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Leite Ja Me Arafcl
Leite Ja Me Arafcl
Leite Ja Me Arafcl
ARARAQUARA – S.P.
2021
JORGE AUGUSTO LEITE
ARARAQUARA – S.P.
2021
JORGE AUGUSTO LEITE
Presidente e Orientador
Prof. Dr. Odair Luiz Nadin da Silva
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Membro Titular:
Profa. Dra. Ana Paula Tribesse Patrício Dargel
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
A Deus.
Aos meus pais, João Severino Leite e Vera Lúcia da Silva Leite, por sempre estarem comigo,
por me motivarem todo dia a nunca desistir e por sempre me ajudarem quando mais precisei.
Aos meus irmãos, Fábio e Renata, por estarem comigo nesta caminhada, motivando-me e
apoiando-me em todos os momentos.
Às minhas professoras do Ensino Médio, Edna e Haline, agradeço pela inspiração, sem vocês
eu não teria feito Letras. Obrigado por sempre estarem comigo quando mais precisei. Hoje,
minha admiração por vocês só aumenta.
Ao meu orientador, Odair, pela inspiração, cumplicidade e amizade. Agradeço, ainda, por ter
aceitado a me orientar nos estudos toponímicos. O senhor foi um orientador muito presente em
minha vida. Obrigado por sempre estar à disposição quando mais precisei, por ser tão gentil e
saber usar a palavra com tanta delicadeza e educação, seja em nossos encontros, seja nos e-
mails.
À Ana Paula, pela disposição, pela amizade, pelas conversas, e por sempre me ajudar desde a
minha graduação. Obrigado por aceitar o convite em participar da banca.
À professora Clotilde, pela disposição e participação durante meu mestrado. Ressalto, aqui,
nosso primeiro contato no GTLex de 2019, em Campo Grande, onde a senhora contribuiu
significativamente para o desenvolvimento desta dissertação. Agradeço pelas sugestões no
exame de qualificação e por ter aceito o convite em participar da banca.
À Juju, minha querida amiga que criei um laço de amizade muito forte durante a minha
graduação. Obrigado por sempre me ouvir, aconselhar, ser presente em minha vida, você é a
melhor amiga que alguém poderia ter.
À Lizandra, grande amiga. Obrigado pelas várias conversas que tivemos, você foi uma das
melhores pessoas que já conheci. Obrigado pela cumplicidade, seja nos rolês, seja nos estudos.
À Nayara, amiga que mais parece uma irmã, companheira do mestrado e dos cafés na FCL.
Saiba que você mora no meu coração, amiga!
Aos meus amigos do Vale: Caroline, Kely, Letícia, Gabrielle, Beatriz, Biax, Bruno, Laiane,
Sátiro, Valentina, Geovana e Vitor, por sempre torcerem por mim e, acima de tudo, agradeço
pela amizade e companheirismo.
À Camila, por estar comigo desde a graduação como professora e hoje como uma grande amiga.
Obrigado pelas várias conversas e por sempre estar à disposição me socorrendo quando preciso.
A Maria Carolina, amiga que 2019 me trouxe. Agradeço pelas longas conversas que tivemos,
você é maravilhosa.
Aos colegas do GPEL, em especial ao Gustavo, grande amigo, agradeço pelo compartilhamento
de momentos e de conhecimento. E ao Paulo, pessoa cordial e muito inteligente, você incentiva
todos a seguir em frente!
Aos colegas do PPGLLP, agradeço pelas conversas, e pelas reflexões durante as disciplinas ou
nos cafezinhos no Seu Fernando.
Aos professores do PPGLLP por compartilharem tanto conhecimento e inspirar estudantes para
lutar por uma educação melhor.
Ao Pedro Enrico, pela ajuda na elaboração do mapa deste trabalho. Obrigado pela disposição,
meu amigo.
O léxico de uma língua revela muitas particularidades no que diz respeito ao seu espaço
geográfico, refletindo a história de um povo. Assim sendo, os nomes próprios de lugares deixam
transparecer na inter-relação língua-cultura-sociedade entidades da natureza e da cultura que
simbolizam e representam uma realidade motivacional. Nesse contexto, o presente trabalho
objetiva apresentar um estudo toponímico de área rural da cidade de Araraquara - SP, a partir
do levantamento de dados de Registros de Propriedades Rurais do Município de Araraquara-
SP (1855-1858), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), por meio dos mapas
cartográficos e, também, do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária),
alicerçado ao SNCR (Sistema Nacional de Cadastro Rural), no qual é possível, por consulta
pública, acessar informações sobre mais de 800 propriedades rurais. Nesta pesquisa, como
pressupostos teóricos-metodológicos, seguiu-se, prioritariamente, Dick (1990; 1992). No que
se refere à analise da origem dos topônimos, seguiu-se como subsídio Guérios (1973), Cunha
(2010) e Houaiss (2011). Considerando que os nomes próprios remontam ao nosso passado e
às nossas origens, um dos objetivos deste trabalho, e que foi aduzido, é investigar designativos
geográficos preservados desde o Período Colonial, originados no sesmarialismo. A partir de
registros de propriedades do munícipio de Araraquara - SP, onde constam 638 cartas de
sesmarias, foi constatado que há ainda topônimos conservados que nomeiam fazendas, sítios e
chácaras atualmente. Desse modo, foi realizado um recorte, sob o prisma da análise dos nomes
conservados de 45 propriedades rurais. Os dados foram demonstrados por meio das fichas
lexicográfico-toponímicas que forneceram informações acerca da carta de sesmaria transcrita
em edição semidiplomática, o elemento genérico, o topônimo, a origem, a taxionomia, a
estrutura morfológica, a motivação e a fonte. No que diz respeito à abordagem quantitativa,
observou-se que há recorrência de topônimos de natureza física, os quais destacam-se Chibarro,
Jacaré, Ouro e Bocaiúva, e que as taxionomias mais produtivas foram zootopônimos,
fitotopônimos e litotopônimos. No que diz respeito à abordagem qualitativa, notou-se que dos
45 topônimos analisados, 34 são de natureza física, enquando 11 de natureza antropocultural.
Além disso, constatou-se que elementos de natureza circundante como aspectos da fauna, flora
e de índole hidrográfica tiveram grande influência na denominação do espaço geográfico. Nessa
perspectiva, comprovou-se que as causas denominativas descrevem os topônimos no ato de
batismo em relação à área rural pesquisada. Ressalta-se, ainda, que a partir da análise das cartas
de sesmarias, mais a análise dos mapas do IBGE, foi possível elaborar um mapa em que se
demonstra a localização aproximada dos topônimos de natureza física que foram conservados.
AH Acidente Humano
AF Acidente Físico
ATAOB Atlas Toponímico da Amazônia Ocidental Brasileira
ATB Atlas Toponímico do Brasil
ATEMA Atlas Toponímico do Estado do Maranhão
ATEMIG Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais
ATEMS Atlas Toponímico do Estado de Mato Grosso do Sul
ATEPAR Atlas Toponímico do Estado do Paraná
ATESP Atlas Toponímico do Estado de São Paulo
ATOBAH Atlas Toponímico da Bahia
ATT Atlas Toponímico de Tocantins
Cast Castelhano
Germ Germânico
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
Lat Latim
LP Língua Portuguesa
Port Português
SNCR Sistema Nacional de Cadastro Rural
SP São Paulo
UEL Universidade Estadual de Londrina
UEMA Universidade Estadual do Maranhão
UFAC Universidade Federal do Acre
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
UFT Universidade Federal de Tocantins
UNEB Universidade do Estado da Bahia
USP Universidade de São Paulo
VCL Variante cartográfica-lexical
SUMÁRIO
Apresentação ......................................................................................................................... 16
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 18
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 94
APÊNDICES ........................................................................................................................... 99
Apresentação
INTRODUÇÃO
A atividade de nomear está presente na vida humana desde que se têm notícias do
homem. Essa ação ocorre para que o indivíduo, por meio da atividade denominativa, consiga
se referenciar nos lugares em que eles estejam inseridos. O designativo pode revelar
significados que podem ser transcendidos e exacerbados de vivências subjetivas como fonte do
desenvolvimento cultural de uma determinada comunidade. Nesse sentido, observa-se que a
utilização de uma palavra para designar um referente está ligada a uma área importante da
Linguística, a Toponímia, que estuda os nomes de lugares.
