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Compreendendo As Linguagens Dos Bebês
Compreendendo As Linguagens Dos Bebês
Compreendendo As Linguagens Dos Bebês
RESUMO
Este artigo tem como objetivo compreender como ocorre a aquisição das linguagens das crianças
de 0 a 3 anos e os aspectos que podem influenciar neste processo, conhecendo os diferentes tipos
de linguagem que a criança utiliza para se comunicar e expressar seus desejos e sentimentos, bem
como conceituar o que é linguagem e sua função. A intenção é de esclarecer, refletir e orientar os
professores que trabalham com bebês, oportunizando que as crianças tenham um desenvolvimento
natural, porém rico de interações e vivências significativas, estabelecendo relações com o mundo
ao seu redor e vínculos com seus cuidadores, retomando os princípios da Educação Infantil e sua
relação com o desenvolvimento cognitivo, social, emocional e também das linguagens dos bebês.
Palavras-chave: Desenvolvimento infantil. Linguagens. Bebês.
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento da linguagem dos bebês é algo curioso, pois acontece gradativamente,
desde o nascimento e de forma natural a partir do convívio com outras pessoas.
A linguagem no início da vida dos bebês é algo bem amplo, pois se utilizam de diferentes
tipos de linguagem para expressar suas necessidades, desejos, desagrados e sentimentos, como a
linguagem não verbal, que ocorre através de simbologias e pode ser expressa de forma corporal,
gestual, com imagens, musical e também a linguagem verbal, que ocorre através do uso de
palavras.
Nesta faixa etária tudo é descoberta e aprendizagem para a criança, por isso, esta fase de
desenvolvimento deve ser vista pela família e pelos professores como momento crítico, porém
único e sensível, já que o vínculo e os laços afetivos também exercem papel fundamental neste
processo.
1
Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Pelotas (2012), especialista em Administração, Supervisão e
Orientação Escolar pela UNIASSELVI (2013) e em Neuropsicopedagogia e Intervenção Cognitiva pela CENSUPEG (2015).
Atualmente é professora de Educação Infantil no município de Igrejinha e mestranda em Educação pela UCS. E-mail:
marcelallgayerpinto@gmail.com.
O desenvolvimento das diferentes linguagens acontece de forma concomitante, sempre
ampliando as formas de expressão e introduzindo novas formas de comunicação, antes se
utilizando de formas próprias, ou seja, cada criança de uma forma diferente, até chegar à
linguagem verbal.
Através da linguagem, o bebê conhece o mundo ao seu redor e aos poucos vai ampliando
suas capacidades, conforme amadurece neurologicamente e seu corpo se desenvolve. Com as
experiências que vivencia com a família e seus cuidadores, a partir dos estímulos do ambiente, a
criança demonstra suas aprendizagens utilizando os meios de que dispõe.
Aproximadamente aos dois anos de idade, a criança inicia o simbolismo, que é a forma
como demonstra sua visão de mundo, fazendo imitações do que vivencia e expressando suas
emoções, bem como aprendizagens, através das brincadeiras em diferentes situações.
Logo, chega um momento onde a própria criança se vê como participante de uma família e
de um grupo social, compreendendo a função social da linguagem, principalmente a linguagem
verbal e utilizando-a de forma muito eficiente, curiosa sincera, por volta dos dois anos e meio aos
três anos de idade.
2 LINGUAGEM
Para compreendermos como ocorre o desenvolvimento da linguagem dos bebês, faz-se
necessário primeiramente conceituar o que é linguagem.
Saussure (1916), em seu livro Curso de Linguística Geral, elabora conceitos para descrever as
articulações da língua e Santaella (1985, p. 106-107) estudou estes conceitos teóricos, analisando-
os da seguinte forma:
Em nenhum momento, foi por ele demonstrada qualquer iniciativa no sentido de formular
conceitos mais gerais que pudessem servir de base para uma ciência mais ampla do que a
linguística. Ao contrário, consciente disso, Saussure apenas previu a necessidade dessa
ciência mais vasta que ele batizou de semiologia. (...) Nessa medida, a teoria semiológica de
extração linguística caracteriza-se pela transferência dos conceitos que presidem a análise
da linguagem verbal-articulada para o domínio de todos os outros processos de linguagem
não verbais. (...) Com isso, contudo, foram rompidas, de saída, todas as veias de indagação
das relações inseparáveis que a linguagem mantém com o pensamento, as operações da
mente, a ação e com o intrincado problema da representação do mundo.
