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4 - Fisioterapia Aplicada À Saúde Do Idoso
4 - Fisioterapia Aplicada À Saúde Do Idoso
4 - Fisioterapia Aplicada À Saúde Do Idoso
Além da avaliação geriátrica ampla, o paciente idoso pode ser submetido a uma avaliação
fisioterapêutica específica para doenças reumáticas, considerando algumas particularidades
destas disfunções.
Vale lembrar que o atendimento do paciente idoso, incluindo aquele com doença reumática, é
interdisciplinar e envolve a avaliação e condutas diversas voltadas ao seu tratamento integral. A
reumatologia é uma das áreas de atuação da fisioterapia, em que o profissional pode intervir de
modo a prevenir complicações, melhorar a condição física e possibilitar melhores condições
funcionais para os pacientes acometidos por doenças reumáticas.
Na avaliação, busca-se entender ao máximo todos os fatores envolvidos na saúde do idoso que
possam estar interferindo de maneira positiva ou negativa nas condições de saúde. Para isso, a
avaliação pode ser estruturada em anamnese, exame físico funcional e, a partir destas
informações, o fisioterapeuta entende as disfunções cinético-funcionais existentes, define
objetivos e traça condutas de maneira individualizada.
Anamnese
Refere-se a uma entrevista semiestruturada a ser feita com o paciente, com ou sem auxílio de
familiares ou cuidadores, dependendo das condições cognitivas do idoso.
Nesta etapa da avaliação, o fisioterapeuta pode elaborar perguntas que envolvam informações
sobre:
Dados pessoais – Identificar dados como nome, idade, raça, gênero, telefone, endereço,
profissão etc. Dentre outros dados essenciais para manter contato com o paciente e, ainda,
estabelecer um panorama geral da situação, considerando que algumas das informações obtidas
nesta etapa podem auxiliar o profissional a compreender maiores incidências de algumas
doenças reumáticas em alguns casos.
Queixa principal – Refere-se ao que trouxe o idoso ao atendimento fisioterapêutico, o que está
lhe incomodando.
Doenças associadas/uso de medicações e história familiar – O profissional estabelece um
panorama geral das condições de saúde do paciente, visando conhecer possíveis
contraindicações a algumas modalidades de tratamento e para que consiga elencar relações entre
as doenças associadas e o desenvolvimento ou agravamento da doença reumática. O histórico
familiar permite compreender a carga relacionada à hereditariedade que possa existir,
considerando que algumas doenças reumáticas têm maior predisposição quando há casos na
família.
História da doença pregressa e atual – Visa descrever toda a história acerca da queixa do
paciente, quando foi o início, como evoluiu, se já realizou tratamentos e quais os resultados
alcançados, além de informações sobre a condição atual do paciente (como se locomove, quais
as limitações citadas pelo paciente etc.).
Hábitos de vida – Visa identificar a presença de fatores de risco para algumas doenças
(tabagismo, etilismo, sedentarismo, obesidade etc.) e é a partir destas informações, que o
fisioterapeuta pode traçar medidas preventivas de maneira mais personalizada.
Exame físico/funcional
Nesta etapa, o fisioterapeuta pode fazer uso de testes, escalas e questionários, ou seja, uma série
de recursos de modo a entender melhor a situação de saúde do paciente com doença reumática.
Inicia-se com a inspeção, em sequência é realizado o exame físico/funcional. São informações
importantes:
• Dor (tipo de dor, localização, intensidade, relação com movimento, relação com
repouso);
• Rigidez (presença de rigidez, em qual período do dia, por quanto tempo persiste);
• Manifestações articulares (verificar presença de edema, de dor à palpação, eritema,
calor, contraturas, deformidades etc.);
• Manifestações extra-articulares (alterações de pele, humor, depressão etc.);
• Força muscular e flexibilidade;
• Amplitude de movimento;
• Transferências e marcha;
• Equilíbrio;
• Perimetria;
• Avaliação funcional.
Com base nos dados obtidos na anamnese e no exame físico do paciente idoso com doença
reumática, o fisioterapeuta é capaz de definir as necessidades de tratamento do paciente, o
quanto e como a doença reumática está interferindo nas condições biomecânicas do idoso e,
consequentemente, na autonomia e funcionalidade.
Com base nestas informações, o fisioterapeuta elabora o plano de tratamento, que é sempre
individualizado e planejado com base nos dados coletados na avaliação. Neste momento, o
profissional é capaz de estabelecer objetivos e condutas a fim de permitir a atenção à saúde do
idoso com doença reumática.
Nesta área, a fisioterapia tem ampla atuação e, junto aos demais membros, as equipes
interdisciplinares podem promover melhorias significativas na qualidade de vida de idosos com
doenças reumáticas.
