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American Flagg

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OS FUTUROS DISTÓPICOS DOS ESTADOS UNIDOS NAS PÁGINAS DE

AMERICAN FLAGG!, MARSHAL LAW E MARTHA WASHINGTON (1983-1999)

Rodrigo Aparecido de Araújo Pedroso

Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.

RESUMO

Este texto tem como objetivo apresentar algumas análises de três séries de histórias em quadrinhos
publicadas nos EUA entre os anos 1980 e 1990: “American Flagg!” de Howard Chaykin (1983-
1989); “Marshal Law” de Pat Mills e Kevin O’Neill (1987-1993) e “Martha Washington” de Frank
Miller e Dave Gibbons (1990-1999). Essas três HQs podem ser caracterizadas como obras de ficção
científica utópicas/distópicas nas quais os autores expõem seus sentimentos e opiniões com relação
aos rumos que o país estava tomando. A ideia central é investigar como determinadas visões
pessimistas sobre o futuro foram historicamente construídas e qual é o papel dessas obras de ficção
na construção e na apreensão da realidade na qual estão inseridas. Para tanto partimos da hipótese
de que as perspectivas de futuro divulgadas por essas HQs dialogam com mudanças político-sociais
que estavam ocorrendo nos EUA, como por exemplo, o temor das consequências de uma possível
guerra nuclear, as incertezas econômicas e sociais decorrentes da implantação de medidas
neoliberais e a ascensão de grupos políticos conservadores durante os governos de Ronald Reagan
(1981-1989) e George H. W. Bush (1989-1993).

PALAVRAS-CHAVE: Estados Unidos; Distopia; Medo.

ABSTRACT

This text aims to present some analysis of the three series of comics published in the USA between
the 1980 and 1990: “American Flagg!” by Howard Chaykin (1983-1989); “Marshal Law” by Pat
Mills and Kevin O'Neill (1987-1993) and “Martha Washington” by Frank Miller and Dave Gibbons
(1990-1999). These three comic books can be characterized as utopian/dystopian science fiction
works in which the authors expose their feelings and opinions regarding the directions the country is
taking. The central idea is to investigate how intended pessimistic visions about the future were
historically constructed and what is the role of fiction in the construction and apprehension of the
reality in which they are inserted. For example, fear of the consequences of a possible nuclear war,
such as economic and social uncertainties arising from the implementation of neoliberal measures
and the rise of conservative political groups during the governments of Ronald Reagan (1981-1989)
and George H. W. Bush (1989-1993).

KEYWORDS: United States; Dystopia; Fear.


INTRODUÇÃO

O presente texto tem como objetivo expor brevemente algumas análises sobre três
séries de histórias em quadrinhos (HQs) publicadas nos Estados Unidos entre os anos 1980
e 1990: “American Flagg!” de Howard Chaykin (1983-1989); “Marshal Law” de Pat Mills
e Kevin O’Neill (1987-1993) e “Martha Washington” de Frank Miller e Dave Gibbons
(1990-1999). Essas três obras têm como característica principal o fato de serem
ambientadas no futuro, mais precisamente no século XXI. E através delas os autores fazem
algumas projeções com relação ao futuro dos Estados Unidos. Partindo dessa proposta
narrativa podemos caracterizá-las como obras de ficção científica com uma temática
utópica e distópica.
Estabelecer projeções sobre o futuro é uma temática recorrente em diversos períodos
históricos. As tentativas de antever o amanhã demonstram o quanto os seres humanos são
interessados pelo que pode vir a ocorrer no futuro. Uma clara evidência desse tipo de
interesse é o grande sucesso das obras que trabalham com ideias de utopia e distopia. Esse
tipo de ideias são frequentemente associadas à ficção científica (fc), seja na literatura,
cinema ou em histórias em quadrinhos. Obras de ficção científica costumam trabalhar com
situações que envolvem o desenvolvimento tecnológico; criando cenários fantasiosos nos
quais os seres humanos são expostos e interagem com uma grande variedade de aparatos
tecnológicos inexistentes ou em via de serem criados. Porém, essas tramas nem sempre são
ambientadas em mundos futuros, muitas obras de ficção científica criam fantasias
tecnológicas no presente. Já as utopias e distopias a princípio não eram gêneros narrativos
associados a obras de ficção científica, mas com a popularização desse setor editorial ao
longo dos séculos XIX e XX, utopias e distopias se tornaram temas recorrentes em
inúmeras obras de ficção científica.
Utopia pode ser definida como “uma sociedade não existente descrita com
consideráveis detalhes e normalmente localizada no tempo e espaço”1 (FITTING, 2009, s/p,
tradução nossa). Peter Fitting apresenta outro termo mais abrangente o de “eutopia”, que
seria também a descrição de uma sociedade não existente localizada em algum lugar no

