Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Rev Sist Ok

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 23

Sistemática

Revisão
Processamento auditivo central em
crianças e adolescentes com TDAH:
uma revisão sistemática
Central auditory processing in children and adolescents with
ADHD: a systematic review

Procesamiento auditivo central en niños y adolescentes con


TDAH: una revisión sistemática

Zandonaity Soares Teixeira de Assis1, Joel de Braga Júnior2,


Maria Madalena Canina Pinheiro3, Georgea Espindola Ribeiro4,
Daniela Polo Camargo da Silva5

1.Fonoaudiólogo. Departamento de Fonoaudiologia do Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal


de Santa Catarina. Florianópolis–SC, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7122-4544
2.Fonoaudiólogo. Departamento de Fonoaudiologia do Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal
de Santa Catarina. Florianópolis–SC, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6500-9581
3.Fonoaudióloga, Doutorado. Professor Adjunto do Departamento de Fonoaudiologia do Centro de Ciências
da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis–SC, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-
0003-1726-9703
4.Fonoaudióloga, Doutorado, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade
Estadual Paulista – Júlio de Mesquita Filho. Botucatu–SP, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3969-
5252
5.Fonoaudióloga, Doutorado, Professor Adjunto do Departamento de Fonoaudiologia do Centro de Ciências
da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis–SC, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-
0003-2082-9361

Resumo
Introdução. O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) está associado a
déficits cognitivos, podendo ser compartilhados com outras condições, como no Transtorno do
Processamento Auditivo Central (TPAC). Objetivo. Analisar os achados da avaliação do
processamento auditivo central (PAC) em crianças e adolescentes com TDAH. Método. Trata-
se de uma revisão sistemática. A pergunta norteadora foi elaborada com base na estratégia
PECOS: “Há alterações nos testes comportamentais do PAC em crianças e adolescentes com
TDAH?”. Foram identificados estudos indexados nas bases de dados: Pubmed/MEDLINE,
Scopus, Web of Science, LILACS, LIVIVO, Proquest e Google Scholar. Foram selecionados
estudos observacionais, de qualquer idioma, sem restrições de data de publicação.
Resultados. A estratégia de busca recuperou 1233 artigos, após a remoção dos duplicados
(522), foi feita a leitura de 711 títulos e resumos, e selecionados 38 para leitura na íntegra,
dos quais 13 atenderam aos critérios de elegibilidade. A habilidade de ordenação e resolução
temporal foi a mais comprometida, e o uso de medicação favoreceu o desempenho nos testes
do PAC. Conclusão. Os resultados apresentados por esta pesquisa evidenciam que há
alteração nos testes comportamentais do PAC em crianças e adolescentes com TDAH. A
habilidade auditiva frequentemente alterada nesses indivíduos foi o processamento temporal,
tanto resolução quanto ordenação temporal, e a maioria dos estudos mostrou baixo ou
moderado risco de viés.
Unitermos. Percepção Auditiva; Transtorno de Percepção Auditiva; Testes Auditivos;
Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade; Revisão Sistemática

Abstract
Introduction. Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) is associated with cognitive
deficits, which may be shared with other conditions, such as Central Auditory Processing
Disorder (CAPD). Objective. Analysing the findings of the assessment of central auditory
processing (CAP) in children and adolescents with Attention Deficit Hyperactivity Disorder
(ADHD). Method. This is a systematic review. The guiding question was created based on the
PECOS strategy: “Are there changes in CAP behavioral tests in children and adolescents with
ADHD?” Studies indexed in the following databases were identified: Pubmed/MEDLINE,
Scopus, Web of Science, LILACS, LIVIVO, Proquest and Google Scholar. Observational studies
were selected, in any language, without publication date restrictions. Results. The search
strategy retrieved 1233 articles, after removing the duplicates (522), 711 titles and abstracts
were read and 38 were selected for full reading, of which 13 met the eligibility criteria. The
temporal ordering and resolution ability was the most compromised and the use of medication
favored the performance in the CAP tests. Conclusion. The results presented by this research
show that there is change in the CAP behavioral tests in children and adolescents with ADHD.
The auditory skill frequently altered in these individuals was temporal processing, both
resolution and temporal ordering and most studies showed a low or moderate risk of bias.
Keywords. Auditory Perception; Auditory Perception Disorder; Hearing Tests; Attention Deficit
Disorder with Hyperactivity; Systematic Review

RESUMEN
Introducción. El trastorno por déficit de atención con hiperactividad (TDAH) se asocia con
déficits cognitivos, que pueden compartirse con otras afecciones, como el trastorno del
procesamiento auditivo central (TPAC). Objetivo. Analizar los hallazgos de la evaluación del
procesamiento auditivo central (PAC) en niños y adolescentes con TDAH. Método. Esta es una
revisión sistemática. A partir de la estrategia PECOS se creó la pregunta orientadora: “Hay
cambios en las pruebas de conducta PAC en niños y adolescentes con TDAH?” Se identificaron
estudios indexados en las siguientes bases de datos: Pubmed/MEDLINE, Scopus, Web of
Science, LILACS, LIVIVO, Proquest y Google Scholar. Se seleccionaron estudios
observacionales, en cualquier idioma, sin restricciones de fecha de publicación. Resultados.
La estrategia de búsqueda recuperó 1233 artículos, luego de eliminar duplicados (522), se
leyeron 711 títulos y resúmenes y se seleccionaron 38 para lectura completa, de los cuales 13
cumplieron con los criterios de elegibilidad. La capacidad de orden y resolución temporal fue
la más comprometida y el uso de medicación favoreció el desempeño en las pruebas PAC.
Conclusión. Los resultados que presenta esta investigación muestran que existen cambios en
las pruebas de conducta PAC en niños y adolescentes con TDAH. La capacidad auditiva
frecuentemente alterada en estos individuos fue el procesamiento temporal, tanto la resolución
como el ordenamiento temporal, y la mayoría de los estudios mostraron un riesgo de sesgo
bajo o moderado.
Palabras clave: Percepción Auditiva; Trastornos de la Percepción Auditiva; Pruebas Auditivas;
Revisión Sistemática

Trabalho realizado na Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis–SC, Brasil.

