136-Avaliação Da Fitotoxicidade de Compostos Orgânicos A Partir de Ensaio de Germinação de Semente de Agrião
136-Avaliação Da Fitotoxicidade de Compostos Orgânicos A Partir de Ensaio de Germinação de Semente de Agrião
136-Avaliação Da Fitotoxicidade de Compostos Orgânicos A Partir de Ensaio de Germinação de Semente de Agrião
Resumo
O objetivo deste trabalho foi avaliar a fitotoxicidade de compostos orgânicos de diferentes origens
sobre as sementes de Lepidium sativum (agrião). Foram utilizados dois compostos orgânicos: um
derivado do processo de compostagem com maravalha e cascas de laranja, e outro derivado de
resíduos de hortifrúti e poda de árvores. As análises foram realizadas em triplicata, avaliando-se os
parâmetros: taxa de germinação (GR), comprimento da raiz (RI) e Índice de Vitalidade Munoo-
Liisa (MLV). Os resultados da análise da GR mostraram que ambos os compostos ficaram abaixo
dos índices recomendados, que exigem pelo menos 80% de germinação para serem considerados
livres de fitotoxicidade. Em resumo, foi possível concluir que ambos os compostos demonstraram
efeitos fitotoxicológicos. No entanto, o processo de compostagem continua a ser uma alternativa
para minimizar os impactos ambientais e garantir um ciclo de vida mais limpo para materiais que,
de outra forma, seriam descartados como resíduos.
Palavras-chave: Compostos Orgânicos; Fitotoxicidade; Índice de Germinação
Londrina, anelouise@alunos.utfpr.edu.br
3Mestre em Tecnologia Ambiental, Instituto Politécnico de Bragança - Portugal, anabsegatelli@hotmail.com
4Profª.Drª. Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Londrina, tatianedalbosco@gmail.com
INTRODUÇÃO
Com o passar dos anos, a geração de resíduos sólidos teve um aumento significativo,
tanto sob o aspecto quantitativo quanto em relação à diversidade de resíduos produzidos.
No Brasil, a população cresceu 15,6% entre 1991 e 2000, enquanto o total de descarte de
resíduos no país aumentou 49% (WALDMAN, 2010; DI CREDDO, 2012). De acordo com
a composição gravimétrica brasileira, 45,3% dos resíduos sólidos urbanos são resíduos
orgânicos (ABRELPE, 2020). Porém, há poucas iniciativas no país para o tratamento desta
importante fração dos RSU, o que implica em sua disposição final em aterros sanitários,
aterros controlados e lixões. A compostagem é uma técnica que pode ser empregada para o
tratamento destes resíduos e apresenta diversas vantagens do ponto de vista ambiental e
econômico.
De acordo com Sartori et al. (2016), o resultado do emprego deste método é um
produto estabilizado biologicamente, rico em matéria orgânica mais humificada e nutrientes
minerais, que ajuda a melhorar a qualidade dos solos e a produtividade das plantas, além
de ser um potencial condicionador do solo (OLIVEIRA; SARTORI; GARCEZ, 2008). A
utilização de compostos orgânicos como substratos apresenta como vantagem o suprimento
das necessidades de nutrientes dos solos e das plantas, tornando-as mais resistentes a
doenças e pragas, além de ajudar em seu desenvolvimento (FERMINO, 2002; CARLILE,
1997).
Para serem utilizados como adubação orgânica, os compostos devem apresentar
boas propriedades físicas, químicas e biológicas, e serem adequados às necessidades de
cada cultura (BRITO; MOURAO, 2015). A fitotoxicidade é um importante critério para
avaliar a conformidade do composto para fins agrícolas (TIQUIA et al., 1996; BREWER;
SULLIVAN, 2003 e COOPERBAND et al., 2003). Estudos sobre impactos ambientais dos
resíduos orgânicos têm sido direcionados para a presença de organismos patogênicos,
metais pesados e nitratos (ANDRADE; MATTIAZZO, 2000 e VIEIRA; CARDOSO,
2003), o que aumenta a fitotoxicidade compostos obtidos.
Pesquisas demonstraram também que compostos ainda não maturados podem ser
prejudiciais ao solo, devido à alta indução de atividade microbiana, reduzindo a
concentração de oxigênio no solo e bloqueando o nitrogênio disponível (KIEHL, 2008).
Além disso, compostos não maturados podem retardar ou até mesmo inibir a germinação
das sementes e o crescimento das plantas (CERRI et al., 2008).
Para tanto, os testes de germinação são bioensaios acessíveis, amplamente usados
para inferir sobre o nível de maturação e fitotoxicidade de materiais biodegradáveis e de
compostos (WALTER et al., 2009). O índice de comprimento da raiz, por exemplo, é
expresso como a diferença percentual do comprimento da raiz de sementes germinadas de
agriões no material testado em comparação com o comprimento médio da raiz de amostras
de controle (RI%), que combinado com as medidas de taxa de germinação das sementes
(GR%), resulta no índice de vitalidade de Munoo (MLV%), utilizado para determinar a
fitotoxicidade de um composto orgânico. De acordo índices recomendados pela California
Compost Quality Council (CCQC, 2001), compostos que possuam valores para o índice de
GR maiores ou iguais a 80% podem ser considerados como não fitotóxicos
Diante do exposto, objetivou-se, neste trabalho, avaliar a fitotoxicidade de dois
compostos orgânicos, sendo um produzido a partir da compostagem de casca de laranja e
maravalha (CLV) e o outro a partir de resíduos gerados em um restaurante universitário
(RU), a partir da germinação de Agrião (Lepidium sativum). Portanto, foram realizados
ensaios e cálculos para determinação da taxa de germinação e comprimento médio da raiz
do Lepidium sativum, o qual foi escolhido devido às suas vantagens em relação ao tempo
de germinação e em termos de sensibilidade.
