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Apostilinha de Grego Fernando
Apostilinha de Grego Fernando
Apostilinha de Grego Fernando
A word is dead
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.
Emily Dickinson
Poesia Lírica grega 2
A rosa é um jardim
1. Poesia
O termo “poesia”, que hoje usamos confortavelmente para designar um gênero
literário, vem do grego antigo poíesis (poivhsi"). É preciso imediatamente esclarecer, para um
estudo da poesia grega antiga, algumas distinções existentes entre o nosso modo de fazer e
conceber poesia e o modo de o fazer e conceber dos gregos antigos. Poíesis vem do verbo
poiéo (poievw) cujo sentido gravita em torno do campo semântico do que entendemos por
fazer, produzir, realizar, moldar, criar. E, de fato, ainda em nossa concepção de poesia há a
idéia do “fazer poético” como um ato criador, envolvendo até mesmo as camadas da
irracionalidade comandadas por operações que entendemos como de ordem psicológica, por
oposição ao discurso organizado, lógico, apresentado pela prosa.1
Nosso propósito aqui, além de ser o de navegar por essas águas, as das discussões
sobre o sentido da poesia, é o de apreciar criticamente, na medida do possível, o sentido do
fazer poético a partir do ponto de vista expresso pelos próprios poetas da Grécia antiga,
expresso em suas obras, já que inexiste até surgir a Poética de Aristóteles um tratado teórico
de poesia no mundo grego. No entanto, os poetas gregos, muitas vezes, deixaram-nos pistas
de como entendiam o fazer poético.
E de saída, devemos já esclarecer, os autores da poesia grega antiga, isto é, os poetas
gregos, viam o seu fazer de um modo um pouco diferente do nosso. Pode-se dizer que isso é
óbvio, pois estão, a partir de nós, em um outro tempo e espaço, e este argumento nos parece
muito justo. Mas não podemos nos esquecer de que, de alguma forma, ainda que de modo
precário, somos, querendo ou não, sabendo ou não, os legítimos herdeiros das concepções
originadas nesse mundo antigo, sobretudo na Grécia antiga. Portanto, estamos sempre diante
de uma situação paradoxal que nos parece não ter solução: herdeiros legítimos que somos de
todo o passado ocidental, estamos muito longe de nos parecermos, no que concerne à poesia,
aos nossos antepassados.
Se os autores com quem vamos trabalhar “não viam” como nós o seu fazer “poético”,
como é então que o viam? Responder a esta questão, talvez, seja o objetivo primeiro e último
de nossa busca sobre a poesia no mundo antigo. Mas também, de imediato, surge a primeira
1
Há ainda uma outra discussão em torno do termo poíesis (poivhsi") ao lado do termo poíema (poivhma), que
seria o resultado do ato criador, ou seja o ato por oposição à ação. Para apreciar melhor essa questão,
recomendamos a leitura do ensaio de Pedro Lyra, Conceito de Poesia, São Paulo, 1986, e o ensaio de Octávio
Paz, O arco e a Lira, Rio de Janeiro, 1982.
Poesia Lírica grega 4
dificuldade em realizá-la, pois há uma imensa lacuna de tempo entre nós e eles. Portanto os
conceitos expressos nessa poesia, embora muitas vezes soando semelhantes aos nossos, estão
muito distantes para que possamos compreendê-los em sua plenitude. Para agravar esse
problema de distanciamento “espiritual”, há um outro problema mais palpável que é a imensa
precariedade como que esses textos chegaram até nós. Muitos deles se perderam, outros se
encontram em estado fragmentário e muito pouco chegou intacto até nós. Talvez, com toda a
iluminação que os métodos de abordagem de poesia possam nos trazer, estejamos fadados a
apenas ter um vislumbre do brilho que emana desses fragmentos, que, na verdade, esboçam
magníficos templos de palavras, melodias e cantos. E como a análise de qualquer obra de arte
se justifica pela própria possibilidade de releitura, permitida por ela mesma, o estudioso pode
sentir-se gratificado pela experiência exuberante que essa poesia, ainda que fragmentada,
permite.
2
Trad. de JAA Torrano, v. 1 e seq., São Paulo: 1991, p. 105. Para a geração das Musas, vejam-se vv. 53-67.
Poesia Lírica grega 5
3
Mito e pensamento entre os gregos, de Jean-Pierre Vernant, São Paulo: 1973, p73-74. Cf. também Jacqueline
Duchemin, Pindare, poète et prophète, Paris: Belles Lettres, 1955.
Poesia Lírica grega 6
A primeira diferença entre a nossa concepção de poesia e a dos gregos antigos já fica
assim estabelecida. Nossa poesia, embora comporte um ritmo próprio e até mesmo se possa
falar numa “musicalidade” presente na poesia, distinguindo-a da prosa, nada tem a ver com a
música e/ou dança que se praticam em nossa sociedade. Certa vez, numa entrevista para a
imprensa o poeta João Cabral de Melo Neto disse que não podia ouvir música porque esta o
desviaria de sua poesia, distrairia seu espírito, etc. Esta afirmação parece comprovar a idéia de
que para nós existe de fato uma grande distância entre a música (ainda que cantada) e a
musicalidade da poesia.
Para os gregos antigos tal separação não existe. Ao contrário, a poesia é entendida
como um acontecimento “performático”, comportando todos os elementos de um espetáculo,
quer para uma platéia reservada, quer para um evento aberto, cívico, enfim, público 4. A
atividade poética está, assim, extremamente ligada a atividades públicas, a eventos,
comemorações de diversas ordens. Praticamente todas as atividades importantes da sociedade
são marcadas com a presença do poeta executando os seus poemas. Por outro lado, os poetas
desconheciam o nome de “poetas” para si; entendem-se mais como cantores, (aedos, de
a*oidov"), e os termos para designar o seu fazer estão todos circunscritos na esfera do canto-
dança de que fazem parte. O que o estudioso Charles Maurice Bowra postula sobre o fazer
poético de Píndaro se aplica facilmente a qualquer outro poeta grego, de Homero ao século V
a. C., pelo menos: “Os poemas de Píndaro são corretamente chamados ‘odes’, uma vez que
eram para ser cantados, e é como canções que ele fala delas, com palavras tais como molpav,
a*oidav, mevlo", u@mno". Ele não usa poivhma, termo que tem sua primeira aparição em Cratino
(fr. 186K) e pode, com o quase contemporâneo poihthv" (Democr. fr. 18 D.-K.; Hdt. 2.23;
2.53.3 ; 2.156.6; 3.115.2; 5.95.1; 6.52.1.), ter tido associações conversacionais ou prosaicas
que o torna imprópio para a aparição na alta poesia.”5
O poeta sempre está acompanhado de um instrumento musical. Na Ilíada, por
exemplo, há uma cena ontológica em que podemos apreciar o mais bravo de todos os
guerreiros gregos em sua tenda, junto de seu parceiro de guerra, Pátroclo, tocando sua lira,
cantando o kléos, a glória dos guerreiros6. E é justamente desta cena do canto nono da Ilíada
que podemos inferir que o propósito do canto, para os primeiros gregos, é justamente celebrar
a memória dos seus guerreiros. Honrá-los é perpetuar a lembrança deles através dos cantos em
que se celebram os seus feitos corajosos. Ao mesmo tempo este canto estabelece para as
4
Cf. Performance como Linguagem, de Renato Cohen, São Paulo, 1989, para uma discussão mais aprofundada
do termo performance e seus usos ligados à multimidia. Veja-se também o interessante estudo de Bruno Gentili,
Poetry and Its Public in Ancient Greece, from Homer to the Fifth Century, Baltimore/London: 1988.
5
Pindar, “The Theory of Poetry”, Oxford: 1971, p. 2.
Poesia Lírica grega 7
gerações um código de conduta heróica, que, propositadamente ou não, vai moldar o viver dos
guerreiros-cidadãos (ándres).
Mas, agora, para entrarmos um pouco mais nos detalhes sobre os “cantos” e suas
funções, é preciso que retenhamos um pouco mais na idéia de memória e seu significado no
mundo grego antigo.
