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Peter Burke - Montaigne. Trad. Jaimir Conte. São Paulo. Edições Loyola, 2006

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Mestres do Pensar
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Aristóteles, Jonathan Barnes


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Hegel, Peter Singer


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Heidegger, Michael Inwood
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Hobbes, Richard Tuck
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Wittgenstein, A. C. Grayling Edlfães Loyolo


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Wittgenstein, A. C . Grayling Edições 1oyo/a


Título origin al:
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© Peter Burke 1981

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Montaigne was originally published in English in 1981.


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This translation is publi hed by arrangements with


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Oxford U niversity Press.


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Montaigne foi originalmente publicado em inglês em 1981.


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Esta tradução é publicada em acordo com Oxford University Press.

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Para venda somente no Brasil.

Prefácio .................. ..... .... ..... .... .... ..... ................ .. 7

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PREPARAÇÃO: Maurício B. Leal


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DIAGRAMAÇÃO: Flávio Santana 1. Montaigne em sua época .. ... .. .. .. ... .. ... ... .. .. .. .. .. .. .. 9
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REv1sÃo: Denise Ceron


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2. O humanismo de Montaigne .. .. .... ... .... ... ..... ...... . 17

3. O ceticismo de Montaigne ...... ... .. .. ... .. ........ ...... .. 27

4. A religião de Montaigne ...................... ....... .. ...... 33

Edições Loyola 5. A política de Montaigne ..................................... 45


Rua 1822 n" 347 - Ipiranga
D

04216-000 São Paulo, SP 6. Montaigne como psicólogo................................. 55


=

Caixa Postal 42.335 - 04218-970 - São Paulo, SP


{§) ( ] 1) 6914-1922 7. Montaigne como etnógrafo................................. 65
00 (1 1) 6163-4275 8. Montaigne como historiador.................. .... ....... . 75
Home page e vendas: www.loyola.com.br
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B
0
0
»

Editorial: loyola@loyo la.com.br 9. A estética de Montaigne ................ ............. ....... . 83


Vendas: vendas@ loyola.com.br
10. O desenvolvimento dos Ensaios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

0
Todos os direitos reservados. Nenhuma pane desta obra pode
ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico ou mecânico. incluindo fotocópia Leituras Recomendadas .... ...... .... .. .. .. .. .. .. .. ...... .... 105
e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de
dados sem pennissão escrita da Editora.
Z

Nota do tradutor ... .... ................................ ...... .. .. 111


D
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C
Õ

ISBN: 85-15-03374-7
Índice remissivo .................. .... ............................ 113
B
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© EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2006


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Título origin al:
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© Peter Burke 1981

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Sumário
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Montaigne was originally published in English in 1981.


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Esta tradução é publicada em acordo com Oxford University Press.

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Para venda somente no Brasil.

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PREPARAÇÃO: Maurício B. Leal


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2. O humanismo de Montaigne .. .. .... ... .... ... ..... ...... . 17

3. O ceticismo de Montaigne ...... ... .. .. ... .. ........ ...... .. 27

4. A religião de Montaigne ...................... ....... .. ...... 33

Edições Loyola 5. A política de Montaigne ..................................... 45


Rua 1822 n" 347 - Ipiranga
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04216-000 São Paulo, SP 6. Montaigne como psicólogo................................. 55


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Caixa Postal 42.335 - 04218-970 - São Paulo, SP


{§) ( ] 1) 6914-1922 7. Montaigne como etnógrafo................................. 65
00 (1 1) 6163-4275 8. Montaigne como historiador.................. .... ....... . 75
Home page e vendas: www.loyola.com.br
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Editorial: loyola@loyo la.com.br 9. A estética de Montaigne ................ ............. ....... . 83


Vendas: vendas@ loyola.com.br
10. O desenvolvimento dos Ensaios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

0
Todos os direitos reservados. Nenhuma pane desta obra pode
ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico ou mecânico. incluindo fotocópia Leituras Recomendadas .... ...... .... .. .. .. .. .. .. .. ...... .... 105
e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de
dados sem pennissão escrita da Editora.
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Nota do tradutor ... .... ................................ ...... .. .. 111


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ISBN: 85-15-03374-7
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3 de Montaigne e grande admirador dos Ensaios; o melhor amigo de
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outros escritores, mas também de fazer citações contrárias a seu uma divisão de opinião sem precedentes sobre questões geral-
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10 novo contexto para lhes dar outro significado. Um dos prazeres mente consideradas absolutamente fundamentais . A experiên- 11
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Os militares nobres, tradicionalmente, não eram amantes tarde Montaigne descreveu sua propriedade como um "retiro para
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destinadas às instruções de um cavalheiro, e enfatizavam a ne-


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se-ia para escrever suas memórias. L'Hôpital se ajustava ao ideal

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Montaigne considerou o retiro como o início de seu fim,
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deixaria sua torre para visitar a Alemanha, a Suíça e a Itália, em
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1580-1581, e para exercer dois mandatos como prefeito de <


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Bordeaux em seu retomo (1581-1585). Em 1588, participou nas o


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negociações entre o rei Henrique III e o líder protestante


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Henrique de Navarra (mais tarde Henrique IV). Nos intervalos


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entre essas atividades escreveu os Ensaios.


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Quanto à decisão de se isolar no campo, que pode parecer


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estranha a um homem que não gostava do cultivo da terra, para


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não mencionar a caça ou a administração de suas posses, era


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também convencional. Para as elites da Europa renascentista,


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como para as da antiga Roma, a zona n.iral estava associada a


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D
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14 tempo livre para instrução (otium), assim como a cidade estava 15
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g)

C
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associada aos negócios, no sentido de ocupações políticas ( nego-


P
8
0

cf)
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tium). Uma inscrição na biblioteca de Montaigne, datada de 1571,


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0
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a consagra à liberdade, à tranqüilidade e ao ócio, e descreve seu


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proprietário como "bastante fatigado de servir à corte e aos ne-


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gócios públicos". Desse modo, Montaigne se auto-situava numa


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longa e distinta tradição de rejeição da vida pública, e em parti-


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cu lar da vida nas cortes dos príncipes expressada por muitos es-
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critores antigos e modernos, tais como Horácio ( um de seus


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autores favoritos), o bispo espanhol Antonio de Guevara, cujo


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Desprezo da corte e louvor da aldeia (1539) lhe era igualmente


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bem conhecido, e Guy du Faur de Pibrac ( 1529-1584) com os


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___, "humanismo" tem sido popular entre os historiadores,
mas nem todos o têm empregado do mesmo modo. Alguns usam
o termo num sentido vago para se referir à preocupação com a
dignidade do homem, opondo um Renascimento antropocêntrico
- às vezes de modo demasiado simples - a uma Idade Média 17

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teocêntrica. Outros historiadores preferem empregar o termo
"humanista" da maneira como se utilizava umanista nas univer-
sidades italianas por volta de 1500. Nesse sentido, um huma-
nista era mestre profissional das "humanidades" (studia huma-
nitatis), ou seja, de história, ética, poesia e Tetórica. Essas quatro
matérias foram consideradas especialmente ,íhumanas" por Cícero
e outros intelectuais romanos, e também pelo renascentistas, pois
se acreditava que as características essenciais do homem eram
sua habilidade para falar e para distinguir o certo do errado.
Os humanistas do Renascimento, nesse sentido do termo,
distinguiam-se facilmente de seus colegas acadêmicos em virtu-

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de de rejeitarem os "escolásticos" (scholastici), ou seja, filósofos

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mas nem todos o têm empregado do mesmo modo. Alguns usam
o termo num sentido vago para se referir à preocupação com a
dignidade do homem, opondo um Renascimento antropocêntrico
- às vezes de modo demasiado simples - a uma Idade Média 17

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teocêntrica. Outros historiadores preferem empregar o termo
"humanista" da maneira como se utilizava umanista nas univer-
sidades italianas por volta de 1500. Nesse sentido, um huma-
nista era mestre profissional das "humanidades" (studia huma-
nitatis), ou seja, de história, ética, poesia e Tetórica. Essas quatro
matérias foram consideradas especialmente ,íhumanas" por Cícero
e outros intelectuais romanos, e também pelo renascentistas, pois
se acreditava que as características essenciais do homem eram
sua habilidade para falar e para distinguir o certo do errado.
Os humanistas do Renascimento, nesse sentido do termo,
distinguiam-se facilmente de seus colegas acadêmicos em virtu-

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do comediógrafo romano Terêncio (c. 195-159 a.C.) que pode-


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ria servir de lema para o humanismo em seu sentido amplo: "Sou mais perfeito de que já tive notícia". Montaigne considerou sua
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homem, e nada humano julgo ser-me alheio" (Homo sum, humani época medíocre em comparação com as glórias da Antiguidade,
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e os antigos foram seu ponto de referência para julgar o presente,