No Brasil, os estudos toponímicos tiveram início na língua indígena. Desse modo, três
grandes autores foram os pioneiros: Teodoro Sampaio (1901); Armando Levy Cardoso (1961)
e Carlos Drumond (1965). Nessa perspectiva, muitos estudiosos consideram que até 1979,
tivemos a primeira fase de estudos toponímicos no Brasil. A partir da década de 1980, houve a
segunda fase com a publicação da tese de doutorado de Dick (1980). Em sua tese, Dick
contemplou todo o universo de topônimos brasileiros, ou seja, as três camadas étnicas
brasileiras que sedimentam a formação da população brasileira -, o branco, o índio e o negro
(ISQUERDO, 20201). Por conseguinte, na terceira fase, a partir da década de 1990 foi criado o
primeiro projeto institucional na USP, intitulado ATB – Atlas Toponímico do Brasil e,
posteriormente, um projeto variante regional denominado ATESP - Atlas Toponímico do
Estado de São Paulo. A partir deste projeto, outros estudiosos da área ficaram mais interessados
em desenvolver pesquisas toponímicas em outras universidades. Diante disso, o primeiro
projeto institucional criado além do de Dick foi o ATEPAR - Atlas Toponímico do Estado do
Paraná, desenvolvido na UEL – Universidade Estadual de Londrina, depois o ATEMS - Atlas
Toponímico do Estado de Mato Grosso do Sul, desenvolvido na UFMS – Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul; o ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais,
desenvolvido na UFMG – Universidade Estadual de Minas Gerais; o ATT – Atlas Toponímico
de Tocantins, desenvolvido na UFT – Universidade Federal de Tocantins e o ATAOB – Atlas
Toponímico da Amazônia Ocidental Brasileira, desenvolvido na UFAC – Universidade Federal
do Acre. A partir de 2010 até os dias atuais entra a fase 4 dos estudos toponímicos. Em
decorrência da descentralização das pesquisas toponímicas e do interesse de pesquisadores,
muitas dissertações e teses foram defendidas. Além disso, outros projetos também foram
1
Comentado em uma apresentação do Abralin ao Vivo.
19
Diante do que foi explanado, o objetivo principal desta pesquisa é investigar topônimos
que ainda são conservados desde o Período Colonial, em que havia o sistema de sesmarias, para
que assim seja possível compreender a motivação que influenciou a denominação de tais
designativos geográficos, considerando-se além dos aspectos linguísticos e culturais, os
históricos, bem como os geográficos.
Como objetivos específicos, busca-se:
Inventariar os topônimos da região rural de Araraquara-SP, a partir do
levantamento de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, e dos Registros de
Propriedades do Município de Araraquara (1855-1858);
Analisar os topônimos inventariados levando em consideração os aspectos
históricos e geográficos do espaço pesquisado;
Estabelecer um recorte, considerando a amplitude dos dados pesquisados, e a
partir dele, classificar os topônimos analisados segundo as taxionomias
cunhadas por Dick (1992).
21
1. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Neste capítulo apresentamos a fundamentação teórica que subsidiou esta pesquisa, isto
é, discutimos alguns aspectos do âmbito dos estudos da linguagem, a saber: a Linguística; o
léxico, objeto de estudo da Lexicologia; a Onomástica; a Toponímia e sua correlação com a
História e a Geografia. Partindo do pressuposto que o objeto de estudo desta pesquisa são os
nomes próprios, item lexical da língua, apresentamos princípios que norteiam a teoria
toponímica, com enfoque na teoria de Dick (1990; 1992). Por fim, focalizamos a discussão
também acerca da importância de outras áreas que possuem uma estreita relação com a
Toponímia.
A linguagem é a faculdade inerente do intelecto humano, pois é por meio dela que o
homem consegue apreender tudo que está a sua volta, bem como organizar e classificar
referentes da sua realidade. A partir da expressão de uma coletividade, a língua torna-se um
veículo de manifestações sociais e culturais. A língua se molda pela maneira em que o homem
vê, percebe e compreende o mundo ao seu redor, por conseguinte, de acordo com sua realidade,
há diversas expressões das quais o homem usufrui.
Nesse sentido, considerando a dimensão social da língua, Sapir (1969, p. 20-26) assinala
que “... a trama de padrões culturais de uma civilização está indicada na língua em que essa
civilização se expressa. [...] a língua é, antes de tudo, um produto cultural ou social, e assim
deve ser entendida”. Diante disso, toda língua natural espelha a visão de mundo dos falantes
por meio do seu léxico. Este é o conjunto de todas as palavras de uma língua natural. Ou, em
outra perspectiva,
Nesse aspecto, percebe-se o papel preponderante que o léxico possui em sua dimensão
social, ele é um conjunto de representações por meio de palavras. No que diz respeito à sua
complexidade, tendo em vista a sua heterogeneidade, um estudo a partir do léxico ultrapassa o
nível linguístico, pois ele acaba envolvendo aspectos extralinguísticos e interdisciplinares, visto
que sua análise abarca a relação entre sociedade, língua, cultura, ambiente e homem, ou seja, o
modus vivendi.
Uma unidade lexical, uma palavra, possui muitas informações acerca de uma língua, por
exemplo, a questão do seu percurso diacrônico. Afinal,
O léxico de qualquer língua é o testemunho de um povo, uma vez que conserva uma
íntima relação com a história cultural de uma comunidade. Um espaço geográfico revela muitas
particularidades e desempenha um papel importante para o homem, afinal, “o espaço é uma
sociedade de lugares nomeados tal como as pessoas são pontos de referência dentro de um
grupo” (LÉVI-STRAUSS, 1989, p. 190). Um nome de lugar, por conseguinte, torna-se um
elemento identitário e patrimonial de uma nação. Neste universo de relações língua-cultura-
sociedade, uma das áreas que se destaca é a Onomástica que se dedica ao estudo dos nomes
próprios. São muitas as áreas em que os estudos onomásticos se dividem2, e que são as mais
conhecidas são a Antroponímia, do grego anthropos (homem) e onímia (nome), que estuda os
nomes de pessoas e a Toponímia, nosso tema central desta pesquisa, oriunda do grego topos
(lugar) e onímia (nome), que se consagra ao estudo dos nomes de lugares.
1.2 Toponímia
Desde os tempos mais longínquos o homem utilizou uma das práticas mais
fundamentais para se organizar no espaço: o recurso da nomeação. Nomear é traduzir a “coisa”
2
Algumas disciplinas do ramo da Onomástica, por exemplo, são: Fitonímia, que se dedica ao estudo da
nomenclatura das plantas; a Zoonímia, que se dedica ao estudo dos nomes de animais etc.
23
denominada e descrevê-la, com o objetivo de garantir uma organização mínima para se viver
em sociedade. Nomear um lugar do mundo circundante é uma maneira de estabelecer uma
particularidade e de o diferenciar em relação a outro aos seus semelhantes.
Os nomes próprios apresentam uma grande função significativa, por isso a importância
de investigar a origem, a motivação e, claro, todo o seu sistema ao se tratar do signo linguístico.
A Toponímia, isto é, a disciplina que estuda os nomes de lugares, não poderia ser diferente.
Dauzat, o precursor dos estudos toponímicos na França, inicia seu livro com a seguinte
afirmação:
O estudo dos topônimos é uma das coisas que tem mais despertado a
curiosidade dos estudiosos e até mesmo do povo em geral. É natural que seja
assim. Estes nomes se aplicam a propriedade que possuímos, ou a montanha
que limita nosso horizonte; ou ao rio de onde tiramos água para a irrigação;
ou ao povoado ou à cidade que nos viu nascer e que amamos acima de
qualquer coisa; ou a região, o país ou estado onde se desenvolve a nossa vida
3
“De même que les noms de personnes, mais d’une façon encore plus remarquable, les noms de lieux se présentent
à nous comme d’anciens mots à sens précis, cristallisés et stérilisés 3 plus o moins rapidement, vidés de leur sens
originaire.” (DAUZAT, 1926, p. 01)
4
“Les noms de lieux ont été formés par la langue parlée dans la région à l'époque de leur création, et ils se sont
transformés suivant les lois phonétiques propes aux idiomes qui, le cas échéant, ont pu supplanter tour à tour
l'idiome originaire" (DAUZAT, 1926, p. 03)
24
social: o homem, que desde que tem uso da razão se pergunta sobre o porquê
de todas as coisas que vê e que sente, não se perguntaria também ele sobre o
porquê desses nomes que todos trazem constantemente em seus lábios?5
(COROMINES, 2003, p. 02, tradução nossa).
Dick (1992, p. 38) disserta sobre a questão do duplo aspecto da motivação toponímica,
ao se tratar do signo linguístico e, sobretudo, o topônimo propriamente dito. A princípio, a
intencionalidade é o primeiro aspecto discutido pela autora, o denominador entra em um
verdadeiro processo seletivo na atribuição do nome ao topônimo. O segundo é sobre a origem
semântica da denominação ao elemento geográfico e sua transparência ou opacidade quando se
trata do significado em relação ao espaço.
