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Sobre o Conceito de Loucura Das Psicoses

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REVISTA DA SOCIEDADE DE

PSICOLOGIA DO RIO
GRANDE DO SUL

S E Ç ÃO 2 | E n s a i o s

Sobre o conceito de loucura: das psicoses à experiência social


On the concept of madness: from psychoses to social experience

Sílvio Camargo1

Resumo: O artigo aborda o conceito de loucura Abstract: The article addresses the concept of
em um diálogo da psicanálise com outros campos madness in a dialogue between psychoanalysis
do saber, em especial a antipsiquiatria britânica e and other fields of knowledge, in particular
o pós-estruturalismo de Michel Foucault. A forma British antipsychiatry and Michel Foucault’s post-
de apresentação é o ensaio, na tradição da dialética structuralism. The form of presentation is the essay,
adorniana. O problema central proposto é a in the tradition of the adorniana dialectic. The central
diferenciação subjacente entre as noções de psicose problem proposed is the underlying differentiation
e loucura tomando como referência as obras de between the notions of psychosis and madness
Freud e Lacan, em um procedimento de comparação taking as reference the works of Freud and Lacan, in
com outros modelos teóricos e epistemológicos. a comparison procedure with other theoretical and
Apresenta-se um privilégio ao conceito de epistemological models. A privilege is presented
esquizofrenia e sua centralidade em debates sobre to the concept of schizophrenia and its centrality in
psicoses no pensamento contemporâneo. O estudo debates about psychoses in contemporary thought.
é exclusivamente teórico, comparando conceitos e The study is exclusively theoretical, comparing
autores e o objetivo é propiciar um olhar crítico, nos concepts and authors and the objective is to provide
moldes da tradição frankfurtiana, quanto à relação a critical look, along the lines of the Frankfurt tradition,
entre psicoses e sociedade, sugerindo-se a relevância regarding the relationship between psychoses and
do conceito de experiência social. Trata-se de um society, suggesting the relevance of the concept of
ensaio panorâmico, que pretende contribuir para a social experience. It is a panoramic essay, which aims
compreensão da loucura na sociedade contemporânea to contribute to the understanding of madness in
e suas correlatas formas de dominação social. contemporary society and its related forms of social
domination.
Palavras chave: Esquizofrenia; Psicanálise; Antipsiquiatria.
Keywords: Schizophrenia; Psychoanalysis; Antipsychiatry.

Introdução e prática, que se debruça em conceituar e compreender a psicose, e a psicos-


social, na falta de expressão melhor, que aborda os aspectos institucionais,
Para a tradição psicanalítica, em boa parte dela, o antigo conceito de sociais, políticos e até mesmo ideológicos, sobre o como tais fenômenos
loucura foi subsumido pelo de psicose, embora não possamos dizer se tratar subjetivos se processam e são apreendidas pela sociedade. Em muitas análises
da mesma coisa (Birman, 1989). Quanto às psicoses entendo que há pelo teóricas as duas dimensões não se separam, caminho que tentarei delinear
menos duas dimensões distintas sobre o como abordá-las: a clínica, teórica neste artigo. Trata-se de interpelar o conceito de loucura num diálogo entre

