DISSERTAÇÃO Camila Ferreira Dos Santos
DISSERTAÇÃO Camila Ferreira Dos Santos
DISSERTAÇÃO Camila Ferreira Dos Santos
RECIFE
2020
CAMILA FERREIRA DOS SANTOS
RECIFE
2020
Catalogação na fonte
Bibliotecária Valdicéa Alves Silva, CRB4-1260
Aprovada em:15/05/2020
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof.ª Dr. Daniela Cisneiros (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco
_________________________________________
Prof. Dr. Sérgio Francisco Serafim Monteiro da Silva (Examinador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco
_________________________________________
Prof.ª Dr. Jaciara Andrade Silva (Examinadora Externa)
Universidade Federal do Vale do São Francisco
A minha vó Tereza (In memoriam)
AGRADECIMENTOS
A meus pais e minha irmã, pela compreensão com relação às ausências e ao apoio
incondicional. Vocês são a minha base.
A Tiala, pelo amor e pelo apoio para que eu fizesse esse mestrado, por segurar as pontas
esses dois longos anos, por ler meus textos, mesmo estando cansada do trabalho.
A minha orientadora, Prof.ª Dr. Daniela, que me apresentou ao mundo dos adornos,
pelo incentivo à pesquisa, disponibilidade e empenho para a realização do trabalho. Por ser um
exemplo de profissional e de pessoa a ser seguido.
Ao Prof. Dr. Sérgio e à Prof.ª. Dr. Jaciara, pelas ótimas considerações durante o exame
de qualificação e por continuarem me auxiliando nas dúvidas que surgiram.
Aos meus amigos queridos, responsáveis por momentos lúdicos tão essenciais para
minha saúde mental, divididos por cidades. Amigos de Recife: Rebeka, Jamerson, Lucio, Lucas,
Alexandre, Gisele, Aliane, Dimas, Nathalia. Meus amigos de São Raimundo Nonato: Itelmar,
Carol, Marta, Eliz, Irisneide, Rebeca, e meus amigos queridos do Maracatu Ógun Onilê:
Nathalia, Eygla, Hagi, Elaine, Rodrigo, Milena, Andrews, João, Renan, Emerson, Nairam,
Pedro. Desculpem-me pelas ausências!
Aos amigos de turma: Michelle, Kássia, Leandro, André, Pryscila, Celyne e Anderson.
Ao lado de vocês, dividi experiências de campo e discussões cientificas maravilhosas e
divertidas.
Às arqueólogas e amigas da Reserva técnica da UFPE, Aliane, Ilca e Carol Sá, que,
desde o primeiro período da graduação, vêm nos ensinando o ofício da Arqueologia. Durante o
mestrado, um agradecimento especial a Carol Sá, que me ajudou em dias úteis e em horários
pertinentes ou não na identificação do material a ser analisado e documentos necessários para
a pesquisa. Obrigada, meninas, pela amizade além da UFPE.
A Nelson, por sempre me fazer sorrir e conseguir deixar tudo mais leve em 15min de
conversa rápida no corredor.
Os adornos são objetos associados a aspectos artísticos e simbólicos. Além disso, são
de grande importância, capazes de criar elos de identidade, especialmente quando um indivíduo
identifica no outro os mesmos ornamentos. Eles são capazes, também, de distinguir os
indivíduos quanto a sua idade, status, dentre outros. Na arqueologia, o enterramento pré-
histórico com presença de adornos, pode possibilitar interpretações de ordem contextual,
indicando a que indivíduo estavam relacionados. Apesar do largo uso desse tipo de cultura
material, sua contextualização arqueológica ainda é incipiente, isso se deve, muitas vezes, à
dificuldade de conservação de algumas matérias-primas. Nesse âmbito, o principal objetivo da
pesquisa foi a realização de uma caracterização dos adornos, investigando as técnicas, usos e
funções utilizadas, como também a identificação ou diagnóstico da capacidade de simbolização
nos indivíduos adornados, através dos dados demográficos sexo e idade, em 10 sítios
arqueológicos localizados no Nordeste do Brasil. Para a análise dos adornos, foram
estabelecidas as seguintes variáveis: matéria-prima, tipo de adorno, aspectos tafonômicos,
dimensões e preparação da superfície; além das variáveis concernentes ao contexto ambiental
do sítio, contextos arqueológicos, cronológicos e biológicos dos enterramentos. A partir dos
dados analisados, foi possível inferir que sítios com datações recuadas (cerca de 8.000 e 7.000
anos BP), possuem, com maior frequência, adornos elaborados a partir ossos, dentes e material
malacológico. Por volta dos 6.000 anos BP., observa-se, porém, uma maior variedade de
matérias-primas em sua produção, com a inclusão de diversas espécies de sementes e o uso de
madeira como ornamentação. Quando comparados à adornos cujas matérias-primas
constituem-se de minerais e rochas, eles surgem em pequenas quantidades, por volta dos 8.000
anos BP, e depois voltam a aparecer entre 2.000 e 1.000 anos BP. Assim, pode ser levantada a
hipótese de que a fabricação dos adornos em que a materialidade precise ser trabalhada sob
maior gasto energético, possivelmente, esteja destinada a uma parcela menor de indivíduos
dentro do grupo, por isso não é vista com recorrência. Sobre a capacidade de simbolização,
possivelmente, em contexto funerário, os adornos trabalhados durante a pesquisa não
apresentem em uma primeira observação, uma exclusividade para um ou outro sexo biológico,
existindo dessa forma indicadores invisíveis.
The decorations are objects related to artistic and symbolic aspects. Besides this, they
are very important and able to create identity bonds, especially when a person can identify on
the other one, the same ornaments. They are also able to distinguish people on features such as
age, status, among others. In archeology, prehistoric funeral with the presence of ornaments,
may enable interpretations of a contextual nature, indicating to which individual they were
related. In spite of the wide use of this kind of material culture, its archeological
contextualization is still incipient, very often this is due to the challenge in preserving some raw
materials. In this context, the main objective of the research was to characterize the ornaments,
investigating the techniques, uses and functions used, as well as the identification or diagnosis
of the symbolization capacity in the adorned people, through the demographic data sex and age,
in 10 archaeological sites located in the Northeast of Brazil. For the analysis of the ornaments,
the following variables were established: raw material, type of ornament, taphonomic aspects,
dimensions and surface preparation; in addition to the variables concerning the environmental
context of the site, archaeological, chronological and biological contexts of the funerals. From
the data analyzed, it was possible to infer that sites with early dating (about 8.000 and 7.000
years BP), have, more often, ornaments made from bones, teeth and malacological material.
Around 6.000 years BP, however, a greater variety of raw materials is observed in its
production, with the inclusion of several species of seeds and the use of wood as ornamentation.
When compared to ornaments, whose raw materials consist of minerals and rocks, they appear
in small quantities, around 8.000 years BP, and then appear again between 2.000 and 1.000
years BP. Thus, it can hypothesize that the manufacturing of ornaments in which the materiality
needs to be worked under greater energy expenditure, possibly, is destined for a smaller part of
people within the group, so it is not seen with recurrence. About the capacity of symbolization,
possibly, in a funerary context, the ornaments worked during the research do not present, in a
first observation, an exclusivity for one or another biological sex, thus existing invisible
indicators.
Tabela 1 – Os sítios arqueológicos estudados e seus locais de guarda dos acervos .............................. 59
Tabela 2 – Datações das áreas escavadas do Sítio Alcobaça ................................................................ 79
Tabela 3 – Dados dos enterramentos do Sítio Alcobaça ....................................................................... 80
Tabela 4 – Dados dos enterramentos do Sítio Alcobaça ....................................................................... 80
Tabela 5 – Distribuição das sepulturas do Sítio Furna do Estrago ........................................................ 86
Tabela 6 -Dados sobre os tipos, quantidade de indivíduos, sexo, idade e datação dos enterramentos
escavados no Sítio Pedra do Alexandre ................................................................................ 95
Tabela 7- Dados sobre o tratamento destinado ao corpo, presença de adornos e acompanhamentos
funerários dos enterramentos escavados no Sítio Pedra do Alexandre ................................. 95
Tabela 8 – Indicação das sepulturas, sexo, idade e datação dos esqueletos ........................................ 101
Tabela 9 – Dados referentes ao indivíduo inumado no Sítio Toca do Capim ..................................... 104
Tabela 10 – Datações e fases de ocupação do Sítio Justino ................................................................ 109
Tabela 11 – Dados dos enterramentos nos quais foram verificados adornos no Sítio Justino, Xingó, SE
........................................................................................................................................................... 111
Tabela 12 – Dados publicados por Castro (2009) e Carvalho e Oliveira (2002)................................. 113
Tabela 13 – Tipos e datações dos sítios trabalhados durante a pesquisa ............................................. 117
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 17
2. ADORNOS PESSOAIS E SUAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS NA
ARQUEOLOGIA .......................................................................................................... 21
2.1. Conceitos aplicados aos adornos ................................................................................................ 21
2.2. Os adornos corporais através dos tempos ................................................................................... 24
2.2.1 A Pré-História e o surgimento dos primeiros adornos corporais................................................ 41
2.3. Considerações teóricas sobre os adornos na arqueologia ........................................................... 46
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................... 55
3.1. Problema, hipótese e objetivos da pesquisa ............................................................................... 55
3.2. Coleta e tratamento dos dados ................................................................................................... 58
3.3. Sistematização e operacionalização das variáveis ...................................................................... 60
4. ADORNOS PRÉ-HISTÓRICOS NAS ÁREAS ARQUEOLÓGICAS DO
NORDESTE DO BRASIL: CONTEXTO E CRONOLOGIA .................................. 74
4.1. Descrição e sistematização dos adornos nas Áreas Arqueológicas ............................................ 74
4.1.1 Área Arqueológica do Vale do Ipanema .................................................................................... 75
4.1.2 Área Arqueológica do Vale do Ipojuca ..................................................................................... 81
4.1.3 Área Arqueológica de Itaparica ................................................................................................. 87
4.1.4 Área Arqueológica do Seridó .................................................................................................... 91
4.1.5 Área Arqueológica da Serra da Capivara ................................................................................... 97
4.1.6 Área Arqueológica de Xingó ................................................................................................... 105
5. CARACTERIZAÇÃO DOS ADORNOS CORPORAIS PRÉ-HISTÓRICOS:
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................... 115
5.1. Análise do contexto dos sítios .................................................................................................. 115
5.2. Análise do contexto funerário................................................................................................... 119
5.3 Análise dos adornos corporais .................................................................................................. 124
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 142
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 145
ANEXO A – TABELA COM DADOS SOBRE SEXO, IDADE, NÍVEL
ESTRATIGRÁFICO E DATAÇÃO DOS INDIVÍDUOS EXUMADOS NO SÍTIO
FURNA DO ESTRAGO ............................................................................................. 159
ANEXO B – TABELA COM DADOS SOBRE TIPO DE ENTERRAMENTO,
ACOMPANHAMENTOS FUNERÁRIOS E ENTRE ELES OS ADORNOS E AS
ESTRUTURAS FUNERÁRIAS QUE ESTAVAM ASSOCIADAS AO SÍTIO
TOCA DO ENOQUE .................................................................................................. 162
17
1. INTRODUÇÃO
O início da consciência simbólica dos Homo sapiens é um dos assuntos mais debatidos
atualmente. Dentre os modelos propostos para elucidar tal questão, podem ser observadas as
práticas rituais de enterrar os mortos, a arte rupestre e a presença de adornos corporais,
considerados como fundamentais e indícios inequívocos desse conhecimento simbólico
(LAGROU, 2016; FERNÁNDEZ, 2006).
Até o momento, os dados mais antigos que registram a presença de adornos são da
Caverna Bomblos, na África do Sul, onde foram identificados um conjunto de gastrópodes
perfurados, com cronologia por volta dos 73.000 anos BP (D’ERRICO et al, 2005).
Atualmente a Arqueologia no Brasil registra presença desses artefatos desde o Pleistoceno até
os dias atuais, em diferentes espaços e contextos sociais.
O estudo dos adornos corporais nos grupos pré-históricos sobre diferentes matérias-
primas, forma parte de uma investigação arqueológica que se encontra em ascensão,
atualmente. Já é possível observar pesquisas sobre ornamentos corporais em arqueologia
dedicados exclusivamente para essa temática, mesmo que de forma incipiente.
Os adornos são pesquisados de forma mais frequente, dentro da Arqueologia Pré-
histórica, em contextos funerários e pictóricos. Em contexto funerário, os adornos corporais
podem ser lidos pelo viés teórico-metodológico da Arqueologia Funerária que foi uma das
primeiras a se interessar por esses vestígios, a partir da reconstrução das práticas funerárias.
Os adornos corporais são temas de pesquisa na arqueologia, como também nas artes
étnicas e na antropologia, em diversas regiões do mundo, tal qual na África, Europa e na
América do Norte, mas poucos são os trabalhos na América do Sul.
No Brasil e mais especificamente na região Nordeste são verificados, com recorrência,
sítios pré-históricos com adornos corporais identificados em contextos funerários que
possibilitam dessa forma, interpretações de ordem contextual, indicando a que usos se
destinavam e com quais indivíduos estavam relacionados.
É nesse contexto que o presente trabalho, tem por objetivo caracterizar os adornos pré-
históricos identificados em sítios arqueológicos no Nordeste do Brasil, através das técnicas,
usos e funções destinadas a esses artefatos e, diagnosticar a capacidade de simbolização dos
adornos nos indivíduos. Para alcançar o objetivo proposto, foram elencados os seguintes
objetivos específicos: 1) Estimar, por meio dos dados demográficos (sexo e idade) se é possível
observar distinções sociais dos indivíduos adornados; 2) Estimar a variabilidade dos adornos
18
Neste capítulo, será abordada a historiografia dos adornos corporais no momento atual,
século XXI, e no período pré-histórico, apresentando as mudanças na fabricação desses
ornamentos ao longo do tempo, seus usos e funções para grupos distintos em diversos
momentos da história. Também serão apresentadas as correntes teóricas arqueológicas e como
cada corrente abordou o estudo dos adornos corporais.
Muitas das coisas que foram adotadas como moedas de troca em diferentes
partes do mundo foram utilizadas primeiramente, ou exclusivamente como
ornamentos. Ouro e prata são os exemplos mais óbvios, mas também podem
ser citados búzios e conchas spondylus na África, Nova Guiné e nas Américas,
moedas de plumas ou qualquer outro tipo de “moeda” (GRAEBER, 2001, p.
192).