Conflito de interesse: não Recebido em: 24/11/2023 Aceito em: 23/01/2024

Endereço para correspondência: Daniela PC da Silva. Centro de Ciências da Saúde (CCS). Campus
Universitário Trindade, s/n. CEP 88040-900. Florianópolis-SC, Brasil. Tel.: 55(48)37216115. Fax:
55(48)37214912. Email: daniela-polo@uol.com.br

INTRODUÇÃO
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH) é definido como um transtorno neurobiológico,
ocasionado por fatores genéticos e ambientais, que pode ter
seus primeiros sintomas na infância e acompanha
frequentemente o indivíduo por toda a sua vida1. Uma
análise crítica e sistemática, apoiada por meta-análise,
revelou que a prevalência global de TDAH em crianças e

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


2
adolescentes está em torno de 8,0%, com um intervalo de
confiança de 95% entre 6,0 e 10%2.
A American Psychiatric Association, por meio do
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-
V)1, classifica o TDAH em subtipos, sendo eles: desatento,
que apresenta déficits nas habilidades de manutenção do
foco atencional; hiperativo/impulsivo, que tem dificuldade
em conter excitabilidade comportamental; ou ainda
combinado, apresentando manifestações conjuntas dos
subtidos supracitados.
Os aspectos etiológicos mais prováveis deste transtorno
estão ligados a questões genéticas, bem como fatores de
risco pré- e pós-natais, como prematuridade, baixo peso,
exposição intrauterina ao tabaco, estresse e obesidade
materna3-5.
O diagnóstico clínico formal requer avaliação detalhada
dos sintomas, bem como do comprometimento funcional,
além da história familiar, gestacional e do desenvolvimento6.
O DSM-V1 indica a existência do TDAH para menores de 17
anos, quando há presença de seis ou mais sintomas nos
subtipos: desatento, hiperativo e impulsivo, ou ambos.
Dessa forma, quanto mais precoce ocorrer o diagnóstico
e a intervenção, menores serão as consequências no
desenvolvimento da criança e do adolescente7.
O TDAH está associado a uma diversidade de déficits no
domínio cognitivo, como por exemplo, déficit nas funções
executivas, memória de trabalho, atenção e alterações na
organização e planejamento das ações, consequentemente

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


3
ocasionando um maior comprometimento na linguagem,
aprendizagem e comunicação social nesses indivíduos8,9.
No entanto, esses déficits não são específicos apenas
para os casos de TDAH podendo também estar presentes em
outras condições como, por exemplo, em indivíduos com
Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC)7,8.
O Processamento Auditivo Central (PAC) refere-se à
eficiência e eficácia com a qual o sistema nervoso central
(SNC) lida com a informação auditiva, envolvendo a análise
e interpretação dos estímulos sonoros, sendo constituído por
mecanismos e habilidades auditivas responsáveis pelos
fenômenos comportamentais10.
Portanto, alterações em uma ou mais habilidades
auditivas podem ser diagnosticadas como TPAC, ou seja, um
impedimento da habilidade auditiva de analisar e/ou
interpretar padrões sonoros, que pode estar associado a
dificuldades em ouvir ou entender a fala, comprometendo o
desenvolvimento da linguagem e aprendizagem11.
Sabe-se que o TPAC inclui queixas escolares e
comunicativas, a inabilidade de compreender piadas ou
palavras com duplo sentido, dificuldade na memória
auditiva, atenção auditiva, em ordens verbais complexas,
prejuízo na leitura e escrita, atraso de linguagem e
dificuldade de compreensão com mensagens
competitivas11,12. Destaca-se que as queixas escolares e
comunicativas não devem ser exclusivamente atribuídas ao
TPAC, uma vez que outros transtornos do desenvolvimento,

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


4
aprendizagem, dislexia e até mesmo o TDAH podem
apresentá-las, podendo, inclusive coexistir entre si11,12.
Consequentemente, a associação entre TPAC e TDAH é
relativamente comum, pois muitos indivíduos com uma
destas condições também apresentam a outra, e estabelecer
se é o transtorno de atenção que leva ao TPAC ou o contrário,
se o portador de TPAC tem como comorbidade o transtorno
atencional, vem sendo uma das dificuldades para a
realização do diagnóstico diferencial de ambos os
transtornos7,11,12.
Assim, o objetivo deste estudo foi analisar os achados
da avaliação do PAC em crianças e adolescentes com TDAH.

MÉTODO
Trata-se de um trabalho de revisão sistemática da
literatura conduzido segundo as diretrizes do Preferred
Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analysis
(PRISMA)13.
A questão norteadora responsável por conduzir as
estratégias de buscas foi elaborada com base no tema de
pesquisa e orientada pela estratégia PECOS (Patient,
Exposure, Comparison, Outcomes, Studies)14. Assim se
estabeleceu a seguinte pergunta: “Há alterações nos testes
comportamentais do PAC em crianças e adolescentes com
TDAH?”. É importante salientar que de acordo com o método
da revisão sistemática proposto, nem todos os elementos da
estratégia PECOS foram aplicados, neste caso o terceiro
elemento (C), comparação, não foi utilizado (Tabela 1).

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


5
Tabela 1. Pergunta-chave elaborada pela estratégia PECOS.

“Há alterações nos testes comportamentais do PAC em crianças e


adolescentes com TDAH?
P Crianças e adolescentes

E Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade

C Não aplicável

O Alteração na avaliação comportamental do PAC

S Estudos observacionais

Canto GDL (2020)16 adaptado pelos autores. PAC = Processamento auditivo central.

Para a busca dos artigos foram selecionados os


descritores e sinônimos listados no vocabulário de indexação
da PubMed, Medical Subject Headings (MeSH terms) e na
biblioteca de Descritores em Ciência da Saúde (DeCS)
(“Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade” e
“Transtornos da Percepção Auditiva”; “Attention Deficit
Disorder with Hyperactivity” e “Auditory Perceptual
Disorders”, respectivamente). As estratégias de busca
avançada e adaptada para cada uma das bases de dados
eletrônicas foram organizadas a partir das combinações dos
descritores e sinônimos por meio dos operadores booleanos
“OR” e “AND”, e a quantidade de estudos coletados no
levantamento bibliográfico nas bases Pubmed, Scopus, Web
of Science, LILACS, Livivo, bem como a busca na literatura
cinzenta do Google Scholar e ProQuest. Não houve restrição
de idioma, do ano de publicação e a busca foi realizada em
maio de 2021 e atualizada em maio de 2023.

