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Marquess of Malice - Tammy Andresen

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Ele é conhecido como o Marquês da Malícia... uma pequena
lady poderá aquecer seu coração sombrio?

Malice, como seus amigos e proprietários de jogos infernais


o chamam, não tem espaço em sua vida para o amor. Ele vai
arranjar uma noiva tranquila, fazer um herdeiro e despachá-la
para o campo. Ele escolheu o ratinho perfeito para o trabalho. O
problema? Quando Malice a pede em casamento, Lady Cordélia
se recusa. Ela não tem inteligência? Qualquer debutante ficaria
feliz em pegar um marquês. Mas, novamente, ele está quebrado
por dentro. Talvez Cordélia seja a mulher mais sensata de todas...

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Lady Cordélia Chase não tem intenção de se casar com o
marquês idiota e autoritário. Lorde Malicorn é rude, grosseiro e
totalmente inadequado. Não importa que ele seja o único homem
a lhe pedir. Quieta e tímida, ela foi esquecida durante a maior
parte de sua vida. Quando se casar, será por amor e não apenas
para ser uma vaca reprodutora. O único problema é que quando
Lorde Malicorn não está falando, bem, ele é bastante forte e
terrivelmente bonito. E quando a segura em seus braços, ela quase
poderia jurar que seu coração pula numa batida. Se isso não é
amor... que diabo é isso?

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MALICE , como seus amigos carinhosamente se referiam a ele,
sentou-se em um banco no jardim da casa da família Chase, olhando para
as flores recém-nascidas da primavera brotando do solo.

Seu nome era Lorde Chadwick Hennessey, Marquês de Malicorn,


mas ninguém o chamava pelo nome desde que sua mãe o dera em seu
último suspiro.

Provavelmente era por isso que odiava ser chamado de Chadwick.


Continha muitas lembranças horríveis. Ele passou a mão pelo cabelo,
olhando para um pequeno botão verde que lutava para se erguer no meio
da terra. Ele fez uma careta. Ele tinha sido aquela flor quando criança.
Lutando e se esforçando para florescer, o próprio terreno que deveria
alimentá-lo, empurrando-o de volta à terra.

Ele endireitou as costas, respirando fundo. Não era mais aquela


criança. Agora, era um homem adulto que nunca se afundou na
autopiedade.

De pé, ele olhou para a pequena planta. Não gastaria emoção com
uma flor, mas ele poderia ajudar. Só um pouco. Inclinou-se e limpou a
sujeira da pequena planta, dando-lhe mais espaço para crescer. A
satisfação se espalhou por seus membros, e ele soltou um longo suspiro
quando mais do caule verde brilhante apareceu.

— Oh, — uma voz feminina vibrou a sua esquerda. — Minhas


desculpas, meu lorde.

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Ele parou, seus dedos ainda na terra. Foi pego se preocupando com
uma pequena planta. Pior ainda, foi ela quem fez a descoberta. Suas
entranhas se apertaram. Apesar de ser apenas a segunda vez que se
encontravam, conhecia o som da voz de Lady Cordélia Chase sem nem
mesmo olhar para ela.

Malice cultivou cuidadosamente uma reputação de abandono


imprudente salpicado com uma dose saudável de indiferença sarcástica.
Ele raramente demonstrava emoção por alguém ou por alguma coisa. E
definitivamente não queria que Lady Cordélia pensasse que ele era do tipo
meloso. Isso lhe daria uma impressão errada.

— Por que você está se desculpando? — Malice se endireitou,


encarando-a enquanto a olhava de cima abaixo. Que estranho.

Ela ergueu os óculos, mordiscando o lábio.

— Por interromper. Se eu soubesse que alguém estava aqui, teria


vindo com uma acompanhante.

Ele relaxou, seus ombros caindo. Ela não parecia ter notado que ele
estava ajudando plantas minúsculas.

— Não precisa se desculpar. — Ele não se importava se ela estivesse


acompanhada, apesar do fato de que ela era uma debutante sensível. —
Como vai o café da manhã do casamento?

Cordélia se virou para olhar a casa.

— Muito bem. Se me der licença, voltarei para dentro.

— Não há necessidade. — Ele acenou com a mão. — Vou


acompanhá-la de volta ao café da manhã do casamento em um momento.

Ela inclinou a cabeça para o lado.

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— Perdão?

Ele ignorou sua pergunta, em vez disso, estudou-a de cima a baixo.


Seu cabelo louro estava preso com bastante força para trás. O cabelo em
si parecia macio, e ele se perguntou como ela ficaria com uma touca mais
folgada. Seus óculos deslizavam perpetuamente para baixo em seu nariz,
provavelmente porque era o nariz mais ínfimo que ele já tinha visto, com
apenas uma leve elevação na parte inferior. Quando ela o olhou por cima
dos óculos, seus olhos eram de uma cor azul cristalina impressionante,
como um lago em um dia ensolarado. Muito agradável.

Em seu primeiro encontro, ela não estava usando os óculos e


prontamente tropeçou em seus braços. Ela tinha uma bela figura.
Curvilínea sem ser excessivamente grande, e sem as bordas escuras dos
óculos, notou a forma adorável de seus olhos, grandes e claros com uma
leve elevação nos cantos externos. Com óculos ou não, um homem não
podia perder o quão bonita era a curva de sua boca... tão cheia e
tentadora.

Ele também percebeu que ela era uma moça quieta e afável, e que
daria uma excelente esposa.

Ao contrário de muitos homens, ele tomou várias decisões sobre


isso. Primeiro, planejou nunca se apaixonar. Emoções como essa eram
uma aflição. Como detentor do título, ele era obrigado a continuar sua
linhagem, casando-se e concebendo um herdeiro. Nada disso ele esperava
para sua vida.

O casamento de seus pais tinha sido breve, para dizer o mínimo.


Quase um ano. Ele não se lembrava da mãe, é claro, mas não conseguia
imaginar que a união tivesse sido feliz, se seu próprio relacionamento com

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o pai fosse uma indicação. Embora seu pai pudesse jurar que todo o amor
que ele sentia morrera com sua mãe.

— Diga-me Lady Cordélia. Como você gasta seu tempo? — Ele


presumiu que ler, tricotar e socializar estavam no topo de sua lista. Todos
excelentes passatempos para uma esposa.

Ela encolheu os ombros, recuando um pouco.

— Não sei. O que todas as mulheres fazem. Um pouco disso e um


pouco daquilo.

Ele deu um passo à frente. Seu comentário destacou o que gostava


nela. Ela parecia ser uma mulher maleável. Com seu temperamento
calmo, era exatamente o tipo de mulher que ele precisava.

E essa era a principal razão de ele estar aqui. Cordélia, junto com
suas irmãs, havia chegado ao clube secreto no meio da noite. Mas as
mulheres não deveriam estar lá. Na verdade, não deveriam saber nada
sobre o clube. Agora, um de seus sócios, o Conde de Effington, estava
casado com a irmã de Cordélia, Emily.

Quando Emily chegou com suas duas irmãs, Cordélia e Grace, e


suas primas, Minnie e Diana, o inferno desabou. Os homens estavam
preocupados com o segredo do clube, e as mulheres com suas reputações.
Emily e Jack quase cancelaram o casamento. E os outros começaram a
temer pela reputação do clube e pela continuidade dos negócios. Eles
fizeram um inferno de jogo próspero e financeiramente bem-sucedido,
criando um ar de mistério sobre suas identidades. Para ter certeza de que
isso continuaria, Malice e seus amigos decidiram observar as mulheres e
se certificar de que não compartilhassem seu segredo.

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— Parece maravilhoso, — disse ele, ainda pensando no primeiro
encontro, algumas semanas antes.

Quando Cordélia quase caiu diretamente em seus braços, ela corou


e se desculpou. Ele a segurou perto, tirou seu chapéu e estudou seu rosto.
Ela era bonita, pequena, quase como uma fada. Calma e despretensiosa.
Ele decidiu naquele momento. Se casaria com ela, faria um herdeiro e a
estabeleceria em sua propriedade no campo, deixando-a para criar o filho.
Fácil.

Ela apertou os olhos.

— Mesmo? Estava pensando um pouco sobre como isso e um pouco


daquilo não soava como nada.

Ele olhou-a, sua mente voltando ao presente. O sol estava refletindo


em seus óculos ou havia um brilho em seus olhos?

— Precisamente.

Sua pequena língua rosa disparou de sua boca e lambeu seu lábio
superior carnudo, começando em um canto e deslizando por todo o arco
de sua boca até que finalmente terminou no lado oposto. Suas entranhas
se contraíram da maneira mais estranha. Ele sabia o que era luxúria, era
um homem experiente de vinte e oito anos. Teve mais do que seu quinhão
de parceiras. Mas, Cordélia não deveria ter nada a ver com tais emoções.
Por que seu corpo estava respondendo ao dela? Ela era a escolha segura
e previsível.

Ele a escolheu para que tivesse uma esposa de quem pudesse


permanecer separado.

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— O que você quer dizer exatamente? Precisamente o quê? Isso não
faz sentido. Você não quer que eu diga nada importante? — Ela estreitou
o olhar. — Por que você se importa com o que eu digo?

Ele franziu a testa. Eles já estavam saindo do assunto.

— Você está perdendo o ponto.

— Acho que não. — Ela fez uma reverência. — Agora, se você me der
licença. — Lady Cordélia deu uma pequena fungada, e então se virou para
ir embora.

Malice deixou cair suas mãos, franzindo a testa. O que diabos ela
estava fazendo? Soltando um suspiro de frustração, ele cruzou o jardim
e agarrou o braço dela.

CORDÉLIA COMEÇOU A DESCER O CAMINHO , determinada a deixar o


Marquês de Malicorn onde ele pertencia... no passado dela.

Não que ela não gostasse dele, precisamente. Ele era um lindo
moreno, com um queixo quadrado e feições que eram desconcertantes em
sua nitidez. As maçãs do rosto proeminentes e uma sobrancelha pesada
que lhe davam um ar de perigo.

Ela estremeceu, apesar de sua vontade. Sua grande estrutura


sugeria músculos que certamente eram um perigo para qualquer lady
íntegra. Tanto porque sabia que ele era um homem que não seguia regras
e porque todas as suas características juntas, o tornavam bastante...
excitante.

Como se estivesse lendo seus pensamentos, ele estendeu a mão e


envolveu os dedos em seu braço ao mesmo tempo em que dizia seu nome.

— Lady Cordélia.

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Ela sacudiu, suas entranhas ficando moles enquanto ela girava.

— Você me assustou.

Ele imediatamente largou a mão.

— Desculpe-me. Eu simplesmente gostaria de continuar nossa


conversa.

Cordélia prendeu o lábio entre os dentes.

— Muito gentil de sua parte, mas devo recusar.

Ele olhou-a, suas sobrancelhas se juntando. Ela pensou que a cor


dos olhos dele era quase preta, mas aqui na luz, podia ver que eles eram
muito mais chocolate em seu tom de marrom, e bastante cativante.

— Por quê?

Sua boca se abriu enquanto ela tentava formar palavras. Por quê?
Não era óbvio?

— Você é um homem solteiro e eu uma mulher solteira. Não devemos


ser encontrados sozinhos. Já temos escândalo suficiente flutuando sobre
nós. Você sabe que a Condessa de Abernath ameaçou denunciar a mim e
a minha família por nossa visita ao seu clube. Devemos tomar todas as
precauções para sermos adequados.

Ele relaxou com essas palavras, seus ombros caindo.

— Concordo e aprecio seu senso de decoro. É uma qualidade


extremamente vantajosa.

Cordélia se acalmou, as palavras dele ecoando em sua mente. Lá


estava ele novamente. Ele a elogiava por algum atributo que achava
agradável. Por quê?

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— Você gosta do meu decoro e dos meus hobbies que ainda nem
mencionei. O que realmente não faz sentido.

Sua sobrancelha caiu, sua boca apertando em uma carranca.

— Você é mais inteligente do que pensei que seria.

— Obrigada!? — Ela disse, sacudindo levemente a cabeça.

Ele acenou.

— Não importa. — Então, ele estendeu a mão novamente, pegando


sua mão na dele. Mesmo com as luvas, uma espécie de sensação de
formigamento percorreu seu braço. — O que desejo discutir com você
resolveria todos os seus problemas com a condessa e com o decoro, e
assim por diante.

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Por que tenho a impressão de que quero saber os detalhes de tudo


isso e assim por diante?

Sua boca puxou para um lado.

— Você faz muitas perguntas.

— De novo. Obrigada. — O formigamento estava começando a


distraí-la, e então ela puxou sua mão da dele. Ela balançou-se outra
reverência rápida. — Se isso for tudo, meu senhor.

— Não. — Ele cruzou os braços. — Isso não é tudo.

Ela suprimiu um suspiro. Ele claramente não iria permitir que ela
fosse embora até que dissesse o que estava insinuando.

— Por favor, continue.

Ele engoliu em seco, seu pomo de Adão balançando.

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— Como marquês, há certas obrigações que preciso cumprir.

— Obrigações? — Oh céus. Havia apenas uma razão para um lorde


desejar falar com uma dama sobre seus deveres, e era quando queria que
ela cumprisse um deles por ele, dando-lhe um filho. Cordélia pigarreou,
pressionando a mão contra o estômago.

— Sim. — Ele se aproximou um pouco mais e ela recuou. As linhas


de expressão em sua testa se aprofundaram. — Estou precisando de uma
esposa e filho para garantir que minha linhagem e legado continuem.
Acho que você é uma excelente candidata. Você não apenas estaria me
ajudando a garantir meu futuro, mas em troca, eu poderia protegê-la de
qualquer escândalo.

— Escândalo que você está criando agora por nós dois estarmos aqui
sozinhos? — Ela perguntou, dando mais um passo para trás. O Marquês
de Malicorn não era um candidato adequado para ela. Ele não era apenas
misteriosamente perigoso, mas também estava engajado em passatempos
questionáveis.

Ele fez um som de mofa, o cheiro do charuto que certamente acabara


de fumar enchendo suas narinas. Ela sempre gostou do perfume. Era
terroso com um pouco de cereja.

— Quero dizer, você vindo para uma parte da cidade que não deveria
estar e depois tropeçando na sala dos fundos de um clube de cavalheiros.
— Ele abaixou a cabeça. — A condessa conhece informações confidenciais
sobre você.

Cordélia colocou a outra mão sobre o coração.

— Todos os seus amigos vão propor casamento às minhas irmãs e


primas? — Na verdade, Minnie acabara de se casar com o Duque de

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Darlington, e o Conde de Exmouth parecia bastante interessado em sua
irmã, Diana. Este era um plano de grupo?

Ele ergueu as mãos.

— O que isso tem a ver com qualquer coisa?

— Estou apenas tentando determinar suas motivações. Sua


proposta repentina é uma grande surpresa.

Ele beliscou a ponta do nariz com o polegar e dois dedos.

— Talvez minha primeira impressão de você tenha sido incorreta.

— Oh, isso deve ser interessante. Diga-me, o que você achou de


mim? — Borboletas voaram em seu estômago expondo a sua mentira. Ela
não tinha certeza se queria saber.

Ele baixou as mãos.

— Que você seria uma esposa adequada. Queria falar com você para
lhe pedir em casamento.

— Mas você não deseja mais perguntar? — Isso era irrelevante.


Também não queria se casar com ele. — E em que eu exatamente parecia
adequada? — Até mesmo a palavra adequada fez seu coração afundar.
Diana era ousada e audaciosa. Minnie era forte e fogosa. Grace era linda
além de qualquer comparação e Ada era angelical. Mas Cordélia, a palavra
queimou em seu cérebro. Ela era adequada. Não que não soubesse em
toda a sua vida que ela era a menor de todas as suas primas e irmãs. Mas
esperava, talvez tolamente, encontrar um homem que pensasse mais
dela. Na verdade, foi o único sonho que a levou através de uma infância
em que muitas vezes não era vista, cercada por tantas mulheres bonitas.

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— Você não é tão barulhenta e impetuosa. Você tem boas maneiras,
você parece quieta e...

— Por favor, Lorde Malicorn. É o bastante. — Ela ergueu a mão. —


Por mais que eu aprecie sua oferta por um par adequado. Eu
simplesmente devo recusar.

— O quê? — Ele agarrou o braço dela novamente, mas ela foi rápida
o suficiente para recuar desta vez. Não seria pega por ele novamente.

Respirando fundo, ela ergueu o queixo como Diana ou Minnie


fariam.

— Você me ouviu, meu senhor. Minha resposta à sua proposta é


não.

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O PEQUENO DIABINHO girou e desceu correndo o caminho, deixando
Malice parado ali com a maldita boca aberta.

— Ela disse não, — ele repetiu para ninguém em particular. Um


pássaro do jardim respondeu, cantando alegremente como se estivesse
zombando dele. Ele era um marquês, pelo amor de Deus. As mulheres
não diziam não aos marqueses, diziam?

Recuperando seus sentidos, foi atrás dela. Ele queria pegá-la? Não
tinha tanta certeza. Na verdade, estava começando a se arrepender
totalmente de sua proposta.

Supôs que deveria tê-la conhecido melhor, mas esse era o ponto.
Malice não queria conhecê-la. Queria levá-la para a cama e depois
despachá-la. Cumprir o seu dever sem nunca sentir nada.

O próprio fato de que ela cutucou suas motivações e depois fugiu,


disse a ele o que precisava saber. Ela não era a mulher para ele. Uma
pequena decepção o fez esfregar a nuca. Parte dele estava ansioso para a
cama.

O que era ridículo. Ele poderia encontrar outra mulher que fosse
pequena e loira com uma pequena língua rosa e..., ele cortou o ar com a
mão. Não precisava de uma substituta para Cordélia. Não precisava dela
em absoluto, exceto na parte em que ela conceberia um herdeiro.

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Mas se ela não quisesse a posição, encontraria outra mulher para
preencher o papel. Alguém que não fazia tantas malditas perguntas.

Ele subiu os degraus e passou pela porta da frente da casa dos


Chase. Ele se despediria de seu amigo, Daring, o Duque de Darlington, e
deixaria este lugar, para nunca mais voltar. Não precisava de Lady
Cordélia Chase, ele estava fazendo um favor a ela, afinal.

Mas, não teve a chance de voltar para o café da manhã do


casamento. Daring estava parado no foyer com os braços cruzados sobre
o peito.

— O que diabos você pensa que está fazendo? — Daring tinha uma
voz profunda e ecoava pelos tetos abobadados, alcançando os querubins
intrincadamente pintados que enfeitavam a entrada. O Lorde de Winthrop
era um conde muito rico.

Malice parou, avaliando seu amigo.

— Vindo dizer adeus.

— E onde você estava agora?

Malice deixou escapar um gemido de frustração.

— O que há com todas as perguntas hoje?

Daring deu um passo mais perto, seu corpo ficou tenso como um
urso ou um lobo. Seu peito estava estufado e seus dentes apareciam na
luz da manhã.

— Só mais uma pergunta. Você estava sozinho no jardim com


Cordélia?

Malice lançou a Daring um olhar de esguelha. A resposta, claro, foi


sim.

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— Eu a pedi em casamento, se você quer saber.

Daring não relaxou como Malice esperava. Na verdade, seus punhos


cerraram-se ao lado do corpo.

— Então, por que ela voltou chorando?

Malice ergueu as mãos novamente.

— Você quer que eu explique as mulheres? Uma garota intelectual


me rejeitou e eu deveria saber por que ela está chateada?

Daring não disse outra palavra enquanto investia contra Malice.


Sabendo o que estava por vir, Malice se abaixou, no momento em que, o
grande punho do outro balançou em sua cabeça.

— Pelo amor de Deus, — ele jurou enquanto se esquivava de outro


punho musculoso.

Daring o empurrou em vez de responder, enviando Malice contra a


porta. Ele poderia revidar o amigo, mas não o fez.

— Você não se ouviu? Uma garota intelectual o rejeitou e você não


consegue entender o porquê? — Daring se aproximou de modo que seu
rosto ficasse a centímetros do de Malice. — Você não gosta ou não a
respeita. Ela é uma mulher doce e gentil, mas não é estúpida.

Malice fez uma careta. Esse era um ponto válido. E descobriu isso
sozinho. Sem levar um soco, mesmo. Especialmente a parte sobre ela ser
muito inteligente.

— Não estou interessado em um casamento romântico. É tão errado


eu não mentir para ela e dizer falsidades?

Os contornos do rosto de Daring suavizaram.

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— Não, isso não está errado. Mas você magoou os sentimentos dela
e vai consertar isso.

Malice franziu a testa enquanto olhava nos olhos de Daring.

— Isso é absolutamente necessário?

— Sim, — Daring rosnou de volta. — Considere isso como seu


presente de casamento para mim. — Então, empurrou Malice de volta
para a porta. — Você não poderia ter escolhido um dia diferente para
perguntar a ela?

Isso fez Malice estremecer.

— Pensei que ela diria sim.

Daring balançou a cabeça.

— Você não aprendeu me observando? Essas mulheres Chase se


controlam.

— Entendi, — respondeu Malice, enquanto deslizava para fora do


aperto de Daring contra a porta. — Vou me desculpar. Perdoe-me por ter
te pedido em casamento.

Daring estreitou o olhar.

— Não é por isso que você está se desculpando.

— Bem. — Ele puxou para baixo o casaco da cintura. — Vou me


desculpar por aborrecê-la, o que não era minha intenção.

— E não se esqueça. Você prometeu ficar de olho nela depois daquele


escândalo com o clube e a condessa.

Agora isso estava indo longe demais.

— Eu só prometi isso porque pensei que me casaria com ela.

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— Muito ruim para você, — respondeu Daring. — Todos os outros
homens estão de olho em uma garota Chase porque é do interesse do
clube e das mulheres.

Malice bateu com a mão na coxa.

— Eu a fiz chorar. Eu não sou o homem certo...

Daring apontou o dedo.

— Se não há nada entre vocês dois, então você é o homem perfeito.


Além disso, você só precisa comparecer aos eventos com a presença de
todos nós. Você estará perfeitamente acompanhado. Você é apenas o par
de olhos designados especificamente para ela.

Esse era um ponto muito bom. Mas isso significava que teria que
passar mais tempo com a mocinha que acabara de rejeitá-lo. E ele teria
que dar um pedido de desculpas sólido para que ela tolerasse sua
presença contínua. Droga, ele tinha feito uma bagunça com isso.

CORDÉLIA SENTOU - SE na sala de estar da família, tentando não


chorar. Como alguém explica que um pedido de casamento era a causa
de sua angústia?

Diana se sentou ao lado dela, o braço sobre os ombros da irmã.

— Não fique chateada. Ninguém jamais saberá que você estava


sozinha com ele. É apenas família aqui e nunca contaremos a ninguém.

— Isso é muito reconfortante. Obrigada. — Ela respirou fundo.


Estava feliz por não acabar casada com Malicorn simplesmente por causa
de sua conversa no jardim. Mas suas preocupações eram mais profundas
do que isso.

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Ela cobriu o rosto. Ele poderia ser o primeiro homem a realmente
considerá-la como uma perspectiva de casamento. Ele poderia ser o
último também.

Desde que era uma menina, as pessoas notavam suas irmãs. Como
não poderiam? Emily era cheia de vida, enquanto Diana era uma bela
morena e Grace uma loira deslumbrante. Cordélia sempre foi como um
enfeite de parede. Quer dizer, desaparecia nas cortinas, ninguém nunca
prestava atenção a ela. Até sua própria família a esquecia às vezes. Ela
era muito mais quieta do que qualquer uma de suas outras irmãs. E seus
óculos, ela às vezes pensava que eles tornavam-na invisível.

Ela tinha uma coisa, sua imaginação. Desde pequena, sonhava com
o homem que a veria de verdade. Olhar por trás dos óculos e ver tudo o
que ela tinha a oferecer. À medida que ela crescia, seu amor pela leitura
floresceu no desejo de escrever. Começou suas próprias histórias. Não de
romance, é claro. Ela não entendia totalmente o assunto, para ser
honesta. Mas escreveu histórias de crianças. Contos da criança
esquecida, a menos bonita, os pássaros quebrados cujas asas precisavam
ser curadas.

Ada, sua prima, segurou sua mão do outro lado.

— Ele é um pouco assustador de qualquer maneira.

Cordélia ergueu uma sobrancelha. Supôs que Malice era um pouco


intimidante. Na verdade, ela também tinha medo dele. Não por causa de
sua aparência ou comportamento, mas por causa da sua reação física a
ele. Ele sem esforço fez seu coração bater descontroladamente. Era o tipo
de homem que normalmente estaria interessado em Diana ou Grace. Não
em Cordélia. Ela baixou a cabeça com o pensamento.

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— Por que você pensa isso?

— Seus olhos são intensos e suas feições tão... fortes. Ele me lembra
um falcão que desce e come passarinhos no jardim. — Ada estremeceu
ligeiramente.

Grace, de sua cadeira em frente à Cordélia, encolheu os ombros.

— Eu o acho bonito.

Minnie, que estava ao lado dela, cutucou o braço de Grace.

Grace se encolheu de dor, então estendeu a mão e deu um tapinha


no joelho de Cordélia.

— Mas obviamente um canalha. — Então, Grace se endireitou. — O


que ele disse para te perturbar assim?

Cordélia apertou os lábios. Isso era complicado. Ela compartilharia


com elas o que o marquês havia proposto? Se sua mãe ou tia
descobrissem, ela poderia ficar rapidamente noiva. Ambas tinham olho
para um homem solteiro com título.

— Bem, essa é uma pergunta interessante.

Diana interrompeu seu movimento reconfortante rítmico.

— Como assim?

Droga. Cordélia apertou as mãos.

— Bem, ele disse que eu era adequada, e que ele precisava de uma
esposa para ter filhos. — Sua família reagiu às suas palavras em completo
silêncio. Lambendo os lábios, ela continuou. — Então, pediu minha mão
em casamento. Quando recusei, ele confessou que tinha uma impressão
errada de mim, que me achava menos inteligente e mais dócil.

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— Aquele homem é um pedaço de esterco de cavalo, — disse Diana,
seus lábios se estreitando sobre os dentes. — Que tipo de proposta é essa?

Grace endireitou as saias.

— Terrível.

Cordélia suspirou de alívio.

— Não conte para a mamãe, ou qualquer outra pessoa,


especialmente não para nossa tia. — Ela olhou para Ada. — Você sabe
como sua mãe pode ser sobre um par percebido como bom.

Ada acenou com a cabeça.

— Certamente não contarei.

— Mesmo assim, Corde, você pode ficar feliz por uma coisa. — Grace
se mexeu na cadeira. — Você conseguiu uma proposta, mesmo que ruim,
antes de mim ou de Diana.

Cordélia encolheu os ombros. Grace estava tentando ajudar, o que


ela realmente gostou.

— Quando você receber uma proposta, Grace, será porque algum


homem está tão apaixonado por você que vai querer tirá-la do chão. Para
mim? Eu tenho uma porque sou adequada. — A palavra tinha um gosto
amargo em sua boca.

— Bem, isso é interessante saber. A próxima vez que eu pedir uma


mulher em casamento, terei o cuidado de deixar essa palavra
inteiramente de fora.

Cordélia congelou. Apenas seus olhos se movendo para que ela


pudesse olhar para a porta. Claro, o Marquês de Malicorn estava na
entrada da sala, suas costas retas como uma flecha enquanto a avaliava.

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Droga. Ele tinha ouvido cada palavra e o que era pior, eles provavelmente
precisariam conversar sobre isso.

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MALICORN APERTOU a parte externa de sua coxa. Como esse dia deu
tão errado?

Cordélia se levantou lentamente de seu lugar no sofá, cruzando as


mãos sobre o estômago.

— Escolha sábia, meu lorde.

— Eu não queria ofender, — disse ele, uma por uma, as senhoras se


levantaram. — Só quis dizer que você tem as qualidades que procuro em
uma esposa.

Daring estava logo atrás dele, e Malice respirou fundo para evitar
que seu rosto esquentasse. Essa conversa teria que ser presenciada por
tantas pessoas?

Ela fez uma pequena reverência.

— Agradeço sua explicação. Só desejo responder que, embora seja


uma oferta muito generosa, acredito que procuro qualidades diferentes
das que você procura.

Seu rosto ficou em um adorável tom de rosa quando ela olhou para
o chão. Seu corpo se retesou em consciência. Como não percebeu como
sua pele era cremosa?

— Diga, Lady Cordélia. O que você procura em um marido? — Ele


fechou os olhos se perguntando por que havia feito essa pergunta. Ele só
queria se desculpar.

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Então, ele os abriu. O que foi um erro, porque ela estava fazendo
aquela coisa com a língua novamente. Aquilo que ele gostava. Ele teve a
repentina imagem de seguir o caminho ao longo dos lábios dela com a
própria língua.

Ela deu um passo à frente.