1
Essa definição foi feita por Peter Fitting com base em suas leituras da obra de Lyman Tower Sargent “The
three faces of utopianism revisited” (1994), é nessa obra que Fitting baseia suas outras definições que
usaremos mais adiante. Disponível em: <http://www.depauw.edu/sfs/backissues/107/fitting107.htm> Acesso
em: 16 de set. 2017.
tempo e no espaço, mas que o autor identifica como sendo melhor que a sociedade
contemporânea na qual ele e o leitor vivem. Já as chamadas distopias fazem o inverso das
utopias. Fitting define distopia como: “uma sociedade que não existe descrita em
consideráveis detalhes e normalmente localizada num tempo e espaço que o autor
intenciona fazer com que o leitor contemporâneo veja como consideravelmente pior do que
a sociedade em que vive” (2009, s/p, tradução nossa).
De acordo com alguns autores especilista em obras distópicas como Raffaela
Baccoli e Tom Moylan ao longo do século XX é possível identificar períodos nos quais esse
tipo de literatura teve um maior desenvolvimento. Na segunda metade do século a Guerra
Fria e o perigo iminente de uma guerra nuclear entre os Estados Unidos e a União Soviética
foram fatores que incentivaram ainda mais as distopias. Isso pode ser edificado com maior
clareza na década de 1980 devido à “[...] reestruturação econômica, políticas de direita, e
por um ambiente cultural instruído por um intensificado fundamentalismo e
mercantilização, escritores de fc reviveram e reformularam o gênero distopia”
(BACCOLINI; MOYLAN, 2003, p.2, tradução nossa). Os autores apontam para uma forte
tendência negativa e niilista nessas distopias dos anos 80, atribuída ao fato de que “os
impactos da virada conservadora da década começaram a ser reconhecidos tanto na
estrutura social quanto na vida cotidiana” (2003, p.3, tradução nossa).
Quanto à temática de futuros utópicos ou distópicos como objeto de estudo
historiográfico esta pesquisa se pauta no trabalho dos historiadores Michael D. Gordin,
Helen Tilley e Gyan Prakash, que organizaram uma coletânea chamada “Utopia/Dystopia:
conditions of historical possibility” (2010), na qual reuniram diversos artigos de autores de
diversas áreas para demonstrar as possibilidades de análise que estas formas de imaginar o
futuro têm. A proposta de análise dos autores parte da ideia de que utopias e distopias “[...]
não são apenas maneiras de imaginar o futuro (ou passado), mas também podem ser
entendidas como práticas concretas através das quais atores historicamente situados buscam
repensar seu presente e transformá-lo em um futuro plausível” (GORDIN, TILLEY e
PRAKASH, 2010, p.2, tradução nossa). Além disso, eles afirmam que analisar utopias e
distopias é um meio para “entender como indivíduos e grupos em todo o mundo tem
interpretado seu tempo presente com um olho no futuro” (Ibid., p.3, tradução nossa).
Assim, a ideia central é investigar como determinadas visões pessimistas sobre o
futuro foram historicamente construídas e qual é o papel dessas obras de ficção na
construção e na apreensão da realidade na qual estão inseridas. Para tanto partimos da
hipótese de que as perspectivas de futuro divulgadas pelas HQs selecionadas dialogam com
mudanças político-sociais que estavam ocorrendo nos EUA, como por exemplo, o temor
das consequências de uma possível guerra nuclear associada a desastres naturais, as
incertezas econômicas e sociais decorrentes da implantação de medidas neoliberais e a
ascensão de grupos políticos conservadores durante os governos de Ronald Reagan (1981-
1989) e George H. W. Bush (1989-1993).

AMERICAN FLAGG! E OS EUA PRIVATIZADOS

A série American Flagg! de Howard Chaykin, conhecido escritor e desenhista de


ficção científica e histórias em quadrinhos, foi publicada originalmente pela pequena
editora Firts Comics de 1983 a 1987 (50 edições da primeira fase da revista2) e de 1988 a
1989 (12 edições da segunda fase). Essas HQs são ambientadas em 2031, que apresenta os
EUA e o mundo devastados por uma grande crise ambiental e social decorrente da Guerra
Fria, no qual as duas potências envolvidas deixaram a Terra e conduziram suas
administrações provisoriamente para o espaço, a União Soviética mudou-se para a Lua e os
EUA para Marte. Isso deixou espaço para o surgimento de novas potências mundiais como
o Brasil (formando a União Brasileira das Américas) e a Liga Pan-Africana, que disputam
ou dividem o controle político da Terra com a Plex uma grande corporação encarregada de
reabilitar o planeta para que os EUA possam retornar.
O personagem principal da narrativa é Reuben Flagg americano/marciano que era
ator de um seriado policial erótico que, ao ser substituído por um holograma, se alistou para
servir nos Plexus Rangers em Chicago, policiais que cuidam da segurança dos Plexmalls
grandes centros de consumo seguros e frequentados pela elite da Terra. Fora desses locais a
cidade de Chicago é um território hostil, contaminado e disputado por diversas gangues e
grupos paramilitares. As HQs contam as aventuras de Reuben Flagg como agente da “lei”
nesses locais, os enredos envolvem meios de comunicação, mensagens subliminares ilegais,