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


6
Critérios de Seleção
Como critérios de elegibilidade foram selecionados
estudos observacionais (transversais, coorte e caso-
controle) que realizaram avaliação comportamental do PAC
em indivíduos com diagnóstico formal de TDAH1 com idade
maior ou igual a sete anos.
A etapa de seleção foi realizada em duas fases. Na fase
um, os títulos e resumos de todas as citações coletadas do
banco de dados foram triados de forma independente por
três revisores. Os estudos que não preencheram os critérios
de elegibilidade foram excluídos. Na fase dois, os três
revisores aplicaram os critérios de elegibilidade ao texto
completo dos estudos. Um quarto revisor foi consultado em
caso de desacordo que não tenha sido resolvido por uma
discussão de consenso entre os revisores. Além disso, foi
realizada busca manual das referências dos estudos
incluídos15.
Foi utilizado dois softwares gerenciadores de
referências (EndNote Web® e Rayyan - Intelligent
Systematic Review) usados para coletar as referências,
excluir as duplicatas e garantir a etapa independente de
análises pelos revisores.
Foram excluídos da pesquisa: (1) cartas ao editor,
diretrizes, revisões sistemáticas, meta análises e resumos.
Estudos com pouca descrição sobre a metodologia aplicada;
(2) estudos que avaliaram pacientes com TDAH e outras
doenças associadas; (3) diagnóstico informal de TDAH; (4)
estudos que não aplicaram os testes comportamentais do

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


7
PAC; (5) outros delineamentos de estudos e (6) estudos que
não tinham a versão na íntegra disponíveis.

Análise de Dados
A Figura 1 representa o detalhamento do processo de
seleção das publicações incluídas na revisão sistemática da
literatura.

Figura 1. Fluxograma de pesquisa da literatura e critérios de seleção 13.

PUBMED SCOPUS WOS PROQUEST GOOGLE LIVIVO


LILACS
SCHOLAR
Identificação

n=306 n=391 n=120 n=37 N=192


n=87
n=100

Registros identificados por meio da estratégia de busca


n=1233

Registros após a remoção de duplicados


n=711
Seleção

Registros selecionados das bases de dados


n=35
Registros das Listas
de Referências
n=0

Artigos de texto completo avaliados para elegibilidade


Eligibilidade

n=35

Artigos na íntegra excluídos (n= 22)


- Quatro com delineamentos não observacionais
- Seis não foram encontrados na íntegra
- Dois eram duplicados
- Três não realizaram a avaliação comportamental do
PAC
- Três não tinham diagnóstico formal de TDAH
- Quatro tinham o TDAH associado a outras doenças
Inclusão

Registros selecionados após leitura na íntegra


n = 13

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


8
Os dados que foram extraídos dos estudos consistiram
em:
● Características do estudo (autores, ano de
publicação, país, tipo de estudo);
● Características da população (tamanho da
amostra, idade média dos participantes e gênero);
● Características de exposição (critérios de
diagnóstico para TDAH);
● Características de desfecho (resultados da
avaliação comportamental do PAC e principais achados).
O risco de viés dos estudos selecionados foi avaliado
por meio do JBI (Joanna Briggs Institute)-Critical Appraisal
Checklist for Studies Reporting Prevalence Data16; Critical
Appraisal Checklist for Cohort Studies17, Critical Appraisal
Checklist for Case Control Studies17 (Figura 2). Esta
avaliação foi realizada de forma independente por três
revisores. Quaisquer discordâncias surgidas foram resolvidas
com a ajuda do quarto autor.
As decisões sobre a pontuação da ferramenta utilizada
foram acordadas por todos os revisores antes da avaliação
crítica, e os estudos foram caracterizados da seguinte forma
em relação ao risco de viés: “alto” quando o estudo atingiu
49% de pontuação “sim”; “moderado” quando o estudo
alcançou 50% a 69% de pontuação “sim”; e "baixo" quando
o estudo atingiu mais de 70% de pontuações "sim", para as
três ferramentas utilizadas16,17.

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


9
Figura 2. Gráfico do risco de viés: julgamento dos autores sobre cada item
apresentado, em porcentagens, dos estudos transversais, coorte e caso-controle
incluídos na revisão sistemática.

(Joanna Briggs Institute - critical appraisal checklist for case control studies)

RESULTADOS
A primeira fase do processo de seleção resultou em
1233 citações nas bases de dados eletrônicas. Após a
remoção de duplicados, um total de 711 citações foram
avaliadas, que após a leitura de títulos e resumos, 676 foram

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


10
excluídas e 35 referências foram selecionadas para leitura do
texto na íntegra, o que resultou na inclusão de 13 estudos
para avaliação qualitativa e quantitativa. Não foi adicionado
nenhum estudo após a pesquisa na lista de referências dos
artigos incluídos. Tanto a seleção quanto os processos de
exclusão são apresentados na Figura 1.
Os artigos incluídos foram publicados em diferentes
revistas científicas (total de dez)7,18-29. O número de
indivíduos com TDAH incluídos nos estudos variou de dez a
42. Em relação ao país de origem dos estudos, um foi da
Suécia, um da África do Sul, um do Egito, um da Austrália,
três do Brasil e seis dos Estados Unidos da América7,18-29
Devido à natureza da pergunta norteadora, a maioria dos
estudos incluídos usaram amostras de conveniência. A
síntese das características dos 13 estudos incluídos pode ser
encontrada na Tabela 2.
Em relação à avaliação comportamental do PAC as
habilidades avaliadas nos estudos foram7,18-29:
● Processamento temporal: Ordenação Temporal:
Teste de Fusão Binaural Revisado (AFT-R), Teste de Padrão
de Frequência (TPF), Teste de Padrão de Duração (TPD).
Resolução Temporal: Teste Gaps-in-Noise (GIN) e Teste de
Sentenças Comprimidas (TCS) subteste do Screening Test
for Auditory Processing Disorders (SCAN);

