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Artigo - Fatores Que Influenciam Os Comportamentos Alimentares - Questionário Das Escolhas Alimentares Dos Adolescentes
Artigo - Fatores Que Influenciam Os Comportamentos Alimentares - Questionário Das Escolhas Alimentares Dos Adolescentes
Artigo - Fatores Que Influenciam Os Comportamentos Alimentares - Questionário Das Escolhas Alimentares Dos Adolescentes
ISSN: 1645-0086
spps@clix.pt
Sociedade Portuguesa de Psicologia da
Saúde
Portugal
Cláudia Madeira Pereira1, Adelina Lopes da Silva1, & Maria Isabel de Sá1
1
Centro de Investigação em Psicologia , Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa
______________________________________________________________________
Esta investigação teve o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (SFRH / BD / 60732 / 2009),
no âmbito do Doutoramento de Cláudia Madeira Pereira (http://repositorio.ul.pt/handle/10451/15480).
RESUMO: Esta investigação teve como objetivo identificar fatores que influenciam os
comportamentos alimentares dos adolescentes. No estudo 1 procedeu-se à construção do
Questionário das Escolhas Alimentares dos Adolescentes e à identificação dos referidos
fatores com recurso à análise fatorial exploratória, através da aplicação do questionário
a uma amostra de 247 adolescentes (12-19 anos). No estudo 2 procedeu-se à validação
fatorial do questionário e à avaliação da replicabilidade dos fatores com recurso à
análise fatorial confirmatória, através da aplicação do questionário a uma nova amostra
de adolescentes (N=258). Os resultados permitiram identificar vários fatores,
nomeadamente, a satisfação corporal/controlo de peso, as preocupações éticas, as
qualidades sensitivas, a conveniência e o humor. Foram encontradas diferenças de
acordo com o género e a idade. São discutidos os potenciais contributos desta
investigação para o desenvolvimento futuro da teoria e das intervenções para a
promoção da saúde dos adolescentes. Por fim, são discutidas as limitações e
apresentadas sugestões para a investigação futura.
Palavras-chave: Comportamento alimentar, Adolescentes, Promoção da saúde, Análise
fatorial, Questionário
______________________________________________________________________
ABSTRACT: This research aimed to identify factors that influence eating behaviours
of adolescents. In study 1 we proceeded to construction of the questionnaire of
adolescents food choices and identification of factors using exploratory factor analysis,
by applying the questionnaire to a sample of 247 teenagers (12-19 years). In study 2 we
Telef.: 969 487 645. E-mail: psicologa@claudiamadeirapereira.com
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ESTUDO 1
MÉTODO
Participantes
Considerando a ausência de acordo entre autores relativamente aos critérios que
sugerem para a determinação do número de participantes com base no número de itens
de determinado instrumento em estudo, optou-se por seguir a proposta de Moreira
(2009) que sugere o número mínimo de 200 para a dimensão da amostra. Assim,
participaram neste estudo 247 adolescentes, alunos de escolas secundárias e colégios do
distrito de Lisboa, Portugal. Utilizou-se uma amostra não probabilística de
conveniência, constituída por 92 (37,25%) adolescentes do género masculino e 155
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(62,75%) do género feminino, estudantes do ensino secundário (7º-12º ano), com idades
entre os 12 e os 19 anos (M = 14,57; DP = 1,87).
Material
Considerando a definição de escolha alimentar como o conjunto de decisões,
conscientes e inconscientes, que os indivíduos tomam nos momentos de adquirir e
consumir, e, em qualquer momento entre estes dois (e.g., Hamilton et al., 2000),
procedeu-se à construção do Questionário das Escolhas Alimentares dos Adolescentes.
O Food Choice Questionnaire (Steptoe, et al., 1995) constituiu o ponto de partida para a
construção do questionário dada a sua construção baseada numa extensa revisão da
literatura e na sua vasta utilização. A literatura e os estudos empíricos sobre os fatores
que influenciam as escolhas alimentares dos adolescentes (Contento, 2007; Contento, et
al., 2006; Hamilton et al., 2000; Neumark-Sztainer, et al., 1999; Sloan et al., 2008;
Sobal & Bisogni, 2009; Story & Stang, 2005) auxiliaram igualmente a identificação de
fatores, assim como a construção dos itens.
