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Artigo Processo Saúde Doença

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COMPARAR NÍVEIS DE DOR MUSCULOESQUELÉTICA ENTRE UNIVERSITÁRIOS QUE

PRATICAM ESPORTES X UNIVERSITÁRIOS QUE NÃO PRATICAM ESPORTES

Eduardo Guerra, Guilherme Dias, Guilherme Mugica, Júlia Abreu.

RESUMO
Levando em consideração que a dor musculoesquelética é amplamente disseminada nas pessoas por
inúmeros motivos, podendo ser passageira, contínua ou até mesmo transitória, este artigo se baseou em uma
pesquisa, por meio do questionário Nórdico como referência - já validado e que possui uma boa confiabilidade
- para ver se há alguma diferença significativa no nível de dor entre universitários que praticam esportes (atletas)
e universitários que não praticam esportes. Para tal objetivo, veiculamos esse questionário por meio do Google
Forms; além disso, acrescentamos algumas questões sobre anamnese. A pesquisa teve um total de 25
participantes, sendo que desse total 80% eram do público feminino e 20% eram do público masculino. Ao
analisar os dados coletados, descobrimos que houve uma diferença em relação a intensidade de dor
musculoesquelética; os atletas apresentaram níveis um pouco maiores do que os sedentários apresentaram.
Contudo, essa diferença não foi considerada significativa. Interessante ressaltar que os lugares em que esses
dois públicos concentraram as suas dores foram distintos: os que praticam esportes de maneira ativa têm dores
mais concentradas na região lombar; já os que não praticam, têm dores mais concentradas na região do pescoço.
Salientamos a importância de se continuar a pesquisa nessa área.
Palavras chave: Dor musculoesquelética; Esporte; Universitários.

INTRODUÇÃO
A qualidade de vida da população brasileira, de um modo geral, melhorou no último
século, tendo em vista as reformas sanitárias e a evolução da medicina como um todo. No
entanto, tem um aspecto que está cada vez mais presente no cotidiano dos brasileiros que
interfere negativamente nessa condição: a dor - seja ela passageira, contínua ou até mesmo
transitória. Segundo a OMS, 30% da população mundial convivem com alguma sensação
dolorosa constantemente; já aqui, em nosso país, a entidade declarou que 10 a 50 % dos
indivíduos procuram atendimento por razões relacionadas à dor. Esses dados nos mostram
que a dor tem uma prevalência considerável em nossa sociedade e precisamos estar mais
atentos aos casos, pois essas dores - caso forem menosprezadas e não tratadas - podem
evoluir para uma condição crônica, dificultando, assim, o tratamento pelos profissionais da
área da saúde.
A dor musculoesquelética é uma sensação complexa que pode ter inúmeras causas,
sendo, por isso, considerada multifatorial. Ela precisa ser tratada com muito cuidado, pois de
acordo com a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), a dor musculoesquelética é
responsável por 29% do absenteísmo do trabalho por doenças. Além disso, de acordo com o
livro “Entendendo a Dor”, de Newton Barros, em seu capítulo 9 intitulado de “Dor, sono e
aspectos emocionais” o autor disserta sobre como a dor pode interferir no sono da pessoa e,
com isso, alterar todo uma cascata de eventos que leva a uma depleção da sua condição
emocional. O sono é um dos fatores mais importantes para a manutenção da saúde de uma
pessoa e caso esteja afetado, sérios problemas emocionais surgirão devido a alteração de sua
funcionalidade, gerando, assim, certo grau de incapacidade em realizar as suas atividades de
vida diárias (AVDs).
Conforme Matsudo & Matsudo, a atividade física sistematizada e o estilo de vida ativo
têm um papel fundamental na prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis,
e também está associada com uma melhor mobilidade, capacidade funcional e qualidade de
vida. Por outro lado, o sedentarismo possui efeitos negativos sobre a saúde física, em especial
sobre as estruturas musculoesqueléticas (VITTA, 2001). Essa informação é de fundamental
importância para melhorar o quadro de dores osteomusculares na população brasileira
porque ela pode ser direcionada para criação de campanhas de promoção de saúde visando
a adesão a um estilo de vida mais ativo por parte da população. Um estudo epidemiológico
da dor (Epidor) realizado pela USP realizado com 2.448 indivíduos maiores de 18 anos
corrobora com o que já foi discutido anteriormente; ele revela que mais de 45 % das pessoas
com dores nas costas por mais de três meses não buscam tratamento adequado.
Segundo Toscano e Egypto (2001) , músculos fracos atingem a condição isquêmica e
de fadiga mais facilmente que músculos fortes, aumentando as probabilidades de lesões e
dificultando manter a coluna em seu alinhamento adequado. Essa fraqueza pode estar
relacionada fortemente com alguns casos de dores musculares em pessoas sedentárias,
porque ao não estimular seus músculos de uma forma ativa e de forma constante, eles podem
entrar em um processo de atrofia e causar diferentes níveis de dor. Já em atletas, essa
premissa não se enquadra já que eles possuem uma ativação muscular bem expressiva; uma
causa bem provável de dor para esse público alvo pode ser o excesso de ativação muscular e
o pequeno intervalo de descanso para recuperar a musculatura - ainda mais quando se trata
de esportes de alto rendimento como é o caso do futebol, basquete, etc.
Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi comparar os níveis de dor entre
universitários que praticam atividade física de maneira frequente (atletas) e universitários
que não praticam esportes com uma certa frequência e ver se há alguma diferença
significativa nesse sentido.

MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal observacional, realizado por estudantes do curso
de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no campus de
Educação Física, Fisioterapia e Dança (ESEFID), no período de outubro de 2023 à janeiro de
2024, que visa avaliar a prevalência de dor musculoesquelética em uma amostra de
universitários. O presente estudo foi orientado pela professora Laís Rodrigues Gerzson, como
parte da disciplina de Processo Saúde-Doença. Foram incluídos no estudo acadêmico
universitários escolhidos de forma aleatória entre estudantes universitários disponíveis,
totalizando 25 universitários, sendo 11 universitários que praticam esportes e 14
universitários que não praticam esportes. Todos os sujeitos que participaram da pesquisa
leram e concordaram com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Para a avaliação de dor musculoesquelética, foi utilizado uma adaptação do
Questionário Nórdico de Sintomas Musculoesqueléticos (QNSM), que possui relevante
importância e validação entre a literatura científica e especialistas na área de dor
musculoesquelética, e foi implementado através da plataforma Google Forms. O QNSM é um
instrumento de avaliação de dor musculoesquelética. Consiste em um questionário composto
de questões divididas entre diferentes partes do corpo (pescoço, ombros, cotovelos,
punhos/mãos, região torácica, região lombar, quadril/coxas, joelhos e tornozelos/pés),
referentes a problemas com dor nos últimos 7 dias e últimos 12 meses. Cada parte do corpo
também possui uma questão que avalia, em uma escala de 0 à 10, a intensidade da dor do
participante.
Para complementar o QNSM, foi feita também uma anamnese prévia, através do
mesmo formulário, contendo perguntas sobre informações de identificação do participante
(nome, idade, faculdade, curso) e perguntas relacionadas à prática do esporte, como
membros dominantes, se considera-se praticante ou não praticante, qual o esporte praticado
e a frequência de prática.
Adotou-se como critério de exclusão os acadêmicos que não assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Quanto à análise dos dados, foi feita através do agrupamento de indivíduos
praticantes e não praticantes de esporte, de acordo com a média do nível de suas dores e
análise de porcentagem em cada parte do corpo contida no questionário, levando também
em consideração o esporte praticado pelo participante.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliados 14 não atletas e 11 atletas totalizando 25 pessoas, das quais 92%
tinham entre 19 a 25 anos, 4% entre 26 e 30 anos e 4% acima de 30 anos. Das 25 pessoas
avaliadas, 72% fazem faculdade na UFRGS, 16% na UFCSPA e os outros 12% em outra
faculdade. Dentre o tamanho amostral da nossa pesquisa, 40% cursam Fisioterapia, 28%
Fonoaudiologia, 12% Enfermagem, 12% Educação Física, 4% Farmácia e 4% Nutrição. Além
disso, 36% praticam esportes a mais de 1 ano, 4% menos de 6 meses, 4% 6 meses a 1 ano e
53% não praticam esportes. Dos 25 participantes do nosso estudo, 80% eram do sexo
feminino e 20% do masculino.
A figura 1 representa a média feita em níveis na escala de intensidade de dor (figura
1). Nesta figura está a média de intensidade já apresentada, onde ao lado esquerdo está o
gráfico dos atletas, com a maior média sendo para a região Lombar com 4.91 de média e a
direita os não atletas, onde a maior média acabou indo para a região do Pescoço com 4.21 de
média. Como já dito anteriormente este cálculo foi feito através de uma simples fórmula para
média (Média= soma de todos os valores/número total de pessoas).

