Lauren Royal - A Arte Da Tentação (Oficial)
Lauren Royal - A Arte Da Tentação (Oficial)
Lauren Royal - A Arte Da Tentação (Oficial)
Royal, Lauren
A Arte da Tentação/ Lauren Royal; tradução de Bianca Carvalho. Rio de Janeiro: Cherish
Books, 2021.
Tradução de:
ASIN
Capa
Prólogo
1. Um
2. Dois
3. Três
4. Quatro
5. Cinco
6. Seis
7. Sete
8. Oito
9. Nove
10. Dez
11. Onze
12. Doze
13. Treze
14. Quatorze
15. Quinze
16. Dezesseis
17. Dezessete
18. Dezoito
19. Dezenove
20. Vinte
21. Vinte e Um
22. Vinte e Dois
23. Vinte e Três
24. Vinte e Quatro
25. Vinte e Cinco
26. Vinte e Seis
27. Vinte e Sete
28. Vinte e Oito
29. Vinte e Nove
30. Trinta
31. Trinta e Um
32. Trinta e Dois
33. Trinta e Três
34. Trinta e Quatro
35. Trinta e Cinco
36. Trinta e Seis
37. Trinta e Sete
38. Trinta e Oito
39. Trinta e Nove
40. Quarenta
41. Quarenta e Um
42. Quarenta e Dois
43. Quarenta e Três
44. Quarenta e Quatro
45. Quarenta e Cinco
46. Quarenta e Seis
47. Quarenta e Sete
48. Quarenta e Oito
49. Quarenta e Nove
50. Cinquenta
51. Cinquenta e Um
52. Cinquenta e Dois
53. Cinquenta e Três
54. Cinquenta e Quatro
55. Cinquenta e Cinco
56. Cinquenta e Seis
57. Cinquenta e Sete
58. Cinquenta e Oito
59. Cinquenta e Nove
60. Sessenta
61. Sessenta e Um
62. Sessenta e Dois
63. Sessenta e Três
64. Sessenta e Quatro
65. Sessenta e Cinco
66. Sessenta e Seis
67. Sessenta e Sete
68. Sessenta e Oito
69. Sessenta e Nove
70. Setenta
71. Setenta e Um
72. Setenta e Dois
73. Setenta e três
Nota da autora
Agradecimentos
Para June Jørgensen Schelde-Mollerup,
que tem feito parte da minha familia
por mais de (engulo em seco) vinte e três anos.
Kilburton, Irlanda
Novembro de 1806
Numa terça-feira úmida, pouco depois de ele completar dezoito
anos, a vida que Sean Delaney conhecia deixou de existir.
Primeiro, ele recebeu uma carta, um acontecimento em si. Todos
os conhecidos de Sean viviam na vila de Kilburton — ninguém
nunca teve motivos para escrever-lhe. Parecia uma carta muito
oficial também. Enquanto Sean observava o rapaz que a entregara
recuar pela estrada, sua mãe veio da sala de estar onde estava
servindo chá para algumas mulheres da paróquia.
— Não era Mary McBride, era? — Ma perguntou. — Ela está
atrasada.
— Não era a Sra. McBride, não. — Sean fechou a porta e virou-
se para ela, a única folha dobrada na mão. — É uma carta. Para
mim.
— Para você? — Seu rosto agradável e sincero parecia tão
surpreso quanto ele. — Bem, abra, então.
Ele acenou com a cabeça e rasgou o selo.
— De quem é? — ela perguntou impaciente.
— Um advogado. — Abaixo do imponente cabeçalho gravado,
ele examinou a página. — Em nome do Sr. Patrick Delaney…
— Quem é esse?
Ele encolheu os ombros.
— Um dos parentes de papai, eu suponho.
— Seu pai não tem parentes vivos. — Ela franziu o cenho. — O
que ele está querendo, então?
— Ele está querendo… — Ele leu mais e engasgou. — Ele não
quer nada. Ele está morto. E deixou dez mil libras. Para mim.
— Dez mil libras?
Para a esposa de um vigário como Ma, o número era quase
incompreensível — o suficiente para sustentar um morador, sua
família e um ou dois empregados por cinquenta anos. Olhando para
Sean, ela lentamente se abaixou para uma cadeira de carvalho
simples. Vozes femininas abafadas irromperam da sala de estar —
suas convidadas estavam fofocando, sem dúvida. Estranhamente,
ela as ignorou.
— Dez mil libras, Sean. O que você fará com tanto dinheiro?
— Não sei — disse ele.
Mas ele sabia. Ele soube instantaneamente. Só não queria
contar a ela.
Ele não queria desapontá-la, ainda não.
— Estou com vontade de dar uma caminhada. — Ele retirou uma
pesada capa de lã do gancho perto da porta. — Eu não vou demorar
muito — prometeu suavemente antes de deslizar para fora.
Estava chovendo, como de costume naquela época do ano.
Como sempre, o ano todo. Colocando a carta dentro da capa onde
ficaria seca, ele correu pela rua.
Uma grande quantidade de dinheiro, mais do que a mãe vira em
toda a sua vida. Ela gostaria que ele fizesse o bem com isso. Obras
de caridade ou algo assim. Afinal, ela era a esposa de um vigário, e
muito gentil.
