Disserta o Completa
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Departamento de Geografia
O ENSINO DO RELEVO:
NOÇÕES E PROPOSTAS PARA UMA DIDÁTICA
DA GEOMORFOLOGIA
O ENSINO DO RELEVO:
NOÇÕES E PROPOSTAS PARA UMA DIDÁTICA
DA GEOMORFOLOGIA
Belo Horizonte
Departamento de Geografia da UFMG
2010
Comissão Examinadora
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Professora Drª. Vilma Lúcia Macagnan Carvalho
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Professor Drº. Roberto Célio Valadão
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Professora Drª Carla Juscélia de Oliveira Souza
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William Zanete Bertolini
Resultado: ________________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
Cette dissertation a comme objectif d’étude la connaissance du relief dans la perspective de son
procès d’enseignement/apprentissage au milieu de la géographie scolaire. En tenant compte que
l’organisation et la structuration de la connaissance qui constituent des facteurs fondamentaux pour
l’explication et la compréhension des contenus. Le principal but de cette recherche est la
construction de propositions d’approche du relief liées à l’enseignement de ce contenu. Cependant,
on souligne qu’il ne s’agit pas, en principe, simplement d’offrir aux professeurs des matériels pour
l’enseignement du relief, mais aussi encore plus important, de réfléchir sur les connaissances qui
doivent être mobilisées. Quant à l’approche de la connaissance du relief, à partir de la réalité et du
contexte qu’on trouve les élèves comme la lumière des connaissances géoscientifiques. En tenant
compte de certaines conclusions pointées dans quelques études nationales et internationales sur les
difficultés qui font face aux professeurs et aux élèves par rapport à l’approche et à la construction
de la connaissance en géosciences, on juge cette recherche, on ne la justifie pas seulement en
fonction d’une demande peu approche par la géosciences au Brésil mais aussi, par l’importance
d’une connaissance juste de ce savoir, en fonction de son rôle à l’aménagement de
l’environnement. Pour atteindre le but explicité, cette recherche analyse, dispute, applique la nature
conceptuelle de la connaissance géomorphologique à partir de ses formes, ses procès et ses
conditionnements génétiques aux notions nécessaires que les professeurs et les élèves doivent avoir
pour comprendre les contenus didactiques reportés au relief. Pour rendre viable la construction de
ces propositions on a fait schéma des étapes méthodologiques suivantes : (I) la révision de la
littérature scientifique par rapport à la formation de concepts scientifiques et son importance dans
l’enseignement du relief; (II) l’identification des orientations du PCN’s et CBC quant à l’approche
du relief dans l’école basique afin d’avoir un paramètre pour l’élaboration de ce propos; (III) l’
élaboration et l’utilisation des représentations graphiques du relief (photographies, bloc-
diagrammes) qui démontrent la diversité morphologique du relief terrestre et qui aident la
comphrénsion dynamique et multi-escalier de ceci; (IV) la démonstration des relations qui peuvent
être établies entre la langue écrite et la langue graphique à la réprésentation du relief.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................1
Isaac Newton
Introdução
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Introdução
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Introdução
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Se deve haver um público definido ao qual seja voltado este trabalho, esse
público deve ser o professorado já que, no contexto do ensino escolar, há a necessidade
de domínio, por parte dos docentes, tanto das bases conceituais de determinado assunto
quanto dos modos envolvidos em sua abordagem e problematização. Esses dois âmbitos
(domínio das bases conceituais e modos de sua abordagem) são explorados nesta
pesquisa. No entanto, acredita-se que esta pesquisa possa servir de base reflexiva e
formativa, tanto para professores do ensino fundamental e médio, quanto para
graduandos em geografia e áreas afins. Contudo, a preocupação maior deste trabalho
não está centrada no público alvo mas na forma como o conhecimento acerca do relevo
pode ser abordado do ponto de vista científico-conceitual. As propostas aqui
desenvolvidas trazem consigo níveis diferentes de complexidade, podendo a mesma
atividade ser abordada de um ponto de vista mais simples até um mais complexo. Isso
depende da maturidade cognitiva dos receptores da mensagem.
As propostas aqui apresentadas não constituem meramente um mostruário de
atividades que podem ser utilizadas por professores e/ou alunos mas, também e mais
importante, meios para pensar em novas maneiras de abordar o conhecimento do relevo,
tanto a partir da dimensão mais próxima e perceptível, quanto da perspectiva mais
abstrata, ambas sob a luz dos conhecimentos geocientíficos.
Dando-se conta de algumas conclusões apontadas em estudos nacionais e
internacionais a respeito das dificuldades enfrentadas por professores e alunos com
relação ao tratamento e construção do conhecimento em geociências, julga-se que esta
pesquisa encontra respaldo não somente em função de uma demanda ainda
relativamente pouco abordada e explorada pelos geocientistas no Brasil, mas também,
pela importância de um adequado conhecimento das geociências em virtude de sua
aplicação na educação, no planejamento ambiental e, em termos mais amplos, na
qualidade de vida humana.
A fim de se alcançar seus objetivos e seu desenvolvimento, esta pesquisa
encontra-se estruturada da seguinte forma: uma introdução que apresenta o tema da
pesquisa e seu objetivo, justifica-o e o contextualiza na dimensão da geografia escolar.
Em seguida, o capítulo 1 é dedicado a explorar o papel da didática das ciências e sua
importância no processo de ensino/aprendizagem. Além disso, esse capítulo apresenta
algumas contribuições do ponto de vista da psicologia cognitiva para os mecanismos e
processos de ensino/aprendizagem. O capítulo 2 discute a natureza do conhecimento
geomorfológico aplicada ao ensino. Quais conceitos e noções devem ser considerados
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Introdução
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Encaminhamento Metodológico
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Encaminhamento Metodológico
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Maturana (2001), o discurso racional que não seduz emocionalmente não muda o
espaço e as atitudes dos outros. “A ciência não constrói desejos. Ela não tem o poder de
fazer sonhar porque o desejo não é engravidado pela verdade” (Alves, 2004b). Tudo
começa na emoção.
Todas as atividades humanas são operações na linguagem, e como tais
elas ocorrem como coordenações de coordenações consensuais de
ações que acontecem em domínios de ações especificados e definidos
por uma emoção fundamental (MATURANA, 2001, p.133).
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Para quê ensinar ciência? Que tipo de contribuição o raciocínio científico oferece? O
que se ensina quando se ensina determinado conteúdo científico?
De maneira ampla, as ideias contidas na Conferência Mundial sobre Ciência
realizada em Santo Domingo, em março de 1999, e na Declaração sobre Ciência e a
Utilização do Conhecimento Científico de Budapeste, em 1999, delineiam um pouco
dos contornos das respostas a tais questões.
(i) As ciências devem se colocar a serviço da humanidade como um todo, e
contribuir para que todos tenham uma compreensão mais profunda da natureza e da
sociedade, uma melhor qualidade de vida e um meio ambiente sustentável e sadio para
as gerações presentes e futuras (UNESCO, 2003, p.26).
