Dissertação Ruth PDF
Dissertação Ruth PDF
Dissertação Ruth PDF
Orientadora:
Helena Veloso, Ph.D.
Luanda, 2019
Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Psicologia
Social, na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho
Neto, sendo Reitor Interino Pedro Magalhães e sendo Decana Drª Luzia
Milagre.
Orientadora:
Helena Veloso, Ph.D.
Luanda, 2019
Ao meu pai
Pelo exemplo e amor que ajudaram em muito a definir meu carácter, e cujas
lembranças estarão eternizadas.
Em memória
I
AGRADECIMENTOS
A minha orientadora, Professora Doutora Helena Veloso pelo rigor que sempre exigiu
no decorrer da investigação e pela crítica construtiva com que me confrontou nos
momentos mais decisivos da elaboração final desta dissertação.
A minha mãe, minha razão de ser, pelos valores e saberes que sempre transmitiu.
Aos meus colegas que participaram da amostra bem como os alunos que possibilitaram
a recolha de dados.
II
“Enquanto estiveres viva, sente-te viva.
Se sentes saudades do que fazias, volta a fazê-lo.
Continua, quando todos esperam que desistas.
Faz com que em vez de pena, te tenham respeito.
Quando não conseguires correr através dos anos, trota.
Quando não conseguires caminhar, usa uma bengala.
Mas nunca te detenhas”!
III
RESUMO
Esta dissertação tem como enfoque as representações sobre indisciplina escolar no
ensino médio. O objectivo principal é compreender as Representações sobre
Indisciplina Escolar no Ensino Médio tendo como caso de estudo o complexo escolar
3106 do Distrito Urbano do Hoji-Ya-Henda, Município do Cazenga. A pesquisa esteve
assente sobre as teorias das representações sociais, sendo um processo que surge a
partir das interacções sociais entre os sujeitos e aplicável ao contexto educacional.
Atendendo aos objectivos da pesquisa, optou-se pela abordagem qualitativa, e como
técnica de recolha de dados primamos pela entrevista por ser uma técnica por
excelência para estudos qualitativos. Socorremo-nos também a pesquisa documental
(normativos e outros documentos da escola). Para o tratamento de dados utilizou-se a
análise de discurso. Os resultados obtidos permitiram concluir que há divergência entre
professores e alunos na percepção da indisciplina escolar. Por um lado, professores e
alunos atribuem grande importância à relação escola-família para minimizar a
indisciplina escolar. Por outro, os alunos defendem um relacionamento efectivo entre
professor-aluno e também consideram relevantes as regras de convivência no seu
quotidiano escolar e não só.
IV
ABSTRACT
V
Índice
AGRADECIMENTOS............................................................................................................. II
RESUMO ................................................................................................................................ IV
ABSTRACT ............................................................................................................................. V
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 8
Questão de estudo .............................................................................................................. 10
Objectivo geral ................................................................................................................... 10
Objectivos específicos........................................................................................................ 10
CAPÍTULO I- REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ................................................................... 11
1.1 - Conceito de Representação Social ............................................................................. 11
1.2 - Teoria de Moscovici (1961) ....................................................................................... 13
1.3- Teoria de Durkheim (1898) ........................................................................................ 14
1.4 - Teoria Jodelet (1983) ................................................................................................. 15
1.5 - Características das representações sociais ................................................................. 16
1.5- Processo de formação das representações sociais ....................................................... 17
1.5.1- A objectivação ......................................................................................................... 17
1.5.2-A ancoragem ............................................................................................................. 17
1.6- Funções das representações sociais ............................................................................ 18
1.7- Representações sociais e práticas escolares ................................................................ 18
1.7.1- Representações da escola através dos seus agentes ................................................. 19
1.7.2- Representações recíprocas professor-aluno ............................................................. 21
CAPÍTULO II- ABORDAGEM SOBRE INDISCIPLINA ESCOLAR ................................ 23
2.1- Conceito de indisciplina escolar ................................................................................. 23
2.2-Teoria de Piaget ........................................................................................................... 24
2.3- Teoria de Foucault ...................................................................................................... 25
2.4- Teoria de Bandura....................................................................................................... 27
2.5- Factores da indisciplina escolar .................................................................................. 27
2.6- O relacionamento professor-aluno .............................................................................. 29
2.7- A gestão da sala de aula .............................................................................................. 30
2.8- A relação entre pares................................................................................................... 31
2.9- A relação escola-família ............................................................................................. 34
2.10- Projecto Educativo de Escola ................................................................................... 37
2.11-Estratégias de gestão da indisciplina/inclusão do aluno indisciplinado ..................... 40
CAPÍTULO III- METODOLOGIA DE PESQUISA ............................................................. 45
6
3.1- Pesquisa qualitativa .................................................................................................... 45
3.1- Procedimentos............................................................................................................. 46
3.3- Caracterização da escola de pesquisa ......................................................................... 47
3.4- Amostra....................................................................................................................... 48
3.6- Técnicas e instrumento de recolha de dados ............................................................... 49
3.5- Questões de ordem ética ............................................................................................. 50
CAPÍTULO IV- APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS
RESULTADOS ...................................................................................................................... 52
4.1- Perfil do professor....................................................................................................... 52
4.2- Regras de convivência ................................................................................................ 53
4.3- Família ........................................................................................................................ 55
4.4- Influência social .......................................................................................................... 55
4.5- Socialização ................................................................................................................ 57
4.6- Relação professor-família ........................................................................................... 58
4.7- Relação professor-aluno ............................................................................................. 59
4.8- Políticas de gestão da indisciplina .............................................................................. 60
CONCLUSÕES ..................................................................................................................... 62
ANEXOS .................................................................................................................................. 63
7
INTRODUÇÃO
Nesta pesquisa abordamos o tema “ Representações Sociais sobre Indisciplina Escolar
no Ensino Médio- caso do Complexo Escolar 3016”. A indisciplina escolar não é só
um problema da sala de aula ou da escola mas sim um fenómeno social por ultrapassar
fronteiras visto que vários países se debatem com esta questão. Se por um lado a
indisciplina é vista como desrespeito pelas regras de convivência no quotidiano
escolar, por outro na perspectiva dos alunos pode ser vista como uma chamada de
atenção pelas exigências impostas sem se ter em conta o sujeito como um ser único
com características próprias mas ao mesmo tempo um ser eminentemente social.
O estudo faz uma incursão as teorias das representações sociais sendo que esta teoria
funda-se no modelo teórico de Moscovici, elas são manifestações do pensamento
social, colectivamente produzidas e historicamente determinadas organizam-se em
torno de um núcleo central, são estruturadas contendo crenças, opiniões e atitudes
(Jodelet, apud Sá 1996). Constitui-se de um sistema sociocognitivo particular,
desmembrado em um sistema central (núcleo central) e um sistema periférico. As
representações sociais e práticas escolares aplicam-se na medida em que o processo
educativo ocorre em contexto social, onde há vários intervenientes que se relacionam
por meio da interação social ou seja, por um lado está a figura do professor que tem a
missão de mediar a construção do conhecimento e, por outro lado o aluno com
predisposição para participar na construção do seu próprio saber. Portanto há no
processo do ensino aprendizagem a partilha de ideias, crenças e objectivos.
8
Outro suporte dessa pesquisa prende-se com o facto de se querer perceber o significado
que professores e alunos dão as representações sobre indisciplina escolar na medida
em que muitas vezes o comportamento indisciplinado tem conotações diferentes para
estes dois grupos. Falar sobre indisciplina escolar é de extrema importância pois é um
dos maiores obstáculos da prática docente e da gestão escolar.
Para sublinhar a relevância deste estudo é imperioso dizer que, a profissão docente só
é possível se houver boa relação professor-aluno e também a relação efectiva escola-
família. É uma forma de descobrir caminhos de resolução do problema que afinal é tao
antigo quanto a escola só que com maior evidencia nos tempos actuais. É de sublime
importância não culpabilizar os alunos e nem desculpabilizar o professor que maior
parte dos casos parece ser vítima quando na realidade pode ser um dos “causadores”
da indisciplina na sala de aula.
A escolha do tema prende-se com o facto de ser a área de actuação profissional e dia
a dia debater-se com estas questões, mas também pelo facto de pouco ou nada se tratar
a respeito. O estudo servirá também de linha orientadora para novas pesquisas. Com
base nestes pressupostos surge então a questão de estudo e os respectivos objectivos
da pesquisa.