Vidal e Müller (1987), na Suma Etnológica, ressaltam que o corpo humano é retratado
como ferramenta social, como um suporte de atributos corporais. Estudos etnográficos
demonstram que a representação visual do corpo manifesta a concepção tribal da pessoa.
ou igual à altura e uma perfuração central, normalmente única. No entanto, essa definição é
relativa se levado em consideração o tipo de matéria-prima utilizada para a confecção das
contas. No sítio Justino por exemplo, são percebidas algumas contas feitas de ossos que
possuem altura maior que a largura, bem como algumas contas de vidro, do mesmo sítio
arqueológico que possuem configuração morfológica similar, não atendendo completamente a
definição proposta por Prous (2009).
Nesse trabalho, será utilizado como classificação o termo “adorno” para representar os
ornamentos corporais utilizados pelos grupos humanos durante o período pré-histórico e dentro
das comunidades tradicionais.
1
Objetos feitos de materiais raros. Em geral, são metais nobres e/ou rochas preciosas e possuem alto rigor e
qualidade técnica, sendo produtos de elevado conteúdo estético, autêntico, durável e, muitas vezes, de alto valor
econômico (STRALIOTTO, 2009).
25
2
A técnica de Upcycling consiste no reaproveitamento de objetos e materiais para criar novos itens, muitas vezes
em funções diferentes, sem alterar as principais características do objeto original.
26
Na África Oriental, entre outros tantos povos, pode-se citar os Massaï que são um
grupo de pastores que vivem entre as fronteiras do Quênia e da Tanzânia. São conhecidos pela
sua abundante decoração de adornos coloridos de miçangas (Figura 4). Segundos os critérios
africanos, os povos pastores são os que mais se decoram com incisões, pinturas e adornos
27
Nas Américas, as contas de colar eram produzidas a partir de coco do tucum (Bactris
setosa), conchas de caramujo aruá (Pomacea canaliculata), casca de tartaruga, sementes como
tiririca (Cyperus rotundus L.), dentes e rochas. As técnicas de produção de contas industriais
eram desconhecidas entre os povos originários e as contas de vidro, por exemplo, eram
adicionadas à produção local dos adornos artesanais e recebidas como preciosidades exóticas
(LAGROU, 2016, p. 26).
Entre os povos ameríndios Tupinambás e Tapuias, os adornos corporais como os
Tembetás – adereços labiais são de extrema importância. D’Evreux (1874) afirma que viu uma
rocha para o “beiço” ter valor de mais de vinte escudos de mercadorias de um tupinambá a um
miariense, no Maranhão. E, complementa essa informação, pontuando que, ao questionar um
indígena sobre o que ele queria em troca de seu tembetá, recebeu a seguinte resposta: “Dê-me
28
[...] os papéis dos sexos eram bem definidos: aos homens o que exigia era
esforço energético brusco [...] com a idade, suas responsabilidades
aumentavam, e isto era simbolizado pela troca dos seus adornos labiais; os
tembetás das criancinhas eram de chifre de veado, depois de osso ou concha
e, finalmente os adultos recebiam um tembetá de rocha verde (PROUS, 2009,
p. 417-418).
3
Bebida fermentada produzida pelas mulheres tupinambás para festividades ou para quando matavam algum
prisioneiro para comer em atos de antropofagia (CASTRO, 1986).
29
corpo, seja para diferenciá-lo quanto ao status, marcar identidades ou para celebrações e
divindades.
A caracterização do indivíduo por meio do adorno e da pintura corporal provavelmente
foram os primeiros meios colocados em prática para a modificação da aparência, entendida
como uma ação que complementa o corpo. A presença de escarificações, tatuagens,
deformações cranianas, incrustações dentárias, entre outras formas, são entendidas como ações
que modificam o corpo, com finalidades que vão desde a ornamentação, festividades, ciclos de
vida até proteção do meio ambiente (MARTÍNEZ, 2003).
A modificação cultural do corpo é diferente de uma malformação genética, enquanto
uma é decorrente de fatores genéticos e se produz em vida intrauterina, a cultural é produto de
modificações com instrumentos cefálicos. Pesquisas em crânios de recém-nascidos em sítios
arqueológicos no Peru, indicam que uma das prováveis funções da deformação seja a distinção,
mediante o uso de determinados moldes de cabeça. Para comunidades africanas, a modificação
da cabeça acontece com símbolo distintivo entre homens e mulheres (VÁSQUEZ; PACHECO,
2008).
Na América do Sul, os Botocudos são comumente conhecidos pelo uso recorrente de
adornos corporais modificadores do corpo. Chamados de Tapuias ou Aimorés, esse grupo
ocupava um território que corresponderia desde a faixa da Mata atlântica até a Zona da Mata,
com limites no Vale de Salitre, na Bahia, e o Rio Doce, no Espirito Santo. Das alterações
corporais que os Botocudos fazem no seu corpo, a mais conhecida é a perfuração do lábio
inferior e dos lóbulos das orelhas para colocação dos discos de madeiras, chamados de
botoques. Relatos de viajantes, como o Príncipe Wied, discorrem sobre os discos de madeira
muito leves da árvore barriguda (Ceiba glaziovii). Os discos possuem, aproximadamente, 2,54
cm (EHRENREICH, 2014).
Ehrenreich (2014) comenta, ainda, que, normalmente, entre os Botocudos, somente as
mulheres usam os enfeites completos nos lábios e nas orelhas (Figura 6), enquanto os homens
enfeitam apenas as orelhas. O autor chama a atenção ao fato de que nem todas as tribos de
Botocudos possuem o mesmo costume na utilização dos botoques. Nas tribos de Botocudos,
Matum e Guadun, somente as mulheres mais idosas usam os discos de madeira nos lábios.
31
Figura 6 - Índios Botocudos com adornos labiais e perfurações no lóbulo inferior da orelha.
O grupo Xavante de língua Jê, do planalto Central, em Minas Gerais, também citado
por Vidal (2000), usa a ornamentação corporal, sejam elas pinturas ou adornos, obedecendo a
algumas regras de significação. Cada enfeite corporal distingue o grupo e marca categorias e
status social. Quando um indivíduo usa um enfeite que não pertence a sua classe social, é punido
publicamente e o adorno, retirado do corpo. Ou seja, a linguagem visual dos adornos corporais
transmite informações sobre punições, transgressões, direitos e deveres.
[...] o que a gente veste e o que a gente leva no nosso corpo, forma geralmente
parte de um fluxo de informações, estabelecendo, modificando e explicando
as categorias sociais, tais como idade, sexo e o status social [...]
(STRATHERN, 1981, p. 15 apud MAYOR; BENITO, 2006, p. 64).
Os Marúbos são grupos localizados entre as cabeceiras dos rios Ituí e Curuçá, no
estado do Amazonas. O artigo de Melatti (1986) trata dos adornos utilizados diariamente e
durante os rituais, tais como: contas de caramujo aruá (Pomacea canaliculata), coco, miçangas,
plástico, dentes e fios de algodão. O autor apresenta uma lista de adornos utilizados pelos
Marúbos e entre elas são demonstrados alguns com usos apenas para mulheres, como as
pulseiras finas e os cordões-pulseiras; para os homens são destinadas as pulseiras largas e as
braçadeiras largas e, as bandoleiras são utilizadas apenas por mulheres e crianças. O autor, ainda
afirma que o modo de disposição dos adornos de contas utilizados pelos Marúbos se distinguem
de outros grupos indígenas na região, como um traço de auto identificação tribal.
Os Marúbos raramente retiram seus enfeites corporais, Melatti (1986) menciona que
nem durante suas atividades cotidianas como coleta, limpeza e caçadas os adornos corporais
são abandonados. A retirada dos adornos acontece durante alguns momentos de crise dentro do
grupo como partos, doenças, morte e luto. No momento da morte, os indivíduos Marúbo não
são enterrados com suas contas de caramujo e contas de coco porque seus parentes podem
morrer.
Arisi (2007) produziu um trabalho de dissertação sobre os Matis originários da região
Amazônica, também conhecidos pelos seus adornos corporais e tatuagens faciais (Figura 8).
A primeira perfuração no lóbulo da orelha dos Matis ocorre aos quatro ou cinco anos
de idade. Progressivamente, o diâmetro dos enfeites de madeira na orelha vai aumentando, até
que possa ser substituído por um disco circular. Além disso, se perfura o nariz para introduzir
o primeiro par de demush (pelos que crescem na face dos mamíferos). O número de demush
aumenta até cobrir quase totalmente a narina. A etapa seguinte consiste na abertura do septo
nasal. Na puberdade, quando começam a acontecer os primeiros relacionamentos sexuais, as
mulheres passam a usar o enfeite labial de madeira clara no lábio inferior, enquanto os homens
usam enfeites no lábio superior. Os enfeites labiais das mulheres são maiores por elas serem
mais cuidadosas (ARISI, 2007).
A aquisição gradual dos ornamentos corresponde às etapas do amadurecimento
individual. Os Matis acreditam numa visão linear da existência, uma evolução progressista em
direção à velhice. O amadurecimento e a questão das idades relativas possuem uma grande
importância, pois explicam que cada coisa deve vir a seu tempo; os ornamentos indicam,
portanto, classes de idade (ARISI, 2007).
Souza (2012), traz uma pesquisa etnográfica sobre os Pataxó, que atualmente
constituem uma população de aproximadamente quinze mil indivíduos, distribuídos em trinta
e seis aldeias em Minas Gerais e no extremo sul da Bahia. A autora discute como os adornos
corporais desse grupo são entendidos pelos antepassados e como são percebidos pelos grupos
atuais. De acordo com a memória dos mais velhos, o uso dos adereços não ocorria o tempo
todo, mas em determinadas e variadas situações. O cocar e a tanga, que atualmente são as
grandes marcas de adornos do povo Pataxó, são os adereços mais citados pelos mais velhos
(Figura 9).
35
Figura 9 - Cocar Pataxó feito de taboa (Typha domingensis) 4. Jogos Pataxó de Coroa vermelha, em abril de 2010.
Sobre o uso do cocar na época das festas, Seu Sebastião, um dos anciões da aldeia,
afirma:
Sempre era com pena, porque os índio gosta desse negoço de pena, gosta de
trem enfeitado, né. As cores das penas era mais vermeia, sabe que o índio tem
um negoço com vermei que eu não sei. Ele disse que corava com tinta do
mato, tinha esse negoço de comprar tinta não. Tinha aquelas madeira que dava
aquelas tinta (SOUZA, 2012, p. 40).
Os adereços Pataxó são usados até hoje em diversos ambientes. Os Pataxó os utilizam
para representar e também chamar a atenção, dando visibilidade para sua identidade indígena,
já que, em ambientes não indígenas, os adereços trazem o sentimento de pertencimento ao povo.
4
Planta aquática típica de brejos, manguezais, várzeas (SIMÃO et al, 2009)
36
Os Bororos, estudados por Novaes (2006), foram analisados segundo seu longo ciclo
funerário. São cortados de modo tradicional o cabelo do morto, seu corpo é untado de urucum,
o rosto ornamentado com pinturas e na cabeça são colocados adornos plumários de acordo com
os padrões do clã ao qual pertence. Todos os pertences do morto, e isso inclui seus adornos
corporais, são ritualmente queimados. Para os Bororo com a morte nenhum dos objetos tem
mais valor ou utilidade e nem podem ser transmitidos como herança.
Durante todo o ritual funerário são realizados cantos, danças e no final todos os
adornos utilizados são colocados sobre a cova, homenageando e celebrando para que a alma
possa ir mais tranquila habitar a aldeia dos mortos. Uma das passagens, o autor traz uma frase
dita pelos Bororos a respeito do uso das ornamentações corporais e sobre o significado da morte
para eles:
Boe nasceu pra complicar. Nasceu põe nome, fura beiço dele se for homem.
É a mesma coisa que faz quando ele morrer. Morreu devia acabar tudo, mas
começa tudo outra vez [...] (José Carlos) (NOVAES, 2006, p. 283).
Figura 11 - Obra de arte do período Renascentista - Retrato de Sibylla Von Freyberg, com detalhe para as joias e
a esquerda anel de ouro com esmalte e pérolas, século XVI.
Nas culturas Maia, Inca e Asteca as matérias-primas mais utilizadas eram o ouro, a
prata, o cobre, assim como as conchas marinhas, obsidianas, jade e turquesa. Por terem uma
crença politeísta, grande parte de suas joias eram caracterizadas por representações religiosas
de animais sagrados e outros seres mitológicos (SALVAN; PAGNAN, 2016; SKODA, 2012).
Antigas civilizações, como as do Mediterrâneo e Oriente Médio, também
apresentavam tecnologia e gosto pelo uso de adornos e joias.
Na Grécia, as joias eram caracterizadas pela simplicidade e por motivos geométricos,
uma vez que as leis gregas eram contra o luxo. Os adornos gregos tinham funcionalidade além
do meramente estético, nas primeiras fases do desenvolvimento da arte grega. Nas fases
seguintes, eram utilizadas folhas de louro finas com motivos decorativos florais para a produção
de guirlandas (SKODA, 2012; ZUGLIANI; BENUTTI, 2011).
Em Roma, assim como na Grécia, o uso de muitas joias luxuosas não era permitido.
Para os romanos, o brilho das rochas preciosas era mais importante do que a técnica de
fabricação, motivo pelo qual, provavelmente, Roma não tenha avançado no campo da joalheria
(BENUTTI, 2017; ZUGLIANI; BENUTTI, 2011). Enquanto a elite romana utilizava joias
feitas de material precioso, os povos indígenas, os imigrantes e a população, no geral, que
viviam em Roma, usavam contas de vidro para se ornamentarem (LAGROU, 2016).
Já no Oriente Médio, desde o Egito Antigo, as joias eram utilizadas como amuletos
sagrados, simbolizando proteção e crenças. O ouro foi o material mais utilizado pelos egípcios,
pois representava a divindade máxima, o Deus Sol, e era usado principalmente pelos membros
da corte. Os motivos decorativos derivados da fauna e flora do Rio Nilo, como a flor de lótus e
o lírio, ornamentavam as joias, mas as aves eram as mais utilizadas por representarem força e
fecundidade (BENUTTI, 2017; CARDOSO, 2010; ZUGLIANI; BENUTTI, 2011).
As contas de faiança, provavelmente, foram produzidas no Egito ou na Mesopotâmia,
por volta de 400 anos BP (DUBIN, 1987). Já as contas de vidro apareceram simultaneamente
na Ásia Central, na Mesopotâmia e no Egito Antigo, em torno de 2.340 BP. A invenção das
contas de vidro e antes delas as contas de faiança (Figura 12) representou uma alternativa
atrativa às rochas originais, com qualidades também muito próximas, como resistência,
durabilidade e brilho (LAGROU, 2016).