A estrutura do questionário compreendeu três partes. A 1ª parte incluiu: a)
informação sobre o estudo; b) instruções de preenchimento do questionário; e, c)
recolha de dados dos participantes (e.g., género, idade, ano de escolaridade). A 2ª parte
compreendeu 47 itens, construídos para avaliar as dimensões identificadas como fatores
influenciadores dos comportamentos alimentares, designadamente: a) Satisfação
corporal – contentamento com a forma física e imagem corporal do próprio; b) Controlo
do peso – preocupações com o ganho, perda e/ou manutenção do peso corporal; c)
Humor – consequências emocionais da ingestão e recurso a esta como estratégia de
coping; d) Conveniência – qualidades práticas dos alimentos, sua disponibilidade e
acessibilidade; e) Qualidades sensitivas – características sensitivas dos alimentos em
termos de sabor, cheiro, aparência e textura; f) Preço – custo dos alimentos; g)
Familiaridade – conhecimento e contato habitual com os alimentos; h) Influência social
– influência da família, dos pares e da cultura; i) Preocupações éticas – preocupações
políticas e ambientais relacionadas com a produção dos alimentos; e, j) Saúde –
preocupações com a saúde associadas ao comportamento alimentar.
O questionário iniciou-se com a frase “Na minha rotina diária tento escolher
alimentos que…”, seguida pelos 47 itens, cuja resposta era dada segundo o grau de
concordância: concordo totalmente; concordo; não concordo nem discordo; discordo; ou
discordo totalmente. Os itens foram dispostos aleatoriamente, tendo sido alguns
invertidos, conforme sugere Moreira (2009), para controlar eventuais enviesamentos ou
tendências de resposta. O questionário foi ainda composto por uma 3ª parte com vista à
análise de: a) obstáculos percecionados à prática de alimentação saudável; e, b) aspetos
facilitadores dos comportamentos alimentares saudáveis. Os resultados obtidos nesta 3ª
parte do questionário não serão apresentados no presente artigo que irá limitar-se à
apresentação dos resultados obtidos na 1ª e 2ª parte do questionário.
Procedimento
Partiu-se da tradução e adaptação para a população adolescente de diversos itens do
questionário original Food Choice Questionnaire (Steptoe, et al., 1995) e da construção
de novos itens tendo por base a literatura e os estudos empíricos realizados nesta área
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(Contento, 2007; Contento, et al., 2006; Hamilton et al., 2000; Neumark-Sztainer, et al.,
1999; Sloan et al., 2008; Sobal & Bisogni, 2009; Story & Stang, 2005). A tradução,
adaptação e construção dos itens foram, posteriormente, alvo de revisão por duas
professoras universitárias. Depois da construção do questionário, procedeu-se à análise
da sua validade através do exame de conteúdos e do exame dos processos de resposta
(Moreira, 2009). O exame de conteúdos foi assegurado pela revisão do questionário por
psicólogos e outros profissionais de saúde, de forma a garantir a representação do
construto (escolhas alimentares) e das dimensões em estudo no conteúdo dos itens,
assim como avaliar a possibilidade de problemas de compreensão ou atitudes de
resposta. O exame dos processos de resposta foi realizado através de aplicações-piloto
do questionário a adolescentes com idades entre os 12 e os 19 anos, com vista à recolha
de dados sobre os processos utilizados na elaboração de respostas. Para tal, procedeu-se
à observação do comportamento dos adolescentes durante o preenchimento do
questionário e à realização de uma entrevista após a sua aplicação, de forma a avaliar
eventuais problemas na compreensão ou interpretação dos itens, das instruções e/ou do
formato de resposta. Procedeu-se depois às alterações consideradas necessárias ao
questionário. Após a obtenção da autorização da Direcção-Geral de Inovação e de
Desenvolvimento Curricular (DGIDC) para a aplicação do questionário em meio
escolar, foi estabelecido o contato com diversas escolas e colégios a fim de recrutar uma
amostra significativa de participantes. O consentimento informado dos adolescentes e
dos pais (dos menores de 18 anos) foi obtido, o anonimato e a confidencialidade dos
participantes foram assegurados, tendo sido cumpridos os demais princípios éticos do
Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). Foram realizadas
doze aplicações coletivas em contexto de sala de aula (i.e., 12 turmas), duas por ano de
escolaridade, do 7º ao 12º ano. Foram excluídos da análise os questionários que se
mostraram inválidos, devido a elevado número de respostas omissas ou de tendência
central.
