Psychology">
Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Artigo MC

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

DIÁLOGOS PSICANALÍTICOS- DR-2023

MELANIE KLEIN NA PSICANÁLISE CONTEMPORÂNEA

Lidia Queiroz Silva Magnino

“Sinto que fiz algo que talvez no futuro se prove como tendo sido uma
grande contribuição a compreensão da mente humana” (Klein, 1959)

No prólogo do livro Por que Klein (2018), Elias Rocha Barros, nos informa
sobre um levantamento patrocinado pela IPA, feito pelos editores/coordenadores do
Dicionário Enciclopédico Internacional de psicanálise, com cerca de 400 autores de três
continentes, sobre quais eram os cinco conceitos mais importantes da clínica, o de
identificação projetiva de Melanie Klein está entre eles. Indago a vocês, Melanie Klein
é atual? Respondo que sim, seu pensamento está vivo e presente na clínica
contemporânea.

Klein, uma psicanalista criativa, com uma capacidade intuitiva, observacional,


apresenta ideias desafiadoras sobre a mente psicanalítica, nos ajuda a compreender o
caráter autônomo e demoníaco das fantasias inconscientes nos possuindo e buscando
expressão, os mecanismos internos que regem o mundo interno, deixa um legado de um
rico modelo de funcionamento psíquico. Suas sementes férteis, propicia novos “brotos”
no pensamento contemporâneo, gerando avanços teóricos-clínicos. Motivada pelo
desejo de compreender os mecanismos que impedem o desenvolvimento das
capacidades emocional e simbólica deu ênfase ao brincar, as relações de objeto, ao
domínio do inconsciente subjacente à camada edipiana, ao modo ativo de pensar das
fantasias inconscientes organizadoras da experiência emocional. Seu material clínico
fala, mostra o micro processo da sessão, é empática, próxima da experiência do
sofrimento do paciente, a angústia é fio condutor na sua escuta analítica. Atenta aos
detalhes, como são construídos pelo inconsciente do paciente, a observação é
exemplificada semelhante ao método de observação de bebês, as narrativas da
transferência e contratransferência são encenadas como um teatro vivo no setting
analítico. Transferência como situação total, tudo se refere inclusive a mente do analista.
Observa que os indivíduos sofrem não só por carência, traumas, como também por falta
de experiências emocionais que propiciem crescimento.

Ogden (1996) destaca três aspectos do pensamento Kleiniano que contribuem


para a compreensão do sujeito dialeticamente constituído e descentrado: a teoria das
posições, a clivagem do ego e do objeto, a identificação projetiva. A dialética da
clivagem e a integração do sujeito estabelece que a psique está num processo contínuo
de clivagem do ego e do objeto, e deve ser pensada em facetas intra e interpessoais, o
sujeito existe numa multiplicidade de lugares dispersos e unidos no espaço psíquico. A
personalidade constituída por diferentes níveis concomitantes, ideias essas aprofundadas
por Bion, Rosenfeld, Meltzer, Steiner, Britton, Ferro. Por ansiedade o ego cinde, bem
como os objetos e as funções mentais, podendo provocar instâncias que não se
comunicam, prejudicando a capacidade simbólica. Diferencia vazio emocional e tela em
branco, espaço preenchido por forças negativas antivida, fenômenos esses
desenvolvidos por Green, Rosenfeld e Bion.

