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ISSN: 2525-8761
RESUMO
O objetivo do trabalho é demonstrar o papel do fonoaudiólogo na amamentação do
prematuro. Justifica-se esta pesquisa, pois o prematuro pode vir a apresentar
interferências no seu desenvolvimento, inclusive em decorrência da sua permanência nas
unidades hospitalares, entre elas, alterações no padrão alimentar. Trata-se de uma
pesquisa de revisão bibliográfica e de natureza qualitativa, utilizando as bases Scopus,
Google acadêmico e Scielo, bem como livros relacionados ao assunto. O prematuro
apresenta uma alteração no subdesenvolvimento do sistema nervoso decorrente de sua
imaturidade neurológica, e em consequência disso, alterações nas coordenação sucção-
deglutição-respiração. Funções essas, essenciais para que ocorra a amamentação, sendo,
portanto, necessárias que estejam em condições favoráveis. A pesquisa traz como
conclusão a importância da presença do fonoaudiólogo na intervenção da amamentação
do bebê prematuro, viabilizando o ato de alimentar e colaborando para a construção do
vínculo mãe e filho.
ABSTRACT
The aim of this study is to demonstrate the role of the speech therapist in breastfeeding
premature infants. This research is justified, because the premature infant may present
interferences in its development, including due to its permanence in hospital units,
including changes in the dietary pattern. It is a bibliographic review research and
qualitative nature, using the bases Scopus, Google academic and Scielo, as well as books
related to the subject. The premature infant presents a change in the underdevelopment
of the nervous system due to its neurological immaturity, and consequently, alterations in
the coordination of sucking-swallowing-breathing. These functions are essential for
breastfeeding to occur, and it is therefore necessary that they are in favorable condition.
The research concludes the importance of the presence of the speech therapist in the
intervention of breastfeeding of premature babies, enabling the act of feeding and
contributing to the construction of the mother and child bond.
1 INTRODUÇÃO
A amamentação em crianças prematuras deve ser estudada, buscando a
compreensão do binômio mãe-criança. Assim, aleitar é a troca de calor, amor, conforto e
carinho, sendo essenciais para o progresso psíquico e emocional da criança. , pois durante
o aleitamento, além do alimento, o bebê busca o olhar da mãe, iniciando dando início aos
processos interacionais e afetivos (BOWLBY, 2002; WINNICOTT, 1999).
De acordo com Maldonado (1991) a amamentação:
Naturalmente aleitar é um ato próprio, e inerente à mãe e seu bebê. Porém, embora
natural, aleitar pode não ser simples para algumas mulheres, pois depende de vários
fatores, entre eles as condições clínicas e anatômicas, díade mãe-recém-nascido, como do
significado que as mães atribuem ao seio, ao corpo, ao lactente, ao ato de amamentar e às
circunstâncias econômicas, sociais e culturais (JESSRI M, et al., 2015).
O aleitamento materno (AM) para a fonoaudiologia é de grande importância, pois
beneficia adequadamente o crescimento e desenvolvimento das estruturas que compõem
o sistema estomatognático e respectivas funções de respiração, sucção, deglutição,
mastigação e fala (KRONBORG; FOVERSKOV; VAETH; 2014).
Desse modo, de acordo com Chen et al (2015); Crestani et al (2012) o ato de sugar
no peito aprimora a mobilidade, postura e tonicidade da musculatura orofacial envolvida,
além de contribuir para o estabelecimento da respiração nasal, prevenindo a instalação de
hábitos orais deletérios e más oclusões.
Ademais, a amamentação, ou aleitamento, é a etapa em que o bebê, geralmente
recém-nascido, se nutre totalmente ou parcialmente do leite da mãe. Frequentemente o
bebê suga o leite diretamente do seio, mas existem recém-nascidos que apresentam
condições especiais, ou seja, quando o bebê é colocado ao seio, ele o rejeita. Além disso,
existem bebês, como os prematuros, que não apresentam condições clínicas para tal,
fazendo que com isso, ele tenha que receber o alimento através de uma mamadeira, um
copinho ou de uma colher (BEZUTTI & GIUSTINA, 2016).
Para Winnicott (1999), em condições vitais, a conduta de uma lactante ao
manusear o bebê é mais eficaz que a própria experiência efetiva da amamentação. Dessa
forma, podemos destacar dois atos de sucção (um nutritivo e outro não nutritivo), sendo
certamente a sugação não nutritiva, a que desenvolve a díade mãe-bebê e que possuiria
assim, uma relevância maior.
A expressão prematuridade foi inicialmente classificada por Yllpö em 1919. No
início eram conceituados prematuros todos os neonatos (RN) vivos, nascidos com peso
igual ou inferior a 2.500 gramas. Concepção essa, que durou por um longo período
(BROCK, 1998).
A prematuridade foi, e é, um grande problema mundial, pois há ocorrência nos
países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Por isso justifica-se esse trabalho por
apresentar relevância social e científica, pois o leite materno é o alimento ideal para o
crescimento e o desenvolvimento dos bebês, protegendo contra alergias, prevenindo
contra as doenças crônicas não transmissíveis, melhorando o desenvolvimento
neurológico e estimulando o vínculo afetivo entre mãe e bebê e embora sejam
reconhecidas suas vantagens, os índices de continuidade da amamentação no Brasil são
considerados baixos, principalmente em bebês prematuros (VAN ODIJK, 2003).