RESULTADOS
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Quadro 1
Fatores retidos na análise fatorial exploratória seguidos dos itens (numerados pela ordem em que
surgem no questionário) e respetivos valores de saturação (≥0,30)
“Na minha rotina diária tento escolher alimentos que…” Saturação
7. ...me ajudem a ter uma melhor aparência física (i.e., para eu parecer ou me sentir mais bonito(a)) 0,66
31. ...me ajudem a ter uma pele, cabelo e dentes saudáveis 0,58
15. ...me ajudem a ter uma melhor condição física (i.e., para ter o corpo tonificado ou com músculos) 0,51
22. ...tenham uma embalagem/pacote amigo do ambiente (i.e., o processo de embalamento não polui o 0,73
ambiente)
30. ...tenham origem em países com políticas governamentais anti- exploração infantil 0,58
Fator 4 – Conveniência
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Fator 5 – Disponibilidade/acessibilidade
33. ...possam ser comprados nos supermercados próximos do local onde vivo ou estudo/trabalho 0,63
46. ...estejam de acordo com os alimentos consumidos pelos meus pais quando como em casa com a minha 0,68
família
24. ...estejam de acordo com o que os meus pais preferem que eu coma 0,65
44. ...estejam de acordo com os alimentos que os meus amigos e/ou colegas consomem quando estou num 0,43
Fator 7 - Humor
Fator 8 - Saúde
41. ...me deem a energia de que necessito para ser bem sucedido(a) no(s) desporto(s) que pratico 0,67
35. ...me deem a energia de que necessito para ser bem sucedido(a) na escola 0,56
40. ...me impeçam de ficar doente por causa de uma alimentação pobre 0,49
Fator 9 - Familiaridade
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21. ...me sejam familiares (i.e., alimentos que eu conheço ou que habitualmente como) 0,42
ESTUDO 2
MÉTODO
Participantes
Participaram neste estudo 258 adolescentes, alunos de uma escola secundária do
distrito de Lisboa. Utilizou-se uma amostra com características semelhantes à do estudo
1, constituída por 114 (44,20%) adolescentes do género masculino e 144 (55,80%) do
género feminino, estudantes do ensino secundário (7º-12º ano), com idades entre os 12 e
os 19 anos (M = 14,52; DP = 1,72).
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Material
Utilizou-se o Questionário das Escolhas Alimentares dos Adolescentes, sendo este
constituído pelos itens cujos fatores demonstravam uma consistência interna adequada
(α ≥ 0,70; ver Pestana & Gageiro, 2008): satisfação corporal/controlo de peso,
preocupações éticas, qualidades sensitivas, conveniência e humor.
Procedimento
Foi estabelecido o contato com uma nova escola a fim de recrutar uma amostra
significativa de participantes. Procedeu-se à aplicação do questionário a uma nova
amostra de adolescentes, após a obtenção do consentimento informado dos jovens e dos
pais. O anonimato e a confidencialidade dos participantes foram assegurados, tendo sido
cumpridos os demais princípios éticos do Código Deontológico da OPP. À semelhança
do estudo 1, foram realizadas doze aplicações coletivas em contexto de sala de aula, do
7º ao 12º ano.
RESULTADOS
Para a análise dos resultados recorreu-se ao software AMOS Graphics 19. A validade
fatorial do questionário e a replicabilidade dos fatores foi avaliada através da análise
fatorial confirmatória.
A existência de outliers foi avaliada pela distância quadrada de Mahalanobis (D2) e a
normalidade das variáveis pelos coeficientes de assimetria (Sk) e curtose (Ku), uni- e
multivariada (Maroco, 2010). Os resultados de D2 confirmaram a inexistência de
outliers (p1 e p2 <0,001) e os coeficientes de Sk e Ku indicaram a inexistência de
variáveis com violações à distribuição Normal (|Sk|<3 e |Ku|<10).
