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2 Parasitologia e Microbiologia

2- RELAÇÃO ENTRE SERES VIVOS

O s seres vivos possuem características e propriedades que os


diferenciam dos seres não-vivos, também chamados inorgânicos. Dentre
elas podemos apontar como mais importantes: organização celular, ci-
clo vital, capacidade de nutrição, crescimento e reprodução, sensibilida-
de e irritabilidade, composição química mais complexa, dentre outras.
Destas, selecionaremos algumas para seu conhecimento.

• Organização celular
Existem seres vivos de tamanhos e formas muito variadas. Mas
somente os seres vivos, com exceção dos vírus, são formados por uni-
dades fundamentais denominadas células - tão pequeninas que não são
Inorgânicos (i = não; orgânico =
organismo) - substâncias não vistas a olho nu, mas através do microscópio.
exclusivas dos seres vivos, tam- Os organismos formados por uma só célula são chamados
bém encontradas nos seres
brutos ou inanimados. unicelulares, tais como as amebas, giardias e bactérias, também conhe-
cidos como microrganismos. Concentram numa só célula todas as suas
funções; assim, uma ameba é uma só célula e ao mesmo tempo um ser
completo, capaz de promover sua nutrição, crescimento e reprodução.
Porém, a maioria dos seres vivos são formados por milhares de
Microscópio - instrumento for- células, motivo pelo qual são denominados pluricelulares ou
mado por um sistema de lentes multicelulares, como as plantas e os animais.
e uma fonte de luz, capaz de
aumentar a imagem de um
objeto cerca de 1 500 vezes,
sem prejudicar sua nitidez. • Ciclo vital
A maioria dos organismos vivos nascem, alimentam-se, crescem, desen-
volvem-se, reproduzem-se e morrem – o que denominamos como ciclo vital.

Os seres vivos são sempre vis-


tos a olho nu? O homem é ca- • Nutrição
paz de ver ou perceber a pre-
sença de todos os seres vivos Os alimentos são considerados os combustíveis da vida. Através
naturalmente? deles os seres vivos conseguem energia para a realização de todas as
funções vitais.
Quanto à obtenção de alimentos, podemos separar os seres vivos
em dois grupos:
Autótrofos - auto = próprio, dele
1- aqueles que sintetizam seus próprios alimentos, também conhe-
mesmo; trofos = alimento. cidos como autótrofos - caso das plantas e algas cianofíceas;
Heterótrofos - hetero = diferen-
te; trofos = alimento. 2- aqueles incapazes de produzir seus próprios alimentos, como
os animais que se alimentam de plantas ou de outros animais,
chamados de heterótrofos.
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• Reprodução
Existem basicamente dois tipos de reprodução: sexuada e assexuada.
A reprodução sexuada é a que ocorre com o homem, pela partici- Fecundação - processo de fu-
pação de células especiais conhecidas por gametas. O gameta mas- são dos gametas.
culino dos seres vivos de uma mesma espécie funde-se com o femi-
nino – fecundação –, dando origem a um novo ser a eles semelhante.
Os gametas podem vir de dois indivíduos de sexos distintos, como
o homem e a mulher, ou de um ser ao mesmo tempo masculino e femi-
nino, o chamado hermafrodita, ou seja, o que possui os dois sexos – isto
ocorre com a minhoca e com um dos parasitos do intestino humano, a
Taenia sp, que causa a teníase e é popularmente conhecida como solitária.
A reprodução assexuada é a forma mais simples de reprodução;
nela, não há participação de gametas nem fecundação. Nesse caso, o
próprio corpo do indivíduo, ou parte dele, como acontece com determi-
nadas plantas, divide-se dando origem a novos seres idênticos – esse
fenômeno ocorre com os parasitos responsáveis pela leishmaniose e
doença de Chagas, por exemplo.