— Não é importante.

Ele abaixou o queixo, estudando-a. No primeiro encontro, ele gostou


de como ela respeitava essas situações. Mas agora, parecia ser mais um
desvio. Ela não falou porque não queria falar com ele.

— Seus desejos são importantes para mim.

Ele ouviu uma mulher suspirar. Não olhou para ver qual delas, não
importava se a lady não fosse Cordélia.

Ela afofou as saias, olhando para o chão.

— Suponho que quero um homem que compartilhe dos meus


interesses e...

Ele ergueu um dedo.

— Para ser justo, perguntei quais eram seus interesses. Você deu
uma resposta muito vaga.

Seu queixo se ergueu, e ela o encarou por cima dos óculos.


Alcançando-os, ela os puxou de seu rosto e os apontou para ele.

— Para ser justa, você ficou feliz quando eu realmente não respondi.
— Seu queixo se contraiu. — Qual é o meu ponto? Não só quero um
marido que compartilhe meus gostos e desgostos, mas prefiro que ele
realmente goste de mim. — Ela jogou os óculos para o lado, dando um

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passo à frente. — Sei que não sou muito, comparada com minhas irmãs,
mas...

A boca dele abriu, e de repente ele entendeu. Ele tinha seus próprios
motivos para desejar um casamento de total conveniência e eles estavam
enraizados em seu passado. Era tão estranho que ela precisasse de um
homem para preencher suas inseguranças?

— O resto da sociedade pensará que você teve um grande sucesso


por ter se casado com um marquês.

Ela balançou levemente a cabeça.

— Tenho certeza de que pensarão.

O rosa em suas bochechas se espalhou pelo pescoço. O tom de cor


o lembrava as flores rosadas dos cornisos na primavera. As mesmas da
árvore em que se escondia quando criança.

— Mas você não pensaria. — Ele deu um longo suspiro. Foi melhor
ela ter dito não. Ele já estava ficando estranhamente sentimental com a
garota. — Muito bem. Espero ter me desculpado por minha gafe.

Ela lhe deu um pequeno sorriso. O tipo que enrugava seus olhos e
destacava as maçãs do rosto.

— Não precisa se desculpar. Não teria esperado nada menos de um


homem chamado Malice.

A acusação dela o fez ficar tenso. O nome era bom entre seus amigos
homens, mas não gostou do modo de ouvi-la dizer isso. Ela o achava
cruel? Essa era parte da razão pela qual ela recusou? Ele cerrou e abriu
o punho. O que isso importa? Tudo seria mais fácil se ele simplesmente
pudesse ir embora.

28
Infelizmente, não podia simplesmente se despedir de Cordélia.
Concordou em vigiar a pequena ninfa diante dele. Até que tivesse certeza
de que ela não iria compartilhar os segredos do clube ou ser arruinada,
teria que ficar de olho nela.

— Corde, — sibilou uma das mulheres. — Não devemos usar esse


nome.

Corde. Ele gostou. Algo sobre isso combinava com seus traços de
fada. Ele teve um breve flash dela voando sobre ele e borrifando-o com
seu pó mágico. Ele balançou a cabeça.

— Eu também preferiria que você não usasse esse nome, mas como
todos estamos familiarizados com ele aqui, não há mal nenhum.

— Tudo bem, — Daring murmurou atrás dele, deixando escapar um


longo suspiro. — Você está agindo de forma muito estranha.

Ele ignorou Daring, focando em Cordélia ao invés. Ela cruzou as


mãos sobre o estômago.

— Minnie. — Ela olhou para a prima. — Não deveríamos voltar para


o seu café da manhã de casamento? Certamente você e Lorde Darlington
estão ansiosos para começar sua viagem.

— É muito atencioso da sua parte, — Darlington gritou atrás dela,


— mas estamos apenas viajando por Londres. — Ele deu um passo ao
lado de Malice, apertando parte de seu corpo no batente da porta. — Por
que vocês, senhoras, não voltam para o café da manhã? Lorde Malicorn e
eu estaremos juntos em breve.

Daring deu um tapa no ombro dele com força. Então, empurrou-o


para dentro da sala para que as senhoras pudessem sair. Elas passaram

29
silenciosamente, cada uma dando a ele um olhar de soslaio antes de sair.
Ele cruzou os braços e endireitou as costas.

Cordélia, a última lady a passar, parou bem na frente dele. Ela


respirou fundo.

— Obrigada, Lorde Malicorn.

— Por quê? — Ele perguntou, inclinando a cabeça enquanto a


estudava.

Ela se aproximou um pouco mais.

— Por pedir minha mão. — Seus olhos dispararam para todos os


lugares, menos para ele. — Não tive muita atenção masculina em minha
vida, mas para sempre posso dizer que recebi uma proposta antes de
Diana ou Grace. Não é uma tarefa fácil para se ter certeza. — Então, ela
sorriu e olhou em seus olhos. — Obrigada por perguntar a mim, em vez
de a uma delas.

Seu peito se apertou. Ele desejou poder estender a mão e tocar seu
rosto. Passar o polegar ao longo da curva delicada de sua bochecha
enquanto ele se inclinava e beijava suavemente a curva rechonchuda de
sua boca.

— De nada. — Então, ele limpou a garganta, cruzando a sala e


pegando seus óculos. — Não se esqueça disso.

Ele os trouxe de volta para ela, seus dedos roçando quando colocou
a armação em sua mão. Ondas de tensão passaram por ele com o toque.
Ela era muito bonita sem os óculos. Linda até, mas de alguma forma,
gostava dos óculos em seu rosto ainda mais. Com um aceno final, ela se
virou e seguiu as outras mulheres fora da sala.

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— É isso, — Daring disse logo ao lado dele. — Diga-me, em nome
dos malditos novilhos azuis, o que está acontecendo com você.

— Comigo? Você é quem fica me empurrando e me afastando. — Ele


se virou para o amigo, erguendo uma sobrancelha. — O amor não fica tão
bonito em você.

— Entendo. — Daring o cutucou no peito. — Esse é o homem que


eu conheço. Piadas sarcásticas em vez de maneiras educadas ou mesmo
sentimentos reais. — Daring se aproximou. — E outra coisa, quando você
me permite dar um soco em você sem revidar? Quando você pede
desculpas livremente e depois dá às garotas permissão para usar seu
nome secreto? Quando você pega objetos do chão para as pessoas?
Esperava que você pisasse neles depois da rejeição dela.

Malice encolheu os ombros, fixando o olhar na parede à sua direita.

— Eu sou capaz de mudar. Tenho que me casar e, se nada mais,


percebi que talvez tenha de suavizar um pouco para conseguir uma
mulher que concorde. Eu estava testando a teoria e parecia ter
funcionado. — Mentiroso. Ele suavizou suas arestas mais ásperas porque
estava preocupado com os sentimentos de Cordélia. Ele, o Marquês da
Malícia, sendo atencioso. Era além de ridículo.

E Daring não poderia saber disso. Seu amigo tinha acabado de se


apaixonar e se casar. Se Daring descobrisse que Malice era um pouco
piegas com uma mulher, começaria a ter ideias sobre jogos de amor e
finais felizes. Ele contaria a Minnie, e Minnie compartilharia com
Cordélia. Então, Cordélia pode ter ideias totalmente inadequadas sobre o
que esperar dele.

31
Não que ela fosse se casar com ele. Ela foi bastante firme em sua
rejeição. Mas, apesar de seu orgulho ferido e da percepção de que ela não
era bem a mulher que pensava, ele também não estava pronto para
desistir. O que precisava agora era um plano.

CORDÉLIA ESTAVA ao lado do prato de salmão defumado na mesa de


banquete, a cabeça inclinada com a de Grace e Diana. Elas deveriam estar
desfrutando do café da manhã do casamento de Minnie. Em vez disso,
estavam... conspirando.

— Então, você está absolutamente certa de que a Condessa de


Abernath estará no Regal Ball?

— Ela nunca perde isso, — Grace disse enquanto afofava as saias.


— E minha amiga Amélia a ouviu discutindo isso com sua empregada na
loja de doces na Baker Street.

— Sua amiga ouviu? — Diana fungou. — Isso é realmente o


suficiente para continuar?

— Oh, por favor. — Grace acenou. — Você quer ir se ela estiver lá


ou não.

— Por que estamos procurando a condessa de novo? — O estômago


de Cordélia se contraiu. — Ela ameaçou nos arruinar. Queremos mesmo
dar a ela um lugar para isso?

Minnie se juntou a elas, seus traços marcados por uma carranca


profunda.

— Estamos discutindo sobre a condessa? Ela não precisa que você


esteja presente para arruiná-la, Corde. Na verdade, seria mais fácil para
ela começar um boato quando não estivermos presentes.

32
Isso era verdade.

— Ela me parece uma mulher com um pouco de fel. Ela prefere uma
grande exibição pública.

— Ponto justo. — Diana assentiu. — Eu simplesmente quero testá-


la. Ela vai nos chamar publicamente? Se ela não o fizer, então digo que
podemos relaxar e continuar nossas vidas. — Diana segurou sua mão. —
Mas eu irei sem vocês três. Não há necessidade de você sofrer também.

Cordélia balançou a cabeça. Ela não podia fazer isso com Diana.

— Não. Eu vou com você. — Então ela se virou para Grace, que
estava olhando para o peixe. — Grace?

Sua irmã não ergueu os olhos.

— Devemos todos estar arruinadas na mesma noite?

— Grace, — ela e Diana disseram ao mesmo tempo.

— Bem. — Grace suspirou. — Eu irei. — Então, ela olhou para


Minnie. — Você e Darlington poderiam nos acompanhar? Você está
casada agora. Se vou ficar arruinada, prefiro que mamãe não esteja
presente.

Minnie deu um aceno rígido com a cabeça.

— É claro. Quem melhor para entender o que a condessa está


fazendo do que meu marido? Mas mamãe poderá ir de qualquer maneira.
Você sabe como ela é sobre essas coisas.

Diana esfregou a testa com a mão.

— Se a condessa decidir nos arruinar, mamãe vai descobrir de


qualquer maneira.

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Cordélia estremeceu. Num tempo atrás, Darlington tinha sido noivo
da agora Condessa de Abernath. O relacionamento havia terminado tão
mal, que Darlington não buscava outra mulher há anos até conhecer
Minnie. A condessa nutria profunda raiva que dirigia a qualquer pessoa
de quem Darlington se importasse.

— Você incluiu neste plano o fato de que a condessa provavelmente


está totalmente louca?

Diana se endireitou.

— Ela não me assusta.

— Isso assusta uma de nós, — Grace murmurou.

Darlington e Malice entraram na sala novamente e a cruzaram para


onde as senhoras estavam. Frissons de energia percorreram Cordélia
enquanto Malice se aproximava. Ela olhou para baixo, estudando
cuidadosamente o tapete até que ele desapareceu de sua visão periférica.

— O que estamos discutindo? — Darlington perguntou com um


sorriso enquanto colocava o braço sobre sua esposa.

Minnie deu um sorriso tenso.

— Um baile que minhas primas esperam que possamos escoltá-las.

Os olhos de Darlington se estreitaram.

— Claro que podemos, mas estou curioso para saber por que todas
parecem que vamos a um funeral em vez de um baile.

Cordélia respirou fundo. Elas foram pegas. Ela deu um passo para
trás, sem saber se queria participar dessa conversa. O dia já havia sido
cheio de drama. Mas enquanto se movia, esbarrou em uma massa sólida
atrás dela.

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— Oh, eu sinto muito. — Ela girou, já desconfiada de quem estava
posicionado atrás dela. Mas suas saias emaranhadas em suas pernas,
seu pé bateu em alguma bota e então ela caiu para o lado.

Um grito saiu de seus lábios assim que uma grande mão a pegou no
ar. Tão rapidamente quanto ela estava caindo, ela se endireitou
novamente.

— Você tem o hábito de cair na minha presença, — Malice rugiu,


sua mão ainda segurando firmemente suas costelas.

Ela tentou se afastar, discretamente, é claro, mas a mão dele era


muito mais forte do que sua pequena tentativa de se mover. Além disso,
algo em sua mão grande era bastante reconfortante enquanto
conversavam sobre Lady Abernath.

— Você tem o hábito de me fazer tropeçar.

Ele deu uma risada baixa, o som ecoando por ela.

— Não o faça se sentir mal por pegar você, — Grace cacarejou. —


Você sempre foi instável em seus pés. É a sua visão.

As unhas de Cordélia cravaram em sua palma. Cordélia nunca, em


toda sua vida, quis puxar tanto o cabelo de Grace.

Como resposta, Malice estendeu a mão e ajustou os óculos de


Cordélia em seu nariz, empurrando-os com mais firmeza em seu rosto.

— Essas coisas são grandes demais para o seu nariz minúsculo.

Cordélia encolheu os ombros.

— Eu provavelmente deveria comprar um novo par.

— Saímos do assunto, — interrompeu Daring. — O baile?

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Diana fungou.

— Se você quer saber, a Condessa Abernath estará lá.

Darlington não respondeu por vários segundos.

— Eu disse a você que cuidaríamos da condessa. Você não precisa


comparecer.

— Minha mãe já aceitou o convite. A menos que você queira explicar


a situação, sugiro que participemos. — A voz de Diana aumentando a
cada palavra. — Além disso, não vou deixar meu destino para homens
que mal conheço e não confio. — Então sua voz caiu. — E que dirigem
um clube ilícito para se divertir.

A coluna de Darlington se endireitou.

— Nós dirigimos o clube para o lucro.

— O jogo e as mulheres são apenas bônus? — Diana disparou de


volta.

— Chega, — disse Minnie se colocando entre eles. — Minha tia


provavelmente os aceitará de qualquer maneira, Tag, porque é uma
excelente oportunidade social. Nossas opções são ir com elas ou enviá-las
sozinhas.

Darlington fez um barulho de discordância do fundo da garganta.


Mas Malice, com a mão ainda firme em suas costelas, falou, sua voz
reverberando por ela.

— Eu irei também. E, vamos levar o Conde de Exmouth também. É


difícil para alguém causar problemas quando ele está por perto.

Diana fez uma careta.

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— Difícil, talvez. Mas não impossível. Eu consegui.

Cordélia apertou os lábios. Então ela tocou a mão de Malice, a que


ainda a segurava perto. Por que ela gostava tanto de seu toque? Por um
breve momento, se perguntou onde estava o maior problema. Foi no baile
com a condessa ou bem aqui com um homem que lhe ofereceu uma
combinação adequada? Seu coração bateu forte em seu peito com seu
toque. Ela corria sério perigo.

37
MALICE FICOU contra a parede do salão de baile lotado, contemplando
como ele chegou a tal lugar. Ele conhecia as circunstâncias exatas, é
claro. O que estava nublado era o porquê disso. Como concordou em
comparecer não apenas a um baile, mas a um dos maiores eventos que
antecediam a temporada?

Ele odiava tais situações. Dê a ele homens de fala difícil com bebidas
fortes qualquer dia. Havia verdade naqueles homens. Mas isso, era uma
grande falsidade. Desde as roupas, que pretendiam criar uma
determinada imagem, ao perfume, até ao riso falso que enchia o ar, estes
bailes eram sobre como se aparecia. Não quem eles realmente eram.

Seu pai tinha sido um mestre nesse tipo de engodo. Por fora, eles
pareciam perfeitos e amorosos, pai e filho. Tudo mentira.

Bem na frente dele. Cordélia estava com suas irmãs, seu vestido em
um adorável tom de rosa que complementava a cremosidade de sua pele.
Seu cabelo estava mais frouxamente amarrado para trás, mais macio,
com mechas em torno de seu rosto. Mas os óculos dela ainda estavam
firmemente colocados, e o lembrava de que ela, ao contrário de muitos ao
redor dele, era apenas ela mesma. Não havia pretensão, nem ficção.
Apenas, Cordélia.

Grace e Diana ficaram, uma de cada lado dela, enchendo seus


cartões de dança enquanto Cordélia sorria educadamente.

38
Uma raiva que não sentia há muito tempo borbulhava dentro dele
como uma ferida purulenta. Como ninguém a viu? Realmente ver que
mulher boa e honesta ela era? Quão atraente por dentro e por fora?

Em um momento de completa insanidade, ele empurrou a parede e


caminhou em sua direção.

— Lady Cordélia, — ele rugiu.

Ela pulou um pouco, aquela doce pequena língua aparecendo para


fazer uma rápida passada sobre seu lábio.

— Sim, Lorde Malicorn?

— Você me permite uma dança, por favor? — Ele odiava dançar. Era
tão íntimo. Primeiro era o toque. E então, o contato visual. Mas o pior de
tudo era como duas pessoas começavam a se mover como uma só,
compreendendo os passos entre elas. Em outras palavras, o ato era
repleto da emoção que ele nunca quis sentir. Mas de alguma forma, não
podia ficar para trás e vê-la ser preterida também. Pior ainda era a ideia
de alguém a convidar. Seu sangue ferveu ao pensar em outro homem
valsando com ela no salão de baile.

— Oh, sim. É claro. — Ela pigarreou. — Você tinha uma dança em


particular em mente?

— Essa aqui, — ele respondeu, pegando a mão dela e enfiando-a em


seu cotovelo para puxá-la para a pista.

Os dedos dela pousaram delicadamente em seu braço.


Equivocadamente, ele olhou por cima e pegou uma sugestão de decote no
topo de seu vestido de gola larga. Seu corpo se apertou e ele respirou
fundo.

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— Meu lorde, — disse ela se aproximando para que seu quadril
roçasse o dele.

Seu maldito pau saltou de atenção. Não era assim que deveria ser.
Cordélia sempre foi feita para ser a noiva que ele não deu à mínima. Agora
ele se preocupava com os sentimentos dela, enquanto suas entranhas
estavam agitadas pela atração. Quando isso aconteceu? Ele culpou
aquela maldita pequena língua.

Como se ela tivesse lido sua mente, a coisa disparou, seus dedos
cavando mais profundamente em seu braço.

— Obrigada por me convidar para dançar.

— Não há necessidade, — respondeu ele.

Ela tocou seu outro braço.

— Você e eu sabemos que há uma necessidade. — Ela pigarreou. —


Tenho andado para frente e para trás, em minha mente, sobre se tomei a
decisão certa em dizer não para você. Talvez a sua seja minha única
oferta. Talvez eu simplesmente não seja o tipo de mulher que consegue
amor e romance.

A bile subiu em sua garganta junto com palavras de protesto. Ele as


engoliu. Queria discordar e dizer-lhe que ela deveria esperar por um
homem que visse o quão especial ela era. Mas, cerrou os dentes. Ele
nunca a faria se sentir assim, ele não queria ou não sabia como.

O que deveria fazer era pedir que ela se casasse com ele novamente.
Neste momento de fraqueza, ela provavelmente diria sim. Então, teria o
que queria desde o início. Mas de alguma forma, não podia sujeitá-la a

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manipulação emocional, também. Ela tinha sido a brisa de verão de
honesto ar fresco que esse baile precisava desesperadamente.

O que ele estaria tirando dela...

— Você sabe o que eu lhe admiro? — Ele perguntou.

Ela olhou para ele, seu olhar cauteloso.

— Não sei dizer.

Ele queria começar contando a ela todos os lugares em seu corpo


que gostaria que aquela língua lambesse, e todas as partes que ele
lamberia em troca. Mas não era disso que ela precisava.

— Sua honestidade. — Ele encontrou um lugar na pista de dança e


se virou para ela, tomando-a nos braços.

Seus lábios franziram.

— Isso é muito gentil.

— Não estou sendo gentil. — Ele começou a girá-la pela sala. —


Minha mãe morreu de parto quando estava grávida de mim. Meu pai,
creio eu, secretamente me odiava por causa disso. Ele nunca admitiu, é
claro. — Ele a ouviu suspirar, mas continuou, de alguma forma
precisando dizer isso. — Mas uma pessoa pode sentir quando outra não
gosta dela. Quando estávamos em público, ele me abraçava. Dava um
tapinha na minha cabeça. Mas na privacidade de nossa própria casa, —
Malice estremeceu. — Era uma história diferente.

Ela apertou seu antebraço.

— Oh, Lorde Malicorn.

41
Mas Malice sacudiu a cabeça. Um desejo irresistível de contar a ela
mais da verdade cresceu dentro dele. Mas, não poderia fazer isso aqui na
frente de todos. E quando ele contasse a ela, queria que ela dissesse algo
mais reconfortante do que, Lorde Malicorn. Queria que ela o chamasse
pelo nome de batismo.

— Meu nome é Chad...

C HAD. Ela sussurrou o nome, simplesmente testando-o em sua


boca. Foi bom o jeito que sua língua tocou a parte de trás de seus dentes.

Ele estava girando-os com uma eficiência que a deixou sem fôlego e
ela mal teve tempo de registrar onde estavam, antes de deslizarem para
fora das portas, o ar fresco da noite tocando sua pele.

A noite ainda era recente e poucos convidados procuravam descanso


no jardim, tornando mais fácil para Malice puxá-los para um caminho
escuro.

Sem uma palavra, ela se viu pressionada contra seu corpo, suas
duras formas roubando seu fôlego.

— Diga meu nome novamente.

— Você me ouviu? — Ela engasgou quando ele passou a mão por


sua espinha.

O que estava acontecendo? Ela tinha muitas fantasias sobre


interlúdios românticos no jardim, mas nenhuma delas tinha sido tão
emocionante. Que estranho. Sua proposta tinha sido toda profissional,
menos seu toque...

— Ouvi, agora diga, por favor, Cordélia.

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E então, que Deus a ajudasse, ele baixou os lábios para a nuca dela
e deu um leve beijo na pele. Ela se sentiu como se tivesse sido atingida
por um raio quando uma seta de prazer a percorreu.

— Chad, — ela disse, seu nome soando ofegante e devasso.

Ele gemeu em resposta, enquanto seus lábios deslizavam pela


coluna de seu pescoço até chegarem ao ouvido.

— Isso é o oposto do que eu queria de você, — ele disse, sua voz


vibrando contra sua pele.

— Não tenho certeza se entendi. — Ela inclinou a cabeça para o lado


para dar melhor acesso a ele.

— Usei a palavra adequada, Cordélia. Eu queria uma esposa, não


uma amante. — Ele deu a sua orelha a menor lambida antes de chupar
em sua boca.

Suas vísceras se transformaram em geleia.

— Eu gosto muito mais dessa, acho.

Ele começou a beijar sua bochecha, seus lábios dando um pequeno


beijo no canto de sua boca.

— Você trocaria beijos secretos no jardim pela minha proposta de


casamento?

— Sim, — ela respondeu sem pensar duas vezes. — Definitivamente


sim.

— Peça e você receberá. — Então ele cobriu sua boca com a dele.

Ela havia lido mais do que alguns livros em que a heroína recebia
um beijo do herói. Ela até tentou escrever uma cena como esta. Mas nada

43
a havia preparado para sentir sua boca mordiscando a dela. A pressão de
seus lábios enquanto ele beijava os dela, primeiramente fechados e depois
abertos, fez seus joelhos fraquejarem. Quando a língua dele deslizou
levemente contra a dela, ela agarrou seus ombros, a sensação de
formigamento tornando difícil ficar de pé, ou respirar, ou fazer qualquer
coisa além de segurar.

Vagamente, estava ciente de que ele insinuou que esse beijo


significava que ele rescindiu sua proposta de casamento. Ela não ligou.
Isso era muito melhor do que adequado.

Ela não tinha ideia de quanto tempo havia passado, mas vagamente
percebeu uma mudança no som. Em vez de música, ela ouviu a quietude
da noite e o som de vozes.

— Droga, — Malice murmurou contra seus lábios. — A dança


acabou.

— Dança? — Ela perguntou se afastando um pouco, sua mente uma


bagunça confusa.

Ele sorriu no escuro e então beijou levemente seus lábios


novamente, deslizando as mãos ao redor de seu rosto para segurar suas
bochechas.

— Essa conversa não acabou.

— Essa conversa nunca começou, — ela respondeu, tentando piscar


para afastar a confusão.

Ele deu uma risadinha.

— Oh, nós dissemos muito, eu acho.

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— E, no entanto, estou mais confusa do que nunca, — ela disse
enquanto ele colocava sua mão na dobra de seu braço.

Ele olhou para um lado e para o outro, então os puxou das sombras
para a luz. Cruzando rapidamente para as portas do pátio, eles entraram.

— Gostaria de dizer que poderia esclarecer, mas não tenho certeza


se posso.

— Diga-me uma coisa. — Ela parou e olhou para ele. — Você


rescindiu sua oferta de casamento?

Ele franziu a testa, olhando para ela.

— Como eu poderia rescindir o que você já rejeitou?

A boca de Cordélia se abriu.

— Suponho que seja verdade.

— Você, Lady Cordélia Chase, — ele se inclinou perto de sua orelha,


— está roubando beijos no jardim e rejeitando propostas de casamento
de marqueses.

Um arrepio de prazer percorreu sua espinha. Ela fechou a boca


aberta e engoliu em seco. Ele tinha acabado de fazer isso por ela? Ele
inseriu insinuações românticas nesta noite? Ela nem se importou se ele
quis dizer isso ou não. Foi o maior presente que alguém já lhe deu. E
agora ela sabia. Afinal, havia um lado suave no Marquês da Malícia.

— Obrigada por isso.

Ele começou a andar novamente e ela permitiu que ele a conduzisse,


seus pensamentos girando. Ele perguntou a ela, pouco antes de beijá-la,
se ela trocaria a proposta pelo beijo. Ela não hesitou e não se arrependeu

45
de sua escolha. Mas ela tinha um pressentimento, era improvável que ele
perguntasse novamente.

Por alguma razão, ele não queria se casar com uma mulher que
beijava no jardim. Ele só queria um que fosse adequada.

Um pequeno remorso invadiu sua barriga. Se ela soubesse que o


beijo seria assim, poderia ter dito sim ao casamento e depois roubado o
beijo.

Ainda assim, era seu primeiro verdadeiro gosto do romance, e ela


não o mancharia com segundas intenções.

O arrependimento viria pela manhã.

46
MALICE PUXOU Cordélia para mais perto da multidão, desejando que
ele pudesse levá-la de volta para o jardim. Daring, entretanto, não
aceitaria nada disso. Se Malice não trouxesse Cordélia de volta
prontamente no final da dança, Daring estaria batendo em seu rosto
novamente e, desta vez, o duque não erraria. Não só isso, mas Malice se
pegaria marchando pelo corredor do casamento.

Ele olhou para Cordélia, tentando discernir como ele se sentia sobre
isso. Ele a levou para o jardim para contar a ela mais de sua história,
uma estranheza por si só, e ele acabou usando seu tempo para beijá-la
sem sentido.

O prazer chiou ao longo de sua pele. Que beijo. Ele lutou para se
lembrar de um tempo em que ele já teve um toque tão íntimo. E de alguma
forma, essa conexão só alimentou sua paixão. Ela tinha sido tão aberta e
honesta com sua reação, tão sintonizada com ele.

Sua paixão era inebriante e, francamente, perigosa.

Ele respirou fundo. Ele não queria uma conexão profunda. Sua vida
dependia de sua capacidade de manter as pessoas à distância.
Aproximar-se demais só lhe causou dor.

Cordélia não estava a um braço de distância agora, na verdade, mal


havia um suspiro entre eles.

47
Ele estudou seu perfil novamente. Ela parecia a mesma, narizinho
de fada, lábios carnudos exuberantes, olhos azuis doces e aquele cabelo
loiro que ele agora desejava ver brilhando ao luar enquanto caía sobre
seus ombros.

Mas de alguma forma, ela foi lançada em uma luz diferente que
brilhava de um jeito que nunca tinha visto.

Mais à frente, avistou Daring no meio da multidão. Fácil, já que o


homem era uma cabeça mais alto do que a maioria dos presentes. Seus
olhos se encontraram e os de Daring se estreitaram.

Malice não se irritou, muito pelo contrário. Estava feliz por Daring
estar cuidando de Cordélia. Seu amigo tinha todos os motivos para
proteger Corde de um homem como ele.

Eles se aproximaram do grupo, mas não foi Daring quem os


interceptou primeiro.

Diana se aproximou deles bufando profundamente.

— Ela não está aqui.

Por um momento ele piscou.

— Quem?

Cordélia puxou seu braço.

— A condessa. Lembra? A razão de estarmos aqui.

Oh... ela. Tinha se esquecido completamente da mulher. De


qualquer forma, quem se importava quando uma pequena fada o estava
beijando, borrifando-o com pó mágico que estava confundindo seu
cérebro e...

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— Como vamos enfrentar um problema se o problema não estiver
presente? — Diana colocou as mãos nos quadris.

Malice pigarreou.

— Talvez, neste caso, seja melhor apenas deixar as coisas como


estão. Você sabe, ver se nossas ações já resolveram o problema.

Diana acenou.