39
Figura 12 - Malha de contas de faiança e amuletos do Deus da Morte, Horus, 664 anos BP.
A Fenícia tem grande importância na joalheria, muito mais pelas técnicas produzidas
e inovação de matérias-primas do que um estilo marcadamente fenício. As joias produzidas
pelos fenícios são assimilações de outros povos, se sobressaindo na técnica de produção de joias
em vidro, marfim, bronze, ouro e madeira. De acordo com Skoda (2012), os elementos
40
decorativos utilizados por eles são as flores, botões de lótus, palmetas, máscaras humanas ou
de animais, esfinges e pequenas jarras.
A Idade dos Metais se caracteriza pelo início da fabricação de objetos metais, sejam
ferramentas, joias, armas, dentre outros, e pode ser dividida em: Idade do Cobre, Idade do
Bronze e Idade do Ferro. Esse período marca, o início da metalurgia ainda bastante rudimentar.
Durante a Idade do Cobre, verificam-se, ainda, muitos instrumentos líticos sendo
utilizados. Nesse período, foram identificados alguns moldes de barro e rocha para moldar o
metal derretido. Na Idade do Bronze, são fabricadas ligas de cobre e estanho para a produção
de adornos, pois elas têm a capacidade de preencher perfeitamente os moldes, reproduzindo
finos detalhes.
O ouro, nesse momento, se tornou um dos minerais mais cobiçados no Oriente e,
posteriormente, no Ocidente, não somente para adornar homens e mulheres, mas também
estavam presentes durante as oferendas em túmulos, lhes atribuindo posição de riqueza
(CODINA, 2000).
A partir do II Milênio da Idade do Bronze, os adornos metálicos aumentam e se
diversificam, diferenciando indivíduos em função do sexo. São percebidas diferenças de
tratamento nas necrópoles, onde eram colocados os indivíduos em posições distintas de acordo
com o sexo, como também a presença de adornos, especificamente femininos e masculinos.
Apesar das regularidades, em alguns sepultamentos, eram verificados traços discrepantes, dos
quais Lull (1983) abre a possibilidade de serem em funções das características sociais que
também são formas de diferenciar os indivíduos.
De acordo com Skoda (2012), a Idade do Bronze coincidiu com o surgimento de
civilizações, como a Mesopotâmia, o Egito, a China e as culturas egeias, troianas, hititas e
cretenses. Além do uso do bronze em estátuas, moedas, armas e utensílios foram bastante
utilizados para a feitura de adornos variados. A fabricação dos adornos durante a Idade do Ferro
fez poucos avanços, não oferecendo novas estéticas, mas um aperfeiçoamento das técnicas e
refinamento estilístico em relação ao que havia sido produzido durante a Idade do Bronze.
A ornamentação corporal é, sem dúvida, uma arte que vem marcando períodos
históricos. Traçar uma trajetória desses adornos desde o século XXI, permitiu que fossem
destacados momentos considerados importantes no que diz respeito à variabilidade dos motivos
estilísticos, técnicas de fabricação, assim como aos artistas e às diferentes funções sociais dos
diversos tipos de adornos corporais.
41
5
As datações pela técnica de Luminescência, opticamente estimulada, e pela Termoluminescência foram de cinco
amostras líticas queimadas. As contas de conchas marinhas estavam associadas a esse material.
42
6
Cf. Klein e Edgar (2005, p. 156).
43
disso, foram verificados material lítico e vestígios de atividades domésticas, como estruturas de
combustão, alguns vegetais, folhas e frutos (VIALOU; VIALOU, 2019).
Conforme Vialou e Vialou (2019), os adornos identificados nesse sítio, em sua
maioria, pertencem aos períodos mais recentes de ocupação, cerca de 2000 a 4000 anos BP, tais
como colares, pulseiras, braçadeiras, estojos penianos, confeccionados em ossos, conchas,
vegetais e rochas. Também foram verificados tembetás do período do Holoceno inicial.
No concernente ao Vale do Peruaçu, Prous (2009) cita a variedade de adornos
identificados durante pesquisas em sítios pré-históricos da região. Os adornos confeccionados
em conchas, por exemplo, foram encontrados em oito abrigos e possuem datações aproximadas
de 8.000 anos BP. Sítios como Lapa Vermelha IV, Lapa do Malhador e alguns outros de Lagoa
Santa são alguns dos lugares onde foram verificados gastrópodes perfurados. Prous (2009)
destaca, ainda, a presença de colares associados, principalmente, a enterramentos infantis na
Lapa do Boquete e na Lapa do Malhador. A grande maioria feita de sementes, ossos, conchas,
cascas de ovo e minerais.
Ademais, Prous (2019) menciona o uso de vertebras de seláquios e outros peixes
maiores para a confecção de objetos de adornos, geralmente produzidos sob a forma
aproximada de discos perfurados no centro e espessos na periferia. Tais discos eram produzidos
em série, por vezes alternados com pingentes de dentes, por exemplo. Os dentes de seláquio e
dentes de tubarão também eram utilizados com recorrência como objetos de adorno, como no
Sambaqui do Forte Marechal Luz.
Enquanto a identificação de pingentes como elementos de um colar é uma única
perfuração, nota-se alguns dentes com vários furos, sugerindo outros tipos de uso, que poderiam
se tratar de elementos de serra a serem montados em cabos de madeira, armas comuns na
Polinésia e também citados em relatos etnográficos sobre os índios Goitacá (PROUS, 2019).
Ainda na região Sudeste, Silva (2005) analisa as práticas mortuárias, incluindo adornos
confeccionados a partir de ossos de animais, dentes, conchas e material lítico dos sítios
Piaçaguera, Tenório, Mar Virado e Buracão, entre o período do Holoceno e aproximadamente
5040 a 1381 anos BP. Os adornos e acompanhamentos funerários foram analisados segundo
sua matéria-prima, tratamento, tipo, dimensões e situação.
Em Santa Catarina, o Sítio Arqueológico Cabeçuda está entre os sambaquis mais ricos
em adornos já estudados, são mais de 16.000 objetos de adornos recuperados associados aos
mais de 100 indivíduos exumados. Os adornos foram confeccionados por grupos que ocuparam
o sítio no período do Holoceno, entre 4180 e 3640 anos BP (KLOKER, 2014; SALADINO,
2017).
44
Na região Norte, Gambim Junior et al. (2018) realiza um trabalho com os adornos
identificados no Sítio Curiaú Mirim I, objetivando oferecer a possibilidade de interpretação por
meio do conceito de corporalidade ameríndia e noções do corpo. O autor admite que o
simbolismo corporal é a linguagem básica de muitos grupos, e, dessa forma, o corpo é um
instrumento que profere significados sociais e cosmológicos. Sendo assim, a relação dos
adornos utilizados está diretamente relacionada à construção social das pessoas (GAMBIM
JUNIOR et al., 2018).
Ainda na Guiana Francesa, Gambim Junior et al. (2018) também cita o sítio EVA II
como exemplo de sítio com adornos corporais em contexto funerário. Na Ilha de Marajó, foi
identificado um sítio cemitério com urnas funerárias e vasilhas emborcadas. Em algumas dessas
urnas, verificou-se indivíduos adultos com contas, pingentes, adornos de rocha esculpidas,
contas de dentes, muiraquitãs e contas de vidro advindos do contato com europeus.
Na região Nordeste, área na qual está centrada essa dissertação, percebem-se sítios
arqueológicos com a presença de adornos. Os sítios selecionados para a pesquisa serão melhor
descritos na seção 4. Nesta parte, pretende-se apenas apresentá-los, como também apresentar
os outros sítios não selecionados, a fim de contextualizar a área arqueologicamente.
Já na Bahia, Fernandes (2017) realiza uma breve revisão da tradição ceramista Aratu,
com a distribuição espacial e cronológica dos sítios arqueológicos, descrevendo algumas
características das culturas materiais, como também os padrões de sepultamento e os
acompanhamentos funerários, incluindo os adornos corporais.
Um dos primeiros sítios citado por Fernandes (2017) é o Praça de Piragiba, com
datação de 870 ± 50 anos BP, localizado no Oeste da Bahia, na cidade de Múquem de São
Francisco. O sítio conta com mais de 140 indivíduos sepultados. Destes, 64 enterramentos já
foram escavados. Quanto aos adornos, são verificadas contas de colar de diáfises de ossos de
aves, pingentes de dentes de felídeos e pingentes de ossos longos. Eles estavam associados a
enterramentos de infantes.
O sítio Água Vermelha também foi descrito por Fernandes (2017), sendo caracterizado
pela presença de pequenas contas cortadas sobre a diáfise de ossos de aves em urnas funerárias
pertencentes à Tradição Itanhém e datado de aproximadamente 660 ± 30 anos BP. No sítio
Areias, no Litoral Norte da Bahia, foram verificadas mais de 17.000 contas de semente,
possivelmente capim tiririca (Cyperus rotundus L.) (Figura 14), contas de concha espiraladas
marinhas e uma placa com dois furos de suspensão de outra concha marinha.
45
Figura 14 - Urna com bordas suprimidas e algumas das 17.000 contas verificadas dentro da urna.
No Sítio Baixio dos Lopes, na cidade de Brejo Santo, no Ceará, foram achados
vasilhames cerâmicos tupi-guarani da subtradição policrômica (MARTIN et al., 2016), além de
artefatos líticos e cerca de 13 fragmentos de tembetás. Diante disso, Corrêa (2011) tem como
objetivo principal do trabalho realizar a cadeia operatória de produção dos tembetás, mas busca
ir além, se questionando sobre a grande quantidade desses materiais encontrada, quando o que
geralmente ocorre nos sítios arqueológicos é a verificação de poucos exemplares. O autor
finaliza indagando se esse volume de tembetás produzidos talvez seja indicativo de trocas entre
grupos, principalmente se tratando de um adorno com grande significado simbólico, como
atesta Prous (2019).
É importante salientar, no final deste tópico, que nossa intenção não foi esgotar a
literatura, apresentando todos os sítios arqueológicos com presença de adornos corporais, mas
expor alguns exemplos para ilustrar que é recorrente a aparição de ornamentos, mesmo que em
quantidade diminuta.
O estado de conservação dos adornos no período pré-histórico, muitas vezes, tende a
limitar o avanço de algumas pesquisas. São diversos os fatores que interferem diretamente na
preservação do item que, muitas vezes, é produzido a partir de material perecível. Isso significa
que os adornos verificados em registros arqueológicos nem sempre correspondem apenas aos
objetos observados in situ. As tatuagens, pinturas corporais e outros tipos de adornos de
matérias-primas perecíveis também podem ter feito parte da composição de ornamentos dos
grupos humanos citados.
Portanto, os adornos corporais podem ser considerados elementos materiais que
marcaram a existência do simbolismo e da cognição dos primeiros indivíduos do gênero Homo
frente a outras manifestações, que, por vezes, não deixam marcas visíveis no registro
arqueológico.
funerárias dos grupos étnicos pode ser verificada através do estudo das variáveis biológicas,
culturais, processamento do corpo e acompanhamento funerário. Para alguns autores, a morte
era compreendida como um rito de passagem, e os rituais funerários tendiam a variar de acordo
com a posição social do indivíduo, idade etc. Os rituais, dessa forma, são entendidos como
ações sociais capazes de transmitir memórias coletivas (CASTRO, 2009).
Nesse cenário, os enterramentos e todo o processo imbricado neles, seja a presença
dos acompanhamentos funerários, adornos corporais e toda a carga simbólica, funcionam na
manutenção dessa memória coletiva, mostrando-se capazes de rememorar esses modos de vida
(CASTRO, 2009).
No Brasil, existem pesquisas que tratam das práticas funerárias e que, inclusive,
caracterizam os adornos corporais verificados junto às sepulturas, como Castro (2009),
Cisneiros (2003), Guimarães et al. (2005; 2006), Luz (2014), Martin (2008), Sene (2003), Silva
(2005), Silva (2015), entre outros.
Mesmo os adornos sendo vistos em contextos funerários, as primeiras correntes
arqueológicas não objetivavam o estudo dos contextos, mas a descrição da cultura material
através da produção de catálogos. Nesse período, na Europa, foram realizados trabalhos em
forma de catálogos de arte móvel, nos quais eram apresentados e descritos, entre outros
vestígios arqueológicos, os adornos que mais se “destacavam”. Essas peças são objetos de
estudo em dado momento, de modo pormenorizado. Sob esse ponto de vista tipológico, destaca-
se o trabalho de Geoges Van Wetter, a primeira monografia sobre os objetos de adorno na
Europa; nela, são compiladas as descrições das peças e os motivos decorativos de todos os
adornos identificados durante suas escavações (FERNÁNDEZ, 2006).
Navascués (1982) também realizou trabalhos sob a ótica tipológica, a partir da qual
buscou reunir e ordenar os adornos pessoais pré-históricos, achados na província de Navarra,
na Espanha. O autor classifica os adornos em Famílias, Grupos e Tipos para obter uma visão
individualizada dos objetos, afirmando que seu objetivo central não é a criação de uma tipologia
das contas na província de Navarra, devido à quantidade insuficiente, mas uma ordenação que
auxiliaria em trabalhos tipológicos futuros.
O método tipológico deixou de ser um estudo preliminar e meramente descritivo, visto
que, atualmente, costuma ser utilizado para fornecer informações sobre mobilidade e interações
entre os grupos. O trabalho de Mayer (2013) realiza comparações tipológicas com as contas
líticas dos sítios do Período Neolítico tardio, incorporando as informações de outros sítios em
Israel. Essa pesquisa nos trouxe dados sobre os sistemas de trocas e apresentou a conjuntura
econômica dos grupos durante o período de transição de caçadores-coletores para agricultores.
48
Figura 15 - Índio bororo usando narigueira e uma série de grampos emplumados enfiados no coque.
Martin (2008) comenta sobre a importância dos estudos tecnológicos, afirmando que
os materiais arqueológicos, sejam eles fragmento, artefato ou registro dos grupos humanos, são
produtos tecnológicos. Por meio das discussões da autora, podemos perceber as diversas fases
da evolução crono-tecnológica e simbólica das culturas.
Na França, Taborin se torna referência em trabalhos sobre adornos na Península
Ibérica, bem como em toda a Europa. A autora realizou o primeiro trabalho sobre estudos
tecnológicos em adornos confeccionados a partir de dentes de animais em sítios franceses. Além
disso, publicou trabalhos sobre a utilização dos adornos no Período Epipaleolítco até a Idade
do Bronze, por meio dos quais verificou a continuidade na utilização de alguns moluscos,
diferenciação sexual baseada nos adornos e mobilidade das populações para obter determinados
tipos de espécies de moluscos (TABORIN, 1974 apud FERNÁNDEZ, 2006).
