem triunfante e distorcida de
si mesmos. Como distinguir o elogio bom do ruim? O exemplo mais comum de elogio
errado, dizem os psicólogos, é aquele que premia tarefas banais. Se a criança sabe amarrar o
tênis, não é necessário parabenizá-la por isso todo dia. Se o adolescente sabe que é sua
obrigação diária ajudar a tirar a mesa, diga apenas “obrigado”. Não é preciso exaltar sua
habilidade em dobrar a toalha. Os elogios mais inadequados são feitos quando não há nada
a elogiar. Se o time de futebol do filho perde de goleada – e o desempenho dele ajudou na
derrota –, não adianta dizer: “Você jogou bem, o que atrapalhou foi o gramado ruim”. Isso
não é elogio. É mentira.

Para piorar, um grupo de psicólogos afirma agora que a premissa fundamental do


movimento da autoestima estava errada. “Há poucas e fracas evidências científicas que
mostram que alta autoestima leva ao sucesso escolar ou profissional”, diz Roy Baumeister,
professor de psicologia da Universidade Estadual da Flórida (EUA). Ele é responsável pela
mais extensa e detalhada revisão dos estudos feitos sobre o tema desde a década de 1970.
Descobriu que a autoestima alta é provocada pelo sucesso – não é causa dele. Primeiro vêm
a nota boa e a promoção no trabalho, depois a sensação de se sentir bem – não o contrário.
“Na verdade, a autoestima elevada pode ser muitas vezes contraproducente. Ela produz
indivíduos que exageram seus feitos e realizações”. Outra de suas conclusões é que o elogio
mal aplicado pode ser negativo. “Quando os elogios aos estudantes são gratuitos, tiram o
estímulo para que os alunos trabalhem duro”, afirma.

Com uma visão distorcida de suas qualidades, com dificuldade para lidar com as críticas
e aprender com seus erros, muito jovens narcisistas não conseguem se acertar em nenhuma
carreira. Outros vão parar na terapia. Esses jovens acham que podem muito. Quando
chegam à vida adulta, descobrem que simplesmente não dão conta da própria vida. Ou
sentem uma insatisfação constante por achar que não há mais nada a conquistar. Eles são
estatisticamente mais propensos a desenvolver pânico e depressão. Também são menos
produtivos socialmente. Em terapia desde os 15 anos, Priscila Pazzetto tem hoje 25 e não
hesita em dizer que foi e ainda é mimada. “Uma vez pedi para minha mãe me pôr de
castigo, porque não sabia como era”, afirma. Os pais se referem a ela como “nossa taça de
champanhe”, a caçula de três irmãos que veio brindar a felicidade da família num momento
em que seu pai lutava contra um câncer. “Nasci no Ano-Novo. Quando assistia às chuvas
de fogos na TV, meus pais diziam que aquilo tudo era para mim, para comemorar meu
aniversário”, diz Priscila. Quando cresceu, nada disso a ajudou a terminar o que começava.
Tentou inglês, teatro, tênis, karatê, futebol, jiu-jítsu e natação. Interrompeu até o hipismo,
pelo qual era apaixonada. Estudou em 7 colégios particulares de São Paulo e, com
frequência, seu pai precisou interferir para que ela passasse de ano. Passou em 3
vestibulares, mas não concluiu nenhum curso superior. “Simplesmente não me sinto
motivada a ir até o fim”, afirma. Ainda morando com os pais, Priscila acaba de fazer um

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curso técnico de maquiagem e diz que arrumou emprego na butique de uma amiga. Tenta
começar de novo.