1
Bacharel em Filosofia (UFRGS) e Doutor em Sociologia (Unicamp). Email: scccamargo@gmail.com .

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psicanálise e teoria social. O procedimento metodológico utilizado se refere se refere tão somente a uma cadeia de significação restrita aos critérios da
a uma revisão bibliográfica de natureza crítica estabelecendo comparações lógica formal, abstraindo-se das condições materiais e históricas com as quais
entre diferentes autores. se relaciona a subjetividade do psicótico.
O problema que proponho, enquanto reflexão teórica, é o como podemos Associarmos loucura com esquizofrenia é algo que se deve muito mais à
enxergar a singularidade e a diferença, na clínica ou fora dela, quando ações história da psiquiatria ao longo do século XX do que a história da psicanálise.
ou narrativas de sujeitos não evidenciam, em certos casos, a existência de Se a psicanálise, especialmente depois de Lacan, passou a enfrentar com maior
uma foraclusão que nos permitiria nomear o indivíduo como psicótico. O caso assiduidade às especificidades do dizer psicótico, mesmo assim não foi a es-
emblemático do escritor James Joyce, extensamente tratado por Jacques Lacan quizofrenia a estrutura clínica mais frequente a ser pensada pelos psicanalistas.
(2007), é um ponto de referência para pensarmos sobre aquilo que não se A esquizofrenia sempre foi um desafio para a psicanálise, desde os primeiros
apreende no Simbólico, mas que ao mesmo tempo em seu retorno ao Real escritos de Freud. É curioso que na década de 1950, quando a psiquiatria
não nos possibilita com segurança dizer do indivíduo um psicótico. Pode-se teve um de seus momentos de mutação com a produção de fármacos para o
dizer que lidamos com um louco que não é psicótico, neurótico ou perverso, tratamento da esquizofrenia e no Reino Unido a antipsiquiatria esboçava seus
embora possa trazer elementos destes, o que seria, todavia, apreensível por primeiros passos (Bosseur, 1976), o ensino de Lacan, que já havia iniciado nos
traços que permeiam também o Simbólico e o Imaginário. A pergunta é, assim, anos 1930 com sua tese de doutorado e o hoje paradigmático caso Aimée,
o que seria este louco que não se nomeia como psicótico. continue a se reportar às psicoses tomando como principais referências os
casos de paranoia, com especial atenção para o não menos importante caso
O objetivo do artigo é correlacionar as psicoses, em especial a esqui-
Schreber, tema dos seminários de 1955-56 (Lacan, 1988) e do importante
zofrenia, como estrutura clínica, com uma acepção ampliada de laço social,
ensaio De una cuestión preliminar a todo tratamento posible de las psicoses
para além das fronteiras da psicanálise, em um diálogo especialmente com a
(Lacan, 2006b) originalmente escrito em 1955.
filosofia, a antipsiquiatria e a teoria social, onde seja possível pensarmos, por
exemplo, no conceito de experiência social (Camargo, 2019). Embora eu não A psiquiatria contemporânea, por mais avanços que possa ter tido
parta da perspectiva, talvez culturalista, de que a loucura se define como o nas últimas décadas, continua a ter como referência de prática científica
discurso que destoa da norma social, também não nos parece suficiente refletir o seu manual clássico, o DSM, que muito distante se encontra da tradição
teoricamente sobre as psicoses exclusivamente como estrutura clínica. Irei psicanalítica. Junto a ele, e com as mudanças da contemporaneidade, os
privilegiar o conceito de esquizofrenia como expressão clássica da loucura ten- chamados transtornos de personalidade, como a bipolaridade e o border-
tando contextualizar sua apreensão pela psicanálise; depois abordar algumas line, eclipsaram em parte a efervescência do conceito de esquizofrenia, que
dificuldades quanto ao conceito de loucura adotando como principal referência demarcava fortemente o debate sobre loucura entre os anos 1950 e 1970.
