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Pombagira Na Umbanda

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TEOLOGIA DE

UMBANDA
eBook - Episódio 29
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SUMÁRIO
ANÁLISE COMPARADA
DO ORIXÁ POMBAGIRA................................04

ORIXÁ POMBAGIRA......................................11

POMBAGIRA DE UMBANDA..........................27

LINHA E ARQUÉTIPO
DAS GUARDIÃS POMBAGIRA......................36
POMBAGIRA
CAPÍTULO 1

ANÁLISE COMPARADA
DO ORIXÁ
POMBAGIRA
POR ALEXANDRE CUMINO

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POMBAGIRA NA UMBANDA

Olá a todos, gostaria de dizer que estou muito contente com esta opor-

tunidade em abordar um assunto ao mesmo tempo novo e delicado em

nossa religião. Em outras culturas há um relacionar-se com este mistério

por meio de outros nomes, no texto Geografia dos Orixás, texto de apoio

da Aula 02, encontramos este texto abaixo:

Também chegou até a Bahia o culto a Iya Mapo, patrona da vagina, por

ser através dela que todos os seres humanos vêm ao mundo, daí a sua

sacralização. Iya Mapo é muito venerada e cultuada em Igbeti. Existe um

itan Ifa ( história de Ifa), pertencente ao odu Osa Meji (10), que conta como

foi colocada a vagina no devido lugar da mulher, até então colocada em

vários lugares do corpo, menos no que é hoje. Para isso estiveram envol-

vidos não só o Odu osa meji, mas também Esu e Iyami Osoronga, num

ebó feito com duas bananas e um pote, cabendo a Esu a sua localização

atual, bem como a do pênis do homem do qual Esu é o dono.

Embora na Umbanda nem Exu e nem Pomba Gira tenham, e nem devem

ter, toda essa conotação sexual, mesmo porque seu símbolo está rela-

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cionado, aqui em nossa religião, ao Tridente quadrado ou redondo como


E
B “totem” de poder; ainda assim é um meio de encontrar uma relação entre
O a citada Iya Mapo e Pomba-Gira. Se não usamos para Exu ou Pomba-Gira
O os órgãos sexuais como simbolismo é porque sua atuação não se limita
K
a uma questão apenas sexual ou de procriação. É fácil compreender a

E importância do simbolismo genital em uma sociedade tribal em que um

P de seus valores maiores está na procriação em que, por se tratar de outra


I cultura, não há pudores. Assim como os índios, os Nagôs não escondiam
S
seus órgãos sexuais e andavam nus como Adão e Eva, já que seu “pa-
Ó
D raíso” sempre esteve aqui neste mundo. Mas assim como chifres e rabo,

I já foram símbolo de poder em outras culturas, atualmente não há muito


O sentido em colocarmos os mesmos em nossas entidades, pois contrário

a representar um poder serve como “munição” ao preconceito, discrimi-


2
nação e demonização de nossas entidades. Uma pedra, um bastão, um
9
cajado, uma flauta já são fálicos por natureza, nada justifica a utilização

de “próteses” ou falos detalhadamente confeccionados, como um pênis

ereto adornando uma “tronqueira”, subentendendo e limitando a ação da

divindade a uma questão sexual, dando uma conotação que evoca um

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simbolismo outro a partir da cultura brasileira que é a base de nossa Um-

banda. Portanto, nem tudo que é bonito no discurso ou teoria vai para a

prática se o simbolismo usado não encontrar eco em nossos corações,

nem pintado de ouro.

Mas voltando à questão da Divindade, Trono do Estímulo, Orixá Pomba

Gira, também vamos encontrar uma relação com a divindade “Iyamin Oxo-

rongá” que faz parte de uma sociedade feminina africana (Nagô) e são

muito temidas. Para alguns, Iyamin são todas as mães em sua origem e

aspectos negativos ou primordiais, para outros, é uma temida mãe original.

De qualquer forma é uma “Deusa”, um dos aspectos do Feminino Sagrado.

Consideradas Mães Feiticeiras, “As Senhoras do Pássaro da Noite”, guar-

dam e têm semelhanças com a Divindade Pomba-Gira.

Na Índia, as Guardiãs de Kali se mostram de forma idêntica às Pomba Gi-

ras, inclusive com a pele avermelhada. As imagens de Pomba Giras nuas

e vermelhas nos lembram algumas das Naturais de Pomba-Gira, entida-

des não humanas que habitam uma dimensão ou reino regido pelo Orixá

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E Pomba-Gira. As naturais não costumam incorporar e nem trabalhar com

B médiuns de Umbanda, a exemplo de Exu, nos relacionamos com nossa


O Pomba-Gira de Trabalho e temos o amparo de nossa Guardiã Pomba-Gira.
O Todo médium tem uma Pomba-Gira de Trabalho, uma Pomba-Gira Natural
K
e uma Pomba-Gira Guardiã, além das Pombas-Giras auxiliares que traba-

E lham junto de nossos guias e Orixás.