— Marque minhas palavras. Ela é uma mulher forte que acaba de


ser ameaçada por um grupo de homens. Ela está planejando vingança.

Ele ergueu uma sobrancelha. Diana e Cordélia não poderiam ser


mais opostas. Diana corajosamente declarou seus sentimentos, um
desafio em seus olhos.

— Você não acha que está exagerando?

— Realmente não. — Diana se aproximou dele, ficando cara a cara.


— Se eu estivesse decidida a me vingar, não ficaria sentada de braços
cruzados.

— Você está se comparando a ela? — Cordélia perguntou, seus


dedos flexionando em seu braço. Ele queria se inclinar e dar um beijo em
sua testa com conforto. — Isso é besteira.

— Não é. — Diana balançou a cabeça. — Pelo que posso dizer, a


condessa e eu somos muito parecidas. Somos mulheres fortes e francas.
A diferença é o que a vida nos trouxe. Em circunstâncias diferentes, eu
poderia ser tão prejudicial quanto ela.

Malice ficou tenso. Ou tão danificada quanto ele. Diana estava muito
mais certa do que ele gostaria de admitir.

— Para certas pessoas não há esperança, há?

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Cordélia deslizou a mão mais alto em seu braço.

— Isso não é verdade. Não tenho ideia do que aconteceu no passado


dela, mas posso te dizer isso. Ela teve a oportunidade de se casar com um
bom homem como o Duque de Darlington e desperdiçou essa chance. Sei
que ela está aborrecida com a maneira como sua vida se transformou,
mas esse erro foi dela, quer ela queira admitir os fatos ou não. Não é
apenas seu passado que atrapalha, mas também suas escolhas.

Malice olhou para ela. Isso era verdade? Seu coração bateu forte no
peito.

Cordélia tirou a mão de seu braço e ele quase a puxou de volta. Ela
deveria estar tocando nele agora. Por dentro, queria estar perto dela, pedir
que explicasse novamente. Afinal, havia esperança para ele? Mas ele se
endireitou. Ele estava agindo de forma absurda. Um beijo, e permitiu-se
ficar completamente louco.

— Às vezes, nossas vidas ditam nossas escolhas. Não podemos nos


ajudar por estarmos danificados. — A surpresa percorreu seu corpo. Ele
realmente disse isso em voz alta?

Diana olhou para ele e depois para Cordélia. Ela não disse uma
palavra, mas suas sobrancelhas se ergueram e seus lábios se apertaram.

— O que esse olhar significa? — Ele exigiu, cruzando os braços.

Diana deu a ele um meio sorriso.

— Nenhuma coisa. — Então, seus olhos vagaram por cima do ombro


dele.

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Malice também se virou. Um homem extremamente bonito estava
caminhando em direção a eles, sua caminhada decidida, seus olhos
vidrados neles.

Ele tinha o tipo de aparência que combinava com o palco. Cabelo


escuro e olhos castanhos com cílios longos e escuros, quase como se ele
os tivesse contornado com carvão. Seus lábios eram quase grandes e as
maçãs do rosto fortes. Malice não gostou dele. Algo em sua presunção
falava de arrogância em vez de confiança.

— Olhe para isso, — disse Diana, sua voz suave. — Você acha que
ele está vindo por mim?

- Provavelmente - respondeu Cordélia, dando um passo ao lado de


sua irmã e mais longe de Malice. Ele tinha o mesmo desejo de puxá-la
contra ele novamente. Ele cravou os dedos na coxa. Ele estava
machucado o suficiente, e não podia se apegar a Corde agora. Precisava
colocar alguma distância entre ele e Lady Cordélia Chase.

CORDÉLIA RESPIROU FUNDO PARA SE acalmar ao se aproximar da


irmã. Respirar, a ocorrência mais natural do mundo, de repente parecia
estranho. Ela teria jurado que seus próprios pulmões estavam no mesmo
ritmo dos de Chad.

Ela piscou, olhando para ele. Ele estava segurando sua coxa de uma
forma que a fez se perguntar se ele estava tendo os mesmos problemas
que ela? De alguma forma, ela duvidou.

Mas Cordélia sentiu certa inspiração para escrever. Ela só tinha


escrito histórias infantis, mas agora... talvez pudesse finalmente
enfrentar um romance.

51
Não sabia como sua história poderia terminar, mas tinha uma visão
clara do começo. E em sua história, o herói iria propor porque ele teria se
apaixonado perdidamente. E sua heroína diria sim, e então eles
compartilhariam um beijo mágico.

Então, ela mordeu o lábio. As histórias só eram interessantes se


tivessem algumas complicações. Problemas para superar. Do que seus
personagens sofreriam? Certamente não de uma proposta malfeita e um
beijo ilícito?

Esses pensamentos realmente a fizeram sorrir antes de franzir a


testa novamente. Isso não era uma complicação em uma história feliz. O
nome do homem era Malice. Ele não era o Príncipe Encantado com que
ela sonhou, tinha que se lembrar desse fato.

Exceto quando ela estudou as linhas de seu rosto, seu coração


acelerou novamente, batendo forte em seu peito.

— Olá, Lady Cordélia. Lady Diana, que bom ver você, — uma voz
feminina chamou de sua direita.

Cordélia se virou para ver a anfitriã do evento, Lady Wilson.

— Minha senhora. — Cordélia fez uma rápida reverência. — Muito


obrigada por nos receber.

— Obrigada por vir. — A outra mulher sorriu. — Como está sua irmã
em seu novo casamento?

Elas conseguiram manter a fuga de Emily em segredo. Todos em


Londres acreditavam que ela se casou conforme planejado.

— Muito bem, minha senhora. — Diana atendeu. — Eles estão em


uma jornada de celebração.

52
— Que delicioso. Seus pais devem estar ansiosos para combinar o
resto de vocês em casamentos igualmente vantajosos.

Cordélia mordiscou o interior da bochecha para não responder. Sua


irmã acabara de se casar. Por que eles já estavam falando sobre o próximo
casamento?

— Foi um prazer te ver, meu...

— Espere. — Lady Wilson piscou. — Tenho alguém que quero


apresentar a Diana.

Cordélia gemeu interiormente em nome de Diana. Ela era linda, o


que significava que sua companhia era muito procurada. Houve
momentos em que Cordélia podia confessar estar com ciúmes, mas outros
em que era grata. Diana passou muito tempo conversando com homens
pelos quais não tinha absolutamente nenhum interesse.

— Claro, — disse Diana. Seus lábios formaram um sorriso, mas


Cordélia pode ver que seus dentes estavam cerrados por baixo.

— Lady Diana, esta é Lorde McKenzie.

Um homem grande com cabelos pretos e olhos tão escuros que


pareciam pretos apareceu atrás de Lady Wilson.

— Lady Diana, um prazer, — disse ele.

Diana fez uma reverência.

— O mesmo.

Ele era classicamente bonito, com nariz reto e maçãs do rosto


salientes. Alto com ombros largos, ele poderia ter sido uma estátua, era
tão bem formado. Cordélia inclinou a cabeça para o lado. Seu único
defeito era que seus lábios eram um pouco finos e isso lhe dava um toque

53
duro. Então, ele voltou seu olhar para ela e ela estremeceu, havia algo frio
neles, talvez fosse apenas a cor escura.

— E esta é Lady Cordélia. — Lady Wilson gesticulou em sua direção.


— A irmã mais nova de Lady Diana.

Ele a encarou por um tempo anormalmente longo. Ela ficou parada,


mas a vontade de mexer-se a fez ficar agitada por dentro, enquanto
enrolava as mãos na saia.

— Duas irmãs na mesma festa. — Sua boca se curvou e Cordélia


abaixou a cabeça. De modo geral, apenas uma irmã participava da
sociedade por vez. Uma mulher casada tinha um status social mais
elevado, então as irmãs apareciam na ordem de nascimento.

Lady Wilson acenou.

— Elas são amigas próximas e este é um caso informal.

Este seria o ano de Diana para ser uma debutante. Cordélia só


apareceu depois que sua irmã se casou.

Diana pigarreou.

— Estamos honradas por estar aqui, Lady Wilson.

— E estou honrado em conhecê-las. — Ele deu outra reverência. —


Eu poderia talvez pedir uma dança?

Diana se endireitou.

— Minhas desculpas, meu lorde. Meu cartão está cheio.

Ele se virou para Cordélia novamente.

— E você, Lady Cordélia? O seu cartão também está cheio?

54
Ela engoliu em seco enquanto seu olhar viajava para Malice. Sua
expressão tinha ficado positivamente tempestuosa.

— Não, meu lorde. Não está.

Seus lábios se apertaram mais, tornando as linhas de seu rosto


ainda mais duras.

— Excelente. Posso pedir uma valsa?

Cordélia ouviu Malice fazer um barulho profundo em sua garganta


quando se aproximou deles. Cordélia não pode recusar. Seria uma
grosseria inacreditável.

— Claro, — ela conseguiu gaguejar.

— Eu a verei na próxima valsa, então. — Com um floreio final, Lorde


McKenzie se virou e saiu.

Lady Wilson estava ao lado deles assistindo sua partida.

— Que curioso. Achei que ele estava interessado em... — Então, ela
olhou para Lady Cordélia e parou. — Mas você, minha querida, pode
acabar sendo a beldade deste baile.

Cordélia respirou fundo. Isso não parecia certo.

55
MALICE OLHOU para as costas de Lorde McKenzie e pensou em como
ele poderia desmantelar o homem. Começaria com os dedos...

Ele apertou o punho, estalando alguns nós dos dedos. Não era
apenas porque o homem havia convidado Cordélia para dançar.
Provavelmente era mentira, mas ele ignorou a verdade. Principalmente,
ele estranhou o olhar do homem. O lembrava de um lobo. Malice fez uma
careta. Tinha ele essa mesma aparência?

Interiormente, ele estremeceu. Ele poderia. Cordélia mexeu com algo


tanto emocional quanto primitivo dentro dele.

Se aquele homem pensava que roubaria seu próprio beijo no jardim,


Lorde McKenzie tinha outra coisa vindo. Malice não sabia onde estava
com a sua proposta, ou o seu futuro com Cordélia, mas sabia que
nenhum arrivista estava entrando e roubando-a antes que ele pudesse
raciocinar tudo.

— Lady Cordélia, — disse ele com muito mais força do que pretendia.

Ela saltou quando seu olhar se voltou para ele.

— Sim?

— Posso pedir a próxima dança?

Sua sobrancelha se franziu.

— Mas nós apenas...

56
Ele não permitiu que ela terminasse antes de começar a conduzi-la
de volta para a pista de dança. Duvidava que pudesse tirá-la de vista
novamente, não sem incorrer na ira de Daring, mas poderia alertá-la.

Ela o seguiu sem reclamar e, quando ele encontrou um espaço no


chão, ele a trouxe para seus braços, mais perto do que realmente era
adequado; ela se encaixou em seu abraço como se pertencesse ali. Eles
começaram os passos sem dizer uma palavra, movendo-se no meio da
multidão e ainda, de alguma forma, em um mundo próprio.

Ele finalmente quebrou o silêncio.

— Não gosto da aparência daquele homem.

— Qual homem? — Ela perguntou, deixando-o balançá-la, sua mão


confortável na curva de suas costas. Ele gostaria de deslizar a palma da
mão mais para baixo, traçar a curva de suas nádegas.

— McKenzie, — ele empurrou entre os dentes cerrados. — Você não


deveria dançar com ele.

Seu corpo ficou tenso sob seu aperto.

— Eu não posso recusar.

— Você pode, — ele respondeu. — Quem liga para o que as outras


pessoas pensam?

— Minha mãe, para começar, — ela respondeu endireitando-se. —


E se eu espero casar-me eventualmente, então tenho que ligar também.

Ele a agarrou com mais força, como se isso fosse mantê-la aqui ao
seu lado.

— Ele é perigoso. Eu sinto.

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Ela se inclinou. Um brilho de preocupação cintilou em seus olhos.

— Perigoso como? Você acha que ele guarda um segredo que poderia
me arruinar? — Então, ela fez uma pausa antes de continuar, — Oh,
espere. É você. Na verdade, se estivermos contando pontos, agora você
tem dois segredos que podem me tornar uma solteirona para o resto da
vida.

— Você tem um comigo também, — ele respondeu defensivamente.

Ela balançou a cabeça, seu sussurro quase inaudível. — Você


sobreviveria se seu clube se tornasse de conhecimento público. — Então
ela se endireitou. — O homem aqui que representa o maior perigo para
mim é você.

Bem, esse foi um ponto muito bom.

E algo que ele considerou pelo resto da dança. Ele não tentou falar
com ela novamente, ele não sabia o que dizer. E ela também não falou.
Mas ele a segurou em seus braços até que as últimas notas tivessem
morrido e eles tivessem que voltar para sua família.

Desta vez, não foi Diana quem os encontrou, mas Minnie, a esposa
de Daring. A pitoresca ruiva ficou olhando para a multidão.

— O que é isso? — Cordélia sibilou quando eles voltaram. - Lady


Abernath está aqui?

Minnie balançou a cabeça.

— Não, mas o Conde de Exmouth está e convidou Diana para


dançar. — Minnie mordiscou o lábio. — Na verdade, ele roubou a dança
de seu parceiro pretendido.

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— Tente não se preocupar. — Daring semicerrou os olhos na mesma
direção de Minnie. — Ele está apenas cuidando dela.

— Você não me dá a mesma confiança, — grunhiu Malice, mantendo


a mão de Cordélia entre as dele.

— Ele é mais honesto do que você, — Daring respondeu sem olhar.

— Lady Cordélia, — outro homem chamou. — Você está pronta para


a nossa dança?

Cada músculo do corpo de Malice se contraiu ao som da voz de


McKenzie. Malice olhou para Daring.

— Posso arrebatá-la e roubá-la de seu parceiro também?

Daring estreitou os olhos.

— Definitivamente não.

Cordélia deu um tapinha em seu braço.

— Estarei de volta em breve.

— Não gosto nada disso, — respondeu ele. Isso foi um eufemismo.


Ele queria empurrar o outro homem para longe e colocar Cordélia perto
dele. Mas não era seu direito. Ele já a havia pedido em casamento, ela
disse não.

Mas ela já estava se afastando, deslizando a mão de seu braço antes


de contorná-lo.

— Lorde McKenzie. — Ela fez uma reverência.

Um pequeno som baixo retumbou em sua garganta. Tudo dentro


dele gritou para puxá-la de volta. Em vez disso, observou enquanto o
outro homem levava Cordélia para longe.

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— Lorde Malicorn, — disse Minnie, quando segurou a jaqueta dele.

Ele se virou para a prima de Cordélia, odiando tirar os olhos dela


mesmo por um segundo.

— Sim? — Sua voz saiu mais áspera do que pretendia.

— Não gosto da aparência dele. — Minnie se aproximou. — Sei que


você foi encarregado de ficar de olho em Cordélia para garantir que ela
não contasse os segredos do seu clube, mas você faria a gentileza de
cuidar dela nesta dança? Algo não parece certo para mim.

Malice jogou sua cabeça para trás com surpresa.

— Com todo o prazer, — respondeu ao acenar para Minnie. — Vou


me certificar de que ele não mova um dedo do lugar.

Minnie deu a ele um sorriso caloroso.

— Obrigada.

Não havia necessidade de agradecimentos. Ele tinha toda a intenção


de manter Cordélia à vista. Poderia estar com medo de seus próprios
sentimentos, mas estava ainda mais cauteloso com este dândi
perseguindo a mulher que ele marcou para si.

CORDÉLIA RESPIROU FUNDO , desejando ter um pouco mais de tempo


entre as danças. Lorde McKenzie dançou como ela esperava, com linhas
claras e nítidas que falavam de beleza, mas que deixaram pouco espaço
para descanso. E não havia nada íntimo ou suave em seu abraço. Ao
contrário do marquês que ela rejeitou.

Ela pegou Chad espreitando por entre a multidão de espectadores à


sua direita, seus olhos neles mesmo quando Lorde McKenzie a girou de
modo que ela perdeu de vista seu não exatamente pretendente.

60
Segundo todos os relatos, McKenzie seria lançado para o papel de
herói. Mas para ela, a visão de Chad a ajudou a relaxar um pouco. Foi ele
quem a fez se sentir segura.

— Lorde McKenzie, não te vi em muitos eventos. Você costuma


comparecer?

Ele balançou a cabeça, olhando para ela.

— Não sou de participar da sociedade. — Ele a puxou um pouco


mais perto e ela se encontrou resistindo ao puxão, tentando manter o
espaço entre eles.

— Compreendo. A sociedade pode ser...

— Exaustiva. — Ele completou com uma risada.

— Com certeza, — ela respondeu. — Então, como você se encontra


aqui esta noite?

Seus olhos escuros brilharam a luz das velas.

— Pretendo me casar em breve. Raramente se encontra uma noiva


adequada em qualquer outro lugar.

— Oh, — ela sussurrou, o calor infundindo suas bochechas. —


Então, sinto duplamente que você acabou comigo como uma parceira de
dança ao invés de minha irmã.

— Eu não sinto, — ele respondeu rapidamente. — Mas me diga por


que você diz isso.

— Ela estará em muitos eventos este ano. Com minha irmã Emily
recém-casada, será a primeira temporada de Diana.

Ele ergueu uma sobrancelha, girando-a novamente.

61
— Seus pais vão insistir que você espere para se casar até que ela
faça um casamento?

O sangue de Cordélia congelou. Esta era uma conversa bastante


íntima para uma primeira dança. Por que aquele estranho estava tão
interessado nela? Ela engoliu em seco. Com sorte, no final da noite ela
descobriria.

— Não faço ideia. Acho que eles não consideraram a possibilidade,


para ser honesta.

— E Lorde Malicorn. Ele também é um candidato à sua mão?

Candidato? — Eu não... quer dizer... não estou totalmente clara... —


Ela parou de falar. Teria Lorde McKenzie notado o olhar de Chad sobre
eles?

— Vou tomar isso como um sim. Juntamente com o fato de que você
dançou com ele duas vezes e sua resposta vacilante, ele deve ter
expressado algum interesse.

Cordélia lambeu os lábios, um hábito nervoso ao qual ela


frequentemente se entregava. Não tinha certeza se deveria confessar que
Chad já havia proposto. De alguma forma, não achava que deveria.

— Posso visitar você, Lady Cordélia?

— Claro, — ela respondeu, sua respiração presa na garganta. Isso


tinha que ser um engano. Ela não tinha realmente dois pretendentes,
tinha?

Enquanto Lorde McKenzie a acompanhava de volta à festa, a mão


dela deslizou ao redor de seu cotovelo. Ele era mais magro que Chad, e
ela tinha que confessar que gostava dos músculos de Chad. Ainda assim,

62
ela era desejada pela primeira vez em sua vida não apenas por um
homem, mas por dois. Sua cabeça estava leve de tontura.

Ela já sabia que nenhum dos dois era provavelmente uma boa
combinação. Lorde McKenzie não tinha o calor que ela precisava e Chad...
apesar de sua oferta, ele se afastou dela. Ela sabia o que queria. Um
homem que seria seu cavaleiro de armadura brilhante. Chad Malicorn
não seria isso para ela, ele só queria uma noiva adequada.

Ela tinha quase certeza de que odiava essa palavra.

Ela olhou para as linhas precisas do rosto de Lorde McKenzie. Ela


franziu a testa, avaliando seu perfil. Havia profundidade esperando
escondida neste homem sob sua superfície fria?

— Então, o verei no meu horário de visita amanhã?

Ele diminuiu o passo, olhando para ela. Seu olhar frio e duro quase
a fez se arrepender de suas palavras.

— Eu não perderia isso.

Ela engoliu um caroço, havia acabado de cometer um erro? Seu


primeiro instinto foi evitar este homem. Claro, esse foi o primeiro
pensamento dela com Malicorn também. Os sentimentos dela sobre
McKenzie também mudariam?

Ela considerou perguntar ao homem ao lado dela, mas se conteve.


Poderia dizer uma coisa com certeza. Desde o início, ela se sentiu
confortável em confraternizar com Chad. No fundo, achava que não
poderia fazer o mesmo com este homem.

— Obrigada pela dança.

63
— Estou ansioso para vê-la amanhã. — Ele parou na frente de sua
família. — Foi um prazer, Lady Cordélia.

Ela começou a responder, mas ele já havia se virado. Com um


encolher de ombros, ela foi em direção a sua mãe. Provavelmente, Diana
gostaria de ficar, mas tanto havia acontecido que ela desejava ir para
casa. Cordélia precisava de silêncio e solidão, e talvez um arranhão de
sua caneta para trabalhar alguns de seus sentimentos.

Porque agora, eles eram uma bagunça confusa.

64
MALICE OBSERVOU quando Cordélia saiu da sala em direção ao
saguão. Ele a seguiu.

O que aconteceu na pista de dança que a fez sair?

McKenzie teria sido horrível com ela? Seu intestino apertou de raiva.
Ele derrubaria o homem no chão. Então, um novo pensamento lhe
ocorreu. E se McKenzie não tivesse sido horrível; e se ele tivesse sido
charmoso?

E se Cordélia tivesse decidido que preferia a companhia do outro


homem à dele?

Seu colarinho parecia mais apertado em volta do pescoço. Ele não


poderia culpá-la se ela escolhesse McKenzie para o casamento. Malice
propôs, dizendo que ela era adequada, ou alguma coisa sem sentido, ele
compartilhou detalhes sórdidos de seu passado, e se envolveu em um
comportamento inadequado no jardim. Maldição, ele era uma praga para
a mulher.

Precisava falar com ela novamente para se desculpar, ou pelo menos


se certificar de que não a ofendeu. Ou que McKenzie não tinha sido
desagradável. Talvez ele precisasse trabalhar mais para cortejá-la. Ou
exigir que ela se casasse com ele depois do beijo. Se casamento fosse o
que ele realmente queria dela.

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Ele esfregou a nuca, seus pensamentos estavam girando fora de
controle. Com surpreendente clareza, percebeu que parecia uma maldita
mulher.

Mas de alguma forma, ele não conseguia parar de se preocupar.


Enquanto estava preocupado em se comprometer com uma mulher pela
qual sentia algum apego, ele pode tê-la afastado longe o suficiente para
que algum outro homem fosse arrebatá-la de suas mãos.

Saindo, ele observou Cordélia subir em sua carruagem. Ele sinalizou


para a sua própria. Não tinha certeza do porquê, só queria vê-la
novamente como se olhar para ela pudesse dar sentido a seus
sentimentos.

Ele estacionou na casa dela a tempo de ver Lady Winthrop descendo


da carruagem, Cordélia logo atrás.

Ele as observou caminhar até a porta e entrar. Saindo de seu próprio


veículo, ele parou na calçada de paralelepípedos, olhando para a casa. E
agora?

Uma única vela chamou sua atenção em uma das janelas acima.
Apertando os olhos, ele avistou uma figura parecida com uma ninfa. Era
Cordélia? Certamente não era sua mãe. Muito pequena. Poderia ser uma
de suas irmãs?

Ele considerou suas opções. Poderia encarar e arriscar que um


transeunte o visse. Poderia jogar uma pedra na janela e potencialmente
alertar alguém, além de Cordélia, que ele estava aqui. Alguém mais o
reconheceria no escuro?

Ele duvidou muito. Olhando em volta dos canteiros do jardim da


frente, encontrou várias pedras pequenas que eram aproximadamente do

66
tamanho certo. Ele arremessou uma para cima e atingiu o revestimento
lateral da casa.

— Droga, — ele murmurou.

Pegando outra, ele jogou-a novamente e bateu na veneziana ao lado


da janela. Ele iria precisar de mais pedras.

Subindo de volta para o canteiro do jardim, ele tateou com as mãos,


a sujeira fria ao toque.

Foi quando ele ouviu o som distinto da faixa se abrindo.

— Quem está aí?

Ele estava curvado, quase sob o alfeneiro, mas reconheceria a voz


de Cordélia em qualquer lugar.

— Corde? Sou eu.

Ela engasgou-se.

— Chad?

Por que o nome dele soava tão bem em seus lábios?

— Sim, amor. Eu preciso falar com você.

Houve uma pausa, na qual ele rastejou para fora da cerca viva e se
levantou. Olhando para cima, podia ver sua figura escura meio
pendurada para fora da janela.

— Encontre-me no portão do jardim em cinco minutos.

Ela se retirou para dentro e ele pensou por um momento que ela não
iria responder. Então, de repente, ela saiu novamente.

— Mas se formos pegos, você jura que vai se casar comigo? — Ela
perguntou.

67
Ele parou. Houve destinos piores.

— Sim. Eu juro pelo túmulo da minha mãe.

Ela não respondeu imediatamente, mas ele a ouviu respirar fundo.

— Eu acredito em você. — Então, ela se inclinou para trás na janela,


agarrando a faixa para puxar o vidro de volta no lugar. — Vá para o beco
à esquerda. Você pode não achar o portão.

— Cordélia, — chamou ele, puxando o casaco. — Preciso que você


me ajude...

— Eu sei, — ela respondeu. — Eu já desço.

Como ela poderia saber? Balançando a cabeça, ele se encaminhou


para o portão.

Ele o encontrou com bastante facilidade, mas demorou vários


minutos até que Cordélia descesse. Ele quase a perdeu no escuro, pois
ela usava uma longa capa com capuz.

— Provavelmente sábio. Sua roupa ajudará a evitar que você seja


descoberta.

Ela parou no caminho, abaixando o capuz.

— Essa é uma das muitas vantagens.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Quais seriam as outras?

Os dedos de Cordélia pressionaram suas bochechas.

— É muito aconchegante.

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Malice queria questioná-la mais. Ela estava claramente
envergonhada com alguma coisa. Estava em seu tom, seus ombros
curvados. Mas havia questões mais urgentes.

— Obrigado por vir me encontrar.

Ela balançou levemente a cabeça.

— Eu não deveria ter vindo.

— Por quê? — Seu intestino torceu.

Uma lasca de luar saiu enquanto ela mordiscava o lábio.

— Podemos ser apanhados. Não gostaria de me casar com um


homem que foi forçado a um casamento.

Ele estendeu a mão e pegou a mão dela.

— Eu sei. Você quer um homem para cortejá-la.

Ela permitiu que ele a puxasse para mais perto.

— Você faz parecer bobo.

— Não é nada bobo, querer se sentir amada. Entendo isso


completamente. — Sua capa roçou sua jaqueta e ele passou um braço
gentil em suas costas. — Sinto muito... — Ele parou, percebendo o que
estava prestes a dizer.

— De que é que estás arrependido? — Ela perguntou, inclinando a


cabeça para trás.

Quando ela olhou para ele assim, Malice não conseguiu conter as
palavras.

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— Lamento não lhe ter dado uma proposta melhor. Você merece a
melhor. Só não tenho certeza se sou capaz. Meu coração está machucado,
Cordélia. Talvez para sempre.

Ela estendeu a mão e tocou seu rosto. Sem usar luvas, as pontas
dos seus dedos macios e aveludados fizeram seu coração bater
descontroladamente no peito.

— Você não tem que explicar para mim.

— Sim, — ele sussurrou, e então se inclinou para dar um beijo leve


naquela boca adorável. — Eu vi o jeito que McKenzie estava segurando
você esta noite. Ele quer lhe reivindicar.

Ela estremeceu, afastando-se.

— Isso é um absurdo.

— Não é. — Ele apertou as mãos na cintura dela. — Ele marcou


outro encontro?

Cordélia engoliu em seco, sua garganta delicada trabalhando.

— Ele perguntou sobre o meu horário de visitas. Mas... — Sua voz


sumiu.

— Não gosto dele, Cordélia. Há algo lá fora que não consigo


identificar. Meu nome pode ser Malice, mas esse homem é frio.

Ela deslizou os dedos pelo pescoço dele, apoiando a palma da mão


em sua pele.

— Mas não você, você é quente.

Curvando-se novamente, ele capturou seus lábios na noite escura.

70
— Eu manteria você aquecida, sim. Durante todo o longo inverno
inglês.

Ela o beijou de volta, estendendo a mão para segurá-lo.

— O que acontecerá quando você se cansar de mim? Afinal, sou


apenas adequada.

Seus dedos se apertaram em sua cintura. Amaldiçoou essa palavra


e seu uso dela.

— Eu não vou. — Ela era tão suave em seus braços, tão perfeita.
Como ele poderia se cansar disso?

Ela balançou a cabeça.

— Minha irmã, Emily, minha prima Minnie. Elas encontraram o


amor. Toda consumação, paixão... — A palavra em seus lábios o fez se
contrair. — Amor emocional. Vou ter que testemunhar a felicidade delas
pelo resto da minha vida. E estou emocionada por elas. Mas como posso
ter o meu próprio prazer, enquanto as observo, se meu marido apenas
acha que sou adequada?

