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Lelia Gonzalez Uma Interprete Negra Do B

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Lélia Gonzalez, uma Intérprete

(Negra) do Brasil

Raquel Barreto(1)

A obra da antropóloga Lélia A. González tem, merecida-


mente, sido cada vez mais reconhecida por sua contribuição
teórica pioneira para a elaboração de um pensamento feminista
negro brasileiro, comprometido com a transformação social. De
forma original, a autora já preconizava, na década de 1970, as
articulações entre as categorias de raça, gênero e classe como
matrizes de dominação. Com efeito, adiantava os pressupostos
do que posteriormente seria nomeado pela jurista afro-ameri-
cana Kimbérly Crewshaw como a teoria da intersecionalidade
(CRENSHAW, 1989). Inegavelmente estes debates ocuparam um
lugar fundamental na produção da autora, contudo, suas propo-
sições contemplaram outras temáticas que ficaram ofuscadas ou
até mesmo esquecidas. A própria fortuna crítica acerca da autora
concentrou-se apenas nas discussões de gênero e raça. Fato que
tem ocasionado uma abordagem e, até mesmo, uma leitura parcial
de seu pensamento.(2)Ao contemplar o conjunto da produção

(1) Raquel Barreto é historiadora. Atualmente, cursa o doutorado em


história no PPGH/UFF, onde realiza pesquisa sobre O Partido dos Panteras
Negras e as relações entre visualidade, política e poder (1966-1974).
(2) Minha própria trajetória de pesquisa com autora iniciou-se justamente
pelo debate a respeito das relações de raça e gênero. Em 2005, defendi a primeira
dissertação de mestrado sobre a autora, nomeada “Enegrecendo o Feminismo

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textual de Gonzalez é possível observar uma proposta de análi-


se para nossa formação sociocultural. Neste sentido, é possível
afirmar que a autora deva ser considera como uma intérprete
do Brasil, que elegeu a cultura como um lócus de observação e
disputa para compreender o país (BARRETO, 2018).(3) Sua pro-
dução teórica singular e inovadora contestou os pressupostos
canônicos do Pensamento Social Brasileiro a respeito da formação
cultural e das relações raciais. Gonzalez se destacou pelo esfor-
ço de descentralizar a hegemonia eurocêntrica na produção do
conhecimento, o que a levou a subverter também a linguagem
impessoal da academia. Na tentativa de estruturar uma escrita
com as características da fala, impregnou alguns de seus textos
acadêmicos com a oralidade afro-brasileira. Não abandonando
o rigor nem a seriedade, contudo incorporando outras raciona-
lidades. Cabe destacar que era profundamente crítica tanto da
transposição mecânica do pensamento afro-americano, bem como
da perspectiva marxista economicista, que reduzia a questão
racial a um problema de classe.

ou Feminizando a Raça: Narrativas de Libertação em Angela Davis e Lélia


Gonzalez”. Um estudo pioneiro que comparava as trajetórias e a produção
intelectual de Angela Y. Davis e L. Gonzalez – intelectuais e militantes dos
movimentos negros nos Estados Unidos e no Brasil, que tiveram uma grande
importância em seus respectivos contextos tanto pelas atuações como pelas
reflexões que desenvolveram. De forma pioneira, propuseram reflexões originais
para pensar a condição das mulheres negras em seus respectivos países. A
dissertação foi a primeira pesquisa acadêmica no país que abordou tanto a obra
de Davis como de Gonzalez.
(3) O artigo mencionado foi escrito para o prefácio do livro Primavera para
as rosas negras: Lélia González, em primeira pessoa. Lançado em 2018, este foi o
primeiro livro a reunir, postumamente, a produção da autora, incluindo artigos
clássicos e desconhecidos, depoimentos e entrevistas publicados entre 1979 e
1991. O livro foi feito de forma coletiva e autônoma por uma organização do
movimento negro – União dos Coletivos Pan-Africanistas, a UCPA. O fato de o
primeiro livro autoral ter sido feito pelo próprio movimento e não por editoras
comerciais revela tanto o nível autonomia de determinados seguimentos do
movimento negro, particularmente a juventude. Simultaneamente, revela
quão profunda é o epistemicídio no Brasil, que ignorou uma de suas maiores
pensadoras. O interesse das editoras comerciais por Gonzalez só ocorreu depois
que a própria Angela Davis, em um evento em outubro de 2019, na cidade de São
Paulo, destacou a importância da brasileira e perguntou: por que precisávamos
importá-la como ícone do feminismo negro quando havia Lélia Gonzalez?