P
I Há uma relação estreita entre as divindades do Amor e Pomba-Gira como
S
Divindade da Paixão, assim Oxum e Pomba Gira têm uma relação especial
Ó
D e, da mesma forma, veremos divindades do amor que trazem em si aspec-

I tos desta paixão, ou melhor, do mistério de Pomba-Gira, mesclados ou não


O com um arquétipo guerreiro.

2
A divindade sumeriana/babilônica Astarte representa tanto o Amor quanto
9
a paixão, seu nome quer dizer “O Ventre”, ela era associada ao Planeta

Vênus, à Estrela Matutina. Aparecia nua montada em uma leoa, segurando

em uma mão um espelho e em outra uma serpente. Com a expansão do

judaísmo, seu nome foi deturpado para Astoré, “coisa vergonhosa”, e con-

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siderada um demônio babilônico; suas cores são o branco e o vermelho,

representando o sangue e o sêmen. O mesmo fizeram com a divindade Lili-

th Sumeriana, que é uma mãe do amor, da sexualidade e da força feminina.

Nas escrituras judaicas ela aparece como a primeira esposa de Adão, que

por não aceitar ser submissa foi trocada por Eva.

A divindade grega Nêmesis também teve sua imagem deturpada, era ori-

ginariamente uma guardiã do mundo dos mortos e executora da justiça de

Themis, castigando os mortais transgressores.

Hécate, Senhora da Magia e da Noite, assim como todas as outras deusas

que trabalham o negativo, o escuro ou as paixões, também tem relação

com Pomba-Gira e também foi deturpada. Filha dos Titãs Parses e Astéria,

era cultuada nas encruzilhadas assim como Trívia. Faz parte dos mistérios

de Eleusis por ter uma relação de muita proximidade com Perséfone e De-

méter, que passa seis meses no mundo subterrâneo e seis meses em terra.

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POMBAGIRA NA UMBANDA

E Ajudou Deméter a procurar sua filha Perséfone quando esta foi sequestra-

B da pela divindade do mundo subterrâneo Hades (Omulu), na ausência de


O
Deméter, assume o posto de Rainha do Érebo.
O
K
O objetivo deste texto foi mostrar algumas das divindades que podem ser
E
P associadas ao Orixá Pomba-Gira, e mais uma vez lembrar como a tradição
I judaico-cristã demonizou o que não conseguiu absorver, assim como o
S
Ó fato de muitas divindades conhecerem e trabalharem nossas sombras e

D paixões não implica que as mesmas sejam negativas ou negativadas, e


I
nem sempre são tronos opostos. Espero que o texto sirva de colaboração
O
para uma melhor compreensão deste mistério na Umbanda, a Mãe Orixá
2 Pomba-Gira.
9

O Mais importante é reconhecê-la como um dos aspectos do feminino

sagrado, uma das divindades femininas, uma “deusa”, a manifestação de

Deus por meio de uma de suas faces femininas.

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CAPÍTULO 2

ORIXÁ
POMBAGIRA
POR RUBENS SARACENI

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POMBAGIRA NA UMBANDA

E É claro que uma mulher altiva, senhora de si, segura, competentíssima no

B seu campo de atuação, seja ele profissional, político, intelectual, artístico


O ou religioso, impressiona positivamente alguns e assusta outros. Agora,
O
K se esse imenso potencial também aflorar nos aspectos íntimos dos rela-

cionamentos homem-mulher, bem, aí elas fogem do controle e assustam


E a maioria como começam a ser estereotipadas como levianas, ninfoma-
P
níacas etc., não é mesmo?
I
S
Ó Liberdade com cabresto ainda é aceitável em uma sociedade patriarcal
D
e machista. Mas, sem um cabresto segurado por mãos masculinas, tudo
I
O foge do controle e a sociedade desmorona porque não foi instituída a

partir da igualdade, e sim, da desigualdade.


2
9
Uma mulher submissa, só acostumada e condicionada a sempre dizer

“amém”, todos aceitam como amiga, como vizinha, como colega de tra-

balho, como namorada, como esposa, como irmã etc., mas uma mulher

questionadora, insubmissa, mandona, contestadora, independente, per-

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sonalista etc., nem pensar, não é mesmo?

- Pois é!

Não seria diferente em se tratando de espíritos e, para complicar ainda

mais as coisas, com eles incorporando em médiuns e trabalhando religio-

samente para pessoas com problemas gravíssimos de fundo espiritual.

De repente, uma religião nascente e espírita se viu diante de manifesta-

ções de espíritos femininos altivos, independentes, senhoras de si, com-

petentíssimas, liberais, provocantes, sensuais, belíssimas, fascinantes,

desafiadoras, poderosas, dominadoras, mandonas, cativantes, encan-

tadoras, cuja forma de apresentação fascinou os homens porque elas

simbolizavam o tipo de mulher ideal, desde que não fosse sua mãe, sua

irmã, sua esposa e sua filha, certo?

