Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Exercícios Sobre Clarice Lispector

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 7

1ª Série do Ensino Médio / Integral

ATIVIDADE DE LITERATURA
3º Trimestre Data____/____/____
Nome:_______________________________________________________ Nº______ Turma:______
Professora: Maria Laura Muller da Fonseca e Silva

EXERCÍCIOS SOBRE CLARICE LISPECTOR

MACACOS
Da primeira vez que tivemos em casa um mico foi perto do Ano-Novo. Estávamos sem água e sem
empregada, fazia-se fila para carne, o calor rebentara – e foi quando, muda de perplexidade, vi o presente
entrar em casa, já comendo banana, já examinando tudo com grande rapidez e um longo rabo. Mais
parecia um macacão ainda não crescido, suas potencialidades eram tremendas. Subia pela roupa
estendida na corda, de onde dava gritos de marinheiro, e jogava cascas de banana onde caíssem. E eu
exausta. Quando me esquecia e entrava distraída na área de serviço, o grande sobressalto: aquele
homem alegre ali. Meu menino menor sabia, antes de eu saber, que eu me desfaria do gorila: "E se eu
prometer que um dia o macaco vai adoecer e morrer, você deixa ele ficar? e se você soubesse que de
qualquer jeito ele um dia vai cair da janela e morrer lá embaixo?"
Meus sentimentos desviavam o olhar. A inconsciência feliz e imunda do macacão-pequeno tornava-me
responsável pelo seu destino, já que ele próprio não aceitava culpas. Uma amiga entendeu de que
amargura era feita a minha aceitação, de que crimes se alimentava meu ar sonhador, e rudemente me
salvou: meninos de morro apareceram numa zoada feliz, levaram o homem que ria, e no desvitalizado
Ano-Novo eu pelo menos ganhei uma casa sem macaco.
LISPECTOR, Clarice, “Macacos”, In: Felicidade clandestina, Rio de Janeiro: Rocco, 2013. p. 128.

1. A variação de nomes na referência ao animal pode ser explicada do seguinte modo:


a) o animal não pode ser identificado com precisão.
b) o animal da casa não era sempre o mesmo.
c) o animal não pode ser apresentado para o leitor.
d) o animal é uma invenção da narradora.
e) o animal é identificado a partir de alterações de espírito da narradora.

2. Considerando o enredo do conto “Os macacos”, assinale a opção em que NÃO há oposição entre a
rotina da realidade e a liberdade vital:
a) "( ... ) fazia-se fila para carne ( ... )" X " ( ... ) jogava cascas de banana onde caíssem."
b) "E eu exausta." X "( ... ) e eu pelo menos ganhei uma casa sem macaco."
c) "Estávamos sem água e sem empregada ( ... )" X "Subia pela roupa, estendida na corda."
d) " Estávamos sem água e sem empregada (...)" X " (...) e um longo rabo. "
e) "( ... ) o calor rebentara ( ... )" X "( ... ) suas potencialidades eram tremendas."

3. Considerando o conto “Repartição dos pães”, só NÃO se pode afirmar que, nele, Clarice Lispector:
a) aproveita a temática do cotidiano em sua ficção.
b) faz reflexões existenciais a partir de coisas simples.
c) descreve com objetividade e realismo as dificuldades da vida.
d) utiliza uma linguagem que capta o mundo interior da personagem.
e) apresenta focalização interna e externa na narração.

1
4. No conto “Uma esperança”, há uma sugestão figurada de que a “esperança” é um sentimento
a) provisório e desnecessário.
b) frustrante e constante.
c) objetivo e agressivo.
d) frágil e previsto.
e) breve e delicado.

5. Os fragmentos abaixo foram extraídos do conto “Uma esperança”. Considerando a leitura integral do
conto, é possível dizer que está incoerente com a interpretação do enredo a seguinte alternativa:
a) “embora, mesmo assim, nos sustente sempre.” - encerra uma expressão do sujeito narrador em relação
ao senso comum.
b) “Houve um grito abafado de um de meus filhos” - sugere um sentimento de surpresa por parte do
menino.
c) “costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber” - é uma referência à percepção subjetiva
e psicológica do sentimento esperança.
d) “— Ela se esqueceu de que pode voar” - revela uma constatação irônica de que o ser humano perde,
aos poucos, as esperanças.
e) “como se uma flor tivesse nascido em mim.” - apresenta uma contradição entre a delicadeza da flor e
a presença do inseto repugnante.

6. Leia as características abaixo:

I. O cotidiano é minimizado para que se trate apenas do aspecto psicológico.


II. A epifania é constante nos contos de Felicidade Clandestina.
III. As personagens são, em sua maioria, mulheres em processo de amadurecimento.
IV. As cenas descritas são comuns, mas não apresentam detalhes.

Quais delas podem ser corretamente associadas à obra de Clarice Lispector?

a) Somente a alternativa IV está correta.


b) As alternativas IV e V estão corretas.
c) Somente a alternativa II está correta.
d) As alternativas II, III e IV estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.