as contribuições de Jacques Lacan; e por fim, fazer algumas conexões entre As chamadas doenças mentais encontraram, por parte da psiquiatria, novas
teoria psicanalítica das psicoses e teoria social. formas de rotulação e nomenclatura, sempre amparadas pela cisão entre o
normal e o patológico, e pelo poder-saber médico habilitado a emitir cada vez
mais rápidos diagnósticos a partir dos sintomas verbalizados pelos indivíduos.
Loucura, psicanálise e outros saberes
O advento da psicanálise é concomitante a alguns momentos marcantes
Tratar as psicoses como uma questão médica ou de saúde mental é uma na história da psiquiatria moderna, como é o caso da criação do conceito
abordagem peculiar ao campo da psiquiatria. Neste âmbito, as psicoses são de esquizofrenia nos meados do século XX com Bleuler, então associada à
usualmente associadas aos fatores biológicos e neuroquímicos que emba- noção de demência precoce. Desde o seu “As neuropsicoses de defesa” Freud
sariam sua definição, não obstante certos discursos, mais contemporâneos, (1894/1986) se afasta das explicações biologizantes e causais da psiquiatria,
de aceitação de características multifatoriais de sua causação, como se tal sugerindo que as afecções mentais chamadas de psicoses também estão
aceitação representasse um olhar científico mais progressista, em especial relacionadas ao desenvolvimento da libido, muito embora, ao contrário das
quanto à esquizofrenia. Um dos principais procedimentos de autolegitimação neuroses, haja nelas uma dificuldade compreensiva quanto à própria possibi-
da psiquiatria, desde seu surgimento até o presente, é a classificação. A maneira lidade de desvelamento do inconsciente do psicótico. Isto porque a forma de
pela qual tal mecanismo é também uma forma de poder já foi apontado por negação (Verneinug) da psicose se processa de um modo diferente daquele
Michel Foucault em diferentes obras (1999; 2014; 2017), e as formas de que ocorre com a histeria ou a neurose obsessiva. Há ainda que acrescentarmos
classificação da psiquiatria se tornaram igualmente distintas daquelas da que dentre as classificações nosológicas iniciais para as psicoses (esquizofrenia,
psicanálise. Cabe perguntamos, por outro lado, como já o fizeram Deleuze paranoia e transtorno maníaco-depresivo) a esquizofrenia sempre apareceu,
e Guattari (2010), em que medida a psicanálise consegue se furtar ao furor para Freud, muito mais como um contraponto para o objeto da psicanálise, o
positivista e efetivamente falar de psicose como algo que diz respeito ao sujeito inconsciente, especialmente o do neurótico, do que como uma modalidade de
e sua singularidade, e não à uma história natural. sofrimento psíquico passível de ser desvelado pela teoria e prática psicanalítica.
Cabe lembrarmos que o estudo ou caso clínico sobre psicoses que entrou para
A relação da psicanálise com o conceito amplo de loucura não pode
a história da psicanálise foi sobre um paranoico, Daniel Paul Schreber (Freud,
ser vista exclusivamente como problema da práxis clínica, mas também
1911-2006a), cuja loucura foi celebrizada a partir da sua autobiografia, e não
como algo da própria ética da psicanálise em sua relação com a Polis. Isto se
através de uma análise empreendida pessoalmente por Freud.
refere ao fato de que o louco, ou psicótico, possui um sofrimento e existência
que está diretamente relacionado com o conjunto das relações familiares, São nos textos da chamada metapsicologia que a questão das psicoses
institucionais e históricas em que vive. Se existe uma linguagem da loucura, e da esquizofrenia também aparecem, mesmo que timidamente, no pensa-
para parafrasear David Cooper (1978), entende-se, como ele, que esta não mento freudiano. Como uma espécie de negativo da própria estruturação do

