Os Promórdios Da Administração
Os Promórdios Da Administração
Os Promórdios Da Administração
Os Primórdios da
Administração
O homem compreendeu, desde cedo, que é um animal social, ou seja, sua pre-
servação individual e felicidade estavam condicionadas ao convívio com o ou-
tro, com o grupo. A história está recheada de fatos que comprovam a existência
de grupos organizados de pessoas em torno de um objetivo: proteger-se contra
ataques inimigos, contra as intempéries do tempo, lazer, convívio social, con-
seguir alimento (caça, pesca, etc). Podemos afirmar, por isso, que os princípios
da convivência social organizada são atávicos ao ser humano.
Além da convivência social, o trabalho em grupos organizados parece ser
algo inerente à natureza humana, e a história nos mostra inúmeros exemplos
de competência dos nossos antepassados na organização do trabalho e na re-
alização de grandes obras, exemplos que indicam ter havido planos formais,
organizações de trabalho, liderança e sistemas de avaliação, prática eficiente
de funções administrativas que se transformaram em ricos legados à humani-
dade, alguns dos quais, até hoje defendidos e utilizados pelos grandes teóricos
da administração. É o que veremos neste capítulo.
OBJETIVOS
• Antecedentes históricos da Administração
• Cronologia dos principais eventos dos primórdios da Administração
• Principais influências ao Pensamento Administrativo
• Principais contribuições à formação do conhecimento administrativo, desde a época das
primeiras organizações até a Revolução Industrial
• Demonstrar que muitas dessas contribuições continuam funcionando nas organizações da
atualidade.
10 • capítulo 1
1.1 Origem Histórica da Administração
"... nascemos em organizações, somos educados por organizações, e quase todos nós
passamos a vida a trabalhar para organizações. Passamos muitas de nossas horas de
lazer, a pagar, a jogar e a rezar em organizações. Quase todos nós morreremos numa
organização, e quando chega o momento do funeral, a maior de todas as organizações
— o Estado — precisa dar uma licença especial”.
Amitai Etzioni
CURIOSIDADE
A Administração é praticada desde que existem os primeiros agrupamentos humanos. Nas
sociedades primitivas, as expedições para a caça de grandes animais eram empreendimen-
tos coletivos precedidos de decisões de planejamento, divisão do trabalho e logística. Era
preciso antecipar a rota das migrações da caça, definir o local onde os caçadores acampa-
riam, preparar víveres e armas. Essas expedições, embriões de empresas, tinham líderes, que,
eram os protótipos dos gerentes de hoje.
capítulo 1 • 11
alguém. O estudo científico da administração1, porém, é bem mais recente.
Historicamente, contudo, a administração foi estudada em todos os tempos,
embora com percepções, intensidade e métodos variados.
Referências pré-históricas acerca das magníficas construções erguidas du-
rante a Antiguidade no Egito, na Mesopotâmia, na Assíria, testemunharam a
existência em épocas remotas de dirigentes capazes de planejar e guiar os es-
forços de milhares de trabalhadores em monumentais obras que perduram até
nossos dias, como as pirâmides do Egito. Os papiros egípcios atribuídos à épo-
ca de 1300 a.C. já indicam a importância da organização e da administração da
burocracia pública no Antigo Egito. Na China, as parábolas de Confúcio suge-
rem práticas para a boa administração pública.
A história da Administração iniciou-se num tempo muito remoto, mais pre-
cisamente no ano 5000 a.C., na Suméria, quando os antigos sumerianos pro-
curavam melhorar a maneira de resolver seus problemas práticos, exercitando
assim a arte de administrar.
Depois, no Egito, Ptolomeu dimensionou um sistema econômico planejado
que não poderia ter-se operacionalizado sem uma administração pública siste-
mática e organizada.