• Sensibilidade e irritabilidade
A capacidade de reagir de diferentes maneiras a um mesmo tipo
Biologia (bios = vida; logos =
de estímulo é chamada de sensibilidade. Só os animais apresentam essa estudo) é a ciência que estuda
característica, porque possuem sistema nervoso. os seres vivos e suas manifesta-
ções vitais.
A irritabilidade, por sua vez, é própria de todos os seres vivos.
Caracteriza sua capacidade de responder ou reagir a estímulos ou a mo-
dificações do ambiente, tais como luz, temperatura, força da gravidade,
pressão, etc.

2.1 Necessidades básicas para a Quando colocamos nossas


mãos em algum objeto muito
sobrevivência e perpetuação dos quente, imediatamente as reti-

seres vivos ramos. Por que será que isso


acontece?

Os seres vivos estão sempre buscando a sobrevivência e perpetu-


ação ou manutenção de suas espécies. Para tanto, precisam de energia,
obtida principalmente através da respiração celular. Necessitam, tam-
bém, de alimentos, oxigênio, água e condições ambientais ideais, tais como
temperatura, umidade, clima, luz solar. Sobretudo, precisam estar bem
adaptados e protegidos no ambiente em que vivem. Isto significa a pos- Os homens procuram tornar-se
sibilidade de, no mínimo, obter alimentos suficientes para crescerem e se cada vez mais independentes.
Eles seriam capazes de sobrevi-
reproduzirem. ver sozinhos?
Mas será que só isso basta?

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2 Parasitologia e Microbiologia

O essencial é que tenham alimentos, água e ar de boa qualidade.


Preferencialmente, sem contaminação ou poluição.
As plantas, através do processo de fotossíntese, sintetizam seus
Contaminação – ocorre pela próprios alimentos a partir da água, gás carbônico e energia solar. Elas
presença de um agente não precisam alimentar-se de outros seres vivos e são consideradas
infeccioso em qualquer superfí-
cie (corpo, brinquedos, roupas,
elementos produtores na cadeia alimentar, pois produzem compostos
alimentos, solo, etc.) e mesmo orgânicos, ricos em energia.
na água ou ar.
Denominamos como cadeia alimentar a seqüência em que um or-
Poluição - é a presença de ganismo serve de alimento para outro: por exemplo, as gramíneas no
substâncias nocivas, como pro-
dutos químicos no ambiente, ar, pasto servem de alimento para os bovinos; e estes, para o homem.
água, alimentos, etc.
Na cadeia alimentar, os animais que se alimentam de plantas são
Fotossíntese - foto = luz; síntese chamados de herbívoros e considerados consumidores primários; os que
= produção de alimentos em
presença de luz. se alimentam de animais herbívoros são os carnívoros ou consumidores
secundários. E assim por diante.
Compostos orgânicos - são as
substâncias produzidas e en- Finalmente, existem os decompositores - os fungos e as bactérias
contradas apenas no corpo dos
seres vivos, por exemplos: açú-
-, que atacam os animais e as plantas mortas, fazendo retornar à natureza
car, proteína, etc. os compostos simples orgânicos e inorgânicos. Esses organismos fixam
o nitrogênio atmosférico e formam compostos capazes de ser assimila-
dos pelos vegetais.
Viram como as plantas já não podem mais ser consideradas seres
produtores completos ou verdadeiros?
Vocês já ouviram falar em ca-
deia alimentar? Vamos tentar Assim, concluímos que nem mesmo as plantas conseguem viver
demonstrar, através dela, como
sozinhas, pois necessitam da presença de compostos nitrogenados no
os seres vivos, sem exceção,
dependem uns dos outros. ambiente, que são elaborados pelos microrganismos decompositores.
Esses seres que não conseguimos ver, pois são extremamente pequenos,
acabam tornando-se essenciais às plantas e aos demais seres vivos.
Entretanto, a cadeia alimentar é capaz de nos mostrar ainda mais:
além da dependência entre os seres vivos existe também uma íntima
Compostos nitrogenados - são ligação entre eles e o ambiente onde vivem.
substâncias que apresentam
nitrogênio em sua composição - E quanto à perpetuação das espécies?
por exemplo, as proteínas pre-
sentes em todas as estruturas
O desejo de procriar, gerar filhos ou descendentes está consciente
celulares. São também proteí- ou inconscientemente ligado ao objetivo de vida de todos os seres vivos,
nas as enzimas, alguns desde os microrganismos até o homem.
hormônios e os anticorpos
(imunoglobulinas). Para o aumento ou manutenção do número de indivíduos de uma
mesma espécie de ser vivo é fundamental que ocorra o processo de re-
produção, não necessariamente obrigatório no ciclo vital, pois alguns
animais podem viver muito bem e nunca se reproduzirem.