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inconsciente a psicose se mostra, inicialmente, como uma espécie de limite A incapacidade desses pacientes para a transferência – até
da psicanálise, limite este que encontrou tentativas de ruptura pelos segui- onde alcança o processo patológico - , a consequente inacessi-
dores de Freud, seja ainda durante sua vida, ou um pouco depois, como são
bilidade à terapia, a característica rejeição do mundo externo, o
os casos de Jung, Frieda Fromm-Reichmann e Melanie Klein, ou mais tarde,
especialmente por Lacan. Mas na letra freudiana alguns detalhes não podem surgimento de sinais de um sobre investimento do próprio Eu, o
passar despercebidos. Muito diferente da antipsiquiatria dos anos 1950 que desfecho na completa apatia, todos esses traços clínicos parecem
buscou desmistificar a loucura como uma “doença”, este termo é recorrente no
condizer perfeitamente com a hipótese de um abandono dos
vocabulário freudiano, aliás para se referir não apenas às psicoses, mas também
às neuroses e perversões. Mesmo que desmistificando a psicose como algo investimentos objetais (Freud, 1915-2015 b, p. 140).
de origem biológica e natural, ela permanece sendo passível de ser nomeada
como uma doença mental. E por estranho que pareça, esta separação entre A dificuldade inicial da psicanálise com uma clínica das psicoses não
normal e patológico reapareceu ao longo do tempo mesmo entre parte da impossibilitou Freud de falar longamente sobre outra doença narcísica, mais
literatura psicanalítica. tarde retomada por Lacan, que é a paranóia, através do caso clínico exemplar
de Schreber, mas com diferentes nuances. Nesse caso, a fixação narcísica dizia
Ao contrário da psiquiatria de sua época Freud aponta que não apenas respeito não a uma relação entre o Eu e realidade objetal, mas entre o Eu e
as neuroses, mas também as psicoses, são afecções psíquicas que podem ser o outro, considerado como igualmente representante do mundo exterior. Na
entendidas a partir de uma teoria da libido. Ao mesmo tempo, o inconsciente, análise do caso Schreber aparece a afirmação de Freud que virá mais tarde a
epicentro da psicanálise, só consegue ser acessado e interpretado a partir da ser crucial para Lacan, a afirmação de que na paranóia “uma percepção interna
análise dos neuróticos, senão, igualmente, pelos sinais que se expressam em é suprimida e, em substituição, seu conteúdo vem à consciência, após sofrer
sonhos, esquecimentos, chistes e atos falhos, nos tropeços de um modo geral certa deformação, como percepção de fora” (Freud, 1911-2016 a, p. 88), ao
associados ao campo da linguagem. A psicose, por outro lado, diz respeito mesmo tempo, Freud inova ao dizer que a formação delirante é um trânsito
às possibilidades de um acesso bastante indireto a este inconsciente, como para o restabelecimento, e não um sintoma da doença. Lembremos que para
sendo, ao mesmo tempo, expressão de uma impossibilidade de acesso a a psiquiatria de então, e não apenas ela quando se trata de classificar a esqui-
ele, na medida em os afetos que demarcam experiências traumáticas não zofrenia, delírios e alucinações se apresentam como a própria manifestação
encontram uma clara representação quanto ao seu processo de denegação. da chamada doença mental.
A libido é investida no próprio eu e não nos objetos, se tratando por isso
de doenças que se relacionam ao campo do narcisismo. Colocamo-nos, de O entendimento das psicoses como investimento narcísico de libido, tal
qualquer modo, frente a um impasse: como se percebe no caso Schreber, indica ao mesmo tempo que as doenças
narcísicas possuem distinções entre si, no caso entre a paranóia e a esqui-
zofrenia, não obstante a dificuldade existente de se estabelecer uma clara
Um motivo premente para nos ocuparmos com a ideia
distinção entre os conjuntos de sintomas, visto que, conforme o próprio Freud,
de um narcisismo primário e normal apareceu quando se fez um indivíduo que tem inicialmente traços paranoicos pode logo em seguida
a tentativa de incluir o que sabermos da ‘dementia praecox’ evidenciar um quadro de esquizofrenia e assim por diante (Freud, 1911-
2016a). De qualquer modo, cabe insistir que a nosologia da psicanálise em seus
(Kraepelin) ou esquizofrenia (Bleuler) sob a hipótese da teoria da
momentos iniciais já expressava uma nítida diferenciação com a psiquiatria.
libido. Esses doentes, que eu sugeri designar como parafrênicos,
Tentar desconstruir a ideia de loucura como doença mental está presente
mostram duas características fundamentais: a megalomania e o
na contraposição entre psiquiatria e psicanálise desde o surgimento desta
abandono do interesse pelo mundo externo (pessoas e coisas). última, muito embora a noção de doença sempre tenha estado presente
Devido a esta última mudança, eles se furtam à influência da no vocabulário freudiano. As tentativas de desmistificar a ideia de doença
como forma de nomear a loucura foram bem mais visíveis nos chamados
psicanálise, não podendo ser curados por nossos esforços (Freud,
movimentos da antipsiquiatria, e no pós-estruturalismo francês, do que na
1914-2015a, p. 15) literatura psicanalítica. Poderíamos concordar que parte ou alguns momentos
do movimento antipsiquiátrico ressoa certo romantismo, ao situar a loucura
Enquanto que no indivíduo neurótico o recalcamento cria um represen- em sua relação com a norma social, tornando o problema, no extremo oposto
tante para aquilo que foi recalcado, sendo passível por isso de transformação da psiquiatria, em algo de natureza eminentemente social e ideológica, como
através da análise, no caso da psicose, e mais especificamente da esquizofrenia, evidenciam, em muitos momentos, as obras de Thomas Szasz (1978) ou
a rejeição do afeto não encontra uma representação, mas reaparece no próprio David Cooper (1978).
eu enquanto separação da realidade, havendo assim, para usarmos uma
expressão bastante usual, uma manifestação “ a céu aberto” do inconsciente. As dificuldades iniciais de Freud e da psicanálise em lidar com as psicoses,
Desaparece o investimento libidinal nos objetos, e no caso da esquizofrenia as e mais especificamente com a esquizofrenia dizia respeito, como um problema
próprias palavras são tomadas como coisas. Na visão de Freud, o esquizofrênico central, em como estabelecer relações de transferência entre paciente psicótico
não consegue estabelecer com o analista uma relação de transferência, se e analista. Dificuldade esta que foi enfrentada pelos discípulos de Freud, más
constituindo em portador de um sofrimento que manifesta, naquele momento, que, conforme entendo, acabou por trazer à tona outro aspecto desta história,
um limite da própria clínica psicanalítica: o fato de que o analisando psicótico em geral é encontrado e escutado em
algum tipo de ambientação que envolve instituições médicas. A maior parte
dos relatos que inicialmente apontavam para uma possível clínica das psicoses

