Africanos Minas Nagôs-Juliana Lima
Africanos Minas Nagôs-Juliana Lima
Africanos Minas Nagôs-Juliana Lima
Unificar e A língua é
civilizar a uma
nação construção
Línguas política.
indígenas,
africanas,
europeias.
Língua
Geral Tupi Língua
Portuguesa
(1757)
CITAÇÃO
“O outro esquecimento organizado é aquele que
construiu uma unidade linguística com base no português
como se, desde 1500, essa fosse a única língua falada
pelos brasileiros. Quer dizer, em um passe de mágica, a
simples chegada de Cabral funcionou como a descida do
Espírito Santo em forma de língua de fogo, e todo mundo
começou a falar português, já que se ignorou a existência
das línguas indígenas.”
BESSA-FREIRE, José Ribamar. Nheengatu: a outra língua brasileira. In: CARMO, Laura e LIMA,
Ivana Stolze (Org.). História Social da Língua Nacional. Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui
Barbosa, 2008, p.124-125.
PRINCIPAIS LÍNGUAS AFRICANAS NO BRASIL
CASTRO,Yeda Pessoa de. Falares africanos na Bahia: um vocabulário afro brasileiro. Rio
de Janeiro: Topbooks, 2001.
REGISTROS DE LÍNGUAS AFRICANAS
• A segunda refere-se à língua das pessoas dessa região específica, em que habitavam os
Mono, Fon,Aja, entre outros.
Gbe – Mina
o vocábulo gbe foi cunhado no século XX para designar um complexo dialetal que
apresentam semelhanças entre si, e possibilitam um grau elevado de intercompreensão,
fazem parte do ramo cuá da família nigero-congolesa.
A PRESENÇA DOS OCIDENTAIS NO
SOCIEDADE IMPERIAL
A presença dos africanos ocidentais, não era numericamente preponderante
na sociedade imperial. No entanto, esse fato não foi impedimento para que os
minas galgassem posições de liderança política dos escravizados. De forma
que causavam intensa preocupação entre as autoridades, por serem o reflexo
do “mágico-religioso”, sinônimo de associações escravas por meio da sedução
e a encarnação do perigo da sublevação, sobretudo após as revoltas de 1835.
SOARES, Carlos Eugênio Líbano, A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro,
1808-1850, Campinas: Editora da Unicamp, 2001, p.369.
ÊXODO MINA
Na década de 1830, houve o que Carlos Eugênio Líbano
Soares caracterizou como êxodo mina, motivado sobretudo pela
revolta dos malês. Era notório o movimento senhorial de afastar os
escravizados minas com o intuito de reprimir novas sublevações,
muitos desses africanos foram levados para fora de Salvador, de
maneira que em alguns casos foram, inclusive, reexportados para a
África. Contudo, o destino da maioria foi o Rio de Janeiro.
CITAÇÃO
“Não se tratava apenas de libertos africanos fugindo da repressão, ou
de fugidos embarcando clandestinamente nas rotas costeiras. Escravos
implicados no movimento eram levados pelos senhores para serem
vendidos ‘longe da terra’, e o Rio era onde se conseguiam, talvez, os
melhores preços. Isto sem contar os crioulos da Bahia, que vinham na
esteira da vaga africana e que facilmente se envolviam nos conflitos
intestinos da comunidade negra da cidade”.
SOARES, Carlos Eugênio Líbano, A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro, 1808-
1850, Campinas: Editora da Unicamp, 2001.
OS MINAS NO RIO DE JANEIRO
No Rio de Janeiro, entre 1833 e 1849 os minas compunham cerca de 7% da população escrava. Às
vésperas da interrupção definitiva do tráfico, quando o número de africanos escravizados na Corte
estava bem elevada, cujo contingente perfazia 52.341 pessoas, os minas escravizados que
compunham esse mosaico eram apenas 3.664, e os alforriados 531. Entre 1860 e 1864 registra-se
uma elevação nesses números, nas áreas rurais do Rio estima-se que os minas representassem
19% dos africanos escravizados, e nas regiões urbanas concentravam-se 15%, tal aumento pode ser
reflexo do êxodo mina provocado pelas revoltas, mas também do intenso tráfico interno de
pessoas escravizadas após 1850, quando se deu a abolição do tráfico transatlântico.
REIS, João José; MAMIGONIAN, Beatriz Gallitti. Nagô and Mina: The Yoruba Diaspora in Brazil. In: FALOLA, Toyin;
CHILDS, Matt D. The Yoruba Diaspora in the Atlantic World. Indiana University Press: United States of America, 2005.
SOARES, Carlos Eugênio Líbano, A capoeira escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro, 1808-1850, Campinas:
Editora da Unicamp, 2001.