7. No livro Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector, há duas claras características nas narrativas
modernas: a dialogicidade e a multiplicidade discursiva. Além dessas, podem ser incluídos:
a) as narrativas introspectivas e o fluxo de consciência.
b) o tom anárquico dos personagens e a indisposição com a realidade.
c) o desapego às formas fixas e às temáticas de abordagem social.
d) o predomínio da objetividade em oposição ao sentimentalismo.
e) a utilização de prosa poética e da sugestão musical.

2
8. O fluxo de consciência, na escrita de Clarice Lispector, está evidenciado no seguinte fragmento,
extraído de Felicidade Clandestina:
a) “No sábado à noite a alma diária perdida, e que bom perdê-la, [...] E esta gargalhada? Essa gargalhada
que lhe estava a sair misteriosamente duma garganta cheia e branca...”
b) “Foi então que o explorador disse, timidamente e com uma delicadeza de sentimentos de que sua
esposa jamais o julgaria capaz: - Você é pequena flor!”
c) “ – Mamãe! gritou mortificada a dona da casa. Que é isso, mamãe! Gritou ela passada de vergonha.”
d) “Até que, devagar, austera, enrolou os talos de espinhos no papel de seda.”
e) “Enfim provocado, o grande búfalo aproximou-se sem pressa.”

9. Leia:
Esta história poderia chamar-se "As estátuas". Outro nome possível é "O assassinato". E também "Como
matar baratas". Farei então pelo menos três histórias, verdadeiras, porque nenhuma delas mente a outra.
Embora uma única, seriam mil e uma, se mil e uma noites me dessem.
LISPECTOR, Clarice, “A quinta história”, In: Felicidade clandestina, Rio de Janeiro: Rocco, 2013. p. 128.

O fragmento acima é a introdução do conto “A quinta história”, de Clarice Lispector. Considerando as


características peculiares da escritora, presentes no conto acima, é correto afirmar que

a) a corrente espiritualista da literatura do Modernismo pode ser percebida nesse conto, uma vez que há
linguagem simbólica e reflexões existenciais.
b) o repensar da realidade é desencadeado por um acontecimento banal e cotidiano, que leva a um
questionamento mais amplo.
c) a metalinguagem e as referências às obras literárias do passado revelam o cuidado da escritora com
a valorização da tradição literária.
d) a angústia da mulher com a morte das baratas pode ser vista como uma crítica ao domínio violento
sobre os seres vulneráveis, tema central na obra de Clarice.
e) o texto estabelece intertextualidade com “A metamorfose”, de Kafka, mantendo a veracidade da obra
anterior.

10. Leia:
“Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das
fantasias mais belas que jamais vira.”
LISPECTOR, Clarice, “Restos do carnaval”, In: Felicidade clandestina, Rio de Janeiro: Rocco, 2013. p. 128.

Em relação ao conto “Restos do carnaval”, a hipótese mais provável para a narradora ter achado a
fantasia “a mais bela”, apesar de isso não corresponder à real imagem, se explica pelo(a)

a) carinho dos adultos.


b) encantamento pueril.
c) máscara carnavalesca.
d) melancolia da narradora.
e) psicologia do carnaval.

3
11. O título do conto “Restos do carnaval” pode ser entendido, considerando o enredo, como um(a)
a) referência à fantasia de sobras de papel crepom e à fantasia imaginativa da menina.
b) saudade da atmosfera festiva que envolvia toda a cidade durante o carnaval.
c) homenagem às festas simples e pouco alegres do carnaval de época.
d) abordagem reflexiva da dificuldade da vida, em oposição à festa do carnaval.
e) interpretação particular do carnaval, motivada pela participação na festa popular.

12. Em relação ao conto “Restos do carnaval”, o trecho que inicia a história principal da narrativa é:
a) “Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância…”
(1º§)
b) “No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me
haviam fantasiado.” (2§)
c) “Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à
alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.” (2º§)
d) “Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto
me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco.” (5º§)
e) “Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me
salvar.” (11º§)

13. No conto “Uma amizade sincera”, o conflito instalado se reforça quando


a) a necessidade de revelar um pensamento oculto se sobressai.
b) um dos amigos não consegue resolver os problemas financeiros.
c) os amigos passam a morar juntos devido a acontecimentos familiares.
d) os amigos deixam de partilhar os acontecimentos cotidianos.
e) os amigos não conseguem mais suportar um ao outro.

14. Considerando o conto “Uma amizade sincera”, identifique a alternativa que melhor relaciona o primeiro
fato (entusiasmo) e o segundo (piora da situação):
a) mudança para o apartamento X aumento da distância entre eles
b) mudança para o apartamento X aumento da intimidade entre eles
c) mudança para o apartamento X brigas constantes e mais severas
d) mudança para o apartamento X leitura de livros e longas conversas
e) mudança para o apartamento X problemas com a Prefeitura

15. Na obra Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector, há contos em que crianças são protagonistas
de situações alegres e tristes na relação com o outro. Nessa tessitura, escolha a alternativa correta.
a) “Miopia progressiva” narra a manipulação de pessoas por parte do protagonista que desejava se tornar
adulto.
b) “Restos de Carnaval” contrapõe o desejo da criança de se divertir no carnaval e as atenções voltadas
para uma doença em família.
c) “Tentação” revela a importância do olhar, mascarando as verdadeiras intenções presentes nas
pequenas ações cotidianas.
d) “Come, meu filho” prioriza o discurso autoritário da mãe para contrapor-se ao fluxo de consciência do
filho.
e) “O ovo e a galinha” é uma reflexão filosófica sobre o trabalho culinário e as possibilidades ofertadas
por esse ingrediente.