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A autora e outros intelectuais negros da mesma geração se


engajaram na elaboração de uma epistemologia, que procurava
ser referenciar na própria experiência histórica e cultural. Como
outros pares negros/negras de sua geração, ela cultivou uma
dupla filiação com o movimento negro e com a academia.

Sobre a autora: Notas biográficas – Lélia Gonzalez

No dia 01 de fevereiro de 1935, nascia, em Belo Horizonte,


Lélia Almeida, a penúltima filha de uma grande família, for-
mada por 13 filhos, como poucos recursos econômicos. Seu pai,
um homem negro, era ferroviário (morreu quando ela era ainda
pequena); sua mãe, uma mulher de ascendência indígena, era
trabalhadora doméstica. Em 1942, um dos irmãos, o jogador de
futebol Jaime de Almeida foi contratado pelo Flamengo. Após
se estabelecer, trouxe a família para a cidade, na época a capital
do país.
A história dos Almeidas se aproxima de inúmeras outras de
famílias negras brasileiras, na qual todos os membros, inclusive as
crianças, precisam trabalhar. A história de Lélia não foi diferente.
Enquanto cursava o ensino fundamental, trabalhava como babá,
perfazendo, assim, um conhecido caminho de ocupação laboral
das mulheres negras no Brasil: o trabalho doméstico. “Quando
criança, eu fui babá de filhinho de madame, você sabe que criança
negra começa a trabalhar muito cedo”(4). Rompeu, no entanto,
com a trajetória que seria esperada e conseguiu concluir seus
estudos e ingressou na universidade. Como lembraria mais tarde:
“A única saída que eu encontrei para superar estes problemas foi
ser a primeira aluna da sala. É aquela história, ‘ela é pretinha,
mas é inteligente’”.(5) Cursou História e Geografia (1958) e Fi-
losofia (1962) na Universidade do Estado da Guanabara, atual
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.(6)Ao se graduar da
primeira licenciatura começou a dar aulas. Lecionou em vários

(4) O Pasquim, n. 871, 20-26 de março de 1986. p. 09.


(5) Idem.
(6) Há relatos divergentes em relação a seu mestrado e doutorado;
é provável que não os tenha concluído.

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colégios e instituições de ensino superior. No final da década de


1970, tornou-se uma das poucas professoras negras na Pontifícia
da Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde trabalhou até
o fim da vida.
O sobrenome Gonzalez foi acrescentado após o casamento
com Luiz Carlos Gonzalez, um colega de faculdade de origem
espanhola, sendo mantido após sua morte. Este casamento era
citado como um momento crucial para sua tomada de cons-
ciência racial.(7) Os problemas com a família do marido que não
aceitava a relação, obrigaram a confrontar-se com sua própria
negritude (até aquele momento recalcada em seu processo de
embranquecimento e mobilidade social, o que a distanciou de
sua comunidade, como ela mesmo mencionava)(8). A trajetória
intelectual de Gonzalez personificou vários dos debates ocor-
ridos no circuito político, universitário, artístico e cultural das
décadas de 1970 e 1980. Os espaços por onde ela circulou, os
encontros e as trocas que estabeleceu constroem um interes-
sante panorama do ambiente do período. Na segunda metade
dos anos 1970, enquanto a Ditadura Militar iniciava uma lenta
e problemática abertura. Ocorria, simultaneamente, no campo
político-cultural brasileiro, um processo de pluralização na
circulação das ideias. Debates, até então centralizados por uma
perspectiva estritamente classista, começaram a ser confronta-
dos por outras perspectivas, apresentadas pelos movimentos
indígena, negro, feminista e homossexual (assim era nomeado
na época). Em conjunto, estes movimentos contestavam a cen-
tralidade da classe operária como o único sujeito do processo
político e da transformação social.
Sua relação com o movimento negro marcou profunda-
mente sua trajetória. Em 1976, esteve associado a uma de suas
primeiras organizações no Rio de Janeiro, o Instituto de Pesqui-
sas das Culturas Negras, IPCN. Em julho de 1978, participou da
fundação do Movimento Negro Unificado, MNU – o primeiro
esforço de criação de uma organização nacional de luta negra

(7) Em depoimento e entrevistas que autora aborda sua trajetória.


(8) Luiz Carlos Gonzalez acabou se matando em função dos problemas
com a família, foi o que a autora relatava em depoimentos.

