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Os Promórdios Da Administração

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1

Os Primórdios da
Administração
O homem compreendeu, desde cedo, que é um animal social, ou seja, sua pre-
servação individual e felicidade estavam condicionadas ao convívio com o ou-
tro, com o grupo. A história está recheada de fatos que comprovam a existência
de grupos organizados de pessoas em torno de um objetivo: proteger-se contra
ataques inimigos, contra as intempéries do tempo, lazer, convívio social, con-
seguir alimento (caça, pesca, etc). Podemos afirmar, por isso, que os princípios
da convivência social organizada são atávicos ao ser humano.
Além da convivência social, o trabalho em grupos organizados parece ser
algo inerente à natureza humana, e a história nos mostra inúmeros exemplos
de competência dos nossos antepassados na organização do trabalho e na re-
alização de grandes obras, exemplos que indicam ter havido planos formais,
organizações de trabalho, liderança e sistemas de avaliação, prática eficiente
de funções administrativas que se transformaram em ricos legados à humani-
dade, alguns dos quais, até hoje defendidos e utilizados pelos grandes teóricos
da administração. É o que veremos neste capítulo.

OBJETIVOS
• Antecedentes históricos da Administração
• Cronologia dos principais eventos dos primórdios da Administração
• Principais influências ao Pensamento Administrativo
• Principais contribuições à formação do conhecimento administrativo, desde a época das
primeiras organizações até a Revolução Industrial
• Demonstrar que muitas dessas contribuições continuam funcionando nas organizações da
atualidade.

10 • capítulo 1
1.1 Origem Histórica da Administração

"... nascemos em organizações, somos educados por organizações, e quase todos nós
passamos a vida a trabalhar para organizações. Passamos muitas de nossas horas de
lazer, a pagar, a jogar e a rezar em organizações. Quase todos nós morreremos numa
organização, e quando chega o momento do funeral, a maior de todas as organizações
— o Estado — precisa dar uma licença especial”.
Amitai Etzioni

Historicamente, a Administração é recente. Ela é um produto típico do século


XX. Na verdade, a Administração tem pouco mais de cem anos e constitui o resul-
tado histórico e integrado da contribuição cumulativa de vários precursores, filó-
sofos, físicos, economistas, estadistas e empresários que, no decorrer dos tem-
pos, foram, cada qual em seu campo de atividades, desenvolvendo e divulgando
suas obras e teorias. Por isso, a moderna Administração utiliza conceitos e princí-
pios empregados nas Ciências Matemáticas (inclusive a Estatística), nas Ciências
Humanas (como Psicologia, Sociologia, Biologia, Educação etc.), nas Ciências
Físicas (como Física, Química etc.), como também no Direito, na Engenharia, na
Tecnologia da Informação etc. (CHIAVENATO, 2003).

CURIOSIDADE
A Administração é praticada desde que existem os primeiros agrupamentos humanos. Nas
sociedades primitivas, as expedições para a caça de grandes animais eram empreendimen-
tos coletivos precedidos de decisões de planejamento, divisão do trabalho e logística. Era
preciso antecipar a rota das migrações da caça, definir o local onde os caçadores acampa-
riam, preparar víveres e armas. Essas expedições, embriões de empresas, tinham líderes, que,
eram os protótipos dos gerentes de hoje.

O ato de “administrar”, por si só, está intimamente relacionado à coope-


ração humana, desde sua existência. Isso porque todos os grandes feitos da
humanidade, tiveram, minimamente, grupos de pessoas envolvidas, coo-
perando umas com as outras, como uma força tarefa, sendo orientadas por

capítulo 1 • 11
alguém. O estudo científico da administração1, porém, é bem mais recente.
Historicamente, contudo, a administração foi estudada em todos os tempos,
embora com percepções, intensidade e métodos variados.
Referências pré-históricas acerca das magníficas construções erguidas du-
rante a Antiguidade no Egito, na Mesopotâmia, na Assíria, testemunharam a
existência em épocas remotas de dirigentes capazes de planejar e guiar os es-
forços de milhares de trabalhadores em monumentais obras que perduram até
nossos dias, como as pirâmides do Egito. Os papiros egípcios atribuídos à épo-
ca de 1300 a.C. já indicam a importância da organização e da administração da
burocracia pública no Antigo Egito. Na China, as parábolas de Confúcio suge-
rem práticas para a boa administração pública.
A história da Administração iniciou-se num tempo muito remoto, mais pre-
cisamente no ano 5000 a.C., na Suméria, quando os antigos sumerianos pro-
curavam melhorar a maneira de resolver seus problemas práticos, exercitando
assim a arte de administrar.
Depois, no Egito, Ptolomeu dimensionou um sistema econômico planejado
que não poderia ter-se operacionalizado sem uma administração pública siste-
mática e organizada.

CURIOSIDADE
Os egípcios criaram e aplicaram os princípios de administração em projetos arquitetônicos
de engenharia, além das pirâmides, como canais de irrigação, edificações de grande porte,
entre outros. Contribuíram com princípios de planejamento das atividades, criação da figura
do comandante e conselheiro dos trabalhos, organização do trabalho em grupos, divisão de
atividades e responsabilidades e a técnica da descrição detalhada de tarefas. A construção
das pirâmides do Egito, na qual foram envolvidos 100.000 trabalhadores durante 20 anos,
atesta a competência de homens, que sabiam não só como elaborar projetos, mas, também,
tínham habilidade de mobilizar e gerenciar recursos humanos. Em assuntos de negócios e
governamentais, os egípcios também demonstraram competência; seus documentos possuí-
am registros de quem, quando e por quem haviam sido emitidos, e por quem e quando foram
recebidos, o que demonstra alto grau de eficiência e organização.

1 A palavra administração vem do latim ad (direção, tendência para) e minister (subordinação ou obediência) e
significa aquele que realiza uma função abaixo do comando de outrem, isto é, aquele que presta um serviço a outro.

12 • capítulo 1
Os hebreus, através da Bíblia, demonstraram princípios básicos de adminis-
tração. O êxodo de Moisés, por exemplo, é uma grande demonstração de com-
petência gerencial, pois foi utilizado como política de descentralização de deci-
sões com as primeiras ideias de núcleos organizacionais. Os 10 Mandamentos,
por sua vez, trazem regras de conduta e comportamento que preservam a possi-
bilitam a vida e a solidariedade do grupo.
Os babilônios deixaram à humanidade poderoso legado com o Código de
Hamurábi (governador da Babilônia - 2000 a 1700 a.C.). Tratava-se de um tex-
to de leis orientadoras do povo no princípio do trabalho; criaram o princípio
da paga mínima, os primeiros modelos de contratos de trabalho e recibos de
pagamento que permitiam as transações comerciais da época. O Código de
Hamurábi cobre assuntos sobre vendas, empréstimos, contratos, sociedades,
acordos e notas promissórias.