Nesse aspecto, percebe-se a relação existente entre língua e ambiente, no que diz
respeito à motivação em questão ao espaço geográfico. Sapir (1969) discute essas concepções:
5
El estudio de los nombres de lugar es una de las cosas que más há desvelado la curiosidad de los eruditos e
incluso la del pueblo en general. Es natural que sea así. Estos nombres se aplican a la heredad de la que somos
proprietários, o a la montaña que limita nuestro horizonte, o al río de donde extraemos el agua para el riego, o al
pueblo o la ciudad que nos há visto nacer y que amamos por encima de cualquier outra, o a la comarca, el país o
el estado donde está enmarcada nuestra vida colectiva: El hombre, que desde que tiene uso de razón se pregunta
el porqué de todas las cosas que ve y que siente, no se preguntaría sobre el porqué de estos nombres que todo el
mundo tiene continuamente en los lábios? (COROMINES, 2003, p. 02).
25
6
Tamandaré – “nome de Noé da lenda do dilúvio entre o gentio brasílico” (SAMPAIO, 1928, p. 313).
28
O denominador busca elementos descritivos da língua para nomear o espaço, por isso,
uma das funções do topônimo é identificar o espaço denominado, no caso, o elemento
específico possui essa função de identificação. Muitas vezes os nomes de lugares denotam “uma
29
faceta personalíssima do homem, um estado de seu espírito momentâneo, que vem à tona e se
revela naquela maneira típica de designar” (DICK, 1990, p. 55) por seu turno, outros nomes são
“mais fáceis de ser compreendidos, em seu emprego racional” (DICK, 1990, p. 56).
Outra questão a ser apresentada é sobre o sintagma toponímico, há o elemento genérico
que se refere à entidade geográfica que recebe denominação, e o elemento específico, que é o
topônimo propriamente dito, que particulariza o espaço denominado.
Figura 1: Sintagma Toponímico
Topônimo
Vale ressaltar que um estudo toponímico é voltado para a análise do elemento específico
do sintagma, os aspectos linguísticos e extralinguísticos. Além disso, há de se discutir também
acerca dos elementos morfológicos, tendo em vista que sem estes elementos é impossível
analisar o topônimo. Nessa cosmovisão, Dick (1990) apresenta as seguintes estruturas bases:
O topônimo, nesse contexto, ganha vida própria por ser uma unidade léxica da língua e,
ainda, exerce diversas funções: “icônica e arquetípica, de variável cultural, motivadora,
memorialística e identitária” (DICK, 1999, p. 143).
A Toponímia, por ser de caráter interdisciplinar, tem seu lugar nos estudos das ciências
do homem, pois se tornou essencial para a caracterização do espaço. Os estudiosos como Poirier
(1965) e Tort (2003) consideram que é uma área de estudo que se liga intimamente à História,
à Geografia e à Linguística. Outra visão sobre a interdisciplinaridade:
7
La toponímia pertenece a las denominadas ciencias humanas, campo que abraza también las diferentes ramas de
la história, la historia de la economía y de las instituciones, la sociología y la antropologia cultural, la geografía
humana, la linguística y la filología (…). La toponimia utiliza básicamente los servicios de otras tres ciencias: la
historia, la linguística y la geografia, pero debe recorrer también al auxilio suplementario de la epigrafia, la
arqueologia, la archivística y la paleografia, así como la etnografía y el folclore, la psicología social, la topografia
o la botánica. (ASSIS CARVALHO, 2009 apud MOREU-REY, 1965, p. 03)
31
Os topônimos possuem uma maior conservação e, por isso, devem suas origens às
causas históricas. A motivação de um nome de lugar, muitas vezes, ocorre por recordar alguns
acontecimentos, como fixar nomes de proprietários, homenagear autoridades locais como
fundadores etc. Além disso, o topônimo é um sobrevivente à língua, “ficando seus semas em
estado latente, ou seja, opacos” (CARVALINHOS, 2003, p. 173). Ou seja, a etimologia é um
dos instrumentos essenciais para o resgate da memória de um povo. Evidentemente, estudar o
léxico toponímico é estudar a crônica de uma nação.
Um estudo histórico-linguístico permite ao investigador da linguagem reconstituir
marcas sócio-linguístico-culturais de um topônimo, haja vista que se o lugar foi denominado,
houve a presença do homem. Ao estudar a história de um lugar, o pesquisador fica à mercê de
vários documentos da época. Considerando os vários caminhos que ele pode seguir:
8
The historian, the archaeologist and the student of language can co-operate in all periods for which there is
historical evidence, archaeological remains and linguistic information. In the prehistoric periods proper the
archaeologist is undisputed master: he may seek assistance from other scholars, chiefly from natural and physical
scientists, but the historian has no place where there is no documentary record and the philologist can offer only
frivolous guesses where languages are quite unknown. The study of language has its part to play in the study of
all periods, though for the study of recent centuries it is likely to remain marginal by reason of the abundance of
other kinds of evidence. They rank as equal partners with history proper in the building up of a reliable picture of
the past. To preach the value of collaboration today would be to preach an accepted gospel. Neither archaeology
nor place-names can supply the precise historical narrative of events, the names of leaders, the interaction of cause
and effect, the motives, the explanations and the aspirations of men, the formal details of social organizations,
comments on the process of political change – all of which, under ideal circumstances, may emerge from
trustworthy historical sources. But in this period, where documents are few and often not very informative,
archaeology and place-names greatly amplify the historical record, not infrequently mitigating its deficiencies and
repairing its omissions. (WAINWRINGHT, 1962, p. 03)
32
9
The one further avenue to be explored, namely the linguistic analysis of place-names, has the undoubted
advantage to the prehistorian that the referent is squarely located in geographic space and that, in fortunate cases,
places are mentioned in early written sources. Place-names, which include the names of settlements and of
geographical features such as mountains and rivers, tend like fossils to survive even total language replacement.
Their potential for forming a link between archaeology and linguistics is therefore considerable. (BYNON, 1995,
p. 263)
33
A expressão “Os Sertões de Araraquara” foi criada como uma designação genérica pela
memória coletiva da comunidade para uma área situada ao norte do Rio Piracicaba, da margem
direita, que se estendia seguindo os rios Tietê e Mogi Guaçu. Nesse sentido, os sertões se
iniciavam na região do Morro de Araraquara e iam até as nascentes do rio Jacaré-Pipira. Talvez
pelo fato de a zona do interior ser pouco conhecida, a região norte do rio Piracicaba era tida
como “sertão”, contratando com a região já conhecida da margem esquerda daquele rio,
principalmente pelos paulistas.
10
Exploradores que buscavam riquezas e escravizavam os índios. (MANO, 2006)
35
Depois que houve a abertura desse novo caminho, ocorreu o processo de expansão da
pecuária pelo interior do estado de São Paulo. À vista disso, a partir de 1775, “tem início o
povoamento e a apropriação de terras nos Sertões de Araraquara mediante a apossamentos e
cartas de sesmarias” (TRUZZI e FOLLIS, 2012, p. 26).
11
Produto que é objeto de comércio; troca de mercadorias. (AULETE DIGITAL, 2010)
36
12
A autoridade referida nesse caso é o capitão hereditário que ficou responsável pela doação das sesmarias,
obedecendo às Ordenações do Reino. Como representante da metrópole, possuía alguns privilégios, como, a
autonomia político-administrativa dos latifúndios.
13
Entende-se por freguesia uma área de atuação de uma paróquia, ou da subdivisão de um conselho, o qual um
conjunto de pessoas nela vivem. Em Portugal, em suas províncias e cidades, a freguesia é a menor divisão
administrativa. No Brasil, antes da emancipação dos municípios, os primeiros ocupantes dos Sertões de Araraquara
criaram a primeira capela do povoado. Posteriormente, surge, então, a primeira freguesia de Araraquara, em
homenagem ao Barão de Itu, Bento de Aguiar Barros, que ajudou na criação da primeira paróquia.
14
O modo de obtenção é dedicado à explicitação se é compra de posse ou de sesmaria. Nesse contexto, posse
ocorria com muita frequência na época, uma vez que muitos se apossavam de terras devolutas ou alheias,
deixavam-as produtivas e, posteriormente, vendia a outros interessados.