Ele não conseguia dizer às palavras que lavariam todas as suas


preocupações. Parte dele queria, apesar do fato de que não tinha certeza
se eram verdadeiras. Poderia um homem como ele merecer o amor de uma
mulher terna, doce e maravilhosa como ela? Mas ele gostaria de poder
dizer-lhe que a amava, apenas para que ela dispensasse McKenzie e
guardasse suas danças para ele. Era egoísta, sabia disso, mas ela era a
primeira coisa sólida que ele segurou por tanto tempo.

— Deixe-me mostrar como isso pode ser bom. — E então, ele a puxou
ainda mais perto, sua boca cobrindo a dela. Inclinando seus lábios

71
abertos, sua língua varreu as profundidades escuras de seus lábios,
tocando sua língua com a sua. Ele ouviu seu suspiro e deu um rosnado
satisfeito. Afastando-se um pouco, ele murmurou. — Você tem gosto de
canela.

— Eu tenho no meu chá enquanto me dispo.

Ele não a deixou dizer mais nada enquanto a beijava novamente.


Deslizando as mãos sob a capa dela, percebeu que ela não estava com um
vestido ou espartilho, e que apenas algodão macio e curvas suaves
encontravam seu toque.

— Corde, — ele rosnou enquanto explorava sua cintura fina e a


curva de seus quadris. — Você é como o paraíso.

— Eu? Isso é adorável de ouvir.

Ela se derreteu nele, e ele deslizou as mãos para segurar sua bunda
e puxar seus quadris para mais perto. Ela gemeu, um pequeno som de
prazer quando seu corpo pressionou o dele. Sua própria masculinidade,
já dura como uma rocha, palpitou ao sentir sua suavidade pressionada
contra ele.

Ele sabia o que ela queria. E embora ele não pudesse confessar seus
sentimentos, poderia dizer a ela o quanto a queria.

— Você é minha pequena ninfa, — disse ele enquanto arrastava


pequenas mordidinhas em seu pescoço. — Dançando ao meu redor
cheirando a canela e cravo, enchendo meus sentidos com desejos
terrenos... — Ele parou quando alcançou o oco de seu pescoço. Aqui ela
não cheirava mais a especiarias, mas a grama fresca em uma manhã
chuvosa, o tipo que enche um homem de esperança. Inferno, ela cheirava
a flores de corniso, seu lugar favorito para se esconder quando criança.

72
— E você me faz querer coisas que não queria ou pensei que poderia ter
por muito tempo.

Ele puxou a corda de sua camisa, querendo mais de sua pele. Ele
deveria parar. Mas quando sua carne cremosa apareceu, pensou que
nunca poderia parar de tocá-la.

CORDÉLIA SABIA QUE era uma péssima ideia. Simplesmente horrível.


Mas as palavras salpicando seu peito a encheram de uma empolgação
sem fôlego que ela nunca experimentou antes. Os beijos também
ajudaram, é claro.

— Eu quero coisas de você também, — ela sussurrou na noite.


Segundo todos os relatos, McKenzie era o homem mais bonito, mas a
paixão, a força e a necessidade de Chad capturaram sua alma. — Eu
quero estar perto de você, para tocar você. — Sempre. Mas ela não
pronunciou a palavra em voz alta. — Eu nunca experimentei tanta...
vontade.

Ele deslizou os lábios para baixo até que colocaram pequenos beijos
no topo de seus seios.

— Eu sei amor. Eu sei. — Ele descansou a testa no peito dela. —


Devo-te uma explicação, mas cada vez que te pego sozinha para te dizer,
acabo por usar a minha boca para te beijar em vez de te explicar.

Cordélia não tinha certeza se isso estava totalmente errado.

— Está tudo bem.

— Já te disse que a minha mãe morreu ao dar-me à luz. Meu pai,


ele a amava muito e ele... ele me culpou por tê-la levado embora. Ele

73
gostava de me dizer muitas vezes que eu a matei, que desejava que eu
nunca tivesse nascido.

Cordélia tinha sofrido pelos outros, é claro, mas nunca assim. Ela
podia sentir sua dor na aceleração de seu coração. Envolvendo os braços
em volta do pescoço dele, ela segurou seu rosto com força contra o peito.

— Oh, Chad, nenhum garotinho deveria ouvir tais palavras odiosas.

Ele se acalmou contra ela.

— As palavras eram difíceis, mas não eram o pior.

Cordélia não precisava que ele explicasse. Sua respiração ficou


presa.

— Ele machucou você.

Chad pressionou seu rosto contra ela, seus olhos se fechando.

— Eu me escondia nesta árvore para que ele não pudesse me


encontrar. Foi apenas um problema quando ele bebeu e... — As palavras
ficaram presas em sua garganta.

Ela pressionou a bochecha no topo de sua cabeça.

— Você não precisa dizer mais nada. Compreendo. — Ela fez, pelo
menos em parte. Ele estava explicando por que não conseguia expressar
seus sentimentos ou por que não os sentia? Ela não tinha certeza.

E Cordélia sabia que isso significava que eles estavam em um


impasse. Ela queria um homem que a amasse, e ele estava tentando
explicar por que não podia. Ela sofria por ele. Estranho, considerando que
ele acabou de compartilhar que não poderia dar-lhe o que ela precisava.

74
— Por favor. Dê-me mais tempo antes de tomar sua decisão. Estou
tentando ser mais do que você quer e preciso saber que você não
concordará em se casar com ele imediatamente.

Ela sorriu contra o topo de sua cabeça. Tempo era algo que ela podia
dar a ele e isso a deixava feliz.

— De acordo com a situação, Diana deveria se casar antes de mim.


Quem sabe quanto tempo ela vai demorar para decidir? Suas opções
provavelmente serão ilimitadas.

Ele ergueu a cabeça e passou um dedo pela bochecha dela.

— Você pensa que é menos do que suas irmãs e primas? Você não
é. Não vê que sua beleza não está apenas na superfície, mas também por
dentro, brilhando intensamente e criando um brilho em você que... — Ele
parou.

Ela ficou parada enquanto olhava para ele.

— Isso foi lindo. — Ela estava escrevendo quando ele chegou,


começando sua primeira história de amor. Não conseguia imaginar
palavras mais perfeitas saindo dos lábios de nenhum herói.

Ele deu-lhe um sorriso de lado.

— Estou bastante impressionado comigo mesmo. Mas, novamente,


tenho a nítida sensação de que você me polvilhou com o pó mágico de
fada que me fascinou.

De repente, ela não se conteve. Puxando seu pescoço, ela trouxe sua
boca para a dela novamente. Havia um desespero nesse beijo, como se ela
estivesse tentando contar todos os sentimentos que teve com esse toque.

75
Aqueles que ela não conseguia expressar em voz alta sem o risco de
assustá-lo.

Ele foi ferido profundo e completamente quando criança. Embora ela


esperasse mais dele no futuro, por enquanto poderia se contentar com
isso. Mesmo que ele partisse seu coração, o tempo com ele era uma
experiência que ela não perderia em todo o mundo. A dor, esse era o
problema de amanhã.

76
MALICE SENTOU -SE à mesa do café da manhã do Duque de
Darlington, o Conde de Exmouth e o Visconde de Viceroy estavam
presentes também.

Não apenas esses homens eram donos do clube, mas eram mais
como uma família do que os seus familiares jamais haviam sido.

— Eu não gosto daquele tal McKenzie. Isso eu posso dizer com


certeza. — Ele apertou o garfo.

Vice, como eles gostavam de se referir ao visconde, ergueu uma


sobrancelha, seu rosto normalmente claro parecendo um tanto travesso.

— Você não vai me apunhalar com esse utensílio se eu te contar a


verdade, vai?

Ele estreitou o olhar.

— Eu não faço promessas.

Exile pigarreou, seu punho poderoso batendo levemente na mesa.

— Não haverá esfaqueamento.

Vice empurrou a cadeira para trás, equilibrando-se nas duas


pernas.

— A verdade é que você é um homem ciumento à moda antiga. —


Ele deu a ele um sorriso angelical.

Darlington deu uma risadinha.

77
— O ciúme é uma emoção que posso tolerar nesta situação. Pode ser
que você veja a razão.

Malice abriu a boca para dizer a Darlington para ir para o inferno,


mas Vice respondeu primeiro, as pernas de sua cadeira pousando no
tapete de pelúcia com um baque decidido.

— Você enlouqueceu, Daring. O ciúme é o oposto do que Malice


deveria estar sentindo. O homem precisa se lembrar que este é um
casamento de conveniência. Agora, se um parceiro tenta levá-la para a
cama depois do seu casamento, e depois incitá-lo a criar o filhote, o
problema é totalmente diferente. Mas ela é apenas uma mulher em um
mar de opções. Se McKenzie a quer, então...

Malice bateu com o punho, ainda segurando o garfo, na mesa. Ele


já estava farto desse tipo de conversa.

— Se você não calar a boca, vou primeiro tirar Exile daqui, só para
que ele não possa me impedir de te matar.

— Se você riscar minha mesa, você a substituirá, — acrescentou


Darlington, sua voz uniforme e leve. — E eu mandei trazer a madeira das
Américas, então não será barato.

Exile riu,

— Tire-me daqui. Você está louco se pensa que é grande o suficiente.

Malice respirou fundo.

— McKenzie não está colocando a mão nela agora ou no futuro. Não


gosto nem um pouco dele e tenho a sensação de que ele só traria tristeza
para Cordélia.

78
— Estou inclinado a concordar. — Exile assentiu enquanto pegava
um grande pedaço de ovo. — O homem está com dívidas de jogo até os
olhos. Deve para a metade dos clubes da cidade. Ele provavelmente está
procurando uma noiva para salvá-lo de seus problemas.

Malice respirou fundo. Claro que ele estava. Ele só convidou Cordélia
para dançar depois que Diana se recusou. O homem queria se casar com
a primeira bolsa que o aceitasse.

— Precisamos detê-lo antes que ele convença Cordélia de que é um


candidato adequado para a mão dela.

— Estamos impedindo você também? — Daring perguntou


inclinando-se sobre os cotovelos. — Você só quer casar-se com ela para
fazer um herdeiro e então empurrá-la para o campo. Como sua oferta é
melhor do que a dele?

Maldito Daring e sua razão. Seu intestino apertou.

— Eu fui honesto, pelo menos. Eu dei a ela a oportunidade de me


recusar com justa causa. — Se McKenzie percebesse o quanto Cordélia
desejava romance, ele poderia usar essa informação para manipulá-la
para um casamento.

De alguma forma, conseguiu apertar o garfo ainda mais forte


enquanto empurrava o prato.

— Você entende. — Ele esfregou o pescoço, olhando para cada um


dos homens. — Ela foi preterida enquanto os homens cortejavam suas
irmãs. Basta um homem para perceber que ela quer se sentir especial, e
ele será capaz de tirar vantagem dela completamente. Quando ela
perceber, será tarde demais.

79
Suas palavras foram recebidas com silêncio.

Finalmente, Vice quebrou o mutismo.

— Se você me perguntar, já é tarde demais.

— Não é, — ele disparou de volta, se endireitando. — Nós podemos


protegê-la de cometer um erro e arruinar seu futuro.

— Eu não estou falando sobre ela. — Vice cruzou os braços. — Estou


me referindo a você. É tarde demais para você, você desenvolveu
sentimentos. — Ele estremeceu. — Cristo, Jack fez aquela piada no clube.
Você se lembra disso? Cuidado, ou todos vocês perceberão os
sentimentos. Como se fosse uma doença. Bem, pode muito bem ser
contagioso.

— Pare de ser ridículo. — O coração de Malice começou a bater


ruidosamente em seu peito. — Eu não tenho sentimentos. Não posso.
Juro que meu coração está tão marcado que não poderia sentir se eu
tentasse.

— Querido Deus. — Vice se levantou, seus lábios se curvando. —


Você está falando sobre ela curar seu coração partido? Isso é pior do que
eu pensava.

Daring bufou e depois deu uma risada.

— Eu acho isso fantástico.

— Eu não tenho sentimentos, — ele engasgou-se, se levantando


também. — Não vou ouvir mais isso. — Então, saiu furioso da sala e se
dirigiu para a porta da frente. O horário de visitas de Cordélia começaria
em breve. Ele estaria lá do início ao fim. Se seus amigos não o ajudassem,
ele afastaria de McKenzie sozinho.

80
— Malice, espere. — Exile o chamou. — Irei com você.

Excelente. Exile era muito bom em uma luta. Apenas o sujeito que
ele precisava.

CORDÉLIA ESTAVA SENTADA NO SOLÁRIO , a luz entrando, tornando o


ambiente agradavelmente quente. Um serviço completo de chá estava à
sua direita enquanto Lorde McKenzie sorria para ela à sua esquerda.

Ela se levantou, se mexendo para servir uma xícara de chá para ele.

— É ótimo vê-lo de novo, Lorde McKenzie.

— E a você também, Lady Cordélia. — Ele deu-lhe outro sorriso. Ela


só percebeu que seus dentes caninos eram um pouco mais proeminentes.
Uma pequena falha, mas dava a ele a aparência de um lobo quando sorria
daquele jeito. — Fiquei muito feliz em conhecê-la ontem à noite.

Servindo a xícara de chá, ela entregou a ele, fazendo contato visual


com a mãe. A outra mulher estava sentada no canto, fingindo tricotar.
Cordélia percebeu que ela não estava prestando atenção, a menos que
estivesse tricotando um cachecol muito longo. Ela não tinha dado uma
única volta nos pontos desde que Lorde McKenzie havia chegado.

— E tive o prazer de conhecê-lo também. — Ela respirou fundo. —


Assim como Diana. Ela deve descer em um instante. Ela está um pouco
atrasada esta manhã.

Ele levou a xícara aos lábios, tomando um gole enquanto piscava


para ela.

— Não estou aqui para ver Lady Diana. Eu vim para te ver.

As agulhas de sua mãe pararam.

81
— Muito gentil. — Ela engoliu em seco ao voltar para seu assento.
— Mas você não precisa se preocupar com meus sentimentos. Eu sei que
você só me pediu para dançar porque Diana já estava prometida para
cada dança.

Ele colocou a xícara de volta no pires, abaixando ambos para se


equilibrar em seu joelho.

— Isso acontece com você frequentemente?

— O que é isso? — Ela olhou para o chão, sabendo exatamente o


que ele quis dizer. Ela poderia ter se amaldiçoado por revelar tal fato a
ele. Por alguma razão, sentia-se segura em compartilhar seus medos com
Chad. Como se ele não gostasse menos dela por eles. Ela não tinha a
mesma confiança em McKenzie.

— Você é muito bonita, sabe. — Ele olhou para trás e ela também.
A cabeça de sua mãe estava inclinada para baixo enquanto ela continuava
com determinação a tricotar sua longa fileira.

McKenzie se virou para ela e, estendendo a mão, passou o polegar


na parte superior de seu punho ao longo de sua mão enluvada. O toque
era íntimo e provavelmente deveria ter despertado excitação, mas ela não
sentiu nada.

— É muita gentileza da sua parte.

— Não estou sendo gentil, Lady Cordélia. Estou sendo honesto. Você
tem seu próprio charme. Diga-me, você pode ver sem os óculos?

O que isso tem a ver com alguma coisa? Ela se mexeu na cadeira
enquanto consertava os óculos.

— Não particularmente.

82
Seu sorriso sumiu por um momento, antes que ele puxasse os
cantos da boca para cima.

— Bem, não importa. Eles têm seu próprio charme.

Por que ela teve a impressão de que ele não quis dizer essas
palavras? Não que importassem. Ela se inclinou para trás, puxando a
mão de seu alcance.

— Sempre achei que a visão é preferível à cegueira.

As agulhas de sua mãe pararam de clicar, e ela fez um barulho


definitivo de estalo.

A coluna de Cordélia se endireitou.

— Diga-me, Lorde McKenzie, você mora em Londres a maior parte


do tempo?

— Claro, — ele respondeu, relaxando de volta. — O campo não é vida


para mim.

Cordélia acenou com a cabeça como se entendesse, embora não


entendesse. Ela amava o campo com passeios tranquilos, e amplos
espaços abertos, e tempo reflexivo para pensar e escrever.

— Entendo. O que você não gosta?

Ele enrugou o rosto em desgosto.

— O que um homem pode fazer a não ser sentar-se e pensar? Talvez


caminhar, terrivelmente chato.

Ela acenou com a cabeça novamente, pensando que devia estar


ridícula enquanto seus óculos deslizaram pelo nariz.

83
— E a sua vida em Londres? Que tipo de aventuras você participa
aqui?

Ele apertou os lábios.

— Estamos pescando informações, não é?

Ela encolheu os ombros.

— Você se importaria de me fazer uma pergunta em troca? Estamos


nos conhecendo, não é? — Ela não se preocupou em mencionar a cada
frase que ele proferiu, ela ficou mais certa de que não havia futuro para
eles.

— Nós estamos, e eu não me importaria. — Ele se inclinou para


frente e baixou a voz. — Conte-me sobre aquele marquês que parecia
bastante possessivo na noite passada. Ele é um candidato sério para sua
mão?

Seu estômago se apertou quando ela pensou em Chad. Eles se


beijaram duas vezes e ele a pediu em casamento. Mas ela ainda não tinha
certeza da resposta.

— Isso depende, eu suponho.

— Depende do quê? — Uma voz profunda chamou da porta. Cordélia


reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Sua cabeça se ergueu e ela
avistou seu mordomo primeiro. Parado com os olhos arregalados na
porta. Logo atrás dele e uma cabeça mais alto estava Chad.

Ele fixou seu olhar no dela.

Ela endireitou os ombros.

— Depende de você.

84
MALICE mais uma vez estava fora da residência Chase. Desta vez,
porém, o sol forte da manhã brilhava sobre ele, em vez da noite escura
como tinta.

Ele olhou para o que agora sabia ser a janela de Cordélia. O interior
escuro dizia pouco sobre o que poderia estar acontecendo lá dentro.

Ele tinha tanta certeza quanto a seus próprios sentimentos. Eles


eram escuros e encobertos, pesados e turvos pelo passado enquanto ele
contemplava o futuro.

Mas ele conhecia alguns fatos com certeza. McKenzie não iria invadir
e roubar sua chance com Cordélia. Surpreendeu-se até ele mesmo querer
essa chance, mas queria. Ele podia não ser o tipo cortejador que ela
queria, mas francamente, nem McKenzie o era. McKenzie parecia frio e
perigoso, enquanto pelo menos ele sabia com certeza que a fazia se sentir
quente e desejada. Ela mesma disse isso.

Subindo os degraus, bateu na aldrava na porta e imediatamente viu-


se entrando.

Ele ouviu vozes vindo de uma sala à direita. Ele reconheceu a voz
leve, alta e tilintante de Cordélia imediatamente. Quando ouviu o
estrondo profundo de um homem, não teve que adivinhar quem já havia
chegado.

85
Seu peito apertou enquanto seguia o mordomo em direção à porta
já aberta. Estavam discutindo sobre ele. Podia ouvir-se sendo
referenciado. Ele supôs que isso era bom. Mesmo quando não estava na
sala, ele era um assunto de conversa; mas, mesmo assim, Cordélia não
parecia absolutamente certa sobre ele.

Quando o mordomo entrou para anunciá-lo, ele avistou sua pequena


fada carrancuda.

— Isso depende, eu suponho.

Sua mandíbula se fechou. Depende? Malice a beijou sem sentido na


noite anterior. Como ela não disse a este homem para ir embora
imediatamente?

— Depende do quê? — Ele chamou, incapaz de se conter. Ele odiava


que ela tivesse dito isso a McKenzie. Suas palavras deram esperança ao
homem e o alertaram para a oportunidade.

Ela olhou para ele, seus olhos ilegíveis por trás dos óculos.

— Isso depende de você.

Quando conheceu Cordélia, ele a considerou uma mulher maleável.


Ela era quieta e frequentemente agradável. Mas percebeu agora, por trás
de sua fachada havia uma vontade de ferro. Ele gostou bastante.

Seu corpo se apertou em consciência e ele contornou o mordomo,


evitando a apresentação.

— Bem, como faço parte dessa conversa, vou responder a Lorde


McKenzie. Sou possessivo porque pretendo me casar com Lady Cordélia.
— Ele parou olhando para o canto, — Com a permissão de Lorde
Winthrop, é claro.

86
Lady Winthrop guinchou no canto enquanto as bochechas de
Cordélia coraram, fazendo-a parecer bastante revigorada. O desejo pulsou
por ele.

McKenzie se levantou, seus punhos cerrados.

— Ninguém me disse que a lady estava comprometida.

Cordélia se levantou também, seus olhos disparando entre os dois


homens.

— Realmente, meus lordes. Isso não é necessário.

— Você consente em ser minha esposa? — Malice perguntou a ela,


se aproximando. Se ela concordasse, ele jogaria esse arrogante na rua
pelas orelhas. Se ela não o fizesse, bem, ele o expulsaria de qualquer
maneira, mas o homem teria mais motivos para brigar.

Ele prendeu a respiração, percebendo que queria que ela dissesse


sim. Ele estava investido agora. Vasculharia seus sentimentos e medos
mais tarde, mas agora queria que Cordélia fosse sua esposa.

— Você perguntou de novo, afinal. — Cordélia deu a ele um sorriso


suave.

— De novo? — Sua mãe falou do canto. — Você recebeu uma oferta


de um marquês e não fui informada?

— Agora não, mãe, — bufou Cordélia. Em vez de empurrar os óculos


para cima, ela os tirou do rosto. Ele só a tinha visto algumas vezes sem
eles, no primeiro dia em que se conheceram. Ele a achara muito bonita
então, e ela ainda era agora, mas de alguma forma, os óculos se tornaram
parte de como ele a imaginava, e ele gostava dela exatamente como ela
era. Não queria que ela fosse diferente de qualquer maneira.

87
— Não tenho certeza de quantas vezes mais eu poderia perguntar,
então talvez você considere responder? — Ele se aproximou e pegou a mão
dela. — Talvez até me dê uma resposta diferente desta vez.

— Com licença. — McKenzie deu um passo à frente, entrando no


espaço de Malice. — Mas você está interrompendo uma conversa que a
senhora e eu estávamos tendo.

— Encontre uma nova lady, — Malice respondeu, empurrando seu


peito. — Esta está ocupada.

— Meu senhor. — Cordélia tocou a manga de Malice. — Não há


necessidade desse tipo de comportamento.

Tirando os olhos de McKenzie, ele olhou para Cordélia.

— Não se preocupe, minha bela senhora.

Então o punho de McKenzie afundou em seu estômago e ele se


dobrou, o rosto de Cordélia ficando embaçado.

— Senhores, — sua mãe engasgou-se.

Mas Cordélia agarrou seu ombro.

— Se você precisa lutar, faça-o no jardim.

Ele se endireitou, apenas o suficiente para acertar seu próprio soco


no estômago de McKenzie, e este se dobrou também. Malice só foi capaz
de mover a cabeça para a esquerda para que McKenzie não enfiasse a
testa no crânio de Malice.

— Você tem a intenção de lutar mais?

— Eu tenho, — o outro homem engasgou-se.

88
— Muito bem, então. — Malice se endireitou, mas deu uma pequena
piscadela para Cordélia. — Para o jardim.

Cordélia tapou a boca com as mãos, mas seus olhos brilharam. Ele
sabia o que ela estava pensando. Ela nunca esperou que dois homens
brigassem por ela, e isso apelou para sua necessidade de romance. Ele
não tinha certeza se poderia dizer o que ela queria ouvir, mas tomar um
ou dois socos? Ficaria feliz em levar uma surra no inferno para fazê-la
feliz. E com sorte seus esforços seriam suficientes para fazê-la dizer sim
ao seu pedido. Mas isso suscitou a questão, como ele iria proteger seu
coração?

EM SEUS SONHOS MAIS SELVAGENS , fantasias mais profundas,


Cordélia nunca tinha imaginado dois homens brigando por causa de sua
atenção. Ela alisou o cabelo enquanto seguia os homens pelo corredor,
sua mãe logo atrás dela.

— O que você vai dizer ao marquês?

— Agora não, — disse ela por cima do ombro. — Você não pode ver
que temos uma situação em nossas mãos? — Sua voz estava muito mais
alta do que o necessário, e ela só podia esperar que suas irmãs ouvissem.

Com certeza, nem cinco segundos depois, Grace enfiou a cabeça por
um corredor.

— O que está acontecendo? — Seu cabelo loiro perfeito estava


puxado para trás com alguns cachos caindo em ondas sobre seu ombro.

A mãe delas jogou as mãos para o alto.

— Dois lordes estão lutando por Cordélia.

Os olhos de Grace se arregalaram.

89
— Diana, — ela gritou. — Venha rápido. — Então, ela levantou a
saia e correu pelo corredor atrás deles.

O coração de Cordélia disparou em seu peito, a excitação


empurrando seus pés mais rápido. Este pode ser o momento mais
maravilhosamente revigorante de sua vida.

Os dois homens seguiram na frente dela enquanto as mulheres


voavam atrás dela, suas vozes altas apenas adicionando excitação.

— Por que você está fazendo isso? — Malice rosnou.

McKenzie olhou para ela antes de responder.

— Você não pode simplesmente entrar aqui e roubar a mulher que


eu estava cortejando.

Seu coração batia forte no peito e ela o cobriu com as duas mãos.
Isso certamente estava entrando na história que ela escrevia. Quem
triunfaria? Esse deveria ser o homem que ela escolheu? Ela mordiscou os
lábios, um pouco de sua excitação diminuindo. E se Chad se
machucasse? Valeu a pena um pouco de romance?

Ela quase tropeçou nos próprios pés. Foi um belo gesto, essa postura
masculina, mas não mudou nada. Ela não queria se casar com McKenzie,
e só diria sim a Chad se ele expressasse algum afeto genuíno por ela. Em
seu coração, já sabia quem queria que ganhasse e o que ela queria que
essa pessoa dissesse no final.

— Lady Cordélia, acho melhor você não assistir isso, — McKenzie


falou por cima do ombro.

Malice deu-lhe um pequeno empurrão.

— Não diga a ela o que fazer.

90
— Ela precisa de um homem responsável com um pouco de
decência. Certamente não é você. — McKenzie zombou.

— Ah, e é você? — Chad se aproximou do outro sujeito. — Eu sei


sobre você, e o porquê de você estar aqui.

Os homens se encararam e Cordélia tropeçou de verdade, apenas se


controlando e erguendo os óculos. Ela estava intimamente familiarizada
com todas as razões pelas quais Malice poderia não ser ideal, clubes
ilícitos surpreendentemente eram uma de suas menores preocupações.
Mas agora que pensou sobre isso, por que McKenzie estava aqui?

— Lorde McKenzie, — ela chamou, levantando a saia em uma


tentativa de acompanhar. — O que Lorde Malicorn quis dizer?

McKenzie girou, seu rosto marcado por rugas de raiva que a fizeram
parar abruptamente. A expressão dele era um pouco assustadora, e ela
parou e olhou para Chad, então percebeu que esperava por sua garantia
de que ele a manteria segura.

— Ele está simplesmente jogando farpas para que você o escolha.

Sua irmã bateu nas costas dela e ela saltou para frente. A mão de
Chad disparou para firmá-la.

Infelizmente, McKenzie aproveitou o momento exato para dar um


grande golpe em Chad. A mão de McKenzie agarrou a mandíbula de Chad
antes que ele a soltasse para bloquear o soco. Ele ainda agarrou o braço
dela enquanto cambaleava para trás e começava a cair.

Ela soltou um grito e, sem pensar, colocou os braços em volta do


pescoço dele. Eles caíram juntos, os braços dela impedindo a cabeça dele
de bater no chão, mas todo o peso da parte superior de seus corpos caiu

91
sobre sua mão, e ela soltou um grito quando ouviu um barulho distinto e
dor descendo por seu braço.

Ele latejava com uma dor ardente quando ela soltou outro grito, mas
a dor começou a desaparecer, se transformando em uma escuridão feliz.

92
D ROGA ... A MANDÍBULA DE MALICE doía como o inferno, não que ele
se importasse. Ele ouviu um barulho e agora Cordélia estava inerte em
seus braços.

Aquele pedaço de merda, McKenzie, se foi e em volta dele, três


mulheres engasgando se aglomeravam, seu barulho tão constante que ele
não conseguia distinguir uma voz da outra.

— Diana, — ele rangeu os dentes. — Chame o médico. Agora.

Ele embalou a cabeça de Cordélia enquanto balançava lentamente


para frente, mudando o peso dela para que ele pudesse se sentar com ela
em seu colo.

— Grace, é esse o seu nome?

A loira acenou com a cabeça. Ele ficou surpreso com o quanto ela e
Cordélia se pareciam quando Corde não estava de óculos.