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É raro o ensaio que não esteja repleto de citações latinas exatamente como o foram para os humanistas.
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(1 .264 delas no total). Montaigne fez muitas vezes citações de


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segunda mão - como ele francamente admitiu-, mas, a julgar escolásticos, a Aristóteles, o "deus da ciência escolástica" - pelo
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menos à sua Lógica ou à sua Metafísica. Quando, algum tempo 21


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mais, e também nisso foi um homem de seu tempo. Como


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citados com mais freqüência do que todos os demais escritores


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prio da humanidade é o homem: a condição humana, não o


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portância, Ovídio, Tácito, Heródoto, César, Virgílio, Diógenes


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Laércio (autor das Vidas dos filósofos, e usado mais para o que os universo físico. A primeira coisa que uma çriança deve aprender,
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filósofos disseram do que para o que ele disse sobre eles), Horácio, escreveu, é "a se conhecer e a saber morrer bem e viver bem"
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(1.26). Montaigne não era ignorante em matéria de ciências fí-


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Lucrécio, Cícero, Sêneca e Plutarco. Montaigne compartilhava


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pelas Cartas a Lucílio. Vários dos primeiros ensaios são pouco assim como sobre os "átomos de Epicuro, o cheio e o vazio de
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mais que mosaicos de citações desse filósofo romano (o próprio Leucipo e Demócrito ou a água de Tales" (2.12), mas essas idéias
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Montaigne fala de "incrustação"), e a prosa informal, não- abstratas não despertavam sua curiosidade. Não se preocupou
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ciceroniana, dos Ensaios deve muito a Sêneca. Quanto às obras


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de Plutarco (c. 46-c. 127 d.C.), Montaigne as estudou cuidado- Sol girava em tomo da Terra ou esta em tomo do Sol. Montaigne
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samente na nova tradução francesa feita pelo bispo Jacques estava, ao contrário, mais interessado na tecnologia contempo-
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rânea, nas máquinas engenhosas, como mostra o diário de sua


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Amyot, e se refere a elas ou faz empréstimos dos discursos morais


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é o da diversidade dos juízos e costumes humanos. "Os hindus


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gostam de algumas coisas, nosso povo de outras [... ]. A lguns
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etíopes tatuam suas crianças, mas nós não [... ] e enquanto os


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O CETICISMO DE MONTAIGNE
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também o do relativismo jurídico. Nos anos 1560, duas versões


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latinas das Hypotyposes de Sexto foram publicadas em Paris. Até que ponto Montaigne leva a sério seus argumentos
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o que se tem chamado de sua "crise cética". Ele tinha se retirado jeita raison humaine; mas, neste ponto, é preciso também distin-
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defesa da teologia natural de Sebond, ela é, na realidade, preci- racionais), desde São Paulo (Montaigne fez inscrever quatro ci-
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samente o contrário: uma demolição cética das pretensões da tações dele no teto de sua biblioteca), passando por Santo Agos-
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Deus nem qualquer suposta realidade além dos fenômenos. Ou les. Para um católico, em meados do século XVI, expressar ceti-
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sabiam que não se podia confiar nos sentidos.


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que antes, mediante a Inquisição e o Index dos livros proibidos.


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Montaigne, entretanto, não era um católico comum. Nenhum


O resultado desses decretos foi a divisão da Europa em dois cam-
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católico secular publicava suas idéias sobre questões religiosas, e


pos: o católico e o protestante, em lugar do mais amplo e vago
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espectro de opinião religiosa que existia antes.


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de Montaigne. Suas idéias sobre os milagres, por exemplo. A po-


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Qual foi, exatamente, a posição que Montaigne assumiu?


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sição católica convencional era a de que os milagres são suspen-


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Ele parece ter se comportado como um católico ortodoxo do


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sões das leis da natureza, especialmente permitidas por Deus. A


período posterior ao Concílio de Trento. Durante sua visita a
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posição de Montaigne era a de que os "milagres são devidos à


Roma, segundo nos informa seu diário, assistiu com prazer aos
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idéias acerca do que é estranho são necessariamente etnocêntricas.


Pedro e São Paulo em São João de Latrão. Também fez uma vi-
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"Os bárbaros não são nem um pouco mais surpreendentes para nós
sita à Santa Casa de Loreto, um dos santuários católicos mais
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do que o somos para eles" (1. 23). Montaigne estava repetindo


populares da época, e gastou 50 escudos, uma soma nada despre-
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Cícero e Sexto Empírico quanto à relatividade dos "prodígios", e


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zível, em imagens e velas. Quando escreveu acerca das guerras


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a palavra miracle, que ele empregava, er~ à palavra corrente para


re ligiosas na França, referiu-se ao partido católico como "nosso".
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"prodígios". Entretanto, as circunstâncias da época, não muito


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Expressou também alguma simpatia pelo catolicismo de novo


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depois que a Igreja reafirmou a importância dos santos e relíquias


estilo associado a Trento. Teve palavras de admiração para a
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capazes de realizar milagres, davam a seus comentários um signi-


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austeridade de São Carlos Borromeu, o arcebispo ascético e mi-


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Sublinhar a mesma idéia em circunstâncias diferentes significa dizer


utilidade" na tradução da Bíblia para o vernáculo. Quem teria
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competência para verificar a exatidão das traduções para o basco


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ou para o bretão? Seja como for, a Bíblia, escreveu, "não é um


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Bodin era membro desse grupo; Montaigne também. Ele obser- mantida em As leis do Reino na Escócia, tratado escrito pelo an-
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vou em certa ocasião que tanto Henrique, duque de Guise, como tigo professor de Montaigne, George Buchanan, por volta de
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1570, para justificar a deposição da rainha Maria da Escócia


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o Bourbon Henrique de Navarra (mais tarde Henrique IV) sus-


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tentavam em público, por razões políticas, exatame nte o contrá- (1568), mas publicado em 1579 por causa de sua relevância para
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a situação na França. Nos anos 1580, uma posição similar sobre


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rio de suas verdadeiras crenças religiosas: "Pois Navarra, se não


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tivesse medo de ser abandonado por seus seguidores, prontam en- o direito de resistência aos tiranos fo i mantida pelos membros da
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48 Confissão de Augsburg". Montaigne suspeitava que todos aque-
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ou limitado, mas "absoluto" (puissance absolue); e, conseqüente-


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les que lutavam unicamente por motivos religiosos ou patrióti-


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cos não formariam juntos "uma compan hia de soldados comple-


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ta", muito menos um exército. Os motivos elevados ocultavam Blackwood, um escocês que vivia na França e que contestou seu
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os baixos. "Nosso zelo faz maravilhas quando vai secundando nossa compatriota Buchanan com uma Apologia dos reis (1581 ). A idéia
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de que a soberania era indivisível recebeu_poderoso apoio de


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inclinação para o ódio, a crueldade, a ambição" (2.12). Pensou


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que o melhor partido fosse "aquele que conserva a religião e a Jean Bodin.
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Montaigne nunca oferece algo tão sistemát ico como uma


antiga forma de governo do país" ( la religion et la police ancienne du
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teoria política. Apesar da descrição que o primeiro tradutor para


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pays) (2.19), mas tentou seguir uma via intermediária nas guen-as,
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com todos os "inconvenientes", como ele observou, "que a mode- o inglês, Floria, faz dos ensaios (seguindo a versão italiana) como
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ração causa em tais doenças". E acrescentava, referindo-se indire-
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retamente de questões políticas. Mesmo assim, Montaigne co-


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tamente às guerras dissidentes da Itália medieval: "Para o gibelino


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As guerras civis francesas estimularam - como freqüente- e os limites da monarquia. As obras mais recentes chegavam sem
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dúvida a sua torre. A propósito de Buchanan e Blackwood, co-


mente ocorre com as guerras civis - uma nova reflexão acerca
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da política. A atenção se dirige facilmente ao prob lema de onde mentou com divertido desprendimento: "Há menos de um mês
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reside (ou deve residir) o poder quando este é utilizado para eu folheava dois livros escoceses que discutiam este assunto: o
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da liberdade contra os tiranos ( 15 79). Uma posição semelhante foi
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Bodin era membro desse grupo; Montaigne também. Ele obser- mantida em As leis do Reino na Escócia, tratado escrito pelo an-
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vou em certa ocasião que tanto Henrique, duque de Guise, como tigo professor de Montaigne, George Buchanan, por volta de
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1570, para justificar a deposição da rainha Maria da Escócia


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o Bourbon Henrique de Navarra (mais tarde Henrique IV) sus-