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apontam para indivíduos já hospitalizados, ou que passaram por hospitaliza- Tais podem também ser pensadas quanto ao que separa aquilo que foi
ções e que, portanto, já teriam passado por algum momento de crise psicótica. postulado desde o período do caso Aimée do período do seminário sobre o
Não há como negligenciarmos, nesse sentido, o olhar de Foucault, para quem Sinthoma. As diferenças dizem respeito não somente ao tema da loucura,
a loucura em acepção moderna, já transformada em doença, só advém como mas há outros aspectos do pensamento de Lacan como, é o caso do conceito
tal a partir de um saber-poder que se relaciona a algum tipo de instituição de reconhecimento (Safatle, 2006), que virão a ter incidência sobre seus
disciplinar (Foucault, 2017), como era o caso das instituições hospitalares. últimos escritos. Não sendo possível aqui nos determos ao tema, não custa
lembrar que a noção de reconhecimento no primeiro Lacan estava associado
ao conceito de intersubjetividade e a uma determinada recepção de Hegel,
Freud e Lacan que se mostrará de um outro modo a partir do anos 1960, notadamente
quanto ao fato de que o desejo do Outro, nesta segunda fase, desloca o sen-
Oriundo da psiquiatria, o ingresso de Lacan na psicanálise ocorre no
tido da ideia de intersubjetividade como esta era então pensada na tradição
âmbito de uma clínica das psicoses, muito embora sua teoria psicanalítica
fenomenológica. Além disso, um reconhecimento que não mais se ancora
seja em grande medida um diálogo também com a Filosofia. Na biografia de
em um tipo de herança da intersubjetividade oriunda do jovem Hegel, o que
Lacan (Roudinesco, 1994) enxergamos o ano de 1932 como ponto marcante
nos permitiria traçar um paralelo com a abordagem das psicoses em Ronald
de sua trajetória intelectual, quando ele apresenta uma tese de doutorado “De
Laing (1969b), visto que para este último é justamente da intersubjetividade
la psychose paranoïaque dans ses rapports avec la personnalité” que traz o
que se trata quando falamos de psicoses e especialmente de esquizofrenia
caso Aimée, mencionado em grande parte dos comentários sobre o problema
(Camargo, 2019).
das psicoses em Lacan. Aimée era o nome dado por Lacan para Marguerite
Anzieu, uma jovem levada a um hospital psiquiátrico de Paris em 1931 após No caso de Lacan, na maior parte de sua obra, não é da intersubjetividade
agredir com uma faca a atriz Huguette Dulfos. Transformado em um caso que fala a psicanálise, nem mesmo o ato analítico. A questão central das
clínico, antes mesmo de Lacan ter se tornado psicanalista, o caso Aimée entrou psicoses para Lacan se refere ao conceito de foraclusão [Verwerfung] que se
para a literatura como um caso de paranóia, após Lacan ter acompanhado e situa em um entendimento de que é a linguagem que demarca a existência do
escutado durante um tempo razoável a então paciente psiquiátrica. inconsciente e de uma subjetividade compreendida pelos registros do real, do
simbólico e do imaginário. Assim como no caso de Freud o ponto de partida
O outro grande caso clínico de psicose examinado por Lacan é o mesmo
é o interno e o externo implicado no processo de denegação, só que no caso
de Freud, o de Schreber, igualmente um caso de paranoia, extensamente
de Lacan o externo se referindo aquilo que retorna no real, fora do registro
estudada com base em uma releitura da autobiografia daquele, cotejada
simbólico. Trata-se do que se processa na ordem significante e ao modo pelo
com a análise pioneira de Freud, mas aqui já falamos da década de 1950. Para