(ii) A educação científica é um requisito fundamental da democracia e também
do desenvolvimento sustentável, além, é claro, de ser essencial para o desenvolvimento
humano, para a criação de capacidade científica endógena e para que tenhamos cidadãos
participantes e informados (UNESCO, 2003).
(iii) A ampliação contínua do conhecimento científico sobre a origem, o
funcionamento e a evolução do universo e da vida oferece à humanidade abordagens
conceituais e práticas que exercem profunda influência sobre sua conduta e suas
perspectivas (UNESCO, 2003, p.26).
(iv) A ciência é um recurso poderoso para a compreensão dos fenômenos
naturais e sociais, e que seu papel promete vir a se tornar ainda maior no futuro, à
medida que for entendida a crescente complexidade da relação entre a sociedade e seu
meio ambiente (UNESCO, 2003, p.28).
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Segundo a teoria das inteligências múltiplas, proposta e ampliada por Howard Gardner (1995; 2005), a
inteligência naturalista “envolve as capacidades de fazer discriminações consequenciais no mundo
natural: entre uma planta e outra, entre um animal e outro, entre variedades de nuvens, formações
rochosas, configurações de mares, e assim por diante. (...) as pessoas que se dedicam à preparação de
alimentos, à construção de barragens, à proteção do nosso ambiente ou à mineração de metais preciosos
precisam utilizar suas capacidades naturalistas (GARDNER, 2005).”
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pelos estudos do relevo dos Alpes por Horace-Bénedict de Saussure (1740 – 1799), as
contribuições de Humboldt e Goethe em torno de uma ciência da paisagem, as
descobertas de Hutton sobre a natureza do granito e dos processos relativos à sua
gênese, etc. Todas essas questões apontam, segundo Vitte (2009), para o fato de que a
geomorfologia é o “produto de um complexo intercruzamento entre as descobertas da
história da Terra e as transformações filosóficas sobre a natureza e a arte.” Segundo esse
autor:
Até o século XVIII, a natureza era concebida apenas como um
exercício da razão e cujo fenômeno poderia ser explicado pela
dedução dos princípios constituintes da metafísica aristotélica. A
partir do século XVIII a natureza passa a ganhar status de
independência, particularmente a partir dos trabalhos de Newton, onde
o mecanicismo começa a impor uma separação entre a metafísica e a
ciência da natureza. A metáfora da natureza-máquina impulsiona o
surgimento da história natural e a separação epistêmica entre as várias
disciplinas, tais como a zoologia, a botânica e a geologia (VITTE,
2009).
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Esse conceito traz implícita a noção de complexidade dos sistemas naturais e, para além
disso, contribui para o desenvolvimento de uma noção estética, de valorização e
conservação das paisagens. Tratar de geodiversidade significa tratar também das
condições e critérios que definem as fragilidades das paisagens, sejam estas decorrentes
dos seus constituintes naturais ou das pressões antrópicas.
A geografia escolar tem, por força da tradição, que lidar com temáticas de
naturezas muito distintas entre si. Contudo, e a despeito da inconsciência de muitos
educadores a esse respeito, as inter-relações entre sociedade e natureza mantêm-se como
eixo guia do currículo geográfico. Nesse sentido, um dos principais interesses da
geografia escolar deve ser o de mostrar como os aspectos do espaço e de sua
organização interferem nas atividades, ritmos, operações naturais e sociais. Trata-se, por
exemplo, de mostrar que a localização e organização espacial das favelas têm
importância fundamental no avanço da criminalidade, no controle que os traficantes
possuem em relação às baixadas, sobretudo quando se considera o poderoso armamento
que estes detêm.
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esforço, cada um dos detalhes” (GRÜTER, 2009, p.49). Da mesma maneira, “é mais
fácil para a memória armazenar uma versão esquemática de um evento do que uma
versão precisa do evento que representa exatamente todos os pequenos detalhes”
(MATLIN, 2003, p.145).
Outra questão envolvida com a efetivação do processo de aprendizagem diz
respeito às situações de súbita percepção ou insight. Na certa, a maioria de nós já se
perguntou: por que eu não pensei nisso antes? De repente, as coisas fazem sentido e aí
está a solução de um problema com o qual nos debatíamos. O insight pode ser definido
como a compreensão repentina de alguma coisa. Não se sabe ao certo como ele é
produzido em termos cerebrais, nem se é uma habilidade que pode ser desenvolvida ou
manipulada, embora haja opiniões a favor e contra isso. Alguns autores afirmam que o
insight corresponde mais a uma “experiência subjetiva irrepetível do que a um fato
psicológico contestável” (Burton e Burton, 1978 apud Pozo, 1998b, p.176). Nesse
mesmo viés, Resnick (1983) apud Pozo (1998b, p.176) afirma que “o sentimento de
compreender repentinamente algo pode não ter relação com uma autêntica
aprendizagem e sim com a tomada de consciência de uma aprendizagem já realizada”.
Por outro lado, Knoblich e Ollinger (2006, p.55) dizem que “quanto maior for nossa
capacidade de encarar problemas de um ângulo diferente do habitual mais será possível
se beneficiar dessa habilidade”, ou seja, da percepção súbita. Nesse sentido, a
experiência prévia e o conhecimento acumulado contariam como condições do insight.
Como seria possível estabelecer uma percepção súbita sobre um fenômeno ou situação,
sem estarem disponíveis os elementos conceituais que fizessem a ligação entre
significantes e significados? Seja como for, a existência da compreensão súbita oferece
motivos para a reflexão sobre a imprevisibilidade da eficiência de qualquer modelo ou
método de ensino, para certa fragilidade do discurso lógico enquanto ferramenta de
ensino, bem como sobre a efetividade dos modos de avaliação escolar tradicionais.
Todas essas descobertas da cognição trazem consequências importantes para a
didática do ensino de ciências. Não há dúvida de que a implantação de um enfoque
coerente com “a ideia de alfabetização científica não pode ser feita sem mudanças
didáticas importantes, que afetam os elementos curriculares e a dinâmica de aula”
(CAÑAL, 2006 apud GONZÁLEZ, 2008, p.188). Dependendo de como o conteúdo é
conduzido, de como as ideias são organizadas, criam-se caminhos mais curtos ou mais
longos para a compreensão; ou até mesmo fecham-se caminhos. Conhecer e reconhecer
os mecanismos que a mente utiliza no tratamento da informação e na conformação da
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aprendizagem permite aos professores planejar adequadamente suas aulas e intervir nas
dificuldades demonstradas pelos alunos. Permite-lhes a construção de uma didática
maleável frente a essas dificuldades e de uma aprendizagem significativa. É claro que
esse (re)conhecimento dos mecanismos utilizados pela mente humana se faz pela
interação entre os sujeitos e mediante o desenvolvimento de um certo caráter
metacognitivo de cada sujeito, habilidade sem a qual o aluno dificilmente poderá
intervir positivamente no seu processo de aprendizagem. O aluno precisa estar
consciente de suas dificuldades e de suas habilidades mentais para poder lidar com as
mesmas. E essa é uma contribuição imprescindível, construída entre professores e
alunos através do ensino dos conteúdos, para o futuro desenvolvimento científico e a
formação cidadã.