Mas Sean não queria fazer o bem. Oh, ele pagaria o dízimo
esperado. Ele era filho de um vigário, talvez não tão devoto quanto
seu pai desejaria, mas também não era rebelde. O dízimo seria um
benefício sem precedentes para a paróquia, algo que Sean teria o
prazer de fornecer. Ele havia sido criado com todas aquelas
pessoas — passou sua vida inteira cercado por elas, encasulado em
sua familiaridade confortável — e parecia certo que deveriam
compartilhar um décimo de sua boa sorte.
Mas, depois disso, ele deixaria a Irlanda.
Ele iria para Londres.
Construiria uma vida para si mesmo, algo melhor do que jamais
imaginou, tendo crescido na pequenina Kilburton.
Não ia ser fácil deixar parentes e amigos para partir sozinho. Ele
sabia disso. Seu coração parecia tão pesado quanto leve quando
ele se afastou da aldeia e cruzou os campos colhidos, vagou pela
antiga margem do rio. Tocando a preciosa carta sob sua capa, ele
alternadamente ria, ponderando sobre sua imensa sorte, e tremia,
imaginando o que o esperava.
Três horas se passaram — três horas tensas e estimulantes —
antes que ele respirasse fundo e voltasse para casa. Parou de
chover. Quando ele reentrou na aldeia, o sol estava se pondo no
horizonte, seus últimos raios lutando através da cobertura de
nuvens enquanto ele caminhava em direção ao vicariato. Pouco
antes de chegar à casa atarracada, duas figuras saíram dela,
sombras escuras contra o brilho prateado.
— Você não tem escolha. — A voz do Honorável Sr. William
Hamilton veio baixa e zangada através da escuridão. Um homem
imponente, senão alto, tinha a mesma altura do filho que puxava
sua carruagem elegante.
— Não dessa vez.
Perguntando-se o que estava acontecendo, mas não querendo
ser visto, Sean se escondeu atrás de uma árvore.
— Você pagou aquela garota da aldeia sem nenhuma
repercussão. — O jovem John Hamilton parecia taciturno, furioso. —
E aquela empregada…
— Duas. Duas empregadas humildes. — Seu pai o empurrou
pelo degrau da carruagem acima. — Ela não é uma criada qualquer,
seu idiota — ele murmurou, seguindo seu filho para dentro. — Eu
perderia reputação se você não…
A porta se fechou e Sean não ouviu mais nada. Quando a
carruagem partiu, ele saiu de trás da árvore e correu para dentro de
casa.
Estava quente, acolhedor, preenchido com a luz suave de
lamparinas a óleo e perfumado com o aroma do bolo de uísque que
sua mãe tinha feito antes para suas convidadas. Uma boa casa,
simples, mas limpa e cuidada. Sean tinha uma boa família, uma
irmã três anos mais nova e pais que sempre estiveram presentes
para os dois, dando tudo de si, embora nunca tivessem tido muito a
dar materialmente.
Ele ficou triste, sabendo que logo deixaria tudo aquilo, mas
também animado com sua nova vida. Porém, principalmente, ele
estava muito curioso para saber o que fez com que os Hamiltons
deixassem sua enorme mansão para fazer uma visita ao modesto
vicariato.
Ouvindo vozes da sala de estar, ele se dirigiu para lá. E parou
quando sua irmã se virou para ele com um sorriso.
— Vou me casar com John Hamilton.
Sean ficou boquiaberto com Deirdre, de quinze anos. Ele não
poderia ter ouvido direito.
— O que você acabou de dizer?
Seu cabelo dourado brilhando à luz do fogo, ela ergueu o queixo.
— Sr. Hamilton disse a John que ele teria que se casar comigo.
— Mas por quê? — Seu olhar passou do rosto sem sangue de
seu pai para os olhos de sua mãe, inchados de tanto chorar. Só
poderia haver um motivo para eles estarem assim, um motivo pelo
qual John Hamilton poderia ser forçado a se casar com Deirdre.
— Não me diga que você está… — Enquanto ele olhava para
sua irmã, o resto da frase ficou presa em sua garganta.
Seu sorriso se alargou quando ela cruzou as mãos sobre a
cintura enganosamente plana.
— Eu estou grávida, sim. E serei a esposa de John Hamilton, o
homem solteiro mais bonito e rico de toda Kilburton.
Em todo o município, para ser mais preciso. A nova e imponente
mansão dos Hamiltons ficava à sombra de sua casa ancestral, o
centenário Castelo Kilburton. O pai de John Hamilton era o irmão
mais novo do conde de Lincolnshire, enviado anos atrás para
supervisionar Kilburton, uma das muitas propriedades menores do
conde.
Enquanto cresciam, Sean e Deirdre foram educados em uma
escola fria de uma única sala, enquanto John tinha um desfile de
professores particulares de inglês. O menino sempre foi
temperamental, e Sean o considerava arrogante, insensível e
egoísta. Mas os dois nasceram no mesmo ano e, como não havia
outros meninos da idade deles em Kilburton, a mãe de Sean lhe
dizia para brincar com John de qualquer maneira. Afinal, ela
costumava dizer — muitas vezes, na opinião de Sean — que era a
coisa cristã a se fazer.