CURIOSIDADE
Os egípcios criaram e aplicaram os princípios de administração em projetos arquitetônicos
de engenharia, além das pirâmides, como canais de irrigação, edificações de grande porte,
entre outros. Contribuíram com princípios de planejamento das atividades, criação da figura
do comandante e conselheiro dos trabalhos, organização do trabalho em grupos, divisão de
atividades e responsabilidades e a técnica da descrição detalhada de tarefas. A construção
das pirâmides do Egito, na qual foram envolvidos 100.000 trabalhadores durante 20 anos,
atesta a competência de homens, que sabiam não só como elaborar projetos, mas, também,
tínham habilidade de mobilizar e gerenciar recursos humanos. Em assuntos de negócios e
governamentais, os egípcios também demonstraram competência; seus documentos possuí-
am registros de quem, quando e por quem haviam sido emitidos, e por quem e quando foram
recebidos, o que demonstra alto grau de eficiência e organização.
1 A palavra administração vem do latim ad (direção, tendência para) e minister (subordinação ou obediência) e
significa aquele que realiza uma função abaixo do comando de outrem, isto é, aquele que presta um serviço a outro.
12 • capítulo 1
Os hebreus, através da Bíblia, demonstraram princípios básicos de adminis-
tração. O êxodo de Moisés, por exemplo, é uma grande demonstração de com-
petência gerencial, pois foi utilizado como política de descentralização de deci-
sões com as primeiras ideias de núcleos organizacionais. Os 10 Mandamentos,
por sua vez, trazem regras de conduta e comportamento que preservam a possi-
bilitam a vida e a solidariedade do grupo.
Os babilônios deixaram à humanidade poderoso legado com o Código de
Hamurábi (governador da Babilônia - 2000 a 1700 a.C.). Tratava-se de um tex-
to de leis orientadoras do povo no princípio do trabalho; criaram o princípio
da paga mínima, os primeiros modelos de contratos de trabalho e recibos de
pagamento que permitiam as transações comerciais da época. O Código de
Hamurábi cobre assuntos sobre vendas, empréstimos, contratos, sociedades,
acordos e notas promissórias.
CURIOSIDADE
Conselhos de Jetro
A época é século XIV antes de Cristo. Liderados por Moisés, cerca de 600.000 hebreus
saíram do Egito e estão indo em direção à Terra Prometida já faz algum tempo. Ontem, houve
uma batalha contra os amalequitas. Moisés está muito cansado, porque teve que ficar o tem-
po todo em cima de uma colina, segurando o cajado no alto, para que os hebreus vencessem
a batalha. Ainda bem que Aarão e Hur estavam lá para ajudá-lo, segurando seus braços.
Hoje, Moisés está recebendo a visita de Jetro, seu sogro. Não tem muito tempo para falar
com ele, pois fica de manhã até tarde recebendo pessoas do povo, que ficam numa fila apa-
rentemente interminável. Aliás Moisés quase não tem tempo para mais nada. Jetro observa
que Moisés resolve todos os problemas que lhe são trazidos pelas pessoas.
Bem no final da tarde, Jetro leva Moisés até o alto da Colina, onde podem conversar sem
ser incomodados.
– Moisés - pergunta Jetro -, por que você tem que ficar julgando pessoalmente todos
esses casos que lhe são trazidos?
– Bem, Jetro, as pessoas querem ouvir de mim a interpretação da vontade das Leis de
Deus.
– Desse jeito, você fica sem tempo para cuidar das questões realmente importantes.
Por que você não manda outros fazerem esse serviço? Já pensou se todo mundo quiser
falar com você?
– Ora, Jetro, esse é o meu serviço. E depois, já imaginou se outros fizerem algo errado?
capítulo 1 • 13
– Isso não deve preocupá-lo, Moisés. Escolha pessoas competentes e crie um sistema
hierárquico. Forme grupos de 10 assistentes para falar diretamente com o povo. Para cada
10 grupos de 10 assistentes, defina um feitor. Ele será responsável pela análise dos casos
que os assistentes não souberam resolver. Para cada grupo de 10 feitores, indique um
supervisor. Esse será o chefe de 100. O supervisor resolverá os problemas que os feitores
não souberem resolver. Finalmente, para cada grupo de 10 supervisores, indique um chefe,
o chefe de 1.000. Ele resolverá os problemas que os supervisores não souberam resolver.