Quanto às mulheres, as Pombas-giras da Umbanda simbolizavam tudo o

que lhes fora negado pela sociedade machista, repressora e patriarcal do

inicio do século XX no Brasil, onde à mulher estava reservado o papel de

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E mãe, irmã, esposa e filha comportadíssimas... senão seriam expulsas de

B casa ou recolhidas a um convento.


O
O
K Mas, com as Pombas-giras de Umbanda não tinha jeito, porque ou as

deixavam incorporarem em suas médiuns ou ninguém mais incorporava


E e ajudava os necessitados que iam às tendas de Umbanda.
P
I
S Só um ou outro dirigente ousava realizar sessões de trabalhos espirituais
Ó com as Pombas-giras, e a maioria deles preferia fazer “giras fechadas”
D
para a esquerda, para não “escandalizar” ninguém e para não atrair para
I
O o seu centro a polícia e os comentários ferinos sobre as “moças da rua”.

2
Só que essa não foi uma boa solução porque as línguas ferinas logo co-
9
meçaram a tagarelar e a espalhar que nessas giras fechadas rolava de

tudo, inclusive sexo en¬tre os seus participantes, criando um mal estar

muito grande, tanto dentro do círculo umbandista quanto fora dele.

E ainda que tais fuxicos fossem falsos e maledicentes, não teve mais

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conserto porque o “vaso de cristal” da religiosidade umbandista nascen-

te havia se trincado, e as “moças da rua” já haviam sido estigmatizadas

como espíritos de rameiras que incorporavam em médiuns mulheres para

fumarem, beberem champanhe, “gargalharem à solta”, rebolarem seus

quadris, balançarem seus seios de forma provocante e para atiçarem nos

homens desejos libidinosos e inconfessáveis.

Para quem não sabe, rameira era o nome dado às prostitutas e às “mu-

lheres de programas” do nosso atual século XXI.

O único jeito de amenizar o “prejuízo religioso” que eles haviam causado

com suas “petulâncias” foi tentar explicar que não era nada disso, e sim,

que as Pombas-giras eram Exus femininos e, como todos sabem, Exu

não é flor que se cheire, ainda que seja muito competente nos seus tra-

balhos de auxílio aos necessitados de socorros espirituais, certo?

Como “mulher de Exu” ou como Exu feminino, ainda da¬va para deixar

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E uma ou outra incorporar na gira deles, mas já submissas a eles, que fi-

B caram encarregados de zelar pela moral e pelos bons costumes delas...


O
O
K E aí as giras de esquerda foram sendo abertas timidamente e, pouco

a pouco e paralelamente, a sociedade estava passando por profundas


E transformações sociais, comportamentais e políticas, em que a poderosa
P
Igreja Católica estava perdendo poder e cedendo à sociedade algumas
I
S liberdades religiosas.
Ó
D
Quando os militares assumiram o poder nos anos 60 do século XX e logo
I
O entraram em choque com alguns setores do catolicismo arraigados na

política, então diminui de forma acentuada a intensa perseguição da po-


2
lícia sobre as tendas de Umbanda.
9

Somando à liberdade conseguida no período da ditadura, vieram os mo-

vimentos feministas que explodiram na América do Norte e na Europa,

que conseguiram muitas conquistas para as mulheres.

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A par destes acontecimentos, veio a explosão da revolta da juventude,

com os Beatles e com Woodstock, que mudaram os padrões comporta-

mentais dos jovens e as relações entre pais e filhos.

Pomba-gira assistiu a todos esses acontecimentos, que se passaram nos

anos 1960 e 1970 e, entre um gole de champanhe e uma baforada de

cigarrilha, dava suas gargalhadas debochadas, e dizia isto:

- É isso aí, mesmo! Mais transparência e menos hipocrisia!

A POPULARIDADE DE POMBA-GIRA
Com a liberação da mulher, vieram a responsabilidade, os direitos e os

deveres. Pomba-gira popularizou-se com a expansão da Umbanda e

dos demais cultos afro-brasileiros nos anos 60 e 70 do século XX e, em

meio à multiplicidade de cultos com ela presente em todos, sua força era

indiscutível e sue poder foi usufruído por todos os que iam se consultar

com ela. Não demorou a descobrirem que ela atendia a todos os pe-

didos, inclusive aos de “amarrações para o amor”, para “separação de

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E casais” e outros pedidos bem terrenos dos humanos.

B
O
Como ninguém se preocupou em fundamentá-la enquanto Mistério da
O
K Criação e instrumento repressor da Lei Maior e da Justiça Divina, temidís-

sima justamente em um dos campos mais controvertidos da natureza dos


E
P seres, que é justamente o da sexualidade, eis que não foram poucas as
I
pessoas que foram pedir o mal ao próximo e adquiriram terríveis carmas,
S
Ó todos ligados aos relacionamentos amorosos ou passionais.
D
I
Nada como pedir para as “moças da rua” coisas que não seriam muito
O
bem vistas pelo “povo da direita”.
2
9
Assim, Pomba-gira tornou-se a ouvinte e conselheira de muitas pessoas

com problemas nos seus relacionamentos amorosos, procurando aten-

der a maioria das solicitações, fixando em definitivo um arquétipo pode-

roso e acessível a todas as classes sociais.