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antirracista no país. Esteve em sua direção nacional entre 1978


a 1982. No ano seguinte, fundou, com outras mulheres negras,
o Nzinga – Coletivo de Mulheres Negras, permanecendo até
1985. Teve uma participação no movimento feminista também.
Integrou a primeira composição do Conselho Nacional de
Direitos da Mulher, CNDM, entre 1985 a 1989, um organismo
criado pela demanda do movimento feminista, que reivindicava
um espaço no Estado para impulsionar políticas públicas para
as mulheres.
Do contexto da década de 1970, cabe mencionar dois acon-
tecimentos importantes com os quais Gonzalez esteve envolvida:
a formação da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e o Co-
légio Freudiano do Rio de Janeiro, ambos fundados em 1975. O
Colégio tornou-se uma das primeiras instituições a divulgar o
pensamento de Jacques Lacan no Brasil. Ao contrário das outras
associações psicanalíticas, não exigia uma titulação médica, o
que permitiu a participação da autora. A Escola de Arte Visuais
do Parque Lage, a EAV, foi um ambiente de renovação do campo
artístico carioca, do desenvolvimento de novos procedimentos
estéticos para a arte brasileira, marcado por experimentações e
uma proposta de transdisciplinariedade. Gonzalez participou
do projeto inicial da EAV, sendo a professora do primeiro curso
institucional sobre cultura negra no país, entre 1976 e 1978. Lá
organizou ocupações, debates e atividades, com destaque para
as comemorações do mês da consciência negra, em novembro,
com uma programação proposta em conjunto com o movimento
negro na cidade.
Gonzalez também teve uma significativa inserção na es-
querda institucional. Participou da formação inicial do Partido
dos Trabalhadores, integrou o diretório nacional entre 1981 e
1984. Candidatou-se a deputada federal em 1982 e, apesar da
votação expressiva, não chegou a ser eleita, ficando na primeira
suplência da bancada. Um tempo depois, deixou o PT por con-
siderá-lo descompromissado com a luta antirracista, acusando-o
de “racismo por omissão”, em uma conhecida carta aberta.(9)

(9) Conferir: GONZALEZ, Lélia. Racismo por omissão. In: Folha de São
Paulo, 13 de agosto de 1983.

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Posteriormente, filiou-se ao Partido Democrático Trabalhista,


pelo qual se candidatou a deputada estadual em 1986, ficando
mais uma vez como suplente. Cabe ressaltar que as mudanças
de legendas partidárias não modificaram o programa político
de Gonzalez, bastante progressista e atual. Entre todos seus
engajamentos, o mais significativo foi sem dúvida o do movi-
mento negro, sendo uma figura importante em seu processo de
rearticulação, após o Golpe Militar de 1964 – que desestruturou
todos os movimentos sociais do país e abriu um fosso entre as
gerações políticas. O regime não apenas restringiu a liberdade
de associação e perseguiu lideranças, como interditou o debate
sobre o racismo através de uma armadilha jurídica presente na
Lei de Segurança Nacional, de setembro de 1969, que prescrevia
o crime de incitamento “ao ódio ou à discriminação racial”. Em-
bora pudesse “parecer antirracista”, na prática a lei poderia ser
usada para criminalizar quem se propusesse a discutir o tema,
pois qualquer denúncia de racismo poderia ser interpretada como
subversão à ordem no “paraíso da democracia racial”.(10) Cabe
ressaltar que suas reflexões também foram formadas por trocas,
debates, circulações nacionais e internacionais.(11) Combinando
um compromisso coletivo a uma filosofia da práxis, manifestada
em seu engajamento na transformação da realidade social que
analisou. Cabe ressaltar que muitos debates levantados pela
autora eram parte do projeto político do próprio movimento
negro brasileiro.

(10) Na pesquisa do mestrado tive oportunidade de encontrar pela primeira


vez os documentos do DOPS relativos à autora, que foi vigiada em algumas
ocasiões, mas nunca presa ou torturada, coisas rotineiras na época. A primeira
investigação foi em 1972, suspeita de envolvimento com o “recrutamento de
adeptos à doutrina marxista”; nenhuma evidência foi encontrada. As menções
posteriores nos relatórios da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS)
estão relacionadas às atividades no movimento negro e, mais tarde, no PT. A
documentação está disponível no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.
Setor: Comunismo, Pasta 112, Folha 211-217 (Fundo de Polícias Políticas no Rio
de Janeiro, Fichários do DOPS).
(11) Desde 1979, Lélia realizou importantes viagens internacionais,
conhecendo e trocando com a intelectualidade negra e diaspórica, representando
o movimento negro em diversos contextos internacionais.