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CONHECIMENTOS
PRÉVIOS
CONHECIMENTO
ALUNO PROFESSOR
CIENTÍFICO -
MATERIAL DIDÁTICO
CONDIÇÕES PARA A
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
ORGANIZAÇÃ
VOCABULÁRIO E CONHECIMEN PREDISPOSIÇÃO
O INTERNA
TERMINOLOGIA TOS PRÉVIOS FAVORÁVEL
(ESTRUTURA
ADAPTADOS AO SOBRE O PARA A
LÓGICA OU
CONCEITUAL ALUNO ASSUNTO COMPREENSÃO
EXPLÍCITA)
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Uma dessas variáveis, muitas vezes pouco valorizada pelos professores como
importante e influente na sua atuação em sala de aula diz respeito às relações
interpessoais entre professor-aluno e professor-classe. Alguns professores acreditam que
basta dominar o conteúdo a ser ensinado e saber como colocá-lo de uma forma
interessante aos alunos que o processo de ensino-aprendizagem fica garantido.
Entretanto não se dão conta de que isso só acontece em função da relação pessoal que
estabelecem com seus alunos no contexto educativo. A motivação, se deixada a cargo
dos alunos a fim de ser descoberta nos conteúdos escolares, não se concretiza. O
professor tem um papel fundamental neste ponto: o de seduzir os alunos através dos
conhecimentos escolares; o de saber cativá-los (BLANCHET, 2007). E isto tem a ver
com a emoção. Tem a ver com a aceitação do outro frente ao(s) conhecimento(s) que se
lhe oferece(m) (MATURANA, 2001).
Segundo Zabala (1998) apud Souza (2009, p.100):
“(...) o aspecto motivação deve ser levado em consideração, quando se
discute a aprendizagem, a qual depende de um sistema educativo, que
compreende a inter-relação de três aspectos: sujeito sociohistórico-
cultural, contexto educativo e processo ensino-aprendizagem”.
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Contudo, a definição de termos científicos deve ser feita sob certos cuidados a
fim de se evitar o desinteresse e até o fracasso escolar dos alunos. Para tanto, o
professor deve reconhecer as ideias dos alunos expressas de forma popular em suas
falas e, a partir delas, introduzir as bases preconizadas pelos conceitos científicos. De
acordo com Pozo (1998a, p.59) “as idéias dos alunos não devem ser concebidas como
um obstáculo para a aprendizagem conceitual e sim como um veículo para a mesma;
não se trata de que os alunos aprendam apesar dos seus conhecimentos prévios e sim
através dos mesmos”. A definição ou conceituação em si, neste sentido, não é o fato
principal a ser realizado mas apenas consequência das ideias que o conceito expressa. O
professor não pode dedicar mais atenção ao estilo de linguagem que o aluno utiliza do
que à ideia que este expressa (BONITO, 1995).
Outro fator importante a ser ressaltado no ensino de ciências é o uso de termos
mal empregados e/ou não essenciais à compreensão do assunto. A esse respeito, Bonito
(1995, p.1) afirma que “o uso de termos não definidos ou mal definidos, não essenciais
à compreensão do assunto, e, portanto, acessórios à aprendizagem, faz exigências
linguísticas aos alunos que são totalmente extrínsecas ao conteúdo a ensinar”. No caso
do ensino de conceitos, “é importante a comparação e a diferenciação entre conceitos,
assim como a sua exemplificação e aplicação a casos práticos (POZO, 1998a, p.53)”.
A polissemia de termos é outro aspecto importante a ser considerado na
linguagem utilizada em sala de aula. Termos comumente usados no cotidiano ganham
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conotações diferentes quando tratados pelo discurso da ciência (BONITO, 1995). Isso
pode ser fonte de confusão para os alunos, tornando-se até um obstáculo à
aprendizagem. Se o aluno, por exemplo, tem a ideia de um morro como uma porção
mais elevada do terreno e o professor se detém em minúcias para diferenciar morro,
colina, encosta e escarpa dando a impressão de que são coisas completamente
diferentes, acaba por inviabilizar a correlação que o aluno prontamente estabeleceria em
sua mente entre morro, encosta e colina como sinônimos. Cabe ressaltar ainda que há
termos que podem ou não ser usados como sinônimos, cabendo ao professor fazer ou
não a distinção conforme a necessidade e o contexto. Os termos unidade
geomorfológica ou de relevo e compartimento geomorfológico ou do relevo são
exemplos disso. Unidade geomorfológica e compartimento geomorfológico podem ser
sinônimos, embora nem sempre sejam assim utilizados. Neste caso, um olhar mais
detalhado permite distinguir entre ambos pelo seguinte: as unidades de relevo, quando
empregadas na acepção macroescalar, referem-se aos planaltos, planícies e depressões.
Os compartimentos se referem a regiões únicas de relevo que possuem um fator comum
de gênese, manifesto em toda sua extensão. Não comportam necessariamente o domínio
de uma mesma unidade de relevo.
Há ainda a presença de termos comuns na linguagem que trata do relevo, mas,
que não realidade, em termos científicos, dizem respeito a realidades diversas. É o caso
do vocábulo serra por exemplo. Em termos geomorfológicos serra diz respeito aos mais
variados tipos de elevações dispostas ao longo de uma linha mais ou menos contínua. A
maior parte das áreas planálticas do Brasil é composta por serras que localmente
recebem os mais variados nomes. Segundo Guimarães (2006, p.171):
“(...) há serras de todos os tipos e origens; por isso ele [o
geomorfólogo] usará, conforme o caso, em vez daquele vocábulo,
outros termos, como sejam: flexura, escarpa de falha, crista
monoclinal, cuesta, cornija, hogback, horst, etc. (...). O mais que
podemos precisar é que ‘serra’ corresponde a um ‘desnível acentuado,
ou uma série de desníveis acentuados, ao longo de uma linha mais ou
menos extensa’”.
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Vê-se por aí que deve haver um equilíbrio entre a carga conceitual e as demais
competências a serem trabalhadas em sala de aula. Se por um lado os conceitos
orientam o pensamento (CAVALCANTI, 2003), por outro é preciso cuidado para que
eles não se tornem viseiras que apontam para uma única direção ou somente para si
próprios. O emprego dos conceitos na linguagem científica é muito importante mas não
pode constituir um fim em si mesmo (HARLEN, 1989 apud BONITO, 1995). De
acordo com Cavalcanti (2003, p.26):
A experiência tem mostrado a ineficácia de se ensinar conceitos à
criança ou ao jovem apenas transmitindo a eles o conceito definido no
livro ou elaborado pelo professor. A pesquisa corrente sugere que o
professor deve propiciar condições para que o aluno possa formar, ele
mesmo, um conceito. Por essa razão, é relevante o investimento
intelectual para compreender o processo de construção de conceitos
(CAVALCANTI, 2003, p.26).