Com isso, entende-se linguagem como a capacidade inata que o ser humano possui para
expressar suas ideias, sentimentos e emoções a partir do uso da língua como forma de expressão e
comunicação. Pode ser expressa de maneira verbal e não verbal. Sua função é dividida em três
aspectos em uma ordem cronológica: para a expressão do pensamento, como meio para a
comunicação, para a interação verbal.
Para embasar sua pesquisa sobre as “linguagens geradoras” na Educação Infantil, Junqueira
Filho (2014, p. 42-43) explica sua percepção sobre a teoria de Peirce, que é diferente da teoria de
Saussure:
Toda e qualquer relação humana, portanto, é linguagem, para Peirce, e essas realizações
vão além da esfera dos sistemas de representação, como o desenho e a escrita, por
exemplo. Ao se produzir e à sua humanidade, o homem produz o mundo e por ele é
produzido. (...) A partir do conceito de linguagem da semiótica de Peirce, toda e qualquer
linguagem – todo e qualquer sistema de produção de sentido, por meio da qual as crianças
são produzidas, nos seus processos de ação e compreensão do e sobre o mundo – ou seja,
nos seus processos de produção de sentido, de demarcação, comunicação e significação
sobre si e o mundo -, seja considerada objeto de conhecimento.
De forma geral, pode-se delimitar que a linguagem verbal ocorre através do uso das
palavras, com a possibilidade de ser faladas ou escritas. Já a linguagem não verbal pode se
apresentar de diferentes formas, através da música, teatro, artes, de forma corporal, gestual, de
expressões facial, de sinais, com o uso de imagem e símbolos, ou seja, que transmitem uma
mensagem utilizando-se de outras formas de comunicação que não sejam através do uso de
palavras.
A partir dos conceitos de Saussure, Junqueira Filho (2014, p.42) compreende que “Essa
diferença me possibilita ler todo e qualquer objeto de conhecimento como linguagem, portanto,
como conteúdo programático passível de ser explorado pelas crianças da Educação Infantil.” Com
isso, quando falamos em linguagens das crianças, estamos falando dos processos de comunicação e
não simplesmente da fala.
3 OS PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO
Como já mencionado anteriormente, a linguagem está para a comunicação. A comunicação
pode dar-se de diferentes formas, como a escrita, a fala, a utilização de códigos, cartazes ou
bilhetes com imagens ou escrita, por gestos e também através dos diversos tipos de meios de
comunicação de existem com as tecnologias de hoje.
Falando especificamente sobre bebês, compreende-se que as crianças têm intenção de se
comunicar com o mundo ao seu redor e utilizam-se de variadas formas para manifestar-se, como
explica Lima (2002, p. 8):
Com um mês de vida, a criança já diferencia as falas de outros sons e utiliza-se de uma
linguagem própria.
Com três meses de vida a criança começa a balbuciar e percebe da onde vem os sons,
procurando-os e respondendo através do olhar e do sorriso.
Com seis meses de vida, o bebê produz sons, ainda que sem sentido, “criando” palavras,
como “mama”, “papa”, que é a chamada linguagem materna. Utiliza de diferentes entonações nas
vocalizações. Andrea Rapoport (2012, p. 20-21) explica:
Essas sequências ainda não têm um significado, não querem dizer coisa alguma. No
entanto, à medida em que ocorre uma maior interação do adulto com as crianças pela fala,
essas sequências passam a ser empregadas pelos bebês com um sentido definido. É dessa
forma que o “papapa” se transforma em comida; “papa”, em papai; “mama”, em mamar;
“mamama” em mamãe, não necessariamente nessa ordem e com essa correlação.