Por ser um filho obediente, Sean obedecia e brincava com o
sujeito mais vezes do que podia contar. Mas Hamilton sempre quis
ficar dentro de casa mexendo com pasta e tinta, enquanto Sean
preferia atividades ao ar livre, como pescar e construir fortes. Ele
nunca gostou de John Hamilton.
Deirdre, por outro lado, uma garota bastante selvagem e a ruína
da existência de seus pais, obviamente gostava muito de John
Hamilton.
O suficiente para deixar John arruiná-la.
Mesmo assim, Sean amava sua irmã. Ela era bonita e divertida,
a melhor das companheiras, sempre pronta com um sorriso e um
plano para as travessuras. Olhando para ela agora, seus olhos
dançando, Sean cerrou os punhos.
Ele não tinha mais antipatia por John Hamilton… ele odiava o
canalha.
Para sempre.
Dez anos depois
Museu Britânico, Londres
Abril de 1817
— Q UEREMOS
femininas.
ver a Pedra de Roseta — falaram duas vozes
— Acho que nos veremos novamente. Meu irmão quer falar com
você. Ele quer pedir seu conselho sobre gestão de propriedades.
— Ele sabe da verdade?
— Ele gosta de você. Ele está impressionado com seu senso
empresarial.
— Não pensei que os marqueses estivessem interessados em
negócios.
— Em geral, eles não estão, mas Griffin é um pouco diferente.
Ele nunca quis ser marquês. Ele gosta de estar no centro das
coisas. Ele estava na cavalaria, você sabe, antes de nosso irmão
mais velho morrer. Um oficial. Liderou campanhas na Guerra
Peninsular. Embora reclame de muitas responsabilidades, acho que
em seu coração ele se sente um pouco inútil agora e gostaria de
encontrar algo próprio, mais desafiador, mais envolvente.
— Gerenciar uma propriedade pode ser muito envolvente. —
Seu irmão parecia um homem que ele poderia admirar. E se o
homem o admirava também, então…
Não fazia sentido pensar naquela direção. Mas ele segurou
Corinna um pouquinho mais perto e deu outro beijo no topo de sua
cabeça, inalando o cheiro floral quente de seu cabelo.
— É melhor voltarmos — disse ele com pesar, pegando a mão
dela e os puxando para fora das árvores. — Ou as pessoas virão
nos procurar.
— Isso não seria bom — ela concordou, movendo-se com ele. —
Juliana viria nos procurar primeiro, e depois quem sabe o que
aconteceria. — Enquanto ele se perguntava o que poderia
acontecer, eles entraram no caminho. — Gostei do que você disse
lá — disse ela. — Na galeria de fotos.
— Na galeria de fotos. Os santos nos protejam. Acho que não
disse nada que não fosse um desastre.
— Você disse que o trabalho de um artista deve ser autônomo,
que sua identidade, ou a dela, espero que todos que estavam
ouvindo concordem, não deve influenciar a opinião do espectador
sobre qualquer imagem específica. — Com a mão macia e quente
na dele, ela olhou para ele e sorriu. — Onde você inventou isso?
— Hamilton — ele admitiu, com grande desgosto. — Ele disse
algo muito parecido, e eu me lembrei. Em meu desespero para soar
artístico, simplesmente saiu voando da minha boca.
— Eu sei que você o despreza por um bom motivo, mas estou
muito feliz em saber que ele pensa assim. Isso torna muito mais
provável que ele vote na minha pintura.
Sean achava que não. Ela não sabia o resto do que Hamilton
havia dito — a parte sobre mulheres que nunca pintam bons
retratos. Mas ele não ia dizer isso a ela, não agora. Ele não iria
estragar o último desses poucos momentos roubados juntos.
— Ele já deve estar de volta — ele disse a ela em vez disso,
puxando sua mão da dela quando a casa apareceu. Fragmentos
fracos de música flutuaram até eles pelas portas francesas abertas.
— Ele disse que estaria ausente duas semanas, e já terão se
passado duas semanas na quinta-feira. Mas em vez de voltar para
casa para cuidar de tudo, ele mandou uma carta.
Ela cruzou as mãos diante de si, como se talvez não estivesse
segurando as dele. Ele esperava que sim. Mas sabia que não
deveria.
— Tudo bem — disse ela. — Se ele voltasse para casa agora,
ele poderia arruinar os últimos dias de seu tio. O que a carta dizia?
— Ele está pintando a Dama da Cachoeira e não quer parar
agora. Mas estou suspeitando que a senhora que ele não quer
deixar está em sua cama. — O canalha. — Ele me disse para não
me preocupar; ele estará em casa bem antes da votação da
Exposição de verão.
— Não espero que você esteja se preocupando — disse
Corinna. — Você obviamente não pode votar por ele. Assim como
você não pode ir à recepção de Lady Avonleigh na próxima semana
em seu lugar. Dez dias — acrescentou ela com um suspiro
enquanto se aproximavam das portas francesas abertas,
instintivamente se afastando para que não parecesse que tinham
feito nada além de conversar. — Em dez dias, minha pintura será
entregue e Hamilton voltará para casa.
— Ele deve voltar antes disso. Ele disse que estaria aqui bem
antes da votação.
— Então, em menos de dez dias, você estará livre.
Sean não estaria livre até que Lincolnshire falecesse, a menos
que Hamilton tumultuasse tudo.