É preciso trabalhar adequadamente com os conceitos; afinal, apresentá-los
somente como um conhecimento acabado não conduz a uma aprendizagem
significativa. É preciso que os conceitos sejam ensinados não como fórmulas mas como
diretrizes que permitem acomodações do pensamento à realidade. Como fazer isso?
Cavalcanti (2003, p.157) afirma que o professor deve
(...) apresentar o conceito, no momento adequado, como uma
construção social sobre a realidade, e não como a própria realidade, o
que significa demonstrar o caráter relativo do conceito.
Outra questão importante a qual se deve dar a devida atenção reside no fato da
correta distinção entre fatos e conceitos. Segundo Pozo (1998a, p.24) “a confusão entre
esses dois tipos diferentes de conhecimento pode levar a que os alunos aprendam de
forma errada os conceitos como dados que devem memorizar”.
Os fatos ou os dados devem ser aprendidos, literalmente, de um modo
reprodutivo; não é necessário compreendê-los (...). Em geral a
aprendizagem factual costuma consistir na aquisição de informação
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modelo mental a partir das orientações fornecidas pelos conceitos com base em
analogias, metáforas e outros recursos de linguagem.
O ensino de geociências não deve ser sobrecarregado pelo uso de conceituações
dentre o vasto rol de termos específicos aí existentes. O professor deve saber eleger
conceitos importantes para a compreensão dos processos e das noções fundamentais às
geociências e introduzir gradativamente novos conceitos caso as discussões demandem
e permitam. Para que esta tarefa se cumpra efetivamente é necessário que tanto se
entenda o conteúdo das explicações relativas aos conceitos em si quanto seja capaz de
comunicar esse conteúdo de maneira efetiva (MARTINS, OGBORN e KRESS, 1999).
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Torna-se, pois, importante que o professor deixe bem claro aos alunos, através
do uso correto da linguagem científica o trânsito escalar e as questões referentes à
multiescalaridade no que se refere ao relevo. Segundo Pedrinaci e Berjillos (1994,
p.242), “devem ser planejadas estratégias de intervenção que ajudem a mobilizar as
idéias dos alunos desde posições estáticas até perspectivas dinâmicas.” Por exemplo,
quando se fala das grandes formas do relevo e também da configuração dos
macrocompartimentos geomorfológicos (de Minas Gerais ou do Brasil) retrocede-se a
centenas de milhões de anos atrás quando processos de origem tectônica soergueram
grandes porções continentais. Concomitantemente a estes movimentos tectônicos, mas
bem mais recentemente na escala do tempo geológico (cerca de 1 milhão de anos atrás),
os processos erosivos modelaram sobre esses grandes compartimentos a extensão de
morros arredondados que se vê, por exemplo, na maior parte do sudeste do Brasil.
Nesse sentido, é bom chamar a atenção para uma certa distinção que pode ser
feita em torno de uma escala de tempo geológico e de tempo geomorfológico, aí
incluído como a etapa “recente” de elaboração da superfície terrestre. Entretanto, isto
não significa dizer que não haja relevos “mais antigos” que outros, fato atestado, por
exemplo, pela presença de antigas superfícies aplainadas que encontram-se preservadas
em meio às formas de origens mais novas. No entanto, não se pode falar em um relevo
pré-cambriano pois todas as formas superficiais desta época remota já foram
completamente destruídas por vários ciclos erosivos. As marcas atuais do relevo
brasileiro remontam sobretudo ao período posterior ao Cretáceo chamado Paleoceno e
que marca o início da Era Cenozóica (65 milhões de anos). Por isso diz-se que o relevo
brasileiro é sobretudo Cenozóico; embora sua macrocompartimentação demonstre a
influência de fatores endógenos mais antigos que isso.
A respeito da construção da escala temporal, por parte dos alunos, é fundamental
que sejam oferecidas a estes referências temporais que ajudem a dimensionar a duração
dos processos (PEDRINACI e BERJILLOS, 1994). O conceito de tempo geológico é
um conceito complexo cuja construção é gradual e acontece na medida em que os
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que os outros vejam. “As informações captadas por cada sentido têm suas
peculiaridades e são decodificadas de maneiras diferentes pelo corpo humano, por isso,
trabalham imagens mentais diversas (LEITE, MOURÃO e AVELAR, 2007)”.
Considerando o apelo visual característico da geomorfologia, sob o qual muitas
das formas do relevo podem ser visualizadas, torna-se importante estabelecer uma
aliança adequada entre o conteúdo conceitual e a utilização dos recursos imagéticos.
Segundo Silva et al (2006, p.220):
Embora nem todos os conceitos se estabeleçam a partir da sua
própria representação teórica, a compreensão de conceitos e
fenômenos pode ser, em muitos casos, potencializada pelos
aspectos atribuídos às imagens e às idéias que estas podem
comunicar.
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O perfil topográfico
Um perfil topográfico é um gráfico que representa a variação altimétrica da
superfície e consequentemente do relevo. Essa variação é representada no gráfico em
função da altitude (variável representada no eixo y) e da distância do corte de relevo
representado (variável representada no eixo x). O perfil topográfico é um instrumento
que auxilia na identificação de variações abruptas do relevo e na inferência de feições
geológicas, como falhas e lineamentos, responsáveis por essas diferenças altimétricas.
Uma analogia que pode ajudar os alunos a compreender o perfil topográfico é relacioná-
lo ao perfil de um rosto. Assim, o estudante pode construir a ideia do perfil como
apenas uma linha superficial da paisagem e entender que a tridimensionalidade do
espaço não pode ser ali representada em função de ser o perfil uma representação
bidimensional do espaço real. Essa é, aliás, uma desvantagem dos perfis topográficos.
Eles representam apenas uma linha da paisagem. Não se pode saber como é o relevo
fora daquela linha mostrada no perfil.
O uso de fotografias
As fotografias oblíquas são recursos muito interessantes no ensino do relevo
porque mostram, no papel, as formas da superfície do modo como são vistas
cotidianamente, por qualquer pessoa. Tal fato parece pouco relevante mas demonstra
que as fotografias oblíquas guardam forte correlação com o aspecto visível da realidade,
que é prontamente reconhecido por qualquer um.
Reynolds e Peacock (1998) afirmam que as observações através de fotografias
ensinam aos alunos a observar melhor e refletir sobre o meio ambiente no qual eles se
inserem, a estabelecer as diferenças entre observação e interpretação e também ajudam
a desenvolver habilidades de visualização espacial. No que se refere à ilustração do
relevo, as fotografias, tomadas de pontos de visada elevados e estratégicos, permitem a
visualização da extensão e da situação relacional entre compartimentos
geomorfológicos diferentes.