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Junto à explosão descontrolada das manifestações de Pombas-giras,

vieram os males congênitos, que acompanham tudo o que é poderoso:

os abusos em nome das entidades espirituais, tais como os pedidos de

joias e perfumes caríssimos; de vestes ricas e enfeitadas, de oferendas

e mais oferendas caríssimas; de assentamentos luxuosos e ostentativos;

de cobrança por trabalhos realizados por elas, mas recebidos em espécie

por encarnados, etc.

Pomba-gira também serviu de desculpa para que algumas pessoas atri-

buíssem a ela seus comportamentos no campo da sexualidade.

Ainda que hoje saibamos que elas são esgotadoras do íntimo das pes-

soas negativadas por causa de decepções e frustrações nos campos

do amor, no entanto ainda hoje vemos um caso ou outro que atribuem

à Pomba-gira o fato de vibrarem determinados desejos ou compulsões

ligadas ao sexo. Mas a verdade indica-nos exatamente o contrário disso,

ou seja, a “mulher da rua” atua esgotando o íntimo de pessoas e de es-

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POMBAGIRA NA UMBANDA

E píritos vítimas de desequilíbrios emocionais ou conscienciais, pois essa é

B uma de suas muitas funções na Criação.


O
O
K
POMBA-GIRA O MISTÉRIO DESCONHECIDO
E As informações que colocamos abaixo foram tiradas de um artigo sobre
P
cultura afro-batú, de autoria de Walter Nkosi, publicado no Jornal Icapra,
I
S edição 22.
Ó
D
Por Walter Nkosi, especialista em cultura bantú e professor de Kimbun-
I
O du, a principal língua dessa etnia. Cultura Bantu-Brasileira-Ngamba, o

guardião: no Brasil é conhecido por Ngamba, que significa guardião em


2
idioma bantú, e exerce funções semelhantes a Nkomdi.
9

Nos Candomblés de Angola e Kongo, também são denominados Njila/

Nzila ou Pambú Njila, o ‘Senhor Guardião do Caminho’, proveniente do

idioma kimbundu; pambu (fronteira, encruzilhada...), njila (rua, caminho...),

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POMBAGIRA NA UMBANDA

‘o que caminha nas ruas, estradas, fronteiras, encruzilhadas...

As funções atuantes do guardião são atribuídas exclusivamente para um

Nkisi masculino, não cabendo a mesma para Nkisi feminino.

No entanto, é notória a miscigenação nos candomblés em geral, onde

entidades da Umbanda, conhecidas em tempos remotos por ‘povo da

rua’ se intitularam erroneamente na atualidade como deidade africana,

rei e rainha do candomblé, Pomba-gira, Legba e entidades exercendo

funções masculinas de guardião.

A falta de informação sobre a religião direciona os adeptos a práticas re-

ligiosas indevidas, propala e contribui para um distanciamento cada vez

maior do culto tradicional africano. Urge maior conhecimento e seriedade

nos cultos.

Aqui, reproduzimos parte do artigo para que nossos leitores saibam de

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POMBAGIRA NA UMBANDA

E onde se originou o nome “Pomba-gira” ou “pombogira” usados atual-

B mente na Umbanda e nos demais cultos afro-brasileiros; é uma corrupte-


O la de Pambú Njila, o Guardião dos Caminhos e das Encruzilhadas no culto
O
K de nação Bantu, da língua Kimbundu.

E Eu já li em outro autor, isso há mais de 30 anos, que o nome “Pomba-gira”


P
derivava de Bombogira, entidade do culto angola que é muito oferendada
I
S nos caminhos e nas encruzilhadas, muito temida e respeitada na região
Ó africana onde é cultuada.
D
I
O Há outras informações que nos revelam que Pombogira ou Pomba-gira

ou Bombogira é derivada das “yamins” cultuadas na sociedade matriarcal


2
secreta conhecida como “gelede”.
9

Se são cem por cento corretas ou só parcialmente, isso fica a critério

de cada um, porque o fato é que existem, sim, espíritos femininos que

incorporam em suas médiuns e apresentam-se como Pombas-giras na

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Umbanda, assim como nos demais cultos afro-brasileiros.

Suas manifestações, informam-nos os mentores espirituais, são anterio-

res à Umbanda e já aconteciam esporadicamente nas “macumbas” do

Rio de Janeiro, bem descritas no livro As Religiões do Rio, de autoria

de João do Rio, livro esse reeditado em 2006, mas onde não há uma

descrição detalhada dos nomes das entidades, e sim, apenas algumas

informações, valiosíssimas, ainda que parciais.

Muitos autores umbandistas atribuíram-lhe o grau de Exu feminino em ra-

zão da falta de informações sobre essa entidade e do fato de manifestar-

-se nas linhas da esquerda, ocupadas por Exu e por Exu Mirim. Inclusive,

alguns a descreveram como esposa de Exu e mãe de Exu Mirim.