2
No Brasil foram publicadas algumas edições dessa primeira fase da revista, 4 pela Editora Cedibra (1987-
1988) e 6 pela Editora Abril (1990). Recentemente a editora Mythos publicou um encadernado contendo as 12
primeiras edições de American Flagg!, o material pode ser encontrado facilmente em livrarias e lojas
especializadas em quadrinhos, o restante da série permanece inédito em português.
transmissões de TV “pirata”, guerras de gangues, políticos e diplomatas; disputas de poder,
sexo e tramas conspiratórias envolvendo a grande corporação Plex.
A trama das HQs é pautada na luta diária e paliativa de Flagg contra a corporação
Plex e grupos terroristas racistas, que ambicionam dominar o Plexmall e a cidade de
Chicago. Ele realiza pequenas ações que desvendam e atrapalham determinados planos da
Plex. Porém devido ao grau de poder da corporação e ao fato de que Flagg é um funcionário
da empresa, podemos inferir que suas ações são mais de caráter paliativo, pois ele não
possui o poder suficiente para desmontar toda a organização de controle da Plex.
Outro fato interessante que demonstra as limitações de ação de Flagg é que as
guerras urbanas entre gangues e milícias são “patrocinadas” e fortemente armadas pela
corporação Plex, que na teoria deveria existir para garantir a segurança dos habitantes da
cidade, mas está envolvida em um lucrativo negócio de produção de um reality show que
transmite ao vivo os combates que ocorrerem entre as milícias da cidade. E, como indicado
logo na primeira edição, o financiamento bélico da Plex implica no estabelecimento de
certas regras para que os combates não sejam demasiadamente destrutivos. A narrativa de
Chaykin nos apresenta um cenário teatralizado e televisionado no qual os Plexus Rangers
que trabalham para a corporação e são encarregados de combater o crime aparentemente
não tem de fato esse poder. Entretanto, os combates por mais que tenham um grau de
encenação não deixam de causar danos e mortes.
Flagg é descrito por Chaykin em diversas entrevistas como um personagem que
apresenta uma orientação política liberal3 e que acredita que os Estados Unidos são um
local especial, porém anos de falta de administração governamental e domínio da
corporação Plex transformaram a realidade do país em um verdadeiro pesadelo. Na terceira
edição Reuben Flagg faz uma importante declaração na qual deixa bem claro suas opiniões
e motivações:

3
Nos EUA “liberal” seria aquele que tem uma orientação política favorável a maior intervenção estatal na
sociedade, fornecendo serviços públicos (saúde, educação, segurança etc.) e promovendo uma relativa
igualdade social; os que se opõem a isso são denominados de “conservadores”; liberais normalmente são os
ligados ao Partido Democrata e os conservadores ao Partido Republicano, entretanto isso não é muito fixo, a
orientação política desses partidos varia um pouco ao longo do tempo. O sentindo de liberal nos EUA é bem
diferente do que usamos aqui no Brasil e do que é usado na Europa. Essa diferença se explica pela forma
como se deu sua formação histórica e política, para maiores informações sobre esse tema recomendo a leitura
do segundo capítulo da dissertação de mestrado de Geraldo Nagib Zahran Filho “Identificando influências: a
tradição política liberal dos Estados Unidos e seus reflexos”, disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-
rio.br/6459/6459_3.PDF
Cresci em Marte com um amor imprudente por este país... Uma devoção
alimentada tanto pela história como pela saudade de meus pais... Quando
cheguei aqui descobri que os céus espaçosos eram escuros e as planícies
frutíferas estavam apodrecidas por completo. Mas o dano é mais profundo
do que o desespero físico... Muito mais profundo. O espírito americano...
A honesta e aberta força de solidariedade... Foi castrada. Traído pelos
bancos... Pelos grandes negócios... Por ricos asquerosos que usam
patriotismo como uma prostituta usa perfume barato... E traído pela Plex
(CHAYKIN, 1983, p.27, tradução nossa).