qual se mostra a presença ou ausência do desejo do Outro, aqui concebendo-se
falar um pouco esquematicamente, um terceiro momento na obra de Lacan
a relação entre o desejo da mãe (DM) e o Nome-do-Pai. Conforme Lacan a
quanto a um olhar para as psicoses, na década de 1970, são as reflexões sobre
psicose se instala quando ao interrogarmos a cadeia significante há algo que
o escritor James Joyce, que não é um caso de paranoia, e nem sequer recebe
não foi representado no registro simbólico:
alguma outra clara classificação psicótica, mas que coloca o problema sobre a
loucura em um sentido mais amplo, na medida em que mesmo a identificação
de uma psicose em Joyce é colocada em dúvida, ou como um problema teórico, É em um acidente deste registro e do que nele se cumpre,
pois se trata de em parte rever algumas das considerações do período 1955- a saber a foraclusão do Nome-do-Pai no lugar do Outro, e no
56 sobre o real, o simbólico e o imaginário, ou mais explicitamente, sobre as fracasso da metáfora paterna, onde designamos o efeito que dá
questões que envolvem o Nome-do-Pai e a metáfora paterna.
a psicose sua condição essencial, com a estrutura que a separa
Também quanto a Lacan ressurge, em nosso entendimento, o problema
da neurose (Lacan, 2006b, p. 556).
da relação entre clínica e história. A leitura estrutural que faz Lacan das psicoses
é certamente um grande avanço com relação às hesitações freudianas diante
Mas tal conceito de foraclusão torna-se visível quando novamente Lacan
do problema, nos permitindo ter uma visão mais lúcida sobre a relação entre
retorna a Freud e à noção de castração. É a partir de uma centralidade desta
psicanálise e psicose, e a própria possibilidade de uma clínica das psicoses.
noção em toda sua teoria psicanalítica que decorre a importância daquilo que
De outro lado, cabe problematizar a quase que completa ausência de crítica
ele chamará de o Nome-do-Pai, em torno do qual, no plano da significação,
às instituições hospitalares psiquiátricas também em Lacan, como se os pro-
se compreende a diferenciação entre neurose e psicose. Ao contrário do
blemas do poder e da dominação se encontrassem em um terreno externo ao
pessimismo de Freud, para Lacan é possível uma clínica das psicoses, desde
escopo da psicanálise. Apesar disso, aparece em Lacan uma recusa da ideia de
que o método psicanalítico se rearranje com este outro tipo de analisandos
loucura como doença mental (Lacan, 2006a), deslocando-se completamente,
que requerem um repensar a transferência. No retorno que Lacan propõe da
nesse sentido, do organicismo presente na psiquiatria e que ainda repercutia
obra freudiana nos anos 1950, retoma-se também a noção de Freud de que
na obra de Freud. Assim como todo seu pensamento, o enunciado de que o
o aparelho psíquico, em conformidade ao princípio do prazer, possibilita que
inconsciente é estruturado como uma linguagem serve como ponto de partida
se estabeleçam dois momentos, o da afirmação (Bejahung) e a denegação
não só para o entendimento das neuroses, mas também para o âmbito das
(Verneinung). Ao retornar ao texto freudiano sobre a Verneinung Lacan (1988,
psicoses. Do que se trata aqui é também da posição do significante, mas quanto
p. 178) abre espaço para reconhecer a Bejahung como o ponto de partida da
às psicoses a relação entre real, simbólico e imaginário adquire um caráter de
ordem simbólica. Neste seminário Lacan (1955-56) sugere que há na psicose
“amarração” com algumas importantes peculiaridades.
algo anterior da efetivação da cadeia simbólica, algo que não chega a se
efetivar, uma rejeição/foraclusão (Verwerfung):