CURIOSIDADE
Conselhos de Jetro
A época é século XIV antes de Cristo. Liderados por Moisés, cerca de 600.000 hebreus
saíram do Egito e estão indo em direção à Terra Prometida já faz algum tempo. Ontem, houve
uma batalha contra os amalequitas. Moisés está muito cansado, porque teve que ficar o tem-
po todo em cima de uma colina, segurando o cajado no alto, para que os hebreus vencessem
a batalha. Ainda bem que Aarão e Hur estavam lá para ajudá-lo, segurando seus braços.
Hoje, Moisés está recebendo a visita de Jetro, seu sogro. Não tem muito tempo para falar
com ele, pois fica de manhã até tarde recebendo pessoas do povo, que ficam numa fila apa-
rentemente interminável. Aliás Moisés quase não tem tempo para mais nada. Jetro observa
que Moisés resolve todos os problemas que lhe são trazidos pelas pessoas.
Bem no final da tarde, Jetro leva Moisés até o alto da Colina, onde podem conversar sem
ser incomodados.
– Moisés - pergunta Jetro -, por que você tem que ficar julgando pessoalmente todos
esses casos que lhe são trazidos?
– Bem, Jetro, as pessoas querem ouvir de mim a interpretação da vontade das Leis de
Deus.
– Desse jeito, você fica sem tempo para cuidar das questões realmente importantes.
Por que você não manda outros fazerem esse serviço? Já pensou se todo mundo quiser
falar com você?
– Ora, Jetro, esse é o meu serviço. E depois, já imaginou se outros fizerem algo errado?

capítulo 1 • 13
– Isso não deve preocupá-lo, Moisés. Escolha pessoas competentes e crie um sistema
hierárquico. Forme grupos de 10 assistentes para falar diretamente com o povo. Para cada
10 grupos de 10 assistentes, defina um feitor. Ele será responsável pela análise dos casos
que os assistentes não souberam resolver. Para cada grupo de 10 feitores, indique um
supervisor. Esse será o chefe de 100. O supervisor resolverá os problemas que os feitores
não souberem resolver. Finalmente, para cada grupo de 10 supervisores, indique um chefe,
o chefe de 1.000. Ele resolverá os problemas que os supervisores não souberam resolver.
Assim, você só terá que se ocupar com os problemas que os chefes de 1.000 não conse-
guirem solucionar. Isso vai deixar tempo para que você cuide do que é realmente o trabalho
de um líder.
– Jetro, quem diz que eles serão capazes de resolver problemas?
– Moisés, treine esse pessoal. Ensine-lhes a lei e dê-lhes as diretrizes para aplicá-las.
Faça-os responsáveis. Avise a todos que, de agora em diante, eles deverão ser procurados.
Aprenda a delegar, Moisés.
– E como fazer a escolha?
– Procure alguns que você sabe que são mais competentes. Peça ao povo que eleja
outros e forme a equipe dessa maneira.
– Jetro, seguirei seu conselho, mas ainda tenho receios. E se eles não aceitarem essa
responsabilidade?
– Ora, Moisés, você conversa com Deus de vez em quando, ou pelo menos é o que você
diz. Ele saberá aconselhá-lo melhor.

No dia seguinte, Jetro, o primeiro consultor de executivos da história, voltou para casa.

Fonte: Maximiano (2007)

Dos romanos, herdamos os princípios do sistema semi-industrial de pro-


dução, o sistema de manufatura armamentista, a produção de cerâmica para o
mercado mundial, a indústria têxtil para exportação, a criação do sistema rodo-
viário para distribuição de bens. Destacaram-se como grandes administradores,
tendo relevante papel nas áreas de direito, administração e estratégias de guerra.
O Império Romano e a Igreja Católica são exemplos de administração e compe-
tência desse povo. O Estado romano regulava todos os aspectos da vida econô-
mica: determinava as tarefas comerciais, armazenagem, regulava corporações e
usava estes rendimentos para a guerra. Era um Estado autoritário e partia de dois

14 • capítulo 1
conceitos fundamentais: disciplina e funcionalidade; por isso, a grande contri-
buição romana está afeta às leis, à ação governamental, manifesta no conceito
de ordem. O código do direito romano ainda é modelo para todas as civilizações

.
REFLEXÃO
Por volta de 4.000 a.C. a revolução agrícola evoluiu para a revolução urbana numa parte
do que viria a ser o Oriente Médio, enquanto a Ásia e a América estavam virtualmente na
pré-história. No mesmo período, a Europa avançava da pré-história para a revolução agrícola.
Com a revolução urbana, surgiram as cidades e os estados. Essas primeiras organizações
formais demandaram a criação de práticas administrativas que se estabilizaram e evoluíram
nos séculos seguintes (MAXIMIANO, 2005).

Os gregos, cuja grande contribuição à humanidade se deu nas artes, na li-


teratura, na dramaturgia, na língua e na filosofia, copiaram modelos de admi-
nistração, direito e disciplina dos romanos. Isso porque sua filosofia de vida
era ser contra a atividade econômica, considerada indigna para o ideal grego
de homem. Assim como o trabalho manual (suar, cansar-se era impróprio de
um nobre grego!), o comércio era inconcebível para a aristocracia e os filósofos
gregos. Essas atividades eram consideradas inferiores e, por isso, eram realiza-
das por escravos. Mas, foram pródigos em deixar exemplos de liderança, luta,
poder, hierarquia, todos aplicados à administração.
A Grécia colaborou com vários conceitos da administração:

• Democracia: administração participativa e direta.


• Ética: deveria ser garantida pelos executivos.
• Método: investigação e análise deveriam ser os principais instrumentos
para desenvolver conhecimento.
• Estratégia: organizar os meios para chegar aos fins.
• Qualidade: a busca incessante do ideal.