O tom idealizado da fala de Flagg remete a alguns mitos fundadores, e ainda


propagados no país, como o da “excepcionalidade” do território e do povo dos Estados
Unidos, que seriam especiais e escolhidos pela providência divina. Com base nesse mito se
desenvolveram dois outros, o do “Destino Manifesto”, ideia de que por serem “especiais” o
povo dos EUA estaria “predestinado” a melhorar o mundo, ou seja, teria o direito e a
obrigação de tornar o mundo um local melhor, de acordo com seus próprios conceitos. O
outro elemento mítico derivado dessa concepção de excepcionalidade é o chamado “Sonho
Americano”.
O Sonho Americano representa um estado mental, [...] um otimismo
permanente dado a um povo que poderia ser tentado a sucumbir às
dificuldades da adversidade, mas que, ao contrário, repetidamente
ressurge das cinzas para dar continuidade a construção de uma
grande nação (WHITE; HANSON, p.3, tradução nossa).

Assim, pode se dizer que a fala de Flagg é carregada de interpretações míticas e


também patrióticas sobre os EUA. A HQ valoriza muito essa ideia de que a nação e seu
povo tem a capacidade de superar as adversidades, vencer a corporação que está destruindo
o país. Reuben Flagg, em parte, pode ser considerado como a personificação desses ideais,
ele seria a esperança para aquele mundo decadente. Contudo, dada as limitações de ação do
personagem, pode-se dizer também que ele é um herói sonhador, seu potencial de mudança
é muito limitado, grande parte de suas ideias não passam disso. O fato de Flagg ser um
herói, sem grandes poderes, moralmente corruptível e com uma ação bem limitada,
aproxima o personagem de seus leitores. Que podem, dentro de algum nível, se identificar
com as ideias do personagem, e tomá-las como um exemplo. Afinal, Reuben Flagg não é
muito diferente de qualquer homem comum.
Outro fator importante na obra de Chaykin é a fragmentação política da sociedade
que beira a uma total confusão de ideias. Tanto os grupos políticos quanto o personagem
principal não tem uma coerência ideológica. Além disso, essa desconexão ideológica
presente na HQ pode ser entendida como uma crítica à ambiguidade ideológica promovida
por Ronald Reagan durante seu mandato. O historiador Gil Troy afirma que os anos 1980
foram profundamente marcados pelas ações políticas de Reagan, que foi hábil em associar
ideias políticas conservadoras com ideias de prosperidade material, consumismo e
patriotismo. Para isso ele utilizou seu carisma e fama como ator, aliados a uma retórica
muito bem elabora que conseguiu unir elementos aparentemente contraditórios. Para Troy,
Reagan foi:
Um político surpreendentemente ágil, Ronald Reagan entendeu a
alquimia da liderança, especialmente no mundo moderno. Mais do
que qualquer outra coisa, e transcendendo todos os meandros e
hipocrisias do presidente, faltas e confusões, a perspectiva
americanista de Reagan definiu seus tempos. O reaganismo era
carregado de liberdade, mas moralista, orientado para o consumidor,
mas idealista, nacionalista, mas individualista, e consistentemente
otimista (2005, p.4, tradução nossa).

O mundo que Chaykin construiu em American Flagg! aparentemente é uma


tentativa de elaborar uma paródia dessa retórica ambígua empregada pelo presidente. Ele
procura demonstrar o quanto o incentivo ao consumo pode ser prejudicial às relações
humanas, e o que esse tipo de ação pode levar a uma crescente instabilidade política e
moral, pois quando as pessoas estão apenas preocupadas em consumir e em saciar seus
desejos, padrões morais e sentimentos coletivos, como o patriotismo, deixam de ter
importância. Além do que, Chaykin inverte a retórica de Reagan, demonstrando um grande
pessimismo e expondo o quanto o incentivo constante ao consumo e ao individualismo, em
vez de fazer “a América grande novamente”4, poderia levar o país a um crise sem
precedentes e a uma completa fragmentação política e social.

MARSHAL LAW O CAÇADOR DE SUPER-HERÓIS CORROMPIDOS

A série Marshal Law foi desenvolvida pelos britânicos Pat Mills (roteiros) e Kevin
O’Neill (desenhos), ambos conhecidos por seus trabalhos na revista britânica de quadrinhos