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Breves considerações sobre o pensamento social brasileiro dos


intérpretes do Brasil

O pensamento social brasileiro contempla uma profícua e


variada produção textual na qual se destacam autores e obras
que contemplam as ideias que se produziram sobre o país e a
identidade nacional, desde o século XIX, ainda no período do
Império. As questões que se propõe a resolver giram em torno de
explicações para as perguntas: O que nos singulariza e nos define
como uma nação? Como se deu o processo de nossa formação
social, política e cultural? Os autores e autoras que apresentaram
respostas a essas questões foram nomeados como intérpretes
do Brasil. Como o nome sugere trata-se de proposições autorais
próprias, geralmente ensaísticas. O que reflete direta ou indire-
tamente os debates do contexto no qual foram produzidas.
No conjunto da produção dos nomeados intérpretes do
Brasil não se encontra uma uniformidade interpretativa nem
conceitual. De fato, nota-se compreensões bastante distintas a
respeito da formação nacional, na qual interferem filiações in-
telectuais, políticas e institucionais. Acrescenta-se ao fato que a
legitimação e a validação contam como fatores bastante relevantes
para a circulação da proposição.
Um ponto comum nas consagrações das intepretações é
o fato de que, mesmo havendo críticas ou discordâncias, todas
as obras validadas pelos pares acadêmicos foram elaboradas,
quase que exclusivamente, por homens brancos (houve algumas
exceções pontuais de homens negros e mulheres brancas).(12) Sa-
lientar a brancura destes pensadores não significa deslegitimar
os méritos em si das obras, contudo evidenciar como o racismo

(12) Os exemplos dos autores são inúmeros, podendo-se mencionar como


exemplos: Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Sérgio Buarque de Holanda,
Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Guerreiro Ramos, Florestan
Fernandes, Maria Isaura Pereira de Queiroz e outros. Uma forma de elucidar a
inexistência de presenças negras femininas e indígenas consideradas relevantes
no debate pode ser de observada nas obras: BOTELHO, André; SCHWARCZ,
Lilia M. (Org.). Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. São
Paulo: Companhia das Letras, 2009; PERICÁS, Luiz; SECCO, Lincoln. (Org.).
Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados. São Paulo: Boitempo, 2014.

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naturalizou o fato de que pessoas brancas, especialmente, os


homens brancos são os únicos produtores de um conhecimento
legítimo e universal. Notoriamente tanto mulheres negras como
homens e mulheres indígenas nunca são considerados produtores
de um pensamento capaz de abordar e, até mesmo, disputar uma
análise sobre a realidade nacional e outros temas. O que por si só
é bastante revelador do processo de epistemicídio característico
do campo intelectual brasileiro, que tem por “tradição” apagar,
invisibilizar e mesmo desmerecer o conhecimento de sujeitos e su-
jeitas socialmente subalternizadas.(13)Das interpretações a respeito
de nossa identidade nacional e processo formativo, a versão mais
popularizada e difundida é, sem dúvida, a do antropólogo per-
nambucano Gilberto Freyre e o mito da democracia. Ao ponto de
ser metonímia a relação entre o autor e o conceito. Curiosamente,
ao contrário do que se atribuí, ele não foi o criador da expressão,
que, inclusive, não aparece em suas obras clássicas, mas, poste-
riormente, na década de 1950.(14) No entanto, Freyre foi um de
seus grandes divulgadores e defensores. Na percepção dele, as
interações entre o colonizador português e os povos africanos e
indígenas haviam sido “amistosas”, e não se caracterizariam pela
violência, mas por “contatos” e amalgamentos.(15)
Até o que havia de mais renitentemente aristocrático na or-
ganização patriarcal de família, de economia e de cultura
foi atingido pelo que sempre houve de contagiosamente
democrático ou democratizante e até anarquizante, no
amalgamento de raças e culturas e, até certo ponto, de
tipos regionais, dando-se uma espécie de despedaçamento
das formas mais duras, ou menos plásticas, por excesso
de trepidação ou inquietação de conteúdos. (FREYRE,
1936, p. 355)

(13) Para melhor compreender o conceito de epistemicídio, conferir


CARNEIRO, 2005.
(14) Foi possivelmente o médico Arthur Ramos o primeiro a usar a expressão,
em 194. Uma discussão sobre o tema aparece em: GUIMARÃES, Antônio Sérgio.
Democracia racial: o ideal, o pacto e o mito. Estúdios Sociológicos, São Paulo,
v. XX, n. 61, 2001, p. 147-162.
(15) O que levou a elaboração da teoria do lusotropicalismo. Conferir: O
mundo que o português criou, 1940.