A China foi sempre uma nação de homens sábios e proporcionou ao mundo


grandes lições de administração. A Constituição CHOW WU KING (fundador
da dinastia CHOW), escrita entre 1122 e 1116 a.C. pelo seu fundador, foi um
exemplo de competência administrativa. Continha a relação de todo o quadro

capítulo 1 • 15
de pessoal do mais alto escalão até o mais baixo serviçal que trabalhava para o
Império, com nome, função e descrição detalhada de tarefas, deveres e respon-
sabilidades de cada um. Chow escreveu: A arte da guerra de Sun Tzu, obra que
tem inspirado a administração ao longo dos séculos. Mencius, 129 a.C. deixou
sua contribuição através da elaboração de modelos de administração (proces-
sos) e seleção científica de trabalhadores (habilidade, traços de personalidade,
conhecimento, experiência).
O quadro a seguir, traz estas e outras contribuições para a evolução do pen-
samento administrativo através dos tempos.

CRONOLOGIA DOS PRINCIPAIS EVENTOS DOS PRIMÓRDIOS DA ADMINISTRAÇÃO


Anos Autores Eventos
4000 a.C. Egípcios Necessidade de Planejar, Organizar e Controlar
2600 a.C. Egípcios Descentralização da organização
Necessidade de ordens escritas. Uso de consul-
2000 a.C. Egípcios
torias.
1800 a.C. Hamurabi (Babilônia) Uso de controle escrito e documental.
1491 a.C. Hebreus Conceito de Organização. Princípio escolar.
600 a.C. Nabucodonosor (Babilônia) Controle de produção. Incentivos salariais.
500 a.C. Mencius (China) Necessidade de Sistemas e padrões
Sócrates (Grécia) Universidade da administração
400 a.C.
Platão (Grécia) Enunciado do princípio da especialização.
175 a.C. Cato (Roma) Uso de descrição de funções
284 Dioclécio (Roma) Delegação da autoridade
1436 Arsenal de Veneza Contabilidade de custos, inventários, padronização
1525 Niccoló Machiavelli (Itália) Princípio do consenso, lideranças, táticas políticas
Teoria da fonte de autoridade, automação, espe-
1767 Sir James Stuart
cialização
Princípio de especialização dos operários, conceito
1776 Adam Smith
de controle
Método científico, controle de qualidade, amplitude
1799 Eli Whitney
de comando
Padronização da produção, especializações, méto-
1800 Mathew Boulton
dos de trabalho
Práticas de RH, Treinamento para operários, casas
1810 Robert Owen
para operários
Abordagem científica, divisão do trabalho, estudo
1832 Charles babbage
do tempo
1856 Daniel C. McCallum Organograma, administração em ferrovias
1886 Henry Matcalfe Arte e Ciência da administração
1900 Frederick W. Taylor Princípios da administração científica

Fonte: Chiavenato (2006)

Apontam-se, ainda, outras raízes históricas. As instituições otomanas, pela


forma como eram administrados seus grandes feudos. Os prelados católicos,

16 • capítulo 1
já na Idade Média, destacando-se como administradores natos. A Alemanha e a
Áustria, de 1550 a 1700, através do aparecimento de um grupo de professores e
administradores públicos chamados os fiscalistas ou cameralistas. Os mercan-
tilistas ou fisiocratas franceses, que valorizavam a riqueza física e o Estado, pois
ao lado das reformas fiscais preconizavam uma administração sistemática, es-
pecialmente no setor público. Na evolução histórica da administração, duas ins-
tituições se destacaram: a Igreja Católica Romana e as Organizações Militares.
Veremos essas e outras influências na Administração que conhecemos hoje.

Influências Históricas na Administração

→ Influência dos filósofos


Desde os tempos da Antiguidade, a administração recebeu influência da
filosofia. Antes de Cristo, o filósofo grego Sócrates (470 a.C. 399 a.C.), em sua
discussão com Nicomaquis, expõe o seu ponto de vista sobre a administração:
“Sobre qualquer coisa que um homem possa presidir, ele será, se souber do
que precisa e se for capaz de provê-lo, um bom presidente, quer tenha a dire-
ção de um coro, uma família, uma cidade ou um exército. Não é também uma
tarefa punir os maus e honrar os bons? Portanto, Nicomaquis, não desprezeis
homens hábeis em administrar seus haveres...”
Platão (429 a.C. 347 a.C.) Também filósofo grego, discípulo de Sócrates, pre-
ocupou-se profundamente com os problemas políticos inerentes ao desenvol-
vimento social e cultural do povo grego. Em sua obra, A República, expõe o seu
ponto de vista sobre a forma democrática de governo e de administração dos
negócios públicos.
Aristóteles, também filósofo grego, discípulo de Platão, do qual bastan-
te divergiu, deu enorme impulso à Filosofia, principalmente à Cosmologia,
Metafísica, Ciências Naturais, abrindo as perspectivas do conhecimento huma-
no na sua época. Foi o criador da Lógica. No seu livro política, estuda a organi-
zação do Estado e distingue três formas de Administração pública: Monarquia,
Aristocracia e democracia.
Francis Bacon (1561-1626), filósofo e estadista inglês, considerado o funda-
dor da Lógica Moderna, baseada no método experimental e indutivo, mostra a
preocupação de separar experimentalmente o que é essencial do que é aciden-
tal ou acessório. Antecipou-se ao princípio conhecido em Administração como
“princípio da prevalência do principal sobre o acessório”.

capítulo 1 • 17
René Descartes (1596-1650), um filósofo, matemático e físico francês, con-
siderado o fundador da filosofia moderna, criou as coordenadas cartesianas e
deu impulso à Matemática e à Geometria da época. Em seu livro O Discurso do
Método, que descreve os preceitos do seu método filosófico, hoje denominado
de método cartesiano, serviu de fundamento para a tradição científica do oci-
dente, cujos princípios são:

1. Princípio da dúvida sistemática ou da evidencia: Consiste em não acei-


tar como verdadeira coisa alguma enquanto não se souber com evidência aqui-
lo que é realmente verdadeiro.
2. Princípio da Análise ou Decomposição: Consiste em dividir e decom-
por cada dificuldade ou problema em tantas partes quantas sejam possíveis e
necessárias à sua adequação e solução e resolver cada uma separadamente.
3. Princípio da Síntese ou da Composição: Consiste em conduzir orde-
nadamente nossos pensamentos e nossos pensamentos e nosso raciocínio, co-
meçando pelos objetivos e assuntos mais fáceis e simples de se conhecer, para
passarmos gradativamente aos mais difíceis.
4. Princípio da Enumeração ou da Verificação: Consiste em fazer recon-
tagens, verificações e revisões tão gerais que se fique seguro de nada haver omi-
tido ou deixado à parte.