Portanto, o afastamento do prematuro de sua família, especialmente da sua mãe,
que se faz necessário devido as suas condições clínicas e pelas normas das UCIN
(Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal) convencionais, é capaz de levar a uma
distorção negativa na criação dos laços afetivos, o que pode acarretar um atraso no
desenvolvimento psicoemocional. Com isso, pode-se dizer que todas estas condições
2 PREMATURIDADE
Em 1970, a Academia Americana de Pediatria começou a explicar o termo
nascimento prematuro. Cada bebê recém-nascido tem um período de gestação de menos
de 38 semanas ou 266 dias. Ao mesmo tempo, para a Organização Mundial da Saúde
(OMS) com base nas escolas de pediatria é considerado um bebê prematuro na Europa.
(RNPT), todos os períodos de gravidez em vida inferior a 37 semanas ou 259 dias,
contados permanentemente a partir da data do parto e expressos em semanas inteiras.
Neste sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2012) definiu o
nascimento prematuro/pré-termo como o que ocorre após a 20ª e antes da 37ª semana de
gestação. A prematuridade pode ser classificada em três categorias: leve, quando ocorre
entre 32 e 36 semanas de gestação, moderada (28 e 31 semanas) e severa (abaixo de 28
semanas) (AVERY, 1999).
Em bebês prematuros, o desenvolvimento que deveria ainda acontecer no útero é
interrompido, tornando-se incompleto. Portanto, na maioria das vezes, esses bebês
precisarão da ajuda de vários profissionais e aparatos tecnológicos para se adaptarem ao
novo ambiente: o ambiente externo. Na década de 1960, surgiu a primeira unidade de
terapia intensiva neonatal (UTIN). Com o avanço da tecnologia interna da unidade, o
ambiente passou a ter mais equipamentos, e sob contínua intervenção da equipe médica
(ALMEIDA et al., 2005).
Ao estudar a prematuridade, mostra-se que são inúmeras as causas que levam um
bebê a nascer prematuro, principalmente as relacionadas ao aparelho genital feminino,
alterações placentárias (placenta prévia e descolamento prematuro) e excesso de líquido
amniótico. Pode-se destacar outros fatores que também levam ao nascimento precoce,
dentre eles a idade materna (maior incidência em mães mais jovens), infecções maternas.
Porém, na maioria dos casos, a causa é desconhecida (KENNER; AFFONSO; 2001).
A prematuridade estabelece um dos principais fatores responsáveis pela grande
incidência de mortalidade, sendo considerada um fator de risco para o desenvolvimento
neurológico do recém-nascido, fazendo com que o aumento da sobrevida de prematuros
com menos de 28 semanas e/ou abaixo de 1.500g dependa de cuidados especiais
(FERREIRA et al., 2012).
É relevante mencionar que devido aos avanços tecnológicos na unidade de terapia
intensiva neonatal, equipamentos e medicamentos, bem como ao aumento do número de
profissionais da área, a taxa de mortalidade dos RNs de alto risco vem diminuindo
gradativamente.
Por fim, considerando a imaturidade fisiológica, esses recém-nascidos acabam
sendo alimentados por sonda nasogástrica ou oro gástrica, podendo se tornar difícil a
amamentação, porque podem não ter o reflexo de sucção, não conseguem coordenar bem
a função de sucção / respiração / deglutição ou ainda não têm força para sugar
(GAMBURGO LJL et al., 2003).
Algumas práticas, como a estimulação oral por meio da estimulação tátil e da
sucção não nutritiva (SNN) podem facilitar a passagem da alimentação oral forçada
(sonda nasogástrica ou oral). Essa estimulação deve ser baseada no estado nutricional do
lactente e no ganho de peso, promovendo sistematicamente o desenvolvimento do recém-
nascido, pois a permanência prolongada de um bebê prematuro (RNPT) no hospital pode
ter efeitos deletérios, desde o risco de infecção até distúrbios emocionais.
3 AMAMENTAÇÃO
3.1 FISIOLOGIA DA LACTAÇÃO
O desenvolvimento da mama começa no pico do estrogênio (hormônio ovariano)
que existe no ciclo sexual mensal de mulheres adultas e começa a se desenvolver durante
a puberdade feminina. O estrogênio estimula o crescimento da mama e a deposição de
gordura, o que torna a mama mais espessa (STEFANELLO et al., 2019).
A estrutura funcional da glândula mamária é chamada de ácinos mamários -
contém produtos secretados - a síntese do leite. Um grupo de 10 a 100 alvéolos é
denominado lobo mamário, existindo 15 a 20 lobos por peito e cada lobo mamário é
reunido em um pequeno tubo e fundido em um ducto mamário e uma ampola mamária
(seio mamário). Esses túbulos são canais muito finos que transportam o leite dos alvéolos
para os dutos mamários e glândulas mamárias, e a partir daí são externalizados por 15 a
20 orifícios em cada mamilo (JUNIOR et al., 2009).
