Race (Human Categorization)">
Casa-Grande Senzala
Casa-Grande Senzala
Casa-Grande Senzala
Por que é possível falar que o povo brasileiro é singular? Apesar das matrizes heterogêneas, a
formação do povo brasileiro foi feita não pela justaposição dessas matrizes, mas por sua
comunhão, o que resultou em um povo diferente.
Cada uma das matrizes raciais e culturais deixou em nossos corpos uma parcela de cultura e
identidade. Somos miscigenados de origem, pois a miscigenação foi utilizada como forma de
dominação das terras brasileiras pelos portugueses. A organização administrativa do Brasil
colonial era feita por meio das capitanias hereditárias e os filhos dos seus donatários tornaram-
se herdeiros dessa terra. Assim, os filhos da “mistura gostosa”, como diz Gilberto Freyre
em Casa-Grande e Senzala, foram sendo espalhados por esse país, levando em seus corpos as
marcas da miscigenação.
Também foram legadas à nossa culinária e ao nosso idioma as heranças culturais dessas
matrizes, tais como as palavras indígenas adotadas, os alimentos utilizados pelos índios e
portugueses, o idioma do colonizador que foi sendo incorporado, apropriado e ressignificado
nestas terras.
Toda essa conjunção, racial e cultural, constitui entre nós um mito de que não há diferenças
advindas das questões raciais e culturais. A esse mito denomina-se democracia racial.
Ele é chamado de mito, pois efetivamente há um preconceito racial velado, mas fortemente
presente em nossa sociedade, o que desconstrói a ideia da prevalência de uma democracia
racial entre nós.
Esse mito é confrontado com o etnocentrismo, que procura evidenciar a sobreposição de uma
raça ou cultura sobre as outras, considerando-a superior. Isso acontece bastante quando vemos
o menosprezo, por meio de práticas discriminatórias, a pessoas negras ou a elementos da
cultura africana, como a intolerância às religiões afro-brasileiras.
Dessa forma, deve-se discutir a existência desse mito e sua desconstrução, evidenciando os
fatores que acarretam em preconceito e discriminação.
Também se deve considerar que há um preconceito de classe no Brasil e que, muitas vezes,
esse preconceito foi utilizado para marcar a existência da democracia racial. Diversos
intelectuais afirmaram que o preconceito no Brasil é de classe e não de cor, o que eliminaria a
influência do fator racial na produção da desigualdade. Contudo, inúmeros estudos,
principalmente aqueles desenvolvidos pela UNESCO na década de 1950, mostram que: há a
existência dos dois tipos de preconceito e que eles, muitas vezes, aparecem juntos, pois boa
parte dos pobres no Brasil é negra.