Veremos mais tarde que vários princípios da moderna administração, como


os da divisão do trabalho, da ordem, do controle etc, estão basicamente conti-
dos nos princípios cartesianos.
Thomas Hobbes (1588-1679) Filosofo político inglês, tinha uma visão pessi-
mista da humanidade. Ele acreditava que, na ausência do Estado, os indivíduos
tendem a viver em guerra permanente para a obtenção de meios de subsistên-
cia. Desenvolveu a teoria da origem contratualista do Estado, segundo o qual o
homem primitivo, vivendo em estado selvagem, passou lentamente à vida so-
cial, através de um pacto entre todos. O homem primitivo era um ser antissocial
por definição, vivendo em guerra permanente com o próximo. O Estado viria a
ser, portanto, a inevitável resultante da imposição da ordem. No livro Leviatã,
assinala que o povo renuncia a seus direitos naturais em favor de um governo
que impõe a Ordem, organiza a vida social e garante a paz.
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) desenvolveu a teoria do Contrato Social:
O Estado surge de um acordo de vontades. Rousseau assevera que o homem é
por natureza bom e afável e a vida em sociedade o deturpa.

18 • capítulo 1
Kal Marx (1818-1883) e seu parceiro Friedrich Engels (1820-1895) propõem
uma teoria da origem econômica do Estado. No Manifesto Comunista, afir-
mam que a história da humanidade é uma luta de classes. Homens livres e es-
cravos, patrícios e plebeus, nobres e servos, mestres e artesãos, exploradores e
explorados. O surgimento do poder político e do Estado nada mais é do que o
fruto da dominação econômica do homem pelo homem.

CURIOSIDADE
Em 1867, Marx publica O Capital e mais adiante suas teorias a respeito da mais-valia
com base na teoria do valor-trabalho. Assim, com Adam Smith e David Ricardo, Marx consi-
dera que o valor de toda mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho socialmente
necessário para produzi-la. Como a força de trabalho é uma mercadoria cujo valor é deter-
minado pelos meios de vida necessários à subsistência do trabalhador, se ele trabalha além
de um determinado número de horas, estará produzindo não apenas o valor correspondente
ao de sua força de trabalho, mas também um valor a mais, denominado mais-valia. É dessa
fonte que são tirados os possíveis lucros dos capitalistas. A influência de Marx foi enorme,
tanto por sua obra, como por sua intensa militância política. (CHIAVENATO, 2000).
Fonte: https://administer33.wordpress.com/2012/05/22/o-que-e-administracao/

Em uma época em que a administração não era conhecida, esses filósofos já


conseguiram criar o que hoje é considerado a base da administração moderna.
Com o surgimento da Filosofia Moderna, deixa a Administração de receber
contribuições e influências, uma vez que o campo de estudo filosófico afasta-se
enormemente dos problemas organizacionais.

→ Influência da Igreja Católica


Através dos séculos, as normas administrativas e os princípios de organiza-
ção pública foram-se transferindo das instituições dos Estados para as institui-
ções da nascente Igreja Católica e para as organizações militares.
A Igreja Católica Romana pode ser considerada a organização formal mais
eficiente da civilização ocidental. Através dos séculos vem mostrando e provan-
do a força de atração de seus objetivos, a eficácia de suas técnicas organizacio-
nais e administrativas, espalhando-se por todo o mundo e exercendo influên-
cia, inclusive sobre os comportamentos das pessoas, seus fiéis.

capítulo 1 • 19
Ao longo dos séculos, a Igreja Católica foi estruturando sua organização,
sua hierarquia de autoridade, seu estado-maior (assessoria) e sua coordenação
funcional para assegurar integração. A organização hierárquica da Igreja é tão
simples e eficiente que sua enorme organização mundial pode operar satisfato-
riamente sob o comando de uma só cabeça executiva: o Papa, cuja autoridade co-
ordenada lhe foi delegada de forma mediata por uma autoridade divina superior.
De qualquer forma, a estrutura da organização eclesiástica serviu de mode-
lo para muitas organizações que, ávidas de experiências bem-sucedidas, passa-
ram a incorporar uma infinidade de princípios e normas administrativas utili-
zadas na Igreja Católica.

→ Influência do Exército
As Organizações Militares evoluíram das displicentes ordens dos cavaleiros
medievais e dos exércitos mercenários dos séculos XVII e XVIII até os tempos
modernos com uma hierarquia de poder rígida e adoção de princípios e práticas
administrativas comuns a todas as empresas da atualidade. A história demons-
tra que a maioria dos empreendimentos militares, sociais, políticos, econômicos
e religiosos teve uma estrutura piramidal, embora de forma não muito regular.
Essa pirâmide retrata uma estrutura hierárquica, concentrando no vértice as fun-
ções de poder e de decisão. Portanto, a teoria da estrutura hierárquica não é nova.
A organização militar, assim, influenciou enormemente o desenvolvimento das
teorias da Administração ao longo do tempo. Suas principais características são:
A organização linear, por exemplo, tem suas origens na organização militar
dos exércitos da Antiguidade e da época medieval.
O princípio da unidade de comando (pelo qual cada subordinado só pode
ter um superior) – fundamental para a função de direção.
A escala hierárquica, ou seja, a escala de níveis de comando de acordo com
o grau de autoridade e responsabilidade correspondente é tipicamente um as-
pecto da organização militar utilizado em outras organizações.
O conceito de hierarquia dentro do exército é provavelmente tão antigo
quanto a própria guerra, pois a necessidade de um estado-maior sempre exis-
tiu para o exército. Todavia, o estado-maior formal como um quartel-general
somente apareceu em 1665, com a Marca de Brandenburgo, precursor do exér-
cito prussiano. A evolução do princípio de assessoria e a formação de um esta-
do-maior geral ocorreu posteriormente, na Prússia, com o Imperador Frederico
II, o Grande (1712-1786).