Não devemos creditar essas interpretações, se errôneas, a ninguém, por-

que todos fomos vítimas da falta de informação e da desinformação geral,

que geraram toda uma forma anômala de descrever as desconhecidas

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E manifestações de entidades, que também nada revelaram sobre seus

B fundamentos divinos, e deixaram para a imaginação e a criatividade de


O
O cada um os conceitos sobre eles.
K

E Se agora temos espíritos mensageiros que estão chegando até nós para
P
I que fundamentemos as incorporações umbandistas nas divindades-mis-
S
térios, então só temos de agradecer pelo que, finalmente, nos está sendo
Ó
D concedido.
I
O
Pai Benedito de Aruanda, o espírito mensageiro que está nos trazendo
2
9 a fundamentação dos mistérios que se manifestam na Umbanda, cobra-

-nos um rigoroso respeito pelos umbandistas que semearam a Umbanda,

o culto aos Orixás, as linhas de trabalhos espirituais, a forma do culto

umbandista e os nomes aportuguesados dos nomes africanos que nos

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POMBAGIRA NA UMBANDA

chegaram, trazidos pelos nossos antepassados vindos da África, de toda

ela, assim como aos nomes aportuguesados perten¬centes ao tronco

linguístico tupi-guarani. (...)

O Mistério Pomba-gira abriu-se por inteiro na Umbanda e tanto pode ser

esse quanto outro nome para identificá-lo porque, enquanto Orixá, seu

verdadeiro nome nunca foi revelado na Teogonia Nagô; ele se encontra

oculto entre os 200 Orixás desconhecidos, porque a Pomba-gira não

foi humanizada no tempo como foram Exu, Oxalá, Iemanjá e todos os

outros Orixás do panteão yorubano, muitos deles des¬conhecidos pelos

umbandistas e por boa parte dos segui¬dores de outros cultos afros. (...)

Portanto, Pambu Njila para o guardião Bantu semelhante ao Exu Nagô

e Pomba-gira para a guardiã umbandista, Rainha das Encruzilhadas da

Vida e Senhora dos Caminhos à esquerda dos Orixás.

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E Pomba é um pássaro usado no passado como correio, “os pombos cor-

B
reios”. Gira é movimento, caminhada, deslocamento, volta, giro, etc. Por-
O
O
tanto, interpretando seu nome genuina¬mente português, Pomba-gira
K
significa mensageira dos caminhos à esquerda, trilhados por todos os
E
P que se desviaram dos seus originais caminhos evolutivos e que se perde-
I
S ram nos desvios e desvãos da vida.
Ó
D
I
O Pomba-gira, genuinamente brasileira e umbandista, está aí para acolher

2 a todos os que se encontram perdidos nos caminhos sombrios da vida...


9
ou da ausência dela, certo?

- Fonte: “Orixá Pomba-gira” - Rubens Saraceni, Editora Madras. -

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CAPÍTULO 3

POMBAGIRA
DE UMBANDA

POR RUBENS SARACENI

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POMBAGIRA NA UMBANDA

E Na Umbanda, a entidade espiritual que se manifesta incorporada em suas

B médiuns está fundamentada num arquétipo desenvolvido a partir da enti-


O dade Bombogira, originária do culto Angola.
O
K
Nos cultos tradicionais oriundos da Nigéria, não havia a entidade Pomba-
E -gira ou um Orixá que a fundamentasse.
P
I
S Mas, quando da vinda dos nigerianos para o Brasil (isto por volta de
Ó 1800), estes aqui se encontram com outros povos e culturas religiosas
D
e assimilam a poderosa Bombogira angolana que, muito rapidamente,
I
O conquistou o respeito dos adoradores dos Orixás.

2
Com o passar do tempo, a formosa e provocativa Bombogira conquistou
9
um grau análogo ao de Exu e muitos passaram a chamá-la de Exu Femi-

nino ou de mulher dele.

Mas ela, marota e astuta como só ela é, foi logo dizendo que era mulher

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POMBAGIRA NA UMBANDA

de sete exus, uma para cada dia da semana, e, com isso, garantiu sua

condição de superioridade e de independência.

Na verdade, num tempo em que as mulheres eram tratadas como inferio-

res aos homens e eram vítimas de maus tratos por parte dos seus com-

panheiros, que só as queriam para lavar, passar, cozinhar e cuidar dos

filhos, eis que uma entidade feminina baixava e extravasava o “eu interior”

feminino reprimido à força e dava vazão à sensualidade e à feminilidade

subjugadoras do machismo, até dos mais inveterados machistas.

Pomba-gira foi logo no início de sua incorporação dizendo ao que viera

e construiu um arquétipo forte, poderoso e subjugador do machismo os-

tentado por Exu e por todos os homens, vaidosos de sua força e poder

sobre as mulheres.

Pomba-gira construiu o arquétipo da mulher livre das convenções so-

ciais, liberal e liberada, exibicionista e provocante, insinuante e desboca-

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POMBAGIRA NA UMBANDA

E da, sensual e libidinosa, quebrando todas as convenções que ensinavam

B que todos os espíritos tinham que ser certinhos e incorporarem de forma


O
sisuda, respeitável e aceitável pelas pessoas e por membros de uma so-
O
K ciedade repressora da feminilidade.