— Vá para a cozinha e traga qualquer coisa fria. — Elas giraram e


correram para a cozinha. — Lady Winthrop, você pode pegar o braço dela
com cuidado e levantá-lo sobre a minha cabeça? Eu quero ver que dano
foi feito.

— Oh, meu Deus, — Lady Winthrop murmurou. — Não tenho


certeza se posso. Terei que mandar chamar meu marido.

Malice não queria esperar tanto.

— Você consegue. Onde ela parece ferida?

93
Lady Winthrop mordiscou o lábio enquanto se inclinava sobre ele.
Ele quase se engasgou porque ela parecia exatamente com Cordélia.

— A mão dela está terrivelmente inchada.

— Tudo bem. Segure-a suavemente pelo pulso e cotovelo, e traga o


braço sobre minha cabeça. Bom e fácil, e ela não sentirá nada.

— Você tem certeza?

A voz de Lady Winthrop tremeu, mas ela fez o que ele disse, e logo a
mão dela estava entre eles. Ele podia ver que já estava inchada, mas os
ossos pareciam ainda estar no lugar. Seus ombros caíram de alívio.

Cautelosamente, ele ficou de joelhos e a embalou contra seu corpo


enquanto se levantava lentamente. Ele queria salpicar seu rosto com
beijos para acordá-la. Ela foi ferida enquanto o mantinha seguro. Não
conseguia definir o que isso significava, mas algo dentro dele mudou. Ele
sabia que estava atraído por ela, que até mesmo tinha algum afeto por
ela, mas quem já se colocou em perigo para protegê-lo?

- Lady Winthrop, devo levar Cordélia para o quarto dela?

— Oh, o quarto dela. É adequado? — A outra mulher tinha as duas


mãos nas bochechas. — Quer dizer, acho que está tudo bem. Ela nem
está acordada, mas...

— Talvez você possa acompanhar-me. Eu não sei o caminho de


qualquer maneira. — Ele deu à mulher um sorriso encorajador.

Ela acenou com a cabeça, as mãos entrelaçadas.

— Ela vai ficar bem?

Ele deu a ela um aceno rápido de afirmação.

94
— Pelo que posso ver, é um desmaio leve. Ela vai ficar bem. — Suas
entranhas se apertaram. É melhor que seja verdade, porque ele apenas a
encontrou e, além disso, ela ainda não respondeu à sua oferta de
casamento.

Lady Winthrop estendeu a mão trêmula e tocou a testa de Cordélia.

— Ela é a minha filha mais gentil. Daria todas as posses que tem
para fazer suas irmãs felizes.

Ele tinha visto isso. Na noite anterior, no baile, ela estava


completamente disposta a se afastar para permitir a Diana uma chance
com McKenzie.

— Chad, — ela sussurrou, mexendo-se um pouco em seus braços.


— É você?

— Sou eu, querida, — ele respondeu, roçando sua bochecha no topo


de sua cabeça.

— Você está bem? — Ela perguntou, inclinando a cabeça para trás


para olhar para ele.

Ele olhou para seus olhos entreabertos.

— Estou bem. Não se preocupe comigo. É você que temos que


consertar.

— Sua cabeça... — ela murmurou.

— Não é o meu primeiro soco no queixo. Provavelmente não será o


último.

Ela balançou a cabeça.

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— Não, não... atrás. Tentei ter certeza de que não atingia o chão.
Eu... — sua voz diminuiu quando seus olhos se estreitaram para estudá-
lo.

Suas entranhas se apertaram. Ela foi ferida deliberadamente para


protegê-lo. Ele suspeitou disso, é claro, mas ouvi-la dizer isso.

— Obrigado, Corde, por me proteger. Agora fique quieta enquanto


eu cuido de você. Como está sua mão?

— Dói, — ela respondeu, inclinando a cabeça em seu peito. — Muito.

— O médico estará aqui em breve.

Ela inclinou a cabeça para trás para olhar para ele novamente.

— Lorde McKenzie foi embora?

A irritação percorreu sua espinha. Esse homem precisava de uma


surra séria. O tipo que o faria lembrar-se de ser um cavalheiro, e não sair
por aí dando socos na companhia de uma dama.

— Ele foi. Mas não se preocupe. Eu vou cuidar dele mais tarde.

— Não se preocupe. — Cordélia fechou os olhos e se aninhou em seu


braço novamente. — Ele estava chateado porque sabia que não iria
ganhar de você.

Isso o fez sorrir. Ele já havia se oferecido pela sua mão e então ele
se abaixou e deu um beijo suave em sua testa.

— É gentileza sua dizer, e agradeço muito, mas ainda estarei


ensinando uma lição àquele homem em um futuro muito próximo.

96
— Oh, ensine, — Lady Winthrop fungou. — Podemos dizer uma coisa
com certeza, no entanto. Eu poderia tê-lo considerado um bom candidato
se não fosse por hoje. Sua família tem excelente linhagem.

Cordélia deu um suspiro audível e ele apertou os lábios para não


sorrir.

— Mãe, linhagens? Mesmo? — Então, ela olhou para ele. — O que


você quis dizer quando disse a ele que conhecia os seus motivos?

Ele franziu a testa.

— Só que ouvi dizer que ele tem muitas dívidas em vários clubes. —
Ele não mencionou seu próprio estabelecimento, é claro, mas os olhos de
Cordélia se arregalaram.

— Ele está procurando uma bolsa, — ela sussurrou. — Não admira


que ele foi tão rápido em mudar de Diana para mim.

Interiormente, ele estremeceu. Ele odiava que ela se considerasse


tão feia.

— Você está brincando. Você teve dois homens brigando por você
esta tarde.

Ele sentiu o sorriso dela contra seu peito.

— O ponto alto das minhas tentativas românticas. Sempre me


lembrarei disso.

— Eu também, — ele respondeu. Se havia alguma dúvida em sua


mente sobre a proposta, não havia mais. Como ele poderia deixar uma
mulher que se jogou fisicamente para sua proteção?

Mas então, ele fez uma careta. Como ele iria dar a ela o carinho que
ela merecia?

97
CORDÉLIA ACORDOU LENTAMENTE , como se tivesse dormido
profundamente. Ela tinha dormido de forma engraçada em sua mão? Ela
doía terrivelmente.

Seus olhos piscaram abertos, mas a sala estava confusa. As pessoas


estavam falando? Alguém acariciou sua bochecha.

— Você está acordada, Cordélia?

Chad. Ela piscou várias vezes, tentando trazer seu olhar para o foco.
Chad estava em seu quarto?

Outra mão dobrou lentamente sua mão, e a dor latejava por todo o
braço.

— É uma quebradura com certeza, mas não é séria. Não vai exigir
nem a imobilização, — disse outra voz. — Ela vai precisar descansar por
vários dias e manter a mão parada.

Seus olhos finalmente entraram em foco e sua mente também.


McKenzie bateu em Chad, enquanto Chad a segurava. Ela fez uma careta,
certa de que ele não teria sido atingido, exceto por sua falta de jeito.

— Eu sinto muito. Você está bem? Como está a sua mandíbula? —


Ela olhou para o rosto dele, onde uma grande marca preta e azul havia
se formado.

Ela ergueu dedos trêmulos para roçá-los perto da marca e ele deu o
menor estremecimento.

— Acho que você levou o pior, querida. — Então, ele colocou a mão
sobre a dela, e trouxe seus dedos de volta para baixo. — Você está com
sede?

98
Ela engoliu em seco, percebendo que sua garganta estava seca e
dolorida.

— Estou.

Ele serviu um copo d'água enquanto o médico e sua mãe


continuavam a falar em tons calmos. Levantando suavemente a cabeça,
ela colocou o copo nos lábios e inclinou-o para que pudesse tomar
pequenos goles. Então, ele colocou o copo de lado.

— Corde, — ele começou afastando uma mecha de cabelo de seu


rosto. — Eles provavelmente lhe darão láudano para ajudá-la a dormir e
se recuperar.

Ela assentiu, estremecendo. Ela não gostava muito da mistura.


Fazia sentir-se estranha.

— Eu entendo, embora eu prefira não aceitar.

Ele segurou a mão dela, inclinando-se mais perto.

— Se você consentir em ser minha esposa, posso ficar com você.


Cuidar de você de uma maneira que não posso agora.

Ela lambeu os lábios, olhando para ele. Ela tinha que dizer isso e
doía muito para não ser honesta.

— Emily e Jack estão apaixonados. Minnie e Daring são


inseparáveis. Eu acho que poderia quebrar meu coração testemunhar a
afeição deles se não tivermos nenhuma.

Ele deu um longo suspiro.

— Você tem meu afeto, Cordélia. Você não sabe disso? E posso
prometer que serei um marido atencioso.

99
Ela ergueu as sobrancelhas enquanto suas entranhas se agitavam.
Sua oferta era tentadora.

— Você não vai me mandar para o campo?

Ele fez uma careta, sentando-se na beira da cama.

— Eu só faria isso se eu precisasse proteger você de mim mesmo.

Ela procurou seu rosto.

— O que isso significa?

— Eu vou te contar tudo isso. Você saberá mais sobre mim do que
qualquer pessoa que já conheci, mas primeiro você precisa consentir. —
Ele se inclinou para frente, seus olhos quase implorando. Ele ainda estava
segurando a mão dela e a levou aos lábios.

Seus olhos se fecharam quando a boca dele tocou sua pele nua. A
suave carícia a encheu de uma esperança que ela não ousou expressar.

— Não é que eu esteja tentando ser difícil.

Ele deu uma pequena risada.

— Compreendo. Qualquer mulher que se preze deve questionar se


sou a melhor escolha.

Seus olhos se abriram, e ela começou a se sentar antes de cair de


volta no chão, a dor atravessando seu braço.

— Deite-se, mocinha, — o médico falou severamente.

Chad agarrou seus ombros segurando-a, e guiando-a de volta para


o travesseiro.

— Eles vão lhe dar o láudano em breve e eu terei que deixá-la se


você não se prometer para mim.

100
Ela olhou para ele.

— Não estou questionando sua capacidade de ser um marido


adequado.

Ele fez uma careta.

— Passei a odiar essa palavra.

Apesar da dor, ela sorriu.

— Questiono minha habilidade de mantê-lo envolvido. Eu não sou


muito... — Ela nem sabia que palavra procurava. Atraente? Interessante?

— Cordélia, — ele falou antes que ela pudesse encontrar a palavra


correta. — Você é muito... tudo. Não se esqueça disso porque nunca foi
uma pergunta. O único problema aqui sou eu. Mas estou trabalhando
nisso e, depois de compartilhar minha história com você, talvez você
possa me ajudar. Se alguém é gentil o suficiente para entender como, é
você.

O coração dela apertou-se, a boca se abriu enquanto respirava


fundo.

— Você não tem que mudar por mim. Eu só quero ter certeza de que
o homem que escolhi não quer outra pessoa. Minha vida inteira…

— Cordélia, — ele afastou suavemente o cabelo do rosto dela. — Por


favor, confie em mim quando digo que ninguém me confundiu para nos
enlaçar. Quero você.

Sua confissão a fez se sentir bem. A questão era: foi o suficiente? Ela
olhou para ele, as linhas duras de seu rosto, os músculos que mesmo
agora flexionavam. Ela pensou na maneira como ele a pegou e se colocou
em perigo ao segurá-la e receber o golpe de McKenzie.

101
— Eu consinto. Eu vou me casar com você.

Ele se inclinou para trás, relaxando os ombros.

— Boa menina.

Sua sobrancelha se contraiu. Ela não estava sendo uma boa garota.
Queria ser mulher. Uma que inspirasse amor.

— É hora do seu remédio. Nós vamos deixar você melhor num


momento. — O médico veio em sua direção segurando uma xícara.

— Acho que prefiro não aceitar isso agora, — ela fez uma careta. Ela
não queria dormir. Ela e Chad estavam discutindo facetas importantes de
seu futuro.

Chad acariciou sua bochecha.

— Cordélia consentiu em ser minha esposa. Peço permissão para


ficar com ela enquanto se recupera.

— Ela tem a permissão! — Sua mãe bateu palmas no canto. — Que


notícia maravilhosa. Um duque e agora um marquês na família. Não vejo
por que você não pode ficar, mas vou verificar com meu marido quando
ele voltar de algum clube que você conheça.

O médico colocou a mão atrás de sua cabeça e levou o copo aos seus
lábios.

— Não se preocupe agora. Isso vai acelerar sua recuperação e agora


você tem um assistente. Você será curada rapidamente.

— Chad, — ela fechou os lábios, murmurando ao redor da borda da


xícara. — Eu não quero aceitar.

Ele cerrou os dentes.

102
— Ela realmente precisa?

O médico acenou com a cabeça.

— A mistura vai ajudá-la a dormir e o sono vai estimular a cura.

Ela soltou um suspiro e abriu a boca.

— Você vai ficar? — Por enquanto, ela se concentraria na cura.


Apesar de terem concordado em se casar, ela tinha a impressão de que
essa conversa estava longe de terminar.

103
CHAD SE SENTOU ao lado da cama de Cordélia, observando o suave
subir e descer de seu peito enquanto o sol da manhã entrava por suas
janelas.

Houve um pouco de atividade quando seu pai finalmente chegou na


casa dos Chase, e soube que um homem havia assumido a guarda no
quarto de sua filha. Ele teve que garantir a Lorde Winthrop que se casaria
com sua filha antes que o homem se acalmasse, o que não era uma grande
promessa da parte de Malice. Ele pretendia acelerar o processo de
qualquer maneira. Havia vantagens em ser um marquês e esta era uma
delas.

Outro benefício foi que Lady Winthrop apoiou a união de todo o


coração e se colocou fisicamente entre Malice e seu marido embriagado.
Malice tinha falado pouco, permitindo que a mãe de Cordélia falasse mais.

Ele tinha aprendido uma coisa ou duas sobre como lidar com
homens bêbados em seus dias comandando o clube. Também reconheceu
Winthrop como um cliente frequente em seu estabelecimento. Ele estava
mais do que um pouco aliviado que o homem não o tivesse reconhecido.
Eles usavam máscaras no clube, é claro. E eles espalharam mais de um
boato de que eles eram realmente piratas, ao invés de lordes, mas ainda
assim. A pequena máscara que cobria seu rosto certamente permitia que
um cliente mais exigente reconhecesse sua identidade. Então,

104
novamente, a maioria dos homens estavam bêbados quando Malice
começou a circular pelo andar.

Ele passou a mão pelo cabelo. Ele dormiu um pouco na noite


anterior, mas estava cansado o suficiente para doer até mesmo seu couro
cabeludo.

Respirando fundo, ele olhou para a direita. Havia um livro aberto na


mesa de Cordélia.

Sem pensar, ele o pegou e leu a página preenchida pela metade.


Sorriu ao perceber que era uma cena fictícia de sua dança real e seu beijo
da noite anterior. Voltando várias páginas, ele leu a história, sorrindo
amplamente. Ele era claramente o herói desta história, e McKenzie era
apenas uma complicação irritante. Ele se endireitou, seu cansaço
desaparecendo e seu peito se enchendo de orgulho.

E não apenas porque ele era seu interesse amoroso, afinal. A história
era maravilhosa. Os personagens dançando fora da página e o
capturando. Mas talvez fosse porque ele era um deles.

Ele tinha uma pequena dúvida sobre a ética do que estava fazendo,
mas ele folheou para a frente do livro e leu outra história. Uma onde ele
certamente não seria o destaque.

Desde a primeira palavra, a história o cativou. Era sobre uma


menina órfã, esquecida por todos ao seu redor. Por dentro, seu peito
apertou pela criança enquanto a história se desenrolava diante de seus
olhos.

Ele olhou para a mulher adormecida na cama. Cordélia não era


apenas deslumbrante, amorosa e cheia de compaixão, era talentosa além
da medida. Sua respiração ficou presa em seu peito.

105
Sem querer, leu a próxima história. Nela, desta vez, o personagem
principal era um menino, filho de família abastada. Mas sua mãe morre
e seu pai... O ar saiu de seus pulmões. Seu pai era cruel. O menino se
escondeu em uma caverna oceânica que encontrou e um dia fugiu da
caverna. Ele acabou sendo encontrado e espancado. Então, o menino
decidiu fugir e encontrar o amor verdadeiro. Uma família que realmente
se importava com ele. Uma família que o amava.

A garganta de Malice se fechou. Ele não tinha fugido para uma


caverna, mas para os galhos de uma árvore. E ele tinha feito aquele voto
tantas vezes, as palavras se tornaram como respirar. Eventualmente,
quando não conseguiu ver nenhuma maneira de escapar da realidade de
um pai que batia nele regularmente, ele criou um novo ditado. Nunca
ame. Essa era a única maneira de não ficar com o coração partido.

Ele olhou para Cordélia novamente enquanto fechava o livro. Ele não
precisava terminar a história para saber como terminava. Mas não pôde
deixar de se perguntar como ela conseguiu escrever sua história. Foi
recentemente? Ela tinha adivinhado seu passado?

Ele segurou a cabeça com as mãos. Naquele momento, sentiu-se


exposto e vulnerável. Tinha prometido compartilhar todos esses detalhes
com ela. Como ela os conheceu, e por que ela simplesmente não lhe disse
que já tinha adivinhado?

Ela o estava tratando como um idiota?

Antes de ser o garotinho que fugiu, que sonhou com uma família que
o amava, Malice foi até um garotinho que desejou que seu pai o amasse.

106
Ele teve uma babá, a Sra. Chester, que era uma mulher adorável.
Ela o segurou e embalou, e ele disse a ela muitas vezes sobre o desejo de
seu coração.

Uma noite, aparentemente, seu pai o ouviu dizer essas palavras e a


Sra. Chester respondeu com palavras genéricas de conforto.

— Como ele pode não te amar? É um bom menino.

No dia seguinte, a Sra. Chester foi dispensada. Ele tinha cinco anos
na época. Ela foi substituída pela Sra. Harting. Uma mulher severa que
acreditava na disciplina. Foi quando ele desistiu de seu sonho do afeto de
seu pai e, em vez disso, desejou uma nova família toda junta.

— Chad? — Cordélia sussurrou, quase inaudível no silêncio das


primeiras horas da manhã. — Você está aí?

— Estou aqui, — ele gritou de volta, sua própria voz soando áspera
e enferrujada. Cansaço e emoção certamente a causa.

— Estou com tanto frio, — ela murmurou, se mexendo na cama.

Ele se levantou da cadeira e foi até a cama. Ela não sentia calor ou
frio.

— Vou atiçar o fogo.

Ela estendeu a mão e agarrou seu braço, embora seus olhos não
abrissem.

— Fique comigo.

Ele fez uma careta. Depois da história que acabara de ler, sentiu-se
estranho por dentro. Mas, novamente, estava aqui para cuidar de
Cordélia e eles estavam prestes a se casar. Não havia como mudar isso
agora.

107
— Tudo bem, Corde.

Ele se deitou e pressionou seu lado ileso. Ela se dobrou contra ele,
sua cabeça aconchegando-se na curva de seu pescoço.

— Fique comigo sempre. — Então, ela soltou um longo suspiro e se


acalmou.

Ele tinha certeza de que ela falava dormindo. Não é incomum para
alguém que tomou láudano. Ele não respondeu e ela não perguntou de
novo, relaxando de volta na cama. Seus próprios olhos exaustos se
fecharam.

Eles iriam se casar. Mas ele teve que confessar, depois daquela
história, não estava tão certo de que queria. Ele estava se abrindo muito?
Estava destinado a ser rejeitado novamente?

CORDÉLIA ACORDOU para a realidade aos poucos. A primeira coisa foi


a terrível dor em sua mão, irradiando pelo braço. Ela estremeceu e tentou
se mover, apenas para perceber que estava aconchegada contra algum
objeto grande e quente.

Ela abriu os olhos para encontrar Chad deitado ao lado dela. Ele
estava pressionado contra ela com um braço sobre seu torso e uma perna
sobre a dela.

Ela teve que confessar que, apesar da dor, a posição era


incrivelmente reconfortante. Ela se aconchegou um pouco mais perto e os
olhos de Chad se abriram.

— Você está acordada.

Ela assentiu.

— Estou.

108
— Como você está se sentindo? — Ele ergueu a mão e colocou na
testa dela.

— Bem, — ela respondeu, a sensação de sua grande mão


pressionada em sua cabeça era maravilhosamente reconfortante. —
Como você está. Você dormiu mesmo?

Ele deu de ombros e rolou para longe dela. Imediatamente, ela fez
uma careta pela perda de seu calor, sua sólida carne protetora.

— Eu me saí melhor quando estive ao seu lado. — Ele se levantou e


se espreguiçou. — Sua mão? Está doendo?

— Terrivelmente, — ela sussurrou. Então, ela avistou seu livro. —


Ah, não. — Ela tentou se sentar também, mas sua mão doía terrivelmente.

— O que está errado? — Ele se inclinou sobre ela, e parte de Cordélia


queria implorar para que ele se deitasse ao lado dela novamente.

— Eu... eu não consigo escrever com a minha mão assim. Eu estava


no meio de uma história.

Seu rosto se fechou.

— Isso é lamentável.

Algo estava errado. Talvez a mente dela estivesse confusa, mas


apesar de acordar com o corpo dele sobre o dela, não parecia ele mesmo.

— Você acha estranho que eu escreva?

Ele parou, olhando para ela. — Não, quando penso sobre isso, não
fico surpreso de maneira alguma. Você é muito observadora e articulada.

Ela quase suspirou de alívio, mas segurou-se, dando-lhe um sorriso.

109
— Obrigada. — Mas seu sorriso caiu rapidamente. — Pergunto-me
quando poderei escrever novamente.

Ele se abaixou para tirar algo do tecido de sua colcha.

— Há quanto tempo você vem escrevendo?

— Nos últimos anos. Muitas das minhas histórias são contos


infantis. — Ela apontou para o livro sobre a mesa. Foi quando percebeu
que o livro estava fechado. Ela não tinha deixado aberto na página em
que estava trabalhando? Seu cérebro ainda estava um pouco confuso.

— Sim, — ele murmurou. — Tenho que confessar que li um ou dois.


— Ele olhou para o chão, suas bochechas ficando um pouco vermelhas.
— Por favor, me perdoe.

— É por isso que você está agindo tão estranho? — Então, ela
engasgou-se, — Você não gostou deles.

Ela nunca tinha realmente compartilhado nenhuma de suas


histórias com ninguém antes. Suas irmãs tinham destaque demais e, ela
tinha que confessar, às vezes, desempenhavam o papel de vilãs.

Além disso, ela nunca se considerou particularmente boa.

— Está tudo bem. Compreendo. Nunca mais precisamos falar sobre


isso e, quando nos casarmos, não vou deixar o livro sobre isso. — Então,
ela começou a se sentar, lutando para se endireitar enquanto mantinha
o braço imóvel.

— Cordélia, — ele disse enquanto se abaixava. — Deixe-me ajudá-la


— Ele deslizou os braços sob ela, e lentamente a ergueu para uma posição
sentada.

110
Seu toque aliviou sua tensão. Mas uma vez que a colocou sentada,
ele puxou os braços e se afastou. Seu nariz enrugou. Ela gostaria de
segurar sua mão, pelo menos.

Ele pigarreou.

— Você não precisa esconder seu trabalho. Eu deveria saber que


você seria uma escritora talentosa.

Está aí novamente. Ele olhava o chão enquanto falava. Estaria


mentindo?

— É gentileza sua dizer. Obrigada.

— Não estou sendo gentil. — Ele olhou para ela novamente, e ela
poderia jurar que havia uma acusação no olhar estreito.

Ela inclinou a cabeça para o lado, a língua disparando para lamber


os lábios ressecados.

— Estou com muita sede, — disse ela.

Imediatamente, ele se virou para pegar a água para ela. Gentilmente


levou a xícara aos lábios de Cordélia que deu vários goles. Ela fez uma
careta quando sua cabeça caiu para trás no travesseiro. Chad estava aqui
preenchendo todas as suas necessidades e ainda assim parecia chateado
com ela. Ou suas histórias?

— Melhor? — Ele perguntou.

— Muito. — Ela olhou para ele novamente. — Quais histórias você


leu?

— Aquele que você está escrevendo no momento, — ele respondeu,


colocando a jarra de volta enquanto endireitava outras coisas sobre a
mesa. — E os dois primeiros do livro.

111
Então, ele leu Orphan Kate e The Boy with No Family. Seus títulos
haviam ficado significativamente melhores. Ela pretendia mudar ambos.
Suas mãos se torceram nos cobertores. Ele gostou das histórias dela?

Então, ele olhou-a novamente, seu rosto tenso.

— Você está com raiva de mim por me intrometer?

Ela balançou a cabeça.

— Não. Embora eu nunca tenha deixado ninguém lê-los antes. Mas


está tudo bem se você não gostar deles. — Ela torceu as mãos nos
cobertores. — Eu só os escrevia para mim. Eram uma forma de
reimaginar meus problemas com um final feliz. Eles me dão esperança,
suponho.

Ele se acalmou, então.

— Você escreve sobre seus problemas? Aquele sobre o menino.


Certamente, isso não é sobre você.

Ela assentiu.

— É sim. Uma vez, fugi para uma caverna quando passávamos o


verão em Dover. Levaram dois dias para perceber que eu havia partido.
Eu era quieta. Quando perceberam, bem, eles não ficaram muito felizes.
Minha mãe disse que eu lhe dei um susto terrível e levei uma boa surra
pelo trabalho. Ninguém nunca me perguntou o que me deu para fazer tal
coisa. Achei que ser invisível significava que não era amada. Agora
entendo que eles se importam comigo à maneira deles. Mas, que preciso
de um marido que realmente me veja. Você entende agora por que insisti
para que você não me mandasse para o campo?

Desta vez, ele se sentou na cama ao lado dela.

112
— Entendo. — Então ele respirou fundo, estremecendo. — Em sua
escrita, você tem um verdadeiro dom para expressar e tocar a dor interior.
Sinceramente, pensei que você poderia ter contado essa história sobre
mim.

Agora as coisas estavam ficando claras.

— Vamos pedir um chá e depois você pode me contar sobre sua


infância. Está na hora.

113
AS EMOÇÕES ZUMBIAM na cabeça de Malice e ele lutou para ordená-
las. Queria compartilhar, mas ainda se sentia vulnerável. Cordélia
realmente o viu e reconheceria sua dor pela insegurança que era.

Foi por isso que ficou longe das mulheres. Até agora, ele
cuidadosamente escondeu seu coração e todas as suas emoções, e ele não
tinha certeza se queria abrir aquele cofre.

— Não podemos continuar discutindo sobre você? Por que demorou


dois dias para sua família perceber que você havia partido?

Ela suspirou.

— Eu ficava muito no meu quarto.

Então, seu olhar se estreitou.

— E a surra?

Ela pegou a mão dele, deslizando os dedos pelos dele.

— Eu tomei uma surra com um remo. Nada mais. Embora tenha


doído um pouco. — Ela apertou os lábios. — Suponho que fiz o menino
da história levar uma surra de verdade porque foi assim que me senti
emocionalmente. Na época, eu não tinha certeza se os meninos sentiam
a mesma dor ao serem negligenciados, então dei a ele uma dor física mais
tangível.

Ele estremeceu enquanto massageava suavemente a palma da mão


dela.

114
— Eles sentem essa dor, são melhores em escondê-la.

Cordélia assentiu.

— O que seu pai fez com você?

Ele fechou os olhos, a garganta colada.

— Meu pai me odiava. Não quis acreditar por muito tempo. Na


verdade, quando criança sonhei que ele mudaria de ideia. Tentei ser bom
para que ele me amasse.

— Oh, Chad.

— Você sabia que ele nunca usou esse nome? Só minha babá fez
isso antes de ser demitida por se importar comigo. Achei que ninguém o
usaria novamente. Até você. — De alguma forma, esse pensamento o
acalmou. — Gosto quando você diz isso, no entanto.

— Como ele te chamava? — Sua voz era suave e calmante, mas ele
ouviu o tremor.

— Principalmente 'menino', mas ocasionalmente, quando estava


bêbado e com raiva, 'bastardo'.

— Você sabe que essa conversa é só entre nós, mas você é um


bastardo?

Isso realmente o fez sorrir. Apenas um pequeno movimento de seus


lábios.

— Acho que atualmente prefiro isso. Isso explicaria muito, mas,


infelizmente, sou a cara do meu pai.

115
— Então, como ele poderia não ter uma palavra gentil para você?
Lamentei ser a criança perdida às vezes, mas meus pais me amavam. —
Ela apertou os dedos ao redor dos dele.

— Eu gostaria de ter uma resposta. Se fosse adivinhar, diria que ele


me culpou pela perda da minha mãe, mas ele nunca disse.

Ela levou a mão dele ao peito, descansando-a contra a camisa.

— E o quanto ele te machucou... fisicamente?

Sua mandíbula cerrou.