6
Ilíada, canto IX, vv. 186-192.
7
Citemos o primeiro autor a estudar metodicamente essa questão: Milman Parry, L’ épithete traditionelle dans
Homère, Paris, 1928. Depois dele uma série de estudos tem considerado a formação oral da obra de Homero.
8
A tradução destes versos aqui citados é da profa. Dra. Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos de Cultura
Clássica. Tomo I. Cultura Helênica, Lisboa, 1970.
Poesia Lírica grega 8
9
Obviamente que essa breve explicação destina-se aos nãos iniciados em língua grega. Trata-se apenas de um
esclarecimento necessário para a maior fruição das reflexões que a poesia grega pode suscitar.
10
Também os oráculos eram proferidos em hexâmetro.
11
Não é privilégio da língua grega ter esse sistema de sílabas contendo vogais longas e breves. Na verdade, com
as devidas diferenças, todas as línguas vinda do Indo-europeu, mais sabidamente o Sânscrito, língua ritual da
Poesia Lírica grega 9
Quis est homo, qui non fleret, Qual é o homem, que não choraria,
Christi Matrem si videret se visse a Mãe do Cristo
in tanto supplicio? em tamanho suplício?
Fac me tecum pie flere, Faz com que eu, piedoso, contigo chore,
crucifixo codolere, do crucificado condoer-me,
donec ego vixero. enquanto eu viver.
Índia, e também o Latim conheciam distinção entre vogal longa e breve e o sistema tonal de acentuação. Assim,
o ritmo da poesia nessas línguas leva em conta a quantidade das sílabas.
Poesia Lírica grega 10
Fac ut portem Christi mortem, Faz com que eu carregue a morte do Cristo,
passionis fac consortem, da paixão faz me consorte,
et plagas recolere. e os golpes rememore.
Christe, cum sit hinc exire, Cristo, quando seja daqui partir,
da per Matrem me venire dá por tua Mãe que eu chegue
ad palmam victoriae. à palma da vitória.
12
Paroissien Romain, contenant La Messe et L’ Oficce pour les dimanches et les fêstes de I. e II Classe,
Rome/Tournais, 1926, p. 1438-1442. Tradução de Fernando Brandão dos Santos.
Poesia Lírica grega 11
elegia filosófica. O jambo, cuja origem se perde num passado mitológico 13, apresenta um tom
de escárnio - em versos cuja unidade métrica é composta de uma vogal breve e uma vogal
longa (˘¯), está muito próximo da fala, e era, na verdade, não cantado, mas recitado. A ode é
um canto acompanhado pelo bárbitos, um instrumento de cordas muito semelhante à lira. Safo
e Alceu, de Lesbos, compuseram odes monódicas, já Baquílies e Píndaro compuseram odes
corais, cantadas por um grupo de cantores, como forma de celebração dos vitoriosos nas
diversas modalidades dos jogos esportivos da antigüidade (jogos olímpicos, píticos, ístmicos e
nemeus, para nomear os mais importantes).
2. O contexo histórico-social14
Até fins do século VIII, a aristocracia era a classe dominante. A posse das terras se
constituía na única forma de riqueza. A tática de guerra predominante até essa época, o
combate singular, exigia que o guerreiro fosse suficientemente poderoso para que pudesse
adquirir carros de guerra, cavalos, armamentos e até escudeiros. Sob esse ponto de vista, os
aristocratas, além de donos das melhores terras, eram também os defensores da cidade. Esses
dois privilégios já eram suficientes para lhes dar o direito de dirigirem o estado.
Em princípios do século VII, porém, ocorrem, no mundo grego, transformações que
contribuirão de maneira decisiva para a decadência da aristocracia.
Destaca-se, primeiramente, o desenvolvimento do comércio. A colonização grega que
se iniciara tinha caráter agrário. Das colônias, os gregos importavam o trigo, a madeira e
minérios; em troca, exportavam vinho, óleo e objetos de artesanato. Como as colônias
garantissem produtos agrícolas e matérias-primas, os gregos podiam dedicar-se com mais
tempo à indústria têxtil, cerâmica e metalúrgica. E com o desenvolvimento da indústria, o
comércio também ganhava impulso.
Com a expansão do comércio, surge na Grécia uma nova classe social: a classe dos
mercadores e artesãos, que se enriquecia cada vez mais, tornando-se rival da classe dos
aristocratas. A posse de terras começa a deixar de ser a única forma de adquirir fortuna.
A expansão comercial leva os gregos ao contato com as adiantadas civilizações
orientais. Com elas os gregos aprendem novas técnicas e adquirem novos conhecimentos. É
do Oriente que os gregos trazem o sistema de pesos e medidas 15; data também dessa época o
13
Na tradição mitológica, narrada no Hino Homérico a Deméter, a origem do jambo é quando Iambé diz uma
obscenidade, acompanhada de um gesto também obsceno, a Deméter, que mesmo estando inconsolável porque
havia perdido a filha, Perséfone, faz com que Deméter, mesmo em profunda tristeza, ria.
14
Antologia dos Poetas Gregos de Homero a Píndaro, Araraquara, 1976, pp. 59-66.
15
Os gregos utilizavam, para medidas lineares, o pé ( = 0,30 m). Cem pés constituíam um pletro e seiscentos, um
estádio. Para medir-se superfície, utilizavam-se os pés ou pletros quadrados. (Lavedan, Dictionnaire Illustré de
Poesia Lírica grega 12
la Mythologie et des Antiguités Grecques et Romaines, Paris, 1952, “Mesures”. Sólidos e líquidos mediam-se
com uma mesma unidade, o cótilo, que, no sistema ático, eqüivalia a 0,271 (Devambez, Dictionnaire de la
Civilisation Grecque, Paris, 1966, “Mesures”.
16
Os gregos atribuíam a invenção da moeda a Giges, rei da Lídia, onde se encontrava electron em abundância.
Como na Grécia não havia nem ouro nem electron, utilizou-se, primeiramente, o ferro, e depois, a prata. O
monetarismo é a grande característica de todas as moedas cunhadas nas cidades comerciais dessa época.
(Lévêque, A Aventura grega, trad. port., 1967, p. 124)
17
Os hoplitas defendiam-se com um escudo redondo, preso no antebraço esquerdo; a mão direita permanecia
livre para segurar a lança. Protegem-se ainda com o elmo, o peitoral, as caneleiras e com uma espada curta.
18
Cf. Aristóteles, Constituição de Atenas, XII, 4.
19
A palavra tirano não é de origem grega. Na língua grega, aparece pela primeira vez na obra de Arquíloco e
refere-se a Giges, rei da Lídia, que se apodera ilegitimamente do governo. No vocabulário antigo, tal palavra não
Poesia Lírica grega 13
possuía o sentido que agora lhe atribuímos. O tirano distinguia-se do rei apenas por não ter herdado o poder e por
não ser o chefe das práticas religiosas. (Lavedan, op. cit. , “Tyran, Tyrannie”).
20
Cf. Jaeger, Paidéia, trad. port., São Paulo, p. 254.
21
Eram cinco magistrados eleitos por um ano e tinham por obrigação fiscalizar tanto a vida pública quanto a
vida privada do rei. Esforçavam-se por manter a tradição espartana e a disciplina social. Prestavam contar de
seus atos somente a seus sucessores. (Devambez, op. cit., “Éphores”).
22
As colunas em estilo dórico caracterizavam-se por não possuírem base e erguerem-se diretamente de uma
plataforma de três degraus. O fuste apresenta vinte estrias verticais. O capitel é constituído de uma parte circular
e de um bloco quadrado. A coluna jônica, por sua vez, apresenta uma base de duas ou mais peças ornamentadas;
os fustes, mais delgados do que os dóricos, apresentam vinte e quatro estrias. O capitel traz um par de volutas.
Poesia Lírica grega 14
funerários; nos relevos que decoravam os frontões e métopas dos templos, representam-se
cenas mitológicas.
Quanto às figuras humanas, aparecem dois tipos: o rapaz (koûros), em posição
vertical, nu, com o pé esquerdo um pouco avançado; a moça (koré) também em pé, sempre
vestida, com um braço sobre o corpo.
