O documento descreve a história da educação de surdos, desde os primeiros registros no século 15 até o século 20. Inicialmente, a educação era oralista e excludente, focada na fala ao invés da língua de sinais. No século 18, Charles-Michel de L'Epée desenvolveu um método baseado na língua de sinais, tornando a educação mais acessível. Entretanto, o Congresso de Milão em 1880 estabeleceu o oralismo como padrão internacional, restringindo o uso da língua de s
O documento descreve a história da educação de surdos, desde os primeiros registros no século 15 até o século 20. Inicialmente, a educação era oralista e excludente, focada na fala ao invés da língua de sinais. No século 18, Charles-Michel de L'Epée desenvolveu um método baseado na língua de sinais, tornando a educação mais acessível. Entretanto, o Congresso de Milão em 1880 estabeleceu o oralismo como padrão internacional, restringindo o uso da língua de s
O documento descreve a história da educação de surdos, desde os primeiros registros no século 15 até o século 20. Inicialmente, a educação era oralista e excludente, focada na fala ao invés da língua de sinais. No século 18, Charles-Michel de L'Epée desenvolveu um método baseado na língua de sinais, tornando a educação mais acessível. Entretanto, o Congresso de Milão em 1880 estabeleceu o oralismo como padrão internacional, restringindo o uso da língua de s
O documento descreve a história da educação de surdos, desde os primeiros registros no século 15 até o século 20. Inicialmente, a educação era oralista e excludente, focada na fala ao invés da língua de sinais. No século 18, Charles-Michel de L'Epée desenvolveu um método baseado na língua de sinais, tornando a educação mais acessível. Entretanto, o Congresso de Milão em 1880 estabeleceu o oralismo como padrão internacional, restringindo o uso da língua de s
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História da Educação de Surdos
A história da educação de surdos é marcada por uma visão clínica sob o
viés ouvintista onde a narrativa é contada, sobretudo a partir da perspectiva oralista. Para Lacerda (1998), as ações iniciais em torno da educação de surdos está associada ao desenvolvimento da fala e da escrita. Muitos professores de surdos iniciavam o ensinamento de seus alunos através da leitura-escrita e, partindo daí, instrumentalizavam-se diferentes técnicas para desenvolver outras habilidades, tais como leitura labial e articulação das palavras. Os surdos que podiam se beneficiar do trabalho desses professores eram muito poucos, somente aqueles pertencentes às famílias abastadas. É justo pensar que houvesse um grande número de surdos sem qualquer atenção especial e que, provavelmente, se vivessem agrupados, poderiam ter desenvolvido algum tipo de língua de sinais através da qual interagissem. A partir desse período podem ser distinguidas, nas propostas educacionais vigentes, iniciativas antecedentes do que hoje chamamos de "oralismo" e outras antecedentes do que chamamos de `"gestualismo'". Os primeiros exigiam que os surdos se reabilitassem, que superassem sua surdez, que falassem e, de certo modo, que se comportassem como se não fossem surdos. Os proponentes menos tolerantes pretendiam reprimir tudo o que fizesse recordar que os surdos não poderiam falar como os ouvintes. Impuseram a oralização para que os surdos fossem aceitos socialmente e, nesse processo, deixava-se a imensa maioria dos surdos de fora de toda a possibilidade educativa, de toda a possibilidade de desenvolvimento pessoal e de integração na sociedade, obrigando-os a se organizar de forma quase clandestina. Os segundos, gestualistas, eram mais tolerantes diante das dificuldades do surdo com a língua falada e foram capazes de ver que os surdos desenvolviam uma linguagem que, ainda que diferente da oral, era eficaz para a comunicação e lhes abria as portas para o conhecimento da cultura, incluindo aquele dirigido para a língua oral. Com base nessas posições, já abertamente encontradas no final do século XVIII, configuram-se duas orientações divergentes na educação de surdos, que se mantiveram em oposição até a atualidade, apesar das mudanças havidas no desdobramento de propostas educacionais. As primeiras notícias de educação de surdos segundo Goldfeld (2001) surgiram no século XV, houve um longo período histórico em que se desconsideram as potencialidades e capacidades cognitivas e emocionais das pessoas surdas vistas como pessoas diminuídas com a legitimação da subtração dos seus direitos em diversas sociedades. No século XVI, Girolamo Cardamo declara que os Surdos podiam e deviam receber uma instrução. Ele passou a se interessar pelos Surdos e pelo estudo do ouvido, nariz e cérebro, porque o seu primeiro filho era surdo. Afirmava que os nascidos surdos profundos podiam ser ensinados a ler e escrever sem falar. Parece que ele elaborou, também, uma forma de ensino, mas não chegou a aplicá-la. (MOURA, 2000, p. 17) A partir de então, surgiram outros educadores de surdos, cada um com seu método próprio de ensino tais como Yebra, Ponce de Leon, Bonet, L’ Epée e outros que contribuíram na educação de surdos, muito embora a maioria não ter deixado nenhuma contribuição escrita da aplicação desses métodos. A fonte mais antiga que se tem da datilologia vem da Espanha através do Monge franciscano Mechor Sánchez de Yebra (1524-1586) que utilizou o alfabeto manual para fomentar entre os surdos a compreensão de conteúdos espirituais. Ainda não é uma forma de educação escolarizada, mas com finalidade catequética. Contudo, torna-se necessário revelar que não eram todos e quaisquer surdos que tinham direito à educação. Inicialmente o sucesso educacional estava atrelado aos surdos que ainda tinham resquícios auditivos. Bem como aqueles oriundos de famílias abastadas, estes sofreram com a