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


11
Tabela 2. Síntese dos estudos incluídos.

Autor, Tipo de Idade Sexo Número de Diagnóstico dos Testes do PAC e Desfechos Conclusões
ano estudo (média (%) indivíduos participantes
(país) em anos) na amostra
Testes: TDD, TPF e TPD Os resultados ressaltam a
Bellis Transversal G1=12,6 NR 27 G1:10 normais No TDD: G2 e G3 foram importância das medidas de
G2=13,1 significantemente piores do que comparação intrateste na
201118 G3=10,9 G2:10 com TDAH G1, não houve diferença interpretação de testes
significante entre G2 e G3. auditivos centrais, além de
(EUA) G3:7 com TPAC No TPF: G2 e G3 foram demonstrar que os testes
significativamente piores que G1, auditivos por si só são
sendo o G3 com o pior suficientes para diferenciar
desempenho. os grupos patológicos.
No TPD: G3 foi significantemente
pior que G1 e G2. G2 teve
desempenho pior que G1, porém
sem significância.
Grupo TDAH: 42 Teste: SCAN - C com os subtestes: Os resultados mostram que o
Bishop Transversal 8 65% M 88 FW, AFG, CW e CS. comprometimento do SCAN -
Grupo TPAC e O Grupo TDAH teve o pior C está relacionado com o
200519 35% F TDAH: 14 desempenho no SCAN–C. nível de sintomatologia de
Nenhuma das crianças do GC teve TDAH.
(EUA) GC: 13 sem TDAH e alteração no SCAN-C.
TPAC

GC comunitário: 19
crianças
voluntárias
recrutadas de uma
escola da região,
sem diagnósticos e
queixas
Teste: HINT na qualidade de fala Indivíduos com TDAH
Blomberg Transversal 16 47% M 38 GC: 22 clara e fala distorcida no silêncio e apresentam maior
na presença de três tipos de ruídos dificuldade de compreender a
201920 53% F GP: 16 com TDAH (Ruído branco, fala flutuante e fala no ruído do que
balbucio de dois falantes). indivíduos sem TDAH.
(Suécia) Os indivíduos do grupo TDAH
apresentaram resultados inferiores
ao grupo controle tanto na fala
clara quanto na fala distorcida,
tanto no silêncio quanto no ruído
mascarante.
Testes: limiar de detecção de gap; A presença de TDAH foi
Breier Transversal 10 71% M 150 G1: 40 com limiar para detecção de um tom de associada a uma redução
dificuldade 32ms em silêncio; limiar para geral no desempenho das
200321 28% F específica de leitura detecção de um tom de 512ms em tarefas. Os resultados
silêncio; limiar de detecção de também indicaram que a
(EUA) G2: 33 com TDAH assincronia de tempo de início de presença comórbida do TDAH
do tipo combinado tom; limiar diferencial de é um fator significativo no
mascaramento nas condições desempenho de crianças com
G3: 36 com homofásicas e antifásicas. dificuldades específicas de
dificuldade de G2 apresentou resultado inferior leitura.
leitura e em todas as tarefas independente
diagnóstico de de terem dificuldade específica de
TDAH leitura. Houve relação da
capacidade de leitura com os
GC: 41 normais limiares de detecção de
assincronia de tempo de início de
tom para o G2, ou seja, quanto
menor o limiar melhor o
desempenho nas habilidades de
leitura.
Grupo TDAH - C: 10 Testes: TDD, TPF, TFF e MLD. Em Houve uma menor incidência
Campbell Coorte 10 76,20% 21 crianças com TDAH dois momentos: medicado e não de indivíduos com TDAH do
M do tipo combinado medicado tipo hiperativo. O uso da
200322 (hiperatividade e Grupo TDAH - D teve melhor medicação trouxe melhores
23,80% desatenção) desempenho quando não resultados em crianças com
(África do F medicado com exceção do TFF e TDAH-C e TDAH-H.
Sul) Grupo TDAH - D: MLD com resultados semelhantes
10 crianças com no estado medicado. O grupo
TDAH do tipo TDAH - C apresentou resultados
desatento inferiores quando comparados com
os demais grupos, mesmo quando
Grupo TDAH - H: 1 medicado.
criança TDAH do
tipo hiperativo.