À cerâmica desse período impõe-se o estilo orientalizante, contemporâneo das intensas
relações mantidas entre a Jônia e o Oriente. As peças são extremamente decoradas com
animais e vegetais. Depois do século VI, os motivos serão encontrados nas cenas familiares,
no trabalho e nas distrações; os motivos mitológicos permanecem.
Começam, nesse momento, as pesquisas filosóficas e científicas. Tales, Anaximandro
e Anaxímenes preocuparam-se com as origens do universo. A mesma preocupação está
presente em Xenófanes e Heráclito. Tales dedica-se ainda à geometria e à astronomia.
Pitágoras descobre o teorema que leva seu nome e dá grande impulso à geometria. No sul da
Itália, ele funda uma seita religiosa cujas doutrinas são conhecidas sob o nome de
pitagorismo.
Em Mileto, aparecem os primeiros logógrafos. Interessavam-se pelas tradições míticas
que envolviam as origens das cidades. A Hecateu, o mais célebre logógrafo, concede-se o
mérito de ter criado a história e a geografia.
No domínio religioso, aparecem as religiões de mistérios, cujas doutrinas são
reservadas apenas aos iniciados. Todas essas religiões tinham uma característica em comum:
o segredo. Proibia-se ao iniciado transmitir a quem quer que fosse as revelações que lhe eram
feitas. Tornam-se famosos os mistérios de Deméter, praticados no santuário da deusa, em
Elêusis.
Nesse período (século VII-VI), no domínio da literatura, desenvolve-se a Poesia
Lírica.
23
Cf. Histoire de la Litérature Grecque, Paris, 1913, II, p. 16.
24
Lavedan, op. cit., “Musique”.
Poesia Lírica grega 16
3. Os textos26
3.1. Poesia lírica monódica
ELEGIA
Segundo os alexandrinos, a elegia seria uma espécie de lamentação e mesmo um canto
fúnebre. A etimologia da palavra elegia, de acordo com esses eruditos, ligava-a a expressões
gregas que significavam “dizer ai”, “ter piedade”. Modernamente, a palavra é considerada
comum às raízes armênias elêgn, elegneay, que quer dizer “caniço”, “flauta”, “flauta de
caniço”. Portanto, elegia seria a poesia cantada ao som de flauta.
Formalmente a elegia caracteriza-se pelo dístico formado de um hexâmetro dactílico e
de um pentâmetro. Da epopéia, emprega o dialeto jônico, os epítetos e versos-fórmula. O mito
não é essencial; quando aparece, é como fundamentação religiosa.
De acordo com os temas tratados, pode-se classificar a alegia em guerreira, amorosa,
gnômica e moral ou filosófica.
A elegia guerreira é representada por Calino e Tirteu; Mimnermo compôs elegias
amorosas; Sólon, elegias morais ou filosóficas; Focílides e Teógnis escreveram elegias
gnômicas.
ELEGIA GUERREIRA
CALLINUS
mevcri" tevo katavkeisqe; kovt’ a!lkimon e@xete qumovn,
w^ nevoi; ou*d’ ai*dei~sq’ a*mfiperiktivona"
w%de livhn meqievnte"; e*n ei*rhvnh/ deV dokei~te
h^sqai, a*taVr povlemo" gai~an a@pasan e!cei
. . . . . .
5. kaiV ti" a*poqnhvskwn u@stat’ a*kontisavtw.
timh~en te gavr e*sti kaiV a*glaoVn a*ndriV mavcesqai
gh~" pevri kaiV paidivwn kouridivh" t’ a*lovcou
dusmenevsin: qavnato" deV tovt’ e!ssetai, o&ppovte ken dhV
25
idem ibidem.
Poesia Lírica grega 17
CALINO27
I28
Até quando ficais aí inertes? Quando tereis um coração intrépido,
ó jovens? não vos envergonhais perante os vizinhos
de serdes tão excessivamente fracos? Em paz credes
viver, quando a guerra domina toda a terra
.....................................................................................
5. e quem está morrendo lance o último dardo,
pois é uma honra e uma glória para um homem lutar
pela pátria, pelos filhos e pela mulher legítima
contra os inimigos; a morte um dia virá, quando
as Moiras a tecerem; vamos! que cada um vá em frente
10. a lança erguendo e sob o escudo o intrépido peito
protegendo, desde o início da luta corpo a corpo.
Pois, escapar à morte marcada pelo destino não é possível
ao homem, nem que ele provenha de antepassados imortais.
26
Salvo indicado, as traduções aqui apresentadas são das Profas. Dras. Daisi Malhadas e Maria Helena de Moura
Neves, com as devidas anotações das Profas. Maria Celeste Consolin e Maria Nazareth Guimarães Cardoso,
reproduzidas de Antologia dos Poetas Gregos. De Homero a Píndaro, Araraquara, 1976, pp. 67-94.
27
. Calino viveu provavelmente no início do século VII. Sua pátria era Éfeso. Suas obras desapareceram quase
totalmente, restando apenas alguns fragmentos.
Poesia Lírica grega 18
TYRTÆUS
10
teqnavmenai gaVr kaloVn e*niV promavcoisi pesovnta
a!ndr’ a*gaqoVn periV h%/ patrivdi marnavmenon:
thVn d’ au*tou~ prolipovnta povlin kaiV pivona" a*grouV"
ptwceuvein pavntwn e!st’ a*nihrovtaton,
5. plazovmenon suVn mhtriV fivlh/ kaiV patriV gevronti
paisiv te suVn mikroi~" kouridivh/ t’ a*lovcw/.
e*cqroV" meVn gaVr toi~si metevssetai ou@" ken i@khtai,
crhsmosuvnh/ t’ ei!kwn kaiV stugerh~/ penivh/,
ai*scuvnei te gevno", kataV d’ a*glaoVn ei^do" e*levgcei,
10. pa~sa d’ a*timivh kaiV kakovth" e@petai.
ei* d’ ou@tw" a*ndroV" toi a*lwmevnou ou*demiv’ w!rh29
givgnetai ou#t’ ai*dwv" ou#t’ o!pi" ou#t e!leo".30
qumw~/ gh~" pevri th~~sde macwvmeqa kaiV periV paivdwn
qnhvskwmen yucevwn mhkevti feidovmenoi.
15. w^ nevoi, a*llaV mavcesqe par’ a*llhvloisi mevnonte",
mhV deV fugh~" ai*scrh~" a!rcesqe mhdeV fovbou, 31
a*llaV mevgan poiei~sqe kaiV a!lkimon e*n fresiV qumovn,32
mhV deV filoyucei~t’ a*ndravsi marnavmenoi:
touV" deV palaiotevrou", w%n ou*kevti gouvnat’ e*lafrav,
20. mhV kataleivponte" feuvgete, touV" geraiouv".
28
É o fragmento mais longo que temos. Foi-nos transmitido por Estobeu (4.10.12). Tradução do texto
estabelecido por M. L. West, Iambi et Elegi Graeci, II, Oxford University Press, 1972, p. 47.
29
A leitura de West é: ei^q’ ...
30
A leitura de West é: (...) ou#t’ o*pivsw gevneo".
31
A leitura de West é: mhdeV ...a!rcete
Poesia Lírica grega 19
TIRTEU33
10 34
Pois é belo que um homem valente morra
caído na frente de batalha lutando por sua pátria.
Mas abandonar sua terra e seus campos férteis
e mendigar é de todas as coisas a mais vergonhosa,
5. errando com a querida mãe e o velho pai
com os filhos pequenos e a mulher legítima;
pois odioso ele será entre aqueles a quem chegar,
se cede a indigência e à horrível pobreza;
desonra sua família, envergonha o seu nobre rosto;
10. todo o desprezo e vício o acompanham.
Se então, pelo homem errante nenhuma solicitude
há, nem respeito nem atenção nem piedade,
com coragem por nossa pátria lutemos e pelos filhos
morramos sem poupar nossas vidas.