E
P Ela foi logo se apresentando como a “moça” da rua, apreciadora de um
I
bom champanhe e de uma saborosa cigarrilha, de batom e de lenços
S
Ó vermelhos provocantes.
D
I
O “O batom realça os meus lábios, o rouge e os pós ressaltam mi-

nha condição de mulher livre e liberada de convenções sociais”.


2
9
Escrachada e provocativa, ela mexeu com o imaginário popular e muitos

a associaram à mulher da rua, à rameira oferecida, e ela não só não foi

contra essa associação como até confirmou: “É isso mesmo”!

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POMBAGIRA NA UMBANDA

E todos se quedaram diante dela, de sua beleza, feminilidade e liberalida-

de, e como que encantados por sua força, conseguiram abrir-lhe o íntimo

e confessarem-lhe que eram infelizes porque não tinham coragem de ser

como elas.

Aí punham para fora seus recalques, suas frustrações, suas mágoas, tris-

tezas e ressentimentos com os do sexo oposto.

E a todos ela ouviu com compreensão e a ninguém negou seus conse-

lhos e sua ajuda num campo que domina como ninguém mais é capaz.

Sua desenvoltura e seu poder fascinam até os mais introvertidos que,

diante dela, se abrem e confessam suas necessidades.

Quem não iria admirar e amar arquétipo tão humano e tão liberalizado de

sentimentos reprimidos à custa de muito sofrimento?

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POMBAGIRA NA UMBANDA

Pomba-gira é isto. É um dos mistérios do nosso divino criador que rege


E
B sobre a sexualidade feminina. Critiquem-na os que se sentirem ofendidos
O
O com seu poderoso charme e poder de fascinação.
K

E Amem-na e respeitem-na os que entendem que o arquétipo é liberador


P
I da feminilidade tão reprimida na nossa sociedade patriarcal onde a mu-

S lher é vista e tida para a cama e a mesa.


Ó
D
I
Mas ela foi logo dizendo: “Cama, só para o meu deleite e, mesa, só se for
O
regada a muito champanhe e dos bons!”
2
9
Com isso feito, críticas contrárias à parte, o fato é que o arquétipo se im-

pôs e muita gente já foi auxiliada pelas “Moças da Rua”, as companheiras

de Exu.

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POMBAGIRA NA UMBANDA

A espiritualidade superior que arquitetou a Umbanda sinalizou a todos

que não estava fechada para ninguém e que, tal como Cristo havia feito,

também acolheria a mulher infiel, mal amada, frustrada e decepcionada

com o sexo oposto e não encobriria com uma suposta religiosidade a hi-

pocrisia das pessoas que, “por baixo dos panos”, o que gostam mesmo

é de tudo o que a Pomba-gira representa com seu poderoso arquétipo.

Aos hipócritas e aos falsos puritanos, pomba-gira mostra-lhes que, no

íntimo, ela é a mulher de seus sonhos... ou pesadelos, provocando-o e

desmascarando seu falso moralismo, seu pudor e seu constrangimento

diante de algo que o assusta e o ameaça em sua posição de dominador.

Esse arquétipo forte e poderoso já pôs por terra muito falso moralismo,

libertando muitas pessoas que, se Freud tivesse conhecido, não teria sido

tão atormentado com suas descobertas sobre a personalidade oculta

dos seres humanos.

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Mas para azar dele e sorte nossa, a Umbanda tem nas suas Pombas-
E
B -giras ótimas psicólogas que, logo de cara, vão dando o diagnóstico e
O
O receitando os procedimentos para a cura das repressões e depressões

K íntimas.

E
P Afinal, em se tratando de coisas íntimas e de intimidades, nesse campo
I
S ela é mestra e tem muito a nos ensinar.

Ó Seus nomes, quando se apresentam, são simbólicos ou alusivos.


D
I
O - Pomba-gira das Sete Encruzilhadas;

2 - Pomba-gira das Sete Praias;


9 - Pomba-gira das Sete Coroas;

- Pomba-gira das Sete Saias;

- Pomba-gira Dama da Noite;

- Pomba-gira Maria Molambo;

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- Pomba-gira Maria Padilha;

- Pomba-gira das Almas;

- Pomba-gira dos Sete Véus;

- Pomba-gira Cigana etc.

O simbolismo é típico da Umbanda porque na África ele não existia, e

o seu arquétipo anterior era o de uma entidade feminina que iludia as

pessoas e as levavam à perdição. Já na Umbanda, é o espírito que “bai-

xa” em seu médium e, entre um gole de champanhe e uma baforada de

cigarrilha, orienta e ajuda a todos os que as respeitam e as amam, con-

fiando-lhes seus segredos e suas necessidades. São ótimas psicólogas.

E que psicólogas! “Salve as Moças da Rua”!