Esses modelos de criação domésticos são chamados pelos psicólogos de “estilo


parental”. Não é uma atitude isolada ou outra. É o clima emocional criado na família graças
ao conjunto de ações dos pais para disciplinar e educar os filhos. Eles começaram a ser
estudados em 1966 pela psicóloga Diana Baumrind, pesquisadora da Universidade da
Califórnia em Berkeley. De acordo com sua observação, ela dividiu os pais em 3 tipos: os
autoritários, os permissivos e aqueles que têm autoridade, os competentes. O melhor
modelo detectado por psicólogos, claro, são os pais competentes. Eles são exigentes –
sabem exercer o papel de pai ao impor limites e regras que os filhos devem respeitar –,
mas, ao mesmo tempo, são flexíveis para escutar as demandas das crianças e ceder, se
julgarem necessário. A criança pode questionar por que não pode brincar antes de fazer o
dever de casa, e eles podem topar que ela faça como queira, contanto que o dever seja feito
em algum momento. Mas jamais admitirão que a criança não cumpra com sua obrigação.
Ao dar limites, podem ajudar o filho a aprender a escolher e a administrar seu tempo. Os
filhos de pais competentes costumam ser muito responsáveis, seguros e maduros. Têm
altos índices de competência psicológica e baixos índices de disfunções sociais e
comportamentais .

Os piores resultados vêm da criação de pais negligentes. Eles não são exigentes, não
impõem limites e nem estão abertos a ouvir as demandas dos filhos. Segundo pesquisas
brasileiras – com amostras pequenas, que não devem ser tomadas como definitivas –, esse é
o estilo parental que predomina no país nos últimos anos. Quando se fala em estilo
negligente de criação, isso não quer dizer que a criança está abandonada e não receba o
suficiente para suprir suas necessidades materiais e de afeto. O problema é mais sutil. Com
medo de parecer repressores, esses pais hesitam em impor limites. “É uma interpretação
errônea dos modelos educacionais propostos a partir da década de 1970. Eles pregavam
que a criança não deveria ser cerceada para que pudesse manifestar todo seu potencial”, diz
Claudete Bonatto Reichert, professora do Departamento de Psicologia da Universidade
Luterana do Brasil. “Provavelmente, a culpa que os pais sentem por trabalhar fora leva a
isso”.

Se parece difícil implantar em sua casa o modelo dos pais com autoridade, ainda há outra
esperança. Nem todos concordam que os pais sejam totalmente responsáveis pela
formação da personalidade dos filhos. A psicóloga britânica Judith Harris, de 74 anos, ficou
famosa por discordar do tamanho da influência dos pais na criação dos filhos. Para ela, se
os filhos lembram em algo os pais, não é graças à educação, mas à genética. “Os pais
assumem que ensinaram a seus filhos comportamentos desejáveis. Na verdade, foram seus
genes”, afirma. O resto, diz Judith, ficará a cargo dos amigos, a quem as crianças se
comparam. É por isso que ela acha inútil tentar dar aos filhos uma criação diferente da
turma do “eu me acho”. “Houve uma mudança enorme na cultura”, afirma. “As crianças
são vistas como infinitamente preciosas. Recebem elogios demais não só em casa, mas em
qualquer lugar aonde vão. O modelo de criação reflete a cultura”.

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QUE É O CARÁTER?

Por Young Churchill

Que é o caráter? E que queremos significar quando dizemos de alguém: ali está um
caráter? A palavra caráter designa a vontade humana fixada no bem; e um moço é um
caráter, se tem nobres princípios e se em nada os sacrifica, ainda quando tal constância lhe
impõe renúncias. Aquele que, ao contrário, muda de princípios conforme as circunstâncias,
a sociedade ou aos amigos, que abandona um modo de agir até aqui reconhecido como
bom, sob o pretexto que ele não lhe deve causar o menor desagrado, esse é versátil e pouco
seguro, tem caráter fraco, ou pior ainda, falta-lhe inteiramente caráter.

Isto basta já para mostrar o que consiste a educação do caráter. Primeiro, cumpre-te
procurar nobres princípios; em seguida, por um exercício contínuo, urge que te acostumes
a agir segundo esses princípios, em todas as circunstâncias. A vida moral dum homem sem
princípios é tão agitada quanto um caniço surpreendido pela borrasca. Ele faz hoje de um
modo e amanhã de outro. A primeira necessidade é adquirir a força de que havemos mister
para seguir, sem tropeços, a senda que tivermos reconhecido como direita.