Em 2012, Poveda (2012) analisa os adornos pessoais documentados em contexto
arqueológicos do Neolítico no Noroeste Peninsular, segundo sua tecnologia, verificando como
50
No Brasil, Corrêa (2011), Falci e Rodet (2016) e Kloker (2014), trabalham com os
aspectos tecnológicos e as cadeias operatórias dos adornos corporais. Queiroz et al. (2018),
Silva (2013), Silva (2017) e outros autores que pesquisam na Universidade Federal de Sergipe
sob a perspectiva da bioarqueologia e da zooarqueologia, utilizando como método as análises
tecnológicas dos adornos.
Na literatura, percebe-se que os estudos sobre cadeias operatórias são alcançados mais
comumente entre as ferramentas líticas. No entanto, são observados alguns trabalhos nos quais
os adornos realizados a partir de minerais e materiais rochosos também são analisados dentro
das cadeias operatórias, como acontece em Corrêa (2011), que realiza uma análise na cadeia
operatória da produção de tembetás, em Amazonita, no sul do Ceará, buscando perceber
possíveis índices de identificação cultural.
Na região Amazônica, encontrou-se, no sítio Mina de Manganês do Azul, a produção
de contas líticas associadas a ocupações Tupi-guarani. Falci e Rodet (2016) lançaram mão de
uma análise tecnológica das contas líticas a partir de cada etapa da cadeia operatória.
Constataram, pois, a possiblidade de o sítio ter uma ocupação temporária, sendo especializado
na produção das contas líticas, possivelmente por estar ligado à proximidade da matéria-prima
mais utilizada para a produção (Caulinita-silicificada). No sítio, não foram encontradas contas
finalizadas, pois, possivelmente, foram levadas para serem utilizadas em outro local,
permanecendo apenas os fragmentos quebrados ou inacabados.
As pesquisas em temáticas tecnológicas e funcionais são recorrentes durante esse
período. Entretanto, em meados da década de 1980, críticas começam a ser feitas ao
52
processualismo, tendo em vista perspectivas nas quais possam ser enfatizados os papéis social
e comportamental do indivíduo.
(...) a cultura material é feita por alguém e produzida para fazer alguma coisa,
ela não reflete passivamente à sociedade, ela cria a sociedade a partir das ações
dos indivíduos. O objeto arqueológico é produzido por pessoas e não por um
sistema social (HODDER, 1994, p.139).
A discussão sobre os aspectos simbólicos dos grupos, em que antes era apenas
admitida a presença de adornos, atualmente é trabalhada em variadas pesquisas arqueológicas
(GAMBIM JUNIOR et al., 2018), assim como temáticas sobre identidades, gênero etc.
Thomas (1993), em seu trabalho Antropologia de la Muerte, explica que as práticas
funerárias correspondem a uma linguagem simbólica elaborada pelo grupo na intenção de
exprimir alguma coisa. Um item presente no enterramento, um adorno ou um instrumento é um
objeto simbólico, veículo de informação, reconhecido pelas pessoas que participaram do ritual
durante a vida.
Gonçalves e Lisbôa (2011) estudam os adornos como objetos simbólicos e tentam
entender como eles ganham sentido nas disputas por distinção de classe. Os autores afirmam
não ser possível compreender bens simbólicos fora de um contexto socialmente construído, no
qual é possível observar os gostos, as escolhas e as formas de apresentação desses objetos. O
intuito do trabalho é, então, descrever os mecanismos pelos quais os adornos escapam do mero
objeto estético e se relacionam com as pressões, disputas e diferenças sociais, na medida em
que materializam essas condições de classe.
O adorno corporal implica que os objetos decorativos caracterizam a aparência dos
indivíduos, seja em aspectos de beleza ou prestígio (RENFREW; BAHN, 2007). Estes termos
não estão sujeitos ao tempo investido na elaboração nem em sua função, mas estão associados
aos próprios indivíduos.
Leroi-Gourhan (1968) comenta sobre o valor étnico dado aos adornos corporais. O
corpo é visto como um suporte comunicacional, carregando, portanto, atributos culturais,
étnicos e simbólicos pertencentes aos grupos e os diferenciando. Assim, podemos definir que a
identificação dos adornos tende a demonstrar como se dão as relações sociais, relações entre o
cosmo e a vida real, entre o masculino e o feminino.
Desde o início da década de 1990, o termo “ornamento” deixou de ser considerado
trivial. White (1993) percebeu uma tendência significativa da antropologia social de ver os
adornos pessoais como agentes formadores de identidades:
53
O que as pessoas usam, e o que fazem com seus corpos em geral, formam uma
parte importante do fluxo de informações – estabelecendo, modificando e
comentando sobre as principais categorias sociais, tais como idade, sexo e
status, que também são definidos nas falas e nas ações (STRATHERN, 1981
apud WHITE, 1993, p. 329).
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Embelezamento do corpo;
Reprodução: atração sexual;
Idade, sexo, alguma etapa biológica, classe social, posição de um mesmo
indivíduo e/ou de um grupo completo;
Status social;
Elementos ritualísticos (nascimento, iniciação, matrimônio, cura, morte);
Oferendas às divindades;
57
No que se refere ao problema 2, a hipótese parte da premissa de que há, não de forma
exclusiva, uma reprodução de elementos sociais nas práticas mortuárias. Isso posto, parte-se da
hipótese de que os adornos são indicadores relevantes, relacionados às distinções individual e
social no grupo em contextos funerários. A presença de adornos corporais, sua função social e
a região no corpo em que estão localizados constitui, dessa forma, elementos importantes da
caracterização cultural. Possivelmente, de acordo com o que é verificado nos relatos
etnográficos, em alguns grupos, as distinções sociais e etárias se diferenciarão mais visualmente
através dos adornos do que as distinções sexuais.
De modo a responder o problema levantado e a testar a hipótese formulada, propõe-se
como objetivo geral caracterizar os adornos e identificar ou diagnosticar a capacidade de
simbolização ou significados bioculturais dos adornos nos indivíduos.
Elencou-se, ainda, os seguintes objetivos específicos:
Diante do que foi apresentado, quanto à escolha dos sítios pré-históricos, foi realizada
uma pesquisa preliminar para verificar quais deles evidenciavam adornos associados a contexto
funerário. Os sítios selecionados constam no que Martin (2008) denomina de Áreas
Arqueológicas. A fim de construir um panorama contextualizado de todas as Áreas
Arqueológicas, foi necessário realizar uma compilação dos dados ambientais, paleoambientais
e arqueológicos.
É importante salientar que muitos dos sítios foram escavados com métodos e em
períodos distintos, o que implica acesso distinto aos dados. Na presente pesquisa, todos foram
trabalhados da mesma forma, mas os dados apresentados por cada um deles serão
diversificados. O que foram coletados em escavações georeferenciadas terão precisões
diferentes dos que foram obtidos apenas com o uso de níveis, por exemplo.
Os adornos selecionados estão inseridos em contextos funerários por serem fontes de
informação contextual por excelência. Assim, ou alguns dos sítios arqueológicos selecionados
estão perturbados, por fatores diversos, ou os indivíduos encontram-se em enterramentos
coletivos, se tornando difícil a correlação com os adornos correspondentes, ou seja, em alguns
sítios, não foi possível realizar uma análise contextual de indivíduo e adorno.
Nos sítios onde existe essa correlação, além da caracterização técnica, morfológica e
tafonômica, também foram realizadas interpretações contextuais de uso e função.
Para a análise dos adornos, foi criado um protocolo em uma planilha de dados no excel,
baseado em trabalhos como os de Fernández (2006), Martinéz (2015), Rodes (1989), Silva
(2005) e Silva (2013). Na análise, foram compilados dados sobre os seguintes descritores:
número de etiqueta da peça ou número de tombo, informações sobre a matéria-prima,
dimensões, técnicas de preparação da superfície, aspectos tafonômicos, entre outras
características.
Os adornos corporais analisados não expressam o todo dos ornamentos: fibras
vegetais, couros, penas, dentre outros materiais perecíveis e suas posições, geralmente são
alterados por múltiplos fatores formativos do registro arqueológico.
Durante as análises, não foi realizada a identificação taxonômica das coleções
faunísticas. Os dados taxonômicos presentes nessa dissertação são referentes a dados já
publicados.
59
Espacial
Localização do Sítio
Ambiental
Tipo de sítio
Contexto do sítio
Cronologia
Área arqueológica
Dentro do contexto funerário foi adotado a tríade componencial que é formada pelas
variáveis “Corpo” “Cova” e “Acompanhamento funerário”. A tríade foi formulada por Silva
(2014) baseada em autores como Binford (1971), Saxe (1970) e Tainter (1957b). Durante a
pesquisa foram utilizados as variáveis Corpo e Cova para realizar a caracterização dos
remanescentes humanos verificados em contexto funerário (Quadro 2).
O estudo do corpo no processo funerário pretende identificar sexo, idade, classe,
preparação do indivíduo no momento da morte, tratamento atribuído ao corpo e sua disposição
etc. (BINFORD, 1971; D’AGOSTINO; SCHAPP, 1982; SILVA, 2014). Já segunda variável,
que trata da Cova, observa orientação, tipo de enterramento, localização espacial da cova,
estrutura da sepultura, dentre outras características (BINFORD, 1971).
62
Quadro 2 – Esquema das variáveis para a caracterização das práticas funerárias dos sítios
Sexo
Dados demográficos -
Corpo
Idade
Contexto Funerário
Dados culturais -
Tratamento funerário Tipo de enterramento
Fonte: autora
Corpo
adolescentes (12 a 20 anos), adultos jovem e maduro (20 a 50 anos) 7 e idoso (mais que 50 anos).
Para a variável sexo, foi utilizado: “feminino”, “masculino” e “indeterminado”.
Os indivíduos nos quais não se pôde verificar sexo e idade não foram excluídos da
análise, pois respondiam à segunda problemática levantada, sobre quais os tipos de adornos
presentes no contexto funerário.
7
Para a pesquisa, adota-se o termo “adulto” para todos os indivíduos que se enquadram na categoria de adulto
jovem e maduro
64
Identificativo
Descritivo/morfológi
-co
Adornos corporais
Tecnológico
Tafonômico
Fonte: autora
Quadro 4 – Esquema das variáveis para a caracterização dos adornos corporais: etapa da identificação da peça
Número de etiqueta
Sítio Arqueológico
Fonte: autora
Quadro 5. Esquema das variáveis para a caracterização dos adornos corporais – etapa da descrição da peça
Matéria-prima
Tipo de adorno
Variável
Adornos Descritiva/
corporais morfológica
Estado de
conservação
Dimensões
Fonte: autora
Matéria-prima
são adicionadas as contas de vidro (SILVA et al, 2014). Em alguns contextos funerários
preservados, também são verificados adornos de sementes e madeira.
Na literatura, constata-se que os adornos de material ósseo são produzidos
frequentemente a partir de fragmentos de diáfises, epífises, vertebras e chifres. Além desses, os
dentes são usados de forma corriqueira. Mesmo com a quantidade inferior de dentes comparada
à de ossos, a porcentagem de adornos feitos a partir do primeiro é superior ao número de
adornos feitos do último (SILVA, 2013).
O suporte malacológico também é comumente identificado nos registros
arqueológicos e é classificado como valvas de moluscos (classes de bivalvia e Gastropoda). As
rochas e minerais, ainda que tenha uma maior durabilidade, são pouco observadas no contexto
dos sítios pré-históricos do Nordeste e, quando são percebidas, geralmente estão vinculadas a
indivíduos de status social diferenciado, de acordo com relatos etnográficos (SILVA et al.,
2014).
Por meio da identificação da matéria-prima, é possível realizar inferências sobre
prováveis fontes e ter informações sobre a energia despendida na produção do objeto. No caso
dos adornos feitos com espécies vegetais e animais, pode-se apontar as espécies e inferir sobre
o aproveitamento dos recursos naturais disponíveis.
Tipo de adorno
Estado de conservação
(100% a 75%), estado de conservação regular (75% a 25%) e estado de conservação péssimo
(25% a 0%).
Dimensões
Espessura
Comprimento
Fonte: autora
Para as conchas – Largura máxima x Comprimento máximo x Espessura
Largura
Fonte: Autora
68
Figura 18 – Exemplo de como foram obtidas as medidas nos malacológicos. Pingente de concha do Sítio
Jerimum
Largura máxima
Comprimento máximo
Fonte: autora
Quadro 6 – Esquema das variáveis para a caracterização dos adornos corporais: etapa dos aspectos tecnológicos
e morfológicos
Corte
Conformação
Alisamento
Perfuração
Adornos Variável
Tecnológica Suspensão
corporais
Estrangulamento
Pigmentação
Decoração
Inscrição de
marcas
antrópicas
Fonte: autora
Corte
Perfuração
C
Fonte: adaptado de Fernández (2006)
71
Estrangulamento
Quadro 7 – Esquema das variáveis para a caracterização dos adornos corporais: etapa dos aspectos tafonômicos
Fraturas
Fissuras
Destacamentos
Adornos Aspectos
corporais Tafonômico
Quebras
Queima
Manchas
Fonte: autora
Por fim, foram abordados o uso e a função dos adornos corporais identificados em
contexto funerário. Essas duas variáveis são consideradas as mais difíceis de serem percebidas,
devido aos problemas de conservação verificados no cenário pré-histórico. Em relação ao uso,
busca-se a região no corpo na qual o adorno foi identificado. Esta etapa foi percebida através
do levantamento topográfico, croquis e fotos de campo dos enterramentos. Silva (2005) também
utiliza os termos “situação” ou “setor”, e seus tipos são: adornos de cabeça, adornos de pescoço,
adornos de orelhas etc.
A função social dos adornos foi discutida a partir de relatos sobre grupos indígenas
viventes, por meio da etnoarqueologia. É possível que diferenças sexuais, complexidade social
ou identificação étnica sejam verificadas a partir de matérias-primas distintas, por exemplo. Os
adornos reconhecidos com tipologia distinta ou matéria–prima identificada em poucos
indivíduos tendem a ter interpretações diversificadas. Por se tratar do estudo de grupos pré-
históricos em que não é mais encontrado o contexto dos rituais e o conjunto das mensagens
atribuídos aos adornos, questões relativas as funções sociais podem ficar comprometidas.
Dessa forma, entendemos que um mesmo objeto pode ter uma função específica em
dado momento e, posteriormente, acabar modificando seu significado. Essa condição de
funcionalidade efêmera torna difícil a interpretação dos adornos corporais pré-históricos. Os
documentos etnográficos e relatos de cronistas se inclinam a demonstrar, no caso da nossa
pesquisa, algumas possíveis explicações, fomentando o debate arqueológico. No entanto, é
73
necessário salientar que os discursos desses cronistas foram produzidos sob uma ótica europeia
e colonizadora.