- Fonte: Os Arquétipos da Umbanda – Rubens Saraceni – Ed. Madras -

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CAPÍTULO 4

LINHA E ARQUÉTIPO
DAS GUARDIÃS
POMBAGIRA
POR RODRIGO QUEIROZ

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(Pombagira Maria Padilha) - Olá moço! Salve!

(Pai Rodrigo Queiroz) - Minhas reverências Senhora!

(Pombagira Maria Padilha) - Moço, coube a mim falar um pouco de nós,

vamos lá?

(Pai Rodrigo Queiroz) - Vamos sim, pode começar!

(Pombagira Maria Padilha) - Como o companheiro Tranca Ruas já adian-

tou sobre nossos nomes simbólicos e condição do Grau de um espírito

redimido na seara da evolução, vou me preocupar em tratar de outras coi-

sas, certo?

(Pai Rodrigo Queiroz) - Senhora, sou apenas a sua mão, está tudo certo,

você conduz como queira.

(Pombagira Maria Padilha) - Então vamos do começo. O termo Pomba

Gira é mal compreendido e também não falarei disso, você faz isso depois,

pode ser?

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E (Pai Rodrigo Queiroz) - Tá certo Senhora, no final eu coloco uma nota.

B (Pombagira Maria Padilha) - Ótimo!


O
O (Pai Rodrigo Queiroz) - Senhora, já que tentarei escrever sobre o termo
K
do “Orixá Pomba Gira” vamos falar da questão prática, ou seja, do surgi-

E mento de vocês mulheres na força de exu, também conhecidas como Exu


P
I Mulher.
S
(Pombagira Maria Padilha) - Ah moço, ainda tem essa, né? Exu Mulher
Ó
D já é demais. Seria o mesmo que dizer Rodrigo Mulher ou coisa parecida.
I
Mas entendemos, quando criaram este termo era apenas para tentar ex-
O
plicar algo que desconheciam e demoraria ainda um bom tempo para se
2
9 ter ferramentas e bons argumentos para melhor explicar nossa “aparição”

nos terreiros.

(Pai Rodrigo Queiroz) - Entendido... E como isso se dá?

(Pombagira Maria Padilha) - Antes de “aparecermos” nos terreiros de

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Umbanda já manifestávamos em alguns lugares que nos permitiam como

em alguns Catimbós, Macumbas Cariocas etc. Não usavam o termo Pom-

ba-Gira, mas sim Princesa, Madame e coisas do tipo. Estas aparições

eram rareadas e ficava a cargo de médiuns mulheres que se abriam a nós,

no entanto poucas o faziam.

(Pai Rodrigo Queiroz) - E por que isso?

(Pombagira Maria Padilha) - A sociedade em que você vive é patriar-

cal, logo extremamente machista, hoje um tanto mascarada pela evolução

tecnológica e globalizada, mas são essencialmente machistas, tanto é que

ainda chamam Deus de Pai, figura masculina e estrutura patriarcal.

(Pai Rodrigo Queiroz) - Isso é verdade!

(Pombagira Maria Padilha) - E há um século era muito pior e declara-

do este rebaixamento ao sexo feminino. Assim, aparecemos em peso nos

terreiros na década de 60 nos juntando ao movimento feminista que neste

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E país criou grande repercussão nesta época.

B (Pai Rodrigo Queiroz) - Hummm, quer dizer que vocês vieram nos com-
O
O bater? (risos)
K
(Pombagira Maria Padilha) - Viemos combater a desigualdade moço, e

E continuamos fazendo.
P
I (Pombagira Maria Padilha) - A Umbanda se mostra como um ponto de
S
convergência para todos os meios menos favorecidos e oprimidos, não
Ó
D acha?
I
(Pai Rodrigo Queiroz) - É fato. Seu universalismo e sua meta é essa, por
O
isso tem quem acredite que será a religião principal do futuro.
2
9 (Pombagira Maria Padilha) - Continuando, por séculos a mulher era ape-

nas coadjuvante existencial, sem muita importância, porém necessária, e

aquelas que tentaram mudar esta realidade foram mortas e ridicularizadas

de alguma forma. Mas não ficarei aqui relembrando o passado, certo?

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(Pai Rodrigo Queiroz) - Tudo bem.

(Pombagira Maria Padilha) - Esta realidade brutal se arrastou por sécu-

los a fio e, como já disse, começou a mudar a realidade nos anos 60 aqui

neste país. Quando aparecemos nos terreiros éramos o retrato de tudo

aquilo que as mulheres sonhavam em ser, mas já tinham perdido a espe-

rança. Também éramos tudo que os homens gostavam, mas combatiam

covardemente.

(Pai Rodrigo Queiroz) - Não entendo. Temos notícias que vocês eram

tratadas como ex-prostitutas, ex-marginais e ex-alguma coisa muito ruim

e amoral.

(Pombagira Maria Padilha) - (Gargalhada) Isso é o que tentaram dizer.

Intriga dos covardes moço.

(Pai Rodrigo Queiroz) - Então continue.

(Pombagira Maria Padilha) - Pois bem, nesta época, veja os retratos

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E das mulheres nesta época. Eram opacas, pálidas, feias e amarguradas.