Assim, você só terá que se ocupar com os problemas que os chefes de 1.000 não conse-
guirem solucionar. Isso vai deixar tempo para que você cuide do que é realmente o trabalho
de um líder.
– Jetro, quem diz que eles serão capazes de resolver problemas?
– Moisés, treine esse pessoal. Ensine-lhes a lei e dê-lhes as diretrizes para aplicá-las.
Faça-os responsáveis. Avise a todos que, de agora em diante, eles deverão ser procurados.
Aprenda a delegar, Moisés.
– E como fazer a escolha?
– Procure alguns que você sabe que são mais competentes. Peça ao povo que eleja
outros e forme a equipe dessa maneira.
– Jetro, seguirei seu conselho, mas ainda tenho receios. E se eles não aceitarem essa
responsabilidade?
– Ora, Moisés, você conversa com Deus de vez em quando, ou pelo menos é o que você
diz. Ele saberá aconselhá-lo melhor.
No dia seguinte, Jetro, o primeiro consultor de executivos da história, voltou para casa.
14 • capítulo 1
conceitos fundamentais: disciplina e funcionalidade; por isso, a grande contri-
buição romana está afeta às leis, à ação governamental, manifesta no conceito
de ordem. O código do direito romano ainda é modelo para todas as civilizações
.
REFLEXÃO
Por volta de 4.000 a.C. a revolução agrícola evoluiu para a revolução urbana numa parte
do que viria a ser o Oriente Médio, enquanto a Ásia e a América estavam virtualmente na
pré-história. No mesmo período, a Europa avançava da pré-história para a revolução agrícola.
Com a revolução urbana, surgiram as cidades e os estados. Essas primeiras organizações
formais demandaram a criação de práticas administrativas que se estabilizaram e evoluíram
nos séculos seguintes (MAXIMIANO, 2005).
capítulo 1 • 15
de pessoal do mais alto escalão até o mais baixo serviçal que trabalhava para o
Império, com nome, função e descrição detalhada de tarefas, deveres e respon-
sabilidades de cada um. Chow escreveu: A arte da guerra de Sun Tzu, obra que
tem inspirado a administração ao longo dos séculos. Mencius, 129 a.C. deixou
sua contribuição através da elaboração de modelos de administração (proces-
sos) e seleção científica de trabalhadores (habilidade, traços de personalidade,
conhecimento, experiência).
O quadro a seguir, traz estas e outras contribuições para a evolução do pen-
samento administrativo através dos tempos.
16 • capítulo 1
já na Idade Média, destacando-se como administradores natos. A Alemanha e a
Áustria, de 1550 a 1700, através do aparecimento de um grupo de professores e
administradores públicos chamados os fiscalistas ou cameralistas. Os mercan-
tilistas ou fisiocratas franceses, que valorizavam a riqueza física e o Estado, pois
ao lado das reformas fiscais preconizavam uma administração sistemática, es-
pecialmente no setor público. Na evolução histórica da administração, duas ins-
tituições se destacaram: a Igreja Católica Romana e as Organizações Militares.
Veremos essas e outras influências na Administração que conhecemos hoje.
capítulo 1 • 17
René Descartes (1596-1650), um filósofo, matemático e físico francês, con-
siderado o fundador da filosofia moderna, criou as coordenadas cartesianas e
deu impulso à Matemática e à Geometria da época. Em seu livro O Discurso do
Método, que descreve os preceitos do seu método filosófico, hoje denominado
de método cartesiano, serviu de fundamento para a tradição científica do oci-
dente, cujos princípios são:
18 • capítulo 1
Kal Marx (1818-1883) e seu parceiro Friedrich Engels (1820-1895) propõem
uma teoria da origem econômica do Estado. No Manifesto Comunista, afir-
mam que a história da humanidade é uma luta de classes. Homens livres e es-
cravos, patrícios e plebeus, nobres e servos, mestres e artesãos, exploradores e
explorados. O surgimento do poder político e do Estado nada mais é do que o
fruto da dominação econômica do homem pelo homem.