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Previamente a qualquer simbolização – esta anterioridade Loucura e experiência
não é cronológica, mas lógica – há uma etapa, as psicoses o
A história da loucura e da esquizofrenia expressa uma tensão entre
demonstram, em que é possível que uma parte da simbolização laço e experiência social. Se o laço social, em acepção lacaniana, também se
não se faça. Essa etapa primeira precede toda a dialética neurótica refere a Lei e ao Nome-do-Pai, há que concebermos que as psicoses, e mais
que está ligada ao fato de que a neurose é uma palavra que se especificamente a esquizofrenia, aponta para uma experiência, dado o tipo
de solução encontrada para aquilo que foi denegado e buscou um escape
articula, na medida em que o recalcado e o retorno do recalcado
para além das possibilidades do simbólico. Podemos falar de situações psi-
são uma só e mesma coisa. Assim pode acontecer que alguma cóticas que encontram estabilização, e outras, ou momentos, que permeiam
coisa de primordial quanto ao ser do sujeito não entre na simbo- situações conflitivas e causadoras de sofrimento. No ambiente social do louco
encontramos a família, como espectro microssocial, onde se inscrevem as
lização, e seja não recalcado, mas rejeitado (Lacan, 1988, p. 100).
primeiras experiências formadoras da subjetividade, mas não termina nela,
na medida em que em um mundo de necessidade (Adorno, 2007, pp. 229-
A foraclusão se refere assim a um significante primeiro, que se cha-
235) a psique se situa dentro da história, e esta, enquanto sociedade, envolve
mará Nome-do-Pai. Na ausência de inscrição deste significante haverá algo
diferentes dimensões como as do trabalho, das instituições e da moralidade,
diferente do que se passa na Bejahung. Significa igualmente que o psicótico
e enquanto totalidade, o capitalismo.
não está inserido na ordem fálica. É deste modo que aquilo que está dentro
não encontra uma representação fora, como na neurose, sendo por conse- Na década de 1950 Michel Foucault, Jacques Lacan e Ronald Laing,
quência que aquilo que vem a ser abolido internamente retorna desde fora, representaram três diferentes vertentes epistemológicas e de circunscrição
isto é, no real, enquanto alucinação. Lembremos que toda a exposição de de campos do saber, sobre o pensar as psicoses. Foucault preocupou-se não
Lacan no seminário de 1955-56 se dá no contexto de comentário ao texto com os conceitos e classificações de neurose, psicose e perversão, como na
autobiográfico de Schreber, sendo o exame da paranóia de Schreber, assim psicanálise, mas com a experiência da loucura, em sentido mais amplo, pois
como o fora para Freud, o modelo de exposição quanto ao mecanismo da esta não se trata para ele de algum tipo de nosografia, mas pelo contrário, de
psicose, não se evidenciando, nesse contexto de explicitação do que é uma uma crítica da própria possibilidade de classificação. Crítica esta que se dirigia
psicose, uma clara delimitação de diferenciação, por exemplo, entre paranoia e à medicina e à psiquiatria, mas também à psicanálise, com a qual Foucault
esquizofrenia, que nos permitisse entrever qual o mecanismo específico desta nunca conseguiu manter uma relação plenamente amistosa, não apenas em
última quanto à foraclusão. termos teóricos, mas quanto às suas próprias experiências biográficas. Mesmo
que Foucault e Lacan tenham tido algumas referências em comum em suas
Consagrou-se o entendimento entre comentadores do campo lacaniano
origens, quanto ao estruturalismo francês (Dosse, 1997), estiveram em suas
(Quinet, 2010; Soler, 2002) de que no seminário sobre o Sinthoma (1975-76)
obras em posições epistemológicas um pouco distintas.
Lacan muda alguns aspectos de sua perspectiva sobre as psicoses. Sugiro dizer
que na verdade sobre a loucura. A complexa exposição sobre os nós borrome- Poderíamos falar de uma diferença entre o olhar da psicanálise e o olhar
anos traz de volta a problemática dos anos 1950 sobre a metáfora paterna, se da sociologia, ou teoria social, para o fenômeno da loucura (Jaccard, 1981, p.
tratando neste segundo momento de um repensar o papel do Nome-do-Pai, 53), mas talvez fosse mais prudente falarmos da diferença entre uma certa
ou, o papel de sua ausência, quanto a um registro não mais apreensível na forma de enxergar a psicanálise e uma teoria social crítica. O fato de Foucault
ordem simbólica do Real, Simbólico e Imaginário. A questão está em pensar usar na maior parte de seus textos a palavra loucura, ao invés de psicose,
em que o Real é um não lugar, e sendo a psicose, anteriormente concebida, está longe de ser um apego a um conceito não mais usual, pelo contrário, se
como àquilo que retorna no Real, ressurge agora, a partir da figura de Joyce, trata de uma escolha epistemológica, de recusar a própria conceituação de
sobre o como pensar uma psicose que não se apresenta enquanto tal. psicose para se referir às anormalidades. Em um primeiro olhar pode parecer
que Foucault e a psicanálise estão falando de coisas diferentes quando o tema
Entendo que no Seminário sobre o Sinthoma quando Lacan pergunta
são as psicoses, mas o que está em questão, para uns e outros, é o estatuto da
se Joyce era um louco, é diferente de perguntar se Joyce era um psicótico.
anormalidade. Há um substrato evidente que é o que podemos genericamente
A concepção de estrutura psicótica me parece trazer um problema que se
chamar de sofrimento psíquico, que se refere na psicanálise às formações do
traduzirmos em uma linguagem coloquial equivaleria a dizer “louco ele é, só
inconsciente, e para Foucault às relações de biopoder.
que não surtou ainda”, na medida em que o sujeito encontrou uma solução
original para aquilo que fugiu do simbólico (uma lalingua) conforme o Já a antipsiquiatria britânica tentou abordar o fenômeno das psicoses por
próprio vocabulário lacaniano. Assim sendo, seja pela escrita, como no caso um outro caminho, enraizado em outro viés quanto a abordagem da relação
de Joyce, ou de alguma outra produção artística que venha a se apresentar entre sujeito e objeto, o eu e o outro, e quanto à constituição da loucura na
como um quarto nó borromeu, como um enodamento que ultrapassa o Real, sociedade contemporânea. Absorvendo parte da tradição psicanalítica, em
Simbólico e Imaginário, o sujeito psicótico encontra uma solução para a sua especial Winnicott, e sem se contrapor aos desdobramentos da História da
singularidade, mas que, afinal de contas, para muitos continua ser a evidên- Loucura de Foucault, a raiz epistêmica de Laing e Cooper, se concebermos o
cia de sua anormalidade, visto que a “estrutura psicótica” está lá, cabendo contexto filosófico francês dos anos 1950, não é o estruturalismo, mas o seu
à interpretação do psicanalista enxergar que solução foi encontrada para a oposto nos debates de então, o existencialismo sartreano e a tradição feno-
suplência do Nome-do-Pai. menológica. A loucura, e em especial a esquizofrenia, para os antipsiquiatras
londrinos, dizia respeito à uma experiência existencial, que nada tem a ver
com doença mental, e que vê a psiquiatria como uma das principais formas
de violência da contemporaneidade (Laing, 1969a).