Repito: A tua primeira tarefa é formar em ti princípios justos. Ora, qual é o princípio justo
no tocante aos estudos, por exemplo? "Devo estudar com aplicação constante, pois Deus
quer que eu cultive os talentos que Ele me deu". - Qual é o princípio justo concernente aos
camaradas? "Devo fazer a eles o que eu quereria que eles me fizessem". E assim por
diante... Cumpre tenhas princípios justos em todas as coisas.

A segunda tarefa é muito mais difícil: seguir esses exatos princípios, isto é, exercitar-se
na senda do caráter.

Um belo caráter não se recebe de presente: fazêmo-lo nós, por um labor sólido e continuo,
trabalhando nisso durante longos anos, dezenas de anos muitas vezes. A influência do
círculo de relações, as inclinações boas ou más recebidas de herança, podem produzir certa
impressão no nosso caráter, mas, afinal de contas, o nosso caráter é obra pessoal nossa, é
resultado do nosso trabalho de educação de nós mesmos. Porquanto, é uma dupla
educação a que recebemos: primeira é-nos dada por nossos pais e pela escola; a segunda - e
é a mais importante - vem-nos dos nossos próprios esforços.

Sabes que é a educação? É a influência da nossa vontade que nos leva pelo bom
caminho, em qualquer situação, sem hesitar, com alegria.

Sabes que é o caráter? É agir em conformidade com os princípios fundamentais; é o


esforço porfiado de nossa alma na realização da nobre concepção que fizemos da vida

Já podes concluir que, nessa educação de si, o difícil não é a formação do justo principio
vital, porém o esforço que se deve fazer dia a dia para se conformar com ele. Isto é o meu
principio, e não o abandonarei: “ser-lhe-ei fiel, custe o que custar". E é preciso dizer que
isso exige, não raro, muitos sacrifícios; e ai está a razão por que se encontram tão poucos
caracteres no mundo.

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" Permanecer sempre fiel a seus princípios", "nunca se divorciar da verdade". - quem é
que não se entusiasmaria por esses belos pensamentos? ... Ah! se não fosse tão difícil
converter esses pensamentos em ações! Se esses belos intentos não se desvanecessem em
nós tão facilmente, sob o influxo contrário da sociedade, dos amigos, da moda... do nosso
próprio "eu" que não gosta de ser continuamente molestado!

Ouve o que, a respeito, diz o poeta:

"Por que agir desalinho,

Ser como um pião a girar?

- Se encontraste o bom caminho,

Procura perseverar." (Reinick)

Eis o que a educação de si mesmo te há de ensinar.

Fonte: “O Moço de Caráter”, de D. Tihamer Toth. Taubaté: Editora SCJ, 1952.

ROTEIRO PARA A MATURIDADE

1. Dedico um tempo diário – pelo menos uns quinze minutos – à reflexão pausada sobre os
acontecimentos da minha vida e as minhas reações perante eles? Transformo essa
meditação num diálogo com Deus, para compreender o sentido que todos as coisas têm?

2. Faço um breve exame de consciência para ir incorporando as lições do dia que está
prestes a acabar? Nesse exame, procuro focar com clareza os erros cometidos, formulando
o propósito expresso e firme de não repeti-los no dia seguinte?

3. Graças a esses meios, vou adquirindo um conhecimento claro, realista e sereno dos
defeitos e limitações do meu caráter? Estabeleço um plano de combate a longo prazo que
me permita superar essas deficiências?

4. Adquiri, pela reflexão e pedindo conselho, uma serena consciência do sentido da minha
vida e da missão que, nas minhas circunstancias, Deus espera que eu realize? Ponho todos
o meios para ordenar a minha vida de acordo com essa missão?

5. Evito com firmeza devaneios sentimentais e imaginativos, bem como os nervosismos, o


atabalhoamento, as correrias destrambelhadas? Reflito sempre antes de agir? Pergunto a
mim mesmo: “Que faria Cristo se estivesse no meu lugar? Que quer Deus de mim nesta
tarefa?”

6. Corto decididamente os ressentimentos, a autopiedade e o vitimismo, quando surgem no


meu íntimo? Esforço-me por perdoar e compreender sempre aqueles que me cercam,
quando me parece ter sido vítima de um descaso ou de uma ofensa?