CURIOSIDADE
Em 1867, Marx publica O Capital e mais adiante suas teorias a respeito da mais-valia
com base na teoria do valor-trabalho. Assim, com Adam Smith e David Ricardo, Marx consi-
dera que o valor de toda mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho socialmente
necessário para produzi-la. Como a força de trabalho é uma mercadoria cujo valor é deter-
minado pelos meios de vida necessários à subsistência do trabalhador, se ele trabalha além
de um determinado número de horas, estará produzindo não apenas o valor correspondente
ao de sua força de trabalho, mas também um valor a mais, denominado mais-valia. É dessa
fonte que são tirados os possíveis lucros dos capitalistas. A influência de Marx foi enorme,
tanto por sua obra, como por sua intensa militância política. (CHIAVENATO, 2000).
Fonte: https://administer33.wordpress.com/2012/05/22/o-que-e-administracao/
capítulo 1 • 19
Ao longo dos séculos, a Igreja Católica foi estruturando sua organização,
sua hierarquia de autoridade, seu estado-maior (assessoria) e sua coordenação
funcional para assegurar integração. A organização hierárquica da Igreja é tão
simples e eficiente que sua enorme organização mundial pode operar satisfato-
riamente sob o comando de uma só cabeça executiva: o Papa, cuja autoridade co-
ordenada lhe foi delegada de forma mediata por uma autoridade divina superior.
De qualquer forma, a estrutura da organização eclesiástica serviu de mode-
lo para muitas organizações que, ávidas de experiências bem-sucedidas, passa-
ram a incorporar uma infinidade de princípios e normas administrativas utili-
zadas na Igreja Católica.
→ Influência do Exército
As Organizações Militares evoluíram das displicentes ordens dos cavaleiros
medievais e dos exércitos mercenários dos séculos XVII e XVIII até os tempos
modernos com uma hierarquia de poder rígida e adoção de princípios e práticas
administrativas comuns a todas as empresas da atualidade. A história demons-
tra que a maioria dos empreendimentos militares, sociais, políticos, econômicos
e religiosos teve uma estrutura piramidal, embora de forma não muito regular.
Essa pirâmide retrata uma estrutura hierárquica, concentrando no vértice as fun-
ções de poder e de decisão. Portanto, a teoria da estrutura hierárquica não é nova.
A organização militar, assim, influenciou enormemente o desenvolvimento das
teorias da Administração ao longo do tempo. Suas principais características são:
A organização linear, por exemplo, tem suas origens na organização militar
dos exércitos da Antiguidade e da época medieval.
O princípio da unidade de comando (pelo qual cada subordinado só pode
ter um superior) – fundamental para a função de direção.
A escala hierárquica, ou seja, a escala de níveis de comando de acordo com
o grau de autoridade e responsabilidade correspondente é tipicamente um as-
pecto da organização militar utilizado em outras organizações.
O conceito de hierarquia dentro do exército é provavelmente tão antigo
quanto a própria guerra, pois a necessidade de um estado-maior sempre exis-
tiu para o exército. Todavia, o estado-maior formal como um quartel-general
somente apareceu em 1665, com a Marca de Brandenburgo, precursor do exér-
cito prussiano. A evolução do princípio de assessoria e a formação de um esta-
do-maior geral ocorreu posteriormente, na Prússia, com o Imperador Frederico
II, o Grande (1712-1786).
20 • capítulo 1
Outra contribuição da organização é o princípio da direção, através do qual
todo soldado deve saber perfeitamente o que se espera dele e aquilo que ele
deve fazer.
Mesmo Napoleão, o general mais autocrata da história militar, nunca deu
uma ordem sem explicar o seu objetivo e certificar-se de que haviam compre-
endido corretamente, pois estava convencido de que a obediência cega jamais
leva a uma execução inteligente de qualquer coisa. Para aumentar a eficiência
de seu exército, criou um estado-maior (staff) para assessorar o comando (li-
nha) militar. Os oficiais de acessória (staff) cuidavam do planejamento e os de
linha se incumbiam da execução das operações de guerra.