A qualidade de ajustamento global do modelo fatorial foi analisada de acordo com os
seguintes índices e respetivos valores de referência: X2/df <5; CFI> 0,90; PCFI> 0,60;
RMSEA< 0,08; P[rmsea≤0,05] ≥ 0,05; e MECVI (quanto menor for o valor, melhor)
(Maroco, 2010). A qualidade do ajustamento local foi avaliada pelos pesos fatoriais e
pela fiabilidade individual dos itens. Por sua vez, o ajustamento do modelo foi efetuado
a partir dos índices de modificação (superiores a 11; p<0,001) produzidos pelo AMOS e
com base em considerações teóricas. O modelo original ajustado revelou uma qualidade
de ajustamento tolerável, mas passível de ser melhorada (X2/df=2,38; CFI=0,84;
PCFI=0,74; RMSEA=0,07; P[rmsea≤0,05]<0,001; MECVI=3,45). Como tal, e depois de
eliminados os itens 5, 10, 12, 20 e 22, cujos índices de modificação sugeriam a sua
saturação em fatores diferentes daqueles sugeridos na versão original do questionário,
obteve-se uma melhor qualidade de ajustamento, em suporte da validade fatorial do
questionário (X2/df=1,84; CFI=0,92; PCFI=0,78; RMSEA=0,06; P[rmsea≤0,05]=0,117;
MECVI=1,89). De salientar que o modelo simplificado apresentou uma qualidade de
ajustamento superior à do modelo original (X2(179)=328,39, p<0,05 vs.
X2(289)=688,88, p<0,05) e um MECVI consideravelmente menor (1,89 vs. 3,45).
A validade convergente dos fatores foi confirmada através das VEM (≥ 0,50) e a
validade discriminante através da comparação das VEM com os quadrados da
correlação entre fatores (Maroco, 2010).
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Item 3 .69
e1
.68
e3 Item 9
.78
e5 Item 17 Satisf. corporal/
.79 controlo de peso
e6 Item 18
.81
e8 Item 23 .79
e9 Item 25 .44
.79
e10 Item 4
.76 Preocupações .01
e11 Item 13
éticas -.04
.84
e12 Item 19
.53
e14 Item 14
.66 Conveniência
.05
e15 Item 15
.60
e18 Item 26
.49
.43
.50
e19 Item 2
.66 Qualidades .21
e20 Item 8
.55
sensitivas
e23 .23
Item 16
.52
e24 Item 1 431
.63 Humor
e25 Item 6
www.sp-ps.pt .78
e26 Item 21
FATORES QUE INFLUENCIAM OS COMPORTAMENTOS ALIMENTARES
Figura 1.
Modelo do questionário simplificado (X2/df=1,84; CFI=0,92; PCFI=0,78;
RMSEA=0,06; P[rmsea≤0,05]=0,117; MECVI=1,89)
Quadro 2.
Médias dos resultados em cada fator no Estudo 1 e no Estudo 2
Fatores Estudo 1 Estudo 2
(*) 2 – concordo totalmente; 1 – concordo; 0 – não concordo nem discordo; -1 – discordo; -2 – discordo totalmente
DISCUSSÃO
A presente investigação teve como objetivo identificar fatores que estão subjacentes
às escolhas alimentares dos adolescentes, tendo identificado nove fatores: satisfação
corporal/controlo de peso, preocupações éticas, qualidades sensitivas, conveniência,
disponibilidade/acessibilidade, influência social, humor, saúde e familiaridade.
O fator satisfação corporal/controlo de peso revelou-se um dos mais consistentes,
tendo saturado neste fator itens sobre satisfação corporal e itens sobre controlo do peso,
o que está de acordo com os estudos que mostram que a (in)satisfação corporal e o peso
se encontram significativamente associados nos adolescentes (Mäkinen, Puukko-
Viertomies, Lindberg, Siimes, & Aalberg, 2012). No presente estudo observou-se uma
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correlação entre este fator e as preocupações éticas que sugere que os jovens que
demonstram maiores preocupações com a sua imagem corporal e com o seu peso são
também aqueles que apresentam maiores preocupações éticas e ambientais. À
semelhança de estudos anteriores (Martyn-Nemeth, et al. 2009; Steptoe et al., 1995),
verificou-se uma correlação entre este fator e o humor, indicando que quanto maior é a
satisfação com o corpo e o peso, mais elevado é o humor dos adolescentes. Registou-se
ainda uma correlação negativa entre este fator e as qualidades sensitivas, sugerindo que
as preocupações com o corpo e o peso se relacionam inversamente com a escolha de
alimentos atraentes em termos de sabor, aparência, cheiro e textura. À semelhança de
outros estudos (Cardoso & Vale, 2010; Steptoe et al., 1995), os resultados neste fator
revelaram diferenças de acordo com o género, indicando que as preocupações com a
satisfação corporal e o controlo de peso influenciam mais as escolhas alimentares das
raparigas, do que as dos rapazes. Julga-se que esta influência é maior nas raparigas
devido às pressões socioculturais para a magreza, predominantes sobre o género
feminino, nas sociedades ocidentais (Gonçalves, Machado & Machado, 2011).