Mas ele não queria dizer isso.
Por mais que ele quisesse sua vida de volta, e soubesse que ele
e Corinna estavam ficando muito próximos, dez dias em sua
companhia não pareciam muito tempo.
— C omo Lorde Lincolnshire está hoje? — Sean perguntou ao
entrar na casa do homem, no final da tarde de segunda-feira.
Quincy suspirou, um som piegas que dizia tudo.
— Talvez você deva perguntar ao seu novo médico.
— Novo médico?
— Ele está com ele agora. Segundo médico o visitando hoje.
Alarmado, Sean dirigiu-se à escada de cristal. Vendo Corinna
dentro do salão quando ele passou, ficou tentado a parar. Mas ela
estava de costas para ele e parecia absorta, cantarolando
desafinadamente enquanto enxugava vigorosamente a pintura.
E Lincolnshire tinha precedência agora independentemente.
Sean subiu os degraus de dois em dois, estremecendo ao som
da tosse de Lincolnshire. Aparentemente ouvindo os passos de seu
irmão, Deirdre correu para o corredor.
— Você voltou cedo hoje — ela sussurrou.
— Ele não estava bem esta manhã.
— Foi por isso que decidi ficar em casa com ele. Ele estava
sentado para Lady Corinna quando começou a tossir sangue. Só um
pouquinho, mas…
— Um pouquinho é demais.
Ela assentiu.
— Lady Corinna o mandou para cima. A enfermeira Skeffington
chamou o médico dele e, em seguida, Lorde Stafford chegou
também. Dr. Dalton estava pálido. —Seus olhos estavam
arregalados. — Ele empacotou suas sanguessugas e saiu.
— Suas sanguessugas? — Sean fez uma careta antes de
registrar o resto das palavras de Deirdre. — Lorde Stafford? O
cunhado de Corinna?
Ela assentiu novamente.
— Lady Corinna lhe enviou um bilhete. Ele está com Lorde
Lincolnshire agora. — Ela apontou para a porta, e eles se dirigiram
para ela.
— Minha recomendação é que as sanguessugas, o sangramento
e a formação de bolhas sejam interrompidos — Lorde Stafford
estava dizendo ao conde quando eles entraram. — A escolha é sua,
é claro, mas não acredito que esses tratamentos surtam algum
efeito, a menos que você queira apressar o seu fim.
Lincolnshire balançou a cabeça freneticamente e tossiu
novamente.
— Aqui. — Levantando uma xícara da mesa de cabeceira do
conde, Lorde Stafford se aproximou e a levou aos lábios. — Tome
um gole por mim, sim? Isso vai acalmar sua garganta e o calor vai
aliviar seus pulmões. — Ele se endireitou e olhou para Sean. — Boa
tarde, Sr. Hamilton.
Considerando que o homem sabia que ele não era Hamilton, ele
disse isso sem problemas, pensou Sean.
— Obrigado por atendê-lo. Achei que você dirigisse uma clínica
de varíola.
— Eu passo a maior parte dos dias vacinando, sim. Mas também
vejo alguns pacientes muito especiais. — Ele dirigiu um sorriso
gentil para Lorde Lincolnshire. — Outro gole por mim, como um
favor?
O conde pegou um muito pequeno.
— Ele tem um apetite minúsculo — disse Deirdre.
— Ele está sem dúvida enjoado — explicou Stafford. — Embora
não possamos ver, é claro, seus órgãos internos estão inchando
junto com as partes que podemos ver. Ele não vai querer comer
muito, mas você deve encorajá-lo a comer o que puder.
Principalmente o chá.
— Nós vamos fazer isso — disse Sean. — E não devemos
permitir que o Dr. Dalton aplique mais sanguessugas, então, não é
mesmo?
— É minha convicção de que esses tratamentos só deixarão
Lorde Lincolnshire mais desconfortável. Melhor deixar as coisas
progredirem naturalmente, a meu ver. Mas eu não espero que o Dr.
Dalton retorne, de qualquer forma. — Stafford pôs uma das mãos
afetuosamente no ombro do conde. — Vou cuidar de Lorde
Lincolnshire agora.
Lincolnshire deu-lhe um sorriso fraco.
— Obrigado — ele sussurrou, fechando os olhos.
— Não fiz nada de mais. Eu faria qualquer coisa por você, assim
como todo mundo que teve a sorte de participar da sua vida.
Não Hamilton, Sean pensou sombriamente, observando a
respiração do conde se equilibrar. Sua cabeça tombou contra os
travesseiros. Não importava sua aparência alegre, Lincolnshire
estava enfraquecendo. Ele não duraria muito mais. Embora Sean se
arrependesse de passar o dia fora de casa, ele precisava conversar
com seus contatos para descobrir onde mais criados de Lincolnshire
poderiam ser colocados. Ele queria garantir a paz de espírito do
conde antes de morrer.
Stafford colocou o estetoscópio na bolsa de couro preta e o
prendeu com um estalo.
— Voltarei pela manhã. Eu confio na enfermeira Skeffington para
cuidar bem dele nesse intervalo.
Deirdre olhou com gratidão para a mulher robusta que pairava
nas proximidades.
— Claro. E Sean e eu cuidaremos dele também.