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A ideia de contatos e amalgamentos é um ponto impor-


tante da teoria do autor que explicaria a formação nacional e a
inexistência do conflito racial. Na medida em que o colonizador
português, em comparação ao colonizador anglo-saxão, seria
mais propenso às interações. Por conseguinte, nega-se que o
processo histórico de formação nacional, produzido a partir dos
nomeados “contatos”, estruturou-se na violência própria da
colonização e da escravidão. (Vale ressaltar que ele reconheceu
as “qualidades” africanas [negras] para a formação nacional,
contudo, estas eram consideradas, em termos de importância
e validação, como inferiores à portuguesa [branca]).(16) A prer-
rogativa da negação do racismo e da defesa da miscigenação
– característica definida por excelência como parte de uma ideia
de brasilidade.(17) Foram profundamente questionadas e criticadas
a partir de meados da década de 1970, em sua retomada, quando
o movimento negro ganha uma certa visibilidade na esfera públi-
ca.(18) Os intelectuais do movimento foram unânimes em atacar
o mito e denunciar a existência do racismo. Lélia Gonzalez, por
exemplo, foi contundente na crítica à concepção de Freyre e de
outros defensores da ideia de uma democracia racial no Brasil,
que romantizaram o que a filósofa Sueli Carneiro (1995, p. 550)
nomeou como o estupro colonial.

(16) Vale destacar pontos importantes do contexto no qual este debate se


desenvolveu. A ascensão do nazismo na Europa, o sistema de segregação racial
institucionalizada nos Estados Unidos e o apartheid na África do Sul.
(17) A este debate acompanha-se o mito das três das raças que antecede
ao próprio Freyre e seu clássico Casa Grande & Senzala, de 1933. É possível
mapear a gênese da discussão em Introdução à história da literatura brasileira
(1882), de Sílvio Romero. Vale ressaltar que a perspectiva da miscigenação não
era exclusiva do pensamento de Freyre. Darcy Ribeiro, por exemplo, apesar
de politicamente possuir orientações distintas a Freyre também convergia na
ideia da miscigenação.
(18) Como ocorreu com outros movimentos sociais, o movimento negro inicia
sua retomada na década de 1970. O associativismo negro anterior havia sido
interrompido com o início da Ditadura Militar, que havia proibido agremiações
e organização. Algumas de suas lideranças foram ao exílio, como foi o caso
de Abdias do Nascimento. Para conhecer melhor o tema conferir: PEREIRA,
Amílcar Araújo. O Mundo Negro: relações raciais e a constituição do movimento
negro contemporâneo no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas/FAPERJ, 2013.

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(…) O resultado da violentação das mulheres negras por


parte da minoria branca dominante: os senhores de engenho,
os traficantes de escravos etc. E este fato teria dado origem,
na década de 1930, à criação do mito que, até os dias de hoje,
afirma ser o Brasil uma democracia racial. Gilberto Freyre,
famoso historiador e sociólogo brasileiro, é seu principal
articulador com sua “teoria” do “lusotropicalismo”. O efeito
maior desse mito é a crença de que o racismo é inexistente
em nosso país, graças ao processo de miscigenação”. (GON-
ZÁLEZ, 1979) (19)Neste sentido, contribuiu também em um
importante exercício de revisão histórica do período colonial,
confrontando o mito que sustentava a ideia da “escravidão
benévola”. (O que refutava tanto as perspectivas do antro-
pólogo pernambucano como outras procedentes tanto da
direita como da esquerda).

Lélia Gonzalez, uma intérprete (negra) do Brasil

E se a gente detém o olhar em determinados aspectos da


chamada cultura brasileira a gente saca que em suas mani-
festações mais ou menos conscientes ela oculta, revelando,
as marcas da africanidade que a constituem. (Como é que
pode?).” Lélia González(20)

A proposta da autora era disruptiva e inaugural, pois ofere-


cia outras bases conceituais que permitiam evidenciar a agência
da população negra. Uma vez que para a historiografia do pe-
ríodo, a população negra escravizada era objeto, mercadoria sem
qualquer capacidade mínima de atuação e intervenção. Também
invertia a lógica racista e patriarcal: conferia um papel ativo às
mulheres negras nas resistências cotidianas e na organização de
fugas, revoltas ou até mesmo a liderança política e militar de
quilombos.