O fator preocupações éticas surgiu igualmente como um fator consistente e, à
semelhança de estudos anteriores (Steptoe et al., 1995), apresentou uma correlação com
o humor, sugerindo uma relação positiva entre as atitudes éticas e ambientais
relacionadas com os alimentos e o humor dos adolescentes. Os resultados revelaram
ainda que as preocupações éticas e ambientais diminuem com a idade, o que poderá ser
explicado pela maior sensibilização que se verifica, nomeadamente em contexto escolar,
para este tipo de questões junto dos mais novos.
O fator conveniência mostrou-se igualmente consistente e, à semelhança de outros
estudos (Steptoe et al., 1995), apresentou uma correlação, ainda que baixa, com o
humor. Verificou-se também uma correlação entre este fator e as qualidades sensitivas,
sugerindo que os alimentos considerados pelos adolescentes como mais práticos e fáceis
de preparar são também percebidos como mais apelativos em termos de sabor,
aparência, cheiro e textura.
O fator qualidades sensitivas revelou-se um fator consistente, sendo aquele que
maior influência demonstra sobre as escolhas alimentares dos adolescentes, o que
corrobora os resultados de estudos anteriores (Neumark-Sztainer, et al., 1999). À
semelhança de outros estudos (Steptoe et al., 1995), este fator demonstrou uma
correlação, ainda que baixa, com o humor, o que sugere que a escolha de alimentos
apelativos em termos de sabor, aparência, cheiro e textura está associada positivamente
com o humor.
Por sua vez, o humor revelou-se também um fator consistente, corroborando os
resultados dos estudos que demonstram a existência de uma relação entre o humor e os
comportamentos alimentares dos jovens (Martyn-Nemeth, et al. 2009). Tal como em
estudos anteriores (Steptoe et al., 1995), o humor demonstrou correlações positivas com
todos os outros fatores.
A disponibilidade/acessibilidade, a influência social, a saúde e a familiaridade
constituíram fatores adicionais que surgiram no presente estudo exploratório, contudo, a
consistência interna destes fatores, avaliada através do α de Cronbach (α<0,70; ver
Pestana & Gageiro, 2008), determinou a sua exclusão do estudo confirmatório. No
entanto, a literatura mais recente tem questionado a validade da medida do α de
Cronbach para avaliar a consistência interna, sendo vários os autores que têm sugerido a
utilização de medidas alternativas (e.g., Maroco, 2010; Maroco & Garcia-Marques,
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2006). Segundo Maroco (2010), a fiabilidade compósita (FC) consiste numa medida
alternativa mais exata da consistência interna e da reprodutibilidade dos fatores.
Considera-se FC ≥0,70 indicador de uma fiabilidade de construto apropriada, não
obstante, Maroco (2010, p. 175) refere que valores abaixo de 0,70 são aceitáveis para
investigações exploratórias. Neste caso, se o presente estudo exploratório (estudo 1)
tivesse recorrido à FC, ter-se-iam verificado valores mais elevados de consistência
interna: satisfação corporal/controlo de peso FC=0,89 (α=0,86); qualidades sensitivas
FC=0,87 (α=0,73); humor FC=0,86 (α=0,76); preocupações éticas FC=0,81 (α=0,73);
conveniência FC=0,80 (α=0,73); influência social FC=0,78 (α=0,62); saúde FC=0,75
(α=0,67); disponibilidade/acessibilidade FC=0,74 (α=0,59); e familiaridade FC=0,62
(α=0,53). O quadro 3 mostra resultados semelhantes de consistência interna obtidos
para fatores semelhantes em estudos anteriores (com adultos) (Cardoso & Vale, 2010;
Eertmans et al., 2006; Fotopoulos et al., 2009; Steptoe et al.,1995). Resultados
ligeiramente mais elevados foram obtidos no estudo confirmatório, sendo a consistência
interna dos fatores satisfação corporal/controlo de peso (FC=0,93), preocupações
éticas (FC=0,90) e qualidades sensitivas (FC=0,78) superior à dos fatores
correspondentes obtidos em estudos anteriores.