Figura 1 - Média de intensidade de dor entre atletas e não atletas


Na figura 2, podemos observar o número total de atletas e não atletas que relataram
dores em qual parte do corpo, onde o maior número de casos em atletas foi na região Lombar
com 10 queixas e em não atletas no Pescoço com 11 queixas (figura 2).

Figura 2 - Número de atletas e não atletas que sentiram dor em determinada região

Na figura 3, podemos ver as respostas para a primeira pergunta feita no questionário,


onde à esquerda estão as respostas dos atletas e a direita dos não atletas (Figura 3). Podemos
notar neste gráfico que o número de atletas com dores ultrapassou o número de sem dores
em 2 partes do corpo, no Pescoço (10x1) e na região Lombar (10x1), já os não atletas também
ultrapassaram essas duas marcas, porém com menor discrepância na região Lombar, ficando
Pescoço (12x2) e região Lombar (8x6).
Figura 3 - Primeira pergunta (abordando desconforto, dor e dormência nos últimos 12
meses)

Na Figura 4 está expresso em forma de gráfico as respostas da segunda pergunta feita,


onde se teve um grande equilíbrio entre atletas e não atletas apenas destoando na região
Lombar (figura 4).

Figura 4 - Segunda pergunta (abordando o quanto sua dor impacta no seu dia a dia)
Na figura 5 obtivemos as respostas da nossa terceira e última pergunta do
questionário onde as respostas foram praticamente as mesmas, apenas mudando pequenas
coisas (figura 5).

Figura 5 - Terceira pergunta (abordando sobre problema nos últimos 7 dias)

A abordagem integral à pesquisa sobre comparação de dor musculoesquelética entre


universitários que praticam e que não praticam esportes é crucial para enfrentar os desafios
complexos que essa condição nos apresenta. Ao analisarmos juntos os resultados desse
estudo sobre comparação de dor musculoesquelética entre os universitários praticantes e não
praticantes, foi possível notar a predominância jovem (92% entre 19-25 anos), com a maioria
de sexo feminino. Essa demografia pode influenciar a propensão a dores
musculoesqueléticas, se considerarmos fatores como a atividade e o estilo de vida. Os nossos
resultados também apontam que no geral os atletas sentem mais dor, tendo uma intensidade
média de dor mais elevada. Embora existam variações nas respostas, a consistência nas
percepções entre atletas e não atletas em relação à última pergunta, sugere que, em termos
gerais, ambos os grupos compartilham visões semelhantes sobre a sua condição física.
Analisando, emergiram alguns insights significativos que contribuem para um melhor
entendimento e uma gestão mais eficaz dessa questão prevalente. Diante da análise, um dos
achados fundamentais deste trabalho é que atletas tendem a experimentar mais dor na região
lombar, possivelmente devido às demandas físicas específicas de suas atividades esportivas.
Por outro lado, não atletas relataram maior dor na região do pescoço. Esse resultado aponta
para uma distinção nas áreas de maior incidência de dor destacando a importância de
considerar as atividades físicas e os padrões de movimentos específicos ao interpretar e
abordar as queixas de dor em diferentes grupos. Isso destaca a necessidade de estratégias de
intervenção personalizadas.

A compreensão mais profunda da dor musculoesquelética pode abrir caminho para


uma abordagem terapêutica mais eficaz e centrada no paciente. A análise das médias de dor
em relação ao tempo de prática esportiva revelou algumas tendências interessantes, que
vamos citar abaixo:

De 6 meses a 1 ano de prática: Este grupo apresentou níveis de dor mais elevados em
algumas categorias. Por exemplo, a média de dor nos ombros foi 8.0, e nos joelhos foi 7.0,
indicando um nível de dor considerável.