20 • capítulo 1
Outra contribuição da organização é o princípio da direção, através do qual
todo soldado deve saber perfeitamente o que se espera dele e aquilo que ele
deve fazer.
Mesmo Napoleão, o general mais autocrata da história militar, nunca deu
uma ordem sem explicar o seu objetivo e certificar-se de que haviam compre-
endido corretamente, pois estava convencido de que a obediência cega jamais
leva a uma execução inteligente de qualquer coisa. Para aumentar a eficiência
de seu exército, criou um estado-maior (staff) para assessorar o comando (li-
nha) militar. Os oficiais de acessória (staff) cuidavam do planejamento e os de
linha se incumbiam da execução das operações de guerra.
Outra contribuição da organização militar é o princípio de direção, que pre-
ceitua que todo soldado deve saber perfeitamente o que se espera dele e aquilo
que ele deve fazer. No início do século XIX, Karl von Clausewitz (1780-1831), ge-
neral prussiano, escreveu um Tratado sobre a Guerra e os Princípios de Guerra,
sugerindo como administrar os exércitos em períodos de guerra. Foi o grande
inspirador de muitos teóricos da Administração, que posteriormente se basea-
ram na organização e estratégia militares para adaptá-las à organização e estra-
tégia industriais. Clausewitz considerava a disciplina como um requisito básico
para uma boa organização. Para ele, toda organização requer um cuidadoso pla-
nejamento, no qual a decisões devem ser científicas, e não simplesmente intuiti-
vas. As decisões devem basear-se na probabilidade, e não apenas na necessidade
lógica. O administrador deve aceitar a incerteza e planejar de maneira a poder
minimizar essa incerteza.

→ Influência dos Economistas Liberais


A partir do século XVII desenvolveu-se uma variedade de teorias econômi-
cas centradas na explicação dos fenômenos empresariais (microeconômicos)
e baseados em dados empíricos. Ao término do século XVIII, os economistas
clássicos liberais conseguem aceitação de suas teorias.
As ideias liberais decorrem do direito natural: a ordem natural é a ordem
mais perfeita. Os direitos econômicos humanos são inalienáveis e existe uma
harmonia preestabelecida em toda a coletividade de indivíduos. Segundo o li-
beralismo, a vida econômica deve afastar-se da influência estatal, pois o traba-
lho segue os princípios econômicos e a mão de obra está sujeita às mesmas leis
da economia que regem o mercado de matérias-primas ou comércio interna-
cional. A livre concorrência é o postulado principal do liberalismo econômico.

capítulo 1 • 21
Adam Smith (1723-1790), é o fundador da economia clássica, cuja ideia cen-
tral é a competição. Embora os indivíduos ajam apenas em proveito próprio, os
mercados em que vigora a competição funcionam espontaneamente, de modo
a garantir (Smith chamava de a mão de obra invisível que governa o mercado)
a alocação mais eficiente dos recursos de produção, sem que haja excessos de
lucros. Por essa razão, o papel econômico do governo é a intervenção na eco-
nomia quando o mercado não existe, ou quando não ocorre competição livre.
Visualizava o princípio da especialização dos operários em uma manufatura de
agulhas e já enfatizava a necessidade de racionalizar a produção. O princípio da
especialização e o princípio da divisão do trabalho aparecem em referências em
seu livro Da Riqueza das Nações. Adam Smith reforçou bastante a importância
do planejamento e da organização dentro das funções da Administração.
James Mill (1773-1836), outro economista liberal, sugeria em seu livro
Elementos de Economia Política, publicado em 1826, uma série de medidas
relacionadas com os estudos de tempos e movimentos como meio de obter in-
cremento da produção nas industrias da época.
David Ricardo (1772-1823), um economista inglês, que publicou seu livro
Princípios de Economia Política e Tributação, no qual aborda trabalho, capital,
salário, renda, produção, preços e mercados.
O liberalismo econômico corresponde ao período de desenvolvimento da
economia capitalista baseada no individualismo e no jogo das leis econômicas
naturais e na livre concorrência. A acumulação crescente de capitais gerou pro-
fundos desequilíbrios pela dificuldade de assegurar imobilizações com renda
compatível para o funcionamento do sistema.

→ Influências dos Pioneiros e Empreendedores


O Século XIX assistiu uma grande introdução de inovações e mudanças do
cenário empresarial. A visão e a liderança dos Pioneiros e Empreendedores tais
como Rockfeller, Swift, Duke, Westinghouse, Daimler e Benz e outros represen-
taram um exemplo de inovação e de desenvolvimento de novos negócios para
tantos outros empreendedores da época.
O mundo estava mudando, e as empresas também. As condições para o apare-
cimento da teoria administrativa estavam se consolidando. Nos Estados Unidos,
ao redor de 1820, o maior negócio empresarial foram as estradas de ferro. Foi a
partir das estradas de ferro que as ações de investimento se tornaram populares.
As ferrovias permitiram o desbravamento do território e provocaram o fenômeno

22 • capítulo 1
da urbanização, que criou novas necessidades para a população, o que se traduz
em um rápido crescimento das empresas voltadas para o consumo direto. Antes
de 1850, poucas empresas tinham uma estrutura administrativa que exigisse os
serviços de um administrador em tempo integral, pois as empresas industriais
eram pequenas. As empresas da época faziam parte de um contexto predominan-
temente rural, que não conhecia a administração de empresas.
Em 1871, surgiram os primitivos impérios industriais, aglomerados de empre-
sas que se tornaram grandes demais para serem dirigidos pelos pequenos grupos
familiares. Logo apareceram os agentes profissionais, os primeiros organizadores
que se preocupavam mais com a fábrica do que com vendas ou compras. Até essa
época, os empresários achavam melhor ampliar sua produção do que organizar
uma rede de distribuição e vendas. Todos esses fatores iriam completar as condi-
ções propícias para a busca de bases científicas para a melhoria da prática empre-
sarial e o surgimento da teoria administrativa. (CHIAVENATO, 2000)

→ Influência da Revolução Industrial


Teve seu início na Inglaterra, quando, em 1776, James Watt criou um me-
canismo que permitiria a máquinas, trens e navios potencializarem seus re-
cursos, por meio do vapor produzido, o qual movimentava as engrenagens e,
então, poderia ser aplicada nas mais diversas finalidades. Sua posterior aplica-
ção à produção gerou uma nova concepção do trabalho e modificou completa-
mente a estrutura social e comercial da época, provocando profundas e rápidas
mudanças de ordem econômica, política e social que, num lapso de aproxima-
damente um século, foram maiores do que as mudanças já ocorridas no milê-
nio anterior. Esta criação foi mais que uma evolução. Causou uma ruptura no
modelo de produção da época, sendo este invento o marco inicial da revolução
industrial. Em consequência desta revolução, os problemas administrativos
também cresceram na mesma proporção em que as indústrias se agigantavam.
Para Chiavenato (2004), a revolução industrial pode ser dividida em duas
fases distintas:

1a Revolução Industrial – 1780 a 1860


→ A matéria-prima básica da indústria era o ferro, e a fonte de energia, o carvão.