Oliveira (2007, p.37) sugere que “os primeiros materiais cartográficos a serem
manipulados pelos alunos devem ser, pois, os pré-mapas. Desse modo, as gravuras e as
fotografias, que não são seletivas e apresentam um nível pequeno de abstração, devem
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Capítulo 2 – A natureza do conhecimento geomorfológico aplicada ao ensino
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Em estudo realizado por Long (1953, 1961) e citado por Graves (1985),
concluiu-se que com relação ao uso de fotografias, deve-se ensinar aos estudantes a
observar os traços importantes e, especialmente, a comparar o tamanho dos objetos
presentes na imagem fotográfica desenvolvendo o sentido da proporção. Hugonie
(1998) afirma que as fotografias não falam por si próprias e muitas vezes a identificação
dos elementos fotografados não é evidente. Chama atenção ainda para o fato de que a
observação e a descrição de uma fotografia são somente o ponto de partida para o
trabalho de significação da paisagem (para a reflexão geográfica em essência). Por isso,
a abordagem do conteúdo por meio de fotografias deve ser motivo de reflexão por parte
dos professores. De que forma a ligação entre o que a fotografia mostra e o conteúdo
pode ser feita? Nesse sentido, perguntas que estimulem a dúvida, a imaginação e
discussões acerca do assunto podem envolver os alunos de forma mais intensa do que
simplesmente se estivessem escutando o professor. Contudo, é importante que se façam
perguntas genéricas que não deem a entender ao aluno a existência de uma resposta
exata e que, possivelmente, ele não saiba (REYNOLDS e PEACOCK, 1998). As
perguntas, bem como as dúvidas, devem ser matérias-primas para estimular a reflexão
silenciosa ou coletiva, a criação de hipóteses e cenários.
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Capítulo 2 – A natureza do conhecimento geomorfológico aplicada ao ensino
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O conceito de agente por sua vez se remete aos elementos naturais que
engendram os processos. A água líquida, na forma de chuva ou corrente fluvial, o gelo,
o vento, a gravidade que sob determinadas condições do solo o faz deslizar, o magma
que através de seus movimentos exerce pressões na crosta terrestre: todos esses são
agentes que modelam a superfície de variadas maneiras deixando à mostra, muitas
vezes, suas marcas. Quando vemos uma voçoroca estamos vendo uma forma que é
resultante de um processo erosivo. Não estamos vendo o processo. A completude do
processo nos escapa e mesmo quando vemos a enxurrada lavar a terra estamos vendo
apenas parte do processo de erosão.
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Capítulo 2 – A natureza do conhecimento geomorfológico aplicada ao ensino
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Aplicar esta perspectiva de retroação dos efeitos ao ensino das ciências da Terra
de modo geral implica uma abordagem complexa e sistêmica dos fenômenos. Por
exemplo: quando nos reportamos ao relevo muitas vezes não se tem a ideia de que este
se confunde com o solo. Todavia, na escala de detalhe (do morro, da vertente, etc), o
relevo é na verdade a forma da cobertura pedológica que ali existe (ROSS, 1992).
Considerando uma escala de detalhe pode-se dizer que o relevo evolui pela
evolução/transformação do solo. A erosão por sua vez é um processo que atua no solo.
Sendo por definição um processo de retirada e transporte de material é preciso que a
erosão atue sobre um material passível de ser transportado por algum agente, seja ele o
vento, a água da chuva, do rio ou outro. É preciso explicar muito bem aos estudantes as
interseções entre os fenômenos para que se tenha clareza do que causa o que.
A existência de uma explicação também faz diferença no que diz
respeito ao que é um fenômeno. Pensar numa cadeia de montanhas
que divide dois países é totalmente diferente de pensar nessas mesmas
montanhas como um caso da crosta terrestre sendo dobrada. É a
existência da explicação que dirige nossa atenção para o que é
relevante e para como o mundo deve passar a ser visto (MARTINS,
OGBORN e KRESS, 1999, p.38).
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
Segundo Souza (2009, p.33), “pode parecer óbvio e banal, mas o entendimento
do conceito de relevo é fundamental, principalmente, quando transposto, também, para
a dimensão metafísica do objeto que o termo relevo dá significado”. Nesse sentido, a
autora quer dizer que o relevo diz respeito não somente às formas que são vistas na
superfície da Terra mas também a todo conjunto de forças que está além do visível,
responsável pela sua gênese e transformação. Estão incluídos na gênese do relevo
processos, formas, agentes e condições que não são prontamente percebidos à
superfície. É pelo jogo de forças no qual esses fatores estão envolvidos que o relevo é
transformado e originado ao longo do tempo.
3
Os tipos de relevo compõem-se pelo conjunto das formas de relevo, como por exemplo, uma área onde
predominam formas em colinas. Esse conjunto de colinas define, portanto, um padrão de formas com
elevado grau de semelhança entre si (...). O tipo de relevo é uma unidade taxonômica superior em relação
à forma de relevo, e se define por um conjunto de formas mais ou menos delineadas, apresentando as
mesmas elevações absolutas, a mesma gênese, dependendo da mesma morfoestrutura, o mesmo conjunto
de agentes morfogenéticos e a mesma história de desenvolvimento (ROSS, 2003, p.44-45).
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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No século XIX, o escocês Charles Lyell popularizou a ideia de que os mesmos processos naturais que
atuam hoje no planeta atuaram no passado. Essa ideia ficou consagrada pela frase: o presente é a chave do
passado e ficou conhecida como UNIFORMITARISMO. Contudo, a ideia de Lyell tornou-se dogmática
demais porque ele considerava que os processos exógenos e endógenos atuais atuaram no passado da
mesma forma e com a mesma intensidade com que acontecem hoje. Todavia, sabemos hoje que isso não é
verdade. Por exemplo, perante a inexistência de cobertura vegetal nos continentes no período anterior a
400 milhões de anos atrás, os processos de intemperismo, erosão, formação de solos, absorção e reflexo
de energia solar certamente foram bem diferentes dos que atualmente operam. O uniformitarismo
proposto por Lyell revelou-se dogmático demais, de modo que se ensina o princípio de causas naturais
através do conceito de ATUALISMO, muito parecido com o uniformitarismo, mas sem a conotação da
estrita igualdade de condições entre o presente e o passado da Terra. Na sua essência, portanto, o
atualismo é a afirmação da constância das leis naturais que regem a Terra, mesmo que no passado os
produtos e intensidade dos processos geológicos tenham sido algo diferentes daquilo que se observa
atualmente (FAIRCHILD; TEIXEIRA e BABINSKI, 2000, p.314).
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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POSSIBILIDADES DE
OBJETIVOS OBSERVAÇÕES HABILIDADES ENVOLVIDAS
TRABALHO
-Elaborar um croqui (desenho) da foto.
Reconhecer os elementos da - Localizar, escrevendo o nome, os
-
paisagem. seguintes elementos: colina, fundo de
vale, serras, mata ciliar.
- As linhas branca e rosa mostram o
- Representar diferentes formas de
plano mais próximo e mais distante,
relevo, a partir da linguagem
respectivamente. As linhas amarela e
verbal (SOUZA, 2009).
azul definem planos intermediários.
Identificar o(s) plano(s) mais
Trabalhar a noção de profundidade
próximo(s) e o(s) mais distante(s) no - Identificar as tipologias de
em fotografia. - O primeiro plano (mais próximo)
croqui. formas e conhecer as suas
encontra-se sempre na porção inferior
nomenclaturas (SOUZA, 2009).
da foto enquanto os planos mais
distantes encontram-se nas porções
- Visualizar as formas do relevo a
superiores.
partir de representações gráficas
- Árvores são vegetais que precisam
(SOUZA, 2009).