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tentavam em público, por razões políticas, exatame nte o contrá- (1568), mas publicado em 1579 por causa de sua relevância para
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a situação na França. Nos anos 1580, uma posição similar sobre


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rio de suas verdadeiras crenças religiosas: "Pois Navarra, se não


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tivesse medo de ser abandonado por seus seguidores, prontam en- o direito de resistência aos tiranos fo i mantida pelos membros da
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A posição alternativa era a teoria segundo a qual o poder do


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48 Confissão de Augsburg". Montaigne suspeitava que todos aque-
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ou limitado, mas "absoluto" (puissance absolue); e, conseqüente-


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les que lutavam unicamente por motivos religiosos ou patrióti-


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mente, a revolta nunca era justificada. Essa era a opinião de Adam


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cos não formariam juntos "uma compan hia de soldados comple-


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ta", muito menos um exército. Os motivos elevados ocultavam Blackwood, um escocês que vivia na França e que contestou seu
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os baixos. "Nosso zelo faz maravilhas quando vai secundando nossa compatriota Buchanan com uma Apologia dos reis (1581 ). A idéia
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de que a soberania era indivisível recebeu_poderoso apoio de


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inclinação para o ódio, a crueldade, a ambição" (2.12). Pensou


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que o melhor partido fosse "aquele que conserva a religião e a Jean Bodin.
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Montaigne nunca oferece algo tão sistemát ico como uma


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teoria política. Apesar da descrição que o primeiro tradutor para


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pays) (2.19), mas tentou seguir uma via intermediária nas guen-as,
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com todos os "inconvenientes", como ele observou, "que a mode- o inglês, Floria, faz dos ensaios (seguindo a versão italiana) como
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"discursos morais, políticos e militares", poucos deles tratam di-


ração causa em tais doenças". E acrescentava, referindo-se indire-
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retamente de questões políticas. Mesmo assim, Montaigne co-


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tamente às guerras dissidentes da Itália medieval: "Para o gibelino


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eu era guelfo, para o guelfo, gibelino" (3.12). nhecia muito bem as controvérsias de sua época sobre a natureza
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As guerras civis francesas estimularam - como freqüente- e os limites da monarquia. As obras mais recentes chegavam sem
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dúvida a sua torre. A propósito de Buchanan e Blackwood, co-


mente ocorre com as guerras civis - uma nova reflexão acerca
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da política. A atenção se dirige facilmente ao prob lema de onde mentou com divertido desprendimento: "Há menos de um mês
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reside (ou deve residir) o poder quando este é utilizado para eu folheava dois livros escoceses que discutiam este assunto: o
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o e~ poder e soberania" (3.7). imutável, como base da lei positiva; a diversidade dos costumes o
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Montaigne achou os dois escoceses divertidos porque consi- humanos era demasiado grande para tanto. Pensava que a mo-
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derava que as disputas sobre a melhor forma de governo ou socie- narquia era melhor para a França, mas também que diferentes
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dade careciam de valor prático e eram conjecturas "apropriadas ,_

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apenas para o exercício de nosso espírito" (3.9). Ele não era um
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utopista. Em política como em religião tinha um sentido aguçado em liberdade e no comando de si mesmos consideram mons-
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dos limites da razão humana. Além disso, como Maquiavel, esta- g)\ g 3 R
B truosa e antinatural qualquer outra forma de governo. Os que
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va bastante consciente da importância do imprevisível nas ques- são educados na monarquia fazem o mesmo" ( 1.23). Essa é uma
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tões humanas; uma força que ambos descreveram como "Fortu- posição não muito distante da de Maquiavel, que reconheceu a
3
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na". Também Maquiavel considerava necessário que os príncipes, dificuldade para um príncipe de se tornar senhor de uma cidade
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em determinadas ocasiões, "usassem maus meios para um bom fim". que tinha sido acostumada com a liberdade, mas as conclusões
3
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Entretanto, tinha suas reservas quanto a Maquiavel. Descreveu os


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de Montaigne sobre a diversidade humana vão muito além do


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Discursos como "bastante sólidos", na medida em que o assunto o ponto ao qual Maquiavel desejou levá-las.
permitia; "no entanto foi muito fácil combatê-los; e os que o fize-
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50 A melhor e mais excelente forma de governo é, para cada 51


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prios". A crença de Maquiavel em regras, "que raramente ou nun- nação, aquela sob a qual ela vier se mantendo. Sua forma e
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sua conformidade essencial dependem do uso. Costumamos


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ria aos prognósticos e almanaques da época; proceder de maneira porém, que desejar num Estado popular o comando de pou-
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totalmente oposta ao que eles recomendam, declarou, não é mais cos, ou na monarquia uma outra espécie de governo, é erro
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imprudente do que confiar neles (2.1 7). Por diferentes meios po- e loucura (3 .9 ).
e

demos chegar ao mesmo fim, e pelos mesmos meios, a diferentes Ou ainda, com a simplicidade e proximidade de um provérbio,
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fins. O imperador Juliano Apóstata utilizou "para atiçar a desor- "para cada pé seu sapato" (3.13).
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dem da dissensão civil a mesma receita de liberdade de consciên- Em resumo, Montaigne desejava manter a ordem política
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Essa observação concreta pode ser uma crítica encoberta aos expressou com uma franqueza incomum e brutal (para não dizer
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governantes de sua época, mas a aguda consciência que Montaigne cínica) que pode fazer o leitor moderno lembrar-se de Thomas
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tinha da diversidade sempre o fez extremamente cético em maté- Hobbes. "As leis se mantêm em crédito não porque são justas,
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ria de generalizações. mas porque são leis. Esse é o fundamento místico de sua autori-
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Em princípio, portanto, Montaigne não era um defensor da dade; não têm outro" (3 .13 ). Para Montaigne, o estudo de outras
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pelo qual a Inglaterra passaria na época de Hobbes), haviam 1--

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desmistificado a lei. Estava claro para Montaigne tanto que as bunal nas mesmas posições, porque este aparece em público ves- o
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:::. leis específicas eram arbitrárias, não naturais, como que tais leis po
tido com roupas esplêndidas (3 .2). Ao contrário de alguns de w

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fulose pela virtude do toque real. Até membros do grupo dos Montaigne foi, como La Boétie, um moralista segundo a tradi-
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ção estóica. Marco Aurélio (121-80 d.C.), embora fosse impera-


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politiques, como o jurista Etienne Pasquier, afirmavam que era


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necessário considerar o monarca "sacrossanto, inviolável e sa- dor, teve uma opinião de seu ofício que não estava longe da opi-
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grado". Como seu amigo La Boétie, Montaigne parece ter pen-


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sado de outro modo. La Boétie escreveu um tratado no qual cri- que parecem mais dignas de nossa aprovação, devemos desvendá-
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particular. Descreveu as cerimônias públicas como "drogas" para


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gular corruptora da razão". O desmascaramento da vida pública


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contrário de La Boétie, Montaigne não era, como vimos, inimi- privada, para a qual devemos nos voltar agora.
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a necessidade de despojá-la das ilusões, para mostrar que o impe-


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rador não tinha nenhuma roupa ou, antes, que apenas a sua rou-
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MONTAIGNE COMO PSICÓLOGO


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Luís XIV ou de Napoleão. É certo que admi
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vai além. Nos ensaios, deixa claro em duas ocasi no lugar de Sócrates não consigo. Se algué

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pela cena pública do leito de morte convencio o que sabe fazer, ele responderá : "Subjugar o mund z

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é um ato para um realmente um escapismo seu retiro da vida públi
privada. [... ] não é papel para a sociedade:
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não era ainda um tema tabu. principalmente, que vivemos uma vida
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mais pessoal. mostra apenas para nós, devemos ter estabeleci
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Vidas de Plutarco - um dos livros favoritos de Montaigne -, "uma tou as alegações dos adivinhos, mas não a possibilidade de
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do bispo humanista do século XVI Paolo Giov io, nem as vidas dos hábitos são formados: "que nossos maiores vícios tomam_forma
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artistas italianos, de Giorgio Vasari, publicadas em 1550. Entre- na mais tenra infância e que nossa educação está principalmente
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tanto, realmente conheceu Plutarco, leu as Vidas dos Césares, de nas mãos das amas" ( 1.23). Como Freud, Montaigne via-se como
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Suetônio (c. 69-c. 140 d.C. ) e apreciou as Vidas dos filósofos do um solitário explorador do eu, um pioneiro no "empreendimen-
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escritor grego do século lll Diógenes Laércio, que nos conta, por to espinhoso, e mais do que parece, de seguir uma marcha tão
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fez fot"criar uma síntese pessoal com base nas
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das nas tradições médica, filosófica, retórica
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(c. 460-380 a.C.) for- o
montavam aos gregos antigos. Hipócrates Ensaios), como uma o
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mas. A Retórica de Aristóteles discute os público pode ocultar ....<


sia. Sabia muito bem que o zelo pelo bem

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sintomas foi o próxi-
Diagnosticar a personalidade com base nos
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(c. 372-c. 288 a.C.),