— Depois que ele despediu a babá, fiquei com raiva e fiquei


agressivo. Houve momentos em que nosso relacionamento era muito
volátil.

— Quantos anos você tinha?

Ele engoliu a bile que havia subido em sua garganta.

— Cinco.

— Então a partir dos cinco anos ele fez o quê? Ele bateu em você?

A voz dela tremeu, embora ele não olhasse para o rosto dela. Ele
estava tentando muito manter a emoção fora da conversa. Precisava
entender por que ele tinha que proteger seu coração, o que significava que
nunca poderia dá-lo totalmente a ela.

— Bem, eu saí para a escola com seis anos de idade e depois estava
em casa apenas nos feriados. — Ele escolheu um ponto na parede para
olhar.

Ela tirou a mão de baixo da dele e pressionou a palma aberta contra


o peito. Ele podia sentir o inchaço de seu seio sob o polegar e os dedos.

116
Ele teve que confessar que seu calor suave era reconfortante além da
medida.

— Eu entendo agora.

— Bom, — ele respondeu dando um aceno de cabeça apertado. —


Não quero enganar você de qualquer maneira. Eu nunca quero.

— Eu sei disto. Não posso dizer o quanto apreciei sua honestidade.


Tenho que confessar que é parte do motivo pelo qual acabamos noivos.
Não preciso me perguntar o que você está pensando. Estou muito grata.

— E quais são as outras razões pelas quais estamos noivos? — Ele


se inclinou, descansando a cabeça ao lado do ombro dela.

— Bem, o fato de você ser um marquês ajudou.

Ele deu uma risadinha.

— Normalmente sim. — Então, ele deu um beijo em seu ombro. —


Você não sente como se eu a tivesse forçado a este compromisso?

A mão dele ainda estava em seu peito, e ela colocou a dela sobre a
dele.

— Não. Eu não sinto. Mas você abriu meus olhos para o que você
vai precisar do nosso casamento. — Se ele estava sendo honesto consigo
mesmo, ela tinha mostrado o que ele precisava. Ele não queria afeto e
amor, mas os encontrou e precisava mais do que nunca.

— Eu já disse o que vou precisar. — Ele se sentou, então. — Preciso


de um herdeiro. E concordei que não os deixarei no campo,
continuaremos juntos como um casal comprometido. Uma concessão de
minha parte, considerando meu passado.

117
Seus olhos tremularam fechados, seus longos cílios descansando em
suas bochechas.

— Você vai precisar de mais do que um herdeiro. Acredito que você


vai precisar do meu carinho. É a única coisa que cura as feridas que você
tem.

Ela não abriu os olhos, mas ele começou a falar várias vezes e depois
parou novamente. Ela estava falando sério? A solução dela era dar-lhe
mais carinho? Parte dele se rebelou. Ele só a machucou. Mas outra parte
mais profunda dizia que ela estava certa. A única solução era aproveitar
o brilho de seu afeto.

Teria que trabalhar duplamente duro para manter algumas


barreiras entre eles. Se não o fizesse, ele apenas a machucaria no final,
ou pior ainda, machucaria seu filho, quando ele não pudesse devolver o
sentimento que eles lhe deram de boa vontade.

T RÊS DIAS SE PASSARAM SEM INCIDENTES . Mais precisamente, refletiu


Cordélia, nem uma única coisa de qualquer interesse que tenha
acontecido. Ela soltou um suspiro alto que ninguém ouviu, é claro. Ela
estava em seu quarto. Sozinha.

Isso não era totalmente verdade. Suas irmãs haviam entrado e saído
para várias visitas, mas estavam ocupadas e suas estadas eram
frequentemente breves.

Diana estava agindo estranhamente, desaparecendo por longos


períodos, e Grace mantinha um calendário social completo.

Pelo menos outra carta chegou de Emily. O casal estava voltando


para casa para explicar sua fuga. O alívio inundou-a ao saber que sua
irmã mais velha estava voltando para casa. Como ela se casou com um

118
conde, sua mãe definitivamente perdoaria a ofensa e já planejava
hospedar outra cerimônia inglesa para ver a união reconhecida. Seu pai
estava furioso, mas mudaria. Sua mãe cuidaria disso.

Cordélia pegou as cobertas e, achando-as sufocantes, jogou-as fora


e saiu da cama com cuidado. Ela estava cansada de ficar sem fazer nada.

A dor em sua mão estava diminuindo lentamente, o que era bom,


mas ainda não podia usar a maldita coisa para muito.

Atravessando o quarto, ela puxou o cordão para chamar sua criada.


Ela precisava desesperadamente de um banho e de se vestir com roupas
de verdade. E ela precisava encontrar pessoas, ou se todos estivessem
ocupados, perder-se em uma história. Ela poderia ler uma ou alguém a
ajudaria a escrever?

Uma hora depois, ela estava vestida com um vestido simples de


cintura alta de algodão francês em uma cor rosa suave. Era um de seus
tons favoritos, trazendo cor ao rosto. O vestido a fez se sentir mais fresca,
mesmo que seu braço doesse.

Pegando a pena com a mão esquerda, ela ficou sentada por uma
hora, não escrevendo sua história, mas fazendo anotações sobre as
próximas cenas. Ela sabia que a história era sobre seu namoro com Chad,
mas o que não tinha decidido era se o final iria ou não imitar a verdade.
Apesar de seus sentimentos, ela duvidava que Chad algum dia
professasse seu amor eterno. Será que sua heroína teria o felizes para
sempre que Cordélia talvez nunca experimentasse?

Seus pensamentos, junto com a árdua tarefa, logo a exauriram e ela


se afastou da mesa. Mesmo assim, ficou satisfeita com os resultados. Ela
usou a ponta da pena e escovou ao longo de sua bochecha enquanto

119
imaginava Chad. Ele não tinha ido vê-la desde que saiu na manhã
seguinte a sua queda.

Sua ausência fez pouco para melhorar seu humor. Ela deveria estar
feliz... estava noiva... mas a verdade é que estava longe de ter certeza
disso. Ela quis dizer o que disse. Ela tentaria o seu melhor para curar seu
passado.

Mas, realmente precisava vê-lo e passar um tempo com ele para fazer
isso. E sua ausência a fez duvidar de sua palavra. Ele mudaria de ideia e
a mandaria para o campo para viver sozinha depois que se casassem?
Talvez ela tivesse cometido um erro afinal.

Levantando-se novamente, ela saiu do quarto e se dirigiu ao salão


da família.

Ela podia ouvir vozes femininas flutuando no corredor e parou por


um momento para ouvir sua mãe e irmãs.

— Ouso dizer que não consigo acreditar na rapidez com que tudo
isso aconteceu, — disse Grace, sua voz ficando mais alta. — Há alguns
dias, achei que Cordélia nem gostasse do homem.

Cordélia apertou os lábios para não fazer barulho e cobriu a boca


com a mão. Eles estavam discutindo sobre ela.

— O que há para não gostar? — Respondeu a mãe. — Ele é bonito à


sua maneira e bem intitulado.

— Mãe. — Grace estalou a língua. — Há mais do que um título para


um bom casamento.

— Não me diga o que faz uma boa combinação. Sou uma mulher
casada com quatro filhas.

120
Cordélia teve que sorrir para isso, sua mão caindo da boca. Ela
caminhou em direção à porta, com a intenção de entrar na conversa que
era, afinal, sobre ela.

— Bem, mesmo assim, você realmente acha que ele é o homem certo
para Cordélia? — Grace fungou. — Ela é sensível, você sabe, mesmo que
ela não diga isso.

Cordélia parou na porta. Diana também estava lá e deixou cair o


crochê, os olhos erguendo-se pensativos.

— Ele é protetor com ela. Eu vou dar esse crédito a ele.

Sua mãe assentiu.

— E ele claramente investiu na preparação do casamento.

Cordélia parou de repente.

— O que isso significa?

Todos os olhos da sala se voltaram para ela.

— O que significa o quê? — Sua mãe perguntou, brincando com o


bordado em seu colo.

Ela bufou uma respiração.

— Como ele está investindo nos planos do casamento?

— Bem. — Sua mãe continuou mexendo em seu fio. — Quer dizer,


ele pediu um casamento rápido, já adquiriu a licença e fez planos para o
café da manhã do casamento.

— Sem mim? — Ela engoliu um caroço. Ele encontrou tempo para


tudo isso, mas não para uma visita.

121
— Bem, querida, você está machucada. — Sua mãe se levantou,
deixando seu trabalho de lado. — Realmente, você deveria agradecê-lo por
cuidar de todos os detalhes. E você sabe que meu gosto é excelente...

— Seu gosto? — Uma agitação começou em seu estômago. — Você


o tem ajudado?

— Claro que tenho. — Sua mãe sorriu brilhantemente. — Você


esteve na cama, e alguém teve que falar por você.

Ela respirou fundo, tentando controlar a raiva que ameaçava


borbulhar dentro dela.

— Por que você simplesmente não veio me perguntar? Estive deitada


lá em cima sozinha e com dor. Já ocorreu a você ou a meu futuro marido
me incluir como uma distração ou apenas uma forma de companhia?

Sua mãe ergueu as mãos.

— Você precisava descansar, querida. Você estava gravemente


machucada.

Ela olhou para a mãe. Ela sabia que a mulher a amava. Mas como
não ocorreu a ninguém incluí-la nos últimos dias? Suas ações a fizeram
se sentir como um fantasma em sua própria família.

— Eu precisava de amor e apoio.

— Corde. — Grace começou a se levantar também. — Você


geralmente gosta do seu tempo de silêncio.

Diana fez uma careta.

— Desculpe, querida. Eu estive distraída.

122
— Obrigada, Diana, por entender que um pedido de desculpas é
apropriado aqui. Só porque sou quieta não significa que você pode me
tratar como se eu não existisse.

— Não estamos fazendo isso. Você tem suas histórias e...

Cordélia bateu o pé, o que fez seu braço estremecer de dor que ela
ignorou.

— Minha mão está quebrada, mãe. Eu não consigo escrever. Além


disso, escrevo as histórias porque ocupam meu tempo e nelas minha
família não me ignora.

— Isso não é justo. — Grace deu um passo à frente. — Você gosta


de ficar sozinha.

— Não por vários dias, — bufou Cordélia. — Será que ele perguntou
sobre mim? Onde estão as cartas?

— Cartas? — Sua mãe franziu a testa. — O que você quer dizer?

— O que eu quero dizer? De que outra forma você fez todo esse
planejamento? — Sua mão boa, segurando a ferida, apertou a pele.

— Nós não escrevemos, querida. Ele veio aqui. Afinal, é onde o café
da manhã será depois de tudo.

Seus olhos nublados com lágrimas.

— Ele esteve aqui? Hoje?

— Só um pouco. — Sua mãe deu alguns passos em sua direção. —


Fizemos a maior parte do planejamento ontem.

123
Ele esteve aqui vários dias? E não a visitou ou mesmo mandou um
bilhete? Seu casamento seria exatamente como seu relacionamento com
a família? Ela realmente queria isso? A resposta era não.

124
MALICE ESTAVA SENTADO na velha sala dos fundos do clube com a
cabeça apoiada no cotovelo enquanto permitia que as moedas caíssem de
sua mão, uma de cada vez. Ele não tinha certeza de quando decidiu que
odiava o clube, mas em algum lugar durante a semana passada seus
sentimentos mudaram.

Ele não queria estar aqui. Em vez disso, gostaria de se aninhar ao


lado de Cordélia, embalando seu braço ferido. Patético.

Naturalmente, ele ficou tão longe dela quanto podia. Pretendia


continuar com o casamento e prometeu mantê-la em Londres com ele. O
que significava que passaria ainda mais tempo aqui. Ele fez uma careta
para as paredes cobertas de fuligem. Quando este lugar se tornou tão
terrível?

— Eu juro, você, sozinho, está criando um ar sombrio sobre o lugar.


— Bad, o Barão de Baderness, franzia a testa em torno do charuto enfiado
entre os dentes. — E isso vem de mim.

Bad era um homem quieto e intenso, não que Malice se importasse.


Exceto, neste exato momento em que seu amigo insinuou que Malice
estava sendo taciturno.

— Eu não estou tornando isso sombrio. Isso é graças ao maldito


charuto. Onde você conseguiu essa coisa? Cheira mal e está escurecendo
as paredes.

125
Exile riu enquanto empilhava outra pilha de moedas.

— Primeiro é a fumaça do charuto, depois os homens que bebem. A


próxima coisa que você sabe, vamos perder mais um membro de nossa
pequena tribo.

— Maldito inferno, — Bad cuspiu entre os dentes. — Você não está


se apaixonando por uma mulher Chase, está?

— Não seja tão dramático, não combina com você. — Malice fez uma
careta sobre a mesa. A verdade era que começou a se perguntar se havia
se apaixonado por ela. Os últimos três dias sem Cordélia foram...
miseráveis. Ele se movia como um rapaz apaixonado por sua primeira
paixão. Mas isso não podia ser verdade. Como poderia ter algum coração
sobrando para dar, e o que faria quando Cordélia percebesse que não
valia a pena amá-lo em troca?

Bad bateu na mesa.

— Graças a Deus. Pensei que você tinha sido derrubado por uma
quatro olhos desajeitada que não é nem mesmo aquela pret...

Ele se levantou em um segundo, sua cadeira batendo no chão com


um baque que ecoou pela pequena sala.

— Termine essa frase e eu vou te bater com tanta força que você não
vai acordar por duas semanas.

Bad inclinou a cadeira para trás, dando uma longa tragada no


charuto antes de arrancar o bastão fumegante da boca.

— Achei que os insultos poderiam revelar a verdade. Você se


apaixonou.

126
O peito de Malice ainda estava estufado e ele puxou o queixo para
trás.

— Como me sinto tem pouca consideração sobre o assunto. Vou


casar-me com ela.

— Quando você vai levá-la para o campo? — Exile perguntou,


movendo uma pilha organizada de moedas ao lado das outras.

Ele hesitou, deixando cair os braços um pouco.

— Não vou levá-la de jeito nenhum. Ela vai ficar aqui comigo.
Fizemos um acordo.

Exile ergueu uma sobrancelha.

— Então você está apaixonado.

— Não estou. — Ele cortou a mão no ar. — Não posso estar. Não sou
capaz de sentir essa emoção e, mesmo que fosse, não gostaria de sentir.
Não é nada além de problemas. Um obstáculo que o deixa vulnerável.

Exile concordou.

— Eu concordo. Sinto o mesmo.

Bad deu de ombros, levando o charuto de volta aos lábios.

— Temos todos a mesma opinião, mas acho que você pode ter um
coração diferente. Você não pode se casar com ela, viver com ela todos os
dias e não desenvolver um apego. É impossível. Você ou tem que se
resignar ao envolvimento emocional, casar-se com ela e mandá-la
embora, ou simplesmente não se casar com ela.

Malice fez uma careta quando se abaixou para pegar sua cadeira, e
depois voltou a se sentar.

127
— Temo que você esteja certo sobre isso.

Exile iniciou uma nova pilha.

— Você não pode desistir do casamento. Ela estaria arruinada, que


é exatamente o que estamos tentando evitar. Por puro despeito, ela pode
muito bem compartilhar que somos donos do clube.

Malice passou as mãos pelos cabelos.

— Ela não aceitaria a proposta sem uma promessa de que ficaria em


Londres.

Bad rosnou.

— E você concedeu? Por quê?

Malice esfregou seu rosto. Ele sabia o porquê. Ele a amava. Abaixou
a cabeça, olhando para o chão. Quando isso aconteceu e como ele não
percebeu. Não queria nada mais do que ficar ao lado de Cordélia para
sempre.

— Esse outro sujeito, Lorde McKenzie, estava farejando sobre ela.


Ele só quer o dote dela e eu...

— McKenzie? — Bad rosnado. — Por que você não disse isso?

— O que você quer dizer? — Malice se endireitou como uma flecha.

— Ele está no meu clube de boxe. Sujeito sujo, nunca luta justo. Ele
joga aqui também. Um bom negócio. Na verdade, ele nos tem uma dívida
considerável. — Bad se inclinou para a frente, os cotovelos sobre a mesa.
— Mas o pior de tudo, eu o vi em várias ocasiões com a Condessa de
Abernath em seu braço.

128
— A Condessa de Abernath? — Seu coração bateu forte no peito. —
Ela deveria estar no baile na outra noite.

— Então? — Exile sentou-se mais ereto. — Você estava com Cordélia


e Diana. A condessa nunca apareceu.

— Sim, mas McKenzie apareceu. E ele foi diretamente para Diana e


Cordélia. Quando Diana recusou sua dança, ele imediatamente procurou
Cordélia, e tem andado por perto dela desde então. — Suas mãos
tremeram. — Não pode ser coincidência que o amante da Condessa de
Abernath agora esteja farejando sobre uma garota Chase.

— Maldito inferno, não pode. — Exile também estava de pé. —


Precisamos alertar as meninas.

Mas Malice não respondeu. Ele já estava encolhendo os ombros em


seu casaco enquanto corria para a porta. Ele precisava ver Cordélia neste
momento. Só queria saber que ela estava segura.

CORDÉLIA PASSOU horas sentada sozinha em seu quarto. Desta vez,


sua mãe e ambas as irmãs tentaram fazer uma visita, mas ela as mandou
embora. Ela disse muito. Ou não o suficiente. Ela não tinha certeza.

Talvez ela fosse a culpada. Elas prestariam mais atenção se ela fosse
mais engraçada ou mais sociável.

Provavelmente foi por isso que Chad ficou longe. Ele decidiu que ela
seria uma esposa adequada e isso é o que ela sempre seria para ele. Nada
mais. Ou talvez, agora que ela concordou em se casar-se, ele não estava
mais interessado em fazê-la se sentir especial. De qualquer forma, estava
preocupada por ter cometido um erro terrível.

129
Uma lágrima escorreu por sua bochecha e ela a enxugou. Elas
apenas embaçaram seus óculos. Ela não poderia fazer isso. Não podia se
casar com um homem que mal a notava. Sua indiferença a esmagaria.

Outra batida soou na porta.

— Por favor. Eu não quero visitantes.

— Muito bem, minha senhora, — respondeu o mordomo. — Devo


dizer a Lorde McKenzie para voltar outra hora?

— Lorde McKenzie? — Ela se endireitou. — Aqui, agora?

— Sim, minha senhora, — respondeu o mordomo. — Embora sejam


quase cinco horas, tecnicamente ainda é o seu horário de visita. Devo
buscar Mary para sentar-se com você ou devo pedir a Lorde McKenzie
para voltar em outra ocasião?

Ela lambeu os lábios, ficando de pé. Ela provavelmente não deveria


vê-lo depois da maneira como ele agiu.

— Eu não acho que seja sábio.

— Muito bem, minha senhora. Posso pelo menos entregar o presente


dele para você?

— Presente? — Ela perguntou, cruzando a sala. — Que presente? —


Então ela abriu a porta. O Sr. Bradley não se incomodou em responder
enquanto entregava a ela um grande buquê de orquídeas brancas. — Ele
envia suas mais sinceras desculpas.

— Ele não deveria estar me dando presentes. — Mas o calor encheu


suas bochechas. Nenhum homem jamais tentou lhe dar uma bugiganga
ou flor. Era uma espécie de promessa e seu estômago embrulhou com a
ideia de um homem ser tão ousado.

130
— Eu me expressei mal. Ele disse que não era um presente e não
deveria ser visto como tal, mas um pedido de desculpas por seu
comportamento. Ele deseja saber se você está bem depois de sua queda.

Ela colocou as flores na mesa e se voltou para o Sr. Bradley.

— Acho que posso vê-lo um pouco para permitir que ele se desculpe.
Traga Mary, por favor, e peça chá e biscoitos.

— Muito bom, Lady Cordélia. — Ele assentiu enquanto se virava


para fazer o que ela havia pedido.

Ela caminhou até a sala de estar, aliviada por não encontrar


ninguém de sua família ali. Sua prima, Mary, entretanto, já havia se
posicionado no canto. Mary era uma mulher adorável com cabelos e olhos
escuros. Não a primeira vez, Cordélia se perguntou por que ela nunca se
casou.

— Boa noite, Mary.

— Cordélia. — A outra mulher sorriu de volta com uma piscadela.


— Você nem vai saber que estou aqui.

Ela acenou com a cabeça para Mary enquanto se sentava no sofá.


Seus movimentos eram animados para dizer o mínimo. Seu braço estava
envolto em tiras de pano e uma tipoia havia sido formada para evitar que
a mão se movesse, mas ainda doía um pouco a esta hora do dia.

Nem dois minutos depois, a porta se abriu novamente e o mordomo


entrou com McKenzie. Ele imediatamente estendeu as mãos.

— Isso é uma tipoia? Eu sinto muitíssimo. Por favor, não se levante.


— Ele estendeu as mãos enquanto cruzava a sala para ela. — Eu sou um
javali completo. Diga que você vai me perdoar.

131
Ela apertou os lábios, permanecendo em seu assento. O que parecia
uma ideia razoável em seu quarto, de repente pareceu estranha. Errada.
Ela estava desesperada por um pouco de companhia que não parecesse
tensa, mas McKenzie não deveria ter sido a resposta. Na verdade, ele era
muito mais cruel do que sua família ou Chad.

— Claro que posso te perdoar. Espero que me perdoe, só posso


receber sua visita por um curto período. Acho que tenho muito pouca
energia.

Ele acenou.

— Certamente. Eu entendo completamente.

O mordomo fez uma rápida reverência e se virou para sair assim que
o serviço de chá chegou. A empregada o colocou na mesa ao lado do sofá.
Cordélia fez uma careta ao perceber que teria que se levantar. Quando
pediu a bebida, esqueceu-se que precisava servir a um convidado. Seria
um desafio com uma mão.

— Que delícia. — McKenzie sorriu. — Eu ia pedir chá. Longo dia.


Tão atencioso você já ter feito o pedido.

— Era você? — Ela franziu a testa, tentando decidir porque toda essa
visita parecia estranha. Colocando a mão boa no assento, ela começou a
se levantar quando ele estendeu as mãos.

— Permita-me. Você não deveria se levantar por minha causa.

Ele estava à mesa, organizando as xícaras e despejando o líquido.


Cordélia não tinha certeza se já tinha visto um homem servir chá antes e
seus olhos se estreitaram.

— Tem certeza de que não posso te ajudar?

132
— Você poderia me ajudar desviando o olhar. — Ele se virou para
ela dando-lhe um grande sorriso que mostrou todos os seus dentes. —
Eu me sinto estranho. Não que não esteja feliz em ajudar, mas temo que
isso não seja natural para mim.

Cordélia assentiu e olhou para o outro lado da sala. Algo estava


errado com esta reunião. Ele estava muito sorridente, muito prestativo.
Ele realmente se sentia culpado ou queria mudar sua opinião sobre se
casar com Chad?

— Aqui está. — McKenzie disse, mas sua voz estava mais distante.

Cordélia virou a cabeça para ver que ele havia servido uma xícara de
chá para Mary. A outra mulher franziu a testa em confusão enquanto
aceitava a xícara.

Cordélia abriu a boca para perguntar o que ele estava fazendo, mas
fechou novamente. Ela não queria que Mary se sentisse mal por aceitar a
xícara.

— Lorde McKenzie, — ela perguntou ao invés. — Você está se


sentindo bem?

— Estou ótimo. — Lá estava novamente. Aquele sorriso dentuço.


Mas ele colocou uma xícara de chá na mesa em frente a ela segurando
uma segunda em uma de suas mãos grandes. — Estou emocionado por
você ter concordado em me ver depois do que aconteceu. Tenho que
confessar que posso ser um homem um pouco ciumento. Mas fui longe
demais e estou muito feliz por ter essa oportunidade.

Ela mordiscou o lábio, decidindo que este era um erro ainda maior
do que ela havia suposto. Ela não queria provocar nenhum
comportamento negativo, dizendo a ele que tinha aceitado a oferta de

133
Chad, e duvidava que McKenzie pudesse fornecer muita clareza sobre se
ela deveria ou não se retirar do compromisso. Em vez de dizer qualquer
coisa, ela tomou um gole de chá.

Imediatamente, ela percebeu que tinha um gosto engraçado. Mais


doce que o normal. Ela pousou a xícara.

— Não beba isso, meu senhor. Algo está errado com isso.

Seu rosto ficou pálido.

— O que você quer dizer?

Seus próprios olhos se estreitaram.

— Tem um gosto estranho. Vou ter que perguntar ao cozinheiro o


que... — Sua voz diminuiu enquanto ela tentava se levantar, mas sua
cabeça girava. Ela se sentou novamente. — Mary. Você sentiu algum
gosto estranho?

Cordélia se virou para olhar para Mary. A outra mulher estava


afundada na cadeira.

— Mary!

Sua própria voz fez sua cabeça pulsar e ela ergueu a mão boa para
pressionar a testa.

— Lorde McKenzie, não me sinto bem.

Ela fechou os olhos para tentar limpar as teias de aranha, mas os


abriu novamente quando mãos grandes envolveram seus ombros. Sua
visão estava turva.

— Eu sei que não, mas não se preocupe. Você vai dormir muito em
breve.

134
— Dormir? — Ela perguntou, mas sua voz saiu engraçada. Como se
sua língua fosse muito grande para sua boca.

Ela tentou limpar sua mente, mas quanto mais ela trabalhava, pior
ficava, e de repente o mundo escurecia.

135
MALICE subiu CORRENDO os degraus da casa dos Chase enquanto o
sol se punha mais baixo no céu, seu estômago afundando com o sol
poente. Seu punho cerrou quando ele levantou a mão para bater a aldrava
na porta da frente. De alguma forma, ele só precisava ver Cordélia e saber
com certeza que ela estava segura.

Malditas bolas, ele já estava falhando com ela. Ele ficou longe para
protegê-la. Suas entranhas se retorceram. Isso não era verdade. Ficou
longe para se proteger. E ao fazer isso ele a colocou em perigo.

Ele respirou fundo. Ele não sabia disso. Na verdade, provavelmente


estava deixando suas preocupações fugirem com ele. Alguém logo
atenderia a porta e o levaria lá em cima. Ela estaria deitada na cama e
provavelmente irritada por ele não ter ido visitá-la pessoalmente por três
dias.

Ele sorriu, relaxando um pouco. Teria que implorar por seu perdão.
Ele estava bem com isso. Então, lhe diria como se sentia. Ou seja, iria
dizer que a amava, que estava apaixonado e... ele fez uma pausa. Por que
estava demorando tanto?

Ele ergueu a mão e bateu novamente. Mais alto.

Depois de mais alguns segundos, ele ouviu passos apressados


cruzando o foyer, e então a porta se abriu. O mordomo, pálido e abalado,
estava diante dele.

136
— Meu senhor, — ele chorou no momento em que o viu. — Graças
a Deus é você.

— Sou eu, — ele respondeu entrando. — Por que estamos


agradecendo por isso? — Mas a sensação de afundamento que sentira o
dia todo voltou. Ele endireitou os ombros como se estivesse se
preparando. — O que aconteceu?

O homem ficou mais pálido.

— Venha comigo e eu explicarei. — Então, virou-se e começou a


subir as escadas. — Lady Cordélia recebeu uma visita, — disse ele por
cima do ombro enquanto caminhavam.

— Quem? — Ele acelerou o passo, não querendo perder uma


palavra.

— Lorde McKenzie, — o mordomo respondeu, parando na escada. —


Foi durante o horário de visita. Eles estavam acompanhados.

Malice colocou a mão nas costas do homem dando-lhe um pequeno


empurrão para mantê-lo em movimento. Precisava subir e ver Cordélia.

— Tenho certeza de que foi tudo muito correto. O que aconteceu?


Ela está bem?

— Mary ainda está dormindo, então não tenho certeza do que


aconteceu, Lady Winthrop desmaiou e Lady Diana enviou um criado para
encontrar seu pai, mas...

Seu intestino deu um nó de medo quando ele se ergueu em toda sua


altura.

— Onde está Cordélia? — A raiva e o medo estavam fazendo sua voz


ficar mais alta.

137
O homem chegou ao topo da escada e parou novamente, virando-se
para encará-lo. Ele cambaleou.

— É exatamente isso, meu lorde. Nós não sabemos. Ela se foi.

— Foi? — Malice parou também, agarrando-se ao corrimão com


tanta força que pensou que fosse quebrar. — O que você quer dizer com
ela se foi?

O outro homem engoliu em seco.

— Bem. Deixei Mary e ela na sala de estar com Lorde McKenzie.


Quando voltei, Mary estava deitada no chão. Lorde McKenzie e Lady
Cordélia haviam desaparecido.

— Onde eles estão? — Sabia que estava sendo obtuso. Mas a ideia
de que Cordélia poderia estar em qualquer lugar em Londres ou mesmo
fora da cidade agora o fazia girar. — Há quanto tempo você descobriu
isso?