37
Ressalta-se que entre os anos de 1817 e 1818, surge a primeira freguesia chamada
Freguesia de São Bento de Araraquara. No mesmo período, pelo aumento de atividade
econômica como produção de milho, arroz, feijão, algodão, cana de açúcar, além da criação de
gados e porcos, em decorrência da expansão do povoamento, aumenta, também, a valorização
e o interesse pelas terras dos Sertões de Araraquara. Nesse contexto, há a vinda de diversos
posseiros e, entre eles, Pedro José Neto, o fundador da cidade de Araraquara.
Pedro José Neto, destemido fluminense, era na sua época, homem de cultura,
trabalhador, de trato muito brando e entendido em medicina caseira,
grangeando por sua bondade a simpatia do “gentio”. Com o concurso de seus
escravos e alguns índios mansos, pôde conquistar e abrir todas as posses dêste
“hinterland” que hoje abrange vários municípios, cinco comarcas e dois
bispados.
[...] Em 1780, com vinte anos de idade, moço forte e destemido, disposto a
lutar, cheio de esperança, foi à freguesia de Piedade da Borda do Campo, hoje
cidade de Barbacena, Minas Gerais, época aurea de mineração, e, trabalhando,
conseguiu acumular algumas economias, consorciando-se a 12 de Agôsto de
1784, com D. Ignacia Maria, também fluminense, filha do Capitão Francisco
Ferreira da Silva, senhora de raras virtudes e companheira dedicada de seu
espôso em tôdas as peripécias da vida, cuja época era só de lutas com índios
não civilizados.
[...] Em 1787, Pedro José Neto com seus dois filhos e espôsa, transferiu
residência para a cidade de Itú [...]. Com suas pequenas economias abriu uma
fazenda de criar e cultura de cereais. Mas a sua estadia em Itú foi curta. No
ano de 1790, a política local estava muito agitada e Pedro José Neto teve uma
discussão que resultou em conflito, e tendo esbofeteado um seu rival, foi
processado pela Justiça de Itú, sendo condenado ao degrêdo em Piracicaba,
pelo então célebre Capitão-Mór de Itú, Vicente Taques Goes de Aranha.
Conseguiu, porém, fugir, transpondo a margem posta do Piracicaba, e
39
Fonte: Mapa construído por Costa (2007) com base no Mapa da Rede Hidrográfica do Estado de São
Paulo, IGC, 1992, e no Esboço-703, extraído dos Autos da divisão da Sesmaria do Ouro.
Posteriormente, para o posseiro conseguir o perdão da justiça por ser perseguido pelas
autoridades coloniais em decorrência de sua participação na luta pela independência do Brasil
ao lado de Tiradentes, foi forçado a doar a maior parte de suas terras. Entretanto, Pedro José
Neto não tinha direito a realizar a façanha de doar terras e, ainda, ele era um homem de poucos
recursos. Até 1812 ele não possuía nenhum escravo, ou seja, não teria domínio de posse de tais
terras. Somente em 1809, junto com seus dois filhos ele entrou com o requerimento de sesmaria
na Câmara de Itu.
Dizem Pedro José Neto, José da Siva e Joaquim Ferreira Neto que eles
Suplicantes vieram da Capitania de Minas Gerais na inteligência (intenção) de
se estabelecerem nesta e como axassem nos campos de Araraquara, termo da
vila de Itu, uns campos devolutos, nos quais se axam aranxados há dois anos
com suas criações, cultivando aquêle sertão a custo de tanto trabalho como é
constante [público], e como só é legítimo título o de sesmaria, por isso se
recorrem os três Suplicantes a V. Excia. para que, em nome de S.A.R. [Sua
Alteza Real], lhes conceda na dita paragem onde se axam os Suplicantes
aranxados três léguas de testada nos mesmos campos e outras três léguas de
fundo, que terá princípio a dita testada no morro do espigão que verte para o
córrego do Brejo Grande, buscando o Ribeirão do Barreiro até se inteirar as
ditas três léguas de testada com o seu competente fundo, na inteligência
[intenção] de que os povoadores têm preferência por isso. (LEMOS, 1972, p.
80, grifos do autor)
41
Percebe-se após a afirmação do autor, que somente após tal requerimento, depois de
alguns problemas, como a curiosidade do Procurador sobre questão da capacidade econômica
dos requerentes em tornar a terra produtiva. Assim, passaram-se dois anos e somente em 1811
foi emitida a carta de sesmaria pelo governador de São Paulo, Antônio José de Franca e Horta
aos pleiteantes.
Desse modo, um posseiro como Pedro José Neto conseguir uma sesmaria era bastante
raro devido às suas condições financeiras. Em geral, o Rei concedia as sesmarias à classe social
dominante, cujos pleiteantes eram oriundos de cidades já emancipadas como, por exemplo, São
Paulo, Campinas e Sorocaba.
trabalho da rede hidrográfica, comandada pelo Rio Mogi-Guaçu e cursos d’água da bacia do
Rio Tietê. (PREFEITURA MUNICIPAL DE ARARAQUARA, 2019).
Em relação à sua geomorfologia, pelo munícipio estar localizado na parte elevada dos
Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná, em altitudes que chegam a superar os 750m, acarretou
na formação de relevos com rochas mais sedimentares, ou, ainda, mais ondeadas, formando,
desse modo, espigões alongados. Ademais, vale salientar que, por isso, ela é favorável ao
desenvolvimento de uma rede hidrográfica muito numerosa.
Tendo em vista que este nome apresenta em sua composição o elemento “arara” que,
por conseguinte, é homófono e homógrafo do nome de uma conhecida ave do Brasil, a
princípio, a comunidade se convenceu de que o nome geográfico se derivou da ave, trazendo
muitas hipóteses a respeito de que, em outros tempos, talvez houvesse, de fato, muitas araras
nesta região.
Segundo Correa (1952), a palavra “Araraquara” é uma designação, além de geográfica,
também orográfica, uma vez que a raiz ar pode dar múltiplas interpretações, a saber: i) sentido
cosmográfico: dia, tempo, luz solar, etc; ii) sentido orográfico: nascer, subir o que está acima,
o que sobressai em uma superfície, como morro, pico, etc; iii) sentido potamagórico: cair do
alto, tropeçar, queda – queda d’água, cachoeira, corredeira, etc; e iv) sentido ornitológico: aves
do gênero das araras. Por sua vez, quara significa furo, toca, buraco, cova, vale etc.
Desse modo, o processo de formação da palavra Ara-ra-qua-ra mostra que há muitas
interpretações. Podemos depreender que, de modo geral, caracterizando-a no âmbito da
Toponímia, seguindo as reflexões de Correa (1952), predominam topônimos relacionados a
fitônimos, hidrônimos, zoônimos e elementos de natureza circundante.
Além disso, em tupi-guarani, uma palavra pode possuir significados diferentes
dependendo do jeito que se pronuncia. Nessa perspectiva, a título de exemplificação, o nome
ará (lê-se com o acento agudo posicionado na última letra), a partir da raiz ar, por terminar em
consoante, recebeu normalmente em tupi um a paragógico e átono, que produziu um substantivo
dissílabo e paroxítono ara. Nesse sentido, o nome ará refere-se ao designativo da ave de cores
vivas, cuja plumagem era usada por indígenas em seus cocares, tendo em vista que era fina
(SAMPAIO, 1901, p. 111). Por sua vez, se a pronúncia se dá no fonema ára (lê-se com este
acento agudo posicionado na primeira letra), já possui outro significado: dia, tempo, mundo,
43
claridade (SAMPAIO, 1901, p. 111). Ou seja, há, também, uma possível interpretação de que
tal nome representa a aurora, o sol, a luz, por exemplo.
Dessa maneira, seguindo as discussões de Correa (1952), adicionado a esses termos o
acento agudo, seja no primeiro a ou no segundo, produzimos, assim, a mesma palavra, mas com
sons diferentes, o que influencia, consequentemente, no significado. Nesse contexto,
Aráraquara significa “toca das araras”, enquanto Áraraquara significa “morada do sol”.
3.1 Metodologia
15
Os arquivos originais encontram-se depositados no Arquivo Público do Estado de São Paulo.
46
transcritas para uma melhor visualização. Além disso, com o subsídio de um mapa
hidrográfico16 da região, foi possível realizar uma pequena análise sobre as propriedades
registradas com os lugares designados para situar a propriedade adquirida no processo de
aquisição de uma sesmaria.
Após feito o processo de inventariação de sesmarias, o seguinte passo foi inventariar
propriedades rurais atualmente. Para isso, foi necessário buscar documentos oficiais no Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Todavia, no processo de inventariação,
enfrentamos no primeiro momento uma problemática: a falta de atualização das bases
cartográficas. Além disso, no próprio site não é informado como é feita a inserção de uma
propriedade rural no mapa. Entretanto, é válido ressaltar que mesmo assim todas as
propriedades dos mapas cartográficos foram inventariadas com vistas a comparar os dados de
outros documentos oficiais que foram encontrados.