O avanço da idade traz consigo maiores chances de desenvolvimento de doenças crônicas, que
podem de algum modo interferir na capacidade funcional, na independência, na autonomia e,
consequentemente, na qualidade de vida do idosos de maneira negativa.
Segundo Francisco e colaboradores (2018), as doenças reumáticas destacam-se como
enfermidades de caráter crônico com maior impacto na qualidade de vida dos idosos. Isso
porque estas doenças causam, ao longo de sua evolução, graus variados de restrição de
habilidades físicas, necessárias para manutenção da independência e autonomia na realização de
atividades de vida diárias, assim como nas demais atividades de maior complexidade.
As doenças reumáticas são definidas como um grupo de doenças que acometem o tecido
conjuntivo, podendo gerar comprometimento de tecidos como pele, coração, pulmão, vasos
sanguíneos, estruturas osteoarticulares e periarticulares (FRANCISCO e colaboradores, 2018).
De forma geral, estas doenças, especialmente as que acometem estruturas osteoarticulares,
periartiuclares e musculares, são as que mais causam limitações funcionais na população idosa.
Por sua vez, estas limitações funcionais ocorrem porque o desempenho do idoso em atividades
da vida diária dependem diretamente das funções motoras. Nos casos de doenças reumáticas, é
comum o comprometimento deste aspecto, principalmente pela presença de dor, rigidez
articular, e outros sintomas que interferem na execução dos movimentos, nas transferências, na
marcha, entre outros efeitos característicos provocados por essas enfermidades.
Dentre os sintomas, vale destacar que a dor possui uma importância relevante na qualidade de
vida do idoso com doença reumática, tendo em vista que, conforme apontam Freitas e Py
(2016), a dor que acomete estruturas musculoesqueléticas são as mais comuns e as mais
incapacitantes.
Francisco e colaboradores (2018) comentam ainda que a dor resultante destas doenças em
idosos predispõem esta população a complicações e fragilidade, tornando o idoso mais
sedentário e dependente, com impactos negativos sobre a massa muscular e sujeitos a estados de
dor crônica.
Em relação aos fatores de risco para estas doenças, sabe-se que gênero feminino, idade
avançada, sedentarismo, sobrepeso e tabagismo são fatores associados ao desenvolvimento ou
piora dos quadros clínicos de doenças reumáticas (FRANCISCO e colaboradores, 2018).
Destaca-se que essas doenças podem surgir em qualquer fase da vida, sendo que boa parte delas
surge a partir da fase adulta. Entretanto, mesmo as que surgem antes desta fase, por terem em
sua maioria componente crônico, evoluem ao longo dos anos e trazem um peso importante para
o idoso, que convive com a doença há muito tempo.
Entre as doenças reumáticas mais prevalentes nos idosos e relacionadas à maior incapacidade
funcional, citam-se: osteoartrose, artrite reumatoide, osteoporose, fibromialgia, polimialgia
reumática, espondiloartrites, artrite gotosa, além de outras doenças reumáticas, como capsulite
adesiva, distrofia simpático-reflexa, estenose vertebral e síndrome do impacto.
Osteoartrose e osteoporose
// Osteoartrose
Também conhecida pelos nomes de osteoartrite, artrose ou doença articular degenerativa, a
osteoartrose é uma disfunção reumática caracterizada por alterações bioquímicas, moleculares e
histológicas na cartilagem articular e no osso subcondral, quando, por diversos fatores, há
redução da função dos condrócitos em produzir quantidades suficientes de matriz extracelular
na cartilagem. Estas alterações trazem um quadro de desgaste da cartilagem articular, associada
a alterações ósseas, entre elas a presença de osteócitos e quadro clínico característico.
É classificada em osteoartrose primária quando não se conhece o mecanismo relacionado ao
desenvolvimento da doença; e secundária, quando o quadro é resultante de uma causa
conhecida. É classificada ainda conforme a sintomatologia (muda, ativa, idiopática) e os locais
de acometimento (central e periférica):
Muda: Presença de alterações radiográficas, mas sem sintomas.
Ativa: Presença de alterações radiográficas e sintomatologia.
Idiopática: Quando não se sabe precisar a origem do problema.
Central: Acomete o esqueleto axial, a coluna vertebral na maioria dos casos.
Periférica: Acomete estruturas articulares do esqueleto apendicular.
Trata-se da doença reumática mais comum em idosos, sendo mais frequente a partir dos 60
anos, e, a partir dos 75 anos, cerca de 85% dos idosos possuem sinais desta disfunção. É mais
comum em mulheres e, neste caso, com maior acometimento em mãos e joelhos, enquanto nos
homens é menos prevalente e costuma acometer mais articulação coxofemoral (SBR, 2011).