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


12
Tabela 2 (cont.). Síntese dos estudos incluídos.

Autor, Tipo de Idade Sexo Número de Diagnóstico dos Testes do PAC e Desfechos Conclusões
ano estudo (média (%) indivíduos participantes
(país) em anos) na amostra
Testes: TLS, TMSV, TMSNV, FR e As alterações nos testes do
Cavadas Coorte 10 NR 58 GDA: 29 com TDAH SSW. PA estiveram mais
Os indivíduos do grupo GDA associadas à presença de
20077 GS1: 19 com realizaram avaliação pré e pós o dificuldade de aprendizagem
dificuldade de uso do metilfenidato (entre 2 a 9 e comunicação,
(Brasil) aprendizagem e meses), os demais grupos corroborando a hipótese que
comunicação e/ou realizaram a reavaliação após um as dificuldades no
auditivas intervalo de 15 dias. processamento
Todos os grupos apresentaram eventualmente observadas
GS2: 10 normais bons desempenhos na ASPA e o em portadores de TDAH não
GS2 apresentou o melhor representam um déficit
desempenho nos testes primário, sendo mais bem
comportamentais. A avaliação entendidas como um
após o uso do medicamento trouxe fenômeno secundário à
melhores resultados e diminuição desatenção.
da variabilidade dos resultados.
Testes: TFF, IPRF, TDD, GIN, TPD Existe alta relação entre
Effat Transversal 8 70% M 20 G1: 11 crianças e TPF. TPAC e TDAH, sendo os
com TDAH e TPAC Da amostra total, 55% aspectos temporais as
201123 30% F apresentaram alteração de PAC. O habilidades mais afetadas do
G2: 9 crianças com TPF foi alterado em 55%, TPD em PA. A presença de vantagem
(Egito) TPAC 30%, TDD em 15% e o GIN em da orelha direita evidenciada
40%. pelo TDD confirma o atraso
Houve diferença significante nos maturacional em pacientes
testes envolvendo ordenação e com TDAH.
sequenciamento temporal para
crianças do grupo TDAH e TPAC,
além de desempenho inferior no
TDD da orelha esquerda.
Testes: AFT-R e os subtestes do Resultados demonstraram
Feniman Transversal 8 60% M 35 G1: 18 com TDAH SCAN (FW, AFG, TCS e CW). diferença significativa entre
Houve diferença significante entre as crianças com TDAH e
199924 40% F G2: 17 com os grupos, sendo o G1 com dificuldade de aprendizagem
dificuldade de limiares mais pobres no AFT-R. Da no teste AFT-R (TDAH
(EUA) linguagem bateria SCAN, 33% das crianças do limiares mais longos).
G1 apresentaram grande Crianças com TDAH
dificuldade no TCS. apresentam resultado
alterado no teste de
sentenças concorrentes,
indicando que essas crianças
apresentam problemas no
processamento temporal.
G1: 15 indivíduos Teste: SCAN com os subtestes: Maiores dificuldades de PAC
Gomez Transversal NR 77,77% 45 com TDAH FW, AFG e CW. em indivíduos com TDAH e
M combinado Houve diferença significante do dificuldade de aprendizagem
199925 G2: 15 indivíduos CW e no escore do SCAN para o do que somente TDAH. As
22,23% com dificuldade de G2. dificuldades de PAC podem
(Austrália) F aprendizagem e estar relacionadas a
TDAH problemas de aprendizagem
GC: 15 indivíduos e não a hiperatividade.
sem diagnósticos e
queixas
Testes: SCAN com os subtestes: O metilfenidato melhora a
Keith Coorte 7 a 13 85% M 20 TDAH em uso de FW, AFG e CW na condição sem atenção em crianças com
metilfenidato medicação e com medicação, com hiperatividade, podendo ser
199126 15% F intervalo de três meses entre cada observada pela melhoria
condição e o teste de desempenho significativa no desempenho
(EUA) contínuo. na maioria dos testes
Os escores dos testes utilizados no estudo. O
apresentaram melhora com o uso desempenho das crianças
do medicamento. Foi observada quando em uso do
diferença significante no teste FW metilfenidato era o mesmo
e CW. que crianças sem TDAH da
mesma idade de outros
estudos.
Testes: TFR, TDD e TPF em três Crianças com TDAH
Lanzetta- Transversal 7 a 11 Grupo 43 GP: 30 com TDAH condições: sem o uso da apresentam prejuízo nos
Valdo estudo: em uso da medicação, três meses e seis testes avaliados. O
90% M medicação meses após o uso da medicação. tratamento com
201727 10% F Observada diferença significante medicamento melhorou
GC: 13 normais no FR após seis meses na orelha gradualmente esse prejuízo e
(Brasil) Grupo esquerda, no TDD após seis meses as reverteu completamente,
controle: na orelha esquerda e três e seis alcançando um desempenho
69% M meses na orelha direita e no TPF semelhante ao de crianças
31% F seis meses após na orelha direita e sem TDAH aos 6 meses de
esquerda. tratamento.

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


13
Tabela 2 (cont.). Síntese dos estudos incluídos.

Autor, Tipo de Idade Sexo Número de Diagnóstico dos Testes do PAC e Desfechos Conclusões
ano estudo (média (%) indivíduos participantes
(país) em anos) na amostra
E1: Aplicação do MLD com um tom Não foram observadas
Pillsbury Caso- 10 NR 42 Grupo TDAH: 26 de 500hz, sem diferenças dificuldades nas tarefas de
controle significantes entre os grupos. detecção entre crianças com
199528 GC: 16 TDAH e controle, apenas de
E2: Aplicação do MLD com fala, reconhecimento de fala,
(EUA) sendo que o grupo TDAH principalmente em crianças
apresentou desempenho inferior mais novas.
ao grupo controle, sendo que a
idade foi um dos principais
contribuintes para este resultado.
Testes: TPD e TPF - versão infantil O grupo com TDAH
Transversal 10 66,66% 30 GC: 15 normais da AUDITEC. apresentou alteração em
M Houve diferenças significantes ambos os testes e o TPD foi o
Romero GP: 15 GP: 15 com TDAH entre os grupos, sendo GP inferior teste com pior desempenho
33,33% (sem medicação) ao GC. Ambos os grupos tiveram em ambos os grupos.
29
2015 F GC: 15 resultados inferiores no TPD
quando comparados ao TPF.
(Brasil)
EUA (Estados Unidos da América), M (masculino), F (feminino), G1 (Grupo 1), G2 (Grupo2), G3 (Grupo 3), GP (Grupo Pesquisado), GC (Grupo
Controle), TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), PAC (Processamento Auditivo Central), TPAC (Transtorno do
Processamento Auditivo Central), GDA (Grupo de crianças com déficit de atenção), GS1 (Grupo de crianças sem TDAH e com dificuldade de
aprendizagem), GS2 (Grupo controle), E1/E2 (Exame 1 e 2), NR (Não relatado), ASPA (Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo),
TLS (Teste de Localização Sonora), TMSV (Teste de Memória Sequencial Verbal), TMSNV (Teste de Memória Sequencial Não Verbal, TFR
(Teste de Fala no Ruído), SSW (Staggered Spondaic Word), TPD (Teste Padrão de Duração), TPF (Teste Padrão de Frequência), TDD (Teste
Dicótico de Dígitos), SCAN (Screening Test for Auditory Processing Disorders), FW (Filtered Words), AFG (Auditory Figure Ground), CW
(Competing Words), CS (Competing Sentences), HINT (Hearing in Noise Test)