Sobrinha real de Lorde Lincolnshire por casamento, Deirdre
estava se mostrando mais devotada do que Sean esperava. Mais
adulta do que ele imaginava. Ele lhe deu um sorriso triste de
aprovação antes de seguir Stafford escada abaixo.
Os dois homens pararam na porta do salão. Corinna ainda
estava de costas, mas não estava mais pintando. Ela não estava
cantarolando também, apenas ficou lá, olhando para sua tela.
Seu cabelo estava preso e a nuca parecia vulnerável. Algo
dentro de Sean se mexeu, uma longa e líquida repuxada.
Como se pudesse sentir o mesmo, ela se virou.
— Sean. E James. — Juntando-se a eles no hall de entrada, ela
olhou para o cunhado preocupada.
— Lorde Lincolnshire adormeceu. Coloquei uma gota de láudano
em seu chá. Ele está descansando tranquilamente por enquanto.
— Ele pode melhorar, então, você acha?
— Temo que não — disse Lorde Stafford gentilmente. — É claro
que é difícil prever o caminho de uma doença. Ele pode ter uma
hora ou um dia em que parece melhor, mas no geral continuará a
declinar. — Ele se aproximou e beijou sua bochecha. — Você
estava certa em mandar me buscar. Juliana sugeriu que eu o visse,
mas não percebi que a situação era tão urgente.
— Obrigado por vir. — Ela o acompanhou até a porta da frente,
que o competente Quincy já mantinha aberta. — Eu sei que Lorde
Lincolnshire está nas melhores mãos — ela adicionou suavemente.
Ela o observou descer os degraus e esperou que Quincy
fechasse a porta antes de se virar para Sean.
— Quando você chegou em casa?
Aquela não era sua casa, mas ele deu de ombros, cansado.
— Há algum tempo. Você parecia muito ocupada.
— Eu terminei.
— Já está saindo, então?
— Eu terminei. A pintura.
— Oh. — Ele piscou. — Posso dar uma olhada?
— Sim, eu esperava que você desse. — Ela hesitou um
momento antes de voltar para o salão, acenando para ele segui-la.
À medida que se aproximavam da tela, ela parecia prender a
respiração. — O que você acha?
— Parece com Lincolnshire. Um Lincolnshire mais saudável e
vital. — O homem que se sentaa para ela misturado com o Lorde
mais jovem de suas memórias, Sean supôs.
Era um retrato de corpo inteiro, uma pose natural no lugar da
formalidade típica de cabeça e torso. A pintura mostrava o conde
sentado em um banco embaixo de um plátano na Berkeley Square
— talvez o mesmo banco onde Sean havia contado a verdade para
Corinna. Lincolnshire não estava tomando um sorvete da Gunter, no
entanto; em vez disso, ele segurava um livro pesado com capa de
couro. Em vez de ler, parecia que ele tinha acabado de olhar para
cima, distraído pelo visualizador que passava. Ele parecia relaxado
e contemplativo. E muito vivo.
— Está bom — disse Sean simplesmente.
Corinna exalou com pressa.
— Você não sabe nada sobre arte.
— Eu sei do que gosto e parece-me muito bem-feito. Você vai
enviá-lo para a Exposição de Verão, não é?
— Eu espero. Mas primeiro vou mostrá-lo na recepção de Lady
Avonleigh na quarta-feira. — Ela o entregaria, junto com uma
seleção de suas outras pinturas, na casa de Lady A no dia seguinte.
— Quero ver o que os artistas dizem sobre isso.
— Os juízes.
— Sim. — Ela mordeu o lábio e encontrou seu olhar, o
nervosismo de repente pulando em seu estômago. — Espero que
gostem.
Sua voz tremeu e ela se perguntou se ele tinha ouvido. Ele não
disse nada, então ela não sabia. Ele apenas olhou para ela por um
momento. Apenas olhou para ela, enquanto ela estava lá desejando
não ter almoçado, porque ela sentiu como se a carne fria e as frutas
que mordiscou estivessem prestes a voltar.
De repente, ele se virou e voltou para a enorme porta entalhada
e dourada do salão e fechou-a com um baque pesado. Então se
virou novamente para encará-la.
— Você está nervosa — afirmou ele naquele tom baixo e
melódico que fez tudo mudar dentro dela. — Venha aqui, Corinna.
Ela correu para os braços dele, erguendo o rosto para o beijo.
Mas ele não a beijou, apenas a segurou, com força, murmurando
sons sem palavras de conforto, ou talvez fossem palavras
irlandesas — ela não sabia. Mas justo naquele momento, ela se
apaixonou.
A realização a deixou sem fôlego, fez seu coração hesitar uma
vez antes de disparar mais rápido. Ela deslizou as mãos por baixo
do fraque e ao redor dele. Apertou-o como ele a havia apertado, tão
forte quanto ela podia.
— Não há nada para ficar nervosa — disse ele suavemente,
passando as mãos para cima e para baixo em suas costas. — É
uma pintura adorável.
Ela virou a cabeça para encostar a bochecha em seu peito
quente e reconfortante, desejando que não houvesse uma camisa e
um colete entre eles.
— Eu sei.
— E você tem muito mais pinturas em casa, não tem? Portanto,
se os juízes não concordarem, eles podem escolher outra.
Ele cheirava a amido, sabão e homem.
— Eu sei. — Homem insuportavelmente masculino.