- Que tipo de vegetação pode ser vista de uma grande quantidade de
nos 1º e 2º planos da foto? nutrientes para alcançarem uma altura
- Compreender e interpretar os
como a que está mostrada na foto.
fenômenos considerando as
- Em quais planos (ou áreas) da foto
dimensões local e regional (PCN,
não são vistas árvores? Por que elas - O limite entre o 1º e 2º planos da
2006).
não estão presentes aí? foto (linha branca) mostra o fundo de
Perceber a variação da vegetação de
vale, para onde convergem as águas
acordo com o relevo. - Analisar os espaços considerando
- Mostrar que há uma concentração de da chuva e onde geralmente correm os
a influência dos eventos da
árvores no limite da linha branca (entre cursos d’água.
natureza e da sociedade (PCN,
o 1º e 2º planos). Por que existe essa
2006).
concentração de árvores nessa área? - O fundo de vale possui maior
umidade, o que favorece o
desenvolvimento e a concentração de
espécies arbóreas.
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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b)
Figura 7 – Planície e Depressão do Rio Doce
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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POSSIBILIDADES DE
OBJETIVOS OBSERVAÇÕES HABILIDADES ENVOLVIDAS
TRABALHO
- Lembre-se: conceitos diferentes
Circular no croqui, com cores podem corresponder a coisas iguais na
Reconhecer os elementos da - Identificar as tipologias de
diferentes, as formas erosivas, os topos realidade. No caso da foto, um
paisagem. formas e conhecer as suas
de morro e os afloramentos rochosos. afloramento rochoso corresponde
nomenclaturas (SOUZA, 2009).
também ao topo de morro.
- Discutir o conceito de
- Representar diferentes formas de
compartimento geomorfológico ou do
relevo, a partir da linguagem
relevo. - Tudo o que está mostrado na foto faz
verbal (SOUZA, 2009).
parte do macrocompartimento
- Quantos compartimentos podem ser Depressão do Rio Doce. Entretanto, a
- Visualizar as formas do relevo a
Identificar compartimentos do relevo. identificados na foto, sabendo-se que área delimitada pela linha vermelha
partir de representações gráficas
junto à área plana, mas fora da foto, corresponde à planície fluvial do Rio
(SOUZA, 2009).
encontra-se o leito de um rio? Doce, compartimento mais baixo
dentro da Depressão do Rio Doce.
- Interpretar a forma do relevo,
- Delimitar os compartimentos com
expressa em tipologia de formas
uma linha vermelha.
de diferentes escalas espaciais e
- Para trabalhar este objetivo seria
temporais (SOUZA, 2009).
interessante que grupos diferentes
trabalhassem com fotografias
- Certamente alguns elementos não - Compreender e interpretar os
diferentes.
serão identificados, ou não serão fenômenos considerando as
identificados da mesma forma como o dimensões local e regional (PCN,
- Após cada grupo ter identificado
Compreender a importância de uma grupo de origem os identificou. 2006).
através de círculos os elementos da
legenda.
paisagem (como mostrado na foto a)
- Daí a importância de uma legenda - Analisar os espaços considerando
da figura 7) pedir que os grupos
que faça este trabalho e permita uma a influência dos eventos da
troquem as fotos entre si. De posse das
correta interpretação. natureza e da sociedade (PCN,
novas fotos, pedir que descrevam a
2006).
paisagem e identifiquem o que foi
circulado pelo outro grupo.
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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planície ou depressão. O relevo suave ondulado das pradarias do Rio Grande do Sul, por
exemplo, é composto por vertentes de grande extensão e baixíssimas declividades. O
relevo colinoso, característico dos chamados mares de morro do sudeste brasileiro, é
composto por vertentes ora mais declivosas ora menos declivosas, mas no geral com
pequenas extensões por causa da densidade de drenagem que corta o relevo. As
vertentes presentes no domínio do Planalto Central Brasileiro, por sua vez, são bastante
compridas e altas abarcando desde o topo das chapadas até o fundo dos vales largos e
planos. Embora o tamanho varie muito, existem vertentes aí que chegam a mais de 800
m de extensão. Toda topografia, se não for completamente plana, possui vertentes, ainda
que estas se apresentem sob as mais variadas formas e tamanhos. Existem geometrias
diferentes de vertentes e essas geometrias atuam de maneiras distintas frente ao
escoamento superficial da água. Existem vertentes que são completamente convexas,
existem aquelas que são côncavas ou mesmo as que são predominantemente retilíneas
(FIG. 8). E também existem vertentes que conjugam as três geometrias ao longo de sua
extensão.
Reside neste aspecto (a geometria) um fator fundamental para o planejamento
físico-territorial. A configuração do relevo em termos da inclinação e direção das
vertentes está diretamente relacionada ao escoamento superficial da água e,
consequentemente, ao papel que essa água desempenha na superfície seja em termos
dos processos morfodinâmicos seja quanto aos locais do terreno onde ela poderá se
acumular. Isto é fundamental em termos de planejamento ambiental: sobretudo no que
se refere às áreas susceptíveis à erosão, captação de águas, preservação de mananciais e
riscos de inundação.
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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A vertente é uma forma que varia muito em termos de escala espacial. Existem desde
pequenas vertentes, correspondentes a colinas (FIG. 9) até grandes vertentes que se
configuram como escarpas de uma área planáltica (FIG. 10).
As figuras a seguir (FIG. 9, 10 e 11) mostram essa variação morfológica das vertentes.
O Quadro 3 explicita a atividade proposta em torno dessas figuras, indicando
possibilidades de trabalho, objetivos pretendidos e as habilidades necessárias.
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Figura 12 – Perfil de relevo mostrando duas vertentes e a variação do material que compõe a
vertente de leste. Essa variação acontece também em função da localização ou posição do
material na vertente e dos processos a isso relacionados. Este perfil se refere a uma cobertura
pedológica próxima da cidade de Pedra Azul (MG), na estrada de ligação entre esta cidade e
Almenara.
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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formato mais longo do que largo e que são circundadas pelas vertentes que formam o
seu entorno (HUGGETT, 2003). As vertentes dão, portanto, o contorno ou a
configuração de um vale. Os vales ocorrem em uma grande variedade de tamanhos e
formas e são denominados também por termos como: desfiladeiro, hollow ou anfiteatro,
arroio, garganta, canyon, vale de fundo chato, vale em U, vale em V, etc.
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Figura 13 – Sequência de eventos responsáveis pela formação da Lagoa Santa, no município de Lagoa Santa (MG). Em 1, o vale por onde corria o Córrego
Bebedouro. Em 2, o deslizamento de terra responsável pelo represamento do Córrego Bebedouro e inundação do vale. Em 3, a inundação do vale e a formação
da Lagoa Santa há cerca de 6.200 anos atrás (PARIZZI, 1993).