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pode mascarar uma


(2.17); que a profissão pública da virtude
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s, conj unto de vinhetas


discípulo de Aristóteles e autor dos Caractere
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Essas idéias faziam vida privada viciosa (3.5); e, mais comume
animadas de "o rústico", "o supersticioso" etc.
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vezes uma lacuna entre a pouca consistên


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parte do contexto cultural das biografias escri
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homem e seu "papel" público (rôle é um term
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os acerca da melanco- te, na versão que Montaigne dá ao epigr
guns médicos, especialmente em seus estud
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lia, formulavam as leis do que chamamos de


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século XVI, mas não Em virtude de seu desejo por total honestida
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"psicologia" foi na realidade cunhado no s usavam, Montaigne


Ao discutir os sinais ciência que tinha das máscaras que os outro
teve nenh um sucesso até o século XVIII.
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exteriores da personalidade, como em outra


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por meio de conjecturas incertas" (3.2). As


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tomando-a mais a sério, explorando suas impl
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seu desenvolvimento na Renascença italiana. As autobiografias


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somos bastante corajosos para pronunciar palavras como


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do papa Pio II (escrita nos anos de 1460), de Benvenuto Cellini


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morte, roubo, traição; mas essa palavra nós somente fala-


TF

(escrita nos anos 1560) e do médico milanês Girolamo Cardano


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ção que Cardano faz de si mesmo e a do próprio Montaigne são


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especialmente surpreendentes. O livro de Cardano inclui capítu- mais forte no final do século XVI do que na época de Rabelais.
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achava-se impressa na época em que Montaigne escrevia. A coin- decisão de Montaigne de discutir, serena e publicamente, algo que
cidência temporal entre Cellini, Cardano e Montaigne sugere que tinha chegado a ser o mais privado dos temas (muitos de seus
a consciência da individualidade é um fenômeno social. contemporâneos quebraram o tabu, mas, que saibamos, nenhum
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Coerente com sua franqueza sobre outros aspectos foi a ati- outro o discutiu), e, em segundo lugar, sua maneira comparativa
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do papa Pio II (escrita nos anos de 1460), de Benvenuto Cellini


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morte, roubo, traição; mas essa palavra nós somente fala-


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procedermos assim, em deixar de diferenciar o contexto cultural (!)

descobrimento dedicavam muitas vezes capítulos ao modo de vida


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do século XIX, do da época de Montaigne. Ele escrevia como dos índios, quer a atitude do autor fosse simpática, hostil ou neu- o

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moralista, e os antropólogos modernos, em geral, não o fazem. tra. Um exemplo bem conhecido é a História geral das Índias (1552),
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0

. do clérigo espanhol Francisco López de Gómara. A dedicatória da


Por essa razão substituiremos neste capítulo a palavra "antropó-
C
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logo" pelo termo "etnógrafo", mais vago. obra ao imperador Carlos V resume a atitude de Gómara. Antes
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A etnografia, no sentido de curiosidade pelos costumes da chegada dos espanhóis, declara, os índios eram idólatras, cani-
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bais e sodomitas. Ele interpreta a conquista do Novo Mundo e a


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exóticos, era sem dúvida florescente na época de Montaigne.


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conversão de seus habitantes ao cristianismo e ao modo de vida


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Essa curiosidade não tinha sido incomum no final da Idade Média,


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espanhol como obra divina. Deve-se lembrar que o autor estava a


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como nos recordam os relatos de Marco Polo acerca da China ou


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67
serviço de Hernán Cortés, o conquistador do México.

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as viagens de "Mandeville", que eram fictícias, mas foram toma-


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das como reais e, ao que parece, amplamente lidas. No século Gómara foi um apologista da conquista espanhola em geral
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XVI, o interesse pelo exótico parece ter se acentuado, como atesta e da de Cortés em particular. Um relato muito diferente dos cos-
9 g.'Z.9
:
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tumes indígenas emerge da História do Novo Mundo (1565), de


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a popularidade da obra Costumes de diferentes nações (1520),


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Girolamo Benzoni. Milanês, e por isso sujeito ao governo espa-


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compilados por Johann Boehm, cônego de Ulm.


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0

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Há duas razões óbvias para essa tendência. A primeira é o nhol, Benzoni, que tinha passado quatorze anos no Novo Mundo,
2. g

renascimento da Antiguidade clássica. Os gregos antigos haviam condena a crueldade dos espanhóis e oferece uma descrição deta-
8

mostrado um grande interesse por outras culturas. Sócrates, como lhada, e feita com simpatia, do modo de vida dos índios.
=

Montaigne nos lembra, considerava o mundo inteiro sua cidade Os brasileiros de Montaigne haviam sido estudados detalha-
D

=
=

damente ao longo de vinte anos, aproximadamente, antes que ele


3'&

natal, e os estóicos tinham ideais cosmopolitas semelhantes.


0

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(3

Heródoto, que foi muito estudado no século XVI, tinha um olhar escrevesse. Um alemão, Hans Staden, foi capturado pelos tupi-
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nambás e aprendeu sua linguagem enquanto esperava ser devora-


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aguçado para detalhes etnográficos; foi ele que registrou o fato


C
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de que no Egito, diferentemente do que ocorria na Grécia, havia do, mas conseguiu escapar e publicou, em 1557, um relato curio-
Q..

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samente imparcial de seus costumes. Montaigne não parece ter


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mulheres que transportavam cargas sobre a cabeça e urinavam


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conhecido o livro de Staden, mas conhecia relatos sobre o Brasil


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de pé. Além dos detalhes acerca dos costumes exóticos, os dás-


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de dois viajantes franceses, André Thevet e Jean de Léry. Thevet


era franciscano; suas Curiosidades da França Antártica ( 1558) mos-
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* Isto é, silvestres. (N. do T.)


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do, naturalmente, pela descoberta da América. Os livros sobre o
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procedermos assim, em deixar de diferenciar o contexto cultural (!)

descobrimento dedicavam muitas vezes capítulos ao modo de vida


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em que a disciplina da antropologia social foi fundada, no final 1-
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do século XIX, do da época de Montaigne. Ele escrevia como dos índios, quer a atitude do autor fosse simpática, hostil ou neu- o

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moralista, e os antropólogos modernos, em geral, não o fazem. tra. Um exemplo bem conhecido é a História geral das Índias (1552),
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. do clérigo espanhol Francisco López de Gómara. A dedicatória da


Por essa razão substituiremos neste capítulo a palavra "antropó-
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logo" pelo termo "etnógrafo", mais vago. obra ao imperador Carlos V resume a atitude de Gómara. Antes
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A etnografia, no sentido de curiosidade pelos costumes da chegada dos espanhóis, declara, os índios eram idólatras, cani-
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bais e sodomitas. Ele interpreta a conquista do Novo Mundo e a


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exóticos, era sem dúvida florescente na época de Montaigne.


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conversão de seus habitantes ao cristianismo e ao modo de vida


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Essa curiosidade não tinha sido incomum no final da Idade Média,


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espanhol como obra divina. Deve-se lembrar que o autor estava a


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como nos recordam os relatos de Marco Polo acerca da China ou


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serviço de Hernán Cortés, o conquistador do México.

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as viagens de "Mandeville", que eram fictícias, mas foram toma-


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das como reais e, ao que parece, amplamente lidas. No século Gómara foi um apologista da conquista espanhola em geral
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XVI, o interesse pelo exótico parece ter se acentuado, como atesta e da de Cortés em particular. Um relato muito diferente dos cos-
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tumes indígenas emerge da História do Novo Mundo (1565), de


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a popularidade da obra Costumes de diferentes nações (1520),


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Girolamo Benzoni. Milanês, e por isso sujeito ao governo espa-


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compilados por Johann Boehm, cônego de Ulm.


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Há duas razões óbvias para essa tendência. A primeira é o nhol, Benzoni, que tinha passado quatorze anos no Novo Mundo,
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renascimento da Antiguidade clássica. Os gregos antigos haviam condena a crueldade dos espanhóis e oferece uma descrição deta-
8

mostrado um grande interesse por outras culturas. Sócrates, como lhada, e feita com simpatia, do modo de vida dos índios.
=

Montaigne nos lembra, considerava o mundo inteiro sua cidade Os brasileiros de Montaigne haviam sido estudados detalha-
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damente ao longo de vinte anos, aproximadamente, antes que ele


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natal, e os estóicos tinham ideais cosmopolitas semelhantes.