Até aqui, as plantas poderiam


ser consideradas totalmente 2.2 Classificação dos seres vivos
independentes. Será que isso é
verdade? Você concorda com
Os seres vivos são muito variados e numerosos. Para conhecê-
essa afirmativa? Como isso
acontece? los e estudá-los os cientistas procuram compreender como se rela-

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cionam e qual o grau de parentesco existente entre eles. Assim sen-
do, procura-se agrupá-los e organizá-los segundo alguns critérios pre-
viamente definidos.
Isto é fácil de imaginar. Podemos comparar o processo de classi- Classificação - é o processo de
ficação com, por exemplo, a tarefa de organizar peças de vários jogos agrupar os seres vivos com
base em suas semelhanças.
de quebra-cabeça, todas juntas e misturadas.
Morfologia - é o estudo das
Os seres vivos podem ser agrupados de acordo com suas seme- formas e estruturas que os or-
lhanças morfológicas, formas de alimentação, locomoção, reprodução, ganismos podem apresentar.
ciclo de vida, etc.
Os maiores grupos resultantes do processo de evolução são os
reinos. Cada reino divide-se em grupos menores, chamados filos, os quais,
por sua vez, subdividem-se em subfilos. Os filos e subfilos agrupam as
classes, que reúnem as ordens, que agrupam as famílias, que reúnem os gêneros.
Por fim, os organismos mais intimamente aparentados são A taxonomia é o ramo da Biolo-
agrupados em uma mesma espécie. gia que trata da classificação e
nomenclatura dos seres vivos.
Atualmente, existem cinco reinos: Monera, Protista, Fungi, Plantae
e Animalia.

2.2.1 Reino Monera


O reino Monera é formado por seres muito simples, unicelulares,
cuja única célula é envolvida por uma membrana. O material genético
(DNA) responsável por sua reprodução e todas suas características
encontra-se espalhado no seu interior.
A célula que não apresenta uma membrana envolvendo o material
genético, ou seja, não possui um núcleo delimitado ou diferenciado do
seu restante, é chamada de célula procariótica.
Portanto, o reino Monera é formado por seres Procariontes,
como as bactérias e algas azuis (cianofíceas). Muitas bactérias são
capazes de causar doenças como hanseníase, tétano, tuberculose, di-
arréias e cólera.

2.2.2 Reino Protista


O reino Protista é constituído por seres também formados por
uma só célula, porém com seu material genético protegido por uma
membrana nuclear (célula eucariótica). Esses seres unicelulares, que
apresentam estrutura um pouco mais complexa, são denominados
Eucariontes.
No reino Protista encontram-se os protozoários. Muitos deles vi-
vem como parasitos do ser humano e de muitos mamíferos, sendo ca-
pazes de causar doenças graves - caso do Plasmodium falciparum, causa-
dor da malária - e as diarréias amebianas provocadas pelas amebas.