• Mecanização da agricultura e da indústria


• Aplicação da força motriz à indústria

capítulo 1 • 23
• Desenvolvimento do sistema fabril
• Melhoria nos transportes e na comunicação.

CURIOSIDADE
O sistema fabril
Do século XVI até meados do século XVIII, o mundo era essencialmente agrícola; a
economia se resumia ao cultivo do solo e à produção de alimentos para consumo próprio e
familiar. Em plena Idade Média, e os proprietários de terras, em geral religiosos ou políticos,
contavam para o cultivo, plantio e sustento de suas propriedades com a mão de obra barata
e escrava do povo. A atividade industrial era incipiente; restringia-se apenas a alguns poucos
e rebeldes artesãos, que fugiam das propriedades e do domínio dos senhores feudais para
exercer uma atividade econômica independente. Esses artesãos se reuniam em locais fora
das propriedades feudais, nos quais montavam o seu próprio negócio, criavam família e co-
mercializavam sua mercadoria. Esses aglomerados de “incorformados” foram despontando e
crescendo rapidamente, ficando conhecidos como “cidades”. Esse crescimento foi incentiva-
do pelo crescimento da atividade econômica e pelo declínio do poder feudal do século XVII.
A organização industrial das “cidades” consistia, inicialmente, de um sistema domiciliar.
O trabalho era feito na casa de cada trabalhador, em áreas rurais, e entregue a um comer-
ciante independente que cuidava da sua comercialização. A ação de comercialização por
alguém não pertencente ao núcleo de produção gerou os princípios da intermediação. Esse
comerciante, desde logo, aprendeu que não precisava produzir; ele ganharia muito mais de-
senvolvendo e aperfeiçoando técnicas e habilidades para vender um produto, ao invés de fa-
bricá-lo. Para isso, ele teria que encomendar o produto a um “mestre” (artesão que detinha a
habilidade maior na fabricação) e responsabilizar-se pela sua venda. Ao mestre cabia a tarefa
de aglutinar outros artesãos para a tarefa encomendada, dividindo e organizando o trabalho,
determinando as diretrizes da produção e remunerando-os por peça trabalhada.

2a Revolução Industrial – 1860 a 1914


→ A matéria-prima básica era o aço, e a fonte de energia passou a ser a ele-
tricidade e os derivados do petróleo.

• O ferro é substituído pelo aço como matéria-prima base da indústria


• O vapor é substituído pela eletricidade como fonte de energia para a indústria.
• O desenvolvimento de maquinaria automática e um alto grau de

24 • capítulo 1
especialização do trabalho.
• O crescente domínio da indústria pela ciência.
• Transformações radicais nos transportes e comunicações.
• O desenvolvimento de novas formas de organização capitalista:
• A dominação da indústria pelas inversões bancárias e instituições fi-
nanceiras e de crédito, como foi o caso da formação da United States Steel
Corporation, em 1901, pela J.P. Morgan & Co.
• A formação de imensas acumulações de capital, provenientes de trus-
tes e fusões de empresas.
• A separação entre a propriedade particular e a direção das empresas,
• O desenvolvimento das holding companies.

• A expansão da industrialização até a Europa Central e Oriental, e até o


Extremo Oriente.

Observando historicamente a divisão da Revolução Industrial, podemos enten-


der que as matérias-primas foram importantes para o crescimento das empresas,
pois a substituição do ferro e do carvão por aço e eletricidade possibilitou grandes
avanços, os quais são demonstrados por Chiavenato (2004) da seguinte forma:
As fases da história das empresas

Da antiguidade até a criação da máquina


1ª Fase artesanal a vapor, por James Watt em meados de Até 1780
1776.
Fase de transição É o período em que as pequenas oficinas
2ª do artesanato para a se preparam para a introdução da tecno- 1780-1860
industrialização logia a vapor
É o período em que as indústrias crescem
Fase do desenvolvi-
3ª mento industrial
e se desenvolvem, ganhando poder ante 1860-1914
o governo.
Maturidade das indústrias que se
Fase do gigantismo
4ª industrial
firmaram como a grande força motriz da 1914-1945
sociedade da época.
Período em que as nações se destacam
5ª Fase moderna por deter o conhecimento industrial e de 1945-1980
surgimento de novos materiais básicos.
Surge uma nova revolução, agora a da
6ª Fase da globalização informação como diferencial competitivo Após 1980
das organizações.

Fonte: Adaptado de Chiavenato (2004)

capítulo 1 • 25
Observando historicamente a divisão da revolução industrial, podemos en-
tender que as matérias-primas foram importantes para o crescimento das em-
presas, pois a substituição do ferro e carvão por aço e eletricidade possibilitou
grandes avanços, os quais são demonstrados por Chiavenato (2004)

O fenômeno que provocou o aparecimento da empresa e da moderna admi-


nistração ocorreu no final do século XVIII e se estendeu ao longo do século XIX
e meados do século XX (MAXIMIANO, 2007). O próximo item traz mais detalhes
desta época que trouxe grandes mudanças ao pensamento administrativo.

1.2 A Revolução Industrial e Seus Impactos


na Evolução da Administração

Os sistemas de produção existentes até 1700 eram conhecidos como caseiros ou


artesanais. Os artesãos orientavam aprendizes na execução do trabalho manual
de produtos. A grande virada ocorreu com a Revolução Industrial, durante o sécu-
lo XVIII, na Inglaterra, com a invenção da máquina a vapor, por James Watt, em
1776, como já vimos, e transformou-se na grande potência econômica do século.
A aplicação da máquina a vapor no processo de produção provocou um enorme
surto de industrialização, que se estendeu rapidamente por toda a Europa e Es-
tados Unidos. As oficinas artesanais foram substituídas por fábricas e, dessa for-
ma, o centro dos negócios foi transferido da agricultura para a indústria.
O rápido e intenso fenômeno da maquinização das oficinas provocou fu-
sões de pequenas oficinas, que passaram a integrar outras maiores e que, aos
poucos, foram crescendo e transformando em fábricas. O operário foi substi-
tuído pela máquina nas tarefas em que se podia automatizar e acelerar pela
repetição. A mecanização do trabalho levou à divisão do trabalho e à simplifi-
cação das operações, substituindo os ofícios tradicionais por tarefas semi-au-
tomatizadas e repetitivas. A unidade doméstica de produção desapareceu com
a súbita e violenta competição, surgindo um enorme contingente de operários
nas fábricas trabalhando juntos durantes jornadas diárias de trabalho que se
estendiam por 12 ou 13 horas em condições perigosas e insalubres. O cresci-
mento industrial era improvisado e baseado no empirismo. Ao mesmo tempo
em que intensa migração de mão de obra se deslocava dos campos agrícolas