A figura abaixo (Figura 1) é uma vista esquemática de um corte sagital da mama,
onde a parte superior representa a mama em repouso e a parte inferior representa a mama
em lactação.
Durante a gravidez, o crescimento dos seios é ainda maior devido aos altos níveis
de estrogênio. No entanto, outros hormônios da gravidez envolvidos na maturação da
mama também desempenham papeis, como a progesterona, prolactina placentária,
gonadotropina, corticosteroides placentários, hormônios tireoidianos e paratireóideos,
corticosteroides adrenais, insulina, prolactina e possivelmente hormônio de crescimento
hipofisário (JUNIOR et al., 2009).
Esses hormônios aumentam o volume da mama, promovem dilatação das veias
superficiais, aumento do fluxo sanguíneo e a pigmentação da aréola e do mamilo. No
segundo trimestre, o tecido alveolar para de se proliferar e inicia sua atividade básica de
secreção, aumentando gradativamente até o final da gestação. Nesse estágio, as glândulas
mamárias são capazes de produzir leite devido aos altos níveis de prolactina (hormônio
produzido pelo leite) (STEFANELLO et al., 2019).
Já no terceiro trimestre, o colostro é observado nos lobos das glândulas, em o
entanto, devido ao declínio acentuado desses hormônios inibidores da prolactina, o
estrogênio placentário e a progesterona não podem produzir o efeito da prolactina, que só
é desencadeado quando o feto nasce e a placenta é liberada (STEFANELLO et al., 2019).
No primeiro dia após o parto, a secreção de leite é muito pequena, inferior a 100ml
/ dia, mas no quarto dia as nutrizes podem produzir em média 600ml de leite. Na
da aréola tracionada contra o palato com a língua propulsa o leite dos seios para a boca
do bebê. Para haver uma boa pega, a mãe que tem que direcionar o seio/mamilo a boca
do lactente, além disso é importante que a mãe posicione polegar acima da aréola e o
indicador abaixo, formando um ‘C’ (SBP, 2012).
A figura abaixo (Figura 4) mostra como deve está posicionada a mama na boca
do lactente para que ocorra uma boa amamentação.
Vários são os fatores que afetam a pega correta, por exemplo, a posição do bebê
e a posição da mãe. O bebê deve sempre ter um bom suporte para o alinhamento da cabeça
e do corpo, o corpo fica bem próximo ao da mãe, barriga com barriga, queixo encostado
no peito, boca aberta e voltado para o mamilo (SBP, 2012).
A figura abaixo (Figura 5) é uma representação de como deve ocorrer o
posicionamento do bebê ao seio da lactente.
4 ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA
1
Tempo transcorrido em semanas após o bebê prematuro ter atingido 40 semanas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se por desmame precoce a interrupção da amamentação antes dos seis
primeiros meses de vida do bebê, independentemente do motivo, quer seja por desejo da
mãe, quer não.
A decisão de amamentar é um processo complexo, influenciado pelo desejo e
motivação da mulher, pelas experiências positivas próprias dos familiares e das amigas,
pelas crenças e conhecimento sobre amamentação e pelo apoio recebido dos familiares,
amigos e profissionais de saúde.
O ato de amamentar é muito mais do que a passagem do leite de um organismo
para outro, ele é um rico processo no estabelecimento e consolidação do vínculo e
interação mãe e bebê. É por meio desse contato que o bebê se relaciona com o mundo a
sua volta, abrindo-se assim para a significação do sujeito. Manter a calma, confiar em sua
capacidade, manter a tranquilidade favorece o processo de amamentar. Por sua vez, ter
medo de não ser capaz, sentir-se deprimida, sentir dor e principalmente estar ansiosa são
alguns dos fatores que resultam no fracasso da amamentação.
Com relação aos aspectos psicológicos, os laços afetivos mãe-bebê podem, ou
não, favorecer a amamentação. Sentimentos como medo, insegurança, ansiedade fazem
parte do processo de amamentação e estão no cotidiano da vida das mães que amamentam.
Acreditar na capacidade de amamentar e se sentir segura é fundamental nesse processo.
Conhecer a história de vida dessa mulher durante a gestação é fundamental. Poder
trabalhar seus medos e inseguranças ainda durante a gestação facilita o processo de
amamentação, além de empoderar a mulher para suas decisões e escolhas nessa nova fase
de sua vida.
A depressão ou a tristeza pós-parto são fatores que interferem negativamente no
processo de amamentação. É preciso ressignificar os medos e anseios em relação à
amamentação, acreditando que com o apoio familiar e dos profissionais capacitados
poderá romper essa fase e viver plenamente esse momento de sua vida.
REFERÊNCIAS
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KENNER C. Enfermagem neonatal. Rio de Janeiro (RJ): Reichmann & Affonso; 2001.
PRIMO CC, NUNES BP, LIMA EFA, LEITE FMC, PONTES MB, BRANDÃO MAG.
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RAMOS LB, SOUZA NB. Prontidão escolar em prétermo.Rev Fono Atual. 2001;
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