(19) GONZÁLEZ, Lélia. O papel da mulher negra na sociedade brasileira:


Uma abordagem político-econômica. In: Spring Symposium the Political
Economy of the Black World, Center for Afro-American Studies. Los Angeles:
UCLA, 10-12 de maio de 1979 (mimeo). p. 03.
(20) GONZÁLEZ, Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. Revista
Ciências Sociais Hoje. Anpoc.s. 1980. p.223-244.

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De acordo com as considerações da autora, o racismo no


Brasil, assim como na América Latina, tinha suas próprias ca-
racterísticas. Uma delas era a possibilidade do branqueamento,
usado como forma de assimilação aos valores culturais dos
colonizadores. O processo ocorria através da escola, meios de
comunicação, ascensão socioeconômica individual, algo que ela
mesma narrou ter vivenciado no período que entrou na univer-
sidade. Acrescentava que o racismo poderia ser definido como
uma construção social e ideológica, elaborado no Ocidente, a
partir do século XIX, que sustentou a inferioridade de povos
não brancos. Moldou e criou hierarquias entre valores sociais e
culturais. De forma bastante precursora, Gonzalez pensava as
relações raciais a partir da América Latina, que em seu processo
histórico havia desenvolvido um processo de fragmentação entre
os grupos racialmente subordinados, havendo, inclusive, um
contínuo hierárquico de cores.
A autora também ofereceu um exame crítico do desenvolvi-
mento e funcionamento do sistema capitalista brasileiro a partir
das relações raciais. Evidenciando como as desigualdades sociais
presente na vida da população negra no pós-abolição, residiam
em uma desvantagem histórica, que significou a “transição” da
posição do centro da produção econômica para a periferia. “O
longo processo de marginalização do povo negro, imposto pelas
práticas discriminatórias de uma sociedade marcada pelo autori-
tarismo, relegou-nos à condição de setor mais oprimido explorado
da população brasileira.” Revelou que a própria organização do
capitalismo brasileiro comportava uma profunda desigualdade
estrutural racializada e sexualizada(21) que tornavam distintas as
condições de vida material da população negra e da população
branca. Relegando aos primeiros o lugar desprivilegiado e subor-
dinado. Soma-se a isso, a articulação entre as categorias de raça,
classe e gênero – uma novidade na época. Outro ponto bastante
inaugural foi o esforço de pensar por meio da psicanálise de
orientação lacaniana a constituição de um inconsciente coletivo
nacional. Uma tentativa de levar o país ao divã, tarefa possível de

(21) Naquele período a expressão sexo contemplava a ideia da divisão se


usava a expressão gênero, mas sexo para contemplar.

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execução por meio da análise dos elementos da cultura. A autora


concluiu que nosso inconsciente era profundamente marcado
pelo passado colonial e estava em constante denegação de suas
próprias origens – negras e indígenas.
Outro aspecto muito inovador de sua teoria, elaborado na
produção da década de 1970, foi o interesse, em particular, de
compreender e examinar a formação do capitalismo brasileiro a
partir de um recorte racializado. Isto é, entender as dimensões de
classe e raça conjuntamente. Neste período, eram muito marcan-
tes as influências de alguns pensadores marxistas e da teoria da
dependência, o que foi abandonado na década seguinte.
As interseções entre o capitalismo e o racismo beneficiaram
aos(às) brancos(as) de todas as classes sociais através do privilégio
racial. O capitalista branco se enriqueceu por meio da exploração
da mão de obra negra, enquanto os brancos sem propriedade
também se beneficiaram do racismo com “recompensas materiais
e simbólicas”.(22) Como exemplo, está a maior empregabilidade
branca, ou seja, a rejeição por parte dos empregadores em con-
tratar funcionário negros. Um recorte de gênero nesta discussão
revelou ainda como mulheres brancas eram mais empregadas
em ocupações profissionais que tratavam diretamente com o
público, em que mulheres negras eram vetadas em função da
“boa aparência”.(23) Um recorte etário nos dados do IBGE de
1976, analisados por Gonzalez, revelavam ainda a necessidade
das famílias negras de colocarem seus filhos menores de idade
no mercado de trabalho para complementar a renda familiar.(24)
No período da década de 1980, sua produção se afastará destas
temáticas. A partir deste momento, manteve-se mais próxima

(22) O debate sobre o salário psicológico do racismo: “The psicological wages


of whiteness”, ou seja, os benefícios que brancos pobres obtém do racismo, foi
inaugurada por W.E.B. Du Bois em seu livro Reconstruction, de 1935. Lélia cita
Dubois como referência em alguns textos, por isso é possível supor que ela
tenha aplicado o conceito do autor para a realidade brasileira.
(23) Vale ressaltar que os anúncios de emprego da época eram abertamente
racistas e explicitavam a necessidade da “boa aparência”, que indiscutivelmente,
no Brasil, é um eufemismo para referir-se a pessoas brancas.
(24) Discussão presente no texto publicado na edição de set./out. de 1981
do Jornal Mulherio.