15. Vamos! ó jovens, lutai, permanecendo uns ao lado dos outros,
não tomeis a iniciativa da fuga vergonhosa nem do medo,
32
a leitura de West é: a*llaV mevgan poiei~te...
33
Tirteu deve ter vivido na segunda metade do século VII. Era ateniense, mas obteve também a cidadania
espartana. Restam-nos dele alguns fragmentos.
34
Este fragmento foi-nos transmitido por Licurgo (Leocr. 107) Tradução do texto estabelecido por M.L.West, op.
cit., p. 154. Preferimos, em algumas passagens, (versos 11, 12, 16 17), as lições de F.R.Adrados, Elegíacos y
Yambógrafos Arcaicos, I, Barcelona, 1956, p. 134.
Poesia Lírica grega 20
12
ou!t’ a!n mnhsaivmhn ou!t’ e*n lovgw/ a!ndra tiqeivhn
ou!te podw~n a*reth~" ou!te palaimosuvnh",
ou*d’ ei* Kuklwvpwn meVn e!coi mevgeqov" te bivhn te,
nikwv/h deV qevwn Qrhi?kion Borevhn,
5. ou*d’ ei* Tiqwnoi~o fuhVn carievstero" ei!h,
ploutoivh deV Mivdew kaiV Kinuvrew mavlion,
ou*d’ ei* Tantalivdew Pevlopo" basileuvtero" ei!h,
glw~ssan d’ *Adrhvstou meilicovghrun e!coi,
ou*d’ ei* pa~san e!coi dovxan plhVn qouvrido" a*lkh~":
10. ou* gaVr a*nhVr a*gaqoV" givnetai e*n polevmw/
ei* mhV tetlaivh meVn o&rw~n fovnon ai&matoventa,
kaiV dhivwn o*revgoit’ e*gguvqen i&stavmeno".
h@d’ a*rethv, tovd’ a!eqlon e*n a*mqrwvpoisin a!riston
kavllistovn te fevrein givnetai a*ndriV nevw/.
15. xunoVn d’ e*sqloVn tou~to povlhi> te pantiV te dhvmw/,
o@sti" a*nhVr diabaV" e*n promavcoisi mevnh/
nwlemevw", ai*scrh~" deV fugh~" e*piV pavvgcu lavqhtai,
Poesia Lírica grega 21
1235
Eu não lembraria e em verso um homem não poria
pelo valor de seus pés ou de sua luta,
nem se dos Ciclopes tivesse o tamanho e força,
e vencesse correndo o trácio Bóreas
35
Tradução do Prof. José Cavalcante de Souza, USP e UNICAMP.
Poesia Lírica grega 22
ELEGIA AMOROSA
MIMNERMUS
1
tiv" deV bivo", tiv deV terpnoVn a!ter crush~" A
* frodivth";
teqnaivhn, o@te moi mhkevti tau~ta mevloi,
kruptadivh filovth" kaiV meivloca dw~ra kaiV eu*nhv,
oi%’ h@bh" a!nqea givnetai a&rpaleva
5. a*ndravsin h*deV gunaixivn: e*peiV d’ o*dunhroVn e*pevlqh/
gh~ra" o@ t’ ai*scroVn o&mw~" kaiV kaloVn a!ndra tiqei~,
ai*eiv min frevna" a*mfiV kakaiV teivrousi mevrimnai,
ou*d’ au*gaV" prosorw~n tevrpetai h*elivou,
a*ll’ e*cqroV" meVn paisivn, a*tivmasto" deV gunaixivn:
10. ou@tw" a*rgalevon gh~ra" e!qhke qeov".
MIMNERMO36
137
Que vida, que prazer sem a dourada Afrodite?
Que eu morra, quando já não tiver estas preocupações:
uma secreta relação de amor, os doces dons, o leito,
que são as atraentes flores da juventude
5. para homens e mulheres; quando chega a dolorosa
velhice, que no mesmo estado deixa o homem feio e o belo,
sempre lhe oprimem o coração tristes pensamentos,
não sente prazer contemplando os raios de sol,
36
Mimnerno nasceu em Colofão no fim do século VII. Foi considerado o pai da elegia amorosa. De sua obra
temos fragmentos.
37
Fragmentos que nos foram transmitidos por Estobeu (4.20.16 - 4.34.12). Tradução do texto estabelecido por
M.L.West, op.cit., p. 83. Para o verso 6 do fragmento I e para o verbo do último verso do fragmento 2 preferimos
a leitura de F.R. Adrados, op. cit., p. 219
Poesia Lírica grega 24
2
h&mei~" d’, oi%av te fuvlla fuvei poluavnqemo" w@rh
e!aro", o@t’ ai^y’ au*gh~/" au!xetai h*elivou,
toi~"~ i!keloi phvcuion e*piV crovnon a!nqesin h@bh"
terpovmeqa, proV" qew~n ei*dovte" ou!te kakoVn
5. ou!t’ a*gaqoVn: Kh~~re" deV paresthvkasi mevlainai,
h& meVn e!cousa tevlo" ghvrao" a*rgalevou,
h& d’ e&tevrh qanavtoio: mivnunqa deV givnetai h@bh"
karpoV", o@son t’ e*piV gh~n kivdnatai h*evlio".
au*taVr e*phVn dhV tou~to tevlo" parameivyetai w@ru",
10. au*tivka dhV teqnavnai bevltion h# bivoto":
pollaV gaVr e*n qumw~/ kakaV givnetai: a!llote oi^ko"
trucou~ntai, penivh" d’ e!rg’ o*dunhraV pevlei:
a!llo" d’ au^ paivdwn e*pideuvetai, w%n te mavlista
i&meivrwn kataV gh~" e!rcetai ei*" *Ai?dhn:
15. a!llo" nou~son e!cei qumofqovron: ou*deV tiv" e*stin
a*nqrwvpwn w%/ ZeuV" mhV kakaV pollaV didoi~.
2
Assim como a florida estação da primavera faz brotar
as folhas, quando rapidamente crescem com os raios de sol,
nós, de modo semelhante, por pouco tempo, com a flores da juventude
nos regozijamos, sem aprender com os deuses nem o mal
5. nem o bem. As Ceres estão ao nosso lado, negras,
uma com toda a força da terrível velhice,
a outra, da morte; pouco dura o fruto
da juventude, tanto quanto sobre a terra se derrama o sol.
Quando é transposto o fim dessa estação,
10. logo em seguida estar morto é melhor do que a vida.
Pois muitas tristezas nascem no coração: às vezes a casa
Poesia Lírica grega 25
12
*Hevlio" meVn gaVr e!lacen povnon h!mata pavnta,
ou*deV pot’ a!mpausi" givnetai ou*demiva
i@ppoisivn te kaiV au*tw~/, e*peiV ro&dodavktulo" *HwV"
*WkeanoVn prolipou~s’ ou*ranoVn ei*sanabh~/.
5. toVn meVn gaVr diaV ku~ma fevrei poluhvrato" eu*nhv,
poikivlh, &Hfaivstou cersiVn e*lhlamevnh,
crusou~ timhvento", u&povptero", a!kron e*f1 u@dwr
eu!donq’ a&rpalevw" cwvrou a*f’ &Esperivdwn
gai~an e*" Ai*qiovpwn, i!na dhV qooVn a@rma kaiV i@ppoi
10. e&sta~s’, o!fr’ *HwV" h*rigevneia movlh/:
e!nq’ e*pevbh e&tevrwn o*cevwn &Uperivono" u&iov".
1238
Ao sol todos os dias
Ao sol todos os dias toca a mesma lida,
nem cabe pausa ao deus e a seus cavalos,
desde que Eos, com as mãos de pura rosa,
deixou pela primeira vez o oceano
para trilhar o celestial caminho.
De noite cruza o mar seu leito esplêndido,
forjado como concha em ouro alado,
obra de Hefesto: e o deus mantém semidesperta
a fronte sobre as ondas, desde a rubra praia
do anoitecer até o litoral etíope,
onde estão seus cavalos e seu carro,
fogosos a esperar a estrela da manhã.