9
socias sendo um processo que ocorre a partir das interações entre os sujeitos e aplicável
ao contexto educacional; apresentamos o conceito, contribuições teóricas sobre o
assunto; as características; os processos das representações sociais e a sua
aplicabilidade ao contexto educacional. O segundo capítulo tem com foco a
indisciplina escolar; faz-se uma abordagem sobre o conceito de indisciplina; teorias
ligadas a indisciplina, os factores que estão na base de tal fenómeno, a relação escola-
família, o relacionamento professor-aluno; a gestão da sala de aula; a relação entre
pares; o projecto educativo de escola e as estratégias da gestão da indisciplina. O
terceiro capítulo esta voltado a metodológica, tendo como suporte os métodos
qualitativos; evocamos os procedimentos para a pesquisa e por fim destacamos as
técnicas de recolha de dados primando pela entrevista como uma técnica por
excelência dos estudos qualitativos e a pesquisa documental (normativos e outros
documentos da escola). Para o tratamento dos dados obtidos utilizou-se a análise de
discurso; o quarto capítulo esta relacionado a apresentação e análise dos resultados
obtidos da referida pesquisa
Questão de estudo
Como se caracterizam as Representações Sociais sobre Indisciplina Escolar no Ensino
Médio?
Objectivo geral
Compreender a percepção que os professores e alunos têm das Representações Sociais
sobre Indisciplina Escolar no Ensino Médio.
Objectivos específicos
1º Identificar os factores motivacionais da indisciplina escolar;
10
CAPÍTULO I- REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
A representação social é de domínio da Psicologia Social, sendo atribuída a Moscovici
a criação do termo. Mas, foi Durkheim (1898) quem pela primeira vez, introduziu a
ideia de representação colectiva e ter remetido a tarefa a psicologia social de
aprofundar os estudos sobre representação social.
O seu campo de estudo lista questões que tem a ver com a saúde/doença, a doença
mental, a justiça, a violência, o grupo e a amizade, o trabalho, o desemprego, os
sistemas tecnológicos, os sistemas económicos, os conflitos sociais e as relações
intergrupais e ainda grupos ou categorias sociais como: a criança, a mulher, os grupos
organizacionais, os psicólogos e a psicologia Vala (1993, p.359).
De acordo com Moscovici (1976) citado por Sá (1996, p.45) propôs que se
considerasse a representação como “um processo que torna o conceito e a percepção
de algum modo de intercambiáveis, visto que se engendram reciprocamente”. A
representação seguiria, por um lado, a linha do pensamento conceptual, capaz de se
aplicar a um objecto não-presente, de concebê-lo, dar-lhe sentido, simbolizá-lo. Por
outro lado, à maneira da actividade perceptiva, trataria de recuperar esse objecto, dar-
11
lhe uma concretude icónica, figurá-lo, torna-lo “tangível”. O autor se faz mais explícito
quanto à própria natureza actualizada das representações:
“Representar uma coisa (…) não é com efeito simplesmente duplicá-la repetí-la ou
reproduzí-la; é reconstruí-la, retocá-la, modificar-lhe o texto. A comunicação que se
estabelece entre o conceito e a percepção, um penetrando no outro, transformação a
substância concreta comum, cria a impressão de realismo”.
Jodelet corrobora com Moscovici quando afirma que a representação social “ é uma
forma de conhecimento, socialmente elaborado e partilhado, com um objectivo
prático, e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto
social” (Jodelet, 2001).
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− Resolver problemas, dar forma às relações sociais, oferecer um instrumento de
orientação dos comportamentos, das razões poderosas para edificar uma
representação social (Moscovici, 1961, p. 309).
Moscovici (2007) iniciou os seus estudos das representações sociais exactamente pela
forma como a psicanálise e todos os conceitos que lhe estão associados foram
apropriados pelo senso comum. Ele refere que a distinção entre o conhecimento do
leigo e do profissional se tornou mais ténue na medida em que os conceitos da
psicanálise já extravasaram o círculo dos psicanalistas, ou seja, deixaram de ser uma
gíria que os caracterizava enquanto profissionais, e fazem actualmente parte da
linguagem do quotidiano, tendo contudo sofrido alterações no processo de
representação a que foram submetidos.
13
sociedade. Apresentando assim uma posição critica face a este processo, o que era
claramente contracorrente num momento em que o conhecimento científico era ainda
encarado como pertencendo a uma elite, a um grupo de iniciados.
14
[…] São o produto de uma imensa cooperação que se estende não apenas
no espaço, mas no tempo; para fazê-las, uma multidão de espíritos diversos
associaram, misturaram combinaram suas ideias e sentimos; longas séries
de gerações acumularam aqui sua experiencia e saber” (Durkheim, 1978).
Jodelet (1984) por sua vez mapeia o campo da enumeração de seis diferentes
perspectivas que presidem a formulação da maneira como se elaboram as
representações sociais: (1) ênfase à actividade puramente cognitiva pela qual o sujeito
constrói sua representação; (2) acentuação dos aspectos significantes da actividade
representativa; (3) tratamento da representação como uma forma de discurso; (4)
consideração da prática social do sujeito na construção da representação (5)
determinação da dinâmica das representações pelo jogo das relações intergrupais; (6)
ênfase socializante, das determinações sociais responsáveis em última instância pela
produção das representações Jodelet (Sá, 1996, p 32-33).
15
Além disso, enquanto uma forma de saber, a representação se apresenta como uma
modelização do objecto, que pode ser apreendida em diversos suportes linguísticos,
comportamentais ou materiais. Finalmente a mesma autora, dando conta das funções
e das eficácias sociais das representações, esclarece “ qualificar esse saber como
“prático” se refere a experiência a partir da qual ele é produzido, aos quadros e
condições nos quais o é, e sobretudo ao facto de que a representação serve para se agir
sobre o mundo e sobre os outros” (Sá, 1996, p.43-45).
Para Jodelet referida por Fischer (1996, p. 153), as representações sociais são
modalidades de pensamento prático, orientadas no sentido da comunicação, da
compreensão e do domínio do meio ambiente social, material e ideal. Enquanto tais,
elas apresentam traços, distintivos específicos no plano da organização do conteúdo
das operações mentais e da lógica.
A marcação social dos conteúdos ou dos processos de representação deve ser referida
as condições e aos contextos nos quais emergem as representações, as comunicações
através das quais circulam, as funções que servem na interacção com o mundo e com
os outros.
16
− Segundo Moscovici (1976), o seu conteúdo é simultaneamente cognitivo,
significante (as imagens produzirem significações e as significações são
suscitadas pelas imagens) e simbólico (o que remete para a estrutura imaginária
dos indivíduos. Enquanto processo a representação é em primeiro lugar, a
transformação social de uma realidade num objecto de conhecimento, que por
sua vez, também é social Fischer( 1996, p.154) .
1.5.1- A objectivação
A objectivação diz respeito à forma como se organizam os elementos constituintes da
representação e ao percurso através do qual tais elementos adquirem materialidade e
se tornam expressões de uma pensada como natural, isto é, trata-se de um mecanismo
que permite aos indivíduos tornarem o concreto aquilo que é abstrato. (Cazals & Rossi,
2001, p. 64).
1.5.2-A ancoragem
A ancoragem é um processo “de enraizamento social da representação e do seu
objecto.” Novos elementos de conhecimento são integrados em sistemas de
pensamento mais familiares (tipologia de objectos, de pessoas, de acontecimentos). É
através deste processo que um objecto dará lugar a representações distintas de um
grupo para outro visto que resulta dos sistemas de valores inerentes a cada um desses
grupos.
17
1.6- Funções das representações sociais
A abordagem apresentada por Abric (1994) apud Sá (1996, p. 43) remete-nos quatro
funções fundamentais seguintes, das representações sociais:
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de um cidadão preparado e útil para o desenvolvimento humano e social. Quer dizer,
onde há partilha, reprodução e transmissão de valores, há interacção social.
Segundo Gilly (1972) apud Vala (1998, p. 469) dispomos ainda de poucas
investigações em que as representações sociais em si mesmas ocupem um lugar
central. Para estes autores. Seja como for não há dúvidas de que o interesse que a noção
de representação social tem para a compreensão das situações educativas. O interesse
fulcral desta noção no processo de educativo é o de chamar a atenção para o papel de
“conjuntos organizados de significações construções nas relações sociais”. “…O
campo educativo aparece como privilegiado para ver como se constroem, evoluem e
se transformam representações sociais no seio dos grupos sociais e ilumina-nos sobre
o papel destas construções nas relações destes grupos com o objecto da sua
representação” Gilly (1972) apud Vala (1996, p. 460).
Analisar a questão de representações sociais na escola de acordo com (Sil, 2004 p. 63)
implica falar do universo cultural porque as representações da profissão e dos alunos
falam de quadros de referência culturais nos quais essas representações tomam sentido
e ultrapassam o quadro escolar Benavente (1999) citado por Sil (2004, p.65).
Representando a realidade social como que uma justificação fatalista dos resultados
da escola, atribuindo-se a esta um papel social fundamental e decisivo no âmbito do
sistema de ensino.
19
funcionamento quotidiano das turmas que deve controlar, põe em evidência não a
complexidade das representações como os seus aspectos contraditórios.