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Enquanto para Freud e Lacan a loucura, quase sempre nomeada como o acting out pode redundar em violência, como Aimée que em seu delírio de
psicose, buscou compreensão principalmente através de alguns casos clíni- perseguição desferia uma facada em Huguette Dulfos. Aqui talvez se evidencie
cos de paranoia, como os famosos Schreber e Aimée, para os pensadores e possíveis diferenças entre o campo psicanalítico e a tradição da antipsiquiatria,
militantes da antipsiquiatria a pesquisa sobre a esquizofrenia sempre foi seu que se refere a um entendimento do que podemos chamar de social. Para Ronald
interesse principal. Uma, senão a principal razão para isso, está no fato de que Laing, por exemplo, haveria na origem das psicoses algo como uma experiência
ao longo de quase todo o século XX houve uma forte associação, no campo social, historicamente ancorada em uma realidade conflituosa, que em outros
da psiquiatria, entre loucura e esquizofrenia (Szasz, 1978), inclusive quanto termos também é comparável à noção de poder de Michel Foucault.
à experiência empírica e histórica das instituições hospitalares manicomiais,
A antiga antipsiquiatria britânica pode ser acusada de certo romantismo,
nas quais a maior parte dos pacientes era diagnosticado como esquizofrênicos.
superficialidade teórica e impulso político em sua forma de apreensão das
A esquizofrenia nunca deixou de ser um problema para a psicanálise, psicoses. Mas em seu ímpeto militante provavelmente tem algo a nos dizer
não obstante todos os avanços dados por esta última em tentar constituir uma sobre o como as desigualdades sociais permeiam o universo da loucura,
clínica das psicoses (Calligaris, 1989). A maneira diferente com que Lacan para além da clínica. O que, aliás, pode nos fazer pensar sobre a relação entre
e Laing nos anos 1950 e 1960 veem o fenômeno das psicoses reflete suas psicanálise e sociedade quanto ao posicionamento da teoria das pulsões em
diferenças filosóficas. Para Lacan as psicoses, tal como as neuroses, buscam um olhar dialético (Adorno, 2007). O que nos motiva a pensar sobre o que
explicação em uma estrutura simbólica, que estruturada enquanto linguagem, seria uma teoria social crítica das psicoses.
produz o próprio sujeito e seu Outro, ou este aquele, onde a experiência infantil
Ao mesmo tempo, a psicanálise, com suas instituições, há muito tem
envereda para a formação de um inconsciente a céu aberto, que não encontra
dado demonstrações de uma vontade coletiva de intervenção na Polis, tanto
expressão no registro simbólico. Já para Laing, ao contrário de Lacan, a psicose
mais quando se interpõe a própria possibilidade de uma sociedade democrá-
tem uma dimensão claramente intersubjetiva em sua constituição (Camargo,
tica, condição necessária para a própria existência da psicanálise como campo
2019). O Eu, mesmo o psicótico, não se compreende em sua relação ao Outro,
do saber. Seria o caso, podemos sugerir, de pensar permanentemente sobre
mas ao outro das relações pessoais, ao laço social intersubjetivo que se esta-
como direcionar esta intervenção para a dimensão social da loucura e das
belece, para além das relações edipianas e da castração, como algo que se dá
instituições a ela adjacentes, buscando compreender, sem a abdicação da
entre o indivíduo e seu contexto microssocial, especialmente familiar. Tanto
teoria psicanalítica, o lugar em que situa a multiplicidade de singularidades
quanto como para a psicanálise lacaniana, para a antipsiquiatria de Laing
que indicam em inúmeras circunstâncias sofrimento, em outras, e por vezes
pesa a centralidade da linguagem, mas para estes últimos enquanto forma de
ao mesmo tempo, uma experiência social atravessada pela não identidade.
comunicação interpessoal, quanto aos modos pelos quais especialmente no
âmbito de uma experiência familiar (Laing & Esterson, 1977) se constituem
códigos e padrões de relacionamento que tornam possível o advento do Referências
indivíduo psicótico, ou esquizofrênico.
Adorno, T.W. (1986). O ensaio como forma (pp.167-187). São Paulo: Ática:
Isto também nos permite retomar as considerações feitas acima sobre 1986.
o Joyce de Lacan e como pensar a relação entre loucura, psicose e diferença. Adorno, T.W. (2007). Ensaios sobre psicologia social e psicanálise. São Paulo:
A pergunta de Lacan se Joyce era louco não foi plenamente respondida, Unesp.
senão pela sugestão de que o escritor dublinense encontrou na escrita, em Adorno, T. W. (2009). Dialética negativa. Rio de Janeiro: Zahar.
uma escrita bastante singular, um outro tipo de suplência para o buraco Birman, J. (1989). Freud e a crítica da razão delirante. In: BIRMAN, Joel (Org.).
deixado pelo Nome-do-Pai, enxergando em lalíngua um escape da estrutura Freud – 50 anos Depois (pp. 133-148). Rio de Janeiro: Relume Dumará.
psicótica que, de qualquer modo, para alguns parece estar lá. Sugere-se assim Bosseur, C. (1976). Introdução à antipsiquiatría. Rio de Janeiro: Zahar.
que, tal como nas soluções de sublimação (Lacan, 2008), que envolvem as Calligaris, C. (1989). Introdução a uma clínica diferencial das psicoses. Porto
atividades criativas e artísticas, há algo denegado, e não representado na Alegre: Artes Médicas.
Camargo, S. (2019). Esquizofrenia e experiência social: loucura, crítica e
ordem das neuroses, que encontraria em alguma forma de arte, religião ou
reconhecimento. Estudos Contemporâneos da Subjetividade, 9(2) 295-307.
fazer científico, a saída que tangencia o enlouquecimento psicótico, ou que Cooper, D. (1967). Psiquiatria e antipsiquiatria. São Paulo: Perspectiva.
estabiliza sua loucura sem que a ele atribua o nome de uma psicose. É assim Cooper, D. (1978). A Linguagem da loucura. Lisboa: editorial Presença.
que muitos do nosso universo circundante são loucos do alto de sua aparente Deleuze, G. e Guattari, F. (2010). O Anti-Édipo. São Paulo: Editora 34.
normalidade, notadamente em uma sociedade em que a lógica identificante Dosse, F. (1997). History of Structuralism. Vol. I.: London: University of Min-
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degradada, falando“sozinho”, somos por um lado apanhados pela crueza daquilo 12 (pp. 13-50). São Paulo: Companhia das Letras. Obra originalmente
que chamamos delírios e alucinações, levando-nos a supor, portanto, que aí está publicada em 1914.
um psicótico. Por outro lado, quando impera o senso comum, se estabelece Freud, S. (2015b). O Inconsciente. In: S. Freud: Obras completas, V. 12 (pp.
99-150). São Paulo: Companhia das Letras. Obra originalmente publicada
uma representação social de que ali está alguém que causa risos ou medo, pois
em 1915.

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