● Fechamento auditivo: Teste de Fala no Ruído


(TFR), Teste de Fala Filtrada (TFF), Filtered Word (FW) e
Auditory Figure Ground (AFG) subtestes do SCAN;
● Integração binaural: Teste de Dicótico de Dígitos
(TDD), Teste de Escuta Dicótica de Dissílabos (SSW) e Limiar
Diferencial de Mascaramento (MLD);
● Separação binaural: Teste de Dicótico de Dígitos
(TDD), Competing Words (CW) e Competing Sentences (CS)
subtestes do SCAN;
● Localização sonora (LS): Teste de Localização
Sonora (TLS) subteste da Avaliação Simplificada do
Processamento Auditivo - ASPA;
● Memória sequencial auditiva: Teste de Memória
Sequencial Verbal (TMSV) e Teste de Memória Sequencial

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


14
Não Verbal (TMSNV) subtestes da ASPA;
● Reconhecimento de fala no ruído: Hearing in Noise
Test (HINT).
Na análise do risco de viés dos estudos incluídos, um
estudo foi classificado como tendo alto risco de viés, e cinco
como moderado risco de viés e sete com baixo risco de viés,
de acordo com o número de respostas “sim” para as
perguntas na ferramenta adotada para a avaliação da
qualidade16,17 (Figura 2).

DISCUSSÃO
Dos 13 estudos incluídos, 46% foram realizados nos
EUA, 23% no Brasil, e os demais foram realizados em
diversos países, como Suécia, África do Sul, Egito e Austrália,
totalizando uma publicação por país7,18-29. Nesse contexto,
destaca-se que, mesmo sendo um país emergente, o Brasil
apresentou um volume significativo de publicações sobre a
problemática em comparação a nações desenvolvidas, como
Escócia e Austrália.
Em relação a avaliação comportamental do PAC, os
testes variaram de acordo com o país de origem. Um teste
amplamente utilizado nos EUA e em outros países foi o
SCAN, que se trata de um procedimento para triar crianças
com possíveis transtornos do sistema nervoso auditivo
central, identificando aquelas com risco para TPAC, bem
como aquelas que podem se beneficiar de estratégias
específicas de reabilitação30. Esse teste foi idealizado para
uso específico em ambiente escolar, considerando as

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


15
peculiaridades desse cenário, como a limitação de
equipamentos avaliativos e a disponibilidade de tempo30.
A versão SCAN-C é destinada a crianças entre cinco e
12 anos e 11 meses24-26,30. Apresenta os subtestes de Figura-
fundo auditiva (AFG - palavras monossilábicas apresentadas
com ruído competitivo de “babble noise” de oito falantes,
apresentadas na relação S/R de 0 ou + 8 dB), Fala Filtrada
(FW - palavras monossilábicas com filtro passa baixo de 750
Hz), Palavras Competitivas (CW - palavras monossilábicas
apresentadas de forma dicótica, e na etapa de atenção
direcionada, o participante deve repetir a palavra na orelha
sob teste), Sentenças Competitivas (CS - sentenças
apresentadas de forma dicótica) e o Sentenças Comprimidas
no Tempo (TCS - são sentenças comprimidas em 60%,
representando como se fosse uma pessoa falando muito
rápido). Nos estudos incluídos que utilizaram o SCAN, os
subteste mais comumente realizados foram o FW, AFG, CW
e CS24-26.
Em indivíduos com TDAH que foram submetidos ao
SCAN, os resultados indicaram alterações nos testes de FW,
AFG, CW e CS. No estudo de Bishop 200519, observou-se
alteração nos testes de FW, AFG, CW e CS. Já no estudo de
Feniman 199924 33% da amostra com TDAH apresentaram
alteração no CS, enquanto no estudo de Gomez 199925
houve desempenho abaixo apenas para os indivíduos que
tinham TDAH e dificuldade de aprendizagem. No estudo de
Keith 199126 não foram registradas alterações nos testes de
FW, AFG e CW nos indivíduos com TDAH que realizaram a

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


16
avaliação sob o uso de metilfenidato. Com base nesses
resultados, ainda não está claro se as alterações observadas
na avaliação comportamental do PAC, por meio do SCAN,
estão relacionadas ao fato de os participantes não estarem
medicados. Portanto, são necessários estudos com
casuísticas mais amplas que envolvam a condição de TDAH
e dificuldade de aprendizagem para esclarecer essa questão.
Em relação aos demais estudos, foram avaliados os
resultados da ASPA, juntamente com outros testes como
TDD, SSW, TPF, TPD, GIN, MLD, TFF, TFR, SSW e um estudo
que utilizou o HINT7,18-29. Destacam-se o TDD e TPF como os
testes mais analisados entre os estudos incluídos, seguidos
pelos TPD e MLD, e posteriormente, pelos testes TFF e
TFR7,18-29. Os testes TLS, TMSV, TMSNV, SSW, GIN e HINT
foram mencionados de forma isolada entre os estudos
incluídos, resultando em apenas um conjunto de dados em
cada um deles7,18-29.
Ao avaliar o PAC por meio da ASPA, TLS, TMSV, TMSNV,
TFR e SSW, Cavadas 20077 observou que os grupos
avaliados (TDAH pré e pós o uso do metilfenidato,
transtornos de aprendizado e comunicação e grupo controle)
apresentaram bom desempenho na ASPA, inclusive o grupo
de crianças e adolescentes com TDAH após medicação.
Entretanto, nos demais testes, o grupo controle obteve um
desempenho superior. Dessa forma, os autores atribuíram
as alterações observadas em outros testes do PAC mais à
presença da dificuldade de aprendizagem e comunicação,
confirmando a hipótese de que o desempenho abaixo do