Mais de 1 ano de prática: Os indivíduos com mais de um ano de prática de esporte


mostraram, em média, níveis mais baixos de dor em quase todas as categorias. Por exemplo,
a média de dor nos ombros foi apenas 0.56, sugerindo uma adaptação ou maior resistência
ao longo do tempo.

Menos de 6 meses de prática: Os novatos, com menos de 6 meses de prática,


apresentaram níveis variáveis de dor, mas em geral inferiores aos do grupo de 6 meses a 1
ano.

A análise desses resultados sugere que pode haver um período de adaptação inicial
em que os atletas experimentam níveis mais elevados de dor, que diminuem com o tempo de
prática. No entanto, é importante considerar que essas tendências podem ser influenciadas
por outros fatores, como a intensidade do treino, o tipo de esporte praticado e a
predisposição individual para lesões ou dor musculoesquelética.
Ao contextualizar nossos resultados com um estudo sobre a prevalência de lesões e
dor musculoesquelética em praticantes de atividades físicas e de musculação em academias,
feito por estudantes da Universidade Federal de Brasília, em 2021, observamos diferenças
como a ênfase nas regiões de dor, e as diferenças nos perfis demográficos. Também foi
possível achar semelhanças, como as regiões do corpo mais suscetíveis a dores
musculoesqueléticas, sendo semelhante às mesmas áreas, joelhos e a coluna. Essas
discrepâncias e analogias podem ser atribuídas a muitos fatores, como a intensidade e a
frequência com que praticam, as atividades específicas, a postura e a falta de supervisão. Isso
tudo destaca a complexidade do assunto e a importância de considerar os fatores diversos.
Toda essa análise nos fornece um panorama mais completo da natureza multifacetada da dor
musculoesquelética.

Além disso, considerando as nossas respostas obtidas foi possível perceber que essas
descobertas podem ter implicações não apenas para os profissionais da saúde, mas também
para os indivíduos que vivenciam a dor músculo esquelética, sugerindo uma oportunidade
melhor para aprimorar as estratégias de autocuidado e prevenção. Num contexto mais amplo,
a nossa discussão contribui para a base de conhecimento já existente e também aponta para
direções futuras, incentivando não só a pesquisa contínua sobre o assunto, mas também
incentiva a busca por estratégias para prevenir a dor musculoesquelética em estudantes
praticantes e não praticantes de atividades físicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As descobertas feitas no presente estudo ressaltam a importância de uma abordagem
integral na pesquisa sobre dor musculoesquelética em universitários atletas e não atletas. Os
resultados indicam diferenças na prevalência e intensidade da dor musculoesquelética entre
os dois grupos, com atletas apresentando maior dor na região lombar e não atletas na região
do pescoço. Isso sugere a necessidade de estratégias de intervenção personalizadas. Além
disso, o estudo contribui para a base de conhecimento existente e enfatiza a importância de
continuar a pesquisa nessa área, bem como de desenvolver estratégias de prevenção e
autocuidado para dor musculoesquelética em estudantes universitários, tanto atletas quanto
não atletas.
AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de deixar expressos os nossos mais sinceros agradecimentos às
professoras Lais Rodrigues Gerzson e Claudia Candotti por terem nos dado o suporte
necessário para a realização deste artigo.

REFERÊNCIAS
BARROS, Newton. Entendendo a dor. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 – Santana: Artmed Editora
LTDA, 2014. E-book. ISBN 9788582710203. Disponível em:
https://app.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582710203/. Acesso em: 30 jan. 2024.

Matsudo SM, Matsudo VR, Neto TB. Atividade física e envelhecimento: aspectos
epidemiológicos. Rev Bras Med Esporte 2001;7:1-12.

Vitta A, Neri AL. Bem-estar físico e saúde percebida: um estudo comparativo entre homens
e mulheres adultos e idosos, sedentários e ativos [Tese]. Campinas: Universidade Estadual
de Campinas; 2001.

SILVA, Breno Pereira da & SIQUEIRA, Lucas Araujo. Prevalência de lesões e dor
musculoesquelética em praticantes de musculação em academias do Distrito Federal: um
estudo piloto. 2021. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Fisioterapia) -
Universidade de Brasília, Brasília, 2021.

TOSCANO; J. J. O, EGYPTO; E.P. A influência do sedentarismo na prevalência de lombalgia.


Rev Bras Med Esporte 2001; 7: 132-137.

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