Para Vala (1996, p. 470) as famílias têm comportamentos diferentes perante a escola
segundo a origem social. Dentro das representações sociais (Zoberman, 1972; Paillard
e Gilly, 1972) as famílias de meios desfavorecidos em comparação com as de meios
socialmente favorecidos dava maior importância às funções escolares tradicionais de
instrução-saberes de base - que às funções mais amplas de formação cognitiva -
abertura e cultura de espírito - e da formação sócio- relacional. Para essas famílias ter
acesso a esse tipo de saberes escolar representava quer a possibilidade de reabilitação
social quer a esperança que através da escola, os seus filhos poderiam aceder a uma
profissão melhor que a sua.
A representação que o professor tem dos alunos tem de ser entendida como um factor
entre outros, na orientação do seu comportamento, seja um factor facilitador ou, pelo
contrário, um factor inibidor da construção de atitudes de abertura à mudança, de
responsalização, de investimento profissional (Sil, 2004, p. 65). Sil (2004), ainda
evoca que o conceito de representação social, permite atingir o processo através do
qual se estabelece a relação entre os professores e a sua profissão, entre professores e
os alunos e permite também encontrar uma identidade numa situação de
transformações múltiplas provocadas, essencialmente, pelo meio social.
Neste contexto, as representações que o professor tem da profissão, dos alunos e das
relações entre a escola e a sociedade são representações sociais porque o professor é,
ele próprio, um sujeito social que elabora representações com base em modelos de
referência, valores, ideias e imagens do seu grupo social com os alunos e com os
demais professores; bem como o seu papel, se refletem nas representações que
produzem (Benavente, 1999).
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1.7.2- Representações recíprocas professor-aluno
As investigações realizadas a propósito da percepção que os professores têm sobre os
alunos põe em evidência o impacto de um sistema dimensional cuja significação se
encontra em ligação com o papel profissional do professor Gilly (1980) apud Vala
(1996, p. 471).
O sistema de apreensão comporta duas dimensões principais que vão buscar a sua
significação às normas que definem o papel, isto é, objectivos e modalidades de
funcionamento. A primeira dimensão denota a existência de uma impressão geral que
pode ser interpretada em relação a função de instrução. Surgem aqui antes de mais
valores de atitude face ao trabalho (mobilização, participação, motivação) e
seguidamente valores cognitivos em que os aspectos convergentes do pensamento
(qualidades de assimilação) são mais importantes que os aspectos divergentes
(qualidades criadoras). A interpretação da dimensão está relacionada com a função de
gestão do grupo.
Braga (2001) referido por Sil (2004, p. 64) diz-nos que representações sociais baseiam-
se em valores que variam em função dos grupos a que pertencem e segundo os saberes,
as crenças, a partilhas anteriores reativados pelo contexto social, o que significa que
estão relacionadas com sistemas de pensamento mais abrangentes, ideológicos e
culturais, ou seja, as representações são uma forma de saber prático com poder de
acção sobre outros e sobre o mundo.
Weiss (1986) referido por Vala (1998, p.471) elucida uma perspectiva tipológica e não
dimensional a partir de quatro “ protótipos” a partir da análise das respostas dos
professores sobre os comportamentos dos alunos. Esses protótipos são: dois para os
bons alunos, julgados pelos professores aptos para prosseguirem os seus estudos (o
aluno activo, sociável e inteligente; o aluno aplicado e disciplinado) dois para os maus
21
alunos, julgados inaptos para prosseguirem o estudo (o aluno passivo, voltado para si
esmo e pouco dotado; o aluno pouco trabalhador, dissipado e indisciplinado).
22
CAPÍTULO II- ABORDAGEM SOBRE INDISCIPLINA
ESCOLAR
O termo indisciplina escolar é polissémico na medida que em é interpretado de forma
diferente pelos agentes educativos, e varia de acordo ao contexto social (escolar) onde
o processo de ensino-aprendizagem ocorre por meio da interacção social. A
indisciplina conforme relata Dayan (2008, p.29) implica desobedecer às normas
estabelecidas e pode expressar-se de vários modos. Por exemplo: recusar-se a
aprender, não respeitar as regras, manifestar condutas inadequadas, fazer e
brincadeiras durante a aula etc.
Neste capítulo, destacaremos alguns autores clássicos que fazem uma incursão sobre
a indisciplina escolar ou bem assim os factores que podem estar na base dos
comportamentos indisciplinados, uma abordagem um pouco mais aturada sobre o
conceito de indisciplina escolar, o relacionamento professor-aluno, a relação familiar,
a relação entre pares, a gestão da sala de aula e as estratégias de gestão da indisciplina
escolar.
De acordo com Pilett & Pilett (2018, p. 258) a indisciplina é definida pelas
transgressões a regras convencionais da instituição, tais como: não usar uniforme,
conversar durante as aulas sem permissão do professor, não fazer as tarefas
determinadas pelas autoridades escolares etc.
Veiga referido por Menezes (2010, p.53) define indisciplina por transgressão das
normas escolares que prejudicam as condições de aprendizagem, o ambiente de ensino
ou relacionamento das pessoas na escola. Como se vê, o conceito de indisciplina
escolar não é estático, varia de acordo ao contexto sócio-cultural onde os alunos estão
inseridos. As suas causas também são múltiplas de acordo a realidade do próprio aluno
e não só. Importa realçar que de acordo aos vários estudos efectuados, muitos
convergem nas suas definições na medida em que para esses autores a indisciplina não
é senão o comportamento que vulnere ou infrinja as normas de convivência da
instituição educacional, quaisquer que seja essas normas ou princípios reguladores.
2.2-Teoria de Piaget
Piaget aparece nesta abordagem não propriamente elucidar sobre a indisciplina
escolar. Mas seus estudos ressaltam a questão das regras ou seja, o estabelecimento
das regras e a maneira como os alunos percebem essas mesmas regras, está na base
desta reflexão sobre a indisciplina, pois, ao discutir as relações entre moralidade e
indisciplina, devemos estar atentos aos princípios e regras elaboradas pela escola,
tendo em conta o princípio da justiça e a forma como esta regra é estabelecida. De
facto é importante conhecer a natureza das regras que regem o grupo ao qual o sujeito
pertence, a forma como as regras são aplicadas e como foram concebidas.
Ao evocar sobre a justiça, Piaget apresenta também a sua relação com o cumprimento
das regras e apresenta dentro de um processo psicogenético de evolução. Dentro da
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sua perspectiva narrativa, apresenta três etapas de desenvolvimento da criança: a
primeira etapa que ele chama de anomia, refere que para a criança há ausência de
regras, quer dizer não as conhece e não precisa para realizar as suas necessidades
motoras. A segunda etapa a que chama de heteronomia já há percepção das regras, mas
sua fonte é o adulto quer dizer, a criança não reconhece o valor das mesmas. A terceira
etapa é a da autonomia, ou seja, ela já tem noção da existência das regras e já atribui
algum valor; nesta etapa já tem noção do certo e do errado pois, já tem capacidade de
discernimento. O sujeito participa da concepção destas regras tendo em conta o
princípio da justiça característica da própria da sociedade em que está inserida.
Piaget ao abordar a sua teoria sobre autonomia não ressalta a sua relação com a
disciplina, mas, pressupõem-se que, o sujeito autónomo tem mais aptidão para avaliar
o certo do errado, ou seja, pode fazer um juízo de valor relativamente as regras de
convivência.
Foucault por meio de uma análise histórica e inovadora viu no exército, nas fábricas,
nas prisões, nos asilos e nas escolas da Idade Moderna atitudes de vigilância e
adestramento do corpo e da mente do sujeito surgindo então à concepção do homem
como um objecto, capaz de ser moldado, dando às instituições, a possibilidade de
modifica-lo. Este autor ressalta a ideia de que nas escolas a disciplina é moldada a
partir de uma distribuição dos indivíduos no espaço utilizando técnicas para obter um
25
sujeito mais submisso. Para Foucault, o corpo nestas instituições, é visto como objecto,
de ser domesticado, “adestrado” a partir de normas e punições, para assim que todos
exerçam suas tarefas como bons cidadãos evitandos infringir as normas estabelecidas
pelo poder.
A organização da escola é planeada a fim de garantir esta disciplina: a forma como são
organizadas as turmas; as filas uma carteira atrás da outra, para o melhor
supervisionamento do professor de forma a manter a disciplina e ordem.
Para Foucault a escola se torna um aparelho no qual, o aluno o nível e a classe devem
combinar adequadamente. O autor faz uma incursão de todo processo escolar, forma
como se emprega o tempo, a postura para ler escrever; o cumprimento dos horários, a
orientação da tarefa obedecendo o tempo e com uma sequência logica e questiona a
forma de alfabetização e a repetição que se faz das actividades durante o dia, os meses
e o ano. Questiona ainda o facto de estas repetições serem objecto de avaliação levando
assim o aluno a aprovação ou reprovação; castigo ou prémio.