Em relação à fisiopatologia, inicialmente, percebem-se sinais que acometem a cartilagem
articular, a membrana sinovial e o osso subcondral, associado ainda em alguns casos, a
alterações de tecidos próximos. Estas alterações não têm natureza inflamatória a princípio e
resultam em um desequilíbrio no processo de reparação e remodelamento do osso subcondral,
havendo redução da ação de condrócitos (células que sintetizam matriz extracelular). Estes
desequilíbrios no processo de remodelamento acontecem de maneira progressiva e não uniforme
na cartilagem, havendo sinais pontuais de lesões, causando como sintoma inicial a fibrilação
localizada decorrente das lesões nas camadas mais superficiais da cartilagem articular.
Com o avanço da doença, esta degeneração se estende às demais áreas da cartilagem, tendo
acometimento mais profundo, ocasionando em fissuras na cartilagem (decorrentes de rupturas
das fibras de colágeno) até atingir o osso subcondral. Nesta fase, a espessura da cartilagem
reduz e há liberação de fragmentos no espaço articular, associados à ação de enzimas que
intensificam a degradação da cartilagem, sendo que, em fases avançadas, a cartilagem articular
pode estar toda destruída e haver exposição do osso subcondral. A liberação de fragmentos no
espaço articular leva ao desenvolvimento de um quadro de sinovite reacional, que pode variar
de moderada a grave e, neste caso, há um processo inflamatório associado.
No geral, a perda da cartilagem causa alterações secundárias nos tecidos adjacentes, como
músculos, tendões e ligamentos, decorrentes do processo inflamatório crônico que se instala e
do desuso da articulação, tornando estas estruturas rígidas, fracas e contraturadas. No tecido
ósseo, observa-se como alteração secundária, a descarga irregular de peso na cartilagem, que
gera formação de cistos e lesões na medula óssea, com aumento da densidade óssea subcondral,
redução do espaço articular e formação de osteófitos, evidenciados no raio X. A Figura 1 traz
uma exemplificação de um caso de osteartrose em região de joelho.
Acerca das manifestações, na fase inicial, a doença pode ser assintomática ou, ainda, é comum o
aparecimento de dor articular localizada que piora ao movimento e reduz em repouso, enquanto
em fases avançadas o quadro de dor é intenso, mesmo em repouso. A dor está associada à
rigidez matinal, que dura menos de 30 minutos até desaparecer e é resultante, nestes casos, da
redução do espaço articular, do atrito, da presença de episódios agudos de sinovite, de espasmos
musculares e da inflamação de bursas, tendões e ligamentos. A longo prazo, com o desuso
percebe-se hipotrofia muscular, alterações da propriocepção, sensibilidade, dentre outras
disfunções associadas.
Vale destacar que parte destas alterações iniciais no osso subcondral e na cartilagem articular
são decorrentes do envelhecimento fisiológico do organismo. Estas alterações favorecem a
instalação de osteoartrose, contudo, não é causada simplesmente pelo envelhecimento dos
tecidos (REBELATTO; MORELLI, 2007).
// Osteoporose
A osteoporose trata-se se uma disfunção óssea metabólica sistêmica, caracterizada pela redução
da massa óssea e deterioração da microarquitetura do osso, levando ao enfraquecimento deste
tecido e culminando com maior predisposição a fraturas (WILLIAMS e colaboradores, 2015). A
Figura 2 mostra uma estrutura óssea saudável, com uma quantidade adequada de mineralização
óssea, uma imagem de osteoporose, seguida de imagem de osteoporose severa, em que se
evidencia redução da mineralização óssea, com redução da força e resistência do osso e
aumento da fragilidade.
É classificada em primária ou secundária, dependendo do mecanismo causador da doença. Na
osteoporose primária encontram-se alterações no tecido ósseo relacionadas ao processo de
envelhecimento, onde tem-se um aumento na ação de osteclastos (células que reabsorvem tecido
ósseo) e redução na ação de osteoblastos (células responsáveis pela formação de matriz óssea).
Estas alterações são ainda influenciadas pelos níveis menores de vitamina D, de estrogênio e
hormônios paratireoideanos. Neste grupo, inclusive, constam a osteoporose pós-menopausa e a
osteoporose senil. A primeira delas acomete 1/3 das mulheres pós-menopausa e está relacionada
à queda nos níveis de estrogênio, que é fundamental para manter a massa óssea. A osteoporose
senil atinge idosos com mais de 70 anos e está relacionada à maior perda de massa óssea
decorrente do envelhecimento. Em contrapartida, há também quadros de osteoporose
secundária, que é resultante da presença de algumas doenças renais, endócrinas, hepáticas e do
uso de alguns medicamentos (especialmente corticoides) (SBR, 2019b).