38
Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos, Poesia Grega e Latina, São Paulo, 1964. Adequamos apenas os
acentos gráficos, de acordo com a ortografia vigente, quando se fez necessário. Mantivemos também a
disposição gráfica dada pelo tradutor.
Poesia Lírica grega 26
ELEGIA MORAL-FILOSÓFICA
SOLON
4
h&mevterh deV povli" kataV meVn DioV" ou!pot’ o*lei~tai
ai^san kaiV makavrwn qew~n frevna" a*qanavtwn:
toivh gaVr megavqumo" e*pivskopo" o*brrimopavtrh
PallaV" A
* qhnaivh cei~ra" u@perqen e!cei:
5. au*toiV deV fqeivrein megavlhn povlin a*fradivhsin
a*stoiV bouvlontai crhvmasi peiqovmenoi,
dhvmou q’ h&gemovnwn a!diko" novo", oi^sin e&toi~mon
u@brio" e*k megavlh" a!lgea pollaV paqei~n:
ou* gaVr e*pivstantai katevcein kovron ou*deV parouvsa"
10. eu*frosuvna" kosmei~n daitoV" e*n h&sucivh/
. . . . . . . . . .
ploutevousin d’ a*divkoi" e!rgamasi peiqovmenoi
. . . . . . . . . .
ou!q’ i&erw~n kteavnwn ou!tev ti dhmosivwn
feidovmenoi klevptousin a*garpagh~/ a!lloqen a!llo",
ou*deV fulavssontai semnaV Divkh" qevmeqla,
15. h$ sigw~sa suvnoide taV gignovmena prov t’ e*ovnta,
tw~/ deV crovnw/ pavntw" h^lq’ a*poteisomevnh,
tou~t’ h!dh pavsh/ povlei e!rcetai e@lko" a!fukton,
e*" deV kakhVn tacevw" h!luqe doulosuvnhn,
h$ stavsin e!mfilon povlemovn q’ eu@dont’ e*pegeivrei,
20. o@" pollw~n e*rathVn w!lesen h&likivhn.
e*k gaVr dusmenevwn tacevw" poluhvraton a!stu.
truvcetai e*n sunovdoi" toi~" a*dikevousi fivlou".
tau~ta meVn e*n dhvmw/ strevfetai kakaV: tw~n deV penicrw~n
i&knevontai polloiV gai~an e*" a*llodaphVn
25. praqevnte" desmoi~siv t’ a*eikelivoisi deqevnte"
. . . . . . . . .
ou@tw dhmovsion kakoVn e!rcetai oi!kad’ e&kavstw/,
au!leioi d’ e!t’ e!cein ou*k e*qevlousi quvrai,
u&yhloVn d’ u&peVr e@rko" u&pevrqoren, eu%re deV pavntw",
Poesia Lírica grega 27
SÓLON39
440
Nossa cidade jamais pelo desígnio de Zeus
perecerá nem pela vontade dos bem-aventurados deuses imortais
pois a tão magnânima e protetora Palas Atena,
filha do poderoso pai, tem suas mãos sobre nós.
5. Os próprios cidadãos, porém, querem destruir, com suas loucuras,
nossa grande cidade, persuadidos pelas riquezas,
e há também o injusto propósito dos chefes do povo, para os quais está reservado,
por seu grande descomedimento, muitas dores sofrer:
pois nem sabem controlar a fartura nem organizar
10. com tranqüilidade as alegrias do festim de hoje
..........................................................
enriquecem, por ações injustas deixando-se persuadir
...........................................................
nem os bens sagrados nem os do estado
poupam, mas furtam-nos em pilhagem cada qual por seu lado,
nem guardam os veneráveis fundamentos da Justiça,
15. a qual, silenciosa, ciente do que acontece e do que aconteceu,
39
Sólon, legislador ateniense, um dos Sete Sábios, viveu no século VII. Chegaram-nos dele fragmentos de
elegias, trímetros e tetrâmetros.
40
Fragmento transmitido por Dem (19.254). Tradução do texto estabelecido por M.L.West, op.cit., p. 121. Para
os versos 13 e 22 preferimos as lições estabelecidas por F.R. Adrados, op.cit., p. 188.
Poesia Lírica grega 28
23
o!lbio", w%/ pai~dev" te fivloi kaiV mwvnuce" i@ppoi
kaiV kuvne" a*greutaiV kaiV xevno" a*llodapov";
Felicidade41
Feliz quem tenha, em sua casa,
crianças queridas
e cavalos de casco não rachado;
41
Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos, op. cit., p. 45.
Poesia Lírica grega 29
e cães de caça
e um hóspede estrangeiro.
Focílide42
243
Também isto é de Focílide: as classes de mulheres nasceram
destes quatro animais: da cadela, da abelha;
da terrível javalina, da égua de longa crina.
Esta é vigorosa, rápida, corredora, bela;
a que nasceu da terrível javalina, nem má, nem boa;
a da cadela, de gênio difícil e brava; a da abelha,
boa dona de casa e sabe trabalhar;
reza, caro amigo, para conseguir o desejável casamento
com esta.
3
Também isto é de Focílide: que importa ser de origem nobre,
para aquele que a graça não acompanha nem nas palavras
nem nas decisões?
4
Também isto é de Focílide: uma pequena cidade, no cimo
de um monte,
que vive bem governada, é mais forte que uma Nínive
insensata.
5
Também isto é de Focílide: é preciso que o amigo com o amigo
medite em tudo o que os concidadãos murmurem.
42
Focílide, originário de Mileto, deve ter vivido na segunda metade do século VI. Quase todos os fragmentos
que nos chegaram dele são de versos hexâmetros.
43
Os fragmentos II e III foram-nos transmitidos por Estobeu (4.22.192 - 4.29.28) o fragmento IV por D.
Crisóstomo (Or. 36.13) e o fragmento V por Frin (Ecgl.). Tradução do texto estabelecido por F.R. Adrados, op.
cit., pp.234-235.
Poesia Lírica grega 30
Teógnis44
Ó senhor, filho de Leto, nascido de Zeus, jamais te45
esquecerei nem ao começar a compor nem ao terminar
mas, sempre, no início, no fim e no decorrer do poema
te cantarei; assim, ouve-me e concede-me teu favor.
44
Teógnis, originário de Mégara, viveu provavelmente na segunda metade do século VI. Possuímos sob seu
nome uma coletânea de 1.400 versos. Selecionamos, para a Antologia, invocações, conselhos, reflexões sobre
pobreza e nobreza, arte e imortalização, arte e prazer. Tradução do texto estabelecido por Jean Carrière,
Théognis, Paris, 1962.
45
Invocações.
46
Conselhos.
Poesia Lírica grega 31
47
Pobreza e nobreza.
Poesia Lírica grega 32
48
Arte e imortalização.
49
Arte e prazer.
Poesia Lírica grega 33
JAMBO
Acredita-se que a poesia jâmbica se tenha originado dos cultos de Deméter, onde já
apareceria com o tom de escárnio que caracteriza tal gênero poético.
Quanto à métrica, a poesia jâmbica se caracteriza pelo emprego do jambo em dois
tipos de versos: o trímetro e o coliambo.
A poesia jâmbica, na maioria das vezes, era recitada de modo ritmado, mas não
melódico. Para o acompanhamento musical melódico usava-se o “iambiké” e, para o
declamado, o “clepsiambos”, instrumentos sobre os quais não temos informações.
Os grandes nomes da poesia jâmbica são Arquíloco, Simônides de Amorgos e
Hipônax.
EPODOS
Arquíloco50
Epodo I51
159 Pai Licambo, que idéia foi essa?52
50
Arquíloco, nascido em Paros, viveu na primeira metade do século VII.
51
Tradução do texto estabelecido por François Lassere, Archiloque Fragments, Paris, 1968 (2a. Ed.) (1a. ed.
1958). Aceitamos para preencher as lacunas do texto as sugestões de André Bonnard, tradutor da mesma edição,
mantendo os trechos entre colchetes. Conservamos para os fragmentos a numeração dessa edição.
Poesia Lírica grega 34
52
Arquíloco ataca Licambo, porque este depois de lhe haver prometido a filha Neobule em casamento,
desmanchou o noivado.