16
Bassanezi (2008) apresenta um mapa hidrográfico entre os anos de 1850-1950.
47
5. Unidade da Federação;
6. Área Total (em hectares);
7. Titular (todas as pessoas físicas e/ou jurídicas relacionadas ao imóvel);
8. Natureza Jurídica (se é uma sociedade empresária ou uma empresa individual)
9. Condição da Pessoa (no imóvel);
10. Percentual de detenção (da pessoa física ou jurídica relacionada ao imóvel);
11. País (de origem do titular da área).
A consulta gera uma planilha no formato CSV que pode ser aberta e manipulada em
qualquer programa editor de planilhas eletrônicas. No entanto, assim que o indivíduo acessa a
consulta pública, é mostrada a última vez que foi atualizado e gerado um novo arquivo. Em
relação aos mapas do IBGE, esse sistema é mais atualizado, haja vista que enquanto os mapas
do IBGE foram atualizados pela última vez em 2016, os dados do SNCR são atualizados todo
ano e, em determinadas situações, a atualização é realizada mensalmente.
48
IV) verificar o percentual de detenção do imóvel. Esta última etapa merece uma
atenção especial, tendo em vista que é a chave para conseguir entender quantas
propriedades rurais havia.
No exemplo acima, vemos que em três linhas há o Sítio chamado Santa Rosa. No titular,
pressupõe-se que são familiares, posto que eles possuem o sobrenome “Biagioni” em comum,
porém, até esta etapa, não podemos nos precipitar e pressupor que é apenas um sítio por causa
do mesmo sobrenome. Após a verificação do titular, o passo seguinte é ver a condição destas
pessoas, que, por sua vez, são todos proprietários ou posseiros comuns. Por fim, na verificação
do percentual de detenção do imóvel, nota-se que é dividido em 33.3 na primeira linha, 33.3 na
segunda e 33.4 na terceira, totalizando 100% da propriedade rural. Ou seja, há apenas um sítio
chamado Santa Rosa e não três. O percentual de detenção, então, se apresenta como uma coluna
essencial para a análise de dados. Nesse sentido, foram inventariadas mais de 800 propriedades
rurais que existem atualmente.
Após a realização da inventariação, foi necessário voltar ao mapa do IBGE e fazer uma
comparação com os dados e investigar se estavam em comum. Embora esteja desatualizado em
relação ao SNCR, as propriedades rurais estavam em consonância. Além disso, devemos
considerar que os dados do SNCR levam em conta também os do IBGE, pois eles apresentam
os dados pelo mesmo código do munícipio e vice-versa.
Em relação às 638 escrituras que estão disponíveis nos registros de propriedades rurais
de Araraquara, os originais podem ser encontrados no Arquivo Público do Estado de São
Paulo17. O processo de inventariação dos nomes das propriedades adquiridas pelos pleiteantes
ocorreu da seguinte forma: i) Leitura de todas as escrituras; ii) Os dados dos Registros de
Propriedades Rurais de Araraquara foram cruzados e comparados com os atuais, sendo eles o
IBGE e o SNCR, o qual é alicerçado ao INCRA; iii) Posteriormente foram verificados os nomes
17
Além de estarem disponíveis no Arquivo Público de São Paulo, elas foram disponibilizadas, também, por CD
em Truzzi e Follis (2012).
50
de propriedades rurais do século XIX que foram preservados; iv) Por fim, as escrituras com os
nomes preservados foram transcritas e apresentadas na análise de dados.
i. Transcrição da carta
ii. Elemento geográfico;
iii. Topônimo;
iv. Origem;
v. Taxionomia;
vi. Estrutura morfológica;
vii. Causas denominativas;
viii. Fonte.
Para uma melhor compreensão dos elementos acima, será descrita a função de cada um
para a classificação dos topônimos inventariados.
18
Celebrada a 26 de julho, São Joaquim, esposo de Santa Ana, é a avô materno de Jesus Cristo, pai da Virgem
Maria. (CARVALHO, 2014, p. 272)
19
Fazenda, para o lexicógrafo Antônio Moraes Silva é “s. f. (do Lat. Facienda, desin. f. de faciendus, a, um, que
se deve fazer) Bens, terras que se preparam, amanham, etc) [...] No Brasil terras de lavoura, ou de gado.” (SILVA,
1813, p. 17). Já Sítio, para o mesmo autor é “s. m. (do Lat. Silus, ûs) Espaço de terra descoberto, o chão apto para
nelle se levantarem edifícios [...] V. Lugar 1ª definição, e Local s. m.” (SILVA, 1813, p. 687). Por último,
Chácara, o autor define como “s. f. Bras. Quinta, no Rio de Janeiro; na Bahia chamão-lhe Roça, em Pernambuco
Sítio”. (SILVA, 1813, p. 456).
53
Levando em consideração que este estudo tem como enfoque a investigação toponímica
de designativos geográficos preservados da área rural da cidade de Araraquara/SP, neste
capítulo buscamos apresentar uma discussão dos dados. Nesse aspecto, nos dedicamos à
apresentação do corpus. O corpus constitui-se em 45 cartas de sesmarias que foram transcritas
na íntegra e apresentadas em um quadro, os seus respectivos números serão deixados, assim
como constam no Registro de Propriedades Rurais do município de Araraquara entre 1855-
1858. Salientamos que todas as cartas estão disponibilizadas nos anexos. A análise das
escrituras levou-se em conta o modelo proposto por Dick (1990). Posteriormente, apresentamos
alguns gráficos e mapas para elucidar a análise.
4.1.1 Transcrições
Este trabalho seguiu como referência estas normas e, a partir delas, estabelecemos
alguns critérios para a transcrição semidiplomática, isto é, a reprodução fiel do documento
original em que se preserva a grafia, sinais e abreviaturas, em casos raros em que não há como
se ler, utilizamos o desmembramento de abreviaturas. A esses domínios, foram utilizados os
seguintes critérios:
As transcrições estão em uma ficha que constará os seguintes elementos para análise: a)
Transcrição, que corresponde às cartas transcritas na íntegra; b) Elemento Geográfico, que
corresponde à entidade geográfica que recebe a denominação; c) Topônimo, isto é, o elemento
específico; d) Origem, que indica o étimo da unidade lexical, elevadas à categoria do nome
próprio; e) Taxionomia, a qual registra a taxe toponímica do ponto de vista semântico, partindo
de sua natureza física ou antropocultural, de acordo com Dick (1992); f) Estrutura morfológica,
esta indica a configuração do topônimo em suas diferentes categorias, a saber: elemento
específico simples, elemento específico composto, elemento específico simples híbrido, e
elemento específico composto híbrido; g) Motivação, a qual descreve os aspectos que
motivaram na escolha do nome próprio de lugar e h) Fonte, designa de quais documentos foram
inventariados os dados.
57
20
Celebrada a 26 de julho, São Joaquim, esposo de Santa Ana, é a avô materno de Jesus Cristo, pai da Virgem
Maria. (CARVALHO, 2014, p. 272)
58
21
Celebrado a 8 de agosto, Domingos nasceu em 24 de junho de 1170, na pequena vila de Caleruega, na Velha
Castela, atual Espanha. Pertencia a uma ilustre e nobre família, muito católica e rica: seus pais eram Félix de
Gusmão e Joana d'Aza e seus irmãos, Antonio e Manes. O primeiro tornou-se sacerdote e morreu com odor de
santidade. O segundo, junto com a mãe, foi beatificado pela Igreja. (CARVALHO, 2014, p. 246)
59
Elemento Sítio
Genérico
Topônimo Fazendinha
Origem “Do lat.. *facenda, por facienda, de facere “fazer, executar” (CUNHA, 2010, p.