— Apenas uma hora atrás, meu senhor. — O homem respirou fundo


várias vezes. — O que nós vamos fazer?

Ele não sabia ao certo e esfregou a mão na nuca. Ele queria se


enrolar em uma bola e chorar como não fazia desde os cinco anos de
idade, quando sua babá foi embora. Em vez disso, ele torceu o pescoço,
dando um estalo.

— Vamos encontrá-la e depois matar Lorde McKenzie. — Ele largou


o corrimão e começou a descer o corredor. — Mostre-me a sala de estar.

— Sim, meu senhor. — O mordomo voltou à vida, movendo-se pelo


corredor. — Como você soube que deveria vir aqui?

Ele balançou sua cabeça.

138
— Foi apenas uma sensação. — Não era nenhum sentimento antigo.
Foi a emoção mais poderosa que já experimentou. E agora que havia
encontrado o amor pela primeira vez na vida adulta, não estava perdendo
Corde. Ela lhe pertencia agora e para sempre, e ele precisava encontrá-
la.

Eles dobraram num canto e ele entrou na sala de estar. Diana


caminhou perto da janela, as mãos cruzadas. No momento em que o viu,
ela parou de andar.

— Obrigada, Senhor. — Ela jogou as mãos no ar.

Ele não disse uma palavra enquanto pegava uma xícara de chá
abandonada e cheirava.

— Ópio, — ele disse, rosnando. Ele reconheceria aquele doce aroma


em qualquer lugar. Não admira que Mary fosse uma poça no chão.

— Ópio? — Diana foi até ele. — Você tem certeza?

Ele fechou os olhos com força. Cordélia havia sido drogada, e agora
ela poderia estar em qualquer lugar.

— O que sabemos? — Ele esfregou o rosto. — Sabemos que ela está


dormindo e que pode permanecer assim por horas. Sabemos que ela está
com McKenzie, ou estava, e sabemos... — Ele hesitou, abrindo os olhos
para olhar para Diana. Ele pensou em seus comentários sobre Lady
Abernath querendo vingança. — Nós sabemos que McKenzie e Lady
Abernath estão em um relacionamento.

Diana ofegou, sua mão cobrindo a boca.

— Para onde eles a levariam?

Ele balançou sua cabeça.

139
— Isso eu não sei, mas conheço alguém que pode saber. — Ele se
virou para a porta. — Mandarei uma missiva assim que souber de alguma
coisa.

— Irei contigo. — Ela se endireitou e começou a o seguir.

— Não, — ele disse enquanto se virava para ela. — Sua reputação.

Diana ficou mais alta.

— Eu não me importo com isso.

Malice fez uma pausa. Ele não tinha muito tempo, mas apreciava o
que Diana queria fazer.

— Você vai me atrasar. Serei mais rápido sozinho a cavalo.

Seus ombros caíram um pouco.

— Eu tenho que ajudá-la. — Uma lágrima escorreu pela bochecha


de Diana. — Às vezes nós a tomamos como certa. Ela dá muito e pede tão
pouco.

Ele estendeu a mão e deu um tapinha no ombro dela.

— Eu a trarei de volta para você, e então você poderá se desculpar


pessoalmente. Agora, cuide de sua mãe e conte a seu pai o que aconteceu.
Ele precisa denunciar McKenzie aos Runners da Bow Street para que
tenhamos mais homens procurando por eles. Você entende?

Diana deu um aceno de cabeça tenso.

— É claro.

Malice se voltou para a porta e desceu o corredor até a escada. Ao


passar sob o teto pintado com querubins, ele fez uma oração silenciosa
para que fosse capaz de manter sua promessa a Diana. Se ele perdesse

140
Cordélia agora... Ele se recusou a terminar o pensamento. Ele a
encontraria. Para o bem deles, precisava trazer Cordélia de volta.

CORDÉLIA ACORDOU EM UM QUARTO ESCURO . A roupa de cama era


confortável o suficiente e a cama era grande e bastante fofa, mas o quarto
cheirava mal. Esta não era sua cama. Sua cabeça latejava e sua boca
estava pastosa de sede.

— Olá, — ela chamou.

— Você está acordada, — uma voz gritou na escuridão. — Eu estava


começando a me perguntar se você dormiria a noite toda.

Cordélia franziu a testa. A voz feminina era estranhamente familiar,


alta e fria em seus tons; isso a fez estremecer, mesmo sob as cobertas.

— Estou com muita sede.

— Oh sim, posso imaginar isso. Você também precisará de comida


em breve.

Cordélia ouviu o som de metal raspando na madeira e o fogo ganhou


vida, lançando sombras por toda a sala enquanto iluminava fracamente
o interior. Ela apertou os olhos, uma figura escultural de pé ao lado da
lareira.

— O que aconteceu?

A mulher se afastou das chamas e foi em sua direção até a mesa ao


lado da cama. Ela ergueu uma jarra e serviu um copo d'água.

— Você não se lembra da visita de Lorde McKenzie?

Ela levou a mão à cabeça. Vagas lembranças de beber um chá muito


doce vieram à mente.

141
— O que tinha no chá?

— Oh, não perguntei isso. — A mulher se abaixou com um copo


d'água na mão. — Quanto menos eu souber melhor. — O rosto de Lady
Abernath apareceu e Cordélia engasgou-se, recuando na cama. Parte da
névoa se dissipou de seu cérebro, mas sua cabeça latejava terrivelmente.

— Mas se eu fosse adivinhar pela maneira como você fala durante o


sono, diria algum tipo de ópio. — Ela empurrou o copo para mais perto.
— Agora, beba. Você precisa de sua força.

Cordélia engoliu em seco, os lábios colados. Sua boca tinha gosto de


lenha, mas depois do que aconteceu, ela achou que não deveria beber
algo oferecido por Lady Abernath.

— Eu mudei de ideia.

A outra mulher suspirou e levou o copo aos lábios, dando um longo


gole.

— Está bem. Posso assegurá-la.

Cordélia olhou para o líquido. Deve estar tudo bem e ela estava com
uma sede inacreditável. Ela pegou o copo e o levou aos lábios, dando uma
pequena cheirada. O líquido cheirava bem. Em seguida, inclinando o
copo, ela tomou um pequeno gole e depois outro. Ele desceu por sua
garganta, frio e refrescante, amortecendo a dor em sua cabeça.

— Melhor? — Lady Abernath cruzou a sala e puxou uma corda. —


Vamos fazer um lanche também. Estou terrivelmente faminta depois de
ficar acordada a noite toda.

Cordélia piscou. O que exatamente estava acontecendo aqui? Ela


tinha sido sequestrada de sua casa para uma festa do pijama? Lady

142
Abernath estava agindo como se fossem amigas. Ela apertou o cobertor
com mais força contra o corpo.

— Por que estou aqui?

Lady Abernath puxou a corda.

— Beba mais água. Você vai precisar.

Cordélia olhou para a outra mulher por um momento antes de


obedecer. A cada gole, sua dor de cabeça desaparecia. Ela não perguntou
de novo, presumindo que descobriria em breve.

Lady Abernath deu instruções a um criado para preparar uma


bandeja e depois voltou para a cama de Cordélia. Instalando-se em uma
cadeira ao lado de Corde, ela se recostou, cruzando as mãos sobre os
joelhos.

— Você está aqui porque preciso da sua ajuda.

— Ajuda? — Cordélia lutou para se endireitar. Entre o braço, a


cabeça e o copo d'água, ela fez uma grande mistura disso. — Você me
sequestrou e agora quer minha ajuda?

— Eu não sequestrei você. Lorde McKenzie teve essa honra. Eu


simplesmente quero fazer uma barganha.

Cordélia agarrou o copo com mais força.

— Que tipo de barganha?

— É bastante simples. Você quer voltar para sua família, de


preferência sem que ninguém perceba que você se foi. — Lady Abernath
deu a ela um grande sorriso que curvou seus lábios, mas nada mais em
seu rosto se moveu. Seus olhos não enrugaram, suas bochechas não se
incharam. Foi o sorriso mais frio que Cordélia já vira. — Quero que toda

143
a Inglaterra saiba que o Duque de Darlington não é a imagem completa
que ele apresenta ao mundo.

Cordélia respirou fundo. Ela estava começando a entender.

— Você quer que eu mostre Daring como dono da Toca do Pecado?

Lady Abernath bateu uma pequena palmada.

— Que garota inteligente você é.

Cordélia balançou a cabeça. Lady Abernath estava jogando bem,


mas essa mulher certamente orquestrou todo o evento.

— E se eu recusar? Fico aqui como sua convidada?

— Ah, não. Certamente, não, — Lady Abernath deu uma gargalhada


estridente. — Mas, vou me certificar de que todos em Londres ouçam que
você passou a noite com Lorde McKenzie. E como ele está em um barco
com destino à França, ele não estará disponível para salvá-la de seu
destino.

— Um barco para a França? — Por que diabos o homem concordaria


com isso?

Lady Abernath girou a mão no ar.

— Receio que sim. Ele tem uma dívida incrível de jogo. Ele tem um
problema real, eu diria. Dei a ele o suficiente para ajudá-lo a viver
confortavelmente em outro país, mas não o suficiente para que ele
pudesse pagar todas as suas dívidas e permanecer aqui. Foi um arranjo
benéfico para nós dois. Ele precisava de dinheiro para sair e eu precisava
de um meio para terminar com isso.

144
O estômago de Cordélia se contraiu. Lady Abernath pagou McKenzie
para sequestrá-la, e agora ninguém sabia onde ela estava ou mesmo que
estava segura. Como sairia dessa bagunça?

145
MALÍCIA IRROMPEU na sala dos fundos do clube, sua respiração
saindo em ofegos curtos. Ele precisava falar com Bad. Seu amigo poderia
saber onde McKenzie estava, ou pelo menos, como encontrar o demônio
que levou Cordélia.

Mas não era Bad quem estava sentado na sala dos fundos, mas Vice
e seu cabelo dourado.

— O que está deixando você todo agitado?

— Onde está o Bad? — Ele gritou, parando bem na frente do homem.


— Preciso dele agora.

Vice fez uma careta, levantando-se da cadeira.

— Exile, Malice precisa do Bad. Isto é uma emergência.

— Vamos lá, — Exile chamou do corredor entre a sala dos fundos e


o próprio clube.

Malice relaxou um pouco quando respirou fundo. Seus amigos


tornaram isso mais fácil.

— Preciso de Daring também. Você pode buscá-lo para mim?

— É claro. O que devo dizer a ele que aconteceu? — Vice já estava


encolhendo os ombros em seu casaco.

— McKenzie levou Cordélia. — As palavras ficaram presas em sua


garganta, fazendo o interior de sua boca parecer inchado e em carne viva.

146
Vice parou, virando-se para encará-lo.

— O quê?

— É verdade. Agora vá. Vou precisar de todos vocês para me ajudar


a recuperá-la.

Vice sacudiu o queixo rapidamente e correu para a porta.

— Eu preciso de uma carruagem agora!

Exile voltou para a sala.

— Bad estará aqui em um momento. Eu ouvi você dizer que Cordélia


foi roubada por McKenzie?

Ele assentiu.

— Sim. Se eu fosse adivinhar, ele a levou para Lady Abernath, mas


não posso ter certeza.

— Eu acho que você estava certo, — disse Bad da porta, puxando a


máscara do rosto. Então, ele apontou para o corredor. — Se ele ainda
estivesse com Cordélia, não poderia estar aqui.

Um choque de energia percorreu sua espinha.

— Ele está aqui. Agora? — Ele saltou em direção à porta, com a


intenção de assassinar o homem na mesa onde ele estava sentado.

Ambos, Exile e Bad bloquearam seu caminho.

— Você não pode matá-lo ainda, — Exile disse perto de seu ouvido.

— Eu concordo, — respondeu Bad. — Precisamos de um plano.

Malice respirou fundo várias vezes.

— O plano envolve bater em McKenzie?

147
— Absolutamente. — Ele colocou a máscara de volta no lugar. —
Mas primeiro, vamos levá-lo para a sala dos fundos.

— Como você irá fazer isso? — Malice perguntou.

— Ele é um jogador degenerado. Vou oferecer a ele um jogo de


apostas altas em nossa sala privada. Ele está jogando uma grande
quantidade de moedas esta noite.

Isso fez o estômago de Malice apertar. —

Pensei que você tivesse dito que ele estava em dívida até os ouvidos.

— Ele está. — Bad encolheu os ombros. — Mas ele conseguiu


dinheiro de algum lugar.

— Cordélia, — disse Malice. — Você acha que Lady Abernath pagou


a ele?

Bad deu a ele um sorriso unilateral.

— Vamos perguntar a ele, não é?

— Ideia fantástica, — Exile respondeu. — Vamos sentar-nos à mesa


de costas para a porta, então ele pensará que também estamos aqui para
o jogo. Quando você entrar atrás dele, certifique-se de fechar a fechadura.

Malice deu um tapa nas costas de Exile.

— Bem pensado. — Então, bateu nele novamente. — Espero nunca


estar do seu lado ruim.

Exile piscou.

— Eu sou um gatinho comparado a você.

Eles foram até a mesa. Sentaram-se na cadeira e esperar era uma


pequena forma de tortura, e os minutos pareceram horas enquanto

148
Malice flexionava os dedos tentando manter a calma. Finalmente, os pés
se arrastaram pelo corredor e a porta se fechou.

— Meu senhor. — Bad tinha um sotaque natural da classe


trabalhadora que rugiu na sala de jogos. Isso ajudou a manter o segredo
deles e a história de que eram trabalhadores. Como resultado, Bad
costumava ser o homem que monitorava as mesas e mantinha a paz. —
Sente-se bem ao lado daquele grandalhão.

— Não se importe se eu fizer isso, — McKenzie respondeu, sua voz


animada, mas arrastada. — Que noite. Devo avisá-los, senhores, que a
sorte está do meu lado esta noite. — E ele assobiou enquanto se sentava.

Malice olhou para ele, estalando seu pescoço.

— Está realmente?

Os olhos de McKenzie lentamente focaram em seu rosto. Demorou


vários segundos antes de começar e tentar pular da cadeira, mas Bad já
estava atrás dele e o empurrou de volta para o assento.

— Não se mova, — Bad rosnou.

Malice se levantou.

— Isso pode ser de duas maneiras. Você pode começar a falar e


podemos ter uma boa conversa. Ou você pode resistir, caso em que terei
prazer em quebrar cada um de seus membros.

McKenzie engoliu em seco.

— Lady Cordélia está na casa da Condessa de Abernath. Ou ela


estava quando eu a deixei lá às seis.

Malice deu um breve aceno de cabeça.

149
— Por que você a levou?

— Cristina… quer dizer a condessa… deu-me dinheiro para sair do


país. Tenho um barco para pegar em algumas horas.

A raiva rasgou seus nervos. O homem iria fugir de sua dívida.

— Você nunca ia se casar com ela, não é?

McKenzie ergueu as mãos.

— Eu iria. Até que ficou claro que você iria me superar. Eu preciso
do dinheiro. Se eu não for embora, vou para a prisão.

O rosnado de Malice cortou o ar. Ele acabara de sentir um lampejo


de simpatia por este completo animal? Seu nome era Malice, pelo amor
de Deus. Ele não sentia nada por ninguém.

Exceto por Cordélia. E agora, ele não podia deixar de pensar no que
ela faria nesta situação.

— Que horas é o seu barco?

McKenzie engoliu em seco.

— Navegará com a maré às seis da manhã.

Malice olhou para Exile.

— Mantenha-o aqui. Avisar-lhe-ei se encontrar Cordélia. Se eu fizer


isso e ela estiver ilesa, leve-o para o barco.

— Ela estará, — McKenzie ergueu as mãos. — Cristina não quer


machucá-la. Ela quer que ajuda em alguma conspiração nefasta.

— Que trama? — Malice perguntou se inclinando mais perto.

McKenzie balançou a cabeça.

150
— Eu não sei. Ela não disse e eu não perguntei. Presumi que quanto
menos eu soubesse, melhor. Francamente, houve algumas vezes em que
questionei sua sanidade. Ela parece se perder em algum lugar do
passado.

Malice se endireitou. Ele acreditou no homem. Principalmente


porque se Lady Abernath tivesse dito a McKenzie que queria denunciar
os donos da Toca do Pecado, ele não teria vindo a este clube.

— Por que você veio aqui esta noite?

McKenzie olhou para suas mãos.

— Achei que poderia aumentar meu dinheiro antes de sair, e este


clube tem os jogos de apostas mais altas de toda Londres.

Malice deixou escapar um suspiro de desgosto.

— Seus problemas o seguirão por onde quer que você vá. — Então,
ele se endireitou. McKenzie não era o único homem permitindo que seu
passado arruinasse seu futuro. Malice estava fazendo o mesmo. Mas, não
mais. Era hora de resgatar a mulher que amava. — Sua carruagem está
lá fora?

— Sim, — McKenzie respondeu, suas sobrancelhas se juntando. —


Por quê?

— Dê-me sua capa.

— Mas, — McKenzie cobriu o fecho com a mão. — Eu preciso disso...

Malice ergueu a mão e bateu com força no rosto de McKenzie. Ele


deveria ter socado o pedaço de merda. Ele culpou Cordélia, ela o estava
deixando mole. Teria que beijá-la repetidamente como punição.

151
— Dê para mim, agora. Se ela não estiver lá, você não precisará
porque estará no fundo do Tâmisa.

Com a mão trêmula, o outro homem desamarrou a vestimenta de lã


e entregou-a a Malice.

— Ela estará lá.

Ele agarrou a roupa e então a gola da camisa de McKenzie, puxando


o homem para fora da cadeira enquanto se inclinava em seu rosto.

— Como você entra na casa da condessa? E lembre-se... sua vida


depende do retorno seguro de Cordélia.

— Eu sempre entro pela cozinha. Nunca pela porta da frente.

A porta externa se abriu e Daring se levantou, enchendo a porta com


seu olhar sombrio.

— O que eu perdi?

Malice olhou para seu amigo, deixando McKenzie cair de volta em


sua cadeira.

— Eu te ponho a par no caminho. Estamos indo para a casa de Lady


Abernath para resgatar Cordélia.

Cordélia sentou-se na cama mastigando lentamente um pedaço de


queijo enquanto a condessa espalhava geleia em um biscoito e o colocava
na boca. Seu estômago embrulhou. Ela não deveria, sob nenhuma
circunstância, estar partilhando pão com esta mulher. Mas, novamente,
ela precisava de sua força. O que quer que eles tenham dado a ela a fez
ficar mal do estômago e a comida estava ajudando.

— Melhor? — Lady Abernath deu a ela outro daqueles sorrisos frios.


O tipo que irritou Cordélia.

152
— Sim, obrigada, minha senhora. — O que ela estava fazendo? Sua
mãe havia incutido maneiras nela, mas realmente precisava agradecer a
sua raptora por um pedaço de queijo?

— Chame-me de Cristina, — ela disse enquanto pegava um cubo de


queijo. — McKenzie estava certo. Você é muito doce. Muito boa para se
envolver nisso.

Ela abriu a boca, mas fechou novamente. Ela ficou tentada a


perguntar se eles a tinham em tão alta consideração, por que a
sequestraram de sua casa, mas provavelmente era uma pergunta inútil.

— E ainda, aqui estamos nós.

O sorriso sumiu.

— Então, minha querida, o sol vai nascer muito em breve.


Poderíamos tê-la de volta em sua cama antes que alguém na sociedade
percebesse. Tudo o que você precisa fazer é concordar em comparecer a
uma festa amanhã à noite. Nela, você dirá a todos que ouviu fofocas sobre
o Duque de Daring e o Conde de Effington secretamente possuírem e
administrarem o centro de jogos mais famoso de Londres.

Cordélia mordiscou o lábio.

— Posso te fazer uma pergunta? Como essa informação os


prejudica? Eu não tenho certeza se entendi.

Cristina acenou com a cabeça.

— Eles construíram o clube fingindo ser piratas, ou ladrões ou algo


assim. Enquanto isso, eles transitam na sociedade como se tivessem uma
reputação excelente. Eles deveriam sofrer como uma mulher sofreria.

Cordélia coçou o queixo.

153
— Estou inclinada a concordar que a sociedade é injusta com as
mulheres. — Não acrescentou que duvidava que machucaria tanto aos
homens. O sustento deles dependeria da receita do clube?

E o mais importante, o que aconteceria se ela recusasse a oferta da


condessa? Ou se ela concordasse e depois não cumprisse? Ou se…

— Eu vejo seu pequeno cérebro girando. — Cristina se inclinou para


frente. — Você sabia que eles me ameaçaram? Disseram que tinham
homens que declarariam ser meus amantes e que estes contariam para o
meu marido?

Cordélia suspeitou que os homens realmente tivessem sido seus


amantes.

— Eu sinto muito.

Cristina acenou com a cabeça.

— Eu só me casei com o Conde de Abernath porque Darlington me


deixou para a ruína. O homem é cruel e repulsivo. — Ela estremeceu e se
inclinou para frente. — Ele me ensinou como realmente machucar outra
pessoa. Fisicamente. — Então, Cristina estendeu a mão e pegou a dela.
Puxando-a em sua direção, Cordélia tentou puxar seu braço para trás,
mas ela ainda estava tão fraca e o aperto da condessa era forte. Pegando
a vela, ela pingou uma grande mancha de cera quente na pele de Cordélia.
Sem querer também, Cordélia soltou um grito, a queimadura causando
arrepios em seu braço quando a dor se ampliou.

Rapidamente, Cristina largou o braço novamente e endireitou a vela.

— Sou uma pessoa legal, Corde.

Como a outra mulher sabia seu apelido?

154
— Mas aprendi muito sobre você e seus hábitos. Traia-me e eu a
encontrarei. E isso foi apenas uma amostra do que vou fazer com você.

Cordélia abraçou o braço contra o peito enquanto a dor ardente


irradiava por sua pele.

— E se eu não concordar?

A condessa deu aquele sorriso dentuço ao se aproximar.

— Então, teremos que convencê-la com um pouco mais de cera. —


A outra mulher agarrou seu braço novamente e sem querer, Cordélia
soltou outro grito.

155
MALICE FLEXIONOU os braços tentando manter a calma enquanto a
carruagem avançava ruidosamente pela rua. Por dentro, no entanto, ele
era uma bola de nervos frenético. Queria sua mulher de volta e queria
fazer a condessa pagar.

— Eu não posso acreditar que ela iria tão longe. — Daring balançou
a cabeça. — Sabia que Cristina estava bem no fundo das trevas, mas não
achei que ela pegaria garotas inocentes.

Malice fechou os olhos com força. Apreensão enrolou em seu


estômago, espalhando uma sensação nauseante por seu corpo.

— A condessa machucará Cordélia?

Daring suspirou, olhando para o teto.

— Eu não sei. Pensei que a conhecia, mas eu estava errado desde


há muito tempo.

— O que aconteceu entre vocês? — Malice não tinha certeza do


porquê e se perguntou se não precisava de algo para passar o tempo e,
talvez se ele entendesse melhor a mulher, seria bom para ele ser capaz de
lutar contra ela.

— Eu a estava cortejando. Nosso relacionamento, pelo menos a parte


física, progrediu. Ela era bastante aventureira e eu achei isso
emocionante. — Daring olhou pela janela para a noite escura. — Quando
ela ficou grávida, pedi sua mão.

156
Malice assentiu. Ele já sabia da maior parte disso.

— Como isso acabou?

— Eu a encontrei na cama com outro homem. — Daring esfregou o


rosto. — Nunca soube quem ele era e não me importo. Na época me
importei, mas agora percebo que aquele cara me fez um favor. Terminei
com ela e nunca mais olhei para trás. Ela se casou com Abernath um mês
depois.

— E a criança? — Malice perguntou.

Daring encolheu os ombros.

— Ela perdeu o bebê.

Malice coçou seu queixo.

— Ao que tudo indica, você deveria estar zangado com ela. Por que
ela te odeia tanto?

Daring balançou a cabeça.

— Eu honestamente não sei. Olhando para trás, eu não tinha certeza


se ela gostava de mim. Ela parecia me odiar às vezes, e não apenas a mim.
Ela não gostava de homens em geral. — Ele esfregou o rosto com as mãos.
— Ela me mandou várias cartas. Em uma delas, me acusou de arruinar
seu futuro. Como se eu fosse o culpado por terminar nosso noivado. Acho
que estava, mas...

Malice deixou escapar um longo suspiro.

— Ela não quer assumir a responsabilidade por suas próprias ações.


— Isso fez seu estômago apertar. Uma pessoa assim era perigosa.

157
— Tente não se preocupar. — Daring olhou para ele. O sol estava
começando a iluminar o céu. - Ela deve querer Cordélia por um motivo e
não é apenas para machucar. Como isso me faria pagar pelos meus
supostos pecados?

Malice coçou a cabeça.

— Por que ela iria querer Cordélia?

Daring franziu a testa.

— Eu não faço ideia. A menos que ela pense que Cordélia pode me
arruinar?

Os olhos de Malice se arregalaram. É claro.

— Ela quer que Cordélia compartilhe o que sabe sobre o clube. —


Então, ele fez uma pausa. — Mas por que ela mesma não compartilha
isso?

Daring encolheu os ombros.

— Ela não tem muita consideração sobrando na sociedade.


Provavelmente pensa que uma mulher pura como Cordélia poderia causar
muito mais danos.

A carruagem começou a desacelerar. Suas entranhas se contraíram


enquanto ele se levantava, abrindo a porta antes mesmo que a carruagem
tivesse parado.

— Vou entrar e fingir ser McKenzie. Siga em alguns minutos e tenha


suas pistolas prontas.

Daring deu um aceno conciso.

— Fique seguro.

158
— Minha segurança não é tão importante. Mas se algo acontecer
comigo, veja para que Cordélia esteja casada. Com um bom homem que
leia poesia e captura estrelas para ela. — Então, ele saltou da carruagem,
abrindo caminho pelo beco.

Daring enfiou a cabeça para fora da porta.

— Então, o oposto de você?

Malice reprimiu um sorriso. Ele provavelmente não combinava com


Cordélia. Mas ela tinha seu coração agora, e ele lhe diria isso faça chuva
ou faça sol. Inferno, ele morreria apenas para ter uma chance.

Ele atravessou o portão dos fundos e seguiu por um caminho até


uma porta nos fundos da casa. Entrando pela cozinha, ele ouviu um dos
empregados chamar.

— Depressa, ela pediu aquela bandeja há cinco minutos.

Malice apertou mais a capa sobre seu rosto. Uma criada veio
correndo da cozinha e praticamente correu em direção à escada dos
fundos. Só a dona da casa poderia inspirar esse tipo de medo, então ele
a seguiu tomando cuidado para ficar longe o suficiente para não ser visto.

A criada subiu dois lances e desapareceu no terceiro. Droga, talvez


ele tenha deixado muito espaço porque, quando conseguiu subir as
escadas, todas as portas estavam fechadas. Como descobriria em qual
quarto a mulher havia entrado? No final do corredor havia algumas
cortinas, ele abriu caminho até a outra extremidade e se escondeu atrás
delas. A janela dava para a rua. Um pouco mais de luz do lado de fora, e
alguém poderia olhar para cima e notá-lo parado na janela, mas pelo
menos o tecido o escondia do corredor.

159
Com cuidado, ele espiou para fora de um lado e observou a criada
sair da terceira porta à direita.

Ele soltou um suspiro. Ele estava assumindo que era o quarto da


condessa, mas como ter certeza? E a partir daí, como encontraria
Cordélia?

Ele saiu de trás das cortinas e lentamente fez seu caminho pelo
corredor, ouvindo qualquer som de vozes ou qualquer outra pista sobre
os ocupantes do quarto. Tudo estava quieto quando ele alcançou a porta.
Lentamente, muito silenciosamente, ele girou a maçaneta. Quando a
trava finalmente cedeu, ele abriu a porta um pouquinho. Então se
inclinou para espiar dentro, prendendo a respiração. Cordélia estava
aqui? Sua resposta veio um segundo depois, quando um grito de gelar o
sangue perfurou seus tímpanos. Sem outro pensamento, ele abriu a
porta.

CORDÉLIA SENTOU - SE NA CAMA , os olhos arregalados enquanto


observava Cristina trazer a vela para seu braço novamente. Por que ela
estava tão fraca?

Ela abriu a boca para gritar novamente quando a porta bateu contra
o batente, fazendo com que as duas mulheres se assustassem.

Mas antes que Cordélia pudesse registrar o que havia acontecido, a


vela voou pela sala, caindo no chão.

— O quê... — A condessa se levantou, soltando seu braço. — Você!

— Eu, — Malice retumbou. — Você pegou algo meu e eu quero de


volta.

A boca de Cristina se curvou em um sorriso de escárnio.

160
— Tão típico de um homem pensar que possui uma mulher.