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2 Parasitologia e Microbiologia

2.2.3 Reino Fungi


Os fungos se encontram no reino Fungi. Todos conhecemos as
casinhas de sapo nos tocos de árvores ou terrenos úmidos - são os fun-
gos. Não são considerados plantas porque não fazem fotossíntese; nem
animais porque não são capazes de se locomover à procura de alimen-
Os reinos Fungi (fungos), tos. Absorvem do ambiente todos os nutrientes que necessitam para
Plantae (plantas) e Animalia sobreviver.
(animais) agrupam seres
multicelulares. Existem fungos úteis ao homem, como os cogumelos utilizados
na alimentação e aqueles empregados no preparo de bebidas (cerveja) e
produção de medicamentos (antibióticos). Porém, alguns fungos são
parasitos de plantas e animais, podendo causar doenças denominadas
micoses. Algumas micoses ocorrem dentro do organismo
(histoplamose), mas a maioria desenvolve-se na pele, unhas e mucosas,
como a da boca.
Quem não conhece o “sapinho”,
muito comum em crianças que,
após a alimentação, não tive- 2.2.4 Reino Animalia
ram a higiene oral realizada de
forma adequada? O reino Animalia é o que reúne o maior e mais variado número de
espécies. Nele estão os homens, répteis, insetos, peixes, aves e outros
animais. E também os vermes, que são parasitos e causadores de doenças
como a ancilostomíase, conhecida como amarelão, e a ascariose, causada
pelas lombrigas.
E os ácaros? Vocês já ouviram falar neles? Eles também são
animais?
Sim, o filo artrópode inclui-se no reino animal e reúne os ácaros -
que são transportados pelo ar e causam a sarna e alergias respiratórias -
e os carrapatos (aracnídeos). Ambos parasitam o homem.
Os insetos também são artrópodes. Sua importância em nosso
curso reside no fato de que dentre eles estão as pulgas, que vivem como
parasitos, prejudicando os animais e o homem. Existem ainda os insetos
que transmitem doenças infecciosas para o homem, como os mosqui-
tos transmissores da febre amarela, dengue, malária e os barbeiros trans-
missores da doença de Chagas.
E os vírus? Se existem e são considerados seres vivos, onde se
classificam?
Os vírus não pertencem a nenhum reino. Não são considerados
seres vivos pois não são formados nem mesmo por uma célula com-
pleta. São parasitos obrigatórios, só se manifestam como seres vivos
quando estão no interior de uma célula. Causam diversas doenças, como
caxumba, gripe e AIDS, por exemplo.

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2.3 Formas de associação entre os
seres vivos
Como já vimos, na natureza todos os seres vivos estão intima-
mente ligados e relacionados em estreita interdependência.
Lembram-se da cadeia alimentar? Ela nos mostrou claramente
como isso é verdade.
As relações entre os seres vivos visam, na maioria das vezes, a dois
aspectos: obtenção de alimentos e de proteção.
Na cadeia alimentar os seres vivos estão ligados pelo alimento. Há
transferência de energia entre eles, que por sua vez estão também trocando
energia e matéria com o ambiente, ligados ao ar, água, luz solar, etc.
Imaginemos um bairro de nossa cidade. Nele existem animais
domésticos (cães, gatos), aves (pássaros, galinhas), insetos, várias espécies
de plantas, seres humanos, etc. - e não podemos esquecer daqueles que
não enxergamos: as bactérias, os vírus e os protozoários. Todos à procura
de, no mínimo, alimento e proteção em um mesmo ambiente.
Não é difícil imaginar que essa convivência nem sempre será muito
boa, não é mesmo?
Como são muitos, e de espécies diferentes, convivendo em um
mesmo lugar e relacionando-se, interagem e criam vários tipos de
associação. Essas associações podem ser de duas formas: positivas ou
harmônicas e negativas ou desarmônicas.