Considerando essa classificação da osteoporose, percebe-se que idosas em fase pós-menopausa,
idosos acima de 70 anos e pacientes com algumas doenças associadas e uso de alguns
medicamentos são mais suscetíveis ao desenvolvimento da doença. Por isso, a osteoporose é tão
prevalente em idosos, em especial entre mulheres, e é uma das principais causas de fraturas em
idosos. São algumas das outras condições consideradas fatores de risco para a osteoporose:
• Mulheres maiores de 65 anos de idade;
• Homens maiores de 70 anos de idade;
• Brancos ou asiáticos;
• Baixo peso corporal (menos de 57 kg ou índice de massa corporal menor que 20);
• História familiar de osteoporose;
• História pessoal de fratura por fragilidade;
• Fratura por fragilidade em parentes de primeiro grau;
• Uso de glicocorticoides a longo prazo;
• Álcool (mais de dois ou três drinques por dia);
• Deficiência de estrogênio com menos de 45 anos;
• Deficiência de testosterona;
• Baixa ingestão de cálcio;
• Deficiência de vitamina D;
• Estilo de vida sedentário;
• Consumo atual de tabaco.
Destaca-se, ainda, como fator de risco a imobilização prolongada, uma vez que a prática de
atividade física serve como estímulo para a formação dos ossos e grandes períodos de
imobilização podem levar à osteoporose (REBELATTO; MORELLI, 2007).
Acerca das manifestações clínicas, a osteoporose geralmente é assintomática em fases iniciais,
até que o paciente tenha algum quadro de fratura decorrente da fragilidade óssea aumentada.
Assim, as fraturas causadas por osteoporose estão associadas a um traumatismo pequeno que
não se espera ser causador de fraturas em adulto/idoso saudável. Os locais mais comuns de
acometimento por fraturas são quadril, coluna e porção distal do punho, com diversos graus de
extensão, abrangendo desde fraturas que demandam de tratamento cirúrgico pela extensão
maior, até microfraturas, que acontecem sem o paciente perceber. Estas, quando acometem a
coluna vertebral anterior, causam redução da estatura e cifose torácica, pelo acunhamento
vertebral, podendo gerar graves alterações posturais e limitações respiratórias pelas alterações
na caixa torácica. No geral, as fraturas decorrentes de osteoporose estão relacionadas a maiores
taxas de internação, restrição ao leito e mortalidade.
// Artrite reumatoide
A artrite reumatoide trata-se de uma doença inflamatória crônica e sistêmica, com
acometimento articular e extra-articular. O quadro articular pode regredir ou evoluir em surtos
enquanto as manifestações extra-articulares podem afetar olhos, sistema cardiorrespiratório,
gastrointestinal, quadros de infecção e osteoporose. Em relação à causa, ainda é desconhecida e
pode estar relacionada a fatores imunológicos, hormonais e infecciosos.
No que diz respeito à fisiopatologia, inicialmente, a artrite reumatoide se manifesta com uma
sinovite subaguda, com membrana sinovial avermelhada e edemaciada, associadas à liberação
de fator reumatoide (anticorpos) na corrente sanguínea, que podem também ser encontrados na
membrana e no líquido sinovial. A presença deste fator reumatoide sobre a articulação
desencadeia uma reação inflamatória, que culmina com a destruição da cartilagem articular e
hiperplasia sinovial, o que se estende para o osso subcondral e estruturas periarticulares,
gerando instabilidade e deformidade articular irreversível. Estas alterações causam dor, calor,
edema e rigidez nas articulações afetadas, que pioram após períodos de repouso, sendo que a
rigidez é mais comum pela manhã e costuma durar mais de 30 minutos. Podem ainda vir
acompanhadas de fraqueza muscular, fadiga, alterações cutâneas e perda de peso. Embora seja
comum os sintomas terem início ainda na terceira e quarta década de vida, esta doença se torna
bastante incapacitante em idosos.
// Artrite gotosa
A artrite gotosa, conhecida popularmente como gota, é uma artropatia inflamatória
desencadeada por excesso de ácido úrico depositado na forma de cristais, na articulação,
causando um quadro de dor articular, edema e rigidez. O ácido úrico é o produto final de
processos metabólicos da purina do organismo e, em condições normais, deve ser excretado
pela urina. Maiores quantidades de ácido úrico na corrente sanguínea podem ser resultado de
problemas renais, erros inatos do metabolismo, presença de doenças, entre outros fatores.