As fontes etnográficas serão utilizadas de forma a complementar a compreensão dos
adornos identificados em contexto funerário. Para a pesquisa, foram selecionados cronistas que
conviveram com grupos indígenas do Nordeste do Brasil e autores que, em suas obras, tratam
dos costumes e formas de ornamentação de grupos indígenas em outras regiões do Brasil, tais
quais: Cardin (1978), Casal (1976), D’Evreux (1874), Gandavo (1980), Lery (1961), Salvador
(1627), Sousa (2000) e Staden (1930).
Foram também selecionadas obras de alguns antropólogos e etnólogos que discutem
questões sobre as ornamentações corporais, são elas: Baldus (1937), Castro (1986), Cunha
(1978), Ehrenreich (2014), Muller (1985), Novaes (2006), Pinto (1956), Ribeiro (1987), Vidal
(2000) e Vidal e Muller (1987). A listagem dos autores é baseada nas indicações tratadas por
Castro (2009), Cisneiros (2003), Silva (2013) e por pesquisas bibliográficas. Estas não foram
realizadas com o objetivo de esgotar a temática abordada.
74
Neste capítulo, será abordado o histórico das pesquisas nas Áreas Arqueológicas
selecionadas, os contextos ambientais e a cronologia dos sítios pré-históricos com presença de
adornos. As pesquisas arqueológicas com evidência de adornos em contexto funerário
apresentam, em muitos casos, dados sistemáticos e dados pontuais, os quais serão apresentados
a seguir.
Aspectos que tratam da ambiência são importantes, desde que se entenda a sua
correlação com os traços culturais dos grupos pretéritos que ali habitavam. A fusão de
conhecimentos das ciências geográfica e geológica com a Arqueologia consegue definir, muitas
vezes, um detalhamento da paisagem local, permitindo que inferências mais assertivas
relacionadas às ações cotidianas dos grupos do passado possam ser feitas.
A caracterização ambiental exposta neste capítulo tem como categoria de entrada sítios
presentes nas Áreas Arqueológicas do Nordeste. As categorias de entrada são criadas a fim de
se obter, a partir de estudos sistemáticos dos sítios arqueológicos, crono-estratigrafias passíveis
de determinarem ocupações humanas em toda parte dessa área. Já os enclaves pré-históricos
são categorias de saída, nas quais são observados os limites culturais e cronológicos das
ocupações, ou seja, as dispersões e o consequente abandono da área (MARTIN, 2008).
Martin (2008) conceitua as Áreas Arqueológicas como divisões geográficas que
compartem das mesmas condições ecológicas e nas quais está delimitado um número
expressivo de sítios pré-históricos. Essas áreas são estabelecidas mediante escavações,
pesquisas exaustivas e estudos geomorfológicos que atestem a presença de ocupações pré-
históricas e que apresentam caracterizadores culturais e cronologias absolutas, relativas ou
estimadas na determinada microrregião. Assim, elas apresentam um princípio teórico muito
mais conceitual do que geográfico, o que faz com que seus limites geográficos não sejam
rígidos, mas flexíveis e dinâmicos, sendo modificados de acordo com a identificação de novas
ocupações (MARTIN, 2008).
Nesta pesquisa, os sítios selecionados (Figura 20) estão distribuídos nas seguintes
Áreas Arqueológicas: Vale do Ipanema (PE), Vale do Ipojuca (PE), Itaparica (PE/BA), Seridó
(RN), Serra da Capivara (PI) e Xingó (SE/AL).
75
8
Mestre em Arqueologia pela Universidade Federal do Piauí.
76
é de 6.640 ± 95 anos BP. Já o Sítio PE 48-Mxa possui uma datação mais recente para a área de
270 ± 150 anos BP (ABUQUERQUE; LUCENA, 1991).
O Peri-Peri I é um sítio de registro rupestre e sua datação é de 1.760 a 2.030 anos BP,
o que constitui a primeira datação relativa de registros rupestres de Pernambuco. Foram
identificados, nesse sítio, duas fogueiras estruturadas com restos de ocre, lascas de quartzo,
seixos desgastados pela abrasão e núcleos de hematita, todos eles com sinais de uso. De acordo
com Martin (2008), esses vestígios permitiram inferir sua utilização no preparo das tintas
observadas no paredão rochoso.
Além dos sítios já mencionados, tem-se, ainda, o Sítio Alcobaça e o Cemitério dos
Caboclos (Figura 21), que foram selecionados para a pesquisa devido à presença dos adornos
em contexto funerário. Destes, apenas o Alcobaça tem dados cronológicos publicados.
Figura 21 – Área Arqueológica do Vale do Ipanema com a localização dos Sítios Alcobaça e Cemitério
dos Caboclos
O Sítio Arqueológico Alcobaça foi escavado pela arqueóloga Ana Nascimento entre
os anos de 1996 e 1998. Está localizado na microrregião de Arcoverde, município de Buíque,
distrito de Carneiro, sob as coordenadas Zona 24L UTM E 698800 e UTM N 9055581. O sítio
é um abrigo sob rocha arenítica (Figura 22), com presença de pinturas rupestres, da tradição
78
A identificação dos indivíduos por cova foi realizada pelo método de contagem
mínima, e, até o momento, não se tem dados publicados sobre o sexo (Tabela 3) dos esqueletos,
devido ao alto grau de fragmentação (CISNEIROS, 2003).
Sexo Idade
Número do Tipo de Quantidade de
enterramento enterramento indivíduos Datação
Não 04 adultos e
1 Secundário 6 identificado 02 crianças 2.466 ± 26
Não 02 crianças
2 Secundário 2 identificado 1.873 ± 24
Não 02 crianças
3 Secundário 2 identificado 1.812± 26
Não 04 Adultos
identificado jovens e 02
4 Secundário 6 crianças 2.405 ± 30
Não 04 Adultos
identificado jovens e 03
5 Secundário 7 crianças 2.184 ± 32
Fonte: adaptado de Oliveira (2006)
vestígios vegetais e
3 Ausente Presente Ausente Ausente
material faunístico
restos de cestaria,
Envolvidos em material lítico,
4 Presente Presente trançados de Ausente fragmentos de
fibra vegetal cerâmica, material
faunístico
5 Presente Presente Ausente Presente Fibras vegetais
Fonte: adaptado de Oliveira (2006)
A Área Arqueológica do Vale do Ipojuca teve suas pesquisas iniciadas nos anos de
1960 por Marcos Albuquerque. Em seguida, a equipe do Núcleo de Estudos Arqueológicos da
UFPE também realizou um levantamento na área com o cadastro e análise de sítios
82
Pleistoceno/Holoceno a partir de 11.000 anos BP, detectados no Sítio Furna do Estrago (Figura
23).
Figura 23 – Área Arqueológica do Vale do Ipojuca com a localização do Sítio Furna do Estrago.
O Sítio Arqueológico Furna do Estrago foi escavado pela arqueóloga Jeannette Lima
entre os anos de 1982 e 1985. Ele está localizado no município Brejo da Madre de Deus, na
encosta Norte da Serra da Boa Vista (Figura 24), a uma altitude de 650m, sob as coordenadas
Zona 24L UTM E 787609.95 e UTM N 9098454N (CISNEIROS, 2003; MARTIN, 2008).
84
Para mais, nele, foram verificados registros rupestres tanto no interior (em vários
pontos do teto e nas paredes do abrigo), quanto no entorno. Possuem tonalidade avermelhada e
se encontram em elevado estado de degradação, devido às fogueiras acesas dentro da furna
(LIMA, 2012).
Houve também pesquisas sobre restos alimentares, instrumentos líticos, material
cerâmico, além do estudo sobre os rituais funerários do grupo humano que ocupou o abrigo. É
possível ver dados sistemáticos sobre o sítio em Castro (2009), Cisneiros (2003), Costa e Lima
(2016), Leite et al. (2014), Lima (2012), Martin (2008), Souza et al. (1998), Souza (2018) etc.
A primeira fase de ocupação do sítio possui cronologia mais recuada, de 11060 ± 90
anos BP, correspondendo ao período do Holoceno, no qual se pondera como testemunhos
arqueológicos alguns vestígios líticos (lascas de quartzo) e carvões. A datação desta ocupação
aconteceu mediante alguns carvões coletados no corte 4.
Com relação à segunda fase de ocupação, esta vai de 9150 ± 90 anos BP a 8495 ± 70
anos BP, correspondendo às camadas 5 e 6, que são formadas, de acordo com Lima (1985), por
cinzas de fogueira. Em virtude dos materiais associados a essas cinzas, tais como espécies de
moluscos terrestres, ossos de pequenos animais, vestígios vegetais e instrumentos líticos, Lima
et al. (2012) entendem esse período enquanto testemunho da utilização do espaço como sítio
habitação.
Já terceira fase está situada cronologicamente entre 8495 ± 70 anos BP e 1040 ± 40
anos BP, em que os vestígios arqueológicos correspondem ao contexto funerário, da camada 3
a camada 8, com 1,20m de profundidade9. Ainda nessa etapa, foram datados os esqueletos FE
18, FE 87.23 e FE 45.
A necrópole encontrada no Sítio Furna do Estrago é uma das mais significativas para
a região Nordeste, por causa da quantidade de indivíduos exumados em boas condições de
conservação. O cemitério indígena de 2.000 anos BP foi ocupado por um grupo bem adaptado
às condições climáticas da região.
Lima (2012) assinala que os dados estratigráficos do sítio Furna do Estrago auxiliaram
na observação de três níveis de sepulturas (Tabela 5):
9
As informações referentes às fases de ocupação do Sítio Furna do Estrago foram obtidas no artigo “Furna do
Estrago, Brejo da Madre de Deus, PE: Reflexões sobre o lugar dos mortos na paisagem”. Tais dados foram
baseados em Lima (1985) e Lima et al. (2012).
86
Níveis Quantidade
Arqueológicos de Sepulturas Idade Sexo
04 Masculinos
05 Adultos
01 Feminino
04 Crianças
(01 recém- -
Nível Antigo 8 nascido)
08 Masculinos
13 Adultos
05 Femininos
Nível Intermediário 16 03 Crianças -
07 Masculinos
02 Femininos
10 Adultos 01 Indeterminado
03 Crianças
(01 recém-
nascido) -
01 Não
Nível Recente 14 identificado -
09 Masculinos
16 adultos 05 Femininos
02 Não identificados
Nível não definido 43 09 Crianças
(01 recém-
nascido) -
17 Não
identificados -
Fonte: Lima (2012)
As pesquisas na área de Itaparica foram iniciadas entre 1982 e 1988, com o Projeto
Itaparica de Salvamento Arqueológico, que pretendia identificar e resgatar sítios arqueológicos
na área que seria inundada pela Barragem de Itaparica, correspondendo aos municípios de
Glória, Rodelas e Chorrochó, na Bahia, e Petrolândia, Itacuruba e Floresta, em Pernambuco
(CISNEIROS, 2003).
Nos municípios pernambucanos, as pesquisas arqueológicas foram realizadas pela
equipe da UFPE, sob a coordenação da Professora Gabriela Martin. Já nos municípios baianos,
o MAE, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ficou responsável pelas intervenções
arqueológicas, sob a coordenação de Pedro Agostinho Neto (MARTIN, 2008).
A área é formada por diferentes compartimentações topográficas, cujas características,
quando bem delimitadas, indicam as formas de exploração do meio ambiente por grupos pré-
históricos. De acordo com Torres e Pfaltzgraff (2014), a Área Arqueológica do médio do São
Francisco está inserida na Bacia do Jatobá.
A Bacia do Jatobá é uma área sedimentar cuja superfície encontra-se em nível mais
elevado do que as áreas cristalinas vizinhas. Está totalmente inserida no ambiente semiárido,
com uma pequena parte da bacia a leste na região Agreste de Pernambuco e a maior parte no
Sertão (TORRES; PFALTZGRAFF, 2014).
Essa unidade geomorfológica possui diferentes feições de relevo, incluindo topos
aplainados na forma de chapadas, encostas suaves na borda da bacia, serras e serrotes areníticos,
que emergem em relevos comumente escarpado, e terraços fluviais na faixa ribeirinha do Rio
São Francisco, estendendo-se desde a cidade de Belém do São Francisco até a foz do Moxotó.
Os terraços existentes na região do sub-médio São Francisco diferenciam-se dos que
se formaram no baixo curso, limitados por um terreno mais elevado, na foz de um afluente
pequeno que contribuiu para a deposição aluvionar que o formou em parte. Arqueologicamente,
essa subdivisão das diferentes feições do relevo demonstram as áreas de ocupação dos grupos
pré-históricos. Nos embasamentos cristalinos, serrotes e vertentes dos terrenos sedimentares,
encontram-se abrigos sob rocha, enquanto que nas áreas planas e terraços fluviais, localizam-
se os sítios a céu aberto (SILVA, 2003).
As redes de drenagem em Itaparica têm como rio principal o Rio São Francisco e como
principais afluentes o Rio Pajeú e o Rio Moxotó. Os demais cursos d’água são pequenos
riachos, como o riacho do Angico, Tamboril, Itacuruba, entre outros.
88
O Sítio Arqueológico Gruta do Padre foi escavado no ano de 1930, pela primeira
vez, pelo etnólogo Carlos Estevão. Depois, mais duas campanhas foram realizadas, uma nos
anos de 1960, por Valentin Calderón, e a outra durante o Projeto Itaparica de Salvamento
Arqueológico, por Gabriela Martin. O sítio está localizado no Serrote do Padre, município de
Petrolândia, PE (Figura 26), sob as coordenadas Zona 24L UTM E 576399.59 e UTM N
8995380. É um abrigo sob rocha arenítica com 41m² de área habitável (MARTIN, 2008).
90
10
O carvão datado é referente à fossa funerária e foi coletado no estrato 2, segundo Martin (2008).
91
pela Arqueóloga Gabriela Martin, e do MAE, na UFBA, a respeito às escavações feitas pelo
arqueólogo Valentin Calderón.
decorrente do Younger Dryas11, e por eventos de alto grau pluviométrico. Para Mutzenberg
(2007), esse momento pode ter sido para a população um cenário rico, porém instável.
Entre 5.790 ± 60 e 4.160 ± 70 anos BP, relativos ao Holoceno Médio, observa-se um
clima úmido e quente. Durante esse período, a região oferece condições propícias para a
ocupação humana, pois o clima estava mais regular e estacional.