Nessa direção, destaco o conceito de Identificação projetiva, formulado por


Klein em 1946, no seu artigo “Notas sobre mecanismos esquizoides” quando apresenta
a posição esquizoparanóide, ela diz: “expelir excrementos dolorosos para fora do self e
para dentro da mãe. Essas parte más do self tem a intenção de ferir, controlar, possuir o
objeto. A mãe ao conter não é sentida como indivíduo separado e sim como sendo má”.
Este conceito dá um estatuto mais preciso ao de identificação, detalha uma identificação
própria no estágio esquizoides com alternância de movimentos projetivos (expulsar
substâncias perigosas e colocar dentro da mãe) e introjetivos (sugar, esvaziar, morder).
A partir de 1946 ela acrescenta os termos de reintrojeção e reprojeção, esclarecendo que
um mesmo objeto pode ser introjetado e reprojetado. Segundo Petot (1992), Klein
redefine a clivagem (estratégia de negar a existência do mau objeto, partes do ego são
destruídas, cliva o objeto e a si mesmo), lei de talião, a noção de identificação projetiva
torna um diferencial no pensamento kleiniano. Ela reconhece que não só as partes más,
bem como as partes “boas “do self também são projetadas, há uma identificação com
elas, dando lugar a empatia e a relação de amor, essenciais para desenvolver e integrar o
ego. O bom objeto é o núcleo. Há uma interação recíproca entre projeção, introjeção e
identificação. O bebê introjeta o bom objeto na medida que projeta seus excrementos e
seu amor. Se o processo projetivo for excessivo, há um empobrecimento do ego, o que é
perdido não é o objeto e sim uma parte do self.
Klein (1955) analisa a identificação projetiva no romance do francês Julian
Green If I were you (Se eu fosse você). A história, se passa em três dias, durante o coma
de Fabien, tem como núcleo, o poder mágico dado a Fabien, por um pacto com o diabo,
que o seduz com falsas promessas de felicidade. O diabo lhe ensina uma fórmula secreta
de transformar-se em outras pessoas, a palavra mágica para a transformação é “Fabien”.
Fabien Especel, é um jovem que se sente condenado, é infeliz e insatisfeito consigo,
com sua aparência, êxito com as mulheres, com sua pobreza e trabalho inferior. Sua mãe
é exigente com crenças religiosas e moralista. Seu pai tem uma vida dissoluta com
mulheres, perde dinheiro no jogo, morre de colapso cardíaco quando ainda estava na
escola. Ressentido com ele, por privá-lo de melhor educação, Fabien sente ódio e deseja
riqueza. O primeiro personagem que ele escolhe é seu patrão Poujars, é rico e acha que
leva uma vida plena. Depois desiste por não gostar da sua aparência e lembranças
desagradáveis, falta força de vontade e iniciativa. Escolhe então ser Esménard, por ser
jovem, saudável e forte, no entanto o deixa por possuir um cérebro lento. O terceiro
personagem escolhido, é Emmanuel Fruges, que gosta muito de ler, no entanto, Fabian
descobre que Fruges é atraído por postais obscenos e isso o enoja. Decide se livrar.
Escolhe o quarto personagem: Camille, jovem de 20 anos, bonito, forte e saudável.
Fabien-Camille descobre que Camille é infeliz e inútil. Elise é prima da esposa de
Camille, ela o ama, mas não é correspondida. Fabien-Camille sente um carinho por
Elise, descobre que o que ama são os seus olhos, que expressam a ânsia que nunca pode
ser satisfeita e de imediato descobre que aquele são os olhos de Fabien. Quando faz essa
descoberta, pronuncia em voz alta seu nome, começa a personificar Fabien.

Segundo Klein (1955), os aspectos subjacentes à identificação projetiva são


descritos concretamente pelo autor, a angústia associada a experiência de habitar o
outro, não perdendo o próprio self. Uma parte de Fabien abandona seu self, entra em
suas vítimas, acompanhado por fortes sensações físicas. A parte clivada de Fabien
submerge em graus variados dentro de seus objetos. Clivado de seu self, absorvido pela
personalidade de suas vítimas, perde as lembranças e suas características originais.
Quando a cisão ocorre, as lembranças de Fabien e outros aspectos de sua personalidade
são descartados e retirados de uma boa parte de seu ego. A identificação projetiva
ameaça a sua identidade pessoal. Sua parte invejosa e clivada, é projetada no objeto.
Teme a represália (lei do talião). O autor descreve os esforços de Fabien, para
reencontrar o seu Ser inicial. Sente nostalgia que o reconduz de volta para si.
Anette Blaya (2014) em seu artigo A violência da identificação projetiva, discute
sobre o seu efeito no desenvolvimento emocional da criança. Ela reflete sobre um
trauma muitas vezes invisível, de cuidadores aparentemente carinhosos, que usam por
identificação projetiva a mente da criança para depositar suas angústias. Ressalta a
violência emocional que as crianças sofrem dos cuidadores, que projetam intensamente
nelas aspectos que não gostam em si ou no cônjuge ou papéis que eles precisam que a
criança desempenhe para não defrontar com seus aspectos doentios ou com a dor da sua
existência. Estudiosa de Ferenczi, analista de Klein, Anette retoma o artigo dele de
1932, Confusão de línguas entre adultos e criança, quando destaca os dois tempos do
trauma. O primeiro quando a linguagem da paixão usada pelo adulto que a criança
confia, violenta a linguagem da ternura, da confiança e do amor e o segundo quando a
criança busca um outro adulto para relatar o maltrato ocorrido na esperança de que
entenda o que ela viveu, o adulto não suporta, desmente e confunde a criança. Ela sente
que não tem a quem confiar, inclusive nela mesma, pois sua percepção é atacada. A
culpa inconsciente transmitida por identificação projetiva pelo adulto é que traumatiza,
que deforma a criança.