No idoso, a artrite gotosa tem uma apresentação que difere um pouco da apresentação clínica da
doença nos adultos jovens. Conforme Batista e Wibelinger (2011), em idosos o início dos
sintomas é insidioso, com sinais inflamatórios não evidentes, de acometimento poliarticular e
com preferência para pequenas articulações. A Figura 4 mostra um quadro de artrite gotosa.
Sabe-se que as neoplasias estão entres as doenças crônicas bastante prevalentes em idosos. Em
muitos casos, as neoplasias malignas podem estar associadas ao desenvolvimento de síndromes
reumáticas, podendo surgir antes mesmo do diagnóstico de neoplasia. Nestes casos, os
sintomas reumáticos são resultado da invasão muscular por tumores, liberação de mediadores,
no caso de síndromes paraneoplásicas, ou ainda em virtude de alterações do sistema
imunológico.
// Polimialgia reumática
Por sua vez, a polimialgia reumática é uma disfunção caracterizada por inflamação da
membrana que reveste as articulações, causando quadros de dor intensa e rigidez muscular, sem
ter causa conhecida. Costuma surgir após os 55 anos, é bastante prevalente em idosos, tendo
maior acometimento em mulheres (VILLA-FORTE, 2019). Os locais de maior acometimento
são pescoço, cintura escapular e pélvica, com queixas de dor e rigidez por períodos maiores que
um mês. Segundo Neves, Teixeira e Granja (2012), os sintomas costumam ser bilaterais, com
início abrupto, e podem ainda surgir manifestações musculoesqueléticas em estruturas distais,
como a síndrome do túnel cárpico e artrite periférica assimétrica. Podem surgir ainda sintomas
sistêmicos, como perda de peso, fadiga, febre e mal-estar (WILLIAMS, 2015).
Em virtude do quadro de dor, pacientes apresentam amplitude de movimento reduzida,
especialmente para atividades funcionais, como escovar o cabelo e subir escadas, entretanto não
apresentam sinais inflamatórios e a força muscular é mantida, uma vez que o surgimento da
doença é abrupto.
// Espondiloartrites
As espondiloartrites, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (2020), são um conjunto
de afecções reumáticas que se apresentam com sinais clínicos semelhantes, que incluem
acometimento com artrite de articulações sacrilíacas e coluna, fator reumatoide negativo e, de
maneira associada, inflamação de tendões e ligamentos.
Entre as doenças que se incluem neste grupo, podemos citar espondilite anquilosante,
espondiloartropatias indiferenciadas, artrite reativa, artrite psoriásica e artrites enteropáticas.
A artrite psoriásica é uma forma específica de artrite que afeta pacientes com psoríase, doença
dermatológica que causa lesões avermelhadas escamosas em diferentes partes do corpo. Cerca
de 10% dos pacientes com psoríase desenvolvem artrite, que pode surgir tanto na fase inicial
como em fases mais avançadas da doença e, costuma causar dor, edema e rigidez, que pioram
à noite. Com o avançar da doença, o paciente é acometido com limitação dos movimentos e
deformidades (FIOCRUZ, 2019).
Além das doenças reumáticas citadas anteriormente, outras afecções podem acometer o idoso e,
em algumas situações, é possível que surjam complicações de outras doenças reumáticas, com
maiores chances de causar contraturas e deformidades, pela intensidade dos sintomas ou pela
persistência dos quadros inflamatórios.
Neste sentido, tem-se uma prevalência alta de disfunções em idosos relacionadas a distúrbios
que afetam o sistema musculoesquelético, como capsulite adesiva, síndrome do impacto,
estenose do canal vertebral, distrofias neurorreflexas, dentre outras alterações.
// Capsulite adesiva
Refere-se a um quadro de enrijecimento articular como resultado da retração capsular e
caracteriza-se por reação inflamatória (cápsula articular) que leva ao espessamento, contratura e
sua retração. Como resultado, tem-se a redução da amplitude de movimento e dor.
É dividida em três fases: dolorosa, adesiva e fase de resolução. Na primeira delas, o curso tem
duração média de três a oito meses, com início insidioso da dor aos movimentos até progredir
para dor em repouso. A segunda fase é a fase adesiva, dura de quatro a seis meses, e, neste
período, a dor é menos forte e costuma desaparecer com o repouso, mas persiste aos
movimentos. Por fim, a terceira fase, chamada de resolução, que dura de um a três anos. Nesta
fase praticamente não há dor, mas há uma restrição de movimento importante. A Figura 6
mostra a retração capsular encontrada nos quadros de capsulite adesiva, também chamada de
ombro congelado.