2.3.1 Associações positivas ou harmônicas


Nas relações harmônicas, as partes envolvidas são beneficiadas e,
quando não existem vantagens, também não há prejuízos para ninguém.
Todos se relacionam e convivem muito bem.
O comensalismo, o mutualismo e a simbiose são tipos de relações
harmônicas.
No comensalismo, uma das espécies envolvidas obtém vantagens,
mas a outra não é prejudicada. Como exemplo temos a ameba chamada
Entamoeba coli, que pode viver no intestino do homem nutrindo-se de
restos alimentares e jamais causar doenças para o hospedeiro.
O mutualismo é a relação em que as espécies se associam para
viver de forma mais íntima, onde ambas são beneficiadas. Como exem-
plos temos os protozoários e bactérias que habitam o estômago dos ru-
minantes e participam na utilização e digestão da celulose, recebendo,
em troca, moradia e nutrientes.
A simbiose é a forma extrema de associação harmônica. Nessa
relação, as duas partes são beneficiadas, porém a troca de vantagens é tão

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2 Parasitologia e Microbiologia

grande que, depois de se associarem, esses indivíduos se tornam inca-


pazes de viver isoladamente. Assim, temos os cupins, que se alimen-
tam de madeira e para sobreviver necessitam dos protozoários
(triconinfas). Esses protozoários habitam o tubo digestivo dos cupins
e produzem enzimas capazes de digerir a celulose (derivada da ma-
deira). Se houver um aumento na temperatura ambiente capaz de
matar os protozoários, os cupins também morrem, pois não mais
terão quem produza enzimas para eles.

2.3.2 Associações negativas ou


desarmônicas
Predatória – relativo a predador, As formas de relações desarmônicas mais comumente encontradas
ser que destrói outro com vio- são a competição, o canibalismo e as predatórias. Em nosso estudo,
lência.
nos ateremos ao parasitismo, haja vista a importância de seu conheci-
mento no cuidado de enfermagem.
No parasitismo, o organismo de um ser vivo hospeda, abriga ou
recebe um outro ser vivo de espécie diferente, que passa a morar e a
utilizar-se dessa moradia para seu benefício.
Podemos comparar o fenômeno do parasitismo com um inquilino
que mora em casa alugada e, além de não pagar aluguel, ainda estraga o
imóvel. Uns estragam muito; mas a maioria estraga tão pouco que o
proprietário nem se dá conta. Portanto, sempre haverá um lado obtendo
vantagens sobre o outro, que acaba sendo mais ou menos prejudicado.
Aquele que leva vantagem (inquilino), ou seja, quem invade ou penetra
no outro, é denominado parasito. E o indivíduo que recebe ou hospeda
o parasito é chamado de hospedeiro.
O parasito pode fazer uso do organismo do hospedeiro como
morada temporária, entretanto, na maioria das vezes, isto ocorre de for-
ma definitiva. Utilizam o hospedeiro como fonte direta ou indireta de
alimentos, nutrindo-se de seus tecidos ou substâncias.
De modo geral, há o estabelecimento de um equilíbrio entre o
parasito e o hospedeiro, porque se o hospedeiro for muito agredido po-
derá reagir drasticamente (eliminando o parasito) ou até morrer, o que
causará também a morte do parasito. Então, nas espécies em que o
parasitismo vem sendo mantido há centenas de anos, raramente o para-
sito provoca a doença ou morte de seu hospedeiro.

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3- INFECÇÕES PARASITÁRIAS
E A TRANSMISSÃO DOS
AGENTES INFECCIOSOS

3.1 Cadeia de transmissão dos


agentes infecciosos

P ara que ocorram infecções parasitárias é fundamental que


haja elementos básicos expostos e adaptados às condições do meio.
Os elementos básicos da cadeia de transmissão das infecções para-
sitárias são o hospedeiro, o agente infeccioso e o meio ambiente. Infecção - é a penetração, de-
senvolvimento ou multiplicação
No entanto, em muitos casos, temos a presença de vetores, isto é, insetos de um agente infeccioso no
que transportam os agentes infecciosos de um hospedeiro parasitado a interior do corpo humano ou de
outro, até então sadio (não-infectado). É o caso da febre amarela, da um outro animal.
leishmaniose e outras doenças.