26
2.4- Teoria de Bandura
Bandura (1969) é apresentado para este estudo sobre indisciplina escolar pois, na sua
teoria sobre aprendizagem social (por imitação), descreve claramente que no processo
de interação social a pessoa aprende por imitação. Afirma claramente que o sujeito
pode de acordo ao seu ambiente social mudar o seu comportamento, resposta a
observações de como as outras pessoas do grupo reagem. Para este psicólogo, o sujeito
não é apenas reacção, ele é também acção e assim projecta-se activamente na estrutura
social definindo sua própria existência. Na relação entre iguais as pessoas imitam
outros comportamentos que são chamados de modelos. Essa imitação pode ocorrer
mesmo quando não há reforço algum (Barros, 2007, p.91).
De acordo a essas afirmações percebe-se que a imitação de modelos pode ter impacto
positivo ou negativo para o individuo. Pois, uma criança pode tornar-se agressiva,
mentirosa ou desonesta por meio da imitação. Em outras palavras, isto quer dizer, que
o aluno pode apresentar comportamento indisciplinado na escola a partir da
aprendizagem por imitação ou seja por meio de reforços, na busca de aceitação no seio
do grupo.
A forma como determinado aluno observa o seu colega a criar desordem na sala de
aula como: arrastar carteiras, falar alto, usar roupa indecente, o uso de auriculares em
plena aula etc. pode ser também um reforço para cometer actos de indisciplina.
Outros factores estão relacionados ao próprio Estado como: a impunidade que goza a
classe politica dominante, em relação ao incumprimento das promessas, eleitorais e à
não responsabilização pelas consequências dos actos cometidos no exercício do poder
politico; os maus exemplos éticos transmitidos aos jovens através da impunidade que,
em regra, usufruem os poderosos (a nível económico e politico) quando cometem
crimes económicos, quer se trate de corrupção e/ou evasão fiscal) Menezes (2010, p.
54). Este autor aponta ainda factores ligados a própria política educacional no que diz
respeito aos paradigmas educacionais dominante que, praticamente, se limita à
transmissão dos conhecimentos compartimentados e por disciplina; a deterioração da
imagem do professor; as elevadas taxas de insucesso escolar; as salas de aula
superlotadas; a falta de perspectivas de vida futura para os jovens; as normas
disciplinares dentro de cada escola e muitas vezes pouco claras na perspectiva do aluno
ou seja ambíguas e as exigências disciplinares que variam de professor para professor.
Por outro lado Carneiro (2001, p.42) corrobora com Menezes e reforça com mais
alguns elementos: a desestruturação familiar em decorrência da péssima distribuição
da renda; a ausência dos pais ou seja a fuga a maternidade e a paternidade; o consumo
de drogas por parte de alguns jovens; a escassez de valores éticos e a ausência de
limites, factores que impulsionam a indisciplina e as vezes a criminalidade; a formação
de gangues.
Como se pode ver a par dos vários factores da indisciplina escolar destacamos também
as carências sociais e económicas de certos alunos que podem estar na origem de uma
certa revolta e inconformismo que se alastra e repercute na sala de aula e té mesmo
28
acontecer que outros alunos, provenientes de famílias com razoável poder económico,
não encontrem razões para se empenhar, especialmente quando não encontram
motivos para aceitarem fazer esforços e dedicação que a própria vida escolar exige.
Por outro lado, está também o desinteresse da família que não valoriza a própria escola
ou seja não participa na vida escolar dos seus educandos.
Na sala de aula o professor se relaciona com o grupo de alunos. Ainda que o professor
necessite atender um aluno em especial ou que os alunos trabalhem individualmente,
a interacção deve estar voltada para a actividade de todos os alunos em torno dos
objectivos e do conteúdo da aula. Nesse sentido, o professor exerce uma autoridade,
fruto de qualidade intelectuais, morais e técnicas. Ela é um atributo da condição
profissional professor e é exercida como um estímulo e ajuda para o desenvolvimento
independente dos alunos.
29
O professor estabelece objectivos sociais e pedagógicos, seleciona e organiza os
conteúdos, escolhe métodos, organiza a sala de aula. Entretanto, essas acções docentes
orientar os alunos para que respondam a elas como sujeitos activos e independentes.
A autoridade do professor e a autonomia dos alunos são realidades aparentemente
contraditórias, mas, de facto, complementares. O professor representa a sociedade,
exercido um papel de mediação entre o indivíduo e a sociedade.
Para Libâneo (2013, p.275) o trabalho docente se caracteriza por um constante vaivém
entre tarefas cognitivas colocadas pelo professor e o nível de preparação dos alunos
para resolverem as tarefas. Para isso, o professor deve cuidar de apresentar os
objectivos, os temas de estudo e as tarefas numa forma de comunicação compreensível
e clara. Deve esforçar-se em formular perguntas e instruções verbais que os alunos
possam entender. Apesar de o processo de ensino-aprendizagem ser condicionada por
outros factores. Mas as formas adequadas de concorrem positivamente para a
interacção professor-aluno.
O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também ouve
os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor
30
opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e as
opiniões dos alunos mostram como eles estão reagindo à actuação do professor, às
dificuldades que encontram na assimilação dos conhecimentos. Servem, para
diagnosticar as causas que dão origem a essas dificuldades. Esta é uma das funções da
avaliação diagnóstica.
Por esta razão surge a necessidade do professor planear adequadamente as suas aulas,
orientando as actividades aí a realizar, criando pontos de interesse e motivação de
modo a prevenir potenciais focos de comportamento indisciplinado dos seus alunos
(Caeiro & Delgado, 2005, p. 76-77).
31
Em qualquer interacção interpessoal, as actividades separadas dos participantes são
coordenadas de tal forma que podem ser referidas como entidades unitárias
individuais: uma conversa, uma briga ou qualquer actividade conjunta que dependa
igualmente do comportamento de ambos os participantes. As além das famílias e
professores, os pares também desempenham papéis poderosos no desenvolvimento do
sujeito.
De acordo Santrock (2009, p. 85) uma das mais importantes funções do grupo de pares
é prover uma fonte de informação e comparação sobre o mundo da família. Boas
relações entre pares são necessárias ao desenvolvimento normal. Já Roff, Sells e
Golden referidos Santrock (2009 p.85) num estudo defenderam que relações pobres
entre pares na infância foram associadas com evasão escolar e comportamentos
disruptivos. Em outro estudo, relações harmoniosas entre pares na adolescência foram
relacionadas à saúde mental positiva quando adulto.
Neste sentido é perceptivel que as relações entre pares podem influenciar tanto as
crianças quanto adolescentes positiva ou negativamente. Percebe-se também que a
pressão entre pares está fortemente relacionada a comportamentos de indisciplina e
outros conflitos no âmbito escolar.
32
parecem influenciar, por sua vez, o tipo de relações que a criança, adolescente ou
jovem estabelece com seus pares.
O papel das relações entre pares no desenvolvimento das habilidades sociais foi
salientado Hartup (1996) mencionado por Michel & Ouakil (2006, p. 197). É
igualmente a identificação das expectativas do outro ou seja a relação entre pares e o
desejo de se lhes conformar que conduz o sujeito a adaptar condutas sociais
culturalmente valorizadas.
Compreende-se também que este investimento na educação tem a sua razão de existir,
os espaços escolares devem satisfazer as necessidades da organização escolar, tendo
em atenção a prevenção da indisciplina e outros conflitos em contexto escolar, com a
consequente instabilidade emocional na sala de aula. Ainda dentro do contexto da sala
de aula, é importante salientar a figura do aluno líder da turma.
33
pode ser uma influência nefasta em alguns colegas, desestabilizando o clima da sala
de aula e aumentando o mal-estar na turma, chegando mesmo a criar divisões e
conflitos internos entre os alunos.
Dentre estes contextos podem se destacar três: a família, os pares e a escola. Ainda de
acordo a esta teoria, as relações entre a escola e a família são um importante
mesossistema: referem-se às ligações aos microssistemas (família e do grupo de
companheiros), o que acontece num pode perfeitamente afectar o que acontece no
outro, e como tal, os relacionamentos entre eles devem também ser tomadas em
consideração. O mesmo se passa entre a família e a escola: ligações entre estes dois
sistemas são inúmeras e a experiencia num pode afectar profundamente a experiencia
do sujeito (aluno) no outro Santrock (2009, p. 76) .
A escola é uma instituição que tem a função de educar, segundo programas e planos
sistemáticos, os sujeitos nas diferentes idades da sua formação. Segundo Brito (1998),
a escola como organização é uma entidade social complexa onde se inter-relacionam
34
várias estruturas e múltiplos intervenientes: alunos, docentes, pessoal não decente, pais
e encarregados de educação e a comunidade em geral, contribuindo todos para uma
mesma finalidade e missão.