4
Tradução de “Let’s make America great again!” slogan empregado por Reagan na campanha presidencial de
1980.
de ficção científica 2000 AD5. Marshal Law foi publicada entre 1987 e 19906 pela Epic
Comics, selo paralelo da Marvel Comics que era destinado ao lançamento de HQs para um
público mais adulto. Entre 1990-1991 os autores levaram seu personagem para a pequena
editora britânica Apocalypse; e depois para a Dark Horse Comics (1992-1994). Marshal
Law nunca foi uma série regular, foi publicada em forma de minisséries e edições especiais
entre 1987 e 1994.
A maioria das tramas da série se passam na cidade de São Francisco no ano de
2020-2022, que foi destruída por um grande terremoto e reconstruída com o nome de São
Futuro; os autores criaram um cenário de destruição disputado por gangues rivais. O
diferencial dessas HQs é que os autores partem da ideia de que nesse mundo futurista todos
podem ser super-heróis, basta tomarem uma droga que lhes dá superpoderes. Essa droga foi
desenvolvida para ser usada na “Zona”, local que abrange praticamente toda a América
Latina que nesse futuro foi palco de uma guerra nos moldes da do Vietnã só que
envolvendo soldados com superpoderes criados pelo governo dos EUA. Marshal Law é um
ex-combatente dessa guerra e trabalha para a polícia de São Futuro como um caçador de
super-heróis, pois com o fim da guerra na Zona os supersoldados que voltaram passaram a
agir de forma agressiva e arbitrária, formando gangues e ameaçando as pessoas comuns.
Marshal Law é quem tem a missão de controlá-los e/ou exterminá-los.
Ao criar o personagem Marshal Law o escritor Pat Mills não pretendia criticar
exatamente os super-heróis, mas sim construir uma narrativa que serviria como uma
metáfora para criticar “[...] os inúmeros ícones falsos na vida real que, por suas ações,
corromperam a palavra “herói” e a tornaram quase sem sentido” (MILLS, 2013, p.469,
tradução nossa). Além disso, por meio desse método de narrativa ele e Kevin O’Neill
tinham como objetivo:
[...] explorar a verdadeira natureza e o custo das intervenções militares dos
EUA (Fear and Loathing), o lado obscuro da CIA (Marshal Law Takes
Manhanttan), a verdadeira motivação dos super-ricos (Kingdom of the
Blind), e as corporações que negociam com os inimigos (Super Babylon).
Em um sentido, eu gosto de super-heróis, porque eles me provêm um
grande potencial narrativo. Eles são meios perfeitos para expor os vilões
da vida real. Nas histórias de outros autores, os super-heróis geralmente

5
Pat Mills foi editor é um dos criadores dessa revista em meados dos anos 1970, a 2000 AD é uma das mais
conhecidas publicações de histórias em quadrinhos do Reino Unido.
6
A Editora Abril publicou algumas edições desse personagem no Brasil em 1991, porém boa parte das HQs
dele continuam inéditas em português.
lutam contra vilões padronizados que eu realmente odeio – mafiosos
estereotipados, psicopatas, pequenos criminosos, loucos encapuzados,
traficantes de drogas, e uma infinidade de terroristas estúpidos. Raramente
esses vilões são explorados em algum nível mais profundo que os faça
parecer controversos ou interessantes para qualquer um que não seja um
aficionado por quadrinhos. Mas se o Law for atrás de traficantes de
drogas, isso ocorreria em uma história sobre os escandalosos laços entre o
governo e os traficantes (Ibid.).