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Heródoto, que foi muito estudado no século XVI, tinha um olhar escrevesse. Um alemão, Hans Staden, foi capturado pelos tupi-
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nambás e aprendeu sua linguagem enquanto esperava ser devora-


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aguçado para detalhes etnográficos; foi ele que registrou o fato


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de que no Egito, diferentemente do que ocorria na Grécia, havia do, mas conseguiu escapar e publicou, em 1557, um relato curio-
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samente imparcial de seus costumes. Montaigne não parece ter


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mulheres que transportavam cargas sobre a cabeça e urinavam


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conhecido o livro de Staden, mas conhecia relatos sobre o Brasil


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de pé. Além dos detalhes acerca dos costumes exóticos, os dás-


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de dois viajantes franceses, André Thevet e Jean de Léry. Thevet


era franciscano; suas Curiosidades da França Antártica ( 1558) mos-
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* Isto é, silvestres. (N. do T.)


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(brutalement). De todas as formas, a comparação entre Brasil e devido à negociação de pérolas e pimenta: mesquinhas vitórias!" 2

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como justificativa para escravizá-los. A apologia de Montaigne a ::;;

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melhores que os "malditos ateus de nossa época". Uma observação favor dos canibais é em parte uma crítica à política espanhola. w
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semelhante foi feita pelo protestante francês Jean de Léry em sua Está mais próximo de seus compatriotas Thevet e Léry do que de (!J

Gómara. Como Léry, dá mostras da "síndrome germânica" e uti- .,


História de uma viagem ao Brasil ( 1578). Léry considerou os brasi-
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liza os brasileiros como uma vara para cutucar sua própria socieda- o

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leiros bárbaros que exemplificavam a corrupção da natureza hu- ::;;

mana depois da queda. Ao mesmo tempo, sublinhou o que cha- Q. H de, assim como para cutucar a Espanha. Trata o canibalismo do
3

mou de "sentimento de humanidade", declarando que a vida pa- mesmo ponto de vista que a parábola do cisco no olho alheio.
cífica que os índios tinham, sua harmonia e sua caridade levavam "Não me aborrece que salientemos o hon'Of barbaresco que há em
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os cristãos a se envergonhar numa época em que pessoas inocentes tal ação, mas sim que, julgando com acerto sobre as faltas deles,
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estavam sendo massacradas na França. sejamos tão cegos para as nossas. Penso que há mais barbárie em
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(século I d.C.) havia descrito o valor e a vida viril simples dos Montaigne passa a fazer comentários sobre a crueldade das guerras
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para condenar o massacre do Dia de São Bartolomeu e outras cientista social. Procurava influenciar o comportamento de seus
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atrocidades das guerras religiosas francesas. Poderíamos chamar leitores e usava nações como seus exempla. Recomendava via-
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essa técnica de "síndrome germânica". Ela pode também ser jar como um dos melhores métodos de edúcação - a educação
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moral. "Tantos sentimentos, facções, julgai:nentos, opiniões, leis


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encontrada em Ronsard, que declarava seu desejo de abandonar


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Agora devemos retomar a Montaigne, a quem o poema de


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razão" (chlU]ue usage asa raison) (3.9) . Aqui Montaigne não soa pontâneas, próximas da natureza, e assim, ocasionalmente, belos
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cais devido ao crescente interesse pelo exótico. Mas o que dis- res não deriva da natureza, mas da "usurpação" (3.5.)
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sem eles brasileiros, romanos ou gascões. "Cada qual chama naquele tempo de tentação das bruxas e guerras civis. Conside-
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razão" (chlU]ue usage asa raison) (3.9) . Aqui Montaigne não soa pontâneas, próximas da natureza, e assim, ocasionalmente, belos
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diferente de um sociólogo ou de um antropólogo funcionalista exemplos de paciência, constância e prudência, sem precisar para
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Em tal leitura o importante é aprender a virtude, não as datas.

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mesma natureza que segue seu curso (qui roule son cours). Quem

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(!)
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Um bom mestre "não inculcará tanto em seu discípulo a data da tiver avaliado corretamente seu estado atual poderá concluir
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(1.26). Ao insinuar que a história ensinava a virtude pelo modo Ao mesmo tempo, Montaigne era consciente da mudança, C/l
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de vida de indivíduos exemplares , Montaigne estava sendo cla- quase a extremos de obsessão. Não é de admirar que seu livro o
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ramente um homem de sua época. Seu relativismo cultural era favorito da infância tenha sido Metamorfoses, de Ovídio, posto o
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superado por sua admiração pela Antiguidade clássica. Somente que a mudança é, junto com outras formas de diversidade, um w
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tema central de seus ensaios. Que extraordinária variedade de

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exemplos antigos" (3.6). os substantivos: alteration, agitation, branle ("dança"), corruption,


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A predileção por Alexandre, Catão e Cipião como heróis decadence, declinaison, decrepitude, fluxion, inclination, instabilité,
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também era bastante convencional na época de Montaigne. Mais mouvement, mutation, passage, remuement, revolution (mas não no
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incomum era a inclusão de Homero e Sócrates e dos dirigentes sentido político), variation e vicissitude. Nessa dança de palavras
políticos na mesma classe (ver p. 57). Também era incomum sua pode ser útil tentar escolher alguns dos diferentes movimentos e
P3.

sugestão - por anódina que possa parecer hoje -de que a prin-
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formu lar distinções que estão implícitas em Montaigne, embora


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76 cipal razão para ler livros de história era a de que neles poderia 77
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de tentar estabelecer princípios de jurisprudência universal a par- acerca da história do direito, da linguagem e de outras instituições o
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Por outro lado, a visão de Montaigne era mais ampla que a
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ao problema da mudança, sua Vicissitude, ou variedade das coisas no estudiosos do direito antigo com o sentido do fluir mais univer-
universo (1575), livro que trata tanto das linguagens e das artes sal expressado por filósofos como Sêneca e poetas como Ronsard,
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como das leis e dos impérios, e de outras culturas, incluindo a dos e, um pouco depois, pelo italiano Giambattista Marino, o espa-
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ralmente ocorrem simultaneamente. Pasquier, por sua vez, acre- p. 62) aproxima-se dele quanto a seu sentimento do caráter
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ditava que "as comunidades políticas crescem com as armas e elusivo de um eu sempre cambiante. Ainda que se possam en-
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decaem com as letras", opinião que parece ter sido partilhada contrar paralelos para praticamente todas as idéias sobre a mu-
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por Montaigne. "A mania de escrever parece ser um sintoma de dança que encontramos em Montaigne, a combinação delas -
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depois de estarmos com problemas? Ou os romanos, no período annente sua.


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Em outras palavras, Montaigne era contra o jargão, contra


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regras estritas, contra a grandiloqüência e a afetação, presentes


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w estilista, exatamente como se tomara moda como moralista. A z
MONTA G N E

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nas "fantasiosas hipérboles espanholas e petrarquistas" de al-
a

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D

z
"

=
chamada "marchadura senequiana", a construção relativamente

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<(
" guns poetas de seu tempo, a que ele chamava "sutilezas vãs" ' 1-
C
g) g C

0
<(
,. descuidada e informal de suas frases, atraiu Muret, Lipsius e ou-
z
-'0

1- -'0
o
z nos poemas escritos na forma de asas ou machadinhas, como B
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P
0
B

o ::,
=

::, tros, além de Montaigne. É certo que Sêneca não escrevia como w
haviam feito alguns poetas clássicos tardios e renascentistas -
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Froissart, mas num estilo mais artificial. Entretanto, o importan-


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e como voltariam a fazer os poetas "metafísicos" ingleses e os <(


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D)
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te para Montaigne era o que o estilo de ambos os escritores tinha

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"barrocos" franceses.

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em comum. Não escreviam períodos complexos com muitas ora-

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A poesia que Montaigne apreciava era a de seus contempo-
p-a.

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»

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ções subordinadas, à maneira de Cícero, mas amarravam suas

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01

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râneos Ronsard e Du Bellay, e também a que ele chamava de

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0

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V)

frases sem interrupção com a conjunção "e" em vez de "portan-

(D
a)
F'

"poesia popular" (la poesie populaire), pensando, por exemplo,


g.

to", dando uma impressão de grande informalidade.