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


17
esperado na avaliação PAC no grupo com TDAH não
representa um déficit primário, mas sim um fenômeno
secundário à desatenção.
Em indivíduos com TDAH submetidos a avaliações como
TDD e/ou TPF, TPD, TFF e TFR, observam-se semelhanças
nas alterações. Segundo Bellis 201118 o TDD foi o teste que
apresentou pior desempenho nessa população quando
comparado a crianças sem TDAH. No entanto, esses
indivíduos tiveram respostas melhores em comparação ao
grupo com TPAC. Em outro estudo, Campbell 200322 indicou
que indivíduos com diagnóstico de TDAH do tipo combinado
tiveram resultados inferiores, mesmo quando medicados.
Effat 201123 apontou um desempenho inferior para a orelha
esquerda, confirmando o atraso maturacional em pacientes
com TDAH. No entanto, Lanzetta-Valdo 201727 constatou que
o tratamento medicamentoso melhorou gradualmente e
reverteu as alterações nos testes (TFR, TDD e TPF),
alcançando um desempenho semelhante ao de indivíduos
sem TDAH após seis meses de tratamento.
Para os testes que avaliaram a ordenação temporal, TPF
e TPD, assim como a resolução temporal, GIN, limiar de
detecção de gap e AFT-R, o desempenho dos indivíduos com
TDAH ficou aquém do esperado, evidenciando uma
dificuldade no processamento temporal desses indivíduos.
No entanto, Campbell 200322 encontrou um melhor
desempenho em indivíduos com TDAH predominantemente
desatento quando medicados, enquanto Lanzetta-Valdo

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


18
201727 observou uma melhora gradual no desempenho, com
remissão das alterações após seis meses de tratamento.
Em relação ao MLD, Pillsbury 199528 não identificou
dificuldades nas tarefas de detecção entre crianças com
TDAH e o grupo controle, notando apenas dificuldade de
reconhecimento de fala em alguns tipos de ruído para as
crianças mais novas. Já Camplbell 200322 observou
desempenho semelhante no MLD em indivíduos com TDAH
predominantemente desatentos, tanto com quanto sem
medicação, com desempenho inferior nos indivíduos com
TDAH do subtipo combinado, mesmo quando medicados. É
possível notar que a medicação não teve impacto positivo no
desempenho neste teste para os diferentes tipos de TDAH, e
a ausência de informações sobre os subtipos de TDAH, na
maioria dos estudos, dificulta a comparação entre eles.
O HINT é um teste adaptativo utilizado para a
mensuração do limiar de reconhecimento de sentenças.
Essas podem ser apresentadas tanto no silêncio quanto no
ruído. Quando aplicado nessa condição de ruído, o teste
permite determinar a capacidade funcional auditiva em
compreender em ambientes desafiadores12,20.
O estudo recente de Blomberg 201920 encontrou
dificuldades no reconhecimento de fala no ruído, por meio do
teste de HINT, em indivíduos com TDAH. Esses resultados
confirmam a capacidade inferior desses indivíduos em
regular a atenção e manter a informação na memória de
trabalho. No entanto, é importante observar que a casuística
foi bastante reduzida, tornando desafiador generalizar esses

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


19
achados, visto que este foi o único estudo incluído que
aplicou este teste.
Vale ressaltar que a literatura indica que o ruído exerce
um efeito de mascaramento mais pronunciado em crianças
do que em adultos, devido a questões maturacionais do
sistema auditivo12. Além disso, a população infantil possui
um vocabulário mais limitado e menos conhecimento
linguístico, o que também pode contribuir para a dificuldade
das crianças em compreender sinais de fala distorcidos12.
Por fim, a partir dos dados coletados e analisados nesta
revisão, observou-se um predomínio de alterações no
processamento temporal em indivíduos com TDAH. Destaca-
se, portanto, a necessidade de mais estudos primários sobre
este assunto, especialmente com amostras maiores, a
identificação dos subtipos do TDAH e uma descrição mais
detalhada do uso de medicação pelos dos participantes.
Alguns estudos destacados nesta pesquisa indicam que o uso
de medicação favorece um desempenho mais satisfatório na
avaliação do PAC, sugerindo que muitas das dificuldades
encontradas ao longo do teste não são atribuídas a um TPAC
mas sim à própria condição do TDAH.
Algumas limitações merecem destaque nesta revisão
sistemática. O pequeno tamanho da amostra nos estudos
incluídos é uma delas, havendo também variabilidade nas
habilidades auditivas avaliadas. Além disso, todos os estudos
foram conduzidos com amostras de conveniência, e a
heterogeneidade da população deve ser considerada.
Portanto, é prudente analisar os resultados com cautela.

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


20
CONCLUSÃO
Os resultados apresentados por esta pesquisa
evidenciam alterações nos testes comportamentais do PAC
em crianças e adolescentes com TDAH. A habilidade auditiva
frequentemente alterada nesses indivíduos foi o
processamento temporal, tanto em termos de resolução
quanto de ordenação temporal. A maioria dos estudos
mostrou um baixo ou moderado risco de viés.

REFERÊNCIAS
1.American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual
of mental disorders, 5th ed. Arlington: American Psychiatric
Association, 2013. https://psycnet.apa.org/record/2013-14907-000
2.Ayano G, Demelash S, Gizachew Y, Tsegay L, Alati R. The global
prevalence of attention deficit hyperactivity disorder in children and
adolescents: An umbrella review of meta-analyses. J Affect Disord
2023;339:860-6. https://doi.org/10.1016/j.jad.2023.07.071
3.Thapar A, Cooper M. Attention deficit hyperactivity disorder. Lancet
2016;387:1240-50.https://doi.org/10.1016/S0140-6736(15)00238-X
4.Chen MH, Pan TL, Huang KL, Hsu JW, Bai YM, Su TP, et al.
Coaggregation of Major Psychiatric Disorders in First-Degree Relatives
of Individuals With Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder: A
Nationwide Population-Based Study. J Clin Psychiatry
2019;80:18m12371. https://doi.org/10.4088/JCP.18m12371
5.Hsu TW, Bai YM, Tsai SJ, Chen TJ, Liang CS, Chen MH. Risk of
parental major psychiatric disorders in patients with comorbid autism
spectrum disorder and attention deficit hyperactivity disorder: A
population-based family-link study. Aust NZ J Psychiatry 2023;57:583-
93. https://doi.org/10.1177/00048674221108897
6.Magnin E, Maurs C. Attention-deficit/hyperactivity disorder during
adulthood. Ver Neurol (Paris) 2017;173:506-15.
https://doi.org/10.1016/j.neurol.2017.07.008
7.Cavadas M, Pereira LD, Mattos P. Effects of methylphenidate in
auditory processing evaluation of children and adolescents with
attention deficit hyperactivity disorder. Arq Neuropsiquiatr
2007;65:138-43. https://doi.org/10.1590/s0004-
282x2007000100028
8.Posner J, Rauh V, Gruber A, Gat I, Wang Z, Peterson BS. Dissociable
attentional and affective circuits in medication-naive children with