// Síndrome do impacto
Trata-se de uma afecção musculoesquelética progressiva, que afeta a articulação glenoumeral.
Caracteriza-se por redução do espaço subacromial, associado a alterações na articulação
acrômio clavicular, no acrômio, nos tendões do manguito rotador, no tendão do bicipital
braquial, nas bursas, ligamentos dentre outras estruturas (REBELATTO; MORELLI, 2007).
Podem ter causas funcionais ou estruturais. Em idosos, uma das causas estruturais refere-se à
presença de doenças reumáticas, que causam, por exemplo, alterações no formato do acrômio.
Nestas situações, o paciente queixa-se de dor no ombro que piora os movimentos de rotação
externa e elevação acima de 90 graus, decorrentes do impacto do acrômio sobre as estruturas
moles nestas amplitudes. A longo prazo, o paciente evita realizar os movimentos que causam
dor, restringindo movimentos, o que pode evoluir para um quadro de capsulite adesiva.
Dependendo da gravidade, a síndrome do impacto pode demandar tratamento cirúrgico, mas,
em geral, os pacientes respondem bem ao tratamento conservador, que se pauta no uso de
medicações e fisioterapia (REBELATTO; MORELLI, 2007). A abordagem da fisioterapia pode
estar voltada às duas modalidades de tratamento, conservadora ou cirúrgica, e visa redução da
dor, melhora da amplitude de movimento, reequilíbrio muscular, correção dos eventos causais,
dentre outros objetivos que visam primordialmente a funcionalidade do idoso para que ele
consiga desempenhar as funções básicas de vida sem dor e limitações.
// Distrofias neurorreflexas
Também conhecidas pelos nomes de distrofia simpático-reflexa, atrofia de Sudeck ou síndrome
ombro-mão, tratam-se de síndromes dolorosas que vêm associadas a alterações vasomotoras e
tróficas, que acometem osso, cartilagem e estruturas periarticulares. Segundo Rebelatto e
Morelli (2007), são comuns em pacientes idosos após períodos de imobilização prolongados, e
atingem principalmente extremidades, mais comumente membros superiores. Iniciam-se com
quadros de inflamação (dor, calor, rubor, edema), seguidos de distrofia (edema, dor, mobilidade
prejudicada, cianose periférica, extremidade fria) e, na fase mais avançada, se caracterizam por
atrofia (pouca dor aos movimentos, hipotrofia da pele e dos músculos, restrições importantes de
amplitude de movimento e osteoporose (FREYTAS; PY, 2016).
Acerca da abordagem fisioterapêutica, pode-se evitar esta condição com medidas de
posicionamento adequadas, inclusive com uso de órteses, associadas à manutenção da
mobilidade, mediante realização de cinesioterapia (REBELATTO; MORELLI, 2007). Estas
medidas podem ser empregadas também no tratamento, de modo a regularizar as funções
musculares e vasculares, quando ainda não irreversíveis.
No geral, percebe-se que as doenças reumáticas em sua maioria, cursam com quadros
inflamatórios de característica crônica, associadas à dor, rigidez e limitações de movimento.
Estas condições impostas pelas doenças reumáticas fazem com que o paciente idoso reduza a
mobilidade em seu dia a dia, tanto pela dor, como pelas limitações de amplitude de movimentos
e até mesmo, pelo medo de cair, especialmente quando houver acometimento de membros
inferiores que possam alterar a marcha do idoso. Todos estes quadros decorrentes de doenças
reumáticas podem interferir de diferentes maneiras e intensidades no dia a dia, podendo gerar
desde pequenas limitações até limitações muito intensas em atividades de vida diária, como
higienizar-se, alimentar-se, transferir-se de um lugar para outro etc., tornando o idoso
dependente de outras pessoas.
Nestes casos, a fisioterapia está presente nas diferentes fases de tratamento, tanto na prevenção
de complicações decorrentes de doenças reumáticas, como na reabilitação, e, de maneira ampla,
os objetivos de tratamento se pautam na redução da dor e rigidez, melhora do movimento, da
força e da funcionalidade. Para atingir tais objetivos, o fisioterapeuta tem à sua disposição uma
série de recursos, que incluem cinesioterapia, eletroterapia, termoterapia, terapias manuais,
hidroterapia, uso de órteses, entre inúmeros outros recursos que devem ser selecionados com
base nos objetivos de tratamento.
Destaca-se que a definição dos objetivos de tratamento e condutas é feito com base na avaliação
do paciente, que deve ser realizada previamente a qualquer abordagem. Seguindo estas
recomendações, o fisioterapeuta pode promover maior independência e funcionalidade ao idoso
com doença reumática.