O último momento, entre 2.750 ± 40 e 2.620 ± 60 anos BP, inserido cronologicamente
no Holoceno Superior, foi marcado por vários instantes de estabilização da paisagem e
formação de solos rasos em terraços fluviais, já próximos a ambientes observados atualmente.
A partir dos dados paleoambientais expostos, percebe-se a substancialidade da Região
do Seridó e, mais especificamente, do Vale do rio Carnaúba para a ocupação dos grupos
humanos na pré-história, atuando como refúgio em épocas de estiagem severa.
Ainda não se tem dados suficientes para estabelecer uma cronologia contínua no que
se refere à ocupação humana na Área Arqueológica do Seridó. Entretanto, por meio das
datações absolutas realizadas em escavações arqueológicas nas áreas, é possível constatar uma
ocupação a partir de 9.400 ± 90 até 2.620 ± 60 anos BP no Sítio Mirador de Parelhas e Pedra
do Alexandre, através de carvões associados a sete sepultamentos. Esse último possui uma
cronologia de ocupação mais longa, como será mencionado a seguir. Também inseridos na área
do Seridó, se verificam os grupos ceramistas da Pedra do Chinelo, datados em 1.991 anos BP.
Dos sítios pré-históricos identificados na área do Seridó, a maior concentração se
encontra no município de Carnaúba dos Dantas, em razão da intensidade de prospecções
realizadas no local até o momento. A área integra um grande número de sítios, contendo
pinturas rupestres da Tradição Nordeste, sub-tradição Seridó, além de sítios cemitérios e
cerimoniais. Autores como Alvim et al. (1995/1996), Borges (2010), Castro (2009), Cisneiros
(2003), Fontes (2003), Martin (2008), Nogueira e Borges (2015), Queiroz (2002), Queiroz et
al. (1996), Santos (2013), Saldanha (2014) e Torres (1995/1996) dissertam sobre a diversidade
de vestígios arqueológicos identificados nessa área.
Dentre os sítios cemitério detectados na Área Arqueológica do Seridó, foram
selecionados os Sítios Mirador de Parelhas e Pedra do Alexandre (Figura 27), por apresentarem
adornos corporais em contexto funerário.
11
Período Glacial com mudanças climáticas bruscas.
93
Figura 27 – Área Arqueológica do Seridó com a localização dos Sítios Mirador de Parelhas e Pedra do
Alexandre
Tabela 6 – Dados sobre os tipos, quantidade de indivíduos, sexo, idade e datação dos enterramentos escavados
no Sítio Pedra do Alexandre
Tabela 7 – Dados sobre o tratamento destinado ao corpo, presença de adornos e outros materiais associados dos
enterramentos escavados no Sítio Pedra do Alexandre
Tratamento
do corpo Acompanhamentos
Número do
Adornos funerários e outros
enterramento
materiais associados
Ocre
-
6 Ausente
Contas de malacológico
apresentar clima quente e seco no domínio morfoclimático da Caatinga. Esse espaço está a
aproximadamente 40km de distância do Parque Serra da Capivara, contendo características
físicas, climáticas e de vegetação semelhantes a este último (PEREZ, 2008).
Pesquisas desenvolvidas por Chaves (2002) em palinologia têm fornecido informações
importantes sobre a reconstituição do paleoambiente na área da Serra da Capivara e entornos.
O autor afirma que pólens encontrados em coprólitos evidenciaram espécimes vegetais
características de períodos chuvosos. No entanto, escavações do Sítio Toca da Ema do Sítio do
Brás I observaram gêneros como Mimosa e Acácia, típicas de uma vegetação de transição entre
Cerrado e Caatinga, datados de 8.820 ± 70 anos BP. Chaves (2002) pontua, dessa forma, que,
possivelmente, até 7.230 anos BP, existiam formações abertas, com retomadas de vegetação de
Cerrado, como é possível observar até hoje algumas manchas de brejo, vestígio do antigo clima
úmido.
Sobre a disponibilidade hídrica da região durante a pré-história, Guidon (2002) atesta
que alguns fatores, como a extinção tardia de animais da megafauna, presença de sedimentos
típicos de clima úmido nas colunas estratigráficas e a localização dos sítios em função das
drenagens reforçam essa maior disponibilidade.
Para Guérin et al. (1996), o conjunto faunístico que data do Pleistoceno superior
também é um testemunho da existência de uma paisagem caracterizada pela Savana Arbustiva,
com zonas de florestas com clima mais úmido do que o visto atualmente.
A partir dos dados obtidos até o momento da Área Arqueológica da Serra da Capivara,
é possível distinguir três classes cronológicos distintas: Grupos de Caçadores coletores do
Pleistoceno, que ocuparam a área há pelo menos 50.000 anos, quando os primeiros grupos se
instalaram nos sopés das cuesta; Grupos Caçadores Coletores do Pleistoceno/Holoceno, com
faixa cronológica de 12.000 a 7.000 anos BP – essa fase é caracterizada por uma
aperfeiçoamento técnico evidenciado no material lítico, assim como estruturas de fogueira mais
abundantes e diversificadas; por fim, os Grupos Agricultores do Holoceno, que surgem com
maior frequência entre 4.000 e 2.000 anos BP, e se caracterizam não só pela presença das
cerâmicas e domesticação de plantas e animais, mas também por uma indústria lítica mais
diversificada (CISNEIROS, 2008).
A Área Arqueológica da Serra da Capivara é formada pelos parques Serra da Capivara,
Serra das Confusões e Serra Branca, com uma profusão de sítios arqueológicos históricos e pré-
históricos. Aqui, o foco será na Serra das Confusões, pois nela estão situados os sítios com
presença de adornos corporais.
99
De acordo com Luz (2014), o Parque Serra das Confusões possui sítios pré-históricos
portadores de registros rupestres tanto em abrigos sob rocha, quanto em afloramentos rochosos
isolados. Alguns apresentam solo propicio à escavação, enquanto outros não possuem
sedimento. Os registros rupestres, em sua maioria, representam zoomorfos e figuras humanas
estáticas ou em cenas cotidianas.
Em 2008, a Fumdham iniciou sondagens e escavações na Serra das Confusões, a partir
das quais os primeiros sítios pesquisados foram a Toca do Enoque e a Toca do Alto do Capim,
objetos de estudo dessa dissertação (Figura 30).
Figura 30 – Área Arqueológica da Serra da Capivara com a localização dos Sítios Toca do Enoque e Toca do
Alto do Capim
abertura voltada para o sudoeste. No paredão do fundo, em cerca de 15m, foram realizadas
pinturas rupestres com representações de grafismos geométricos, zoomorfos e alguns
antropomorfos, todas em cor vermelha, caracterizando as tradições Nordeste, Agreste e
Geométrica.
Cerca de 15m de comprimento por 5m de largura do abrigo foi escavado, na parte
plana que apresenta sedimento arenoso. No lado sudeste do abrigo, existe um conjunto de
blocos de arenito; no lado noroeste, quando chove, forma-se uma queda d’água que desce a
serra (Figura 31).
Os resultados das escavações arqueológicas, até agora, nas três sepulturas (Tabela 8),
indicam a ocorrência dos enterramentos em períodos distintos, verificados através das datações
dos carvões associados aos enterramentos. A primeira sepultura data de 5.940 ± 40 anos BP e
possui prática funerária diferente das outras duas sepulturas, de acordo com Luz (2014), devido
a menor quantidade de ornamentos, tais como conchas trabalhadas sobre a pelve e blocos de
arenito sobre o crânio.
Na segunda sepultura, considerando as datações existentes e a leitura dos perfis
estratigráficos, foi observada a existência de três momentos de utilização da fossa funerária. No
primeiro nível, seria uma ocupação antiga com os indivíduos dispostos sobre um bloco de
101
Figura 32 – Vista da fachada do Sítio Toca do Alto do Capim, Serra das Confusões, PI
Figura 33 – Estruturas convexas forradas com capim, observadas durante a escavação do Sítio
A Área Arqueológica de Xingó teve seus estudos iniciados a partir de 1980, através do
Projeto Arqueológico de Xingó (PAX), para a construção da Usina Hidroelétrica no município
de Canindé do São Francisco. O objetivo do projeto era mapear e salvar os sítios arqueológicos
localizados nas margens do Rio São Francisco que seriam impactados pela construção do
empreendimento. Esse projeto foi coordenado pela equipe de arqueologia da Universidade
Federal de Sergipe (UFS) em convênio com a Companhia Hidrelétrica do São Francisco
(CHESF).
Durante a primeira etapa do projeto, entre 1988 e 1994, foram cadastrados 51 sítios
arqueológicos, entre sítios a céu aberto e sítios com registros rupestres. Na segunda etapa, de
1995 a 2000, foram cadastrados mais de 200 sítios nas planícies, terraços, ilhas fluviais e platôs
do Cânion no Rio São Francisco (VERGNE, 2004).
A Área Arqueológica de Xingó é formada, então, por 3 áreas distintas, conforme a
concentração dos sítios arqueológicos evidenciados (FAGUNDES, 2007)
106
resgatados dos Sítios Justino e São José II, além de estruturas de fogueira, restos faunísticos e
objetos de adorno de concha e rocha (OLIVEIRA et al., 2005).
São diversos os sítios pré-históricos identificados na Área Arqueológica de Xingó,
desde oficinas líticas a sítios cemitérios e sítios com registro rupestres. Autores como Luna
(2005), Oliveira et al (2005), Silva (2013; 2017), Vergne (1996; 2002; 2004), entre outros,
produziram pesquisas sobre a diversidade de vestígios arqueológicos encontrados nessa área.
Dentre os sítios cemitério identificados na Área Arqueológica de Xingó, foram
selecionados os sítios Justino e Jerimum, pois apresentam adornos corporais em contexto
funerário (Figura 34).
Figura 34 – Área Arqueológica de Xingó com a localização dos Sítios Justino e Jerimum
1.280 ± 45 anos BP
03-01
(Decapagem 03) Vergne (2004)
2 Fagundes (2007)
2.530 ± 70 anos BP
(Decapagem 08) Vergne (2004)
Fagundes (2007)
4.390 ± 30 anos BP
(Decapagem 09)
Cemitério Fase Santana (2013)
1 15-09
B 04
2.650 ± 150 anos BP
(Decapagem 10) Vergne (2004)
Fagundes (2007)
4.790 ± 80 anos BP
21-16
Cemitério Fase (Decapagem 20) Vergne (2004)
C 03 3 Fagundes (2007)
7.530 ± 30 anos BP
28-22
2 (Decapagem 27) Santana (2013)
110
5.570 ± 70 anos BP
34-29 (Decapagem 30) Vergne (2004)
1 Fagundes (2007)
13% do total de indivíduos possuem adornos cujas matérias-primas mais frequentes são os
ossos, conchas, dentes e minerais (Tabela 11).
Tabela 11 – Dados dos enterramentos nos quais foram verificados adornos no Sítio Justino, Xingó, SE
Número do Tipo de
Idade Sexo Adornos
Enterramento enterramento
Colar de ossos de
5 Primário Adulto Masculino
animais
Colar de ossos de
6 Primário Adulto Feminino
animais
Colar de ossos de
23 Primário Adulto Indeterminado
animais
34 Primário Adulto Masculino Tembetá em amazonita
Colar de ossos de
41 Secundário Adulto Indeterminado
animais
Colar de contas de
48 Primário Criança Indeterminado
ossos de ave
55 Primário Adulto Masculino Contas de vidro
109 Primário Idoso Masculino Tembetá em amazonita
Colar de dentes de
112 Primário Adulto Feminino
mamíferos
Colar de ossos de
114 Primário Adulto Feminino
animais
Tembetá em amazonita,
116 Primário Subadulto Feminino
bracelete e tornozeleira
Colar de ossos de
118 Primário Idoso Masculino
animais
131 Primário Adulto Masculino Tembetá em amazonita
Contas de vidro, de
137 Primário Adulto Masculino malacológico e de
ossos
Contas de vidro, de
138 Primário Criança Indeterminado malacológico e tembetá
em amazonita
Contas de vidro e
140 Primário Criança Indeterminado
tembetá em amazonita
Pulseira de concha de
147 Primário Criança Indeterminado
molusco
Não
150 identificado Não identificado nas
Indeterminado Indeterminado
nas referências
referências
112
Colar de ossos de
156 Primário Adulto Masculino
animais
Tembetá em amazonita,
160 Primário Adulto Feminino
colar de contas brancas
Os autores ainda citam que, diante do que foi observado, a ocupação do Sítio Jerimum
parece ter se dado por grupos com diferentes sistemas de produção: um caracterizado por
caçadores coletores (Ocupação 3 e 4) e outro caracterizado por grupos ceramistas (Ocupação 1
e 2). Contudo, são necessárias datações e a continuidade das escavações.
Foram evidenciados, durante as escavações de 2001 e 2002, 10 estruturas funerárias e
11 enterramentos com acompanhamentos funerários (Tabela 12) e adornos (contas de colar e
pingente de ossos de animal), além de vestígios líticos, fragmentos cerâmicos, ossos de
pequenos animais, conchas, 35 estruturas de fogueira e material histórico como faiança,
porcelanas, tijolos, telhas e vidro. A maioria das estruturas foram achadas no setor I, próximo
ao barranco do terraço (OLIVEIRA et al., 2005).
Tabela 12 – Dados sobre o Sítio Jerimum publicados por Castro (2009) e Carvalho e Oliveira (2002)
Acompanha Outros
Número do Tipo de materiais
Idade Sexo Adornos mento
Enterramento enterramento associados
funerário
-
1 Indeterminado Adulto Indeterminado - -
conchas 08
01
bivalves Gastrópodes
3 Primário Adulto Masculino gastrópode
sobre o terrestres
perfurado
crânio
4.1 Primário Adulto Indeterminado - - -
4.2 Primário Adulto Indeterminado - - -
5 Primário Adulto Indeterminado - - -
6 Primário Adulto Indeterminado - - -
7.1 Primário Adulto Masculino - - -
Gastrópodes Fragmentos
7.2 Primário Adulto Indeterminado - junto a mão de cerâmica,
esquerda peças líticas
114
Fragmento
de granito
8 Primário Adulto Masculino? - cor de rosa -
sobre o
crânio
9 Primário Adulto Indeterminado - - -
Subad -
10 Indeterminado Indeterminado -
ulto -
Fonte: adaptado de Castro (2009) e Carvalho e Oliveira (2002)
A análise e interpretação dos dados são uma das formas mais eficazes de nutrir os
direcionamentos e planejamentos de uma pesquisa. As relações e correlações entre as análises
obtidas constitui a essência do trabalho científico. Neste capítulo, serão apresentados os
resultados obtidos após o uso, de forma ordenada e sistemática, da metodologia proposta.