Com base nessas declarações do autor podemos inferir que Marshal Law não é uma
simples série de quadrinhos que satiriza os super-heróis; os autores têm objetivos mais
profundos ao conceber sua obra. Fica evidente que o grande objetivo deles é denunciar
determinadas questões referentes ao papel que os Estados Unidos têm desempenhado no
mundo. Na primeira minissérie do personagem ele luta contra o Public Spirit [Espírito
Público] o maior herói dos EUA, que é uma versão do Super-Homem com ideais religiosos
e conservadores. Na trama, Law investiga uma série de assassinatos que aparentemente
estão relacionados com o Public Spirit, pois as vítimas são mulheres fantasiadas como a
parceira do personagem Celeste. Ao longo da narrativa Law descobre que os crimes são
cometidos pelo filho bastardo do Public Spirit a mando de sua ex-parceira Virago. Além
disso, a narrativa revela o quanto o Public Spirit está envolvido em esquemas corruptos
com o governo e que sua imagem de herói altruísta e generoso não passa de uma
propaganda idealizada pelo governo para estimular os cidadãos a se alistarem no projeto do
Dr. Shocc que criou uma droga capaz de transformar homens comuns em supersoldados
para combaterem tropas comunistas na América Latina, conhecida como Zona.
Na última edição da minissérie Fear and Loathing durante a batalha final entre o
Public Spirit e Marshal Law o leitor pode ler partes de um artigo acadêmico escrito por
Lynn Evans falecida estudante de comunicação, militante feminista e namorada de Law, ou
melhor, de seu alter ego Joe Gilmore. Em seu texto a personagem estabelece um ligação
entre os super-heróis e uma tendência machista bélica falocêntrica representada pela
imagem do Public Spirit. De acordo com a concepção da personagem ao utilizar homens
com superpoderes em uma guerra os Estados Unidos estariam demonstrando seu poder
fálico na tentativa de dominar e destruir um inimigo soviético, caracterizado como “fraco”,
mas que apresenta um perigo descrito com uma conotação homossexual: “Nós não
podemos ficar nus... precisamos cobrir nossas bundas..., se os soviéticos tomarem o poder
ele poderão abrir um buraco em nossas portas dos fundos...” (MILLS; O’NEILL, 1989,
p.24, tradução nossa). A personagem também discute o quanto essa imagem masculinos
supervalorizada causa problemas aos homens comuns que sofrem por não conseguirem se
adequar aos padrões que a sociedade transmite. Evidentemente, que dado o papel
dominante que os homens exercem na sociedade esses problemas tem pouco impacto em
suas vidas, porém contribui para que estes hajam de forma cada vez mais violenta uns com
os outros e principalmente contra as mulheres. Os super-heróis na concepção dos autores
são um modelo machista totalmente idealizado que tem como objetivo incentivar outros
homens a seguir um determinado padrão de virilidade e força.
De acordo com o sociólogo Ian M. Taplin o sucesso e a persistência da figura
mitológica do herói (ou super-herói) nos meios de comunicação contemporâneos
contribuem para fornecer às pessoas comuns um sentimento de satisfação, ilusório, de que
alguém está resolvendo as grandes crises do mundo enquanto elas realizam suas atividades
cotidianas.
Enquanto houver heróis para pegar as peças e restaurar a realidade ao seu
estado “correto”, a magnitude da nossa aquiescência nunca será
concretizada. A indústria da cultura é implacavelmente persistente em sua
produção de legitimidade heroica. Os heróis então nos permitem
externalizar as contradições internas de nossas vidas. Eles também são
uma válvula de segurança para nossas frustrações coletivas. Eles
apresentam soluções para problemas perenes que muitas vezes não são
mais do que o produto de contradições formuladas por uma cultura que
promete o mundo em imagens pré-embaladas, mas não consegue entregar
o real. Os heróis permitem que conciliemos, mas apenas temporariamente,
essa desocupação inerente. Presumivelmente, eles estarão conosco por
muito tempo ainda (TAPLIN, 1988, p.141-142, tradução nossa).

Marshal Law tem como função expor ao mundo a grande farsa que os super-heróis
são, seu objetivo e desmascarar todos os supostos heróis de seu país, mostrar que eles não
têm nada de nobre ou moralmente digno de ser entendido como um exemplo a ser seguido.
Law entretanto apresenta uma grande contradição em suas ações, pois ele também pode ser
visto como um super-herói e suas ações podem despertar algum tipo de identificação.
Fazendo que algum outro cidadão se inspire em suas ações e decida ser mais um caçador de
super-heróis. Outro ponto contraditório é o fato de que Marshal Law trabalha secretamente
para a CIA – que nas HQs é representada por seu chefe extremante corrupto e manipulador
o comissário McGland – cuidando de super-heróis que fogem do controle do poder
estabelecido, logo Law é um personagem vinculado ao Estado e suas ações violentas,
representam o poder de coerção do governo. Por isso, dentro da própria narrativa o
personagem é adjetivado como fascista, já que é um braço armado e autoritário do Estado.
Ao mesmo tempo Law apresenta um certo grau de independência do poder estatal e, em
muitos momentos, questiona e desobedece as ordens de seu superior. Ele é um personagem
extremamente complexo que está envolvido em uma missão praticamente infinita de
combate ao mito do herói.

MARTHA WASHINGTON E OS ESTADOS “DESUNIDOS” DA AMÉRICA

Martha Washington é uma personagem feminina criada pelo roteirista Frank Miller
em parceria com o desenhista Dave Gibbons, ambos nomes muito conhecidos no mercado
editorial de quadrinhos devido a seus trabalhos anteriores com personagens da Marvel e da
DC Comics. As HQs de Martha Washington foram publicadas pela Dark Horse Comics em
forma de minisséries e edições especiais esporádicas entre 1990 e 20077.
As histórias se passam nos Estado Unidos do século XXI (cobrem o período de 2000
até 2095, ano em que Martha morre) que é uma nação poderosa e imperialista governada
por um presidente autoritário e megalomaníaco. O cenário da HQs também é caótico,
internamente os EUA vivenciam uma série de guerras civis separatistas denominada de
“Segunda Guerra de Secessão”; ao mesmo tempo mantém tropas em diversas partes do
mundo tentando preservar seu poder imperial.
Através das minisséries de Martha Washington Miller e Gibbons nos apresentam
suas preocupações, ou temores, de que ao se tornar a única superpotência do mundo com o
fim da Guerra Fria os Estados Unidos possam adentrar em um período imperialista
inconsequente, que ocasionaria uma profunda divisão interna já que o governo estaria com
suas atenções voltadas a manutenção do domínio de regiões fora de seu território. Um
cenário ficcional que levou o país a uma Segunda Guerra de Secessão, ainda mais profunda,
pois o país se dividiu em nove nações independentes e com diversas orientações políticas e
econômicas, que vão desde extremismos religioso, feminista e nazista (Nação de Deus,
Primeira Confederação Sexual e a Ditadura Capitalista da Costa Leste); passando por
nações voltadas para diversão e controladas por uma grande empresa de fast food