Hospedeiro

Vetor

Parasito Meio Ambiente

Para cada infecção parasitária existe uma cadeia de transmissão


própria. Por exemplo, o Ascaris lumbricoides tem como hospedeiro so-
mente o homem, mas precisa passar pelo meio ambiente, em condições
ideais de temperatura, umidade e oxigênio, para evoluir (amadurecer)
até encontrar um novo hospedeiro.
Qual a importância de conhecermos a cadeia de transmissão
das principais infecções parasitárias?
Sua importância está na possibilidade de agirmos, muitas vezes
com medidas simples, no sentido de interromper um dos elos da cadeia,
impedindo, assim, a disseminação e multiplicação do agente infeccioso.
Conhecer onde e como vivem os parasitos, bem como sua forma
de transmissão, facilita o controle das infecções tão indesejadas. Por exem-
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2 Parasitologia e Microbiologia

plo, o simples gesto de lavar bem as mãos, após o contato com qualquer
objeto contaminado, após usar o vaso sanitário e, obrigatoriamente, an-
tes das refeições, pode representar grande ajuda nesse controle.

3.1.1 Hospedeiro
Na cadeia de transmissão, o hospedeiro pode ser o homem ou um
animal, sempre exposto ao parasito ou ao vetor transmissor, quando for
o caso.
Na relação parasito-hospedeiro, este pode comportar-se como um
portador são (sem sintomas aparentes) ou como um indivíduo doente
(com sintomas), porém ambos são capazes de transmitir a parasitose.
O hospedeiro pode ser chamado de intermediário quando os
parasitos nele existentes se reproduzem de forma assexuada; e de defi-
nitivo quando os parasitos nele alojados se reproduzem de modo sexuado.
A Taenia solium, por exemplo, precisa, na sua cadeia de transmissão, de
um hospedeiro definitivo, o homem, e de um intermediário, o porco.

3.1.2 Agente infeccioso


O agente infeccioso é um ser vivo capaz de reconhecer seu
hospedeiro, nele penetrar, desenvolver-se, multiplicar-se e, mais tarde,
sair para alcançar novos hospedeiros.
Os agentes infecciosos são também conhecidos pela designação
de micróbios ou germes, como as bactérias, protozoários, vírus, ácaros e
alguns fungos.
Existem, porém, os helmintos e alguns artrópodes, que são parasi-
tos maiores e facilmente identificados sem a ajuda de microscópios. Só
para termos uma idéia, a Taenia saginata, que parasita os bovinos e tam-
bém os homens, pode medir de quatro a dez metros de comprimento.
Os parasitos são também classificados em endoparasitos e
ectoparasitos.
Endoparasitos são aqueles que penetram no corpo do hospedei-
ro e aí passam a viver. Portanto, o correto é dizer que o ambiente está
contaminado, e não infectado.
Ectoparasitos são aqueles que não penetram no hospedeiro, mas
vivem externamente, na superfície de seu corpo, como os artrópodes -
dentre os quais destacam-se as pulgas, piolhos e carrapatos.

3.1.3 Meio ambiente


Meio ambiente é o espaço constituído pelos fatores físicos, quími-
cos e biológicos, por cujo intermédio são influenciados o parasito e
o hospedeiro.
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Como exemplos, podemos apontar:
• físicos: temperatura, umidade, clima, luminosidade (luz solar);
• químicos: gases atmosféricos (ar), pH, teor de oxigênio, agentes
tóxicos, presença de matéria orgânica;
• biológicos: água, nutrientes, seres vivos (plantas, animais).
Anteriormente, vimos que as relações que se estabelecem a
todo momento entre os seres vivos e os agentes infecciosos (para-
sitos) não são estáticas, definitivas; pelo contrário, são muito di-
nâmicas e exigem constantes adaptações de ambos os lados, ten-
A Ecologia, ramo derivado
dendo sempre, para o bem das partes envolvidas, a aproximar-se da Biologia, aborda a signi-
do equilíbrio. ficativa influência que os
fatores físicos, químicos e
Entretanto, sabemos que tanto o parasito quanto o hospedeiro biológicos exercem sobre
sofrem influência direta do ambiente, o qual, por sua vez, também so- os seres vivos.
fre constantes alterações, de ordem natural ou artificial, como as causa-
das pelo próprio homem.