287)
Taxionomia Sociotopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas O topônimo Fazendinha é um processo de Toponimização, cujo “emprego do
denominativas designativo do acidente em função denominativa, como se fosse um nome. Essa
atitude dispensava o uso de outra expressão substitutiva ou própria” (DICK, 2007,
p. 463). Neste caso, uma possível hipótese para a escolha do nome é a de que a
propriedade era produtiva para pastagens e criação de gado. Para tanto, fazendas
são mais comuns para esse fim. Nessa perspectiva, a escolha do radical do
elemento específico fazend e, ainda, mais a escolha do sufixo – inha, o elemento
específico retoma a carga semântica do elemento genérico sítio, uma vez que o
diminutivo reforça que a fazenda está mais para sítio do que o contrário.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Elemento Sítio
Genérico
Topônimo Ouro
Origem “Do lat. Aurum -i” (CUNHA, 2010, p. 466)
Taxionomia Litotopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas Elementos de causa circundante, como topônimos de origem mineral ou
denominativas constituição do solo, tiveram grande influência na denominação. Além disso, esse
nome é uma das Sesmarias mais conhecidas da época, o que, consequentemente,
foi repetido para nomear sítios e fazendas posteriormente.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Elemento Sítio
Genérico
Topônimo Jacaré, do
Origem “Do tupi iaka’re” (CUNHA, 2010, p. 370)
Taxionomia Zootopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas A motivação do nome é o fato de que há bem próximo da região o Rio Jacaré. O
denominativas rio recebe outros nomes dependendo de sua localidade, como Rio Jacaré-Guaçu,
Rio Jacaré Pepira, Rio Jacaré Pupira e Rio Jacaré Grande.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Topônimo Chibarro
Origem “sm. ‘cabrito até um ano’ 1813. Do cast. Chivo. O voc. Foi usado originariamente
como voz para chamar o animal e, neste sentido, é de criação expressiva”
(CUNHA, 2010, p. 147)
Taxionomia Zootopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas No século XIX, a identificação de locais era a partir de certos topônimos e os
denominativas melhores locais para a criação de gado eram identificados pelos nomes “Bom
Retiro, Pouso do Morro, Rancho grande, Rancho Queimado, Potreiro, Chibarro
ou um certo tipo de vegetação poderia dar essa indicação” (CORREA, 1967, p.
20).
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
dos Passos, por negocio que fiz com Francisco de Paulo Aranha das quais não
menciona as divizas, por elas se acharem pró-indivizo. Araraquara, dez de
Novembro de mil oito centos cincoenta e cinco. Arrogo de Furtuoso Bueno de
Morais, osé de Arruda Falcão. Joaquim de Cypriano de Camargo.
Elemento Fazenda
Genérico
Topônimo Jacaré
Origem “Do tupi iaka’re” (CUNHA, 2010, p. 370)
Taxionomia Zootopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas A motivação do nome é o fato de que há bem próximo da região o Rio Jacaré. O
denominativas rio recebe outros nomes dependendo de sua localidade, como Rio Jacaré-Guaçu,
Rio Jacaré Pepira, Rio Jacaré Pupira e Rio Jacaré Grande.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Elemento Fazenda
Genérico
Topônimo Lageado (VCL – Lajeado)
Origem “De origem controversa”(CUNHA, 2010, p. 379)
Taxionomia Litotopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas A variedade de composição dos terrenos das propriedades permitiu que um
denominativas mesmo rio, por exemplo, adquirisse aspectos diferentes em seu percurso e, desse
modo, foi marcado pela toponímia certas designações como é o caso deste nome.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Elemento Sítio
Genérico
Topônimo Chibarro
Origem “sm. ‘cabrito até um ano’ 1813. Do cast. Chivo. O voc. Foi usado originariamente
como voz para chamar o animal e, neste sentido, é de criação expressiva”
(CUNHA, 2010, p. 147)
Taxionomia Zootopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas No século XIX, a identificação de locais era a partir de certos topônimos e os
denominativas melhores locais para a criação de gado eram identificados pelos nomes “Bom
Retiro, Pouso do Morro, Rancho grande, Rancho Queimado, Potreiro, Chibarro
ou um certo tipo de vegetação poderia dar essa indicação” (CORREA, 1967, p.
20).
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Elemento Sítio
Genérico
Topônimo Chibarro22
Origem “sm. ‘cabrito até um ano’ 1813. Do cast. Chivo. O voc. Foi usado originariamente
como voz para chamar o animal e, neste sentido, é de criação expressiva”
(CUNHA, 2010, p. 147)
Taxionomia Zootopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas No século XIX, a identificação de locais era a partir de certos topônimos e os
denominativas melhores locais para a criação de gado eram identificados pelos nomes “Bom
Retiro, Pouso do Morro, Rancho grande, Rancho Queimado, Potreiro, Chibarro
ou um certo tipo de vegetação poderia dar essa indicação” (CORREA, 1967, p.
20)
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
22
Na transcrição da carta 165, não há a menção do topônimo Chibarro. Para tanto, neste caso, a partir da descrição
de lugares próximos, e na leitura dos mapas cartográficos do IBGE, chegou-se a conclusão de que há esse nome
conservado atualmente. O topônimo pode ser consultado no mapa Elaborado pelo autor na análise de dados.
70
Elemento Sítio
Genérico
Topônimo Palmeiras, das
Origem “Do lat. Palmus –i” (CUNHA, 2010, p. 471)
Taxionomia Fitotopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas Na localidade há algumas plantas que influenciaram na designação do espaço
denominativas geográfico. Nesse caso, a Palmeiras foi o elemento identificador.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
72
Elemento Sítio
Genérico
Topônimo Boa Esperança
Origem Boa:“[lat. Bônus, a, um ‘bom]” (HOUAISS, 2011, p. 132)
Boa: “| Do lat. Bônus bona ||” (CUNHA, 2010, p. 96)
Esperança: “lat. Spēro,as,ēvi,ātum,āre ‘id’” (HOUAISS, 2011, p. 388)
Taxionomia Animotopônimo Eufórico
Estrutura Composto
Morfológica
Causas Nas proximidades há o Rio Boa Esperança, boa parte dele passa no município de
denominativas Boa Esperança do Sul – SP, há 30 km de Araraquara atualmente. Nesse sentido, a
escolha do nome se deu pelo rio ou a vertente que passa pelas proximidades do
lugar.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Estrutura Simples
Morfológica
Causas Na localidade há algumas plantas que influenciaram na designação. No caso, a
denominativas palmeira nativa Bocaiúva foi o elemento identificador.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
23
Na transcrição da carta 275, não há a menção do topônimo Água Branca. Para tanto, neste caso, a partir da
descrição de lugares próximos, e na leitura dos mapas cartográficos do IBGE, chegou-se a conclusão de que há
esse nome conservado atualmente. O topônimo pode ser consultado no mapa Elaborado pelo autor na análise de
dados.
74
Lageado, fazenda do Cambuy, Rio Jacaré, com Manoel Jozé de Abreu Guimarães,
havida em legitima paterna; assim mais meia parte de terras lavradias, e campos na
referida fazenda, havidas por compra do herdeiro Joaquim Antonio de Arruda.
Araraquara vinte, e dous de Março de mil oito centos, e cincoenta, e seis. Antonio
Pais de Arruda. Joaquim Cypriano de Camargo.
Elemento Fazenda
Genérico
Topônimo Bocaiúva
Origem “sf. ‘variedade de palmeira’ | bocayuba 1734, bocayuva 1792, bocayúva 1817 | Do
tupi moka’iua’ (CUNHA, 2010, p. 94)
Taxionomia Fitotopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas A causa denominativa é porque entre estas localidades, há algumas plantas que
denominativas influenciaram na designação. No caso, a planta que se refere é a Bocaiúva.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Elemento Sítio
Genérico
Topônimo Bocaiúva
Origem “sf. ‘variedade de palmeira’ | bocayuba 1734, bocayuva 1792, bocayúva 1817 | Do
tupi moka’iua’ (CUNHA, 2010, p. 94)
Taxionomia Fitotopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas A causa denominativa é porque entre estas localidades, há algumas plantas que
denominativas influenciaram na designação. No caso, a planta que se refere é a Bocaiúva.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Maria, e João, Jozé, Antonio, e Francisco, declaro que eles, cada ûm, possue
pequenas partes de terras lavradias, e campos, na fazenda do Bocaiuva, Bairro do
Saltinho, deste districto, cuja divide com a sismaria do Lageado, sismaria do
Cambuy, Rio Jacaré, e com Manoel Jozé de Abreu Guimarães, havida legitima
materna. Araraquara seis de Abril de mil oito centos, e cincoenta, e seis. Manoel
Pais de Arruda. Joaquim Cypriano de Camargo.
Elemento Sítio
Genérico
Topônimo Bocaiúva
Origem “sf. ‘variedade de palmeira’ | bocayuba 1734, bocayuva 1792, bocayúva 1817 | Do
tupi moka’iua’ (CUNHA, 2010, p. 94)
Taxionomia Fitotopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas A causa denominativa é porque entre estas localidades, há algumas plantas que
denominativas influenciaram na designação. No caso, a planta que se refere é a Bocaiúva.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
24
Celebrado a 10 de agosto e de origem espanhola, São Lourenço foi um dos sete diáconos da Igreja Romana
primitiva, no século III, tendo recebido sua ordenação das mãos do papa Santo Estêvão. (CARVALHO, 2014, p.