. '
9'

nas villanelles de sua Gasconha natal, ou nas canções de povos


C g)
D
g)

Essa falta de formalismo se adequava ao que Montaigne


sem escrita - possuía transcrições de algumas canções de amor
3
D
C 0

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pretendia fazer. Uma vez que lhe importava mais Brutus em sua

P
e de guerra dos índios do Brasil. No que diz respeito ao estilo
S
Q

9
0

casa do que no campo de batalha, convinha a sua prosa trocar a

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P
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0
prosa, foi bastante corajoso em rejeitar Cícero, o modelo de la-

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roupagem uniforme por uma roupagem informal (descousu, um


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tim literário para muitos de seus contemporâneos, como "enfa-
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dos adjetivos empregados por Montaigne para referir-se ao pró-

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donho" (sa façon d'escrire me semble ennuyeuse), e elogiar os cro-

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prio estilo, significando literalmente "descosido"). Rejeitava a


nistas medievais Froissart e Commynes por sua simplicidade, sua
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retórica artificial como rejeitava as cerimônias artificiais. Em certa

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ocasião descreveu seu estilo dizendo que era "cômico e privado"

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Amyot, o tradutor francês de Plutarco, pela simplicidade (na'ifveté)
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(un stile comique et privé). Por "cômico" não significava que pro-
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e pela pureza de sua linguagem. (Não parece que o termo na'ifveté
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curava provocar o riso do leitor; a palavra tinha um significado

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tenha tido as conotações paternalistas que logo adquiriu.)


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técnico. Os dramaturgos clássicos empregavam um estilo "eleva-


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O elogio que Montaigne faz da simplicidade e do escrever
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do" ou artificial para escrever suas tragédias dedicadas à vida


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como se fala não é tão fácil de interpretar como pode parecer.

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pública dos grandes, mas usavam um estilo" "vulgar" ou ordinário


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Ele se opunha às extravagâncias retóricas, mas não se opunha à


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(sermo humilis) em suas comédias que tratavam da vida privada


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retórica. Não rejeitava todos os modelos clássicos junto com


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de pessoas comuns. Montaigne seguia os padrões clássicos do que


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Cícero, e menos ainda rejeitava os modelos literários em seu


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era adequado (decorum) ao escrever em tom de conversação acerca


conjunto. Ao elogiar un parler succulent et nerveux, court et serré,
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D
C
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-1

de "uma vida comum, sem distinção", como dizia que era a sua.
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seguia, na realidade, um modelo literário e repetia a recomenda-


3
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P 0
C

O estilo vulgar, em todo caso, apresentava consideráveis


ção de Erasmo de um "estilo grave, conciso e vigoroso" (dicendi
C
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Z
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vantagens para os propósitos de Montaigne. A construção des-

0 >

C
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cuidada da frase era coerente com seu método de justaposição


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clássico que podia ser seguido. "Minha inclinação", confessava

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de idéias e deliberada suspensão do juízo. No estilo vulgar ha- R'


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Montaigne, "me leva mais à imitação da linguagem de Sêneca"


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via uma palavra para cada coisa, enquanto no estilo elevado


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(2.17). Não se tratava só de inclinação puramente pessoal. Na


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encontrava-se um vocabulário muito mais restrito. Uma das


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segunda metade do século XVI, Sêneca tomou-se moda como


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z críticas que Montaigne dirigia aos historiadores antigos e mo- w

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menos atenção às citações que tinha reunido e cada vez mais a

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D taigne. Por exemplo, no final do século XV, o poeta e humanista

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nham pretensões tão altas.
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italiano Angelo Poliziano havia publicado suas "Miscelâneas". ()


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Outra vantagem do estilo vulgar é que um coloquialismo
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Um nome comum para esse gênero era "discursos", como Discorsi ·W
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bem empregado é um instrumento adequado para uma das ativi- C


de Maquiavel sobre os (ou melhor, em tomo dos) primeiros dez
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dades literárias favoritas de Montaigne, a de rebaixar as preten-
D-- c"

livros da história de Roma, de Tito Lívio, os Discursos políticos e


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sões humanas. Ele derruba o leitor com um golpe. Os homens militares, publicados em 1587 pelo cavalheiro e comandante
P 3
C

podem acreditar que vivem no centro do universo, mas a terra é militar huguenote François de la Noue. Em sua tradução italiana
3

D
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apenas "o andar mais baixo da casa" (demier estage du logis). Os de 1590, os ensaios de Montaigne foram intitulados "Discursos
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H

impérios se desenvolvem e caem "como repolhos" (comme des morais, políticos e militares". O gênero do discurso era o ressur-
ã

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choux). Montaigne está, naturalmente, preparado para voltar sua


0
E

gimento da diatribe grega, que pode ser definida como curta re-
D

arma contra si mesmo. Seus esforços literários são "rascunhos", flexão acerca de um tema moral, escrita de maneira vívida, dire-

: 08'
"enfeixamentos" (fagotage), ou seu "cozido" (fricassée). Mas não

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ta e amena, para que o leitor tenha a impressão de estar ouvindo

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se deve entender o termo "cozido" como referência à falta de o autor. As Moralia de Plutarco, um dos livros favoritos de 87
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interesse de Montaigne pela arte culinária. Montaigne, eram uma coleção de "diatribes" nesse sentido. O -·-
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Isso não sugere que um belo dia Montaigne se sentou, em mesmo ocorria com a Silva ("floresta", outro termo para "misce-
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outros gêneros literários clássicos. Eles têm muito em comum


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comentários foram se fazendo mais extensos de edição para rélio, e também com cartas abertas. Um caso que Montaigne
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edição, de tal modo que suas observações sobre um provérbio conhecia bem era o das Cartas a Lucúio, de Sêneca (que eram,
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latino de três palavras: - Dulce bellum inexpertis ("Doce é a como Bacon notou, "meditações dispersas" ou ensaios), e ele
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guerra para aqueles que não a experimentam") - acabaram estava também familiarizado com algumas coleções de cartas ita-
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por ser o que poderíamos chamar de "ensaio" em louvor da paz. lianas do século XVI. Alguns de seus ensaios foram endereçados
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a pessoas de seu conhecimento como se fossem cartas: Da educa-


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comentários foram se fazendo mais extensos de edição para rélio, e também com cartas abertas. Um caso que Montaigne
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sugerirá - Montaigne tenha sido muitas vezes mal interpretado.


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Se o próprio Montaigne não foi consciente de seu desen-


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de investigação de um dos melhores estudiosos de Montaigne,


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Pierre Villey - embora suas conclusões não sejam aceitas por


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todos os especialistas em Montaigne. Villey estabeleceu as datas


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em que Montaigne leu algumas de suas obras favoritas: César em ros ensaios são bastante curtos e apresentam o gosto de seu autor

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1578, López de Gómara entre 1584 e 1588, Heródoto e Platão <(
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pelas máximas morais. É nesses ensaios que Montaigne se mostra


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z até f588, e assim sucessivamente. Villey também datou a com- P mais tipicamente homem de sua época. UJ
3

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::. posição de 45 ensaios no período de 1572-1574 e de mais 49 no Chega então aquela que Villey chama de a "crise cética" de o
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período de 1575-1580. Para os anos de 1580-1581, temos um

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Montaigne, quando estava próximo de seus 40 anos. A mudança

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registro dos pensamentos de Montaigne no diário que manteve z

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pode ser datada de 1575-1576 porque Montaigne fez cunhar a
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::.
durante sua viagem à Itália e outros lugares. Para o período de

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medalha com a inscrição "Que sais-je?" por essa época, quando

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1581-1588, temos o terceiro livro dos Ensaios e o texto "B" dos estava escrevendo sua apologia de Sebond. Já não é tão claro que o
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livros I e II, e para 1588-1592, os pensamentos posteriores do z
"crise" seja a melhor maneira de descrever a mudança que se
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exemplar de Bordeaux. Nesses esses dados, e em algumas cartas,
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produziu no espírito de Montaigne. É um termo forte, que impli-


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Villey baseou seu célebre estudo acerca da "evolução de Mon- ca uma comoção psicológica e urna ruptura completa com o o
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taigne", publicado em 1908. passado. Pode constituir uma comoção, certamente, passar a
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Em que consistiu essa "evolução"? Villey dividiu a vida in- duvidar do que se considerava fora de dúvida, mas não temos
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telectual de Montaigne em três etapas. O período estóico de sua nenhuma evidência concreta acerca das reações emocionais de

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Montaigne nessa época, e, de qualquer forma, o autor da apolo-

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metade de 1570; e, finalmente, o período de maturidade em que

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homem. Esses três períodos correspondem mais ou menos aos
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argumentação.
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três livros dos Ensaios. Quanto aos ensaios do livro III, são distintos dos demais de
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É sempre um tanto artificial e enganoso dividir alguém em diversos modos, e especialmente diferentes daqueles compostos
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períodos, como se o jovem Marx, para tomar um exemplo muito nos primeiros anos da década de 1570. São muito mais longos;
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debatido, não fosse a mesma pessoa que escreveu O capital, e como em média, corno Villey assinalou, um ensaio do livro III é seis.
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se não estivéssemos - como Montaigne via com tanta clareza - vezes mais extenso do que um do livro 1. Os últimos ensaios