— E se eles não escolherem nenhuma, sempre há o próximo
ano. Você não vai desistir. Eu conheço você.
Ela o conhecia também. E o amava. Ela não achava que poderia
contar a ele — havia tanta coisa acontecendo ao redor deles, tantas
outras coisas complicando suas vidas. Mas ela levantou o rosto
novamente, esperando que desta vez ele a beijasse para que ela
pudesse dizer a ele sem palavras.
E ele o fez.
Foi um beijo gentil, nada parecido com os que haviam
compartilhado antes. Seus beijos tendiam a ser tempestuosos. Mas
esse era tranquilo, lento e calmante — exatamente o que ela
precisava.
Ternos e carinhosos, seus lábios deslizaram sobre os dela, sem
pressa. A língua dele varreu sua boca lentamente, luxuosa e
deliberada, como se prová-la, descobri-la e fazê-la se sentir melhor
fossem as únicas coisas com que se importava no mundo inteiro.
Ela estremeceu. Mas não com nervosismo agora, porque ele
estava certo: sempre havia o próximo ano, e naquele momento esse
dar e receber, essa carícia prolongada, pareciam muito mais
importante. Ela se perdeu nele, perdeu-se na magia do amor e em
todas as suas promessas.
Uma batida chegou à porta, e eles se separaram. Sean girou e
abriu.
— Deirdre.
Sua irmã piscou, olhando entre eles.
— Eu sinto muito. Eu não queria interromper.
— Não, não. — Ele a puxou para dentro. — Lady Corinna estava
apenas me mostrando sua pintura acabada.
Corinna temeu que a outra mulher pudesse ver a verdade em
seu rosto — ou melhor, seus lábios, que estavam formigando e
pareciam completamente beijados. Mas se Deirdre sabia, ela não
deixou transparecer.
Seus próprios lábios se curvaram em um leve sorriso enquanto
ela caminhava em direção à pintura.
— Oh, Lady Corinna, isto é absolutamente adorável. Conte-me
sobre isso, sim?
Pelas costas de Deirdre, Corinna compartilhou um último e
prolongado olhar com Sean, sentindo-se muito melhor sobre tudo.
Ela estava apaixonada e sabia que isso importava mais do que
qualquer pintura.
Abraçando seu novo segredo para si mesma, ela foi se juntar à
irmã dele.
BOLOS DE AMÊNDOAS
Moa meio quilo de amêndoas e misture com meio quilo de açúcar e
suco de laranja ou de limão. Acrescente dez gemas de ovos batidas
e as cascas fervidas de duas laranjas ou limões moídos finos.
Misture com ovos brancos firmes, manteiga derretida fria e leve ao
forno tudo em uma forma adequada.
Minha mãe disse que esses bolos trazem sorte e, de fato, dei-os a
meu marido no dia em que ele me pediu em casamento! Serve para
assegurar o seu sucesso ou qualquer outro evento que gostaria de
ver correr bem.
— Katherine, condessa de Greystone, 1765
Tenho uma ideia que gostaria de discutir com você. Como vou levar
Corinna ao baile de Teddington hoje à noite, espero que você
também compareça.
Com carinho,
Cainewood
— CORINNA?
Uma batida soou em sua porta fechada.
— Você está bem? — Juliana chamou.
Corinna poderia ter ignorado qualquer outra pessoa, mas não
havia como ignorar Juliana.
— Eu vou sobreviver — ela murmurou, rolando e se erguendo
para sentar-se na beira da cama. Percebendo que estava
segurando o colar de compromisso, ela o enfiou embaixo do
travesseiro e, com as costas da mão, enxugou o resto das lágrimas
do rosto. — Entre.
Juliana obedeceu, segurando um pedaço de papel grosso de cor
creme com um grande lacre vermelho rasgado.
— Chegou uma carta para você.
Exatamente o que ela precisava agora, a notícia de sua rejeição.
Bem, pelo menos o suspense acabaria.
— Da Academia Real?
— Do ex-advogado de Lorde Lincolnshire. Dirigido ao “Marquês
de Cainewood”. E dentro dele diz: “Meu Senhor Marquês e Lady
Corinna Chase”.
— O que o advogado quer? — Não que Corinna realmente se
importasse.
— Você está convidada a assistir à leitura do testamento do
falecido conde nos escritórios do Sr. Lawless, na Queen Street na
segunda-feira ao meio-dia.
Corinna encolheu os ombros.
— Lorde Lincolnshire provavelmente nos deixou uma bugiganga.
Um de seus quatrocentos vasos Ming ou algo assim. Por ser gentil
nos últimos dias.
— Eu não acho que ele deixaria para você e Griffin um vaso.
Dois, talvez. —Juliana sorriu, um esforço transparente para levantar
o ânimo de Corinna. — Estou faminta. A recepção em Lincolnshire
House está terminando, então vim até aqui para pedir aos
funcionários que servissem um jantar em família antes de o resto de
nós ir para casa. Você vai descer e se juntar a nós? E onde está
Griffin?
— Por que eu deveria saber? — Corinna fez uma pausa. — E
como você leu uma carta endereçada a Griffin, se você não o viu?
— Bem, obviamente — Juliana disse alegremente —, eu abri.