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das perspectivas afrocêntricas. O diálogo com a psicanálise e o


feminismo continuaram. Essas modificações de temas e aborda-
gens revelam mudanças que foram forjando em sua trajetória
e, também, as transformações no debate político e intelectual
nacional e internacional.
Em 1988(25), Gonzalez propõe uma categoria-chave para
interpretação da formação histórico-cultural do Brasil e de outras
partes do continente americano: a amefricanidade. A categoria
procura unificar a experiência dos afrodescendentes nas Améri-
cas, resgatando a intensa dinâmica cultural na reelaboração da
herança africana no chamado Novo Mundo: “(…) marcas que evi-
denciaram a presença negra na construção cultural do continente
americano, levaram-me a pensar na necessidade de elaboração
de uma categoria que não se restringe apenas ao caso brasileiro
(…).”(26) De acordo com a autora, perceptível nas semelhanças
no emprego das línguas dos colonizadores (espanhol, inglês e
francês), marcadas pela influência de línguas africanas, o que
ocorreu em várias partes das Américas.
O debate sobre a formação cultural brasileira e cultura negra
tiveram um papel tão relevante na obra da autora, que Gonzalez
criou o primeiro curso institucional no Brasil sobre a Cultura
Negra, na Escola de Arte Visuais do Parque Lage, onde foi pro-
fessora de Antropologia entre 1976 a 1978. No curso, propõe um
exame crítico do papel e influência do negro na africanização da

(25) Um ano importante e significativo para o movimento negro que disputou


publicamente com o Estado brasileiro os significados das comemorações da
Abolição da Escravidão. Irrompendo contra a narrativa oficial da comemoração,
que apontava para o caráter festivo da data, o movimento negro assinalou uma
acirrada disputa pelos sentidos da comemoração. O título da marcha liderada
pelo movimento no Rio de Janeiro, no dia 11 de maio, é revelador: “Marcha
contra a Farsa da Abolição”. Havia, na ocasião, um grande aparato repressivo
mobilizado pelo Exército brasileiro, que temia um “ultraje” a estátua do seu
patrono Duque de Caxias (que se encontrava no caminho da Marcha, que saía da
Candelária rumo ao memorial e Zumbi, na Praça Onze), que para o movimento
negro era um caçador de escravos e destruidor de quilombos. A Marcha
aconteceu sob forte vigilância e com ampla adesão popular de pessoas negras
que não eram ligadas ao movimento, mas não viam motivos para celebrar a data.
(26) A CATEGORIA Político-Cultural de Amefricanidade. In: Tempo
Brasileiro, 92/93, Rio de Janeiro, jan./jun, 1988. p.71.

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cultura brasileira. “Eu gostaria de colocar uma coisa: minoria


a gente não é, tá? A cultura brasileira é uma cultura negra por
excelência […]”. Na definição da autora, a cultura brasileira era
formada pelo tripé das contribuições, contatos e trocas entre afri-
canos, ameríndios e europeus, ainda que pautado na violência
da colonização e da escravidão. O problema estava no fato de
que no Brasil haveria, por parte da “classe dominante de origem
europeia”, um recalque, isto é, um sentimento de inferioridade
manifestado na diminuição, menosprezo em relação à cultura
africana e ameríndia. Consideradas, inclusive, como algo menor,
folclore, curiosidade, exotismo. Existiria uma negação do papel de
indígenas e negros na criação da nacionalidade e uma tentativa
de apagar estas presenças.
Aliadas à depreciação da cultura negra, historicamente
houve perseguição e repressão institucional. (A perseguição às
religiões de Matrizes Africanas no Brasil, tanto no passado como
no presente, elucida a questão). Para a autora, o quadro modifi-
cou-se quando houve a mercantilização, apropriação e obtenção
de dividendos desta cultura, ainda que seus produtores tolhidos.
De acordo com González, a necessidade do encobrimento e rejei-
ção da cultura negra deriva do caráter colonizador da nossa classe
dominante, preocupada em afirmar sua superioridade, enaltecer
sua “europeidade” e projetar-se como um país branco, ocultando
suas origens constitutivas africanas e indígenas. Neste sentido,
os mitos da cordialidade e da democracia racial, “acobertam a
violência (real e simbólica) com que os sujeitos e os valores re-
presentativos da senzala e da selva são tratados. Paternalismo
e autoritarismo se entrecruzam em diferentes níveis e formas,
como expressões típicas de repressão/recalcamento da cultura
dominada.” (GONZALEZ, 2018A, p. 139).
Uma vez que é necessário “ser civilizado à moda euro-
peia”, consequentemente “policiar-se”: “Não se pode permitir
que o negro, que se tem dentro de si fique por aí fazendo as
suas ‘negrices’. Questão de ser civilizado, ora. Contenção da
voz, do gesto, do corpo, caracterizam a pessoa civilizada.”
(GONZALEZ, 2018A, p. 139). Relegar os sujeitos negros aos
seus supostos “lugares naturais” – favelas, cortiços, bairros
periféricos, presídios, hospitais psiquiátricos – e aceitando seu