Com dez meses de vida a criança apresenta a capacidade de imitação dos sons que ouve.
Percebe as influências do ambiente e utiliza-se de palavras e gestos para conseguir o que deseja.
Com um ano, se inicia o estágio linguístico, que é caracterizado pela maturação do
aparelho fonador. Pode iniciar a pronúncia de palavras atribuindo sentindo às mesmas. A criança
utiliza a chamada palavra-frase, ou seja, usa apenas uma palavra para comunicar o que deseja. O
adulto é quem deve interpretar estas situações a partir do contexto, nomeando os objetos,
narrando as situações, auxiliando a criança a se comunicar cada vez mais de forma a ser
compreendida. Os gestos ainda fazem parte da comunicação e expressão.
Por meio de conversa dos adultos que interagem com as crianças é que elas vão
construindo o sentido, percebendo a necessidade da fala e produzindo o desejo de
tornarem-se falantes, de expressarem-se pela linguagem. Até aprenderem a falar, suas
necessidades e desejos são expressos, em grande parte, por meio de gestos, apontando
objetos, coisas e lugares. A partir do momento que começam a organizar intencionalmente
a fala, os gestos passam a funcionar com um acessório, não mais como linguagem principal
pela qual se comunicam e aprendem sobre si e sobre o mundo. (RAPOPORT, 2012, p. 21).
Com três anos a criança tem capacidade de falar, compreender e fazer sinais quase como
os adultos. Inicia a fase dos “porquês”, perguntando e demonstrando curiosidade sobre tudo. A
criança refere-se a si mesma na terceira pessoa, identifica e nomeia objetos de uso cotidiano,
aponta e nomeia objetos e cenas em gravuras, interpreta histórias contadas por adultos.
Propiciar o faz de conta, criatividade e imaginação são extremamente importantes e podem
ser proporcionados através de cantinhos organizados na sala para a livre expressão das crianças,
com brinquedos, diferentes tipos de objetos para serem explorados e manuseados, materiais
artísticos, fantasias, etc., bem como, explorar diferentes espaços internos e externos para o
deslocamento e desenvolvimento do movimento e do corpo, manter livros de pano e
emborrachados ao alcance das crianças, reconhecendo a alimentação, higiene e cuidados pessoais
como parte dos processos pedagógicos, considerando as necessidades físicas, fisiológicas, sociais e
emocionais da criança e da sua família.
No contexto da escola de Educação Infantil, destaca-se a importância das interações das
crianças com outras crianças e com os adultos, as diferentes situações que proporcionam a
expressão, interpretação e a intenção de comunicação.
Por meio das brincadeiras os professores podem observar e constituir uma visão dos
processos de desenvolvimento das crianças em conjunto e de cada uma em particular,
registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como de suas capacidades
sociais e dos recursos afetivos e emocionais que dispõem. (RCNEI, 1998, v.1, p. 28).
Os pequenos gestos, palavras, ambientes, objetos devem ser planejados e pensados para
auxiliar a criança na progressão do seu desenvolvimento e algumas situações são essenciais, como
o manuseio de diferentes objetos com cores, formas, tamanhos e sons diferenciados, a exploração
de outros espaços fora da sala de aula e de ambientes que ofereçam segurança e conforto, mas
também ludicidade e desafios, a conversa com a criança em todos os momentos, mesmo que a
criança ainda não fale, nomeando objetos, pessoas, explicando o que está acontecendo ou
antecipando algo que vai acontecer, etc.
O RCNEI (1998) enfatiza que a Educação Infantil prevê e organiza a articulação do cuidar,
educar e aprender, através dos princípios da contextualização, da aprendizagem coletiva, da
interdisciplinaridade e do desenvolvimento de competências, mediados pela interação e o brincar
como eixos para a construção do currículo para a infância.