Esta relação entre o ambiente e a funcionalidade se torna mais evidente quando se percebe que,
na velhice, os pacientes permanecem a maior parte do tempo em suas casas e, portanto, é
primordial que sejam adotadas medidas para avaliação, planejamento e adaptações destes
ambientes, atendendo às necessidades que estes pacientes passam a apresentar à medida que
envelhecem.
Nestas situações, pequenas mudanças podem trazer muitos benefícios para o idoso no quesito
funcionalidade e prevenção de acidentes. Ressalta-se que o impacto do ambiente sobre a
funcionalidade vale tanto para idoso em processo de envelhecimento fisiológico, como,
principalmente, para idosos em processos de envelhecimento patológicos, pela maior limitação
funcional (FREITAS; PY, 2016).
Nos idosos sem doenças associadas, estas adaptações do ambiente são necessárias de modo a
atender às mudanças que acontecem nos sistemas do organismo de maneira natural ao longo dos
anos e resultam em pequenos déficits funcionais. Em contrapartida, nos idosos em
envelhecimento patológico, a presença de algumas doenças pode representar níveis variáveis de
incapacidades, uma vez que tornam possível acometer o sistema neurológico, cardiovascular,
respiratório, osteoarticular, dentre outros, causando redução da autonomia, da independência e
da funcionalidade no dia a dia.
Nos idosos mais ativos, a presença de um ambiente adequado, que atenda às necessidades
físicas gerais dos idosos, atua como agente preventivo de acidente, incapacidades e limitações,
tendo em vista que a estrutura física do local está condizente com o que o idoso precisa no dia a
dia, respeitando as condições impostas pelo envelhecimento. Em idosos mais dependentes, as
condições ambientais, quando não adequadas, podem limitar ainda mais tarefas simples e
rotineiras, representando um desafio diário, além daqueles impostos pelas condições de saúde.
No geral, um ambiente com limitações e obstáculos aumenta o risco de quedas pela ação de
agentes extrínsecos, sendo que elas possibilitam importantes agravos à saúde do idoso,
incluindo mobilidade e mortalidade.
Considerando esta íntima relação entre o ambiente e a funcionalidade do idoso, surge o
termo casa segura. Este conceito foi estabelecido pelo Ministério da Saúde e é voltado a
pessoas de todas as faixas etárias, contudo interessa mais à população idosa, considerando a
maior vulnerabilidade desta população. Além de garantir o máximo de segurança nestes
ambientes, o termo refere-se à garantia de conforto ao paciente. Para isso, profissionais de
diversas áreas de atuação podem estar envolvidos em projetos voltados a este fim, incluindo
arquitetos, engenheiros, decoradores, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais entre outros
profissionais.
A atuação nestes casos visa criar um ambiente funcional ao idoso, considerando as cinco
atividades básicas de vida: alimentação, higiene pessoal, transporte, lazer e descanso. Para
garantir uma casa segura do ponto de vista funcional, compreendendo quais aspectos do
ambiente não estão condizentes com as necessidades do idoso, inicialmente é necessário que
seja avaliado adequadamente o ambiente, para, posteriormente, elaborar-se o planejamento das
ações e a execução das adaptações necessárias.
// Entrada de casa
Preconiza-se que a entrada da casa seja de fácil acesso e sem barreiras, com área externa bem
iluminada de modo a facilitar a visão do idoso do interior para fora. A porta principal deve ter
mais de 80 cm de vão, com maçaneta tipo alavanca (horizontal) e com fechadura sobre a
maçaneta (SBOT, 2018): Entradas acessíveis da casa (iluminação, fitas antiderrapantes nos
degraus, corrimão de ambos os lados da escada e na lateral da rampa e maçaneta horizontal).
// Pisos
No uso de pisos cerâmicos, deve-se levar em consideração que geralmente causam acústica ruim
por não filtrar ruídos, são mais frios, não absorvem adequadamente o impacto em caso de queda
e são mais desconfortáveis. Quando utilizados, os pisos cerâmicos devem ser antiderrapantes.
No uso de pisos vinílicos, que geralmente são antiderrapantes, a absorção dos sons também é
ruim, mas o controle de temperatura é melhor. No uso de carpetes, destaca-se a capacidade que
têm de reter o calor e, apesar de terem melhor condição acústica, são mais difíceis de limpar e
limitam o trânsito de cadeiras de rodas. Por isso, considerando as diferentes características,
orienta-se a combinação de diferentes pisos para uma mesma casa, dependendo do cômodo e
das necessidades
Quanto à cor, deve-se evitar pisos muito coloridos porque dificultam a percepção de
profundidade. Além disso, os pisos devem estar sempre bem secos, sem nenhum obstáculo no
chão, como brinquedos, animais, roupas ou fios. Tapetes soltos devem ser evitados, mesmo que
tenham borrachas antiderrapantes, pois significam risco importante para quedas em idosos,
sobretudo em idosos com distúrbios de equilíbrio e marcha. Quando absolutamente necessários,
devem evitar o uso de tapetes muito altos e com predisposição à formação de dobras.