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orientação geral do desenvolvimento de Montaigne. Entre os dados


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cipação com relação às autoridades intelectuais recomendada nos


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a favor do estoicismo de sua juventude figura a carta que escreveu comentários sobre a educação das crianças (1.26). Os.últimos
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em 1563, sobre a morte de seu amigo La Boétie, elogiando-o por ensaios criticam mais os estóicos e são, em geral, muito mais
3
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C
0
8
&

sua tranqüilidade de espírito e pela "coragem invencível" com que


F$.

audazes; por exemplo, Montaigne se opõe cada vez mais e com


e:

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enfrentou os assaltos da morte. O primeiro grupo de ensaios está maior clareza à tortura. Suas opiniões se tornam cada vez menos
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completamente impregnado de valores estóicos. Um exemplo parecidas com as de outros homens de sua geração. Aumenta seu
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evidente é o argumento de que o bem e o mal dependem em gran- domínio sobre a forma do ensaio, ou melhor, ele a desenvolveu
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.-,_, turas, de encantamentos, de feitiçarias [... ] vinha-me compai-
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dos QI.Jtros, a impressão de que Montaigne havia encontrado não

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z só o que queria dizer, mas também como dizê-lo. xão pelo pobre povo logrado por essas loucuras". Agora, não estava UJ

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::;
Afirmar que Montaigne tinha finalmente descoberto a si mais tão seguro (1.27). O ceticismo impede ambas as vias: sus- o

3 PrD
3
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mesmo implica que ele tinha mudado, mas também implica uma pender o juízo está tão distante de não se acreditar nas bruxas o,_
quanto de se acreditar nelas. Em outros termos - modernos - z

9)t
constância fundamental; não tanto "evolução" (termo de Villey

P 0
UJ
::;
um tanto antiquado) quanto "desenvolvimento" em seu sentido , acreditou que tinha ido além do racionalismo.

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original de desdobramento, desenrolamento, em outras palavras, Montaigne criticou em uma ocasião os biógrafos que con- o
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z
de manifestação de algo que tinha realmente estado ali todo o vertiam seus biografados em algo demasiado coerente, "dispon- UJ
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tempo. Deve-se acrescentar que em certas questões Montaigne do e interpretando todas as ações de uma personagem" segundo
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não mudou por completo de atitude. Tinha outrora desdenhado uma idéia ou imagem fixa daquela personagem, violentando o
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Montaigne. Ele não era um pensador sistemático, mas um ho-


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em relação a elas, a atribuir-lhes algumas das virtudes que admi- mem cheio de intuições, algumas das quais não eram coerentes
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rava nos selvagens do Brasil. Chegou a colocar os valores priva- com outras. Suas atitudes no final da vida são mais fáceis de ser
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dos acima dos públicos, a admirar menos Alexandre Magno e entendidas como produtos de um processo de desenvolvimen-
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to em que ele reagia contra algumas de suas primeiras opiniões


g

94 mais Sócrates. Havia começado acreditando, com os estóicos,


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que a filosofia nos ensinava como morrer; acabou pensando que (como nos exemplos citados), quase sempre sem abandoná-las
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ela nos ensinava como viver (3.2). Depois dos 40, Montaigne completamente.
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chegou a aceitar-se como nunca o fez antes. Concluiu que é "uma Seus contemporâneos, entretanto, ou não conseguiram notar
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perfeição absoluta, e virtualmente divina, conhecer como des- o novo Montaigne, ou acharam necessário desculpar as mudan-
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...--..... o
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frutar verdadeiramente de sua própria natureza (sçavoyr jouyr ças que viram. Montaigne foi muito admirado e muito lido em
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loiallement de son estre)" (3.13 ). Havia conseguido aquela sereni- sua época, e os Ensaios alcançaram cinco edições entre 1580 e
dade que anteriormente tinha definido como a marca distintiva 1588. Mas geralmente o Montaigne mais apreciado e imitado foi
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3
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da sabedoria. o primeiro, estóico e sentencioso; o que mais se parecia com seus


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Se é que podemos confiar na informação que o próprio contemporâneos . Seu amigo Florimond de Raemond, escreven-
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3
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Montaigne nos dá de suas primeiras crenças, referindo-se (pro- do em 1594, mencionou "sua filosofia corajosa e quase estóica
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vavelmente) ao período anterior a 1572, nos aparece outra mu- (sa philosophie courageuse et presque sto"ique)". Outro contemporâ-
8

dança importante. "Outrora", assim nos diz, "tinha usado essa neo, Claude Expilly, chamou-o de um "grande pensador estói-
..+

minha liberdade pessoal de escolha e seleção para negligenciar co". Pasquier, outro amigo de Montaigne, viu nos Ensaios uma
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certos pontos de observância de nossa Igreja que parecem ter um "sementeira de máximas belas e memoráveis". Não fez muito caso
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do terceiro livro. Seu veredicto foi que Montaigne era um ho-


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aspecto mais vão ou mais estranho (qui semblent avoir un visage


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tempo. Deve-se acrescentar que em certas questões Montaigne do e interpretando todas as ações de uma personagem" segundo
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rava nos selvagens do Brasil. Chegou a colocar os valores priva- com outras. Suas atitudes no final da vida são mais fáceis de ser
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dos acima dos públicos, a admirar menos Alexandre Magno e entendidas como produtos de um processo de desenvolvimen-
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que a filosofia nos ensinava como morrer; acabou pensando que (como nos exemplos citados), quase sempre sem abandoná-las
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chegou a aceitar-se como nunca o fez antes. Concluiu que é "uma Seus contemporâneos, entretanto, ou não conseguiram notar
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perfeição absoluta, e virtualmente divina, conhecer como des- o novo Montaigne, ou acharam necessário desculpar as mudan-
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frutar verdadeiramente de sua própria natureza (sçavoyr jouyr ças que viram. Montaigne foi muito admirado e muito lido em
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loiallement de son estre)" (3.13 ). Havia conseguido aquela sereni- sua época, e os Ensaios alcançaram cinco edições entre 1580 e
dade que anteriormente tinha definido como a marca distintiva 1588. Mas geralmente o Montaigne mais apreciado e imitado foi
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da sabedoria. o primeiro, estóico e sentencioso; o que mais se parecia com seus


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Se é que podemos confiar na informação que o próprio contemporâneos . Seu amigo Florimond de Raemond, escreven-
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Montaigne nos dá de suas primeiras crenças, referindo-se (pro- do em 1594, mencionou "sua filosofia corajosa e quase estóica
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vavelmente) ao período anterior a 1572, nos aparece outra mu- (sa philosophie courageuse et presque sto"ique)". Outro contemporâ-
8

dança importante. "Outrora", assim nos diz, "tinha usado essa neo, Claude Expilly, chamou-o de um "grande pensador estói-
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minha liberdade pessoal de escolha e seleção para negligenciar co". Pasquier, outro amigo de Montaigne, viu nos Ensaios uma
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certos pontos de observância de nossa Igreja que parecem ter um "sementeira de máximas belas e memoráveis". Não fez muito caso
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Montaigne e se hospedou em seu castelo, foi algo mais que um soal, a quem não importa o mundo dos homens. Talvez fossem
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Nos dois primeiros terços do sécu lo XVll, Montaigne foi


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foi "submeter tudo à razão (esquarrer toutes choses au niveau de


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muito que ver com a mudança de posição da Igreja católica.


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e um espírito muito parecido com o seu - ensaísta, fideísta e


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Nos anos 1580, a principal ameaça para a Igreja provinha dos


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explorador de si mesmo. Outro foi Joseph Glanvill, cuja Vaidade


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protestantes. Montaigne, com toda clareza, não era protes-


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do dogmatismo (1661) se ocupa com um tema muito querido de


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tante; na realidade, seu ceticismo poderia ser usado como uma


Montaigne. arma contra os protestantes, para destruir a confiança destes
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no juízo privado. Perto do final do século XVII, entretanto, o


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cético ou o "libertino" parecia ser a principal ameaça para a


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certo sentido, Descartes era um cético na tradição de Montaigne,


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Igreja e, assim, a própria ortodoxia de Montaigne pareceu mais


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pois começava duvidando de tudo, mas terminava, de um modo questionável. Deve-se acrescentar que a admiração que Naudé
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bem diferente, com sua representação do universo como uma


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e seu círculo sentiram por Montaigne não o beneficiou em


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nada com relação aos devotos. É um problema difícil decidir


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inteligentes da mesma maneira que os homens o são; Descartes


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se os censores do sécu lo XVll, que incluíram Montaigne no


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acreditava que eram como mecanismos de relógio. Montaigne ti- lndex, eram mais perspicazes que seus colegas do século XVI
8

nha ajudado a solapar a visão tradicional de um universo hierár-


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3

ou se simplesmente o associaram com os mal-entendidos acerca


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quico, mas não a substituiu por algo sistemático. Aqueles que


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de sua obra, próprios do século XVII. Seu relativismo cultu-


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aceitavam a nova representação mecânica do mundo considera-


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esquec ido. O Discurso sobre a história universal de Bossuet


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Os devotos também se voltaram contra ele. Montaigne


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(1681) é simplesmente uma história da civilização oc idental


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havia sido atacado como "ateu" em sua própria época, mas


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nunca tivessem existido. Talvez essa amnésia coletiva fosse


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pregou contra ele. Blaise Pascal (1623-62) criticou Montaigne


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cartesiano e teólogo católico, se opôs a Montaigne sobre ambos
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a terminar uma discussão em lugar de promovê-la. A tradução
3

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os pontos de vista. Os Ensaios foram colocados no Index de o

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um tanto livre de Montaigne feita por Floria remonta a 1603. É z


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heresias, os haviam incluído no seu em 1640). Tem-se dito, w


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de maneira plausível, que a reação contra Montaigne teve


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canibais. Sir Thomas Browne foi outro admirador de Montaigne


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muito que ver com a mudança de posição da Igreja católica.