7
No Brasil a primeira série da personagem “Give me Liberty” foi publicada pela Editora Globo (1991) e
reeditada pela Mythos Editora, que também lançou a segunda série “Martha Washington Goes To War”
(2005-2006). O restante do material sobre Martha Washington continua inédito em português.
(Wonderland, América Real, Território Mexicano e Republica da Estrela Solitária, essas
três últimas são dominadas pela empresa Fat Boy Burgers) e nações menos separatistas
(Florida e a Federação dos Estados da Nova Inglaterra).
Martha é uma jovem negra que nasceu em Chicago em um gueto para negros, mais
parecido com um campo de concentração, após se envolver em um crime e ser enviada para
uma unidade correcional a personagem foge, e sem ter muitas perspectiva de vida resolve
alistar-se na “Pax Peace Force” [Pax Forças de Paz] nome que o exército americano usa
para “resolver” conflitos em diversas partes do mundo. Ela é levada para combater a
corporação de fast food Big Boy Burgers que estava dominando territórios na Amazônia. A
princípio para a personagem a atividade bélica é uma forma de ganhar algum dinheiro e
fugir de uma possível condenação. No exército Martha se mostra uma ótima guerreira e
ascende rapidamente, e acaba se envolvendo em uma trama conspiratória e separatista
encabeçada por um de seus superiores na Pax.
Assim, a trama de Martha Washington se pauta no combate a essa conspiração e na
tentativa de transformar os EUA em uma nação unida internamente. Ao longo da primeira
minissérie Martha faz amizade com o índio apache Wasserstein. Que posteriormente se
torna namorado e parceiro de combate de Martha em sua luta para reunificar os EUA e
derrubar o governo o tirano. Na segunda minissérie, ambos se unem em uma empreitada
utópica para criar uma sociedade perfeita baseada na harmonia e em dispositivos de alta
tecnologia para melhorar a vida de todos os seres humanos.
A princípio Martha se mostra relutante em aderir a causa revolucionária de seu
companheiro, pois o treinamento e a ideologia militar da Pax faz com que ela acredite e
defenda cegamente o governo dos Estados Unidos. Entretanto, quando ela percebe que o
governo não tem o menor interesse em melhorar as condições de vida da população ou em
resolver o caos gerado pela guerra civil ela muda de opinião e assume a linha de frente em
uma batalha contra o governo e a Pax.
Martha Washington é um exemplo de uma personagem feminina forte e
independente, entretanto não deixa de ser representada como uma personagem em um certo
grau de inferioridade em relação aos personagens masculinos. Por exemplo, dentro da Pax
por mais que tenha se destacado ela não conseguiu ir além da patente de tenente, enquanto
os soldados do gênero masculino ganhavam cargos mais elevados de maneira mais rápida.
A relação dela com seu namorado indígena Wasserstein também é desigual, ele é como um
mestre que a conduz para a ação revolucionária ao abrir os olhos dela para o mal que o
governo e a Pax provocam; ele atua como um guia da personagem, que desde a primeira
edição é apresentada como uma pessoa com uma grande disposição a seguir ordens.
De acordo com Selma Oliveira, Martha Washington (e outras personagens
guerreiras dos quadrinhos) representa aplicação de modelo feminino denominado de
“amazonismo”, que “[...] é uma expressão extrema da mulher guerreira, que considera o
patriarcado, assim como os homens, essencialmente opressivo” (2007, p.121). Entretanto,
quando esse modelo foi aplicado às personagens de quadrinhos, bem como em outros meios
de comunicação, ele passou por uma modificação no qual foi
[...] incorporado ao modelo feminino mais como atributo físico do que
como qualidade guerreira. O amazonismo passou então a ser um atributo
híbrido de beleza, técnica marcial e um certo grau de agressividade,
guardando pouco ou quase nenhuma semelhança com o significado
original do termo, que, derivado da lenda das amazonas, corresponde à
independência total da sexualidade feminina (Ibid.).