3.2 Doenças transmissíveis e não-


transmissíveis
Nem todas as doenças que ocorrem em uma comu-
nidade são transmitidas, ou passadas, de pessoa a pessoa
(as “que se pega”). Existem também as que não se trans-
mitem desse modo (as “que não se pega”).
Após termos aprendido a diferenciar os seres vi-
vos dos seres não-vivos, e conhecido o fenômeno
parasitismo, podemos afirmar que todas as doenças
transmissíveis, ou todas as infecções parasitárias (geran-
do ou não doenças), são causadas somente por seres vi-
vos, chamados de agentes infecciosos ou parasitos. O
sarampo, a caxumba, a sífilis e a tuberculose exemplificam
tal fato.
Quais seriam, então, as doenças não-transmissíveis?
As doenças não-transmissíveis podem ter várias causas,
tais como deficiências metabólicas (algum órgão que não funcio-
ne bem), acidentes, traumatismos, origem genética (a pessoa nas-
ce com o problema). Como exemplos, temos o diabetes, o câncer
e o bócio tireoidiano.
Existem, ainda, doenças que possuem mais de uma causa, po-
dendo, portanto, ser tanto transmissíveis como não-transmissíveis.
Como exemplos, a hepatite e a pneumonia.

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2 Parasitologia e Microbiologia

3.3 Parasitoses e doenças


transmissíveis
Não podemos confundir infecção parasitária com doença. O pa-
rasito bem sucedido é aquele que consegue obter tudo de que precisa
para sobreviver causando o mínimo de prejuízo ao hospedeiro. Somen-
te em alguns casos, a relação poderá ser nociva, em maior ou menor
grau.
Desse modo, surgem os hospedeiros parasitados, sem doença e
sem sintomas, conhecidos como portadores assintomáticos.
Será que os portadores assintomáticos oferecem algum tipo de
risco para a comunidade?
Realmente, sua presença é um sério problema. Como não perce-
bem estar parasitados, não procuram tratamento, contribuindo, assim,
para a contaminação do ambiente, espalhando a parasitose para outros
Patogênico (pathos = doença;
geno = gerar) - é o agente infec-
indivíduos e, o que é pior, muitas vezes contaminando-se ainda mais.
cioso capaz de causar doença. Entretanto, em outros casos, a curto ou longo prazo, o parasi-
to pode causar prejuízos, enfermidades ou doença aos hospedeiros,
tornando-os patogênicos. Desse modo, surgem as doenças transmissíveis.

3.4 Fatores que influenciam o parasitismo


como causa das doenças infecciosas
Existem fatores que acabam conduzindo à parasitose e definindo
seu destino. Eles podem influenciar o fenômeno do parasitismo, contri-
buindo tanto para o equilíbrio entre parasito e hospedeiro, gerando, as-
sim, o hospedeiro portador são, como para a quebra do equilíbrio - e a
infecção resultante acaba causando doenças.
Os fatores mais importantes do parasitismo são os relacionados ao:
a) parasito: a quantidade de parasitos que entram no hospedeiro (car-
ga parasitária), sua localização e capacidade de provocar doenças;
b) hospedeiro: idade, estado nutricional, grau de resistência, órgão do
hospedeiro atingido pelo parasito, hábitos e nível socioeconômico
e cultural, presença simultânea de outras doenças, fatores gené-
ticos e uso de medicamentos;
c) meio ambiente: temperatura, umidade, clima, água, ar, luz solar, ti-
pos de solo, teor de oxigênio e outros. Muitos agentes infecciosos
morrem quando mantidos em temperatura mais baixa ou mais ele-
vada por determinado tempo. É o caso dos cisticercos (larvas de
Taenia solium) em carnes suínas, que morrem quando estas são con-
geladas a 10oC negativos, por dez dias, ou cozidas em temperatura
acima de 60oC, por alguns minutos.