290)
80
Origem “O nome Lourenço tem origem no latim Laurentius, que significa “natural
de Laurento” (GUÉRIOS, 1973, p. 164)
Taxionomia Hagiotopônimo
Estrutura Composto
Morfológica
Motivação A motivação se deu pela devoção ao santo católico espanhol
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
que as águas que se passam pelo local, refletem a luz solar, o que,
consequentemente, foi atribuído por este motivo.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Origem “Trata-se, provavelmente, de palavra criada a partir de forno, com influência do lat.
Furnus e mudança de gênero” (CUNHA, 2010, p. 305)
Taxionomia Geomorfotopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas Considerando o significado da palavra furna “sf. ‘caverna, gruta, fojo’” (CUNHA,
denominativas 2010, p. 305 em consoante à localidade, há cavernas e grutas. Além disso,
atualmente, há uma subestação de Furnas em Araraquara, cujo lugar é o mesmo
desde o século XIX.
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Elemento Fazenda
Genérico
Topônimo Pinheirinho
Origem Do fr. Pineal, deriv. do lat. cient. pineãlis || pínEO XVII. Do lat. Pineus –a –um ||
pinha sf. ‘fruto do pinheiro’ XVI. Do lat. Pinêa [...] pínhEIRO XIII (CUNHA,
2010, p. 497)
Taxionomia Fitotopônimo
Estrutura Simples
Morfológica
Causas Entre estas localidades, há algumas plantas que influenciaram na designação.
denominativas
Fonte IBGE, INCRA e Registro de Propriedades Rurais de Araraquara 1855-1858.
Fonte: Elaborado pelo autor
Notamos, a partir das cartas de sesmarias, que há rios e córregos mencionados ao longo
da descrição. Nessa perspectiva, a partir do Mapa Hidrográfico do Estado de São Paulo,
disponibilizado online pelo governo, foi possível fazer uma leitura das cartas de forma
aprofundada, uma vez que tal mapa menciona os topônimos de natureza física, o que facilita o
entendimento da leitura da carta.
84
Dessa forma, é possível ver os nomes da rede hidrográfica e, com efeito, realizar a
análise das cartas de sesmarias. O processo de análise, além do mapa mencionado acima,
também ocorreu a partir da leitura dos mapas cartográficos disponibilizados do IBGE, haja vista
que além de mencionar a toponímia física, mencionam, também, a toponimia rural humana, não
de forma atualizada como o INCRA e o SNCR, indicado pela Prefeitura Municipal de
Araraquara, mas já é um grande avanço. Diante da leitura dos mapas e das cartas de sesmarias,
foi possível obter a localização exata de alguns topônimos conservados desde 1855 até os dias
de hoje.
Reitera-se que ao todo foram analisadas 638 cartas de sesmarias e foram inventariados
mais de 800 nomes de propriedades, a fim de investigar quantos topônimos ainda são
conservados desde o Período Colonial. Assim, dentre esta quantidade de dados, apenas 45
nomes de propriedades foram analisados com base no modelo proposto por Dick (1990; 1992),
sendo em sua maioria de natureza física, que nomeiam 34 elementos de natureza física (75%)
e as taxes de natureza antropocultural designaram 25%, ou seja, 11 topônimos de natureza
humana. Vemos, a seguir, o montante de topônimos rurais conservados no município de
Araraquara/SP, segundo as taxionomias de Dick (1992) no gráfico que ilustra:
86
10
Zootopônimo
8 Fitotopônimo
Hagiotopônimo
Litotopônimo
6 Hidrotopônimo
Geomorfotopônimo
Animotopônimo Eufórico
4 Sociotopônimo
Dimensiotopônimo
6
Topônimos mais recorrentes
0
Chibarro Bocaiúva Jacaré Ouro Furnas Brejo Fazendinha São Boa
Grande Lourenço Esperança
Título do Eixo
Ribeirão do Chibarro, Rio Jacaré e Ribeirão do Ouro. Uma das hipóteses da motivação do
nome de lugar é por causa do Rio, já que era um ponto de referência.
Já o caso de Bocaiúva, palmeira nativa brasileira, é comum na área rural encontrar estas
plantas. Nesse sentido, nas proximidades dos Sítios Bocaiúva deveria ter muitas palmeiras dessa
espécie, o que motivou o denominador na escolha do nome e o lugar tornar-se referência por
causa do nome da planta.
O sítio e fazenda Brejo Grande, ambos localizados bem próximos também pode indicar
que houve uma influência por causa do terreno ser alagadiço ou lodoso, tendo em vista que em
suas proximidades há um rio. Furnas, cavidade natural rochosa, lugar que pode possuir
cavernas, atualmente, há uma subestação de Furnas. Uma hipótese é que as três propriedades
adquiridas pelos pleiteantes no século XIX foram compradas e unidas para que fosse criado,
posteriormente, tal subestação.
A partir das cartas de sesmarias que mencionam os topônimos de natureza física, foi
possível elaborar um mapa de topônimos conservados desde o Período Colonial. Em
decorrência disso, o mapa é apenas uma amostragem de alguns topônimos a título de exemplo.
Mapa 3: Parcela de topônimos de natureza física conservados desde 1855
É possível atestar que todos os topônimos no mapa estão em volta à uma rede
hidrográfica, por conseguinte, a toponímia física é de grande relevância para situar os nomes
de fazendas, sítios e chácaras. O mapa cartográfico do IBGE foi de fundamental importância,
pois foi possível averiguar outros topônimos que as cartas não mencionavam o espaço físico,
por exemplo, os topônimos Lageado e Laranjal. No que diz respeito aos números mencionados
juntamente com os nomes das respectivas propriedades rurais, eles correspondem aos números
das cartas de sesmarias que foram transcritas na análise de dados.
Observa-se que há alguns nomes mais recorrentes que outros, como é o caso dos
elementos específicos: Chibarro, Bocaiúva, Jacaré e Ouro. Todos esses nomes são de natureza
física, o que indica a forte influência na nomeação da toponímia humana rural na região. Além
disso, pela época em que ocorreu o processo de aquisição destas propriedades, a cosmovisão
do denominador era outra comparada a 2021, uma vez que, atualmente, há uma forte influência
religiosa na denominação de propriedades rurais25.
O Sítio Laranjal, assim como Bocaiúva, também pode ter recebido o nome por causa de
algum pomar de laranja na localidade. A Fazenda Lageado também fica perto de uma vertente
de um rio, fora que havia a Sesmaria do Lageado, o que indica que a propriedade recebeu o
nome por causa da sesmaria, tendo em vista que uma sesmaria pode ser dividida em muitas
propriedades.
Percebe-se que todos os nomes demonstrados no mapa são de natureza física, o que
comprova mais uma vez uma significativa influência do ambiente físico e suas causas
denominativas em relação ao nome próprio de lugar. Tais topônimos faz-se retomar às causas
denominativas propostas por Backheuser (1952). O autor, em sua obra, assinala que os
topônimos têm como uma de suas causas denominativas o substantivo. Nessa direção, o uso de
substantivos nos topônimos analisados que pode ser notado é o de acidentes de geografia física.
25
Os nomes podem ser observados nos apêndices deste trabalho.
90
36%
Simples
64%
Composto
Em relação à língua de origem dos topônimos, além da língua portuguesa como mais
recorrente, houve ocorrências de tupi e castelhano. Dos 45 topônimos conservados, três
apresentaram língua de origem controversa segundo Cunha (2010).
91
Origem controversa
Tupi
Português
Castelhano
0 5 10 15 20 25 30
CONSIDERAÇÕES FINAIS
trouxemos uma discussão, a partir de definições de dicionários de língua tupi, a fim de poder
apresentar que o nome de lugar possui diversos significados, mas que em relação à sua
pronúncia, dependendo de onde se encontra o acento agudo, o significado também muda. Além
disso, considerando as acepções apresentadas pelos dicionários e a questão do
aportuguesamento dos brasileiros ante à Língua Tupi, atesta-se que Araraquara significa “toca,
morada, refúgio das Araras” e não “morada do sol” como muitos afirmam sem fundamento.
Constatou-se também que os topônimos de maior recorrência foram os de natureza
física, em especial, destacam-se os elementos específicos das propriedades rurais: Chibarro;
Ouro; Jacaré e Bocaiúva. Percebe-se que segundo as taxionomias de Dick (1992), eles
correspondem, respectivamente, zootopônimos, litotopônimos e fitotopônimos. Isto é, a fauna,
a flora e aspectos de índole geológica ou mineral tiveram grande influência no ato de batismo.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas no processo de desenvolvimento da pesquisa,
diz respeito ao processo de inventariação a partir de dados oficiais, neste caso, foi o IBGE, em
que os mapas não são atualizados e, além disso, não apresentam o porquê de muitas
propriedades não constarem nos dados, enquanto nos dados oficiais do INCRA constam e são
atualizados todo ano.