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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POSSIBILIDADES DE
OBJETIVOS OBSERVAÇÕES HABILIDADES ENVOLVIDAS
TRABALHO
As ilustrações mostram etapas do processo;
Compreender como o Interpretação do bloco- não o processo em sua completude.
relevo se transforma e se diagrama (FIG. 13) e As marcas deixadas pelos processos
origina. fotografias (FIG. 14, 15 e 16). geomorfológicos indicam as
transformações do relevo.
As figuras 14 e 15 são visões de ângulos
Desenvolver a habilidade
Interpretação das Figuras 14 e diferentes da mesma colina ou da mesma - Explicar a gênese do relevo, a partir
de rotação espacial das
15). encosta. Isto permite explorar o caráter da interação dos processos
imagens.
tridimensional da vertente em questão. geomorfológicos, processos
As feições erosivas deixam à mostra o geológicos, condicionantes na escala
Compreender as relações material que compõem a vertente: o solo. espacial e temporal (SOUZA, 2009).
entre vertente e
cobertura pedológica. A dinâmica do relevo neste local é - Analisar a relação forma-escala
Interpretação das Figuras 14 e caracterizada principalmente pelos espacial e temporal (SOUZA, 2009).
Compreender os 15. processos que ocorrem na vertente, por
diferentes tipos de meio da inter-relação com a cobertura - Diferenciar os conceitos: agente,
processo erosivo e suas pedológica. A perda de solo por erosão leva processo, forma e condicionantes
relações com este material em direção à planície do (SOUZA, 2009).
movimentos de massa. córrego, na baixa vertente.
O círculo branco na foto do centro superior - Identificar as tipologias de formas e
da página mostra a localização da vertente conhecer as suas nomenclaturas
Compreender a escala (SOUZA, 2009).
mostrada com maiores detalhes nos discos
temporal de ação dos
ovalados.
processos erosivos e suas Interpretação da montagem
consequências em fotográfica (FIG. 17).
As transformações observadas nessa figura
termos de formas e
são transformações do relevo na escala do
mudanças paisagísticas.
tempo humano e não têm como causa
agentes tectônicos.
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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um vale escavado também por meio da incisão fluvial do canal que por ali passa.
Ambos movimentos do canal (lateral e vertical) são responsáveis pelo processo de
erosão fluvial. É importante ressaltar que a força da correnteza não é a mesma ao longo
de todo o rio. Por isso, trechos de um mesmo rio possuem formas diferenciadas; às
vezes trechos mais retilíneos ou mais meandrantes ou curvilíneos.
Ao longo do tempo geológico, o processo erosivo como um todo, incluindo-se aí
a ação erosiva dos rios, provoca alterações na configuração da própria bacia
hidrográfica e, por conseguinte, na paisagem. Isso acontece por meio de formação de
cachoeiras, formação de lagoas naturais por diminuição da velocidade do fluxo d’água,
captura de rios menores, formação de ilhas fluviais, extinção de pequenos canais por
entulhamento, alargamento de vales, espraiamento (aumento da largura) da planície
fluvial, etc. A intervenção humana também modifica bastante o regime fluvial e todo o
ecossistema fluvial e físico do entorno. Exemplos disso são os barramentos de rios para
aproveitamento hidrelétrico. As principais consequências disso são a diminuição da
velocidade da correnteza e o represamento de um maior volume de água em uma
determinada área. Também pode ser apontada como causa de mudanças na paisagem, a
ocupação urbana das planícies fluviais e das margens dos cursos d’água.
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Figura 19 – Ação erosiva do córrego associada à influência humana no meio ambiente: próximo
à sede urbana de Periquito (MG). O vale, mostrado em primeiro plano, foi escavado pela ação
erosiva do córrego em épocas passadas e, mais recentemente, por processos erosivos
desencadeados pela ação humana.
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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HABILIDADES
OBJETIVOS POSSIBILIDADES DE TRABALHO OBSERVAÇÕES
ENVOLVIDAS
- Entender o conceito de - Identificar as tipologias de
- O topo de morro, neste caso, é entendido
topo de morro e suas formas e conhecer as suas
como a linha de cumeada ou divisor de águas
função ambiental de - Listar os elementos visíveis na foto 1. nomenclaturas (SOUZA,
+ a parte superior da encosta, aquela onde a
dispersor ou concentrador 2009).
declividade é mais acentuada.
do fluxo superficial. - Indicar a linha de cumeada, a encosta e
a direção de drenagem na foto 1. - Comparar formas e
- O papel da infiltração: se as características
- Entender como a diferenciar nomenclaturas
do solo dificultam a entrada da água no seu
ocupação urbana pode - Interpretação da fotografia 1. (SOUZA, 2009).
perfil essa água tenderá a escoar
alterar o comportamento
superficialmente.
do escoamento pluvial. - Analisar a relação forma –
- Trabalhar a noção de escala espacial (SOUZA,
- Chamar a atenção para o tamanho das casas
escala espacial a partir de 2009).
- Comparação dos elementos da paisagem em relação à encosta; da antena em relação à
elementos presentes na
com as formas do relevo na foto 2. encosta; do homem em relação à cicatriz
foto 2. - Reconhecer os diferentes
erosiva instalada na encosta.
tipos de formas em
- Comparar o topo de morro mostrado na
- Mostrar que existem ilustrações e modelos
foto 2 com aquele mostrado na foto 1. - Na primeira foto o topo de morro é côncavo;
formas diferentes de topos tridimensionais (SOUZA,
na foto 2 é convexo.
de morro. 2009).
- Interpretação da fotografia 3.
- Caracterizar o relevo de
- Visualizar as formas de
Belo Horizonte. - Nem tudo pode ser visto na fotografia e
- Esclarecer aos alunos que as formas relevo, a partir das
alguns elementos da paisagem, como a
mostradas nas primeiras fotos estão representações e do real
- Observar a mudança na ocupação urbana do solo, interferem na
contidas na terceira e que não são vistas (SOUZA, 2009).
representação do relevo de visualização das formas do relevo.
como foram vistas nas fotos 1 e 2 por
acordo com a escala.
uma questão de escala. - Compreender e interpretar
os fenômenos considerando
as dimensões local e
regional (PCN, 2006).
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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... continuação
OBJETIVOS POSSIBILIDADES DE TRABALHO OBSERVAÇÕES
- Identificar e diferenciar - Destacar os compartimentos do relevo
altimetricamente através da visualização de cores do - A porção sul e serrana do município faz - Analisar os espaços
compartimentos de relevo padrão altimétrico nas ilustrações 4 e 5. parte do Quadrilátero Ferrífero enquanto a considerando a influência
diferentes. porção centro-norte faz parte da Depressão dos eventos da natureza e
- Mostrar aos alunos que o 1º e o 2º Sanfranciscana, localmente conhecida como da sociedade (PCN, 2006).
- Localizar Belo Horizonte planos da foto 3 correspondem, no Depressão de Belo Horizonte. A porção
no contexto do modelo em 3D (nº 4), à Depressão de centro-norte de Belo Horizonte é também a
Quadrilátero Ferrífero e Belo Horizonte e à borda norte do área de entorno do Quadrilátero Ferrífero pela
seu entorno, mostrado no Quadrilátero Ferrífero que é a Serra do direção norte.
modelo em 3D no nº 5. Curral.