A apresentação dos resultados pretende proporcionar elementos que possibilitem
interpretações, podendo ser limitadas pelos próprios dados ou métodos aplicados na pesquisa.
As hipóteses que serão discutidas são passíveis de serem complementadas ou falseadas diante
de novas abordagens teórico-metodológicas.
26%
20%
0%
2% 1%
45%
Fonte: autora
12
Os adornos do Sítio Gruta do Padre não foram analisados por completo, pois as campanhas para salvamento do
local foram realizadas entre 2 equipes distintas. Dessa forma, parte do material que foi analisado está no acervo da
UFPE, enquanto a outra parte que não foi analisada encontra-se na UFBA. Outra atenuante é sobre o sítio Justino,
que também não foi analisado por completo, devido à presença, em 4 enterramentos, de algumas contas de vidro
(designação atribuída por Silva (2017)) associadas a adornos nativos.
116
Os ossos dos indivíduos submetidos a está prática possuem alto grau de fragmentação.
Tal atividade pode ter contribuído para o baixo percentual de adornos nos sítios mencionados.
A Figura 38 demonstra as contas de colar de ossos, identificadas nas cores cinza, preta, marrom
e branca, as quais, possivelmente, sofreram com a ação da queima.
13
Os sítios Alcobaça, Jerimum e Mirador de Parelhas encontram-se com percentual de 0% devido a sua associação
com outros sítios de maior quantitativo; mas, nesses sítios, também foram identificados adornos corporais.
117
Fonte: autora
Figura 39 – Distribuição cronológica dos adornos de acordo com a datação dos sítios arqueológicos selecionados
1200
1000
800
600
400
200
0
1000 2000 4000 6000 8000 10000
Fonte: autora
minerais e rocha aconteceu entre 1.000 e 2.000 anos apenas, reforçando a hipótese de que sítios
mais recentes tendem a ter uma maior variabilidade na fabricação dos adornos. Além disso,
evidencia que a produção de adornos, na qual a materialidade precisa ser trabalhada com maior
gasto energético, possivelmente esteja destinada a uma parcela menor de indivíduos dentro do
grupo.
Os adornos, quando identificados de modo associado aos indivíduos, podem nos trazer
possibilidades interpretativas quanto aos aspectos sociais inerentes ao grupo, tendo sempre em
vista que o universo arqueológico é vestigial e incompleto e que as interpretações podem
possuir caráter probabilístico, não determinante.
Relatos etnográficos apresentam grupos indígenas diferenciando o status de quem está
sendo enterrado por meio do tratamento funerário e dos adornos corporais, como consta na
citação abaixo de Lery (1961).
Depois de aberta a cova, não comprida como as nossas, mas redonda como
um tonel de vinho, curvam o corpo e amarram os braços em torno das pernas,
enterrando-o quase de pé. Se o finado é pessoa de destaque sepultam-no na
própria casa, envolvido em sua rede, juntamente com seus colares, plumas e
outros objetos de uso pessoal (LERY, 1961, p. 197).
Os rapazes têm por hábito furar o beiço inferior logo na infância, e usam no
buraco um osso bem polido, alvo como marfim, feito a semelhança de uma
carrapeta [...] mas só usam esse osso branco na adolescência; quando adultos,
curumim-assú (isto é, menino crescido) usam no furo do beiço uma pedra
verde, espécie de falsa esmeralda, do tamanho de uma moeda [...] (LERY,
1961, p. 93, destaque do autor).
Idosos
Adolescentes
Infantes e crianças
0 5 10 15 20 25
Fonte: autora
14
Vem do Tupi e significa “à Imagem da lua” ou “feito da Lua”.
121
eram feitos orifícios nas orelhas, nos quais eram pendurados objetos com comprimento de um
palmo e utilizados enfeites feitos de conchas do mar.
Os grupos indígenas se diferem uns dos outros. Lery (1961) relata que as mulheres
tupinambás não costumam furar os lábios nem as faces para colocar os adornos de amazonita,
como os homens, mas se faziam furos e eram inseridos brincos de conchas marinhas nas
orelhas. Já alguns grupos de Botocudos, de ambos os sexos, têm por costume furar o lábio
inferior e os lóbulos das orelhas, introduzindo discos de madeira, cujo tamanho aumentava com
a idade.
Os adornos labiais de amazonita, que são mais comumente associados ao uso dos
indivíduos masculinos, foram identificados, ainda, em indivíduos femininos, de modo que,
provavelmente, os grupos pré-históricos observados na pesquisa podem não ter como costume
a distinção dos sexos através dos adornos. A Figura 41 reflete como a variável sexo apresenta
pouca ou nenhuma relação para os indivíduos adornados.
Fonte: autora
Na análise do contexto funerário, o tipo de enterramento foi utilizado como variável
capaz de influenciar a disposição espacial dos adornos e, consequentemente, interferir na
situação ou uso (local no qual o adorno foi identificado no corpo do indivíduo), como também
no estado de conservação do material depositado, já que enterramentos secundários tendem a
fragmentar mais os ossos.
A Figura 42 exibe as alterações tafonômicas, como a quebra, fissura e fratura nos
adornos achados em enterramentos primários e secundários. A relação pode indicar que
enterramentos primários, além de situarem o adorno em função do indivíduo, se inclinam à
diminuição da ação de processos tafonômicos no material.
122
Figura 42 – Relação dos tipos de enterramentos com o estado de conservação dos adornos
5%
95%
Fonte: autora
As alterações tafonômicas, verificadas e trabalhadas nesta pesquisa, visavam a
estabelecer os diferentes tipos de aspectos que incidiram nos adornos corporais. A não
identificação desses fatores pode produzir equívocos no diagnóstico, prejudicando a detecção
das variáveis culturais listadas. A tafonomia, como conceitua Silva (2017), quando inserida em
contextos funerários, intende a compreender fenômenos extrínsecos e intrínsecos, que
modificaram a aparência do material arqueológico.
Assim, as alterações observadas são decorrentes de contextos múltiplos que incluem o
estado de conservação precário do sítio Pedra do Alexandre (Figura 43), em razão da inumação
dos esqueletos sob matacões, além da alteração da estrutura do sítio e dos ossos inumados no
Sítio Justino, por causa da ocorrência frequente de enchentes (SANTOS, 2000).
123
Figura 43 – Pingente de ossos de cervídeo com quebras, fraturas e fissuras transversais, identificado no Sítio
Pedra do Alexandre
Fonte: autora
Figura 44 – Conta óssea esbranquiçada com fraturas e quebra, possivelmente decorrente da ação de queima,
identificada no Sítio Furna do Estrago
Fonte: autora
Sobre a materialidade dos adornos, podemos citar o Sítio Toca do Enoque, onde foram
encontrados 672 dentes de animais, incluindo jaguatiricas (Felis pardalis), raposas (Cerdocyon
thous), onça vermelha (Felis concolor) e onça pintada (Panthera onça). Esses materiais são
pingentes utilizados com recorrência entre os grupos indígenas. A etnografia brasileira nos
mostra como a ornamentação, para os grupos, tinha o objetivo de transmitir mensagens visuais
e nos apresenta, também, a relação que os dentes tinham com esses grupos. Para muitas
sociedades ameríndias os dentes representam uma força vital ocupando lugar de prestígio na
vida social. O jesuíta Gabriel Soares e Sousa, em 1587, relata:
Gambim Junior et al. (2018) também comentam que os dentes usados em colares
poderiam ter pertencido tanto aos indivíduos adultos, quanto aos infantes, ou ter significado
troféus de caça e amuletos de proteção (
Figura 45 e Figura 46); ambos os casos já observados etnograficamente.
Figura 45 – Colar de dentes de raposa (Cerdocyon thous) associado ao indivíduo infantil. Sítio Toca do Enoque
(à esquerda)
Figura 46 – Colar de dentes de onça pintada (Panthera onça), onça vermelha (Felis concolor) e Jaguatirica
(Felis pardalis) associado a um Recém-nascido no Sítio Toca do Enoque.
Além dos dentes identificados nos sítios pré-históricos, também foram verificados 498
(quatrocentos e noventa e oito) conchas de gastrópodes terrestres e moluscos marinhos; 1.530
(mil quinhentos e trinta) ossos de animais, nos quais estão inclusos cervídeos, roedores,
primatas, aves, dentre outras espécies; 45 (quarenta e cinco) adornos feitos de rocha, como o
quartzo e o siltito; 19 (dezenove) adornos feitos de minerais, como a caulinita, amazonita e a
ágata; 1.165 (mil cento e sessenta e cinco) espécies vegetais, incluindo sementes de angico
(Anadenanthera peregrina), gindiroba (Fevillea trilobata L.) e catolé (Syagrus comosa); por
fim, 26 (vinte e seis) adornos feitos de madeira.
Os processos tafonômicos e o alto grau de modificação de alguns adornos
comprometeram a identificação de algumas matérias-primas, principalmente nos sítios Furna
do Estrago e Gruta do Padre. A Figura 47 e a Figura 48 apresentam os dados quantitativos
descritos acima, distribuídos por sítios.
126
1200
1000
800
600
400
200
0
Sítio Furna do Toca do Alto do Pedra do Toca do Enoque Justino
Estrago Capim Alexandre
Fonte: autora
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Alcobaça Gruta do Padre Cemitério dos Jerimum Mirador de
caboclos Parelhas
Fonte: autora
No sítio Toca do Enoque, os adornos feitos de material malacológico não foram
percebidos em grandes quantidades, mas quase todos os indivíduos possuíam associações com
conchas em seu mobiliário fúnebre. Isso nos leva a supor, de acordo com Luz (2014), que as
conchas faziam parte da vida dessa população pré-histórica e foram colocadas nos
enterramentos como parte do ritual funerário. O provável fator de proliferação dos caramujos
Aruá (Megalobulimus) são os ambientes úmidos característicos dos abrigos sob rocha (Figura
49), o que também ocorre na Furna do Estrago.
127
O uso de vegetais, como trançados e fibras nas práticas funerárias e na confecção dos
adornos, também é recorrente. Em relação ao sítio Alcobaça, Oliveira (2006) traz os cordames
feitos de fibras de palmeira e caroá nos 5 enterramentos secundários e coletivos. No Sítio Furna
do Estrago, também foram achadas fibras vegetais de caroá (Neoglaziovia variegata) e esteiras
envolvendo os indivíduos, e adornos de sementes de Gindiroba (Fevillea Trilobata) (Figura 50)
foram utilizados para a confecção de contas de colar.
Fonte: autora
128
Nos sítios Toca do Enoque e Alto do Capim (Figura 51), também foi observado o uso
de fibras vegetais e sementes sobre braços e pelve dos indivíduos, sugerindo que estes são
adornos de pulso e cintos, como cita Luz (2014).
Figura 51 – Contas de semente e fibras associadas ao indivíduo infantil no Sítio Toca do Alto do Capim
Fonte: autora
Dentre os tipos de adornos presentes no registro arqueológico, as contas de colar e os
pingentes apresentam-se como os mais representativos. No entanto, durante as análises dessa
variável, foi possível, ademais, verificar outros adornos não identificados, possivelmente um
pingente ou um adorno para o cabelo (Figura 53) e um bracelete produzido a partir de concha
de molusco (Figura 54), vinculado a um enterramento infantil, ambos do Sítio Justino.
Figura 53 – Adorno de malacológico com tipologia não identificada no Sítio Justino
Fonte: autora
130
Fonte: autora
Sobre o Sítio Justino, os enterramentos (55, 137, 138 e 140) com presença de contas
de vidro e outros adornos nativos associados ao contexto funerário, como já mencionado, não
se realizou a caracterização desses vestígios; no entanto, é importante salientar que os adornos
vinculados a esses indivíduos, assim como acontece com os outros sítios anteriormente
discutidos, aparentam se distinguir uns dos outros, levando em consideração as variáveis
selecionadas, também em função da idade. Os tembetás de amazonita, possivelmente, são os
caracterizadores dessa distinção, de modo que dos 4 indivíduos mencionados, 2 crianças
possuem adornos labiais.
Esses adornos identificados em indivíduos infantis apresentavam dimensões de até
4cm, o que nos conduz a pensar que, provavelmente, assim como cita Silva (2017), eles foram
depositados para marcar transições de idade para uma fase adulta, não para utilização em vida.
No sítio Furna do Estrago, são verificadas contas de colar de amazonita, associadas a infantes,
com cerca de 1cm de comprimento. Provavelmente, foram utilizadas em vida, devido ao
tamanho diminuto, ou seja, por serem adornos considerados grandes, no caso dos encontrados
em Justino, é provável que os tembetás estivessem fazendo parte do ritual funerário e marcando
a passagem do indivíduo infantil para a fase adulta.
Os dois indivíduos infantis são os únicos dentro do conjunto exumado e com presença
de adornos que possuem enfeites labiais de amazonita; os outros 7 indivíduos, que foram
analisados durante a pesquisa e nos quais foram verificados tembetás, são subadultos, adultos
131
e idosos. Destes, é possível observar as imagens dos tembetás dos indivíduos 116, 109, 142 e
131; em ordem da esquerda para a direita (Figura 55).
Fonte: autora
O uso de objetos cilíndricos no lábio inferior e nos lóbulos da orelha é corriqueiro em
sociedades indígenas do passado e do presente, não apenas em sítios do Nordeste, mas também
nos da Amazônia, das Guianas e para além das Ilhas do Caribe. São objetos encontrados em
associação, principalmente, a sepultamentos (FALCI; RODET, 2016). Em se tratando dos
tembetás, estes são comuns em grupos indígenas tupi ou guarani e igualmente utilizados por
grupos de outras etnias, e, dependendo do contexto e/ou sociedade, podem ser utilizados por
indivíduos de todos os gêneros, significando objeto de prestígio ou não (GAMBIM JUNIOR et
al., 2018).
Staden (2004), durante a confederação dos Tamoios, se encontra com o chefe guerreiro
canibal Cunhambebe e relata sua aparência. A descrição que o autor faz dos Tamoios e os outros
relatos de antropólogos e cronistas nos mostram que, para cada grupo, a forma dos indivíduos
de se distinguirem varia em função da materialidade do ornamento ou, como no caso dos
Tamoios, da quantidade de contas de conchas carregadas.