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7. Luto por manter o meu temperamento dominado, sem “soltar as rédeas” naquilo de que
gosto – comida, formas de lazer, esportes, hobbies...?

8. Corto decididamente as tentações da sensualidade e da preguiça? Evito relacionamentos,


conversas, olhares, leituras e espetáculos que possam perturbar a limpidez dos meus
sentidos ou a fidelidade aos meus compromissos?

9. Cumpro sempre o dever de cada momento, ainda que me custe ou me seja desagradável?
Faço sempre o meu trabalho da melhor maneira que sou capaz, pondo nele todas as
minhas forças intelectuais e físicas?

10. Evito os adiamentos? Empreendo decididamente aquilo que vejo ser o correto? Tenho
este propósito bem claro: “O que me propus, devo cumpri-lo”. Mesmo no que parece
pequeno?

11. Aceito com paciência e alegria as pequenas contrariedades de cada jornada? Evito
firmemente as queixas e lamurias, tendo presente que a imaturidade de uma pessoa pode
muito bem ser medida pelo número das suas queixas? Substituo sempre que posso os
desabafos por sorrisos?

12. Esforço-me por ser objetivo, sem me deixar levar por sentimentalismos baratos ou
perfeccionismos desnecessários? Evito o “chute” e as expectativas sem fundamento?

13. Aceito serenamente, sem azedume nem amargura, as limitações da realidade: a falta de
tempo, os defeitos e limitações dos outros, as oposições que necessariamente haverá em
qualquer coisa que eu empreenda?

14. Empenho todas as energias necessárias para alcançar as metas que me proponho, sem
esmorecer diante dos atrasos e contrariedades? E depois sei esperar serenamente, com a
consciência de que as coisas saem quando Deus quer ou permite que saiam?

15. Medito as consequências que terá as minhas decisões? Peço conselho a quem é capaz
de me ajudar pela sua experiência, conhecimento e sabedoria? Tenho “jogo de cintura”,
sem insistir com teimosia e casmurrice aquilo que me parece importante?

16. Penso habitualmente nos outros, nas suas necessidades e preocupações? Pondero o
melhor modo de ajudá-los? Lembro das efemérides mais importantes da sua vida, dos seus
gostos e interesses, e procuro proporcionar-lhes pequenas alegrias?

17. Cumpro os compromissos que assumir com as outras pessoas, sem exceções, sem
desculpas? Sou esmeradamente fiel à palavra dada?

18. Sei sacrificar-me silenciosamente, com um sorriso e sem ares de mártir, pelo bem dos
outros, nas coisas pequenas e nas grandes? Sei proceder assim sem pedir recompensa de
espécie alguma, um dia após o outro, dando-me por muito bem pago com que Deus o
veja?

19. Compreendo que, pelo batismo, Deus me chamou à santidade, e que é nisso que
consiste a maturidade que Ele e os homens esperam de mim?

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20. As palavras “compromisso”, “sacrifício”, magnanimidade, repelem-me ou me seduzem
e inspiram? Aprendi a concretizá-las em pequenos gestos, passo a passo?

21. Descubro permanentemente algum novo ponto que ainda sou imaturo? Qual é o
defeito dominante do meu caráter? Com que energia o combato e supero? Ou tenho um
“querer sem querer”, como um adolescente?

22. Sou sereno?

23. Tenho constantemente ante os olhos a humanidade de Cristo, pela leitura meditada do
Evangelho? Vejo que Ele é perfeito Deus e homem perfeito, comprometido até o fim com
sua missão de resgate e libertação do ser humano, generoso e amável, paciente e
compreensível, humilde e audaz, transparente e discreto?

24. Busco nos Sacramento da Confissão e da Eucaristia as forças que me faltam para
adquirir virtudes bem amadurecidas e sólidas?

25. Procuro estar sempre atento às inspirações do Espírito Santo, sem me fechar no
narcisismo e no autodeslumbramento? Estou disposto corresponder sempre aos apelos de
Deus, até o fim da vida, tendo presente que Ele deseja conduzir-me ao estado de homem
perfeito, à estatura da maturidade de Cristo (cfr. Ef 4, 13) ?