26 • capítulo 1
para os centros industriais, surgiu um surto acelerado e desorganizado de urba-
nização. Ao mesmo tempo em que o capitalismo se solidificou, cresceu o tama-
nho de uma nova classe social: o proletariado. As tensões entre a classe operária
e os proprietários de indústria não tardaram a aparecer.
Com a nova tecnologia dos processos de produção, de construção e funcio-
namento das máquinas, com a crescente legislação destinada a defender e pro-
teger a saúde e a integridade física do trabalhador, a administração e a gerência
das empresas industriais passaram a ser a preocupação maior dos proprietá-
rios. A prática foi lentamente ajudando a selecionar ideias e métodos empíri-
cos. O desafio agora era dirigir batalhões de operários da nova classe proletária.
A preocupação dos empresários se fixava na melhoria dos aspectos mecânicos e
tecnológicos da produção, com o objetivo de produzir quantidades maiores de
produtos melhores e de menor custo. A gestão do pessoal e a coordenação do
esforço produtivo eram aspetos de pouca ou nenhuma importância.
Assi,m a Revolução Industrial, embora tenha provocado uma profunda modifi-
cação na estrutura empresarial da época, não chegou a influenciar diretamente os
princípios de administração das empresas então utilizadas. Os dirigentes de em-
presas trataram de cuidar como podiam ou como sabiam das demandas de uma
economia em rápida expansão. Alguns empresários baseavam suas decisões tendo
por modelos as organizações militares ou eclesiásticas nos séculos anteriores.

REFLEXÃO
Levando em conta que o termo “tecnologia”, é o avanço ou o aprimoramento de uma “técnica”.

As principais tendências administrativas criadas e fomentadas pela


Revolução Industrial foram:

• Substituição do artesão pelo operário especializado.


• Surgimento das fábricas.
• Crescimento das cidades, originando novas necessidades de administra-
ção pública.
• Surgimento dos sindicatos.
• Administração, que se consolida como área do conhecimento.
• Primeiras experiências práticas com a Moderna Administração de Empresas.

capítulo 1 • 27
CURIOSIDADE
A Revolução Industrial desenvolveu-se em duas fases distintas: a primeira fase, de 1780 a
1860, foi a revolução do carvão, como principal fonte de energia, e do ferro, como principal
matéria-prima. A segunda fase, de 1860 a 1914, foi a revolução da eletricidade e derivados
do petróleo, como as novas fontes de energia, e do aço, como a nova matéria-prima.
Adam Smith, em 1776, avaliava os benefícios econômicos da divisão do trabalho, também
chamada especialização de mão de obra, que dividia a produção em tarefas menores, atribuídas
aos trabalhadores ao longo das linhas de produção. Dessa forma, as fábricas do final dos anos de
1700 desenvolveram não somente a maquinaria de produção, mas também maneiras de planejar
e controlar o trabalho. As técnicas administrativas predominantes no século XX foram desen-
volvidas em sua maioria nos Estados Unidos; o Pós-Guerra civil preparou o cenário para uma
nova era industrial do país com grande expansão da capacidade produtiva. Nessa fase o capital
financeiro passou a constituir a principal fonte de riqueza. Essa situação levou à separação entre
o capitalista e o empregador, com os administradores tornando-se empregados assalariados.
A classe operária que nasceu com a Revolução Industrial estabeleceu uma relação de conflito
com os empregadores. Os trabalhadores recém-saídos do campo, eram despreparados, inábeis e
indisciplinados. As práticas administrativas no início da Revolução Industrial eram rudimentares: a
qualidade dos produtos era variável e precária; cabia ao comprador inspecionar o produto; paga-
vam-se baixos salários; tinha-se um forte controle sobre as atividades da mão de obra.

A Revolução Industrial exerceu influência fundamental para o surgimento


da ciência da administração. Ela possibilitou a transformação da economia, até
então essencialmente agrária, para a economia industrial com sistemas ope-
racionais mecanizados, refletindo em todas as áreas da vida humana, já que
representou, também, o deslocamento do homem do campo para as cidades,
para as indústrias. Seus conhecimentos se difundiram para os países da Europa
continental, transformando a vida do homem ocidental e seu relacionamento
com o resto do mundo. Assim, nas fábricas, havia, de um lado, o empregador,
que fornecia o equipamento e supervisionava o seu uso, e, de outro, o trabalha-
dor, reduzido à condição de operário. Nasce, daí, a necessidade de disciplinar e
organizar tanto a relação patrão x empregado, quanto os processos do trabalho.
Ao final desse período, o mundo já não era mais o mesmo. E a moderna
administração surgiu em resposta a duas consequências provocadas pela
Revolução Industrial, descritas a seguir:

28 • capítulo 1
• Crescimento acelerado e desorganizado das empresas que passaram a exigir
uma administração científica capaz de substituir o empirismo e a improvização;
• Necessidade de maior eficiência e produtividade das empresas, para fazer
face à intensa concorrência e competição no mercado.

CURIOSIDADE
Fundição SOHO
Fundição Soho, é o nome da empresa constituída para fabricar a máquina a vapor de
James Watt. Nessa empresa, herdada pelos filhos dos fundadores (James Watt e Matthew
Boulton), podia-se observar, a partir de 1800, o pioneirismo de conceitos que se tornariam
universais nos dois séculos seguintes.
• Padronização do funcionamento das máquinas, objetivando equilibrar o ritmo de fabricação.
• Fabricação de peças intercambiáveis.
• Detalhado planejamento das operações e do local de trabalho, visando alcançar otimização
do espaço físico e alto grau de precisão na fabricação de produtos, com redução do esforço
humano.
• Planejamento e controle da produção baseados em estimativas da procura por máquinas
→ previsão de demanda.
• Cronometragem e estudo de tempos e movimentos.
• Pagamento de incentivos salariais proporcionais à produção de peças.
• Entendimento de que o principal recurso da empresa são as pessoas.