G riffin tinha beijado Rachael em seu estúdio. Beijou-a em
seu escritório, enquanto a colocava em um longo sofá de
couro, e agora, uns bons trinta minutos depois, ele estava
meio deitado em cima dela, ainda beijando-a.
Ela já havia sido beijada antes, mas não por alguém que
beijasse assim como Griffin. Ele colocou todo o seu coração e alma
em um beijo. Quando a estava beijando, ela estava totalmente
convencida de que sua mente estava voltada para nada além disso.
Para nada além dela. O que tornava difícil pensar em qualquer coisa
além dele também.
Na verdade, ele tornava difícil pensar.
Seus beijos passaram de doces a quentes para ardentes e
voltaram novamente. De suaves a profundos, de apressados a sem
pressa e a frenéticos. Seus sentidos estavam cambaleando, e sua
boca parecia cheia com o gosto dele — macho quente e conhaque.
Seu sangue parecia cheio dele, também, correndo por suas veias e
batendo em um ritmo sedutor em seus ouvidos.
Quando ele finalmente se afastou, lutou para se apoiar nos
cotovelos e olhá-la, ela ainda achava difícil pensar. Seus olhos eram
tão intensos, seu sorriso atordoado um pouco torto, parecendo
delicioso. Colocando a mão atrás de seu pescoço, ela puxou sua
boca de volta para a dela e o beijou novamente.
Muito tempo depois, ele se afastou mais uma vez e a cabeça
dela finalmente clareou.
Um pouco.
— Você não é meu primo — ela murmurou.
— Eu sei.
— Isso significa que podemos nos casar.
Ele saiu de cima dela como um tiro.
— Ah, não.
— Ah, não? — Empurrando-se para uma posição sentada, ela
decidiu que provavelmente se chocou tanto quanto ele ao dizer isso.
Mas era verdade.
Ela queria se casar com Griffin.
Ela o amava.
Ela não tinha certeza de quando se apaixonou, porque nunca
tinha admitido isso a si mesma antes — não tinha sido capaz de
fazê-lo, por nunca ter superado pensar nele como um primo. Mas
ela sabia que podia apoiar-se em Griffin; sabia que podia contar
com ele, porque ele estaria sempre lá para ela — ele tinha lhe
mostrado isso, não era verdade? E essa não era a qualidade mais
importante para um marido?
—Oh, sim — disse ela —, quero me casar com você.
— Você não quer se casar comigo — ele respondeu
categoricamente, uma pitada de pânico naqueles olhos verdes. —
Você acha que eu sou um patife irresponsável.
— Não mais. — Ou não exatamente. Sim, ele dizia coisas
estúpidas e às vezes também fazia coisas estúpidas. Tinha seus
defeitos. Mas que homem não tinha? Pelo menos ela conhecia as
falhas dele e sabia no que estava se metendo com ele.
E ela nunca sentiu essa poderosa força de atração com qualquer
homem, exceto Griffin.
Ela o amava exatamente como ele era, com defeitos e tudo.
— Eu quero me casar com você — ela discordou. — E, sério,
como você pode me recusar? Você está me beijando há meia hora.
Ele mudou de pé, olhando para longe dela.
— Foram só beijos, Rachael. E você que os pediu. Não pode
esperar que um homem rejeite uma oferta como essa.
Ele não a beijou apenas porque ela pediu. Ela podia ser uma
idiota por não perceber que não havia razão para não se casar com
ele, mas não era tão idiota a ponto de não saber quando um homem
a queria.
Griffin a desejava há dois anos, no mínimo. Um homem não
olhava para uma mulher do jeito que ele olhava para ela — ou a
beijava do jeito que ele acabou de fazer — a menos que a quisesse.
E ele a amava também. Ela tinha certeza disso. Veja todos os
problemas que ele teve para encontrar a família dela. Um homem
não assumiria tudo aquilo por uma mulher que não amava.
Ela não podia deixá-lo escapar dizendo que o tempo que eles
haviam passado nos braços um do outro foram apenas beijos.
— Você está me dizendo que todos aqueles beijos não
significaram nada?
Ele olhou de volta para ela.
— Foi o que acabei de dizer, não é?
Oh, isso veio muito facilmente. Ela fez a pergunta errada.
— Você não gostou deles, então? De jeito nenhum?
Ele não tinha uma resposta para isso, o que não a surpreendeu.
Ele estaria mentindo se alegasse que não tinha se divertido.
— Diga-me, Griffin — ela sussurrou, bastante divertida com seu
crescente desconforto —, você aprovaria um homem beijando
Corinna por meia hora se ele não tivesse intenção de se casar com
ela?
Ele não poderia dizer isso sem mentir, é claro. Para seu crédito,
ele não o fez.
—Não, eu não aprovaria. Mas ela é minha irmã.
— Bem, eu acho que mereço o mesmo respeito que sua irmã. —
Levantando-se do sofá, ela pegou sua bolsa. — Então, a menos que
você mude de ideia e declare suas intenções, acredito que nunca
mais me beijará.
Seus lábios ainda estavam macios com os beijos dessa noite, e
ela queria mais. Mas não estava preocupada porque não iria tê-los.
Outra das falhas de Griffin era resistir às oportunidades, mas ele
acabaria por mudar de ideia.
Ela imaginou que ele a beijaria dentro de uma semana.