Assim, podemos inferir que as HQs de Martha Washington divulgam esse modelo
feminino de uma mulher forte e guerreira, porém que não possui uma total independência
da figura masculina. Martha é uma personagem que luta pela liberdade de seu povo, porém
não tem uma liberdade plena, está sempre presa ao universo da guerra, que em sua essência
é uma atividade masculina. Martha se dá muito bem nessa atividade, porém está sempre em
um patamar abaixo dos homens, e por isso, tem que realizar atividades muito mais
perigosas para demonstrar seu valor e se manter dentro do mundo da guerra e dos homens.
E o papel de guerreira e líder militar de Martha está totalmente vinculado ao cenário
distópico no qual ela foi gerada, pois o ambiente no qual ela vivia não lhe deu outra opção,
ou entrava na guerra ou acabaria morrendo em uma prisão ou no gueto onde vivia com sua
família.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As histórias em quadrinhos aqui analisadas de forma breve indicam algumas das


temáticas que preocupavam os autores e permitem que se estabeleça alguns pontos em
comum dentro das especificidades de cada uma das obras.
Em American Flagg! Howard Chaykin teme que a crescente onda de privatizações e
a ausência do poder estatal poderia conduzir os Estados Unidos a um período de crise e
caos social sem precedentes. No qual uma grande corporação poderia assumir o lugar do
Estado e controlar a população por meio de um complexo sistema de coerção e
manipulação por meios de comunicação. Dando origem a uma sociedade coletivamente
fragilizada e individualizada devido ao constante incentivo ao consumo. Por meio de suas
HQs Chaykin adverte seus leitores para a possibilidade de um futuro no qual a sociedade e
os valores patrióticos dos Estados Unidos poderiam ser desestruturados pela ação de um
empresa que tem como interesse apenas o lucro e não se importa com as consequências
sociais de sua ambição.
A narrativa de Marshal Law procura desconstruir o mito dos heróis e a forma como
os Estados Unidos associaram esses personagens a suas ações bélicas ao redor do mundo.
Mills e O’Neill nos apresentam um cenário caótico extremamente inverossímil e um
personagem principal extremamente violento e obsessivo que representa o poder coercitivo
do Estado. Law não é um herói e nem os outros que ele persegue e destrói. A mensagem
deixada é clara, não existem heróis, e ninguém que volta de uma guerra merece esse título.
Marshal Law é a obra mais pessimistas das três apresentadas, pois os autores não oferecem
nenhuma alternativa ao que foi apresentado.
Entre as obras selecionadas e a analisadas Martha Washington é a única que fornece
um alternativa ao cenário pessimista que foi projetado para os EUA. A determinação e
coragem da personagem são as características exaltadas pelos autores. Martha é uma
guerreira exemplar e ao longo da série torna-se um agente envolvido em um processo de
transformação social amplo e que entende que quando o poder estatal não está do lado da
população ele deve ser substituído.
O principal ponto em comum nessas HQs além do acentuado pessimismo, é o temor
de que os Estados Unidos em um futuro próximo possa vir a sofrer uma grave fragmentação
interna. Criticam o excesso de intervenções bélicas do país e a ausência do governo em
problemas sociais. E a função dessas narrativas, além do entretenimento, é fazer com que os
leitores reflitam sobre algumas condições do presente que os autores consideram relevantes.
Em suma, procuravam advertir seu público leitor para evitar que algo próximo do que
imaginaram ocorra.
REFERÊNCIAS

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imagination. New York: Routledge, 2003.

CHAYKIN, Howard. American Flagg! (V.1). Chicago: First Comics, 1-50, out. 1983- jul. 1987.

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FITTING, Peter. A short history of utopian studies. In: Science Fiction Studies, 107, v.36, mar.
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GORDIN, Michael D.; TILLEY, Helen; PRAKASH, Gyan. (org.) Utopia/Dystopia: conditions of
historical possibility. Princeton: Princeton University Press, 2010.

MILLER, Frank; GIBBONS, Dave. Martha Washington: Give Me Liberty. Milwaukie: Dark
Horse Comics, 1-4, 1990.

_____________________________. Martha Washington Goes To War. Milwaukie: Dark Horse


Comics, 1-5, 1994.

MILLS, Pat; O’NEILL, Kevin. Marshal Law: Fear and Loathing. New York: Epic Comics, 1-6,
out. 1987 – abr. 1989.

_________________________. Marshal Law: the deluxe edition. New York: DC Comics, 2013.

OLIVEIRA, Selma Regina Nunes. Mulher ao quadrado: as representações femininas nos


quadrinhos Norte-Americanos: permanências e ressonâncias (1895-1990). Brasília: Editora UNB,
Finatec, 2007.

TAPLIN, Ian M. Why we Need Heroes to be Heroic. In: The Journal of Popular Culture, v. 22,
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TROY, Gil. Morning America: how Ronald Reagan invented the 1980s. New Jersey: Princeton
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WHITE, John; HANSON, Sandra L. (org.) The American Dream in the 21st century.
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