Klein acredita que esta confusão de identidade e do ego pode se processar desde
o início da vida, diferente das questões edipianas. Rosenfeld (1947), Segal (1950) usam
a dinâmica da identificação projetiva para trabalhar o funcionamento do ego na
esquizofrenia. Money-kyrle (1956) descreve esta dinâmica em um paciente normal, que
não conseguia trabalhar em seu escritório, sente-se vago, inútil. Sonhou que tinha
esquecido o “radar” numa loja e que seria impossível buscar. O analista pensou que o
paciente tinha deixado em fantasia partes de seu self, se sentiu incerto, o paciente
começou a rejeitar suas interpretações com raiva e desprezo. Atualmente a dimensão
intrapsíquica da identificação projetiva se transformou na dimensão interpessoal, é vista
como um tipo normal de transação entre subjetividades, como processo no campo bi
pessoal, grupal, social.

Para Ogden (1996), Klein sugere a dimensão intersubjetiva do processo de


identificação projetiva. Segundo ele, este conceito é componente interpessoal da
dialética integração -desintegração, fornece uma teoria da criação do sujeito no espaço
psíquico entre mãe-bebê. Não é projetar, e sim, por “para dentro” do objeto. A
identificação projetiva é um acontecimento psicológico interpessoal onde o projetor
exerce pressão sobre o outro para que vivencie e se comporte congruente com a fantasia
projetada onipotentemente. Envolve escolhas e intensas negociações entre sujeito-objeto
no plano intra e interpsíquico. Leva o sujeito a sentir sentimentos, ao mesmo tempo
afirma e nega, induz papéis, modifica a identidade e percepção das pessoas. A projeção
é dentro da mente e não sobre, é um convite a ação. Este aspecto se amplia no conceito
de enactement.

Bion (1962) amplia as funções da identificação projetiva, ela é comunicação.


Destaca a contribuição do componente interpessoal e a articulação do espaço
interpessoal em que a capacidade de pensar e sonhar são criadas. Ressalta que o analista
com sua intuição, junto ao analisando constroem juntos trilhas, caminhos associativos.
Descreve o conceito de reverie, a mãe- analista com função continente para as projeções
de pensamentos impensados e sentimentos não sentidos do bebê-analisando. O analista-
mãe semelhante a um parteiro, se apresenta com sua capacidade de sonhar o sonho do
paciente-bebê, Na dialética continente-contido, a identificação projetiva se torna uma
dialética da interpenetração, at-one-ment e ao mesmo tempo separados. A mãe- analista
permite ser habitada pelo bebê e ao mesmo tempo o está criando, é uma experiência
intersubjetiva. Se ela não permite ser habitada, ser criada pelo bebê, não dá forma
psicológica a ele, há uma destruição do vínculo. Se o bebê está com fome, experimenta
a tensão fisiológica que ainda não é um acontecimento. Se a mãe o atende a fome é
criada bem como o bebê. O processo analítico é semelhante. O paciente é criado pelo
processo intersubjetivo da identificação projetiva, se apropria da intersubjetividade do
par analítico e transforma em um diálogo interno. O sujeito é concebido emergindo de
uma dialética do self e do outro.

Ogden (1996) discute a natureza da inter-relação entre subjetividade e


intersubjetividade da identificação projetiva. A compreende como um processo de uma
série de formas de “terceiridade” intersubjetiva, produzidas na dialética subjetividade e
intersubjetividade, há um colapso parcial do movimento dialético criando o terceiro
analítico subjugador. Diz que a qualidade interpessoal da identificação projetiva como
evento interpessoal, envolve a transformação da subjetividade do “recipiente” que pode
subverter o eu-dade do outro. “Você é eu, que preciso fazer uso do que não posso
vivenciar sozinho”. O projetor nega a si próprio como eu separado, ao mesmo tempo é
eu e não eu. Nega o outro como sujeito, cria um terceiro sujeito, que é e não é o projetor
e recipiente. O projetor e recipiente de uma identificação projetiva são aliados
involuntários, inconsciente, cada um se reinscreve nas suas relações de objetos internas
que podem oferecer mudanças psíquicas. A identificação projetiva não é só um jogo de
projeção e identificação. Há uma subjugação mútua que cria uma terceira subjetividade
que pode tornar-se veículo para os pensamentos serem pensados, sentidos. Para ter
crescimento psíquico deve haver uma suplantação do terceiro subjugador e estabelecer
uma dialética nova, criar um terceiro self, uma nova forma de experiência que é outra
para si próprio. O analista é veículo para que o analisando crie a si mesmo como sujeito,
que seja autor na fantasia inconsciente de um outro. É fundamental que o analista
reconheça a individualidade do analisando e de si mesmo. É por meio do
reconhecimento por um outro que é reconhecido como uma pessoa separada e que nos
tornamos mais humanos. Se houver falha de reconhecimento a unidade se dissolve. A
vitalização, expansão do sujeito não é exclusiva do projetor e do recipiente, a relação
não é unilateral, a pessoa é negada e recriada ao mesmo tempo. A aliança intersubjetiva
inconsciente presente na identificação projetiva pode ter qualidades assustadoras,
contudo o grau de patologia não deve ser medido pelo nível da subjugação e sim pela
incapacidade dos participantes de se libertarem mutuamente da subjugação do terceiro
por meio do reconhecimento mediado pela interpretação.