A família é o núcleo fundamental da sociedade, qualquer que seja o meio familiar têm
obrigações perante seus filhos no sentido de dar respostas às necessidades durante a
sua escolarização. Assim, os pais devem encaminhar seus filhos a escola com vista à
sua aprendizagem, portanto, devem ser agentes participativos e que influenciam na
socialização do indivíduo no contexto sempre com as normas de conduta e civismo.
Davies referido por Menezes (2010, p. 59) destaca que a relação escola-família
«contribui para a educação e o desenvolvimento das crianças e para a formação de
cidadãos responsáveis e activos com oportunidades de exercer as competências
necessárias ao exercício da cidadania numa sociedade democrática». Estudos apontam
que existem dois aspectos a se ter em conta na relação escola-família que são o
gerenciamento familiar e o envolvimento dos pais e/ou encarregados de educação.
Autores como (Chira, 1993; Epistein, 2001, 2005, Sheldon, 2006) ressaltam a
importância do envolvimento dos pais na educação dos seus filhos. Sendo que de
acordo a uma pesquisa professores posicionaram em primeiro lugar o envolvimento
dos pais na melhoria educação dos filhos. Nesse contexto a especialista em educação
Joyce Epistein (2005) explica que quase todos os pais querem que seus filhos sejam
35
bem-sucedidos na escola, mas precisam de informação clara e útil de seus professores
e de outros líderes escolares e distritais de forma a ajudarem seus filhos a desenvolver
seu pleno potencial. No entanto nem sempre as escolas definem objectivos ou
implementam programas eficazes para fazer com que o envolvimento ocorra. Desta
forma, o baixo nível de envolvimento dos pais preocupa os educadores porque isso
está relacionado ao baixo nível de aprendizagem dos estudantes. `e provável que
conversas ou tarefas de casa possibilitem aos estudantes partilhar ideias e comemorar
o sucesso sejam promotores de interacções positivas entre escola-pais-filhos.
Segundo Menezes (2010, p. 58), “o que se tem contatado na nossa realidade é que a
colaboração entre a escola e a família situa-se quase exclusivamente no domínio da
burocracia e não na aprendizagem dos alunos, essencialmente pelo facto de existirem
muitas divergências e dúvidas em relação aos papéis e funções dos actores
directamente envolvidos (directores, professores e famílias) ”. Nesse contexto, a
postura de defesa da relação escola-família não se confina as reuniões periódicas entre
a escola e os encarregados de educação para a entrega de avaliações ou para resolução
de casos de indisciplina, para além de ser uma questão de bom senso, baseia-se nos
princípios e valores preconizados para a uma escola democrática, caracterizada por
privilegiar as interacções espontâneas e escolares, entre alunos, entre famílias e
professores, portanto assente no sistema de relações que inclua a comunidade
educativa, com planos de acção e estratégias de actuação.
Epistein referida por Menezes (2010, p. 63), apresenta a tipologia que permite
identificar seis tipos de envolvimento familiar, como se segue: Tipo 1- Função
parental/obrigações das famílias (as escolas devem garantir e consciencializar as
famílias para que estas proporcionem bem estar físico e afetivo aos seus educandos);
Tipo 2- Comunicação escola-família (as escolas devem prestar informações às famílias
sobre as rotinas da vida escolar, os programas, os regulamentos, as reuniões a que
devem participar, os progressos dos educandos, etc.) Tipo 3- Voluntariado na escola
(as escolas devem promover actividades com apoio voluntário das famílias, acções de
formação para encarregados de educação, etc.) Tipo 4- Aprendizagem em casa
(diálogo para que a escola sensibilize as famílias no apoio aos estudos dos educandos);
Tipo 5- Participação na tomada de decisões (influenciarem as famílias no sentido de
36
participarem nas tomadas de decisão) e Tipo 6- Colaboração com a comunidade
(promover o diálogo entre famílias, escolas e poder local).
Desta forma, torna-se evidente ressaltar que a relação escola-família tem grande
impacto no comportamento dos estudantes o que pressupõe dizer que, um aluno que
não tenha a participação efectiva da família no seu percurso estudantil pode
desencadear comportamentos de indisciplina ou até de fraco aproveitamento como:
notas baixas, pouca frequência as aulas, a falta de material didáctico, a não realização
das tarefas, a falta de uniforme, vestuários indecentes entre outros.
Comunidade educativa e projecto educativo são dois conceitos que põem em crise
directores e até professores. É simples entender que isto acontece quando as pessoas
acomodam-se a um tipo de organização e gestão escolar e não se predispõem em
enfrentar a frustração que muitas vezes a mudança é portadora, não ousam correr
riscos.
37
entende surgir pelo facto de muitos actores sociais não possuírem ideias claras sobre
o referido projecto e a sua aplicabilidade na instituição escolar. Todos os normativos
na escola têm a sua importância e especificidade, mas nenhum deles substitui o
projecto educativo.
A escola é um bem de carácter social cuja missão lhe é atribuída pela sociedade e as
famílias a fim de educar e instruir as novas gerações, de modo tal que estejam
preparadas para enfrentar os desafios da sociedade em mutação. De acordo com Luck
referido por Ventura & Gonçalves (2014, p. 10) “cabe a escola possibilitar aos alunos
conhecer a forma efectiva, perspicaz e critico-analítica, o mundo, e a si mesmo nesse
mundo, ao mesmo tempo em que desenvolvem competências cognitivas e
psicológicas, auto-estima e autoconfiança”.
38
Os laços são suficientemente fortes, de modo que levam os indivíduos a fazerem a
passagem de um, “eu” a um “nós” colectivo. E enquanto “nós” os membros são parte
de uma estreita rede de relações significativas”.
39
um projecto educativo próprio que reflete a sua realidade e os seus ideais, tendo como
pressuposto a participação dinâmica de todos dos vários intervenientes da escola sem
por de lado o envolvimento da comunidade em que a escola está inserida.
De acordo com o pensamento de Costa (1991, p.10) define projecto educativo como
“um documento de carácter pedagógico que, elaborado com a participação da
comunidade educativa, estabelece a identidade de cada escola através da adequação
do quadro legal em vigor á sua situação concreta, apresenta o modo geral de
organização e os objectivos pretendidos pela instituição, e enquanto instrumento de
gestão, é o ponto de referência orientador na coerência e unidade da acção educativa”.
40
autónoma, com uma unidade social com identidade própria, e com uma
responsabilidade social que não se pode deixar de refletir em torno dos meios que
garantem o seu funcionamento efectivo. É de extrema importância que os seus
intervenientes tenham consciência do seu papel para o sucesso educativo dos alunos.
Wright (2001) citado por Blaya (2006, p. 77) reforça que, muitas vezes, os docentes
contribuem para a construção de uma identidade diferente, adaptando atitudes e um
controlo da indisciplina na sala de aula diferentes, consoante as características sociais.
Um dos grandes problemas do ensino médio é que os alunos não encontram sentido de
estar tantas horas na sala de aula e de aprender os conteúdos que lhes são impostos. Os
alunos pensam no agora, esquecendo a utilidade e a repercussão que podem ter as
coisas, que estão a fazer no presente, no seu futuro Ortega & Del Rey (2002, p. 126).
Muitos problemas que surgem entre os alunos podem ser provocados porque as
expectativas que uns têm dos outros são errôneas, ou, pelo menos, diferentes.
Aprofundar o significado da amizade e do companheirismo pode valorizar um bom
clima de convivência na sala de aula (p.139-140).
Para Ortega & Del Rey (2002, p. 143-147, o conflito emerge em toda situação social
em que se compartilham espaços, actividades, normas e sistemas de poder e a escola é
uma delas. As relações interpessoais produzem tensões entre os grupos e as pessoas,
quando estas devem frequentar os mesmos cenários, submeter-se a normas comuns e
realizar actividades em conjunto, de forma quotidiana.
Estas autoras defendem ainda que, um estabelecimento escolar, que construa uma
cultura de diálogo e de negociação diante da tomada de decisões e que dedica tempo e
espaço a isso, tende a ser uma comunidade em que os conflitos interpessoais não se
fixam nem se paralisam a convivência. Infelizmente, mesmo em estabelecimentos
41
escolares que dispõem de uma ideologia positiva diante dos conflitos, surgem, entre
as pessoas e os grupos, certas disputas que são vistas pelos protagonistas como de
difícil solução pela forma espontânea; nestes casos, é preciso pensar numa estratégia
a mediação.
Para Gorbenã & Arregui (s/d, p.87) a mediação apresenta-se como uma ferramenta a
mais num conjunto de estratégias destinadas a melhorar a convivência na escola e
educar para a resolução de conflitos. Sendo que o programa de mediação escolar
implica a criação e o desenvolvimento, na escola, de um serviço de mediação para
resolução de conflitos entre os diferentes colectivos da comunidade educativa (alunos,
professores, pais). Os programas de mediação de conflitos entre iguais são ferramentas
a serviço de um modelo de convivência pacífico baseado na participação, na
colaboração e no diálogo.