Ele saltou para evitá-la enquanto ela se dirigia para a porta.
Alcançando-a, ela colocou a mão na maçaneta e olhou por cima do
ombro.
— Você vai ao baile de Lady Hammersmithe amanhã à noite?
— Estou planejando levar Corinna.
Deliberadamente, ela lambeu os lábios, esperando uma reação,
escondendo um sorriso ao vê-la em seus olhos.
— Eu te vejo lá, então — ela praticamente ronronou enquanto
abria a porta e saía valsando.
A atmosfera em Hampstead estava muito densa naquela
noite de sexta-feira. Tão espessa que parecia um sacrifício
respirar. Apenas puxar o ar para dentro e para fora de seus
pulmões parecia levar tudo que Sean tinha.
Sentado em frente a Deirdre em sua sala de jantar, ele empurrou
seu prato sobre a mesa de mogno.
— Eu não estou com fome. Não como há três dias e não estou
com fome.
Sua irmã sabia o que ele havia perdido. Quando ele perguntou a
ela onde poderia encontrar o colar de compromisso, ela não
perguntou por quê.
— Sinto muito por você, Sean — disse ela suavemente, seus
olhos inundados de simpatia.
Ele não queria simpatia — ele queria que o calendário voltasse
para abril, antes de receber aquela maldita carta de Hamilton.
Desviando o olhar, ele olhou para uma parede azul.
— Não sou eu que preciso voltar para um marido que desprezo.
— Pelo menos o homem que amo não é totalmente proibido para
mim, como Corinna é para você. Vou dar um filho a John e depois
vou morar com Daniel.
Cético, ele olhou para ela.
— Você deixaria seu filho?
Seu queixo altivo era tão familiar.
— Para não ficar com John, sim.
— Se você diz — murmurou. Mas ele sabia que ela não faria
isso. Assim que tivesse um filho ou filha, ela mudaria de ideia.
Hamilton baniria Deirdre e sua prole para o campo, e ela viveria lá,
completamente entediada, pelo resto de sua vida.
E mesmo que ela encontrasse vontade de deixar seu filho,
Daniel Raleigh esperaria um ou dois anos ou mais enquanto ela
teria um filho com Hamilton?
Ele duvidava disso também.
— Duas cartas, senhor. — Um lacaio entrou, segurando-as. —
Uma para você e outra para a senhora.
Com seu grande selo vermelho, a carta de Sean parecia
importante. Quando o criado saiu, ele rachou a cera e desdobrou o
papel.
— De quem é? — Deirdre perguntou.
— Um advogado na Queen Street em Cheapside. Um Sr.
Peregrine Peabody. Ele deseja se encontrar comigo segunda-feira
ao meio-dia.
— Com relação a quê?
— Ele não diz. — Fosse o que fosse, não poderia ser bom. —
Presumo que finalmente vou descobrir quem está mexendo no meu
negócio e o que ele conseguiu inventar para me arruinar ou me
colocar na prisão. E o que vai ser preciso para provar que ele está
errado. — Ele olhou para o papel dobrado que Deirdre segurava,
reconhecendo o rabisco do lado de fora como o mesmo da maldita
carta que ele recebeu em abril. — O que seu marido quer agora?
Seu tio não está no túmulo nem a meio dia. O podre já está
chamando você para a cama?
Ela rasgou o selo e examinou-o.
— Não é ele, não. Ainda não. Aqui diz que devo assistir à leitura
do testamento de Lorde Lincolnshire na segunda-feira. Ele está
enviando uma carruagem para me buscar às onze horas.
— Onde a leitura será realizada?
— John não disse. Só que a carruagem virá pela manhã. — Ela
ergueu os olhos do papel, parecendo nervosa. — Lembra daquele
baile a que Lorde Lincolnshire nos levou? E se alguém que estiver lá
me reconhecer como a mulher apresentada como sua esposa?
Sean estendeu a mão para colocar a mão sobre a dela na mesa.
— Não espero que os convidados de Billingsgates estejam na
leitura, Deirdre. Provavelmente serão apenas você, Hamilton e
aquele advogado chamado Lawless.
— Não tenho certeza se aquele advogado já deu uma boa
olhada em mim. Nunca fomos apresentados formalmente.
— Você não tem nada com que se preocupar, então. — Ele deu
um tapinha na mão dela. — Mesmo que Lawless se lembre de ter
visto você em Lincolnshire House, você é a esposa de Hamilton.
Sobrinha de Lincolnshire por casamento. Não é inacreditável que
você esteja no leito de morte do homem.
— Está certo. — Ele a viu relaxar um pouco. — Eu gostaria que
você pudesse vir comigo, no entanto.
— Eu gostaria de poder também — ele disse secamente. — Eu
também não fui apresentado formalmente, mas não tenho dúvidas
de que Lawless me viu. E se ele não se lembrar de mim, tenho
certeza de que Hamilton ficará feliz em lembrá-lo. E, em qualquer
caso, não posso ir com você porque estarei ocupado na segunda-
feira a essa hora.
Sentindo-se ainda mais incapaz de respirar do que antes, ele
soltou um suspiro. A atmosfera parecia ficar ainda mais densa.
— Do jeito que minha sorte tem estado ultimamente — ele
rosnou —, provavelmente estarei ocupado sendo preso.