Aspectos Diagnosticos Do Transtorno Bipolar Na Inf
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ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO
O transtorno afetivo bipolar (THB) pode ser categorizado como a ocorrência de oscilações
no humor, alternando entre períodos de euforia (mania) e momentos de depressão e
melancolia, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais,
em sua quarta edição (APA, 2002). A prevalência do THB na população geral varia entre 1
a 5% (ALCANTARA et al., 2005), sendo que muitos estudos têm sido realizados para uma
melhor compreensão da doença, responsável por grande prejuízo ao funcionamento
saudável da pessoa.
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as pessoas a respeito do tema, tendo em vista que ainda existe, em muitos meios, a crença
de que crianças e adolescentes não apresentam transtornos mentais.
Tal noção deve ser alterada, pois, o tratamento precoce de transtornos mentais
possibilita um prognóstico mais favorável nessa idade que em adultos, quando as
patologias podem estar definitivamente instaladas. Do mesmo modo, conforme coloca
Costa (2008), o transtorno bipolar no adulto vem, muitas vezes, acompanhado de outras
doenças, entre elas a dependência química, transtornos de ansiedade e outras afecções.
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Porém, esses indicadores ainda são frágeis para um diagnóstico definitivo, sendo
que devem apenas servir como um alerta de que algo não vai bem com o jovem, além do
fato de que é necessária uma investigação mais aprofundada a respeito (SANTOSH;
CANAGARATNAM, 2008; YOUNGSTROM; FREEMAN; MCKEOWN-JENKINS, 2009). O
clínico deve avaliar com critério esses indicadores para planejar as intervenções com a
máxima eficácia.
A história familiar positiva para o transtorno bipolar, por sua vez, está associada
a 15% dos parentes de primeiro grau (SANTOSH; CANAGARATNAM, 2008). Além
disso, Sweeney (2006) encontrou que problemas perinatais aumentam o risco do
desenvolvimento desse transtorno; portanto, uma história familiar positiva, associada a
problemas perinatais, deve alertar o clínico acerca da possibilidade de desenvolvimento
dessa patologia. Seriam como heurísticas utilizadas para uma compreensão desse
continuum; a presença de fatores de risco, sinais e sintomas, bem como achados
laboratoriais pode instrumentalizar o clínico a um correto manejo dos casos envolvendo
crianças. A tabela abaixo sintetiza os aspectos sintomáticos e de curso sob uma
perspectiva de um continuum teórico e conceitual no transtorno na infância (SANTOSH;
CANAGARATNAM, 2008, p. 350).
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Estudo recente de Joshi e Wilens (2009), aponta que 90% dos casos de transtorno
bipolar em jovens apresentam comorbidades, o que dificulta seu diagnóstico e até mesmo
o seu tratamento. As comobidades mais associadas a esse transtorno são: Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade, o uso e abuso de substâncias, o comportamento
opositivo-desafiador, a ansiedade generalizada e até mesmos sintomas obsessivo-
compulsivos. Casos com comorbidades associadas apresentam prognósticos mais
reservados também para crianças e adolescentes.
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De acordo com pesquisa realizada por Goldstein et al. (2009), com jovens entre 7
a 17 anos, diagnosticados com transtorno bipolar, verificou-se que essa população
apresenta vários prejuízos psicossociais, que afetam a vida acadêmica e pessoal,
independente da idade. As variáveis preditivas de maior prejuízo identificadas pelos
autores foram: episódio atual de humor, severidade dos sintomas afetivos atuais,
sintomas psicóticos atuais e comorbidades atuais.
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Por sua vez, Pavuluri et al. (2006) identificaram que, diante de condições de afeto
negativo para uma condição neutra, crianças e adolescentes com transtorno bipolar
demonstraram maior ativação do córtex cingulado anterior bilateral e na amígdala
esquerda, além de menor ativação do córtex pré-frontal ventro-lateral.
Na condição de afeto positivo, não houve ativação das referidas áreas. Esse
padrão de alteração funcional afetiva e cognitiva pode contribuir com a habilidade
reduzida para a regulação de afetos e para o autocontrole comportamental no transtorno
bipolar pediátrico, sugere o estudo (PAVULURI et al., 2006).
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa revisão teve por objetivo elucidar algumas questões relativas à presença de
transtornos mentais em crianças e adolescentes, sobretudo o transtorno de humor bipolar.
Foi possível observar que o transtorno bipolar nessa fase incide sobre crianças e
adolescentes em distintos níveis, desde comportamentais até neurológicos, sendo
necessário um diagnóstico precoce da patologia para a administração de um tratamento
efetivo. Por outro lado, estudos apontam que há escassa evidência científica disponível
para o embasamento clínico (ROHDE; TRAMONTINA, 2005).
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Marli Appel
Psicóloga (PUC-SP), Especialista em Avaliação
Psicológica, Mestre em Psicologia da
Personalidade e Doutora em Psicologia pela PUC-
RS.
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