Fonte: A Maturidade - D. Rafael Llano Cifuentes

A Frivolidade: uma "doença do caráter"

Um homem precisa ter caráter se quiser ser homem realmente. E caráter é ter
personalidade, é lutar pelo que acredita - por Deus, Autor da vida; pela sua vida própria,
pela mulher que ama, e por uma infinidade de coisas que cada um conhece.

Caráter envolve firmeza, é ser viril em suas decisões, é dominar-se a si mesmo - pois este é
o domínio mais difícil de se conseguir, e portanto o mais honrado.

Só assim se pode ser homem - macho! - realmente. Homem que é Homem precisa ser
Homem de caráter. Senão não é Homem. Simples assim!

O caráter deveria ser o sobrenome do Homem: um sinal constante de que ele é o que é, de
que cumpre com a vocação à qual Deus lhe chamou no instante da concepção - a vocação
de ser macho. Ele não só aparenta ser: ele é!

A doença da falta de caráter nos dias atuais é degradante. Uma vergonha para os homens
de nossa geração. Dá-se desculpas para tudo: para não trabalhar, para não ter um
compromisso sério, para sair com mil mulheres e não amar nenhuma delas, para não ir à
Igreja - nunca! -, para tratar os outros com vileza e desonestidade. Todas desculpas de
homens que não são homens realmente - porque não têm caráter.

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Por causa destas desculpas que desviam do caminho São Josemaría Escrivá ensinava:

"Pretextos. - Nunca te faltarão para deixares de cumprir os teus deveres. que fartura de
razões... sem razão! Não pares a considerá-las. - Repele-as e cumpre a tua obrigação"
(Caminho, n.21).

"Desculpa própria do homem frívolo e egoísta: 'Não gosto de comprometer-me com


nada'" (Sulco, n. 539).

A frivolidade é uma enfermidade entre os homens modernos. Este não querer assumir
compromissos, este desrespeitar os que já foram assumidos, este ser mudano, sem domínio
sobre si mesmo... tudo isto é frivolidade. E não há coisa que torne os homens menos
homens e mais bestas do que ela.

São Josemaría advertia contra essa "doença do caráter":

"Não caias nessa doença do caráter que tem por sintomas a falta de firmeza para tudo, a
leviandade no agir e no dizer, o estouvamento..., a frivolidade, numa palavra. Essa
frivolidade, que - não o esqueças - torna os teus planos de cada dia tão vazios ('tão cheios
de vazio'), se não reages a tempo - não amanhã; agora! -, fará da tua vida um boneco de
trapos morto e inútil" (Caminho, n.18).

"Assim, bobeando, com essa frivolidade interior e exterior, com essas vacilações em face da
tentação, com esse querer sem querer, é impossível que avances na vida interior" (Sulco,
n.154).

Um Homem não pode permanecer a "bobear". A frivolidade não merece cultivo. O


Homem, se quiser vencer esta enfermidade do caráter, precisa assumir-se como Homem, e
em conseqüência assumir os compromissos para os quais é chamado: com Deus, com a
Igreja, consigo mesmo, com sua santificação pessoal, com sua família, com seu trabalho e
profissão, com seus estudos, etc.

Somente a vitória da frivolidade poderá abrir caminho à verdadeira virilidade.

"Enquanto não lutares contra a frivolidade, a tua cabeça será semelhante a uma loja de
bricabraque: não conterá senão utopias, sonhos e... trastes velhos" (Sulco, n.535).

E nada de pretextos! Nada de justificar os defeitos dizendo: "Eu sou assim mesmo...", para
não lutar contra a frivolidade própria.

"Não digas: 'Eu sou assim..., são coisas do meu caráter". São coisas da tua falta de caráter.
Sê homem - esto vir" (Caminho, n.4)

"Obstinas-te em ser mundano, frívolo e estouvado porque és covarde. Que é, senão


covardia, esse não quereres enfrentar-te a ti próprio?" (Caminho, n.18).

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