53
Ofender um poeta satírico como Arquíloco é como segurar uma cigarra pelas asas.
54
Fábula de Esopo: “A águia e a raposa.” Na fábula não há prece nem a explicação da águia.
55
Segundo a fábula, a águia e a raposa se tornaram amigas e decidiram morar uma perto da outra: a águia se
estabeleceu numa árvore alta onde deixou sua ninhada; a raposa, ao pé da mesma árvore, colocou seus filhotes.
56
Um dia em que a raposa saiu à procura de comida, a águia, como estivesse sem alimento, roubou as raposinhas
e comeu-as com seus filhotes.
57
A raposa, quando viu o que acontecera, afligiu-se, sobretudo pela impossibilidade de se vingar, porque sendo
quadrúpede, não podia perseguir uma ave. Teve de se contentar com o único recurso dos fracos: amaldiçoar seu
inimigo.
Poesia Lírica grega 35
ELEGIAS
58
Na fábula não há prece nem a explicação da águia.
59
Segundo a fábula, a águia roubou de um altar, onde ofereciam em sacrifício uma cabra, umas vísceras em
brasa e levou-as ao ninho. Com um vento forte, as vísceras se inflamaram e os filhotes queimados caíram da
árvore. A raposa, sob o olhar da águia, devorou-os.
60
Tradução de Fernando Brandão dos Santos.
61
Um dos sobrenomes ou epítetos do deus Ares, senhor dos combates de guerra para os gregos.
Poesia Lírica grega 36
62
Vinho muito conhecido na antigüidade, citado por Homero, na Ilíada, famoso talvez por seu “bouquet”.
Poesia Lírica grega 37
TRÍMETROS
Ou# moi taV Guvgew tou~ polucruvsou mevlei
ou!d’ ei%lev pw me zh~lo" ou!d’ a*gaivomai
qew~n e!rga, megavlh" d’ ou*k e*revw turannivdo":
63
A partir daqui os fragmentos foram traduzidos por José Cavalcante de Souza -UPS/UNICAMP.
Poesia Lírica grega 38
TETRÂMETROS
assim me ocorra a mão pegar Neobule...
SIMONIDES
7
cwriV" gunaikoV" qeoV" e*poivhsen novon
taV prw~ta. thVn meVn e*x u&oV" tanuvtrico",
Poesia Lírica grega 41
Simônide64
Jambo das Mulheres65
Sem mulher, a divindade criou o ser inteligente,
no princípio. Uma mulher, a divindade criou da porca de longos pelos,
e na sua casa todas as coisas, molhadas de lama,
em desordem permanecem e rolam no chão.
5. Sem banho, com roupas sujas,
no lixo sentada, ela engorda.
Outra, a divindade formou da raposa patife;
é uma mulher hábil em tudo; nada de mau lhe
passa despercebido, nem nada do que é bom;
10. afirma muitas vezes que isto é mau
e aquilo é bom; tem o humor mutável.
Outra, criou da cadela; má, igual à mãe;
tudo ouvir, tudo saber ela quer,
para todos os lados olhando atenta e andando a esmo
15. late, mesmo se não vê ninguém;
o marido não a faria cessar nem ameaçando-a,
ainda que, irado, lhe quebrasse com uma pedra
64
Tradução de Daisi Malhadas, Antologia de Poetas Gregos. Conhecido como Simônides de Amorgos, nasceu
em Samos. Deve ter sido contemporâneo de Arquíloco.
65
Fragmento transmitido por Estobeu (4.22.193). Tradução do texto estabelecido por M. L. West, Iambi et
Graeci, Oxford University Press, 1972, p. 99.
Poesia Lírica grega 45
HIPPONAX
EPODI
11566
kuvmati plazovmeno":
kaVn Salmudhssw~/ gumnoVn eu*frone.
Qrhvik> e" a*krovkomoi
lavoien – e!nqa poll’ a*naplhvsai kakaV
douvlion a!rton e!dwn –
r&igv ei pephgovt’ au*toVn: e*k deV tou~ cnovou
fukiva povll’ e*pevcoi,
krotevoi d’ o&dovnta", w&" kuvwn e*piV stovma
keivmeno" a*krasivh/
a!kron paraV r&hgmi~na kuma .....dou:
tau~t’ e*qevloim’ a!n i*dei~n,
o@" m’ h*divkhse, lavx d’ e*p’ o&rkivoi" e!bh,
toV priVn e&tai~ro" e*wvn.
Hipônax67
Epodo
11568
(...) pelas ondas lançado de um lado para outro,
e que em Salmidesse, nu, benignamente,
os trácios de longos cabelos
o acolham - lá executará muitos trabalhos penosos,
o pão da escravidão comendo -
tremendo ele de frio. Que ao sair da espuma do mar
vomite muitas algas,
bata os dentes, como um cão, de cara no chão
estendido, sob a intempérie,
ao longo da orla escarpada, açoitado pelas ondas.
66
O texto que ora apresentamos é o de M. L. West, Iambi et Elegi Greci, vol I, Oxford, 1971, p.130.
67
Hipônax nasceu em Éfeso e deve ter vivido no fim do século VI.
68
Tradução do texto estabelecido por F. R.. Adrados, Eligiacos y Yambógrafos Arcaicos I, Barcelona, 1956, p.
61.
Poesia Lírica grega 49
ODE
A ode aprece no século VII, na ilha de Lesbos, onde era cantada ao som dos bárbitos,
instrumento de cordas semelhante à lira.
Distiguiam-se três tipos de odes: a ode de amor, a ode de mesa e a ode política ou
guerreira.
Quanto à métrica, os dois principais sistemas estróficos são conhecidos como estrofe
alcaica (dois versos hendecassílabos, um eneassílabo, um decassílabo) e estrofe sáfica (três
versos hendecassílabos e um adônico). Essas estrofes não foram invetadas por Alceu e Safo e
encontram-se nos dois poetas indiferentemente.
Os grande nomes na composição de ode são Alceu, Safo e Anacreonte.
Alceu69
Fragmento 4270
Reforcemos, o mais possível, o flanco do navio
e para um porto seguro corramos
e que a frouxa hesitação não se aposse
de nenhum de nós, pois é evidente um grande êxito;
lembrai-vos dos discursos de outrora,
que agora cada homem seja um valente
e não envergonhemos por covardia
nossos nobres avós que sob a terra jazem.
Fragmento 63
Não devemos abandonar o coração ao infortúnio,
pois nada ganharemos afligindo-nos,
ó Buco; o melhor remédio
é ser embebedado pelos que servem vinho.
69
Alceu, nascido em Lesbos, viveu no fim do século VII a. C.
Poesia Lírica grega 50
Hino a Apolo71
... ó soberano Apolo, filho do Grande Zeus...
Hino a Hermes
Salve, ó tu que reinas sobre o Cilene 72; pois a ti
o meu coração deseja hinear, a ti que nos raios das alturas
Maia gerou, tendo se unido ao Cronida 73, rei de todos.
Hino a Atena
Ó soberana Atena, tu que manténs o combate,
tu que velas sobre a Coronéia 74 diante
do templo ao lado das escarpas do rio
Corálio 75 ...
Hino a Aquiles76
Aquiles, tu que reinas sobre a Cítia... 77
Hino a Ájax78
...a Ájax, raça do rei Cronida, o mais valente
depois de Aquiles...
70
Tradução do texto estabelecido por Thédore Reinach, com a colaboração de Aimé Puech, Alcée-Sapho, Paris,
1960.
71
As traduções seguintes, salvo indicado, são de Fernando Brandão dos Santos, não inclusas na Antologia de
Poetas Gregos; os textos, salvo indicado, são os estabelecidos por Denys Page, Oxford, 1955, pp. 252-258.
72
Cilene é um monte da Arcádia, hoje Zíria.
73
Epíteto de Zeus, por ser um dos filhos de Cronos.
74
Cidade na região da Beócia.
75
Rio da região.
76
O herói mais famoso entre os guerreiros gregos na lendária guerra contra Tróia.