- Os macrocompartimentos podem ser
entendidos como áreas cujo relevo apresenta
pelo menos um fator de gênese comum em
toda sua extensão e que se diferenciam
- Compreender o conceito
morfologicamente do seu entorno seja em
de macrocompartimento
função da altimetria, seja em função do
do relevo. - Cada cor no mapa 6 representa um
padrão de formas ou de outro fator
macrocompartimento diferente*.
geomorfológico.
- Demonstrar que o
município de Belo - Na ampliação de Belo Horizonte
- Formas semelhantes de relevo são comuns
Horizonte possui um mostrada no nº 6, a área em amarelo claro
tanto em compartimentos planálticos quanto
relevo que é parte corresponde a uma parte da Depressão
nos deprimidos. Este é o caso, entre o
integrante de Sanfranciscana enquanto a área em roxo
Quadrilátero e a Depressão de Belo
compartimentos corresponde a uma parte do Quadrilátero
Horizonte. Este não é um fator que distingue
geomorfológicos Ferrífero.
esses dois compartimentos.
diferentes.
- Tanto o relevo do planalto do Quadrilátero
Ferrífero quanto o da Depressão de Belo
Horizonte são colinosos.
* Encontra-se no Anexo 1 o Mapa dos Macrocompartimentos Geomorfológicos de Minas Gerais com maiores detalhes.
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Quadro 6 – Cortes do Relevo de Minas Gerais em Bloco-diagrama – Figuras 21, 22, 23, 24 e 24A
OBJETIVOS POSSIBILIDADES DE TRABALHO OBSERVAÇÕES HABILIDADES ENVOLVIDAS
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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... continuação
POSSIBILIDADES DE TRABALHO OBSERVAÇÕES HABILIDADES ENVOLVIDAS
OBJETIVOS
- Identificar áreas de sedimentação e áreas - Os movimentos tectônicos atuam tanto
onde predominam os processos erosivos. no sentido de soerguimento quanto no de
rebaixamento da superfície.
- Identificar no perfil topográfico os
macrocompartimentos representados nas - Nem sempre é fácil reconhecer marcas
imagens de satélite e classificá-los em de processos tectônicos na paisagem.
planalto, planície ou depressão. Discutir Muitas delas já foram apagadas pela
sobre a variação altimétrica dentro de erosão. Deve-se ter em conta a história
cada uma das unidades comparando-as geológica da área e não simplesmente a
entre os quatro modelos tridimensionais. interpretação visual de um modelo.
- Aplicar o raciocínio abstrato
- Discutir a evolução do relevo - As linhas brancas ou pretas mostradas
na compreensão da
representado nos MDE, tomando como nas imagens de satélite indicam a
macrocompartimentação do
base a seguinte questão: é possível que localização dos cortes topográficos
relevo.
alguma das áreas representadas possa presentes em cada figura.
atingir um padrão de formas idêntico ao
- Compreender a tectônica
de outra área? Nesta discussão devem - Em função da amplitude geográfica dos
como um condicionante do
aparecer questões relacionadas ao tempo, MDE’s, as formas de planícies não são
relevo.
aos condicionantes atuantes no relevo (se facilmente reconhecíveis nas figuras, já
são os mesmos ou se condicionantes que o que se torna mais evidente, devido
- Entender os conceitos de
diferentes podem conduzir aos mesmos à altimetria, são as porções elevadas e
planalto, depressão e planície.
efeitos mediante a atuação dos mesmos rebaixados entre si, que correspondem
processos), ao padrão de dissecação do aos planaltos e depressões. As maiores
relevo imposto pela rede de drenagem, planícies encontram-se dentro das
etc. depressões, junto ao leito dos grandes
rios. As pequenas planícies encontram-
se em meio às unidades deprimidas e
planálticas.
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Os mapas mostrados na figura a seguir (FIG. 25) permitem a continuação do trabalho envolvendo a noção de escala espacial e temporal
apresentado nos Quadros 5 e 6. Aqui os principais objetivos, desenvolvidos no Quadro 7, giram em torno de formas diferentes de representar
uma mesma realidade.
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Capítulo 3 – Atividades didático-pedagógicas envolvendo o relevo e suas representações gráficas
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Considerações Finais
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professor parta dos níveis mais concretos das formas, como pressupõe a ordenação das
propostas apresentadas. Que parta de algo familiar aos estudantes como, por exemplo, o
entorno da escola. Contudo, é preciso também ampliar as escalas de compreensão. É
preciso chegar ao que a vista não alcança, ampliando-se assim a complexidade
inerente aos fenômenos e formas geomorfológicas existentes e a capacidade de
raciocínio abstrato. Para tanto, é preciso ter domínio dos conceitos geomorfológicos e
geográficos – ferramentas fundamentais à construção do raciocínio científico e
geomorfológico.
Um aspecto importante a ser sublinhado é que, normalmente, trabalha-se mais
o fenômeno do que suas implicações em termos espaciais. E quando isso acontece
perde-se muito do caráter geográfico do conteúdo. É preciso esclarecer que trabalhar o
fenômeno significa enfatizar certa problemática enquanto trabalhar a espacialização do
fenômeno implica ênfase de outra(s) problemática(s). São, na verdade, duas roupagens
diferentes que revestem uma mesma questão. Embora esses dois âmbitos estejam
conectados de várias maneiras, trata-se de duas abordagens diferenciadas, que podem
ser trabalhadas assim também. Dizer que a organização espacial das favelas tem a ver
com o relevo é um conhecimento diferente daquele que se refere ao fato de que os
sedimentos vindos da escarpa de um planalto constituem a planície na sua base. São
relações cognitivas diferentes evocadas por cada uma dessas situações. Cada uma delas
constela ordens diferentes de conhecimentos em torno do relevo. Assim, as relações
conceituais construídas a partir daí são também de naturezas diferentes.
A espacialidade aplicada ao relevo se refere muito mais à conjuntura
paisagística e suas implicações em termos ambientais do que ao entendimento dos
processos que o transformam e o originam em si. A compreensão dos processos
passa pela compreensão de leis gerais que governam a natureza, não sendo possível
fugir a certas relações causais na explicação do fenômeno relevo. Por outro lado, a
compreensão do relevo em seu caráter geográfico ou espacial está muito mais vinculada
a como são estabelecidas e interpretadas as relações entre processos, formas,
condicionantes e organização social do espaço, segundo tempos e locais específicos.
Essa distinção na abordagem do conteúdo geomorfológico nos leva a concluir que o
relevo, tratado enquanto fenômeno natural, é algo diferente da sua abordagem enquanto
fenômeno natural aplicado ao contexto socioespacial. Diferentes conhecimentos são
implicados em cada uma das situações. Embora possa parecer demasiadamente
cartesiano esse raciocínio, no âmbito do pensamento científico no qual vivemos e fomos
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Nom omnis moriar.
Horacio (65 a.C – 8 a.C)