Como se pode ver a mediação é uma estratégia específica para resolução de conflitos
(indisciplina) entre alunos. A par dela existem outras formas de resolução de conflitos
como evoca Caeiro & Delgado (2005, p.68):
42
− Melhorar os espaços escolares de forma a satisfação de todas as necessidades
da organização escolar;
− Formar professores tendo em conta a importância da relação pedagógica;
− Incentivar a participação dos pais e encarregados de educação, contribuindo na
resolução de conflitos.
Para Velez (2010, p.76-77) afirma que a coexistência de regras pode resultar em acções
contraditórias e incoerentes, susceptíveis de causar alguma confusão quanto às regras
pelas quais professores, pais e alunos se devem orientar. Sampaio (1996) citado por
Velez (...) propõe seis medidas para resolver equívocos que caracterizam a indisciplina
nas escolas:
43
− Melhoria da comunicação entre professores e alunos: “ os professores
necessitam de criar espaços de diálogo nas suas aulas, de modo a despertar
novos interesses nos alunos e de forma a terem com eles uma relação afectiva,
mediada por qualquer coisa que não o curricular”;
− Maior envolvimento dos pais junto dos seus filhos, pois “ o que se passa em
casa influencia o comportamento do aluno na escola”;
− Promover na escola actividades que mantenham os alunos constantemente
ocupados;
− Existência de conteúdos programáticos dirigidos aos interesses dos alunos;
− Procurar perceber as razoes da indisciplina, pois no contexto escolar todo
comportamento disruptivo tem um sentido relacional.
Depois de uma incursão sobre as estratégias de prevenção da indisciplina, é ponto
assente que assim como a mediação as formas de resolução da indisciplina e outros
conflitos no âmbito escolar passam necessariamente pelo diálogo, a comunicação e a
melhoria no relacionamento entre pais, professor e alunos podem trazer vantagens,
contribuindo consideravelmente para diminuir os casos numerosos em casos e
situações de indisciplina, pois, para compreender o universo da criança e jovens é
imperioso que pais e professores dialoguem e partilhem suas experiências. É
necessário que o professor seja competente, tenha suas aulas bem planeadas, promova
o diálogo. Porem, apesar destas medidas os casos de indisciplina podem acontecer.
Nesse sentido criar regras de convivência claras, promover e melhorar o clima
relacional entre os vários actores do processo de ensino-aprendizagem é
imprescindível para minimizar as situações de indisciplina.
44
CAPÍTULO III- METODOLOGIA DE PESQUISA
3.1- Pesquisa qualitativa
O presente trabalho tem como enfoque a indisciplina escolar e como já observamos
ela é um problema com grande relevância no quotidiano escolar; uma questão que
ultrapassa barreiras. Ou seja é um prolema universal. Assim sendo, a nossa pesquisa
pretende compreender a percepção que gestores, professores e alunos têm das
representações sociais sobre indisciplina escolar no ensino médio. Estudo baseou-se
na investigação qualitativa, visto que os métodos qualitativos têm como objectivo a
compreensão mais profunda dos problemas, é investigar o “interior” de certos
comportamentos, convicções, crenças, atitudes, sentimentos, etc. neste sentido o
investigador não está preocupado com a dimensão das amostras nem com a
generalização dos resultados. O termo investigação qualitativa agrupa diversas
estratégias de investigação que partilham de determinadas características. Os dados
são designados por qualitativos, o que significa ricos em pormenores descritivo a
pessoas, locais e conversas.
Optou-se pela pesquisa qualitativa por entender que, ao se orientar pelo enfoque
qualitativo, o pesquisador tem ampla liberdade teórico-metodológica para realizar o
estudo. A investigação qualitativa exige o cumprimento de determinadas etapas. Estas
começam pela exploração dos dados e terminam pela descoberta ou formulação de
novos conhecimentos (Simões, 2016, p.23)
Segundo Bogdan e Biklen (1994) referidos por Arantes (2010, p. 126), os dados são
interpretados e não simplesmente enumerados. Analisam-se os dados em toda a sua
riqueza, respeitando-se, tanto possível, os dados quantitativos por meio de reflexões
sobre relações, sequências e explicações. Eles são contextualizados de forma sócio-
histórica, económica e política para serem analisados.
45
3.1- Procedimentos
O levantamento documental e bibliográfico é subsídio importante para a análise de
discurso que permitem uma melhor uma melhor explicação do texto escrito e do seu
discurso ideológico. Esta técnica consiste na leitura de vários livros e documentos
existentes sobre nosso objecto de estudo.
A pesquisa de campo foi realizada por meio de entrevistas exploratórias com alunos,
professores e a direcçao da escola. Pois na optica de Quivy e Compenhoudt (2013,
p.79), as entrevistas exploratórias permitem fazer uma ruptura com os nossos
preconceitos ou as nossas pré-noções sobre o objecto de estudo. De acordo com estes
autores:
Esta etapa permitiu-nos ter uma visão geral do quotidiano na escola em estudo, e
fazermos uma reflexão minunciosa, crítica e objectiva do modus vivendi da mesma.
Para a recolha de dados, usou-se a técnica de entrevista aprofundada por
explicitamente ser uma técnica de pesquisa qualitativa e o seu carácter exploratório
torna-a apta para qualquer tipo de investigação, que permite analisar as opiniões, as
opiniões dos entrevistados sobre diferentes aspectos da vida a nível pessoal, familiar,
social, económico, entre outros.
De acordo com Lewis (2013, p. 39) menciona que através da técnica de entrevista
aprofundada, os entrevistados “ podem percorrer sistematicamente sobre uma vasta
série de assuntos: lembranças mais longínquas, seus sonhos, suas esperanças, seus
46
familiares, suas concepções sobre justiça, a religião e a política; seus conhecimentos
geográficos, históricos e sua visão sobre o mundo”.
O complexo escolar 3106- é uma parceria celebrada entre a Igreja Assembleia de Deus
Pentecostal e a Direcção Provincial da Educação de Luanda, em 16 de Abril de 1999,
Diário da República I sérienº1046/99 e localiza-se no bairro dos ossos. A escola conta
com a seguinte força de trabalho:
− Um Director Geral;
− Um Subdirector Administrativo;
− Uma Subdirectora Pedagógica;
− Um Chefe de secretária;
− Uma secretária para secretária Geral;
− Uma secretária para área Pedagógica;
− Três técnicos de informática para a área administrativa;
− Sessenta e dois (62) professores;
− Cinco (5) Auxiliares de Limpeza;
− Seis (6) Agentes de Auto Protecção
Assim, a instituição conta com uma força de trabalho de oitenta e seis (86) efectivos.
47
Ela é constituída por gabinete do Director Geral, um gabinete administrativo, um
gabinete pedagógico, uma secretaria, 18 salas de aulas, seis WCs alguns pertencentes
a igreja e uma guarida. Funciona em três turnos (1º Manha; 2º Tarde; e 3º Noite) e
lecciona os dois ciclos do nível secundário (I ciclo - 7ª, 8ª e 9ª classes/II ciclo- 10ª, 11ª
e 12ª classes) bem como a educação de adultos desde a alfabetização a pós-
alfabetização (módulos 1, 2 e 3).
− Decreto de criação;
− Regulamento das escolas do ensino geral;
− Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino (17/16 de 7 de Outubro).
− Currículos do 1º e 2º ciclos
− Calendário Escolar Nacional;
− Projecto Educativo de Escola (PEE);
− Plano Anual de Actividades (PAA);
− Programas das diferentes disciplinas;
− Guias de estudo;
− Documentos de registos: pautas, termos de frequência e cadernetas e um banco
de dados (para os professores).
3.4- Amostra
Tendo em conta a questão de estudo e os objectivos da pesquisa, a nossa amostra foi
de cinco (5) professores e cinco (5) alunos e a Directora pedagógica.
48
Tabela nº1- Características sociodemográficas dos entrevistados
49
(3) família; (4) influência social; (5) socialização; (6) relação professor-aluno; (7)
relação professor-família e (8) políticas de gestão da indisciplina escolar.
Nº Temas Sub-temas
1 Perfil do professor Carácter, docente
2 Regras de convivência Normas, convívio, familiaridade
3 Família Linhagem, parentes, uniao
4 Influência social Autoridade, domínio, exercer
influencia
5 Socialização Socializar, processo de aprendizagem
6 Relação professor-aluno Conexão, convivência entre as
pessoas, docente, discípulo, que
recebe instruções
7 Relação professor-família Conexão, convívio entre as pessoas,
docente, linhagem
8 Políticas de gestão da indisciplina Estratégias, administração,
escolar desobediência, desacato
Elaborada pela autora.
50
consentimento verbal. Todos os entrevistados tiveram a liberdade de poder ou não
participar da entrevista, foi-lhes explicados previamente os objectivos da pesquisa.