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genocídio – físico e cultural. São faces do mesmo processo, pois


é “preciso tirá-los de cena”.
O fato de a cultura brasileira ser negra, ainda que o racismo
tente “neouroticamente negar”, produziria o racismo como sin-
toma, ou seja, a manifestação exterior de um problema interior,
no qual vivem os brasileiros ao se projetarem e desejarem-se
brancos ou descendentes de europeus em um país negro e indí-
gena. Essa seria a neurose da nossa cultura, na medida em que
os brasileiros pensam e definem a sua cultura nacional a partir
da herança e dos símbolos afros, como o carnaval, o samba, o
maracatu, o frevo, o candomblé, a festa de 31 de dezembro na
praia, e, simultaneamente, mantenham a pretensão de se pensar
um país branco, Ocidental.
Uma marca da presença africana na nossa formação cultu-
ral estava no português falado aqui, conceituado por ela como
pretoguês. Uma de suas características constitutivas era a troca
do L pelo R (segundo a autora, em algumas línguas africanas não
existe a letra L). Outros traços seriam os cortes das formas dos
infinitivos verbais, e na contração do você (cê), do está (tá). Neste
sentido, negros e brancos no Brasil possuíam “um tipo de fala
profundamente africanizada (…). Não é por acaso, que os falares
brasileiros se caracterizam por uma musicalidade e uma rítmica
que os falares lusitanos não possuem”. E a mãe preta, responsável
pela criação e educação dos filhos dos senhores brancos, é quem
teria africanizado o português de forma consciente, ou incons-
ciente, acabou por passar os valores para as crianças brancas de
quem cuidou, ensinou e transformou a língua de dominação,
subvertendo e ressignificando-a. Para a autora, a função materna
na cultura brasileira foi exercida pela mãe preta.
Por outro lado, de forma bastante critica, Gonzalez
também apontava para a necessidade de se pensar sobre a vio-
lência cultural que fere, nega a alteridade e é “etnocida em sua
“universalidade” ditatorial, letal em seu unitarismo sectário”
(GONZALEZ, 2018B, p. 219). E que no Brasil sustenta a ideologia
do branqueamento, recusando o papel civilizador da África para
o Brasil. “Nós aqui, no Brasil, temos uma África conosco, no nosso
cotidiano. Nos nossos sambas, na estrutura de um Candomblé,
da macumba…” (GONZALEZ, 1980, p. 212).

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Considerações finais

Para compreender a formação do país, a autora apresentou


uma proposta de interpretação original, privilegiando a cultura
como um espaço de análise, interessada, particularmente, na
experiência negra brasileira. Em um segundo, momento unificou
as experiências dos afrodescendentes no continente americano,
oferecendo uma categoria própria de análise: a amefricanida-
de. Adiantando, em muitos sentidos, o debate do pensamento
colonial.
A radicalidade de sua proposta de interpretação para a
realidade brasileira consistia em retirar os sujeitos negros das
margens e posicioná-los no centro da nação. Elaborando, assim,
uma visão alternativa de país, que é negro, ainda que se pense
e projete branco. “A população negra é imensa, ela constitui a
maioria, sim, no sentido que os descendentes de africanos no
Brasil constituem a maioria da população. Não é uma questão de
cor não, é uma questão de ascendência mesmo.” (GONZALEZ,
1980, p. 85).

Referências

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Brasileiro, 92/93, Rio de Janeiro, jan./jun., 1988. p.71.
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Brasil. 29 intérpretes e um país. São Paulo: Companhia das Letras,
2009
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Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination

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