Outra contribuição da organização militar é o princípio de direção, que pre-
ceitua que todo soldado deve saber perfeitamente o que se espera dele e aquilo
que ele deve fazer. No início do século XIX, Karl von Clausewitz (1780-1831), ge-
neral prussiano, escreveu um Tratado sobre a Guerra e os Princípios de Guerra,
sugerindo como administrar os exércitos em períodos de guerra. Foi o grande
inspirador de muitos teóricos da Administração, que posteriormente se basea-
ram na organização e estratégia militares para adaptá-las à organização e estra-
tégia industriais. Clausewitz considerava a disciplina como um requisito básico
para uma boa organização. Para ele, toda organização requer um cuidadoso pla-
nejamento, no qual a decisões devem ser científicas, e não simplesmente intuiti-
vas. As decisões devem basear-se na probabilidade, e não apenas na necessidade
lógica. O administrador deve aceitar a incerteza e planejar de maneira a poder
minimizar essa incerteza.
capítulo 1 • 21
Adam Smith (1723-1790), é o fundador da economia clássica, cuja ideia cen-
tral é a competição. Embora os indivíduos ajam apenas em proveito próprio, os
mercados em que vigora a competição funcionam espontaneamente, de modo
a garantir (Smith chamava de a mão de obra invisível que governa o mercado)
a alocação mais eficiente dos recursos de produção, sem que haja excessos de
lucros. Por essa razão, o papel econômico do governo é a intervenção na eco-
nomia quando o mercado não existe, ou quando não ocorre competição livre.
Visualizava o princípio da especialização dos operários em uma manufatura de
agulhas e já enfatizava a necessidade de racionalizar a produção. O princípio da
especialização e o princípio da divisão do trabalho aparecem em referências em
seu livro Da Riqueza das Nações. Adam Smith reforçou bastante a importância
do planejamento e da organização dentro das funções da Administração.
James Mill (1773-1836), outro economista liberal, sugeria em seu livro
Elementos de Economia Política, publicado em 1826, uma série de medidas
relacionadas com os estudos de tempos e movimentos como meio de obter in-
cremento da produção nas industrias da época.
David Ricardo (1772-1823), um economista inglês, que publicou seu livro
Princípios de Economia Política e Tributação, no qual aborda trabalho, capital,
salário, renda, produção, preços e mercados.
O liberalismo econômico corresponde ao período de desenvolvimento da
economia capitalista baseada no individualismo e no jogo das leis econômicas
naturais e na livre concorrência. A acumulação crescente de capitais gerou pro-
fundos desequilíbrios pela dificuldade de assegurar imobilizações com renda
compatível para o funcionamento do sistema.
22 • capítulo 1
da urbanização, que criou novas necessidades para a população, o que se traduz
em um rápido crescimento das empresas voltadas para o consumo direto. Antes
de 1850, poucas empresas tinham uma estrutura administrativa que exigisse os
serviços de um administrador em tempo integral, pois as empresas industriais
eram pequenas. As empresas da época faziam parte de um contexto predominan-
temente rural, que não conhecia a administração de empresas.
Em 1871, surgiram os primitivos impérios industriais, aglomerados de empre-
sas que se tornaram grandes demais para serem dirigidos pelos pequenos grupos
familiares. Logo apareceram os agentes profissionais, os primeiros organizadores
que se preocupavam mais com a fábrica do que com vendas ou compras. Até essa
época, os empresários achavam melhor ampliar sua produção do que organizar
uma rede de distribuição e vendas. Todos esses fatores iriam completar as condi-
ções propícias para a busca de bases científicas para a melhoria da prática empre-
sarial e o surgimento da teoria administrativa. (CHIAVENATO, 2000)
capítulo 1 • 23
• Desenvolvimento do sistema fabril
• Melhoria nos transportes e na comunicação.