51
CAPÍTULO IV- APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E
INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Tendo em conta que o carácter da nossa pesquisa se situa na abordagem qualitativa,
apresentamos neste capítulo a análise e interpretação dos dados encontrados em torno
das representações sociais sobre indisciplina escolar no ensino médio, no Complexo
Escolar 3016- Ebenezer, Distrito do Hoji-ya-Henda, resultado dos obtidos junto dos
entrevistados na pesquisa de campo. Para respondermos a questão de estudo (como se
caracterizam as representações sociais da indisciplina escolar no ensino médio?),
fizemos uma análise temática das informações recolhidas, conforme se segue:
Menezes (2010, p.41) afirma que o professor é um dos maiores trunfos da escola e está
presente em todos os discursos sobre educação. Independentemente das razões, sejam
elas boas ou más, em contexto educacional evoca-se sempre a figura do professor.
52
Durante a pesquisa interessou-nos saber em primeira instância sobre o que os
entrevistados achavam sobre o perfil do professor, o que mostrava que para eles é sim
importante que o professor tenha uma postura adequada e conhecimentos sólidos sobre
pedagogia e a disciplina que leciona concretamente. Os discursos dos entrevistados
mostravam exatamente esta abordagem:
“ Sim contribui muito. Porque se um professor tiver uma boa postura e adoptar todos
os métodos necessários logo terá auto domínio e saberá como lidar com cada tipo de
aluno. Caso contrário pode contribuir para indisciplina”. (19 anos de idade, 12ª
classe).
Algumas normas são específicas de um grupo e podem não ser válidas para todos. Ela
comporta juízos de valor e, apresenta-se sob a forma de imperativos cuja inobservância
implica sanções difusas ou claramente enunciadas. Seja a norma implícita ou explícita,
constata-se que o seu efeito é engendrar uma certa uniformidade. Mas ela encontram
seres humanos que não se dobram com toda a precisão que se espera; mais do que isso,
elas mesmas evoluem: algumas caem no esquecimento, outras deixam de ser
53
partilhadas pela maioria, caso em que passam a aparecer como arbitrarias (Fischer,
1996, p. 80-85).
Como se pode ver, os indivíduos apoiam-se nas regras de convivência que regem os
comportamentos e levam-nas em conta para estarem socialmente adaptadas. Como é
o caso da escola que é também uma instituição com regras que contribuem para o
controlo do comportamento indisciplinado e de outros conflitos no âmbito escolar.
Observemos então os depoimentos a seguir:
54
4.3- Família
A família é entendida como uma unidade nuclear na qual as pessoas possuem laços de
parentesco ou afinidade, formando um grupo doméstico que convive sob o mesmo
tecto. A família é considerada uma instituição responsável por promover a educação
dos seus filhos e influenciar o comportamento dos mesmos no meio social. O papel da
família no desenvolvimento de cada indivíduo é capital importância. É no seio familiar
que são transmitidos os valores morais e sociais que servirão de suporte para o
processo de socialização do sujeito, bem como as tradições e os costumes perpetuados
através das gerações Santrock (2009, p. 76).
“Eu digo sim. Porque é na família onde a criança, individuo vai ter
primeiras atitudes, as regras de higiene, como ela se deve apresentar na
sociedade, que linguagem usar quando está no meio social isto tudo quem
deve ensinar é a família. Porque a família é o órgão principal para a
transmissão dos conhecimentos, a educação, as regras de convivência”
(20 anos de idade, 12ª).
A família é o núcleo fundamental da sociedade, qualquer que seja o meio familiar têm
obrigações perante seus filhos no sentido de dar respostas às necessidades durante a
sua escolarização. Assim, os pais devem encaminhar seus filhos a escola com vista à
sua aprendizagem, portanto, devem ser agentes participativos e que influenciam na
socialização do indivíduo no contexto sempre com as normas de conduta e civismo.
Com efeito, família tem um papel preponderante na vida quotidiana dos seus
educandos pois a fraca participação dos pais pode contribuir para o baixo aprendizado
e até desencadear comportamentos de indisciplina. Ela deve estabelecer rotinas de
trabalho e de supervisão para os seus educandos nomeadamente: horários para as
tarefas escolares, os afazeres domésticos e até o horário de dormir.
O estudo dos fenómenos sociais revela a tendência dos sistemas para a integração e
para a uniformização social, através da capacidade dos indivíduos de incorporar os
elementos numa cultura. Como se pode observar, a imitação é processo social
fundamental. Ela tem carácter dinâmico e selectivo; ela é a transformação do
comportamento individual em comportamento social Tarde citado por Fischer (1996,
p.78).
De acordo aos nossos entrevistados é fácil perceber que o professor tem sim um grande
poder para influenciar quer positiva quer negativamente seus alunos; a sua postura na
sala de aula, o domínio do conteúdo, o que fala e como fala, a capacidade que o
professor tem no exercício da autoridade mas sem descurar a autonomia do aluno pois,
professor representa a sociedade, exercendo um papel de mediador entre individuo e
sociedade. Outrossim é a relação que o aluno tem com os pares pois, para além da
56
família e professores o aluno interage com este grupo de pares que desempenham
papéis poderosos no seu desenvolvimento psico-cognitivo.
A interação com os pares desempenha um papel único no seu desenvolvimento socio-
emocional. Sendo que uma das mais importantes funções do grupo de pares é conferir
uma fonte de informação e comparação sobre o mundo fora da família.
Desta forma as relações entre pares podem influenciar tanto crianças quanto
adolescentes a desenvolver problemas de comportamento propriamente de indisciplina
escolar.
4.5- Socialização
Para a para a psicologia social, o ser humano é um ser relacional pois as relações
definem um aspecto essencial do seu ser social. Qualquer indivíduo que se encontra
desta ou daquela forma ligado aos outros, pais, irmãos, instituições, grupos etc. está
pois inserido num tecido social que o envolve, orienta a sua acção e define a sua
sociabilidade (Fischer, 1996, p.49-51).
A relação social ocorre de várias formas dentre elas a socialização. Entende-se por
socialização o processo de aprendizagem que um individuo faz das atitudes, normas e
valores próprios de um grupo, operando-se a sua integração social por meio das
relações vividas (Fischer, 1996, p. 76). A noção de socialização inclui assim, o
desenvolvimento da sociabilidade, isto é os diferentes tipos de aprendizagem aos quais
um individuo é submetido.
57
regras de convivência e assim seremos vistos como indisciplinados ou
disciplinados nas outras esferas da sociedade” (19 anos de idade, 12ª
classe).
É possível verificar que a socialização se constrói através das relações sociais que o
sujeito estabelece com os que o rodeiam, pois ela permite ao mesmo sujeito, ter novas
experiências de interacção. Neste contexto o indivíduo por meio da socialização pode
adquirir novas formas de comportamento social principalmente no que diz respeito a
mudança de atitudes como é caso da indisciplina escolar ou seja o estudo mostram que
a socialização depende da sociabilidade do ser humano que se exprime em torno de
três necessidades fundamentais: a necessidade de inclusão, a necessidade de controlo
e a necessidade de afecto.
“Infelizmente este é o elemento que não existe. Boa convivência entre professor
e a família. Dificilmente o professor conhece a família do estudante e seria bom
se o professor conhecesse a família do estudante, contribuiria em grande parte
para moldar a postura do estudante na escola porque o que é que nós notamos
58
o estudante na escola adopta um comportamento e em casa apresenta outro”
(43 anos de idade, Licenciado.
Como espelha a realidade é urgente que se criem laços entre professor e a família pois,
o professor é a entidade da escola que está directamente ligado ao aluno
(comportamento, rendimento e outros aspectos da dimensão humana do aluno). Neste
contexto percebe-se a educação é um processo que deveria ser encorajado por pais e
professores. Ainda assim há famílias que vem a educação co tarefa exclusiva do
professor.
59
Como se pode ver, a sala de aula é o principal contexto onde acontece o processo de
ensino-aprendizagem baseada na interacção social entre os seus intervenientes
professor-aluno tendo em conta as regras de convivência aí impostas, o professor
simboliza a autoridade que estabelece o clima na sala de aula, as condições de
interacção social e a natureza do funcionamento da turma. Sendo assim é de capital
importância que o professor desenvolva competências que facilitem a relação efectiva
entre eles.
“Ter uma conversa com este estudante de modo que muitas vezes o que eles
reportam é uma situação familiar, que transportam para escola e acontecem
esses desvios de comportamento. Muitas vezes não é do próprio aluno mas é o
meio envolvente que causa estas situações. Por isso há uma necessidade antes
de punir o aluno analisar o tipo de indisciplina conversar com ele e através do
60
diálogo muitas vezes surge a mudança de comportamento” (50 anos de idade,
mestrando).
Na escola as regras por muito tempo, foram impostas de cima, com sanções ao final.