Próximo do conceito de identificação projetiva está a teoria dos vínculos criada


por Bion. Os vínculos são elos de ligação, são de natureza emocional, são imanentes,
polissêmicos, com dimensões inter, intra e transpessoal. Bion se volta às primeiras
observações de Klein sobre o instinto epistemofílico, como ela investiga a curiosidade
inata da criança e sua inibição na aprendizagem, como fez no atendimento clínico de
Fritz quando interpreta as fantasias da criança com as letras “i” e o “e”. Bion desloca o
conflito para dentro de cada emoção, no vínculo do amor (Love) +L, - L, no vínculo do
ódio (Hate) +H, -H e no vínculo do conhecimento (Knowledge) +K, -K.

Kristeva (2002) diz que Klein ampliou o conhecimento da loucura, ao mesmo


tempo ela é motor e impasse. Ressalta a importância do conhecimento de nosso Ser, que
quando este vive um mal-estar (psicose, autismo, inibições severas, depressão, mania,
fragmentação do eu) indica destruição do espaço psíquico, como diz Arendt, assassinato
da vida do espírito. Ela cria e amplia o espaço psíquico para a destrutividade e violência
serem vividas no plano simbólico. Saúde mental é ser reflexivo, ser responsável pelas
relações interpessoais, manter relações emocionais internas.

Klein (1960) escreve um artigo sobre saúde mental. Descreve que ela tem uma
natureza multifacetada, se baseia num Inter jogo entre amor, ódio, onde a capacidade de
amor é predominante. Suas raízes estão na boa relação do bebê com a mãe, no
desenvolvimento emocional saudável e estável. Diz que a base da saúde mental é uma
personalidade integrada, que apresenta maturidade emocional, força de caráter,
capacidade de lidar com emoções conflitantes, equilíbrio entre vida interna e externa. A
maturidade emocional significa elaborar os sentimentos de perda, de luto e aceitar
substitutos. Se o ressentimento se mantem, perturba as relações pessoais e sociais. A
força do caráter se baseia em processos de internalizar uma mãe boa, que guia e protege,
bem como os pais bons. Na identificação com eles subjaz a lealdade para com as
pessoas. Indivíduos aparentemente equilibrados, não significa que tem força de caráter.
Eles procuram facilitar a vida, evitando conflitos, negando, buscando o que é
conveniente. Muita negação e baixa tolerância a dor, impede insight sobre a vida
interior, traz insegurança, falta de confiança em si mesmo. Perde a capacidade de dar e
receber, de ser grato e generoso, de compreender a complexidade da vida. A saúde
mental não é compatível com superficialidade, que se liga a negação do conflito interno
e dificuldades externas. Ter equilíbrio não significa evitar conflito e sim ter um certo
insight sobre a variedade dos impulsos e sentimentos contraditórios e fazer face a eles.
Supõe força para atravessar emoções penosas e lidar com elas. Cisões excessivas leva a
inibições de talento, de simbolização. A pessoa que suporta viver a tristeza
profundamente é capaz de estabelecer empatia com o sofrimento do outro, de confiar
em si, de tolerar frustração e com amor mitigar o ódio e agressividade, sem medo de
retaliação e perseguição. Há uma correlação entre saúde mental e modificação de
atitudes idealizadas, indicando menos rigidez de defesas. Quando o insight não é
sufocado, a saúde mental se torna possível. Há integração de diferentes partes do self.
Não há integração completa. A saúde mental deve ser constantemente reconquistada,
acompanhada do sentimento de solidão.