METODOLOGIA
Para este ensaio, foram utilizados dois compostos, CLV e RU, os quais foram
obtidos de composteiras compostas, respectivamente, com uma proporção de 2:1 em
volume de maravalha e casca de laranja, e outra, de podas de árvore e resíduos provenientes
do restaurante universitário da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus
Londrina (UTFPR-LD).
Cabe ressaltar que ambos os processos de compostagem duraram 90 dias e que
realizou-se a aferição das temperaturas diariamente, assim como os revolvimentos para a
aeração e o ajuste de umidade, determinado a partir do teste da mão preconizado por Nunes
(2009).
Para a realização do ensaio, após os compostos serem coletados, estes foram secos
em estufa a 60ºC por 24 horas para remoção da umidade residual e, em seguida, peneirados
com uma peneira de 4 mm.
Com os compostos peneirados, fez-se o preparo dos extratos. Para isso, as amostras
dos dois compostos foram colocadas em erlenmeyers e adicionou-se uma solução nutritiva
cuja composição é apresentada na Tabela 1. A extração ocorreu por 4 horas e, em seguida,
fez-se a filtração com o uso de uma gaze, até se obter 75 mL de solução.
Onde:
RI é o índice de comprimento da raiz;
RLs1 é o comprimento médio da raiz da primeira réplica;
(𝐺𝑅𝑠1∗𝑅𝐿𝑠1)+(𝐺𝑅𝑠2∗𝑅𝐿𝑠2)+(𝐺𝑅𝑠3∗𝑅𝐿𝑠3)
MLV(%) = ∗ 100 (Eq. 2)
3
Onde:
MLV é o índice de vitalidade Munoo - Liisa da amostra (% em relação ao controle)
GRs1 é a taxa de germinação na primeira réplica, em %;
GRs2 é a taxa de germinação na segunda réplica, em %;
GRs3 é a taxa de germinação em terceira réplica, em %;
GRc é a taxa média de germinação das amostras de controle, em %;
RLs1 é o comprimento médio da raiz da primeira réplica;
RLs2 é a média do comprimento da raiz da segunda réplica;
RLs3 é o comprimento médio da raiz da terceira réplica;
RLc é o comprimento médio da raiz das amostras de controle.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 apresentam-se as imagens do ensaio obtidas após 72 horas na BOD,
diferenciadas entre controle, CLV e RU. A partir das imagens é possível observar que a
maior parte das sementes dos tratamentos controle e CLV germinaram e se desenvolveram,
enquanto grande parte das sementes do tratamento RU não germinaram ou apresentaram
menor desenvolvimento das raízes. Além disso, pode-se observar que as raízes do
tratamento CLV apresentaram maior desenvolvimento quando comparadas ao tratamento
controle, o que pode ser um indicativo de menor fitotoxicidade e maior disponibilização de
nutrientes por parte do composto CLV.
Tabela 1. Fotografias das placas de Petri após 72 horas na BOD
CONTROLE
CLV
RU
CONCLUSÕES
A partir dos resultados pode-se concluir que ambos os compostos, CLV e RU, foram
classificados como fitotóxicos baseado no parâmetro GR, enquanto se observado o índice
MLV, somente o composto RU foi classificado como fitotóxico. Embora os compostos
testados tenham apresentado fitotoxicidade, a compostagem é uma alternativa importante
para o tratamento de resíduos sólidos orgânicos a fim de se realizar a ciclagem da matéria
orgânica e o seu aproveitamento em diversos usos, como usos agrícolas e em hortas, sendo
necessário um maior acompanhamento, tanto da fitotoxicidade quanto de outros parâmetros
durante o processo de compostagem, de forma a garantir a redução ou completa eliminação
da fitotoxicidade dos compostos, assegurando seu uso.
A GRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2020. São Paulo, Dezembro, 2020. Disponível em:
<https://abrelpe.org.br/panorama-2020/> Acesso em: 15/04/2023.
ANDRADE, C.A.; MATTIAZZO, M.E. Nitratos e metais pesados no solo e nas árvores após
aplicação de biossólido (lodo de esgoto) em plantações florestais de Eucalyptus grandis.
Scientia Florestalis, Piracicaba, 58:59-72, 2000.
BREWER, L. J.; SULLIVAN, D. M.. Maturity and stability evaluation of composted yard
trimmings. Compost Science & Utilization, 11(2):96–112, 2003.
BRITO, L. M.; MOURAO, I.. Características dos substratos para Horticultura: Propriedades
e características dos substratos (Parte I / II). (2015).
CARLILE, W. R.. The requirements of growing media. Peat in Horticulture 2: 17-23, 1997.
CCQC. 2001. Compost Maturity Index. California Compost QualityCouncil, Nevada City, CA.
COOPERBAND, L. R.; STONE, A. G.; FRYDA, M.R.; RAVET, J. L.. Relating compost
measures of stability and maturity to plant growth. Compost Science and Utilization, 11: 113–
124, 2003.
DI CREDDO, E. Lixo urbano: um desafio ambiental. IHU On-Line, São Leopoldo, 05 abr.
2012. Disponível em: . Acesso em: 25 maio 2013.
TIQUIA, S.M.; TAM, N.F.Y.; HODGKISS, I.J.. Effects of composting on phytotoxicity of spent
pig-manure sawdust litter. Environmental Pollution, v 93, 3, pages 249-256, 1996. Disponível
em<https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0269749196000528>.
ZUCCONI, F.; PERA, A.; FORTE, M.; DE BERTOLDI, M. Evaluating toxicity of immature
compost. Biocycle, v. 22, pages 54–57, 1981.