Os desafios da Revolução Industrial alteraram a realidade na época, e a socie-


dade então começou a perceber a administração como disciplina e oficialmente
como profissão. Com isso, um corpo de conhecimentos da área começou a tomar
forma primeiramente através do estudo das tarefas, depois das pessoas e final-
mente se deu ênfase à administração. A preocupação com a eficiência atraiu a
atenção de estudiosos, que lançaram as bases das teorias administrativas.
Difícil é precisar até que ponto os homens da Antiguidade, da Idade Média
e até mesmo do início da Idade Moderna tinham consciência de que estavam
praticando a arte de administrar.
Já no século XX surgiu Frederick W. Taylor, engenheiro americano, apresen-
tando os princípios da Administração Científica e o estudo da Administração
como Ciência. Na mesma época surgiam, em outro continente, Henri Fayol e

capítulo 1 • 29
o processo administrativo. Vamos conhecer, então, os teóricos que ajudaram a
revolucionar a forma como as organizações viam a administração.

REFLEXÃO
Apesar dos progressos no conhecimento humano, a chamada Ciência da Administração so-
mente surgiu no despontar do início do século XX. A TGA é uma área nova e recente do
conhecimento humano. Para que ela surgisse foram necessários séculos de preparação e
antecedentes históricos capazes de permitir e viabilizar as condições indispensáveis ao seu
aparecimento (MAXIMIANO, 2007).

LEITURA
Campo de atuação do profissional de administração

O atual momento histórico é único. Esta é a última geração da chamada sociedade in-
dustrial e que já pertence a uma nova sociedade, a da tecnologia da informação, cujo escritor
Alvin Toffler denominou de “Terceira Onda”. Dentro deste contexto de transição, falar sobre
as perspectivas profissionais aos egressos dos cursos de Administração é algo estimulante,
porque leva a refletir sobre os diversos cenários dentro desta nova economia e também sobre
o papel que os administradores devem desempenhar.
Por seu tamanho e pela complexidade de suas operações, as organizações, ao atingirem um
certo porte, precisam ser administradas e a sua administração requer todo um aparato de pes-
soas estratificadas em diversos níveis hierárquicos que se ocupam de incumbências diferentes.
A Administração revela-se nos dias de hoje como uma área do conhecimento humano
impregnada de complexidades e desafio. O profissional que utiliza a Administração como
meio de vida pode trabalhar nos mais variados níveis de uma organização: desde o nível
hierárquico de supervisão elementar até o nível de dirigente máximo da organização. Pode
trabalhar nas diversas especializações da Administração: seja a Administração da Produção,
ou da Administração Financeira, ou da Administração de Recursos Humanos, ou da Adminis-
tração Mercadológica, ou ainda da Administração Geral. Em cada nível e em cada especiali-
zação da Administração, as situações são muito diversificadas e diferenciadas.
Em cada organização, o administrador soluciona problemas, dimensiona recursos, plane-
ja suas aplicações, desenvolve estratégias, efetua diagnósticos de situações etc., exclusivos
daquela organização. (CHIAVENATO, 2000)
Fonte: https://administer33.wordpress.com/2012/05/22/o-que-e-administracao/

30 • capítulo 1
A sociedade econômica industrial

No final do século XVIII, James Watt (1736/1819) cria a máquina a vapor e projeta sua
aplicação à produção agrícola (moinhos de grãos). Esse novo sistema de produção incre-
menta a criação e o uso de novos instrumentos, processos, fontes de energia (motor movido
a carvão) e máquinas para a fabricação.
O movimento renascentista foi um dos grandes responsáveis pelo avanço tecnológico da
época; ele se caracterizou pela volta do espírito científico, do direito à curiosidade, à inves-
tigação, à dúvida. Muitos fatos contribuíram para o movimento renascentista. A navegação
foi facilitada pela bússola magnética, inventada pelos chineses no século XI e levada para a
Europa um século depois. Inicia-se uma nova fase de descobertas e de invenções: inventa-se
a pólvora, redescobre-se o moinho d´água, difundem-se a bússola e os arreios modernos dos
cavalos. São inventados os óculos, a imprensa, o relógio.
No início do século XV, os portugueses iniciaram um grande período de exploração,
descobrindo os Açores em 1419 e, mais tarde, seguindo a costa ocidental da África. Foi
aceita a ideia de a Terra ser redonda e poderem, assim, os navios partirem da Europa, atingir
a Ásia, a Índia, a China, e voltar à Europa. Essas descobertas alargaram o mundo conhecido e
o espírito da humanidade. O aumento da circulação monetária, o ouro e a prata elevando os
preços e estimulando a indústria e o comércio, aumentaram a riqueza e deram oportunidade
ao lazer, ao estudo e à invenção.
Os últimos duzentos anos viram o mundo passar por um processo de transformação
radical. Sob o impulso do desenvolvimento industrial, a história acelerou-se, ganhou outro
ritmo. E hoje, quando comparamos o mundo industrial moderno com o mundo de há dois ou
três séculos, verificamos que muitos elementos, que então não existiam ou tinham pouca im-
portância, ganharam importante significado. No setor social, isto é particularmente verdadeiro
em relação às organizações. Essas, sabemos, existiam em épocas anteriores: não são uma
criação da época industrial. Antes de constituir a regra, porém, eram a exceção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATEMAN, T; SNELL, S. Administração: construindo vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998.
CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
CORRÊA, Henrique L; CORRÊA, Carlos A. Administração de produção e operações: manufatura e
serviços: uma abordagem estratégica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 690 p.
FAYOL, Henri. Administração industrial e geral: previsão, organização, comando, coordenação,
controle. Tradução Irene de Bojano e Mário de Souza. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

capítulo 1 • 31
GAITHER, Norman; FRAZIER, Greg. Administração da produção e operações. Tradução José
Carlos Barbosa dos Santos. 8. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.
MAXIMIANO, A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 6. ed. São
Paulo: Atlas, 2007.
MAXIMIANO, A. Introdução à administração. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
MEGGINSON, L. C.; MOSLEY, D. C.; PIETRI Jr, P. H. Administração: conceitos e aplicações. 4. ed. São
Paulo: Harbra, 1998.
ROBBINS, S. P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2000.

32 • capítulo 1

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