B A vaidade era abafada de todas as formas e a sensualidade era algo que


O
O muitas vezes nem brotava no âmago da mulher. Um combate cruel contra
K
a natureza.

E E surgimos nós, mulheres independentes, firmes, alegres, risonhas, esban-


P
I jando sensualidade, sem papas na língua “afrontando” a covardia machista
S
imperante. Confesso moço, viemos auxiliar a mulher para se livrar deste
Ó
D cárcere emocional em que vivia. Fomos muito combatidas, até hoje so-
I
mos, mas a luta já está mais fácil. Neste tempo não tachavam somente a
O
nós como seres amorais e todos adjetivos que possa imaginar, a médium
2
9 caia na mesma vala. Se pra mulher incorporar uma pomba-gira era um es-

cândalo, imagine quando ocorria com um homem. Era raro, mas fazíamos

questão de provocar essas situações.

No momento em que começamos aparecer nos terreiros e tudo isso foi

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cautelosamente pensado, nos preparamos e foi uma “invasão” coletiva,

simultânea. A médium que aparecia opaca no terreiro ao estar mediunizada

por nós ficava linda, pois juntava sua sensualidade escondida com a nossa

e aquela mulher virava um furacão. É certo que muitos casamentos acaba-

ram por isso, porém muitos outros também foram salvos.

Nosso foco inicial era a mulher. Libertar o ser feminino do medo e da de-

pendência foi e é nosso norte. Fazemos a guarda do movimento feminista.

Reconheça que muito se conquistou assim.

Tínhamos que provocar, por isso, quando nos perguntavam se éramos

“putas” respondíamos com uma sonora gargalhada. Se éramos “bruxas”

a mesma resposta. E quando cantavam que “pomba gira é mulher de sete

maridos”, a provocação estava feita. Pois era a situação inversa, ou seja,

não o homem podendo a poligamia, mas sim a mulher subjugando vários

homens sob seu feminilismo e encanto.

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E (Pai Rodrigo Queiroz) - Interessante...

B (Pombagira Maria Padilha) - Árduo moço, muito árduo. Desde então


O
O nosso trabalho foi crescendo e se manifestando de forma organizada igual
K
ao trabalho dos exus, somos a outra parte de exu que usando este termo

E abriga os seres masculinos no grau Guardião de evolução, e nós no termo


P
I Pomba-Gira somos as mulheres no grau Guardiã de evolução.
S
(Pai Rodrigo Queiroz) - Quer dizer que o arquétipo de vocês também se
Ó
D baseia na milícia?
I
(Pombagira Maria Padilha) - Não, apenas representamos a mulher inde-
O
pendente, capaz e livre. Somos, como disse, aquilo que toda mulher busca
2
9 ser e tudo aquilo que os homens gostam mas têm medo.

(Pai Rodrigo Queiroz) - É certo que existem algumas Pombas-giras que

foram prostitutas e marginais?

(Pombagira Maria Padilha) - Sim é certo, como também existem Exus

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que foram a pior espécie de homens. Porém, isto é um caso a parte. O que

fomos pouco importa, pois no geral, como todos os encarnados, somos

espíritos humanos que sofreram sua queda e já lúcidos retomamos nosso

caminho de evolução, assumindo um grau e campo de atuação sob a re-

gência dos Orixás e guardando a esquerda dos encarnados.

(Pai Rodrigo Queiroz) - Senhora, é verdade que vocês são especializa-

das em fazer amarrações?

(Pombagira Maria Padilha) - Sim, da mesma forma que somos especia-

lizadas em transformar homens em gays (gargalhada). Brincadeira a parte

moço, esta é mais uma colocação dos mal informados. Nós já estamos

livres destes “vícios” emocionais e não praticamos nada fora do livre arbítrio

que impera na criação Divina. Portanto, não somos amarradoras de nada e

não decidimos sexualidade de ninguém. No entanto, somos especializa¬-

das em desfazer estas anomalias magísticas.

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E (Pombagira Maria Padilha) - É isso moço, vamos parar por aqui e fica

B
em síntese registrado que Pomba-Gira são espíritos humanos femininos
O
O que estão num grau ao lado de exu e atuam principalmente no coração e
K
na mente daqueles que de certa forma se permitem ficar acrisolados em
E
suas próprias tormentas. Estimulamos o que o indivíduo tem de melhor,
P
I para que estes desejem ser melhores. Em nosso encanto e sensualidade
S
Ó mostramos que de tudo o que vale a pena é preservar a felicidade.
D
I Fique em paz moço, noutra oportunidade sentamos novamente.

O
(Pai Rodrigo Queiroz) - Muito obrigado senhora. Este é um assunto ex-

2 tenso e poderíamos fazer um livro com centenas de páginas, mas não é


9
possível agora, então mais uma vez muito obrigado!

(Pombagira Maria Padilha) - Salve!

(Pai Rodrigo Queiroz) - Saravá Pomba Gira Maria Padilha.

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#minhajornada

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