// Iluminação
Os interruptores devem estar dispostos logo ao lado das portas e suas cores devem ter contraste
com a parede, permitindo maior visibilidade. Luzes noturnas indiretas devem ser dispostas em
corredores e no acesso aos banheiros para evitar quedas devido à menor iluminação natural
durante a noite (FREITAS; PY, 2016).
// Escadas
As escadas devem ser bem iluminadas, com interruptores de energia no início e fim de cada
uma, devem ser livres de objetos, com corrimões de ambos os lados e com início e fim bem
demarcados. Sugere-se que os corrimões sejam de cores de destaque, diferentes da cor da
parede. Os degraus devem medir em média 80 cm e devem possuir piso e tiras antiderrapantes,
de preferência que estas fitas sejam de cores opostas à cor dos degraus, facilitando o contraste
ajudando na visão, de modo a ajudar a estabelecer os limites dos degraus (FREITAS; PY, 2016;
SBOT, 2018).
Sempre que possível, orienta-se que seja preconizado o uso de rampas ao invés de escadas, pela
maior segurança e funcionalidade destas e, neste caso, a rampa deve garantir no máximo 10%
de declividade e ter largura mínima de 90 cm. Os corredores, assim como as escadas, devem
possuir boa iluminação, com luz indireta durante a noite e presença de corrimões de ambos os
lados, com preferência de cor distinta da parede (BRASIL, 2019).
// Quarto
Deve-se optar por cama mais larga, com altura entre 0,45 m a 0,50 m incluindo o colchão, que
deve ter a densidade condizente com o peso do idoso. A altura da cama pode ser ajustada
também conforme a altura do idoso, sendo interessante que, mesmo sentado, consiga encostar
os pés no chão. Deve-se optar por cabeceiras acopladas às camas, macias, sem pontas e que
sejam firmes para o idoso apoiar-se, se necessário. É interessante uma mesa auxiliar acoplada à
cabeceira, que permita a colocação de relógio, copo de água e telefone, associada a uma gaveta
onde podem ser armazenados controles e lanterna. O quarto deve contar com abajur fixo na
parede ou bem posicionado na mesa lateral. Os armários devem ser leves e, de preferência, com
iluminação interna. A presença de cadeira ou poltrona facilita algumas atividades da vida diária
(AVDS) como colocar calçados (SBOT, 2018).
// Banheiro
São indicadas paredes firmes que permitam a instalação de barras de segurança, espaço interno
que permita a livre movimentação de duas pessoas (para o caso de o idoso necessitar de
cuidador) e porta de acesso com abertura para fora e com largura maior que 0,80 m. Em relação
ao box, este deve possuir piso antiderrapante, abertura maior que 0,80 m, fechamento do box
com sistema inquebrável, porta de correr ou apenas o uso de cortinas de plástico (BRASIL,
2019).
Devem ser instaladas barras de apoio de diferentes alturas no interior do box e, na parte externa
do box, deve ter um tapete antiderrapante com ventosas. Em relação ao armário, a parte inferior
do gabinete deve proporcionar movimentação ampla no caso de cadeira de rodas ou outros
dispositivos de marcha. Acerca do vaso sanitário, deve-se evitar vasos muito baixos,
preconizando-se altura média de 46 cm e, em casos de pacientes mais altos, deve-se optar pelo
uso de assentos de elevação (SBOT, 2018). Ao lado do vaso podem ainda ser instaladas barras
de apoio horizontais e o idoso deve ser instruído a não trancar a porta do banheiro ou que esta
tenha acesso externo em caso de emergência.
Vale lembrar que estas sugestões de adaptações são amplas, gerais e não consideram as
especificidades de cada idoso, de modo que, na prática, estas adequações devem considerar as
características individuais de cada paciente, suas necessidades e expectativas evidenciadas a
partir de avaliação. Isso porque criar um ambiente funcional por meio de uma casa segura
demanda requisitos além daqueles para criar um ambiente adequado para os idosos de maneira
geral. É necessário o olhar interdisciplinar sobre a funcionalidade do idoso.
Quando bem sugeridas, estas adaptações do ambiente em que o idoso vive podem compensar
perdas ou limitações funcionais, além de proporcionar ao idoso maior conforto, segurança,
acessibilidade e funcionalidade em seu dia a dia.