FALANTES DE LÍNGUA MINA
“Com efeito, ao amanhecer do dia 29 do passado mês foi ela verificada, apresentando-se
uma infinidade de papéis escritos com diferentes tintas e, em caracteres desconhecidos,
alguns livros também manuscritos, e sendo chamados peritos para traduzirem,
interpretarem ou decifrarem tais escritos, declararam que nelas não se continha mais do
que orações em grande parte tiradas do Coram, em árabe espúrio e enxertado de
palavras de línguas Minas e Malês [...] interroguei aos presos e, de suas respostas, vim
no conhecimento de que com efeito suas práticas e associações se referiam a coisas
religiosas.”
IJ6-211, 06/10/1848. Arquivo Nacional. In: SOARES, Carlos Eugênio Líbano, A capoeira
escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro, 1808-1850, Campinas: Editora da
Unicamp, 2001.
FALANTES DE LÍNGUA MINA
Atenção
50$000
Anda fugido desde o dia 1 de maio do corrente o preto
Victoriano, crioulo, idade 40 anos, pouco mais ou menos,
estatura baixa, com falta de dentes na frente, pernas um pouco
arqueadas, fala um tanto atrapalhado, e também fala mina as
vezes, para não ser conhecido, veio do Rio-Bonito, tem a barriga
um pouco grande, trabalha de cavouqueiro, é carreiro, e também
trabalha na lavoura, intitula-se forro e dá o nome trocado,
também costuma fazer chapéus e diz que se quer alugar para
qualquer serviço; quem o levar a rua da Providencia nA, pedreira,
ou a rua dos Ouvires, n.12, ou der notícias certas, receberá a
quantia acima, e desde já protesta-se contra o rigor da lei contra
quem o tiver acoitado. (grifos nossos)
100U000
Continua fugido, a cerca de dois anos o preto Miguel, de nação
Moçambique, é perfeito pintor de liso e oficial de pedreiro, baixo
ombros largos, tem a perna direita arqueada, fala bem, e também
fala mina e costuma intitular-se forro; quem o apreender e levar
a rua do Ouvidor n.60, será gratificado com a quantia acima.
30$000
Fugiu na madrugada de 23 do corrente o escravo Cícero, natural
da província da Bahia, com os sinais seguintes: cor acaboclada,
cabelos quase corridos, cheio de rosto, com princípio de barba,
tem espinhas no rosto, fala Mina às vezes, olhos escuros,
conversa muito bem, tem bons dentes, baixo e cheio de corpo, e
é simpático quando ri; quem o mesmo apreender e levar a seu
senhor Agostinho Correa da Costa, à rua da Rainha n.81
receberá a gratificação acima; protesta-se com todo o rigor da
lei contra quem o acoitar.
50$000
Fugiu a 8 de dezembro da rua do Bom Jardim, n16, a seu senhor,
capitão do porto Campos Cypriano, a escrava Bernarda que só
lhe serviu oito dias; baixa, reforçada, dentes claros, bem falante e
crioula; foi escrava do Breves Sobrinho, 2º Dr. Leal e 3º do
capitão, tem um filho pardo de 6 anos, forro, na casa do Sr. Major
Campinho, rua do Bom Jardim, n.98, foi vista no Rio-Comprido,
estalagem, Campo Grande e rua da Princesa. Paga-se a quem
vela-la ou der notícia na rua do Sabão n294, e protesta-se aonde
ela estiver acoitada em 1$500 diários, ela diz ser forra e chamar-
se Bernardina, fala língua de Mina e foi encontrada em Mata-
porcos, e pede-se a policia sua proteção, para ser presa; é vista
na rua de S. Diogo.
Escravos Fugidos
FUGIU no dia 2 do corrente, da casa n.12 na rua de
Silva Manuel, dirigindo-se para o morro de Santa
Tereza, onde foi achada a roupa que levou vestida,
uma preta que terá 16 a 17 anos mais ou menos,
de nação Mina Nagô, com sinais e fala de nação,
tendo em um dos cotovelos sinais de impigens,
magra e alguma coisa fula; quem a levar a dita casa
ou der notícias receberá a paga do seu trabalho; e
protesta-se contra quem a tiver acoitado.
- DRJ, 06-04-1849, P.4
JÁ TEM FUGIDO MAIS
VEZES...
Do largo da Memória n.85, em Niterói, fugiu na
noite de 16 do corrente, uma preta de nome
Eva, de nação Mina Nagô, terá 26 anos pouco
mais ou menos: levou vestido de chita velho,
uma trouxa de roupa e uns fios de miçangas no
pescoço, sendo um azul e outro encarnado, é
alta, cor muito retinta e tem cara redonda, já
tem fugido mais vezes, e tem sido
agarrada em casa de pretas Minas; quem
apreender e levar ao lugar acima, será bem
gratificado.
- DRJ, 23-06-1849, P.4
FUGAS E FALAS