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e um espírito muito parecido com o seu - ensaísta, fideísta e


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Nos anos 1580, a principal ameaça para a Igreja provinha dos


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explorador de si mesmo. Outro foi Joseph Glanvill, cuja Vaidade


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protestantes. Montaigne, com toda clareza, não era protes-


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do dogmatismo (1661) se ocupa com um tema muito querido de


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tante; na realidade, seu ceticismo poderia ser usado como uma


Montaigne. arma contra os protestantes, para destruir a confiança destes
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Entretanto, no final do século XVII, houve uma reação con- 99


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no juízo privado. Perto do final do século XVII, entretanto, o


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tra Montaigne. Descartes teve alguma coisa que ver com ela. Em
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cético ou o "libertino" parecia ser a principal ameaça para a


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Igreja e, assim, a própria ortodoxia de Montaigne pareceu mais


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pois começava duvidando de tudo, mas terminava, de um modo questionável. Deve-se acrescentar que a admiração que Naudé
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bem diferente, com sua representação do universo como uma


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e seu círculo sentiram por Montaigne não o beneficiou em


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nada com relação aos devotos. É um problema difícil decidir


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inteligentes da mesma maneira que os homens o são; Descartes


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se os censores do sécu lo XVll, que incluíram Montaigne no


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acreditava que eram como mecanismos de relógio. Montaigne ti- lndex, eram mais perspicazes que seus colegas do século XVI
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nha ajudado a solapar a visão tradicional de um universo hierár-


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3

ou se simplesmente o associaram com os mal-entendidos acerca


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de sua obra, próprios do século XVII. Seu relativismo cultu-


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aceitavam a nova representação mecânica do mundo considera-


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ral, que tanto havia atraído Cirano de Bergerac, estava agora


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ram inevitavelmente que Montaigne estava fora de moda.


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esquec ido. O Discurso sobre a história universal de Bossuet


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Os devotos também se voltaram contra ele. Montaigne


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(1681) é simplesmente uma história da civilização oc idental


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havia sido atacado como "ateu" em sua própria época, mas


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(clássico-judeu-cristã), escrita como se a China e Montaigne


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nunca tivessem existido. Talvez essa amnésia coletiva fosse


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pregou contra ele. Blaise Pascal (1623-62) criticou Montaigne


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Havia também razões estéticas para a queda da reputação um pensador muito mais sistemático. Diderot o comparou ao "'o

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filósofo do século XVIII Helvetius. Em suma, Montaigne foi


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foi publicada entre 1669 e 1724, embora uma nova tradução coragem de diz.er como autor o que sentia como homem".
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em fatos empíricos (em outras palavras, o positivismo de Auguste


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acima de tudo, um precursor de Locke, especialmente quanto a ladores são Erasmo e Montaigne, não Móisés e São Paulo" - o
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pre poderia ser modernizada, e assim se fez em algumas edições. Para R. A. Sayce, um dos mais agudos e recentes estudiosos de
E, assim como a prosa, as idéias também foram atualizadas. Os Montaigne, ele é "o primeiro dos grandes escritores burgueses
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leitores do Ensaio sobre os milagres de David Hume (1748) in- modernos", que chega "muito perto de Proust" em sua análise
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Harmondsworth, 1971; Sêneca, Lettres from a Stoic, trad. R. Modem France, London, 1975; Q. Skinner, Foundations ofModem
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Campbell, Harmondsworth, 1969. PoUtical Thought, Cambridge, 1979, esp. v. 2; R. N. Carew Hunt,
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Montaigne and the State, Edinburgh Rewiew, 1927; E. Williamson,


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really a Pyrrhonian?, Bibliotheque d'Humanisme et Renaissance,


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remarks on impotence, Modern Language Notes, 1976; D.


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V. 39, 1977.
Coleman, Montaigne's "surdes vers de Virgile", in R. R. Bolgar
(Ed.), Classical lnfluences on European Culture, 1500-1700,
Cambridge, 1976.
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clássicos de Montaigne, Plutarco, Moral Essays, trad. R. Warner, de Mediei, London, 1943; N. Z. Davis, Society and Culture in Early

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Harmondsworth, 1971; Sêneca, Lettres from a Stoic, trad. R. Modem France, London, 1975; Q. Skinner, Foundations ofModem
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Campbell, Harmondsworth, 1969. PoUtical Thought, Cambridge, 1979, esp. v. 2; R. N. Carew Hunt,
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Montaigne and the State, Edinburgh Rewiew, 1927; E. Williamson,


On the liberalizing of Montaigne, French Review 1949; F. S.
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Harmondswo rth, 1958, parte 3; R. H . Popkin, The History of


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Sobre a história do auto-retrato, G. Misch, Geschichte der


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Scepticism, cap. 3, C. B. Brush, Montaigne and Bayle, The


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remarks on impotence, Modern Language Notes, 1976; D.


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V. 39, 1977.
Coleman, Montaigne's "surdes vers de Virgile", in R. R. Bolgar
(Ed.), Classical lnfluences on European Culture, 1500-1700,
Cambridge, 1976.
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Carlos, o Temerário, 75, 76 Erasmo, 22, 25, 29, 30, 31, 84, 86,
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Carão, o jovem, 18, 75 88, 101, 112
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Catarina de Médici, 4 7 estoicismo, 58, 92


Catulo, 21

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Etienne de La Boétie, 11, 13
Charles Cotton, 100 Etienne Pasquier, 10, 52, 80
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Francesco G uicciardini, 75 Raymond Sebond, 23, 33, 34, 35, 71, w


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Francis Bacon, 96, 98 Itália, 7, 14, 17, 48, 69, 70, 75, 76, 92 ~
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Franço is de La Noue, 11 , 87 na'ifveté, 84


Jean Bodin, 11 , 40, 48, 49, 80

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François La Mothe Le Vayer, 97 negotium, 14, 56 Salústio, 79

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Jean de Léry, 67, 68
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Franço is La Rochefoucauld, 61 N icholas Cholieres, 96 Santo Agostinho, 35, 61


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Jean-Pierre Camus, 96

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François Rabe lais, 63 N icolas Malebranche, 99 Santo Inácio, 37
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Friedrich Nietzsche, 10 1 N icolau Copé rnico, 21

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Joachim du Bell ay, 13 Nicolau de C usa, 29 São Francisco, 59
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N icolau Maquiavel, 50, 51, 87 São Pau lo, 29, 35, 36, 101
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Johann Boehm, 66 Sêneca, 18, 20, 22,25, 79,81,84,


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Ga briel Naudé, 97 John Fl orio, 105 85 , 86,87,97
Gaspa r Loligny, 4 7 John Locke, 100 SÊNECA, 106

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George Bucbanan, 19, 49 Joseph G lanvill , 98 O rtensio Landi, 88

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G iambattista Gelli, 88 Juliano Apóstata, 41, 50 otium, 14, 56


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Sex to Empírico, 27, 37, 42, 45, 73, 97

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G uez de Balzac, 100 Pedro Mex ia, 87
Petrus Ramus, 30 suicídio, 40, 88
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Guilherme de Ockbam, 17, 28, 35


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G uy de Brues, 30, 3 1 Pico della Mirandola, 22, 29, 35 T. H . Huxley, 34

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e impresso em papel Offset 75glm

Edições Lorolo
Editoração, Impressão e Acabamento
Rua 1822, n. 347 • lpiranga
04216-000 SÃO PAULO, SP
Tel.: (011) 6914-1922
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