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


21
attention-deficit/hyperactivity disorder. Psychiatry Res 2013;213:24-
30. https://doi.org/10.1016/j.pscychresns.2013.01.004
9.Halliday LF, Tuomainen O, Rosen S. Auditory processing deficits are
sometimes necessary and sometimes sufficient for language difficulties
in children: evidence from mild to moderate sensorineural hearing loss.
Cognition 2017;166:139-51.
https://doi.org/10.1016/j.cognition.2017.04.014
10.ASHA: American Speech and Hearing Association. American
Speech-Language-Hearing Association. (Central) Auditory Processing
Disorders. 2005 (acessado em: Nov/2023). Dsiponível em:
https://www.asha.org/POLICY/TR2005-00043/
11.Omidvar S, Duquette-Laplante F, Bursch C, Jutras B, Koravand A.
Assessing Auditory Processing in Children with Listening Difficulties: A
Pilot Study. J Clin Med 2023;12:897.
https://doi.org/10.3390/jcm12030897
12.Myhrum M, Tvete OE, Heldahl MG, Moen I, Soli SD. The Norwegian
Hearing in Noise Test for Children. Ear Hear 2016;37:80-92.
https://doi.org/10.1097/AUD.0000000000000224
13.Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC,
Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline
for reporting systematic reviews. BMJ 2021;29:372.
https://doi.org/10.1136/bmj.n71
14.Canto GDL, Réus JC. Mãos à obra. In: Violin GC. Revisões
Sistemáticas da Literatura: Prático. Curitiba: Brazil Publishing; 2020;
p24-6.
15.Greenhalgh T, Peacock R. Effectiveness and efficiency of search
methods in systematic reviews of complex evidence: audit of primary
sources. BMJ 2005;331:1064-5.
https://doi.org/10.1136/bmj.38636.593461.68
16.Munn Z, Moola S, Lisy K, Riitano D, Tufanaru C. Methodological
guidance for systematic reviews of observational epidemiological
studies reporting prevalence and cumulative incidence data. Int J Evid
Based Healthc 2015;13:147-53.
https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000054
17.Moola SMZ, Tufanaru C, Aromataris E, Sears K, Sfetcu R, Currie M,
et al. Conducting systematic reviews of association (etiology): The
Joanna Briggs Institute's approach. Int J Evid Based Healthc
2015;13:163-9. https://doi.org/10.1097/XEB.0000000000000064
18.Bellis TJ, Billiet C, Ross J. The utility of visual analogs of central
auditory tests in the differential diagnosis of (central) auditory
processing disorder and attention deficit hyperactivity disorder. J Am
Acad Audiol 2011;22:501-14. https://doi.org/10.3766/jaaa.22.8.3
19.Bishop KL. The relationship between AD/HD and auditory
processing problems: an examination of impairment, comorbidity
patterns, and reading achievement (Dissertação). Illinois:Southern
Illinois University Carbondale; 2005; 156p.
20.Blomberg R, Danielsson H, Rudner M, Söderlund GBW, Rönnberg J.
Speech processing difficulties in attention deficit hyperactivity disorder.

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


22
Front Psychol
2019;10:1536. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.01536
21.Breier JI, Fletcher JM, Foorman BR, Klaas P, Gray LC. Auditory
temporal processing in children with specific reading disability with and
without attention deficit/hyperactivity disorder. J Speech Lang Hear
Res 2003;46:31-42. https://doi.org/10.1044/1092-4388(2003/003)
22.Campbell NG. The central auditory processing and continuous
performance of children with attention deficit hyperactivity disorder
(ADHD) in the medicated and non-medicated state (Tese). South
Africa: University of Pretoria; 2003; 223p.
23.Effat S, Tawfik S, Hussein H, Azzama H, Eraky SE. Central auditory
processing in attention deficit hyperactivity disorder: An Egyptian
Study. Middle East Current Psychiatry 2011;18:245-
52. https://doi.org/10.1097/01.XME.0000405285.63178
24.Feniman MR, Keith RW, Cunningham RF. Assessment of auditory
processing in children with attention deficit hyperactivity disorder and
language-based learning impairments. Distúrb Comun 1999;11:9-27.
https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/article/view/11162/23151
25.Gomez R, Condon M. Central auditory processing ability in children
with ADHD with and without learning disabilities. J Learn Disabil
1999;32:150-8. https://doi.org/10.1177/002221949903200205
26.Keith RW, Engineer P. Effects of methylphenidate on the auditory
processing abilities of children with attention deficit-hyperactivity
disorder. J Learn Disabil 1991;24:630-6.
https://doi.org/10.1177/002221949102401006
27.Lanzetta-Valdo BP, Oliveira GAD, Ferreira JTC, Palacios EMN.
Auditory processing assessment in children with attention deficit
hyperactivity disorder: an open study examining methylphenidate
effects. Int Arch Otorhinolaryngol 2017;21:72-8.
https://doi.org/10.1055/s-0036-1572526
28.Pillsbury HC, Grose JH, Coleman WL, CK Conners, JW Hall. Binaural
function in children with attention-deficit hyperactivity disorder. Arch
Otolaryngol Head Neck Surg 1995;121:1345-50.
https://doi.org/10.1001/archotol.1995.01890120005001
29.Romero ACL, Capellini SA, Frizzo ACF. Auditory temporal processing
in children with attention deficit hyperactivity disorder (ADHD). Rev
CEFAC 2015;17:439-44. https://doi.org/10.1590/1982-
0216201520313
30.Stoody TM, Cottrell CE. The Effect of Presentation Level on the
SCAN-3 in Children and Adults. Am J Audiol 2018;27:238-45.
https://doi.org/10.1044/2018_AJA-17-0098

Rev Neurocienc 2024;32:1-23.


23

Você também pode gostar