4
Texto I
Logo descobriu que não podia absolutamente mais se mexer. Não se admirou com esse fato, pareceu-
lhe antes um pouco natural que até agora tivesse conseguido se movimentar com aquelas perninhas
finas. No restante sentia-se relativamente confortável. Na realidade tinha dores no corpo, mas para ele
era como se elas fossem ficar cada vez mais fracas e finalmente desaparecer por completo. A maçã
apodrecida nas suas costas e a região inflamada em volta, inteiramente cobertas por uma poeira mole,
quase não o incomodavam. Recordava-se da família com emoção e amor. Sua opinião de que precisava
desaparecer era, se possível, ainda mais decidida que a da irmã. Permaneceu nesse estado de meditação
vazia e pacífica até que o relógio da torre bateu a terceira hora da manhã. Ele vivenciou o início do clarear
geral do dia lá do lado de fora da janela. Depois, sem intervenção da sua vontade, a cabeça afundou
completamente e das suas ventas fluiu fraco o último fôlego.
KAFKA, Franz. A metamorfose. Trad. Modesto Carone. São Paulo: Cia das Letras, 1997. p. 78.

Texto II
Saciada, espantada, continuou a passear com os olhos mais abertos, em atenção às voltas violentas que
a água pesada dava no estômago, acordando pequenos reflexos pelo resto do corpo como luzes. A
estrada subia muito. A estrada era mais bonita que o Rio de Janeiro, e subia muito. Mocinha sentou-se
numa pedra que havia junto de uma árvore, para poder apreciar. O céu estava altíssimo, sem nenhuma
nuvem. E tinha muito passarinho que voava do abismo para a estrada. A estrada branca de sol estendia
sobre um abismo verde. Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça no tronco da árvore e
morreu.
LISPECTOR, Clarice. “O grande passeio”. In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 37-38

16. Os textos apresentados pertencem a épocas e nacionalidade diferentes, porém, têm um ponto em
comum. Assinale-o:
a) a impossibilidade de superar desigualdades sociais.
b) a reflexão incessante sobre a natureza dos dilemas humanos.
c) a passividade diante dos problemas do dia a dia.
d) a capacidade de pressentir o momento da morte.
e) o isolamento social e o descaso dos familiares.

Havia em Recife inúmeras ruas, as ruas dos ricos, ladeadas por palacetes que ficavam no centro de
grandes jardins. Eu e uma amiguinha brincávamos muito de decidir a quem pertenciam os palacetes.
“Aquele branco é meu. ” “Não, eu já disse que os brancos são meus. ” “Mas esse não é totalmente branco,
tem janelas verdes. ” Parávamos às vezes longo tempo, a cara imprensada nas grades, olhando. [...]
Numa das brincadeiras de “essa casa é minha”, paramos diante de uma que parecia um pequeno castelo.
No fundo via-se o imenso pomar. E, à frente, em canteiros bem ajardinados, estavam plantadas as flores.
LISPECTOR, Clarice. “Cem anos de perdão”. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 60.

17. Os contos de Felicidade Clandestina exploram, entre outros aspectos, sentidos figurados, diversas
possibilidades de linguagem e a epifania. A partir do conceito de epifania explicado em aula, é possível
ler o conto “Cem anos de perdão” como
a) transgressão às normas sociais e punição desmedida.
b) amadurecimento e descoberta da sexualidade.
c) desigualdade social e desvio de conduta.
d) comportamento transgressor e culpa.
e) peripécia infantil e liberdade de ação.

5
Texto para a questão 18.

Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar
em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem
esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo
que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de
ser liberdade. Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me
senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho mesmo, sem nenhuma prepotência ou
glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube
também que se tudo isso "fosse mesmo" o que eu sentia – e não possivelmente um equívoco de
sentimento – que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum
compromisso comigo. Ser-lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo
para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao
que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo e reverência. Mas nunca tinham me falado
de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser
mãe do mundo era o meu amor apenas livre. E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos
de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda
em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as
pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não
queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com
os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos.
LISPECTOR, Clarice. “Perdoando Deus”. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 41.

18. Os contos de Felicidade Clandestina exploram, entre outros aspectos, sentidos figurados, diversas
possibilidades de linguagem e a epifania. A partir do conceito de epifania explicado em aula, é possível
ler o conto “Perdoando Deus” como
a) questionamentos sobre o sentido da vida.
b) crescente megalomania em relação aos semelhantes.
c) rejeição a variadas experiências contemporâneas.
d) intensificação do asco pela vida humana.
e) percepção alterada por uma experiência cotidiana.

6
GABARITO

1E
2D
3C
4E
5E
6D
7A
8A
9B
10B
11A
12D
13C
14A
15B
16E
17E
18E

Você também pode gostar