Cordélia começou a se empurrar para fora da cama, tentando chegar


até Chad. Se ela estivesse em seus braços, com certeza estaria segura.
Ele se abaixou e em um movimento, pegou-a com uma mão, segurando
uma pistola com a outra.

— Estou deixando Daring lidar com você.

Cristina soltou um grito primitivo, batendo no próprio peito com o


punho.

— Ele nunca vai chegar perto de mim novamente. Eu prefiro morrer.

Cordélia piscou. Ela estava quase de pé, mas principalmente


encostada em Chad, seu braço forte a apoiando.

— O que aconteceu com você?

— Eu não quero sua pena. — Cristina jogou o braço para trás. —


Você é uma traidora de todas as mulheres.

Cordélia enfiou a cabeça no braço de Malice. Ela não se importava


com o que ela era. Nunca tinha estado mais feliz por estar ao lado de
alguém do que estava aqui com Malice. Então, seu nariz pegou algo
engraçado.

Olhando por cima, ela percebeu que a vela pegou fogo nas cortinas.

— Chad!

— Droga, — ele gritou e a segurando imóvel, cruzou a sala e puxou


a cortina da haste, tentando pisá-la. Quase pegou fogo em seu vestido e
ela gritou, mal conseguindo ficar fora do caminho. Pior ainda, ele não
apagou as chamas, em vez disso, elas se espalharam pela parede. — Nós
temos que sair daqui.

161
Ele se virou para balançá-la nos braços.

— A Condessa de Abernath se foi, — ela engasgou-se enquanto ele


a embalava contra seu corpo.

Ele se inclinou e beijou sua cabeça.

— Nós lidaremos com ela mais tarde. — Então, ele se dirigiu para a
porta.

Chegando ao corredor, ele começou a subir as escadas dos fundos.

— Temos que avisar a todos sobre o incêndio, — ela gritou quando


a fumaça começou a encher o corredor.

— Vamos contar ao pessoal sobre o incêndio na cozinha, se a


condessa ainda não o fez. — Ele a puxou ainda mais perto. — Minha
prioridade é você.

Suas palavras fizeram seu interior amolecer. Para um homem que


afirmava ter um coração frio, ela percebeu que o namoro fora direto de
uma história e agora culminava com um resgate ousado. Um sorriso se
formou em seus lábios. Se ele pudesse declarar seu amor eterno. O sorriso
sumiu. Ela teria que se contentar com uma linda fantasia.

Um barulho de batida à direita alcançou o ouvido de Cordélia.

— Chad. Você ouviu isso?

— O quê, — ele continuou correndo em direção às escadas.

Ela ouviu novamente.

— Pare. — Cordélia bateu em seu ombro com toda a força que lhe
restava. — Alguém está lá.

162
— Cordélia. — Ele diminuiu a velocidade. — Eu preciso tirar você
daqui...

— Socorro, — uma vozinha gritou. — Por favor ajude. Tem fumaça.

— Chad, — ela implorou, balançando em seus braços. — Aquilo é


uma criança?

Ele parou então e a colocou no chão, encostando-a na parede.


Estava quente ao toque, o que era terrivelmente assustador. Chad tentou
a maçaneta enquanto a vozinha chorava novamente.

— Afaste-se da porta! — Chad gritou.

Com um chute rápido, ele derrubou a porta quase arrancando suas


dobradiças. Parado ali estava um garotinho de cabelos dourados
parecendo assustado e desamparado. Cordélia observou Chad pegar o
menino com um braço e depois voltar para ela, envolvendo-a com outro
braço grande.

— Você pode andar?

— Eu preciso, — ela respondeu, mas então, Daring veio correndo


escada acima.

— Que diabos? — Ele gritou, mas agarrou o menino e desceu as


escadas sem dizer mais nada.

— Precisamos avisar aos serviçais, — gritou Cordélia para ele.

— Eles sabem e quase todos já se espalharam, pelo que posso dizer.


— Ele desceu as escadas com força. — Quem eu estou carregando?

— Eu sou Harry, — disse o menino.

163
Daring envolveu o menino com mais segurança em seus braços
quando ele atingiu o último degrau e fez uma pausa para a porta dos
fundos. O cavalariço já estava passando correndo por eles com baldes
d'água nas mãos. Alcançando o exterior, Daring não parou e nem Chad
enquanto se dirigiam a uma carruagem estacionada no beco. Daring
abriu a porta e praticamente jogou Harry para dentro. Então ele se voltou
para Chad.

— Tire-os daqui, leve-os para a estalagem mais próxima. Vou ajudar


com o fogo.

— Você tem certeza? — Chad já a estava colocando na carruagem.


Ela fez isso com as pernas bambas e depois desabou em um assento. —
O Tuttleberry Inn fica na mesma rua. Encontre-me lá.

Com um aceno de cabeça, Daring partiu novamente, juntando-se à


brigada de baldes.

Chad subiu atrás dela e fechou a porta.

— Você está segura agora.

Cordélia olhou para o homem que acabara de encenar seu ousado


resgate. Ela queria se jogar em seus braços e declarar seu amor eterno.
Mas ela segurou a língua.

— Obrigada!

Ele deslizou no assento ao lado dela e a puxou para seu colo.

— De nada.

Ela mordiscou o lábio enquanto acomodava o rosto na nuca dele.


Como se casar com um homem que ela amava tão profundamente
sabendo que ele não correspondia ao seu afeto?

164
MALICE SEGUROU Cordélia no colo, o garotinho sentou-se no outro
banco, encolhido como uma bola, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Harry, — ele disse suavemente. — Você quer vir se sentar


conosco?

O menino saltou do banco, aterrissando ao lado de Malice com um


baque decidido. Em resposta, Malice envolveu um braço sobre ele.

— Você está bem.

O menino virou o rosto choroso para ele.

— Eu tenho que voltar?

Os grandes olhos azuis do menino o encararam, arregalados e cheios


de medo.

— Aquela era sua casa? — A Condessa de Abernath também


sequestrou uma criança?

O menino não falou por alguns segundos, e Cordélia se mexeu em


seu colo para segurar a mão do menino.

— Está tudo bem. Você pode nos contar.

— Eu sempre morei com Lady Abernath. — O menino engoliu em


seco.

Bem, isso não explicava muito. Ele abraçou a criança com mais
força.

165
— Nós vamos descobrir tudo isso. Por enquanto, você está seguro
conosco.

A carruagem parou e Malice puxou seus dois protegidos, levando-os


apressadamente para a estalagem e garantindo uma suíte. Pedindo uma
bandeja de café da manhã, ele os conduziu escada acima e trancou a
porta atrás de si.

Cordélia quase desabou em um sofá e o menino ficou olhando para


ela enquanto abraçava seu próprio peito.

Ela acenou para ele e, sem hesitar, ele correu. Abrindo seus braços,
ele subiu em seu abraço.

— Tive uma professora que foi muito gentil comigo, — disse ele, e
depois apoiou a cabeça no braço dela. — Ela era bonita como você
também.

— Uma professora? — Ela perguntou, fechando os olhos, mas o


abraçando mais perto.

O coração de Malice se apertou ao vê-los enrolados juntos. Este


menino o lembrava a si mesmo. Se ao menos alguém como Cordélia
estivesse lá. Envolvendo-o em seus braços.

O menino concordou.

— Ela foi embora há pouco. Mas disse que tentaria voltar por mim.
— Harry jogou a cabeça para trás. — A condessa é muito má. Miss
Pennyworth não podia ficar, mas queria.

O rosto de Cordélia teve um espasmo, e então olhou-o. Seus olhos


estavam franzidos como se ela estivesse implorando a ele de alguma

166
forma. Ele sabia o que ela queria perguntar, ele queria proteger Harry
também.

Alguém bateu na porta e, olhando para fora, viu um criado com uma
grande bandeja de comida. Rapidamente, ele girou a fechadura e abriu a
porta, pegando a bandeja antes de fechar o quarto novamente.

Eles comeram em silêncio, Harry comendo a porção de comida de


um homem antes de se deitar com Cordélia. Em minutos, os dois estavam
dormindo, abraçados.

Quase uma hora se passou antes que outra batida soasse na porta.
Ao se levantar, ele olhou pelo olho mágico para ver Daring, parecendo um
tanto fuliginoso, parado do outro lado.

Ele abriu novamente, deixando seu amigo entrar.

— Você conseguiu.

— Consegui. — Daring tirou o chapéu e enxugou a testa. — Foi uma


maldita bagunça.

— O que aconteceu? — Malice fez um gesto em direção à lareira e os


dois homens cruzaram a sala.

Daring virou o chapéu na mão.

— A condessa desapareceu. A equipe conseguiu apagar o fogo antes


que se espalhasse para mais casas. — Daring enxugou a testa novamente.
— Honestamente, eles pareciam aliviados por estarem livres dela, e eu
disse a todos para me visitarem amanhã para recomendações para um
novo cargo.

— Isso é bom, — respondeu ele, apoiando a mão contra a lareira.


Ele sabia que a pior notícia ainda estava por vir.

167
— A governanta era especialmente tagarela. Acontece que o
menino... — Daring olhou para a criança dormindo nos braços de
Cordélia. — É o filho de Lady Abernath.

Malice prendeu a respiração. Ele sabia o que Daring estava


pensando. Este era seu filho?

Daring olhou para as chamas.

— Lorde Abernath fez do menino seu herdeiro, então ele é um conde.

— Como ele pode ser o conde se Lorde Abernath... — Mas ele parou.

— Isso mesmo. Abernath morreu há seis semanas em sua casa de


campo. Lady Abernath manteve esse fato junto com o nascimento da
criança em segredo.

Malice coçou a cabeça.

— Eu me pergunto se a morte do marido é o motivo de ela de repente


ter ressurgido em sua vida em busca de vingança.

Daring assentiu.

— A governanta mencionou que nenhum centavo do dinheiro é dela.


Tudo foi para o menino. O pouco que resta.

Ambos olharam para a criança adormecida.

— Ele está morrendo de medo. Ambos sabemos que tipo de pessoa


ela é.

— Ela é a mãe dele. Não sei como você poderia tirá-lo dela. — Seu
punho cerrado. — A menos que você pudesse provar que outra pessoa é
o pai dele?

Malice encostou a cabeça na lareira.

168
— Isso é uma maldita bagunça, não é? Você acha que ele é seu?
Como Minnie se sentiria com essa criança se tornando sua herdeira e
fazendo parte de sua família?

Daring balançou a cabeça.

— Isso explicaria melhor por que Cristina está tão brava comigo.
Mas ela tinha mais de um homem em sua cama. Incluindo eu, três que
eu conheço.

Malice franziu a testa.

— A criança não se parece em nada com você.

Daring olhou para o menino.

— Não. Ele não parece, e ele já tem um título, mas também não
podemos deixar uma criança tenra nas mãos dela. A mulher não é sã.

— Bem, por enquanto, ele pode ficar comigo. — Malice olhou para
ele, seu coração batendo forte no peito. Ele nunca em sua vida pensou
que assumiria outra criança, nem mesmo a sua, mas aqui estava ele, seu
coração pronto para dar amor a este menino.

— Você está certo? É um grande compromisso.

Malice assentiu.

— Gostaria que alguém tivesse feito isso por mim. Entrasse em ação
e me resgatasse de um homem que odiava ver meu rosto.

Daring fez uma careta.

— Você é um bom homem, Lorde Malicorn.

— Não é Malice? — Ele ergueu uma sobrancelha.

Daring olhou de volta.

169
— Você não é mais aquele homem, é?

Não. Ele supôs que não era. Já era hora de contar para Cordélia o
que ela significava para ele.

CORDÉLIA ACORDOU ASSUSTADA . Primeiro, ela não tinha ideia de onde


estava... de novo. Olhando ao redor do quarto, percebeu que era bem
decorado com mogno rico e cortinas de veludo escuro sobre as janelas e
a cama.

Ela se sentou, puxando as cobertas com ela. Quando suas roupas


foram removidas? Seu braço ainda estava na tipoia, mas todo o resto,
além de sua camisa, estava fora.

Estava escuro. A noite tinha caído? Última coisa que se lembrou; já


era de manhã, não era? Os detalhes da noite anterior vieram à tona e ela
engasgou-se ao lembrar que tinha sido sequestrada.

— O que está errado? — Uma voz profunda arrastou-se ao lado dela.


— Pesadelo?

Como ela não percebeu que não estava na cama sozinha? Olhando
para a direita, Chad piscou para ela.

— Eu não sabia onde estava.

Ele deu a ela um sorriso sonolento.

— Você está segura comigo na pousada.

— A pousada? — Ela perguntou. — E a minha família?

Ele cobriu a mão dela com a sua.

— Daring enviou-lhes uma mensagem dizendo que você estava


recuperada em segurança, mas tão exausta de sua provação que estava

170
dormindo aqui. Claro, sua família acha que Minnie e Daring estão
conosco como acompanhantes, mas não contarei se você não contar.

— E Harry? — Ela perguntou voltando a se sentar na cama.

Ele sorriu, e estendeu a mão para acariciar o rosto dela.

— Dormindo no outro quarto. A pousada gentilmente me permitiu


contratar uma empregada para ficar com ele.

Ela relaxou os ombros.

— Aquele pobre menino. Parece perdido.

Malice respirou fundo. A esperança brilhou em seus olhos.

— Espero que você concorde em dar a ele um novo lar conosco.

Cordélia ofegou. Ela levou a mão ao coração, sentindo-o bater


loucamente.

— É mesmo possível?

— Bem, considerando que você acabou de ser sequestrada pela mãe


dele, Daring tem quase certeza de que pode internar Lady Abernath.
Então, eu diria que sim, é mais do que possível. — Então, ele franziu a
testa. — Se estiver tudo bem com você.

Ela rolou para encará-lo e sem pensar deu um beijo em seus lábios.

— Claro que está. Que lindo presente para você dar a ele. — Então,
ela o beijou novamente, sua boca pressionando a dele, deixando seu
interior macio e pegajoso. — Você é um bom homem, Chad Malicorn.

Ele segurou o rosto dela entre as mãos e deu-lhe um beijo longo e


persistente.

— Isso é melhor do que ser adequado.

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Ela torceu o nariz.

— Falando nisso. — Seu coração começou a bater forte no peito. —


Eu sei que depois do que aconteceu você vai querer me resgatar de
quaisquer consequências do meu sequestro.

— Não haverá consequências. Vamos nos casar e ninguém vai


questionar...

Ela colocou a mão em seu peito.

— Não acho que devemos nos casar.

— O quê? — Sua sobrancelha se juntou. — Você já aceitou minha


proposta.

Cordélia lambeu os lábios, tentando ganhar coragem para dizer a


próxima parte.

— Mas você vê. Eu amo você. Estou apaixonada por você.

Ele olhou para ela, sem dizer uma palavra.

Ela tremia enquanto continuava.

— Eu não posso me casar com você porque vai partir meu coração
sentir-me assim quando você não corresponder ao meu...

Mas ele não permitiu que ela terminasse. Em vez disso, sua boca
cobriu a dela em um beijo ardente que roubou o ar de seus pulmões.

Ele abriu a boca dela e sondou sua língua com a dele, fazendo-a
gemer de doce desejo quando seu corpo rolou em cima do dela. Ele já
havia tirado a camisa e a mão dela percorreu os músculos nus de suas
costas, sentindo cada cume e cavidade. Finalmente ele ergueu a cabeça.

172
— Corde, um homem não sai por aí resgatando mulheres, lutando
contra adversários e roubando beijos em jardins se não a ama de volta.

— O quê? — Ela puxou a cabeça mais para trás no travesseiro para


se concentrar em seu rosto. — Você me ama?

Ele acariciou sua bochecha com o polegar.

— Eu te amo tanto quanto amo os raios quentes do sol em um dia


de verão. Por mais que eu ame o ar, o céu azul e os campos de flores de
verão.

Algo dentro dela explodiu de alegria ao ouvir essas palavras. Poderia


ser verdade?

— Você está ficando poético? — A língua dela disparou novamente e


ele olhou para ela, seu corpo ficou tenso.

— Estou, minha pequena fada. — Então, ele se abaixou lentamente


até que seus lábios encontraram os dela novamente. — Eu te amo tanto
que isso dói. Não suporto ficar longe de você. — Ele deslizou a mão pelo
pescoço e sobre o peito até que segurou um de seus seios. O prazer rolou
por ela, e ela se arqueou ao toque. — Se você deixar, passarei minha vida
inteira provando a você o quanto te amo.

Ele beliscou seu mamilo e ela gritou, suas pernas envolvendo as


dele.

— Sim, — ela murmurou. Em seguida, repetido mais alto. — Oh,


sim.

Ele começou a beijar uma trilha em seu pescoço enquanto sua outra
mão alcançava a barra de sua camisa. Já havia subido por suas pernas,
e ele passou a mão ao longo de sua coxa, empurrando o tecido mais alto.

173
— Como eu pensei que poderia permanecer separado de você?

Ela não pôde responder quando ele deslizou a mão ao longo de seu
quadril e, em seguida, deslizou por sua barriga, mergulhando mais para
baixo até que as pontas dos dedos roçaram os cachos em seu ápice. Ela
podia sentir o calor, calor e umidade vindo de seu núcleo e enquanto ele
traçava o contorno de seu sexo, e então mergulhava os dedos em sua
carne feminina.

Suas entranhas se contraíram e ela engasgou-se, seus olhos


perdendo o foco.

— Chad, — ela implorou, sem saber o que estava pedindo. Ele


respondeu inclinando-se e tomando o mamilo tenso em sua boca. O pano
ainda separava seus lábios de sua carne, mas mesmo assim, o bico
contraiu e enrugou até que ela se contorceu de prazer sob ele.

Ele parou, erguendo-se sobre ela e ela soltou um pequeno gemido de


protesto. Ela não queria parar. Mas ele apenas pegou a barra de sua
camisola e deslizou por seu peito e depois sobre sua cabeça. Quando o
peito dele desceu sobre o dela, ela quis suspirar de prazer ao sentir sua
pele.

— Eu amo a sensação do seu cabelo, — ela sussurrou perto de seu


ouvido. — Seus dedos, sua boca. Eu não sabia que tudo seria tão
maravilhoso.

Ele beijou seus lábios novamente, seus dedos acariciando


suavemente seu sexo mais uma vez.

— Só fica melhor, amor. Eu prometo.

Como isso pode ser verdade?

174
MALICE OLHOU para a bela pequena fada atualmente implorando por
seu toque e tentou não rugir de satisfação. O barulho que ele fez foi mais
como um rosnado gutural. Esta linda e mágica mulher era toda sua.

E ela o amava também. Essa parte ainda o surpreendeu. Ele não


tinha certeza se merecia, mas ele estava questionando seu valor. Em vez
disso, ele pretendia passar a vida tentando ser o homem que ela precisava
que ele fosse.

Essa era a única maneira. Ele entendia isso agora.

Ele se lembrou da noite em que ela prometeu curar as feridas


enterradas bem no fundo dele. E ela já tinha. Aqui estava ele, cheio de
amor, seu coração aberto, não só para ela, mas para o menino que o
lembrava tanto de si mesmo.

Por que ele não fez isso antes?

— Cordélia, — ele disse enquanto a beijava novamente. — Não


acredito que estamos aqui.

Ela colocou o braço em volta deste pescoço.

— Eu também. Você tem certeza de que me ama?

Ele gemeu enquanto estendia a mão para os botões de suas calças.

— Muito, — respondeu. Ele baixou as calças, libertando sua


masculinidade.

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Ela deslizou a mão por seu corpo e alcançou entre suas pernas, seu
leve toque explorando sua carne e fazendo seus dentes cerrarem. Sua mão
parecia malditamente incrível.

— E nós vamos nos casar? — Ela perguntou novamente. — Você não


se importa que eu seja uma escritora?

Sua mão se abaixou, segurando seu saco e seus olhos reviraram em


sua cabeça.

— Eu amo isso.

— Sou quieta. E as pessoas não me notam nos bailes ou...

— Cordélia. — Seus dentes cerrados. — Você está segurando minhas


bolas em suas mãos.

Ela soltou um pequeno suspiro e depois uma risadinha.

— Eu estou.

Ele encostou a testa na dela.

— Nunca uma mulher esteve tão profundamente dentro de mim


antes. Você pode ser quieta e tímida, mas conseguiu me tocar em lugares
que eu pensei que estavam mortos há muito tempo.

— Oh, — ela disse, seu hálito doce soprando em seu rosto. — Isso é
bonito. — Então, ela se arqueou para beijá-lo e a cabeça de sua
masculinidade deslizou contra seu sexo macio e úmido.

Ele latejava de necessidade.

— Você é linda. Nunca deixe ninguém tirar isso de você novamente.


— A ponta deslizou dentro de suas dobras, envolvendo um calor úmido e

176
apertado sobre seu pênis. Ele começou a tremer, o esforço de ir devagar
se tornando cada vez mais difícil.

— Você também é lindo, — ela sussurrou contra seus lábios. — Eu


quis dizer o que disse alguns dias atrás. Vou passar minha vida
mostrando a você o que significa ser amado, se você deixar.

Ele não conseguiu se conter. Essas palavras o abriram amplamente.


Ele deslizou para dentro dela, sentindo sua virgindade rasgar sob a
pressão. Ela deu um grito de dor, seu corpo enrijeceu.

— Perdoe-me, amor.

— Não se desculpe, — ela disse. — Nós somos um agora.

Eles foram. E eles seriam para sempre. Ele começou a se mover


dentro dela, lentamente, permitindo que seu corpo se ajustasse. Quando
ela relaxou em seus braços, ele começou a se mover mais rapidamente.
Se ela tivesse hesitado no início, a cada golpe, ela ficava mais ousada e
mais confiante, seu ritmo crescendo mais rápido e mais firme.

Como fazer amor poderia ser tão bom? Mas ele não conseguia dizer
as palavras em voz alta. Ele só podia segurá-la perto enquanto eles
subiam mais alto, seus corpos realmente se tornando um.

— Cordélia, — gritou ele, abraçando-a. — Eu te amo muito.

— Eu também te amo, — ela respondeu, seu corpo espasmando ao


redor dele. Ele não podia demorar mais e sua semente a encheu. Ela era
verdadeiramente sua agora.

E ela seria para sempre. Ninguém a tiraria dele, e sabia no fundo de


seu coração que ela nunca o abandonaria.

Ele desabou na cama, puxando-a para perto.

177
— Precisamos antecipar o casamento.

— Perdão, — ela perguntou, já se aconchegando profundamente ao


seu lado.

— Mal posso esperar um mês para estar com você de novo.


Precisamos nos casar agora. — Ele a puxou com mais força contra seu
corpo.

Ela soltou uma risadinha sonolenta.

— Finalmente algo envolvendo homens nos quais eu sou boa.

Ele virou o rosto dela.

— No que me diz respeito, você tem sido boa em tudo isso desde o
primeiro momento em que caiu em meus braços.

Ela acariciou o seu lado.

— Bem, já que você colocou dessa forma, teremos que adiantar o


casamento. Considerando que fui sequestrada ontem, tenho certeza que
minha mãe vai concordar.

— Meu Deus, tenho uma dívida de gratidão com a Condessa de


Abernath?

Ela ergueu a cabeça.

— Eu não sei sobre isso, mas você está definitivamente ficando mais
suave.

Ele se inclinou e beijou sua testa.

— É tudo culpa sua. Quando tudo isso terminar, vou ajudá-la a


escrever romances enquanto coleciono crianças e cachorrinhos nas
minhas horas vagas.

178
— Nunca ouvi nada mais sexy na minha vida. — Então, ela soltou
um suspiro. — Como posso estar tão cansada depois de dormir o dia todo?

— Descanse, amor, — ele respondeu. — Amanhã começaremos o


resto de nossas vidas.

179
CORDÉLIA FICOU na parte de trás da igreja de sua família, olhando
para seu noivo, que sorriu de volta para ela, estendendo o braço.

Ela considerou não usar os óculos, mas ele a presenteou com um


novo par. Eles realmente se encaixavam melhor em seu rosto, e agora ela
podia ver sua expressão. Suave e feliz, falava de todos os sentimentos que
ela também sentia. Ela não gostaria de perder isso por nada no mundo.

Ela mal tocou o chão enquanto flutuava em direção a ele. Fazia


apenas dois dias desde que voltaram da pousada, mas ela começou outra
vida naquele dia. Neste dia, ela era Cordélia, a escritora, esposa e criadora
de um romance apaixonado.

Na verdade, Chad passou os últimos dois dias convencendo-a a


enviar suas histórias anteriores a um editor. Elas estariam sob um nome
falso, é claro. Compartilhá-los a encheu de emoção pela primeira vez em
sua vida. Chad disse que algo havia mudado nele. A mesma coisa era
verdade para ela. Ficava mais confiante a cada dia que passava. Ela tinha
que agradecer a seu noivo por isso.

Alguém bateu palmas à sua esquerda, e ela olhou para ver Harry
sentado ao lado de sua mãe. O menino sorriu de volta.

Com um pequeno aceno, ela terminou sua marcha pelo corredor e


colocou sua mão na de Chad.

180
A cerimônia a encheu de alegria e luz, e quando suas mãos
apertaram as do marido, o vínculo entre eles aumentou. Enquanto
vivesse, ela se lembraria deste dia.

— Chad, — disse ela, aproximando-se. — Isto é melhor do que


qualquer livro que já li.

— Concordo. — Ele apertou as mãos dela. — Mas tenho toda a


confiança de que você escreverá um melhor.

Isso fez seu coração inchar no peito, e ela mal conseguia respirar
enquanto trocavam os votos.

Finalmente, o serviço terminou e Chad se inclinou, selando sua


união com um beijo. A sala explodiu em aplausos e Cordélia olhou para
sua família e amigos e quase gritou de surpresa.

Bem no fundo da sala estavam Emily e Jack.

— Eles estão em casa.

— Maldito inferno, eles estão. — Então Chad pigarreou. —


Desculpas, padre.

O padre acenou com a cabeça e Cordélia e Chad começaram a descer


o corredor, abrindo caminho através das portas e entrando na carruagem
que os esperava. Eles voltariam para a casa de seus pais para o café da
manhã do casamento.

— Estou tão feliz que minha irmã tenha vindo para o meu
casamento, afinal. — Cordélia deu um tapinha na mão do marido.

Ele fez uma careta.

— Quero saber por que eles partiram em primeiro lugar.

181
Ela balançou a cabeça.

— Tenho certeza de que tinham um bom motivo.

A carruagem parou e eles pisaram nos degraus, esperando a


chegada de cada um dos convidados. Seus pais vieram em seguida com
Grace e Diana. Minnie e Daring logo atrás. Sua tia e Ada chegaram depois
disso. Emily e Jack estavam na última carruagem a entrar na garagem.
Todos os convidados se viraram para eles enquanto se dirigiam para a
porta.

— Vamos entrar primeiro, vamos? — Jack fez uma careta ao pegar


a mão de Emily.

Silenciosamente, a multidão entrou na casa. Emily foi para frente


do grupo, pegando o braço de Cordélia.

— Corde, sinto muito. Não queria atrapalhar o seu casamento. —


Emily se encolheu. — Eu só não queria perder isso.

— Eu não me importo com isso. — Cordélia estendeu a mão para a


irmã. — Eu só quero saber, todos nós queremos saber o que aconteceu.

Jack veio ficar ao lado de sua esposa.

— É minha culpa.

— Por quê? — Chad perguntou, apertando os olhos.

Jack fez uma careta.

— A versão mais curta é que Emily foi ameaçada pela Condessa de


Abernath. Eu não queria esperar mais um mês pelo nosso casamento e
queria fugir de Londres. O que não percebi foi que, ao sair, ela focaria sua
atenção em alguém como Cordélia.

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— Como você sabe de tudo isso? — Cordélia perguntou.

Jack e Emily olharam para Daring. O duque pigarreou.

— Eu tenho escrito eles. — Ele encolheu os ombros. — Dois


casamentos aconteceram desde que eles partiram.

Diana se aproximou do grupo.

— Diga-me que nem todos os seus amigos estão planejando propor


casamento à minha família. — Seus braços cruzados sobre o peito. — Não
tenho intenção de me casar, especialmente com alguém de seu grupo.

Daring ergueu uma sobrancelha.

— Tenho certeza de que você está segura. Mas estou curioso para
saber o que havia naquela carta que o assustou tanto.

Jack passou a mão pelo cabelo.

— Para contar isso, eu tenho que confessar alguns outros pecados


para você e não tenho certeza de como você vai reagir.

Daring se endireitou.

— Nós vamos descobrir, não é?

Jack deu um aceno de cabeça.

— Vamos ter essa conversa com todos os homens. Eles também


deveriam saber.

— Bem. — Daring deu um aceno conciso. — Seremos rápidos, no


entanto. Malice tem uma nova noiva para atender. Digamos às cinco
horas nesta noite?

— Será às cinco...

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