Com isso, as crianças que frequentam a escola de Educação Infantil têm ainda mais
possibilidades de desenvolvimento integral, pois são propiciadas novas aprendizagens que vão
sendo conquistadas e memorizadas pelo corpo através dos sentidos, percepções e relações que a
criança estabelece. Além disto, constrói-se vínculos afetivos com outras crianças, com os
professores e funcionários e os fortalece à medida que coloca em prática estas aprendizagens
estruturadas anteriormente, e a partir de situações que as desafiem.
A partir desse contexto, percebe-se que estas três esferas estão interligadas e acontecem
simultaneamente: educar, cuidar e brincar.
Brincar é um ato espontâneo e a ação do brincar é a primeira forma que a criança encontra
para se expressar, antes mesmo de adquirir a linguagem oral. Através do brincar a criança
experimenta e vivencia situações diversas onde expõe suas emoções e sentimentos, interage com o
mundo ao seu redor. Tudo passa pelo corpo, ele é o mediador entre a criança e o meio, é um
brinquedo.
Porém, destaca-se também a importância da literatura infantil, que ganha destaque para
auxiliar neste processo, oferecendo possibilidades como a mediação de leitura, que pode acontecer
de maneira a contemplar as necessidades e potencialidades da criança pequena, com a inserção de
diferentes fontes de literatura no cotidiano dos bebês, como a contação de histórias, canções de
ninar, poemas, brincadeiras de roda e principalmente, o manuseio de livros de diferentes cores,
tamanhos e formatos.
O prazer que o livro pode trazer tem múltiplos aspectos. [...] O livro informa, distrai,
enriquece o espírito, põe a imaginação em movimento, provoca tanto a reflexão como a
emoção; é, enfim, um grande companheiro. Companheiro ideal, aliás, pois está sempre à
disposição, não cria problemas, não se ofende quando é esquecido, e se deixa retomar sem
histórias, a qualquer hora do dia ou da noite que o leitor deseja. (MINDLIN, 2004. p. 15-16).
A literatura pode muito. Ela pode nos estender a mão quando estamos profundamente
deprimidos, nos tornar ainda mais próximos dos outros seres humanos que nos cercam, nos
fazer compreender melhor o mundo e nos ajudar a viver. Não que ela seja, antes de tudo,
uma técnica de cuidados para com a alma; porém, revelação do mundo, ela pode também,
em seu percurso, nos transformar a cada um de nós a partir de dentro. (TODOROV, 1939, p.
76).
Percebemos que a apreciação da literatura tem ficado de lado e com ela a rica contribuição
que as obras literárias podem oferecer, como a imaginação, as relações que podem ser
estabelecidas com as pessoas e com a vida real, a compreensão de mundo, a comunicação das
diferentes linguagens, a capacidade de se colocar no lugar do outro, de viver outros papeis, entre
tantas outras possibilidades que fazem parte do universo infantil, do desenvolvimento e
aprendizagem das crianças.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo oferece a possibilidade de compreendermos um pouco sobre o que é linguagem
e como ocorre o desenvolvimento das linguagens dos bebês, sabendo que desde o nascimento as
crianças estão em contato com diversas formas de expressão e linguagem, interagindo com pessoas
e com o ambiente em situações variadas.
Nesta faixa etária que compreende a etapa creche (de zero a três anos) é pontual a
aquisição das linguagens, viabilizando a constituição do pensamento e a fruição literária,
desenvolvendo-se nas brincadeiras e jogos a partir dos gestos e movimentos, servindo como base a
apropriação dos demais conhecimentos.
Desta forma, compreende-se o desenvolvimento da linguagem como forma de comunicação
e organização do pensamento, por meio de troca de experiências, diálogos, contação de histórias,
exploração, manuseio e análise de diferentes materiais escritos, com imagens e livros infantis,
promovendo as capacidades expressivas das crianças ao propor situações concretas envolvendo a
fala, o pensamento, a escuta, a atenção, a imaginação.
Fica clara a importância da escola de Educação Infantil na vida dos bebês que estão inseridos
neste contexto, pois passam de sete a doze horas na escola, sendo que é papel da mesma elaborar
uma proposta pedagógica adequada à estas necessidades para o desenvolvimento saudável das
crianças.
REFERÊNCIAS
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