Nesse contexto, a pesquisa se mostrou e apontou a importância da Toponímia como
forma de resgate e conservação da memória e da história de uma cidade. Observou-se, também,
que, em sua maioria, os topônimos são provenientes da língua portuguesa.
Em suma, o recorte toponímico realizado e selecionado nesta pesquisa mostrou que a
Toponímia adentra a memória coletiva de um povo e resgata muitas particularidades da história
daquele lugar. Por fim, ressalta-se a simbiose entre Toponímia, História e Geografia para os
pesquisadores da área e suas futuras gerações.
Este tema ainda permite estudar muitos aspectos do ponto de vista da Toponímia como,
por exemplo, o desmembramento das propriedades rurais entre os séculos XIX e XXI, a fim de
elucidar a importância da toponímia rural humana como resgate da história de uma cidade.
94
REFERÊNCIAS
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e XIX e a Estrada Real. Literatura em Debate, v. 3, n. 5, p. 31-46, 2009.
BACKHEUSER, E. Toponímia. Suas regras, sua evolução. Revista geográfica. Rio de Janeiro:
Instituto Pan-Americano de Geografia e História. v. IX, X. n. 25, p. 163-195, 1952.
BALLESTER, G. T. Diccionario didáctico del español. Intermedio, Madrid, SM, 4ª ed., 1996.
BIDERMAN, M. T. C. As ciências do léxico. In: OLIVEIRA, Ana Maria Pinto Pires de;
ISQUERDO, Aparecida Negri. As ciências do léxico. Lexicologia, Lexicografia,
Terminologia. Campo Grande: Editora UFMS, 1998, p. 11-20.
BUENO, Silveira. Vocabulário tupi-guarani português. 4. ed. São Paulo: Brasil, 1986
CARVALHO, Ana Paula Mendes Alves de. Hagiotoponímia em Minas Gerais. 2014.Tese de
Doutorado. (Doutorado em Linguística). UFMG. Belo Horizonte, 2014. Disponível em:<
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/MGSS-9PMR2U>. Acesso em: 02
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DRUMOND, Cs. Contribição Bororo à toponímia brasílica. São Paulo: ed. da USP, 1965.
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ftp://geoftp.ibge.gov.br/cartas_e_mapas/mapas_para_fins_de_levantamentos_estatisticos/cens
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SAPIR, E. Linguística como ciência. Rio de Janeiro: Ed. Livraria Acadêmica, 1969.
TORT, J. Toponimia y marginalidad geográfica: Los nombres de lugar como reflejo de una
interpretación del espacio. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias
Sociales, 2003, vol. VII, p. 138, 2003.
APÊNDICES
100
Fazenda Da Americana
Fazenda Da Mata
Fazenda Das Flores
Fazenda Estrela
Fazenda Fitti Ii
Fazenda Fittipaldi Citrus I
Fazenda Friburgo
Fazenda Gamba
Fazenda Genoveva
Fazenda Guanabara
Fazenda Gurupia
Fazenda Himalaia Furnas
Fazenda Inhumas
Fazenda Itacoara
Fazenda Jacare
Fazenda Jijoca
Fazenda Joao Batista
Fazenda Lageado
Fazenda Lia Claudia
Fazenda Luiza
Fazenda Manaca
Fazenda Maracana
Fazenda Maria Eliza
Fazenda Maria Eliza
Fazenda Marilu
Fazenda Maringa
Fazenda Monte Libano
Fazenda Monte Verde
Fazenda Morro Alto
Fazenda Morro Alto
102
Sítio Araruva
Sítio Arcade Dois
Sítio Arco Iris
Sítio Atibaia
Sítio Baguassu
Sítio Bairro Dos Machados
Sítio Banhadinho
Sítio Barra Da Mulata
Sítio Barranco Alto
Sítio Barreiro
Sítio Barreiro
Sítio Barroca
Sítio Batalha
Sítio Beija Flor
Sítio Beira Rio
Sítio Bela Cintra
Sítio Bela Vista
Sítio Bela Vista
Sítio Bela Vista
Sítio Bela Vista
Sítio Bela Vista 2
Sítio Bela Vistinha
Sítio Benfatti
Sítio Bicatu
Sítio Boa Esperança
Sítio Boa Fe
Sítio Boa Vista
Sítio Boa Vista
Sítio Boa Vista
Sítio Boa Vista
107
Sítio Eliana
Sítio Elizabete
Sítio Embauba
Sítio Envernadinha
Sítio Esperanca
Sítio Esperanca
Sítio Estancia Taruma
Sítio Fabiana
Sítio Fazendinha
Sítio Fazendinha
Sítio Felipe
Sítio Felipe Graziele
Sítio Flamboyant
Sítio Florida
Sítio Friburgo
Sítio Friburgo
Sítio Gaviao
Sítio Gedali
Sítio Genipabu
Sítio Gleba Rosa Martins
Sítio Guaçatonga
Sítio Gurupia
Sítio Haras Coração
Sítio Haras Sao Pedro
Sítio Horizonte
Sítio Icaraima
Sítio Icatu De Araraquara
Sítio Imbirussu
Sítio Ipe
Sítio Irca
110
Sítio JB
Sítio Jacarezinho
Sítio Jardim
Sítio Jatoba
Sítio Jatoba
Sítio Joao Baptista
Sítio José Waldomiro Bau
Sítio Jose Luis
Sítio Karina
Sítio Lageadinho
Sítio Lageadinho
Sítio Lago Azul
Sítio Lago Azul
Sítio Lagoa Dourada
Sítio Lagoa Serena
Sítio Laranjal
Sítio Laranjal
Sítio Lorinho
Sítio Lote 15
Sítio Lote 37
Sítio Lotus
Sítio Ls Agro Pastoril
Sítio Machado
Sítio Maiby
Sítio Malavolta
Sítio Mapeli
Sítio Maria Conceicao Souza
Sítio Maria Da Conceicao
Sítio Mariani
Sítio Marinho Falcao
111
Sítio Massao
Sítio Matao
Sítio Monjolinho Gleba A1 A
Sítio Monjolinho Gleba Ai B
Sítio Montanha Verde
Sítio Monte Ibero
Sítio Monte Libano
Sítio Monte Libano Ii
Sítio Morada Do Sol
Sítio Morada Do Sol
Sítio Morada Do Sol
Sítio Morada Do Sol
Sítio Murumbica
Sítio Myra
Sítio N S Aparecida
Sítio Nagasaki
Sítio Nha Clara
Sítio Nirvana
Sítio Nogueira
Sítio Nogueira
Sítio Nossa Senhora Aparecida
Sítio Nossa Senhora Aparecida
Sítio Nossa Senhora Aparecida
Sítio Nossa Senhora Aparecida
Sítio Nossa Senhora Aparecida
Sítio Nossa Senhora Aparecida
Sítio Nossa Senhora Aparecida
Sítio Nossa Senhora Aparecida
Sítio Nossa Senhora Aparecida
Sítio Nossa Senhora Das Gracas
112
Chácara Mendonca
Chácara Mineira
Chácara Natalia
Chácara Negri Area Real 4600 M2
Chácara Nossa Senhora Aparecida
Chácara Nossa Senhora Aparecida
Chácara Nossa Senhora Da Aparecida
Chácara Nossa Senhora Das Gracas
Chácara Nossa Senhora Do Ouro
Chácara Olympia
Chácara Panorama
Chácara Paraiso
Chácara Parque Bijou
Chácara Perovao
Chácara Primavera
Chácara Rancho Fundo
Chácara Recamato
Chácara Recanto
Chácara Recanto Do Itaquere
Chácara Recanto E Conquista
Chácara Recanto Feliz
Chácara Recanto Sao Jorge
Chácara Rio Das Cruzes
Chácara Roda Viva
Chácara São Luiz
Chácara São Pedro
Chácara San Francisco
Chácara Santa Clara
Chácara Santa Cruz
Chácara Santa Elisa
125
Chácara Tanquinho
Chácara Terra Nostra
Chácara Tostao
Chácara Tres Irmaos
Chácara Triangulo
Chácara Uniao
Chácara Vitoria
Chácara Zavanella
Chácara Agua Bela
Chácara Alvorada
Recanto Urupes
Recanto Vale Do Sol
Recanto Estancia Martinez
Recanto Estancia Martinez
129
ANEXOS
130