Klein (1963) escreve o artigo Sentimento de solidão, referindo que não é estar
privado da companhia do outro e sim estar só, independente das circunstâncias
exteriores. É um estado interno, com um sentido de integração (introjeção do objeto
bom) de mitigar o ódio através do amor. Na vida há um conflito entre buscar integração
e ao mesmo tempo temê-la. O sofrimento acompanha os processos de integração e
contribui para a solidão. O sentimento de realidade diminui a onipotência e aumenta a
esperança. Não há integração plena e cada um experimenta a solidão de uma forma.
Trata-se de restaurar a capacidade de estar só, entrar em contato consigo e com o outro
sem “virar uma coisa só”. Um estado mental semelhante ao encontro analítico, de
entregar-se ao livre fluxo de associações sem memória, sem desejo, nos dizeres de Bion,
um estar bem acompanhado. A sensação é de uma intimidade prazerosa. Winnicott
(1958) também escreve em seu artigo “A capacidade de estar só”, um estado semelhante
ao do brincar. Um ambiente humano pacífico e pais que puderam autorizar-se um ao
outro, favorecem a interiorização de figuras femininas e masculinas que se mantem em
contato e diferenciação.

Encerro com o poema “Casamento” de Adélia Prado (1971)

Há mulheres que dizem:

Meu marido, se quiser pescar, pesque

mas limpe os peixes.

Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,

Ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

De vez em quando os cotovelos se esbarram,

Ele fala coisas como “este foi difícil”

“prateou no ar dando rabanadas”

E faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

Atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,

Vamos dormir.

Coisas prateadas espocam: Somos noivo e noiva

Referências
Bion, Wilfred. (1962) Uma teoria do pensar In Melanie Klein Hoje, vol 1. Rio de
Janeiro: imago, 1991.

___________Aprender da experiência. Tradução de Esther Sandler e. revisão de Paulo


Sandler. São Paulo: Blucher, 2021

Blaya, Anette. A violência da identificação projetiva. Revista de Psicanálise da SPPA,


v.21, n2, agosto de 2014

Cintra E., Ribeiro, M. (2018) Por que Klein? Editora Zagodoni.

Klein, M. (1923) A análise de crianças pequenas. In: Amor, Culpa e Reparação e


Outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p.100-128

_________(1929). Personificação no brincar das crianças. In: Amor, Culpa e


Reparação e Outros trabalhos (1921-1945), Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 228-
239

_________(1930) A importância da formação de símbolos no desenvolvimento do ego.


In: Amor, Culpa e Reparação e Outros trabalhos (1921-1945). Rio de janeiro:
Imago, 1996, p. 249-264

_________(1935) Uma contribuição parra a psicogênese dos estados maníacos


depressivos. In: Amor, Culpa e Reparação e Outros trabalhos (1921-1945). Rio de
Janeiro: Imago, 1996, p.301-329

_________(1940) O luto e suas relações com os estados maníacos depressivos. In:


Amor, Culpa e Reparação e Outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p.
385-412

________(1946) Notas sobre alguns mecanismos esquizoides. In: Inveja e Gratidão


(1946-1963). Rio de Janeiro: Imago, 1996, p.17 -43

________(1948) Sobre a teoria da ansiedade e da culpa. In: Inveja e Gratidão (1946-


1963). Rio de Janeiro: Imago, p. 44-63.

________(1955) Sobre a identificação. In: Inveja e Gratidão (1946-1963). Rio de


Janeiro: Imago, p.149-168.

________(1957) Inveja e gratidão. In: Inveja e Gratidão (1946-1963). Rio de Janeiro:


Imago. p. 205-267

________(1960) Sobre Saúde mental. In: Inveja e Gratidão (1946-1963). Rio de


Janeiro: Imago, p. 305-312

________(1963) Sobre o sentimento de solidão. In: Inveja e Gratidão (1946-1963). Rio


de Janeiro: Imago, p. 340-354

Kriteva, Julia. O gênio feminino; a vida, a loucura e as palavras. Tomo II Melanie Klein.
Rio de Janeiro: Rocco, 2002
Ogden, Thomas. Os sujeitos da psicanálise. São Paulo: Casa do psicólogo, 1996.

Petot, Jean-Michel. Melanie Klein II. São Paulo: editora perspectiva, 1992.

Prado. Adélia. Prado – Poesia Reunida. São Paulo: Ed. Siciliano, 1991, pág. 252.

Winnicott, Donald. (19580 a capacidade de estar só. In O ambiente e os processos de


maturação. Porto Alegre: Artemed, 1983

Você também pode gostar