CURIOSIDADE
O sistema fabril
Do século XVI até meados do século XVIII, o mundo era essencialmente agrícola; a
economia se resumia ao cultivo do solo e à produção de alimentos para consumo próprio e
familiar. Em plena Idade Média, e os proprietários de terras, em geral religiosos ou políticos,
contavam para o cultivo, plantio e sustento de suas propriedades com a mão de obra barata
e escrava do povo. A atividade industrial era incipiente; restringia-se apenas a alguns poucos
e rebeldes artesãos, que fugiam das propriedades e do domínio dos senhores feudais para
exercer uma atividade econômica independente. Esses artesãos se reuniam em locais fora
das propriedades feudais, nos quais montavam o seu próprio negócio, criavam família e co-
mercializavam sua mercadoria. Esses aglomerados de “incorformados” foram despontando e
crescendo rapidamente, ficando conhecidos como “cidades”. Esse crescimento foi incentiva-
do pelo crescimento da atividade econômica e pelo declínio do poder feudal do século XVII.
A organização industrial das “cidades” consistia, inicialmente, de um sistema domiciliar.
O trabalho era feito na casa de cada trabalhador, em áreas rurais, e entregue a um comer-
ciante independente que cuidava da sua comercialização. A ação de comercialização por
alguém não pertencente ao núcleo de produção gerou os princípios da intermediação. Esse
comerciante, desde logo, aprendeu que não precisava produzir; ele ganharia muito mais de-
senvolvendo e aperfeiçoando técnicas e habilidades para vender um produto, ao invés de fa-
bricá-lo. Para isso, ele teria que encomendar o produto a um “mestre” (artesão que detinha a
habilidade maior na fabricação) e responsabilizar-se pela sua venda. Ao mestre cabia a tarefa
de aglutinar outros artesãos para a tarefa encomendada, dividindo e organizando o trabalho,
determinando as diretrizes da produção e remunerando-os por peça trabalhada.
24 • capítulo 1
especialização do trabalho.
• O crescente domínio da indústria pela ciência.
• Transformações radicais nos transportes e comunicações.
• O desenvolvimento de novas formas de organização capitalista:
• A dominação da indústria pelas inversões bancárias e instituições fi-
nanceiras e de crédito, como foi o caso da formação da United States Steel
Corporation, em 1901, pela J.P. Morgan & Co.
• A formação de imensas acumulações de capital, provenientes de trus-
tes e fusões de empresas.
• A separação entre a propriedade particular e a direção das empresas,
• O desenvolvimento das holding companies.
capítulo 1 • 25
Observando historicamente a divisão da revolução industrial, podemos en-
tender que as matérias-primas foram importantes para o crescimento das em-
presas, pois a substituição do ferro e carvão por aço e eletricidade possibilitou
grandes avanços, os quais são demonstrados por Chiavenato (2004)
26 • capítulo 1
para os centros industriais, surgiu um surto acelerado e desorganizado de urba-
nização. Ao mesmo tempo em que o capitalismo se solidificou, cresceu o tama-
nho de uma nova classe social: o proletariado. As tensões entre a classe operária
e os proprietários de indústria não tardaram a aparecer.
Com a nova tecnologia dos processos de produção, de construção e funcio-
namento das máquinas, com a crescente legislação destinada a defender e pro-
teger a saúde e a integridade física do trabalhador, a administração e a gerência
das empresas industriais passaram a ser a preocupação maior dos proprietá-
rios. A prática foi lentamente ajudando a selecionar ideias e métodos empíri-
cos. O desafio agora era dirigir batalhões de operários da nova classe proletária.
A preocupação dos empresários se fixava na melhoria dos aspectos mecânicos e
tecnológicos da produção, com o objetivo de produzir quantidades maiores de
produtos melhores e de menor custo. A gestão do pessoal e a coordenação do
esforço produtivo eram aspetos de pouca ou nenhuma importância.