Quadro 3
Consistência interna dos fatores obtidos na presente investigação em comparação com a
consistência interna obtida para fatores semelhantes em estudos anteriores
Consistência interna
Satisfação corporal/ controlo de peso 0,89 0,86 0,93 0,79 0,75 0,84 0,82 0,82 0,89
Qualidades sensitivas 0,87 0,73 0,78 0,70 0,71 0,56 0,62 0,67 0,81
Humor 0,86 0,76 0,78 0,83 0,75 0,83 0,82 0,74 0,94
Preocupações éticas 0,81 0,73 0,90 0,70 0,60 0,58 0,62 0,30 0,76
Conveniência 0,80 0,73 0,77 0,81 0,78 0,85 0,78 0,74 0,79
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na idade adulta (Fotopoulos, et al., 2009; Rappaport, Peters, Huff-Corzine, & Downey,
1992; Steptoe et al., 1995).
Os resultados da presente investigação mostram ainda que o fator qualidades
sensitivas constitui aquele que mais influencia as escolhas alimentares dos adolescentes.
Por sua vez, estudos realizados com adultos mostram que as qualidades sensitivas, mas
também a saúde, a conveniência e o preço, constituem os fatores mais importantes nas
escolhas alimentares da população adulta (Cardoso & Vale, 2010; Rappaport, et al.,
1992; Steptoe et al., 1995).
Poderá apontar-se como limitações à presente investigação a não inclusão, no estudo
confirmatório, de quatro fatores que demonstraram resultados adequados de
consistência interna medida através da FC (influência social, saúde,
disponibilidade/acessibilidade e familiaridade); a utilização de uma medida de
autorrelato, podendo as respostas dos participantes não refletir os seus comportamentos;
e a utilização de amostras de adolescentes portugueses provenientes de meio urbano,
podendo os resultados não ser generalizáveis a outras populações.
Apesar das limitações, as semelhanças encontradas entre os resultados da presente
investigação e aqueles de estudos anteriores (Cardoso & Vale, 2010; Eertmans et al.,
2006; Fotopoulos et al., 2009; Steptoe et al.,1995) permitem reforçar a consistência dos
resultados obtidos e a validade do questionário desenvolvido. Os resultados obtidos
respondem às questões de investigação, demonstrando que diversos fatores (para além
da saúde) influenciam os comportamentos alimentares dos adolescentes, e que estas
influências apresentam diferenças de acordo com o género e a idade dos adolescentes.
Os resultados reforçam a necessidade de se desenvolverem no futuro teorias
explicativas das escolhas alimentares e intervenções específicas para a população
adolescente (distintas daquelas para a população adulta) que possam ser mais eficazes
na promoção da saúde e na prevenção das doenças associadas aos comportamentos
alimentares dos adolescentes. Julga-se que a presente investigação dá um contributo
nesse sentido, tendo identificado vários fatores que influenciam as escolhas alimentares
dos adolescentes, os quais se julga que devem ser contemplados na teoria e na
intervenção, enquanto fatores de motivação para a mudança. Todavia, uma vez que a
motivação não é condição suficiente para a mudança de comportamentos (Armitage &
Conner, 2001; De Wit, 2006; Silva & Pereira, 2012), torna-se necessário investigar no
futuro novas estratégias de intervenção que promovam a mudança efetiva dos
comportamentos, estratégias estas que não se limitem a educar ou instruir os
adolescentes para a modificação de comportamentos de saúde específicos (e.g.,
comportamentos alimentares), mas os oriente a descobrir e a desenvolver por si um
processo autorregulatório heurístico que lhes permita regular autonomamente, não só os
seus comportamentos de saúde, como também todos os seus demais comportamentos
que podem influenciar e ter implicações para a sua saúde. Crê-se que o avanço dos
estudos no campo da autorregulação da saúde pode dar importantes contributos para o
desenvolvimento futuro da investigação e da intervenção nesta área (Pereira, 2008;
Pereira, 2014; Silva & Pereira, 2012).
435
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FATORES QUE INFLUENCIAM OS COMPORTAMENTOS ALIMENTARES
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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