Este autor afirma ainda que durante muito tempo, somente alguns pedagogos
visionários, precursores ou fundadores da escola nova ousaram imaginar que era
possível negociar as regras com os alunos (Perrenoud 2000, p. 146).
61
CONCLUSÕES
No termo desta análise relativa as representações sociais sobre indisciplina escolar no
ensino médio no complexo escolar 3106 confirmamos a questão de estudo (como se
caracterizam as representações sociais da indisciplina escolar no ensino médio?).
Este estudo assentou-se na teoria das representações sociais pois a relação entre as
representações sociais e práticas escolares aplicam-se na medida em que o processo
educativo ocorrem em contesto social, onde há vários intervenientes que se relacionam
por meio da interação social ou seja, por um lado está a figura do professor que tem a
missão de mediar a construção do conhecimento e, por outro lado o aluno com
predisposição para participar na construção do seu próprio saber. Portanto há no
processo do ensino aprendizagem a partilha de ideias, crenças e objectivos.
O nosso estudo teve como objectivo principal compreender a percepção que gestores,
professores e alunos têm das representações sociais sobre indisciplina escolar no
ensino medio. Verificamos que a indisciplina escolar não e só um problema de sala de
aula ou da escola mas sim um fenómeno transcendental ou seja que ultrapassa
fronteiras portanto universal. Sendo assim ela não pode ser vista como uma questão
estrutural mas sim conjuntural pois congrega os vários intervenientes do processo –
aprendizagem: o aluno, a escola, a família, e o próprio governo. Portanto a indisciplina
e uma questão multidisciplinar.
62
As pesquisas confirmam ainda que as famílias hoje não tem tempo para participar em
pleno na vida escolar do seu educando dada a própria conjuntura social onde os pais
estão mas preocupado com o sustento da família ficando assim muitas horas fora de
casa sem tempo para fazer o devido acompanhamento. Razões que podem estar na
base da baixa aquisição dos conhecimentos e ao comportamento indisciplinado quer
dizer pode haver maior probabilidade de indisciplina entre estudantes que não tenham
acompanhamento dos pais.
Recomenda-se para essas famílias muitas delas de baixa renda ou ate mesmo com
precessão negativa sobre a escola e que mantenham os cuidados fora da escola quer
dizer devem estabelecer uma rotina familiar bem gerenciada com o horário para fazer
as tarefas de escola e os a fazeres de casa.
63
Todos os pais mesmos aqueles com um nível educacional considerável, precisam de
orientação dos professores sobre como permanecer produtivamente envolvido na
educação dos seus filhos. É necessário que os professores e gestores escolares
forneçam informações claras e uteis de forma a contribuírem no desenvolvimento do
potencial dos seus filhos.
Nesta ordem de ideias evoca-se também a influencia social como factor dominante
seja na relação entre pares e no processo de socialização do individuo ou seja pode
produzir mudança na conduta do sujeito em virtude da relação dinâmica entre as
pressões dominante no dado contexto e adaptação ao mesmo. Nesse contexto, a relação
que o estudante tem com os seus pares pode ser uma condicionante no seu
comportamento apresentando assim uma mudança de atitude e um comportamento
indisciplinado fruto da influência social e do próprio processo de socialização como
descreve muito bem a teoria de imitação social.
Nesse sentido podemos concluir que toda a interacção social não está isenta de
conflitos. Contudo, é imperioso que se criem politicas preventivas ou seja estratégias
de gestão da indisciplina por intermédio da mediação escolar com estratégia de
resolução de conflitos entre pares, e outra dinâmicas como o diálogo que promova a
participação dos pais e toda a comunidade educativa.
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Referências
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Piletti, C., & Piletti, N. (2018). História da Educação: de Confúcio a Paulo Freire.
São Paulo: Contexto.
Sá, C. P. (1996). Núcleo central das representações sociais (2 ed.). Rio de Janeiro:
Vozes.
Santrock, J. W. (2009). Psicologia Educacional (3 ed.). (D. Durante, M. Rosenberg,
& T. M. Ganeo, Trads.) São Paulo : MCGraw-Hill.
Schaffer, H. R. (1996). Desenvolvimento Social da Criança. Lisboa: Instituto Piaget.
Sil, V. (2004). Alunos em situação de insucesso escolar. Lisboa: Instituto Piaget.
Silva, J., & Pires, A. (1996). Ética na Investigação em Psicologia. Colóquio Europeu
de Psicologia e Ética (p. 181). Lisboa: ISPA.
Simões, A. (2016). Metodologia de Investigação Científica: A investigação
qualitativa (tomo I). Luanda: Mayamba.
Vala, J. (2013). Pensamento social e representações sociais. Em J. Vala, & M. B.
Monteiro, Psicologia Social (9 ed., pp. 7-30). Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.
Velez, M. F. (2010). Indisciplina e violência na escola: factores de risco - um estudo
com alunos do 8º e 10º anos de escolaridade. Dissertação de Mestrado,
Universidade de Lisboa: Instituto de Educação, Lisboa. Obtido em 12 de
Dezembro de 2019, de https://repositório.ul.pt
66
ANEXOS
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Guião de Entrevista
Caro professor
Estamos a entrevistá-lo (a) no sentido de nos facultar informações sobre a sua opinião,
no contexto de uma investigação para dissertação de Mestrado com o tema:
“Representações sociais sobre a indisciplina escolar no ensino médio”. Interessa-
nos saber, para além da sua idade, género, nível de escolaridade, etc. as opiniões sobre
representações sociais sobre a indisciplina escolar no ensino médio.
Pedimos assim que responda com sinceridade as questões que lhe vão ser expostas.
I. Dados pessoais
A idade______
O género____________
Nível académico_______________
Tempo de docência_____________
Classe que lecciona_____________
Indisciplina escolar
1. A convivência efectiva entre professor-aluno pode ser um recurso importante para
contornar a indisciplina?
2. A postura do professor na sala de aula contribui para que haja divergências na sala
de aula consequentemente indisciplina escolar?
3. O respeito pelas regras de convivência contribuem para minimizar a indisciplina
escolar?
4. A convivência com a família é fundamental para contornar a indisciplina?
5. Considera que as divergências sociais, económicas, históricas e culturais entre
alunos contribui para a indisciplina escolar?
I
Caro aluno
Estamos a entrevistá-lo (a) no sentido de nos facultar informações sobre a sua opinião,
no contexto de uma investigação para dissertação de Mestrado com o tema:
“Representações sociais sobre a indisciplina escolar no ensino médio”. Interessa-
nos saber, para além da sua idade, género, nível de escolaridade, etc. as opiniões sobre
representações sociais sobre a indisciplina escolar no ensino médio.
Pedimos assim que responda com sinceridade as questões que lhe vão ser expostas.
I. Dados pessoais
A idade______
Sexo____________
Classe que frequenta_______________
Indisciplina escolar
1. Considera claras as regras de convivência estabelecidas pela escola?
2.Que significado têm as regras de convivência no seu quotidiano?
3. Como interpretar as divergências no relacionamento entre professor-aluno?
4. Será que a postura do professor na sala de aula contribui para que haja divergências
na sala de aula consequentemente indisciplina escolar?
5. O respeito pelas regras de convivência contribuem para minimizar a indisciplina
escolar?
6. O desrespeito pelas diferenças de cada um contribui para que haja indisciplina?
7. A convivência com a família é fundamental para contornar a indisciplina?
8. A convivência do aluno com as novas tecnologias de informação contribui para o
aumento da indisciplina escolar?
9. Acha que há divergência entre professor-aluno na percepção da indisciplina escolar?
II
Caro gestor
Estamos a entrevistá-lo (a) no sentido de nos facultar informações sobre a sua opinião,
no contexto de uma investigação para dissertação de Mestrado com o tema:
“Representações sociais sobre a indisciplina escolar no ensino médio”. Interessa-
nos saber, para além da sua idade, género, nível de escolaridade, etc. as opiniões sobre
representações sociais sobre a indisciplina escolar no ensino médio.
Pedimos assim que responda com sinceridade as questões que lhe vão ser expostas.
I. Dados pessoais
A idade______
Sexo____________
Nível académico_______________
Indisciplina escolar
1. Como lida com a indisciplina escolar enquanto gestor?
2. Que estratégias tem sido usadas para contornar a indisciplina escolar?
3.Que significado têm as regras de convivência no quotidiano escolar?
4.Que acções tem sido desenvolvidas para o controle da indisciplina na escola?
6. A comunidade e os alunos participam na elaboração do projecto educativo de
escola?
III
Pedido de autorização
A signatária
…………………………………..
Ruth Gregório dos Santos Miguel
IV
UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
Faculdade de Ciências Sociais
Departamento de Psicologia
Termo de consentimento
Garantimos que os dados recolhidos estarão sob sigilo profissional e que a vossa
integridade física e psicológica não serão afectadas.
A PESQUISADORA O ENCARREGADO
_____________________________ __________________________