77
Nome genérico de toda a região NE da Europa e NE da Ásia.
78
Outro guerreiro famoso na guerra contra Tróia.
Poesia Lírica grega 51
Hino à Pobreza
Dolorosa pobreza, mal intolerável, que em demasia forças
o povo, com sua irmã, a impotência...
À Safo79
De tranças violetas, de doce sorriso, Safo...
Ao Hebro81
Hebro, ó mais belo dentre os rios,
passando junto de Eno
vais atirar fúlgido banho
de trácia espuma no purpúreo mar:
79
Fragmentos publicados por Salvatore Quasimodo, Lirici Greci. Dall’ Odissea, dall’ Iliade, Milano, 1979.
80
Traduzimos aqui segundo a interpretação dada por Denys Page, Sappho and Alcaeus, Oxfod, 1955, em seu
comentário a este poema; outros tradutores interpretam o contrário, isto é, duas medidas água para uma de vinho.
O certo é que o poeta simplesmente diz: “duas e uma cheia até a borda”.
81
Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos.
Poesia Lírica grega 52
A cidade
Não fazem a cidade
nem pedra nem madeira,
nem mesmo os que a constróem:
mas onde os homens saibam
como viver seguros,
existirão muralhas
e existirá a cidade.
SAPPHO83
184
poikilovqron’ a*qanavt’ A
* frovdita,
pai~ Diov" dolovploke, livssomaiv se,
mhv m’ a!saisi mhd’ o*nivaisi davmna,
4 povtnia, qu~mon:
82
Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos.
83
Safo nasceu em Eresos, na ilha de Lesbos. Viveu no fim do século VIII ac. C., foi, portanto, contemporânea de
Alceu.
84
O texto grego apresentado é o estabelecido por Denys Page, Sappho and Alcaeus. An Introduction to the Study
of Ancient Lesbian Poetry, Oxford, 1955, pp. 3.
Poesia Lírica grega 53
85
A tradução que usamos aqui é a do Prof. JA A Torrano, da F.F.L.C.H. da USP, v. SAFO DE LEBOS, 2009, p.
20-21.
Poesia Lírica grega 54
3186
fainetaiv moi kh~no" i!sso" qevoisin
86
Texto estabelecido por Denys Page, op. cit., p. 19.
Poesia Lírica grega 55
87
Tradução de Daisi Malhadas do texto estabelecido por Théodore Reinach.
Poesia Lírica grega 56
12. os ouvidos;
o suor escorre, um tremor
apodera-se de mim inteiramente, mais verde que a erva
me torno, e a que eu morra pouco falta,
16. eu sinto...
mas tudo se deve ousar, desde que...
1688
oi* meVn i*pphvwn strovton oi* deV pevsdwn
oi* deV navwn fai~s’ e*piV ga~n mevlainan
e!mmenai kavlliston, e!gw deV kh~n’ o!t-
4. tw ti" e!ratai:
pavgcu d’ eu!mare" suvneton povhsai
pavnti tou~t’, a* gaVr povlu persekevqoisa
kavllo" a*nqrwvpwn E
* levna toVn a!ndra
8. toVn panavriston
kallivpoi s’ e!ba ‘" Troi?an plevoisa
kwu*deV pai~do" ou*deV fivlwn tokhvwn
pavmpan e*mnavsqh, a*llaV paravgag’ au!tan
12. ]san
]ampton gaVr [
]...kouvfw" t[ ]oh" [ ]n
..] me nu~n *Anaktoriva[" o*]nevmnai-
16. s’ ou*] pareoivsa":
ta~]" ke bolloivman e!raton te ba~ma
ka*mavrucma lavmpron i!dhn proswvpw
h! taV Luvdwn a!rmata kaiV panovploi"
20. pesdom]avcenta".
Para Anactória
Dizem: o renque de carrros ou de soldados
ou de navios é sobre a terra negra
a suprema beleza. Digo: é aquilo que
88
Texto de Denys Page, op. cit., p. 52, tradução de JAA Torrano, in SAFO DE LESBOS, 2009, p. 22-23.
Poesia Lírica grega 57
4. se ama.
Muito fácil fazer isso compreensível
a todos: - Helena, a que superou
toda a beleza de humanos, ao mais nobre
8. marido
deixou atrás e foi a Tróia num navio
Nem da filha nem de pais queridos
nada se recordou, mas seduzia-a
12. Cipris.
Nas mãos de Cípris é maleável a mente.
Eros faz nosso pensamento revirar-se
leve e faz-me lembrar agora de Anactória
16. longe.
Quisera eu ver o encanto de seu andar
e a luz brilhante de seu rosto,
não carros da Lídia ou guerreiros com
20. armas.
54 ( !Erwta)
e!lqont’ e*x o*ravnw porfurivan perqevmenon clavmun
(Eros)
vindo do céu envolto em purpúrea clâmide...
89
A numeração dos fragmentos seguintes, salvo indicado, obedecem à numeração dada por Eva Maria Voigt,
Sappho et Alcaeus. Fragmenta, Amesteradam, 1971 apud Saffo Poesie, de Franco Ferrari, Milano, 1987. A
Poesia Lírica grega 59
w*" a!rama/...
...Imploro-te,
Gônguila, aparece vestindo o manto
lácteo. Além do mais um desejo em torno
de ti voa,
90
A numeração dos fragmentos seguintes pertencem à edição de Salavatore Quasimodo, Lirici Greci, Milano,
1979.
91
Epíteto de Afrodite por ter nascido nas espumas da ilha de Chipre.
Poesia Lírica grega 61
Já se pôs a lua,
e as plêiades; meia
noite, passa o tempo,
e eu sozinha me deito.
LICOFRÔNIDES93
Ou!te paidoV" a!rreno" ou!te parqevnwn
tw~n crusofovrwn ou*deV gunaikw~n baqukovlpwn
kaloVn toV provswpon, e*aVn m<hV> kovsmion pefuvkh/:
h& gaVr ai*dwV" a!nqo" e*pispeivrei.
ANACREON94
^W pai~ parqevnion blevpwn,
divzhmaiv se, suV d’ ou* koei~",
ou*k ei*dwv" o@ti th~" e*mh~"
yuch~" h&nioceuvei".
92
Outro epíteto de Afrodite, cultuada, desde época remota, no Cíterão.
93
Não temos informações sobre a vida de Licofrônides. Tradução de Fernando Brandão dos Santos, texto de
Salvatore Quasimodo, op. cit. p. 119.
94
Anacreonte nasceu em Teos e viveu, provavelmente, no século VI a.C. Texto editado por Bruno Lavagnini,
AGLAIA, Nuova Antologia della Lírica Greca da Callino a Bacchilide, Turim, 1952, p. 167-68. Tradução de
Fernando Brandão dos Santos. O poema seria dedicado ao jovem Cleóbulo.
Poesia Lírica grega 62
BAQUILÍDES98
IERWNI SURAKOSIWI
IPPOIS OLUMPIA
*Aristokravrpou Sikeliva" krevousan
Davmatra i*ostevfanovn te Kouvran
u@mnei, glukuvdwre Kleoi~, qoaV" t’ *O-
lumpiodrovmou" &Ievrwno" i@ppou".
5 seuvonto gaVr sun u&perovcw/ te Nivka/
suVn A
* glai?a/ te par’ eu*rudivnan
*Alfeovn, tovqi Deinovmeno" e!qhkan
o!lbion tevko" stefavnwn kurh~sai:
qrovhse de laoV"
10. a& triseudaivmwn a*nhvr,
o@" paraV ZhnoV" lacwvn
pleivstarcon &Ellavnwn gevra"
95
Antologia dos poetas gregos. De Homero a Píndaro, p. 95 e seq.
96
De diversas composições da lírica coral (hinos, peão, ditirambo, prosódia, partenéia, hiporquema), temos
somente fragmentos bastante reduzidos. Apenas o epinício nos oferece textos significativos; por isso, só
apresentamos aqui traduções desse tipo de composição lírica coral.