Tinha, como hábito entre eles, uma grande pedra verde metida no lábio. Além
disso, possuía em volta do pescoço um colar de conchas brancas do mar, que
os selvagens usavam como enfeite. O colar media no mínimo quatro braças
132
Rocha
Mineral
Madeira
Sementes
Dentes
Ossos
Malacológico
Fonte: autora
A partir do gráfico da,Figura 56 observa-se que os adornos, cujas matérias-primas são
dentes e sementes, geralmente são utilizados em seu formato original, não sofrendo ação de
corte ou facetamento, apenas de polimento, o que promove o brilho à peça. Já o material ósseo
costuma ter uma maior preparação da superfície com o corte, geralmente das extremidades em
que se localizam as perfurações; quando se trata de ossos longos de animais, por exemplo, e o
polimento da superfície, por vezes, também se verifica a técnica de facetamento. Todavia, esta
133
técnica é mais comum em adornos feitos de minerais e rochas, visto que estes apresentam maior
dureza na superfície (Figura 57).
Figura 57 – Conta de mineral com identificação da técnica de facetamento, Sítio Pedra do Alexandre
Fonte: autora
Por vezes, são encontrados materiais com intensas atividades de conformação, nos
quais não é possível realizar as etapas básicas de identificação da matéria-prima, por exemplo.
Lery (1961) cita um trecho de como era feita essa preparação de superfície nos malacológicos
e, depois, faz uma menção às contas de madeira tão lustrosas quanto um azeviche.
Figura 58 - Pingente feito de esterno de animal no qual é apresentada a perfuração intencional com orifício de
morfologia cônica, Sítio Alcobaça (à esquerda).
Figura 59 - Contas de colar de osso longo com perfuração não intencional e morfologia irregular própria do osso,
Sítio Justino (à direita).
Fonte: autora
Além disso, nos pingentes, são observadas perfurações intencionais bicônicas, nos
sítios Toca do Enoque, Pedra do Alexandre e Mirador de Parelhas (Figura 60). Esse tipo de
pingente estava associado às crianças. Ainda que estas apresentassem as maiores diferenciações
quanto ao uso dos adornos até o momento, precisar-se-ia de mais elementos para interpretar os
pingentes bicônicos como pertencentes à categoria dos infantes.
Figura 60 – Pingentes de osso de cervídeo associados ao enterramento infantil no Sítio Mirador de Parelhas
Fonte: autora
135
Figura 61 – Conta de colar com inscrição de linhas horizontais, Sítio Furna do Estrago
Fonte: autora
136
Fonte: autora
Quanto à disposição dos adornos juntos aos corpos, essa variável nos mostra uma
organização. A situação de cada objeto depositado ao lado do indivíduo no momento da morte
pode indicar uma função básica e social. Para Silva (2005), o corpo humano apresenta pontos
privilegiados para a recepção dos adornos, ligados à significação própria de cada ornamento.
A situação ou uso do adorno, mesmo sendo uma variável importante – considerando
que, para alguns grupos, os de cabeça ou colares com muitas contas de concha representavam
um indivíduo de “destaque” –, precisa ser considerada diante de todos os fatores tafonômicos e
pós-deposicionais inerentes ao sítio e aos enterramentos. É diante desse fato que essa variável
se apresenta como a mais difícil de ser percebida.
Poucos foram os sítios analisados onde conseguimos os dados imagéticos (fotos,
croquis e desenhos) ou os dados topográficos que fossem possíveis identificar a situação do
adorno corporal em relação ao indivíduo. No sítio Pedra do Alexandre, através dos desenhos e
dados georreferenciados, foram observados indivíduos utilizando adornos de pulso e de
pescoço. Na Figura 63, que se encontra em melhor qualidade, é possível visualizar as contas ao
redor do pescoço do indivíduo 8.
137
Figura 63 – Enterramento 8 do Sítio Pedra do Alexandre com presença em vermelho de contas de colar
representando um adorno de pescoço
Figura 64), possivelmente, sua situação foi alterada no momento da escavação, de modo que não
No Sítio Toca do Alto do Capim, Cunha (2012) descreve a localização dos adornos
que se encontravam associados ao indivíduo infantil. A autora assinala que foram recuperados
um colar de dentes de roedores e um dente de felino na região do tórax (Figura 65 e Figura 66) e
ossos de ave sobre o crânio, além de um pingente de osso de animal.
139
No sítio Toca do Enoque, foi possível realizar a indicação quanto à situação de alguns
esqueletos, tais como: no Indivíduo 2, de acordo com Luz (2014), foi visto, na altura do
140
pescoço, um colar de ossos trabalhados, constituído de ossos e dentes de animais, bem como
conchas bivalve perfuradas (Figura 67); o indivíduo 9 apresenta, no pescoço, um colar de dentes
e ossos de animais (Figura 68) e algumas contas de ossos. Foram observadas, também, contas
na altura da pelve na qual a mão da criança estaria posicionada, o que significa que,
provavelmente, além do colar, esse indivíduo infantil ainda estaria com uma pulseira.
Figura 67 – Detalhe da localização dos adornos na região do pescoço no indivíduo 2, Toca do Enoque (à
esquerda)
Figura 68 – Localização dos adornos na região do pescoço do indivíduo 9, Toca do Enoque (à direita)
Os indivíduos 4 e 5 eram duas crianças que estavam face a face, ambas com adornos
feitos de pingentes de dentes e ossos de animais na altura do pescoço (Figura 69). O indivíduo
6 tratava-se, por sua vez, de um recém-nascido que possuía, no pescoço, um adorno composto
de ossos e dentes grandes e pequenos de animais, além de ossos longos de animais e um colar
de contas feitas de sementes. O indivíduo 10, que, provavelmente, foi enterrado junto com o 6
(Figura 70), possuía um colar de dentes pequenos de animais e algumas contas de sementes
também na região do pescoço.
141
Não foi possível realizar análises mais aprofundadas em relação à variável uso.
Entretanto, o que foi apresentado já demonstra, mesmo de forma preliminar, que os adornos de
pescoço são os mais frequentemente observados.
142
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
vida dos materiais utilizados, que permitem que sítios com datações de até 2.000 anos BP
apresentem adornos fabricados em madeira, por exemplo.
A partir dos dados cronológicos publicados, foi possível definir, de modo preliminar,
que sítios com datações recuadas, cerca de 8.000 e 7.000 anos BP, possuem, com maior
frequência, adornos feitos de ossos, dentes e conchas. Por volta dos 6.000 anos BP, observa-se
maior variedade de matérias-primas em sua produção, com a inclusão de diversas espécies de
sementes e o uso de madeira como ornamentação. Tais materialidades e, muito provavelmente,
as penas também devem ter sido utilizadas por grupos pré-históricos anteriores aos 6.000 anos
BP, e hoje não são mais observadas ou aparecem em menor escala no registro arqueológico.
Com relação aos adornos cujas matérias-primas constituem-se de minerais e rochas,
nos sítios pré-históricos analisados, eles surgem em pequenas quantidades, por volta dos 8.000
anos BP, e depois voltam a aparecer entre 2.000 e 1.000 anos BP. Esperava-se que, por serem
produzidos a partir de matéria-prima com maior longevidade e dureza, fossem verificados com
maior recorrência durante as ocupações pré-históricas, fato que não ocorreu na amostra
analisada. Assim, pode ser levantada a hipótese de que a fabricação dos adornos em que a
materialidade precise ser trabalhada sob maior gasto energético, possivelmente, esteja destinada
a uma parcela menor de indivíduos dentro do grupo, por isso não é vista com recorrência.
A hipótese do problema 2 partia da premissa de que os adornos corporais são
indicadores de distinções sociais, como as classes de idade e sexo. As classes de idade e sexo
são elementos do perfil biológico, o status social pode estar relacionado ou não a essas classes
de idade e sexo. A diferenciação sexual é complexa e pode ser refletida de diversas maneiras
dentro dos subsistemas culturais de uma sociedade. Possivelmente, em contexto funerário, os
adornos trabalhados durante a pesquisa não apresentem em uma primeira observação, uma
exclusividade para um ou outro sexo biológico. As espécies de animais utilizadas, tamanho,
cor, número de adornos, peso, podem ser indicadores invisíveis de distinção social pelo sexo
biológico.
Os pingentes de ossos de Mazama identificados no sítio Toca do Enoque, também foi
percebida similarmente nos sítios Pedra do Alexandre, Justino e Furna do Estrago. No sítio
Pedra do Alexandre, observa-se contas de valvas de moluscos (Olivella Nívea), bem como no
Sítio Furna do Estrago, possivelmente compondo colares. Esses gastrópodes são verificados em
áreas de praias arenosas, na planície litorânea. Os adornos corporais, para além do sexo e da
idade, podem indicar trocas, contatos, inferir relações sociais, parentesco, ancestralidade,
especificidades individuais relacionadas a práticas dentro da sociedade.
144
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159
Número do Acompanhamento
Idade Sexo Adornos Nível Datação
Enterramento Funerário
20 contas de ossos de
FE 1 Adulto Masculino - Intermediário -
animais
24 contas de ossos de
animais, 9 contas de
FE 2 Adulto Feminino - Intermediário -
conchas marinhas e
62 dentes de felinos
35 contas de ossos de Esteira, redes,
FE 3 Adulto Feminino Intermediário -
animais cordas de caroá
1 pingente de osso, 3
FE 4 Adulto Masculino contas de ossos de - Intermediário -
animais
1 pingente de ossos
FE 5 Adulto Masculino de cervídeo e 7 - Intermediário -
contas de amazonita
19 contas de ossos de
animais, 22 conchas
FE 7 Adulto Feminino - Intermediário -
marinhas e 2
pingentes
Palhas e uma
FE 11 Adulto Masculino 22 contas de semente Intermediário -
flauta de osso
1 conta de amazonita
FE 15 Adulto Masculino e 1 pingente de osso - Antigo -
de animal
Semente de
FE 19 Adulto Feminino - Não definido -
Gindiroba
6 pingentes de siltito
FE 20 Adulto Feminino - Antigo -
argiloso
9 contas de conchas
terrestres discoidais,
FE 22 Adulto Feminino 1 pingente de osso de - Intermediário -
crânio de primata,
Não
FE 24 Criança Contas de ossos - Antigo -
identificado
160
42 contas de ossos de
FE 32 Adulto Feminino - Recente -
ave
Não 3 contas de
FE 34 a Criança - Antigo -
identificado amazonita
33 contas de ossos de
Não
FE 38 Criança animais e sementes - Intermediário -
identificado
de gindiroba
44 contas de ossos de
FE 47 Adulto Masculino - Antigo -
animal
1 pingente de
FE 51 Adulto Masculino - Recente -
clavícula humana
10 contas de ossos de
FE 87.1 Adulto Masculino - Recente -
aves
5 contas de concha de
Não Cesto sobre
FE 87.2 Criança molusco marinho Recente -
identificado colchonete
Olivella Nívea
1 conta de osso de
FE 87.4 Adulto Masculino - Intermediário -
animal
Colchonete de
palha, uma esteira
simples com
78 contas de ossos de amarrações
FE 87.6 Adulto Masculino Recente -
ave afastadas e uma
esteira com
amarrações densa
e fechado. Ocre
33 contas de ossos de
animal, 105 contas de
carapaça de molusco
FE 87.8 Adulto Masculino terrestre, sementes de Palhas Intermediário -
Gindiroba, 12
fragmentos de
vegetais
161
16 contas de osso de
FE 87.10 subadulto Masculino - Antigo -
ave
76 contas de osso de
FE 87.11 Adulto Masculino - Recente -
ave
6 contas de ossos de
ave, 6 contas de
FE 87.13 Adulto Masculino molusco terrestre, 23 - Recente -
dentes de felino e 3
contas de amazonita
3 contas de conchas
terrestres, 5 contas de
FE 87.18 Adulto Masculino - Intermediário -
ossos de ave e 3
contas de amazonita
3 contas de
Não amazonita e 22
FE 87.22 Criança - Intermediário -
identificado pingentes de dentes
de felino
15 contas de ossos de
Palhas e cesto
aves, 7 contas de
FE 87.23 Adulto Masculino trançando Intermediário 1730 ±
molusco terrestre 70 anos
cobrindo a cabeça
anelada, BP
Fonte: Adaptado de Lima et al. (2012)
162
Acompanhamentos funerários
Número do Tipo de
enterramento enterramento
Adornos Estrutura funerária
Colar com 10 contas de
sementes vegetais e 2 pingentes
Sepultura 1 Esqueleto 01 Primário de conchas. Na cintura ou no Blocos de ocre
pulso verificam-se contas
vegetais pequenas negras
6 grandes conchas de
gastrópodes e uma
colar com 25 pingentes em
sínfise mandibular de
ossos de cervídeo, dois caninos
queixada, também
Esqueleto 02 Primário de raposa, uma valva e dois
conhecido como porco
fragmentos de conchas de
selvagem. Presença de
gastrópodes
1 lasca e 1 núcleo, e
ocre.
1 Metacarpo adulto
completo de cervídeo,
1 chifre bífido de
Colar com 11 pingentes em Cervídeo, 1 conjunto
Esqueleto 03 Primário ossos de cervídeo e pequenas de placas de carapaça
contas vegetais negras de tatu incrustrado na
Sepultura 2 argila, 3 conchas de
gastrópodes terrestres
e presença de ocre.
Lítico em frente à
face, capim em torno
Não tem do esqueleto e
Esqueleto 08 -
informações fragmentos de fibra
trançada e Presença de
ocre
Colar com 42 pingentes de
ossos de cervídeo, 80 caninos
de raposa, 1 canino de onça Suporte de argila com
vermelha, 9 caninos de incrustações de placas
Esqueleto 09 Primário
jaguatirica, 1 pingente de placa de tatu e blocos de
de tartaruga grande com ocre
pequenas contas vegetais
negras
Presença de dois colares, o Blocos de ocre, duas
primeiro composto por 50 meias mandíbulas
caninos de raposa e pequenas fragmentadas de
Esqueleto 10 Primário contas vegetais e o segundo ouriço, 2 metacarpos
colar composto por 50 caninos de cervídeo e 3
e 2 terceiros incisivos de raposa chifres. Presença de
além de finas fibras vegetais. estilhas
164
Metacarpo adulto de
cervídeo, fragmentos
Colar com 33 caninos de raposa de ocre e conchas de
Esqueleto 11 Secundário
e 10 caninos de jaguatirica gastrópodes terrestres.
Presença de estilhas e
ocre
2 Sínfises
mandibulares de porco
Colar com mais de 75 caninos
do mato, 1 metacarpo
de raposa, 1 canino de onça
Esqueleto 12 Secundário de cervídeo e 3
vermelha, 1 pingente em
conchas de gastrópode
concha (Bivalve)
terrestre. Presença de
percutor
1 fragmento de concha e
Sepultura 3 Esqueleto 13 Secundário pequenas contas vegetais -
negras
Fonte: Luz (2014)