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PROF AE
3.5 Dinâmica da transmissão das
infecções parasitárias e doenças
transmissíveis
As infecções e doenças transmissíveis podem ser transmitidas de
forma direta ou indireta.

3.5.1 Transmissão direta de pessoa a


pessoa
É a transmissão causada pelos agentes infecciosos que saem do
corpo de um hospedeiro parasitado (homem ou animal) e passam direta-
mente para outro hospedeiro são, ou para si mesmo – caso em que rece-
be o nome de auto-infecção.
Nesse modo de transmissão os agentes infecciosos são elimi-
nados dos seus hospedeiros já prontos, evoluídos ou com capacidade
de infectar outros hospedeiros. As vias de transmissão direta de pes-
soa a pessoa podem ser, dentre outras, fecal-oral, gotículas, respirató-
ria, sexual.

3.5.2 Transmissão indireta com presença


de hospedeiros intermediários ou vetores
Ocorre quando o agente infeccioso passa por outro hospedeiro
(intermediário) antes de alcançar o novo hospedeiro (definitivo) - caso
da esquistossomose e da teníase (solitária). A ingestão de carne bovina
ou suína, crua ou mal cozida, contendo as larvas da tênia, faz com que o
indivíduo venha a ter solitária – a qual, ressalte-se, não é passada direta-
mente de pessoa a pessoa. Fômites - são utensílios como
roupas, seringas, espéculos,
A forma indireta também ocorre quando o agente infeccioso é etc., que podem veicular o pa-
transportado através da picada de um vetor (inseto) e levado até o novo rasito entre hospedeiros.
hospedeiro – caso da malária, filariose (elefantíase) e leishmaniose.

3.5.3 Transmissão indireta com presença


do meio ambiente
Nesse tipo de transmissão, ao sair do hospedeiro o agente infecci- Os cistos e os esporos são for-
oso já tem uma forma resistente que o habilita a manter-se vivo por mas resistentes não visíveis a
algum tempo no ambiente, contaminando o ar, a água, o solo, alimentos olho nu. Como não as percebe-
mos, podem estar em qualquer
e objetos (fômites) à espera de novo hospedeiro. lugar – daí a importância de
Nesse caso, incluem-se os protozoários que, expelidos através sempre mantermos a correta
higiene das mãos e realizarmos
das fezes e sob a forma de cistos, assumem a forma de resistência a adequada limpeza de nossas
denominada esporos. casas.

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2 Parasitologia e Microbiologia

Por que devemos proteger os alimentos, mantendo-os sempre co-


bertos e bem embalados, e lavar muito bem as frutas e alimentos inge-
ridos crus antes de consumi-los?
Uma das razões deve-se à existência dos vetores mecânicos,
como as moscas, baratas e outros insetos, bons colaboradores dos
parasitos, pois transportam os agentes (cistos, ovos, bactérias) de
um lugar para outro, contaminando os alimentos e o ambiente.
Percebem o perigo e com que
facilidade a transmissão pode
ocorrer? 3.5.4 Transmissão vertical e horizontal
A transmissão vertical é aquela que ocorre diretamente dos pais
para seus descendentes através da placenta, esperma, óvulo, sangue,
leite materno - por exemplo, a transmissão da mãe para o feto ou para
o recém-nascido. Podemos ainda citar como exemplos a rubéola, a AIDS
infantil, a sífilis congênita, a hepatite B, a toxoplasmose e outras.

Transmissão horizontal
Transmissão vertical

Agora, podemos elaborar o conceito de fonte de infecção.


Fonte de infecção é o foco, local onde se origina o agente infec-
cioso, permitindo-lhe passar diretamente para um hospedeiro, po-
dendo localizar-se em pessoas, animais, objetos, alimentos, água, etc.
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