Assi,m a Revolução Industrial, embora tenha provocado uma profunda modifi-
cação na estrutura empresarial da época, não chegou a influenciar diretamente os
princípios de administração das empresas então utilizadas. Os dirigentes de em-
presas trataram de cuidar como podiam ou como sabiam das demandas de uma
economia em rápida expansão. Alguns empresários baseavam suas decisões tendo
por modelos as organizações militares ou eclesiásticas nos séculos anteriores.
REFLEXÃO
Levando em conta que o termo “tecnologia”, é o avanço ou o aprimoramento de uma “técnica”.
capítulo 1 • 27
CURIOSIDADE
A Revolução Industrial desenvolveu-se em duas fases distintas: a primeira fase, de 1780 a
1860, foi a revolução do carvão, como principal fonte de energia, e do ferro, como principal
matéria-prima. A segunda fase, de 1860 a 1914, foi a revolução da eletricidade e derivados
do petróleo, como as novas fontes de energia, e do aço, como a nova matéria-prima.
Adam Smith, em 1776, avaliava os benefícios econômicos da divisão do trabalho, também
chamada especialização de mão de obra, que dividia a produção em tarefas menores, atribuídas
aos trabalhadores ao longo das linhas de produção. Dessa forma, as fábricas do final dos anos de
1700 desenvolveram não somente a maquinaria de produção, mas também maneiras de planejar
e controlar o trabalho. As técnicas administrativas predominantes no século XX foram desen-
volvidas em sua maioria nos Estados Unidos; o Pós-Guerra civil preparou o cenário para uma
nova era industrial do país com grande expansão da capacidade produtiva. Nessa fase o capital
financeiro passou a constituir a principal fonte de riqueza. Essa situação levou à separação entre
o capitalista e o empregador, com os administradores tornando-se empregados assalariados.
A classe operária que nasceu com a Revolução Industrial estabeleceu uma relação de conflito
com os empregadores. Os trabalhadores recém-saídos do campo, eram despreparados, inábeis e
indisciplinados. As práticas administrativas no início da Revolução Industrial eram rudimentares: a
qualidade dos produtos era variável e precária; cabia ao comprador inspecionar o produto; paga-
vam-se baixos salários; tinha-se um forte controle sobre as atividades da mão de obra.
28 • capítulo 1
• Crescimento acelerado e desorganizado das empresas que passaram a exigir
uma administração científica capaz de substituir o empirismo e a improvização;
• Necessidade de maior eficiência e produtividade das empresas, para fazer
face à intensa concorrência e competição no mercado.
CURIOSIDADE
Fundição SOHO
Fundição Soho, é o nome da empresa constituída para fabricar a máquina a vapor de
James Watt. Nessa empresa, herdada pelos filhos dos fundadores (James Watt e Matthew
Boulton), podia-se observar, a partir de 1800, o pioneirismo de conceitos que se tornariam
universais nos dois séculos seguintes.
• Padronização do funcionamento das máquinas, objetivando equilibrar o ritmo de fabricação.
• Fabricação de peças intercambiáveis.
• Detalhado planejamento das operações e do local de trabalho, visando alcançar otimização
do espaço físico e alto grau de precisão na fabricação de produtos, com redução do esforço
humano.
• Planejamento e controle da produção baseados em estimativas da procura por máquinas
→ previsão de demanda.
• Cronometragem e estudo de tempos e movimentos.
• Pagamento de incentivos salariais proporcionais à produção de peças.
• Entendimento de que o principal recurso da empresa são as pessoas.
capítulo 1 • 29
o processo administrativo. Vamos conhecer, então, os teóricos que ajudaram a
revolucionar a forma como as organizações viam a administração.
REFLEXÃO
Apesar dos progressos no conhecimento humano, a chamada Ciência da Administração so-
mente surgiu no despontar do início do século XX. A TGA é uma área nova e recente do
conhecimento humano. Para que ela surgisse foram necessários séculos de preparação e
antecedentes históricos capazes de permitir e viabilizar as condições indispensáveis ao seu
aparecimento (MAXIMIANO, 2007).