97
Alguns outros poetas que cultivaram a poesia lírica coral foram: Alcmã, nascido em Sardes, que viveu na
segunda metade do século VII, Estesícoro, conhecido como Estesícoro de Hímera, que viveu na primeira metade
do século VII, Simônide, conhecido como Simônide de Ceos (onde nasceu), que viveu na segunda metada de
século VI.
Poesia Lírica grega 63
98
Baquílides, nascido em Ceos, era sobrinho de Simônide, viveu no fim do século VI, início do V.
Poesia Lírica grega 64
OLÍMPICA III99
Para Hierão de Siracusa
A Deméter, rainha da Sicília,
terra de bons frutos, e a sua filha coroada de violetas
celebra, ó Clio de doces presentes, e aos rápidos
cavalos de Hierão que concorrem em Olímpia.
5. Eles avançam com a superior Vitória e
com Aglaia, junto ao agitado
Alfeu, onde propiciaram ao filho
afortundado de Deinomene obter coroas.
E o povo aclamou:
10. Óh! Três vezes feliz o homem
que de Zeus obteve
a honra de ser o chefe do maior número de gregos
99
Texto estabelecido por Bruno Snell, Leipzig, 1901.
Poesia Lírica grega 66
PINDARUS
OLIMPIONIKAIS I
IERWNI SURAKOSIWI KELHTI
!Ariston meVn u@dwr, o& deV crusoV" a*iqovmenon pu~r
a{te diaprevpei nuktiV megavnoro" e!xoca plouvtou:
ei* d’ a!eqla garuven
e!ldeai, fivlon h^tor,
5. mhkevt’ a*elivou skovpei
a!llo qalpnovteron e*n a&mevra fae-
nnoVn a!stron e*rhvma" di’ ai*qevro",
mhd’ *Olumpiva" a*gw~na fevrteron au*davsomen:
o@qen o& poluvfato" u@mno" a*mfibavlletai
sofw~n mhtivessi, keladei~n
10. Krovnou pai~d’ e*" a*fneavn i&komevnou"
mavkairan &Ievrwno" e*stivan,
qemistei~on o@" a*mfevpei ska~pton e*n polumhvlw/
Sikeliva/ drevpwn meVn korufaV" a*reta~n a!po pasa~n,
a*galai?zetai deV kaiV
15. mousika~" e*n a*wvtw/,
oi%a paivzomen filan
a!ndre" a*mfiV qamaV travpezan. a*llaV Dw-
rivan a*poV fovrmigga passavlou
lavmban’, ei! tiv toi Pivsa" te kaiV Ferenivkou cavri"
novon u&poV glukutavtai" e!qhke frontivsin,
20. o@te par’ *Alfew~/ suvto devma"
a*kevnthton e*n drovmoisi parevcwn,
kravtei deV prosevmeixe despovtan
Surakovsion i&ppocavr-
man basilh~a: lavmpei deV oi& klevo"
Poesia Lírica grega 69
100
Píndaro nasceu em Cinocéfalo, perto de Tebas, e foi contemporâneo de Baquílides.
101
Texto estabelecido por Aimé Puech, Pindare, Paris, 1930.
Poesia Lírica grega 73
o cetro na fecunda
Sicília, colhendo
o que há de mais alto de todas as virtudes
e gloria-se também
15. com as excelências do canto
com que nos recreamos amiúde
ao redor de sua mesa amiga.
Vamos! a dórica lira
do gancho
toma, se acaso de Pisa e
de Frênicos o brilho
teu espírito subjugou às mais doces inspirações,
20. quando às margens do Alfeu, seu corpo se preciptou
lançando-se na pista sem ser esporeado,
e à vitória conduziu seu dono,
Epodo 1
de Siracusa o rei
cavaleiro. Brilha para ele a glória
na terra de heróis,
colônia do lídio Pélope.
25. Deste se enamorou
o poderoso Sustentáculo da Terra
Posidão, quando de uma bacia pura
o retirou Cloto,
a brilhante espádua
de marfim luzindo.
Ah! prodígios há muitos e
ainda talvez a fala
dos mortais vá além da verdade;
as histórias com invencionices diversas
que enganam são elaboradas.
II
Estrofe II
30. A graça, que todas as coisas agradáveis
engendra para os mortais,
Poesia Lírica grega 74
102
O ciclo tebano tem a cidade de Tebas como o centro dos acontecimentos sobretudo dos mitos envolvendo
Édipo e sua família
103
Polinices, filho de Édipo, lidereva os guerreiros que com ele foram lutar contra Tebas. Cf. a peça de Èsquilo,
Os Sete Contra Tebas; a de Sófocles, Antígona e, de Eurípides, As Fenícias.
Poesia Lírica grega 79
A Sexta Neméia
A Sexta Neméia apresenta algumas dificuldades para sua datação. É dedicada ao
menino egineta Alcimida, vencedor na luta de meninos, modalidade de pugilato, atestada já
no período minóico, como se pode ver nos afrescos encontrados em Creta.
Como nos informa A. Puech, Alcimida pertece a uma das famílias importantes de
Egina (uma das ilhas do golfo Sarônico, próxima de de Salamina e de Atenas), a dos Bassidas,
que reunia cerca de 25 vitórias, sendo Praxidamente, o primeiro egineta a vencer um jogo
Olímpico (A. Puech, p. 73). A menção ao treinador Milésias, famoso por ter treinado
Alcimedonte, cantado na VIII Olímpica e de Timasarco, cantado na IV Neméia, parece fazer
entender aos estudiosos que a ode teria sido composta entre 460 a. C.
A SEXTA NEMÉIA104
Para Alcimida menino egineta pugilista
Primeira estrofe
Uma só de homens,
uma só raça de deuses: de uma só mãe
respiramos ambos. Se-
para-as porém, todo o poder
5. distinguindo-as, de forma que, uma é nada,
mas sede sempre inabalável
permanece, brônzeo, o céu. Porém, em todo o caso, em algo no as-
semelhamos, quer pelo grandioso espírito,
quer pela natureza, ao imortais,
embora nem durante um dia
10. sabedores nem à noite
até que marca
o destino traçou-nos caminhar.
Primeira Antístrofe
Indica,
15. por certo, também de Alcimida reconhecer o parentesco
igual a frutíferos cam-
pos, que alternando,
ora dão vida aos homens
inexaurível pelas planícies,
Poesia Lírica grega 80
104
Para a tradução usamos o texto de Aimé Puech, Némmeènes, Paris: Belles Lettres, 1967, tomo 3.
105
Oe Eácidas eram os filhos de Éaco, filho de Egina e de Zeus.
Poesia Lírica grega 81
50. cantos
e palavras as belas obras os conduzem;
para os Bassidas o que não rareia: de há muito famosa estirpe
naus transportando os próprios louvores,
55. aos lavradores das Piérides
são capazes de fornecer muitos hi-
nos por causa de soberbos
trabalhos. Pois também na divina
Pito, tendo atado as mãos à rédea,
60. venceu outrora desta família
o sangue,
106
Cálias , doce
segundo epodo
107
aos rebentos de Letó de áurea-coroa e na Cas-
tália, ao entardecer, com o vozerio
65. das Graças, fulgiu.
E o Istmo sobre o mar infatigável,
na festa trienal dos vizinhos,
com sacrifício de touro,
honrou Creontidas
70. no templo de Posidão.
E, outrora, a erva do leão 108
corou-o vencedor sob as sombrias
montanhas antigas do Flionte109.
terceira estrofe
Amplos
75. aos prosadores de todas as partes
há acessos
para esta gloriosa ilha or-
nar. Depois que os Eácidas
forneceram-lhe destino superior, exce-
80. lências demonstrando grandiosas,
106
Cálias venceu um dos jogos Píticos na corrida de carros.
107
Letó, mãe de Apolo e de Ártemis.
108
Provavelmente a “salsa brava” ou “aipo”, de que se faziam as coroas dos jogos nemeus.
Poesia Lírica grega 82
109
Cidade da Argólida, próxima ao Peloponeso.
Poesia Lírica grega 83
4. BIBLIOGRAFIA
110
Rei lendário da Etiópia, filho de Títon e de Aurora.
Poesia Lírica grega 84