LEITURA
Campo de atuação do profissional de administração
O atual momento histórico é único. Esta é a última geração da chamada sociedade in-
dustrial e que já pertence a uma nova sociedade, a da tecnologia da informação, cujo escritor
Alvin Toffler denominou de “Terceira Onda”. Dentro deste contexto de transição, falar sobre
as perspectivas profissionais aos egressos dos cursos de Administração é algo estimulante,
porque leva a refletir sobre os diversos cenários dentro desta nova economia e também sobre
o papel que os administradores devem desempenhar.
Por seu tamanho e pela complexidade de suas operações, as organizações, ao atingirem um
certo porte, precisam ser administradas e a sua administração requer todo um aparato de pes-
soas estratificadas em diversos níveis hierárquicos que se ocupam de incumbências diferentes.
A Administração revela-se nos dias de hoje como uma área do conhecimento humano
impregnada de complexidades e desafio. O profissional que utiliza a Administração como
meio de vida pode trabalhar nos mais variados níveis de uma organização: desde o nível
hierárquico de supervisão elementar até o nível de dirigente máximo da organização. Pode
trabalhar nas diversas especializações da Administração: seja a Administração da Produção,
ou da Administração Financeira, ou da Administração de Recursos Humanos, ou da Adminis-
tração Mercadológica, ou ainda da Administração Geral. Em cada nível e em cada especiali-
zação da Administração, as situações são muito diversificadas e diferenciadas.
Em cada organização, o administrador soluciona problemas, dimensiona recursos, plane-
ja suas aplicações, desenvolve estratégias, efetua diagnósticos de situações etc., exclusivos
daquela organização. (CHIAVENATO, 2000)
Fonte: https://administer33.wordpress.com/2012/05/22/o-que-e-administracao/
30 • capítulo 1
A sociedade econômica industrial
No final do século XVIII, James Watt (1736/1819) cria a máquina a vapor e projeta sua
aplicação à produção agrícola (moinhos de grãos). Esse novo sistema de produção incre-
menta a criação e o uso de novos instrumentos, processos, fontes de energia (motor movido
a carvão) e máquinas para a fabricação.
O movimento renascentista foi um dos grandes responsáveis pelo avanço tecnológico da
época; ele se caracterizou pela volta do espírito científico, do direito à curiosidade, à inves-
tigação, à dúvida. Muitos fatos contribuíram para o movimento renascentista. A navegação
foi facilitada pela bússola magnética, inventada pelos chineses no século XI e levada para a
Europa um século depois. Inicia-se uma nova fase de descobertas e de invenções: inventa-se
a pólvora, redescobre-se o moinho d´água, difundem-se a bússola e os arreios modernos dos
cavalos. São inventados os óculos, a imprensa, o relógio.
No início do século XV, os portugueses iniciaram um grande período de exploração,
descobrindo os Açores em 1419 e, mais tarde, seguindo a costa ocidental da África. Foi
aceita a ideia de a Terra ser redonda e poderem, assim, os navios partirem da Europa, atingir
a Ásia, a Índia, a China, e voltar à Europa. Essas descobertas alargaram o mundo conhecido e
o espírito da humanidade. O aumento da circulação monetária, o ouro e a prata elevando os
preços e estimulando a indústria e o comércio, aumentaram a riqueza e deram oportunidade
ao lazer, ao estudo e à invenção.
Os últimos duzentos anos viram o mundo passar por um processo de transformação
radical. Sob o impulso do desenvolvimento industrial, a história acelerou-se, ganhou outro
ritmo. E hoje, quando comparamos o mundo industrial moderno com o mundo de há dois ou
três séculos, verificamos que muitos elementos, que então não existiam ou tinham pouca im-
portância, ganharam importante significado. No setor social, isto é particularmente verdadeiro
em relação às organizações. Essas, sabemos, existiam em épocas anteriores: não são uma
criação da época industrial. Antes de constituir a regra, porém, eram a exceção.
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