educação sob a tentativa oralista, enquanto as línguas de sinais se desenvolviam nos guetos urbanos e nos monastérios onde era feito o voto de silêncio. Perlin e Strobel (2006) enfatizam que antes de surgirem estas discussões sobre a educação, os sujeitos surdos eram rejeitados pela sociedade e posteriormente eram isolados nos asilos para que pudessem ser protegidos, pois não se acreditava que pudessem ter uma educação em função da sua ‘anormalidade’, ou seja, aquela conduta marcada pela intolerância obscura na visão negativa sobre os surdos viam-nos como ‘anormais’ ou ‘doentes’. Muitos anos depois os sujeitos surdos passam a ser vistos como cidadãos com direitos e deveres de participação na sociedade, mas sob uma visão de assistencial excluída. Os surdos passaram a receber assistencialismo. Situação que nos revela que historicamente os surdos começaram a ser vistos pelo menos como seres humanos que necessitavam de assistência mediante suas necessidades básicas. Mas, ainda haveria um longo processo a ser percorrido para conquistar seus direitos enquanto seres humanos. Após serem estigmatizadas durante muito tempo, as pessoas surdas recebem suas primeiras instruções ainda de forma muito rudimentar e que desrespeitam o seu universo linguístico, mesmo com o uso do alfabeto manual. Ponce de León contemporâneo de Yebra, monge beneditino espanhol dedicou grande parte da sua vida à educação de surdos que eram filhos de nobres, criando uma escola para surdos. Ponce de Leon teve seus méritos reconhecidos através de seus trabalhos realizados com filhos de nobres que se adaptam ao seu método. Porém, não deixou nada publicado em vida, pois era tradição da escola manter segredo de seu método de educação para surdos, visto que envolvia relações financeiras com famílias de nobres. Juan Pablo Bonet também começou a educação de surdos na Espanha, ele mesclava uso da fala, alfabeto datilológico e sinal. Bonet se utilizava das técnicas do alfabeto para ensinar os surdos a falar, também trabalhando com treinos fonoarticulatórios. O alfabeto usado por Bonet serviu de suporte para outros educadores de surdos. Jacob Rodrigues Pereire outro educador que defendia a oralização, possivelmente o primeiro da França, trabalhou o ensino da fala e exercícios que manipulam os órgãos da fala. Thomas Braidwood abriu a primeira escola para surdos e crianças com problema de fala na Inglaterra e valorizava a leitura orofacial. Os alunos aprendiam palavras escritas e seu significado. Moura (2000) diz que Braidwood detinha o monopólio de outras escolas que foram fundadas sob a tutela de seus familiares mantendo em segredo seu método de educação para surdos. No século XVIII, o trabalho Charles-Michel de L’Epée girava em torno da humanização e ensino de sinais e escritas para surdos. Partiu dele a iniciativa da criação do Instituto Nacional para Surdos-Mudos de Paris, a primeira escola pública para surdos. Dando mais acessibilidade àqueles que não podiam pagar por uma educação individual, a partir deste instituto outras escolas foram formadas. Ele desenvolveu um método educacional, apoiado na língua de sinais da comunidade de surdos, acrescentando a esta sinais que tornavam sua estrutura mais próxima à do francês e denominou esse sistema de "sinais metódicos". A proposta educativa defendia que os educadores deveriam aprender tais sinais para se comunicar com os surdos; eles aprendiam com os surdos e, através dessa forma de comunicação, ensinavam a língua falada e escrita do grupo socialmente majoritário. O século XVIII foi produtivo, no sentido quantitativo, devido ao aumento de escolas próprias para a educação de surdos como também qualitativo no sentido que houve uma valorização maior da educação dos surdos e assim eles podiam aprender profissões. Contemporaneamente a De L'Epée havia renomados pedagogos oralistas que o criticavam e que desenvolviam outro modo de trabalhar com os surdos, como, por exemplo, Pereira, em Portugal, e Heinicke, na Alemanha. Heinicke é considerado o fundador do oralismo e de uma metodologia que ficou conhecida como o "método alemão". Para ele, o pensamento só é possível através da língua oral, e depende dela. A língua escrita teria uma importância secundária, devendo seguir a língua oral e não precedê-la. O ensinamento através da língua de sinais significava ir em contrário ao avanço dos alunos (Moores 1978). Os pressupostos de Heinicke têm até hoje adeptos e defensores. No Brasil, a educação de surdos iniciou-se em 1855 com a chegada do padre surdo Hernest Huet (1822-1882), trazido pelo governo imperial. Em 26 de setembro de 1857 é fundado o Instituto Nacional de Surdos-Mudos, atual Instituto de Educação dos Surdos (Ines), que utilizava a língua de sinais. (GOLDFELD, 2001, p. 32) A criação do instituto é o marco inicial da língua de sinais no Brasil. Misturando língua de sinais francesa, sinais metódicos com os sistemas usados pelos surdos de vários lugares do Brasil. Huet apresentou um programa de disciplinas para a educação dos surdos no Brasil. Em 1880, foi realizado o II Congresso Internacional, em Milão, que trouxe uma completa mudança nos rumos da educação de surdos e, justamente por isso, ele é considerado um marco histórico. O congresso foi preparado por uma maioria oralista com o firme propósito de dar força de lei às suas proposições no que dizia respeito à surdez e à educação de surdos. O método alemão vinha ganhando cada vez mais adeptos e estendendo-se progressivamente para a maioria dos países europeus, acompanhando o destaque político da Alemanha no quadro internacional da época. Acreditava-se que o uso de gestos e sinais desviasse o surdo da aprendizagem da língua oral, que era a mais importante do ponto de vista social. As resoluções do congresso foram determinantes no mundo todo, especialmente na Europa e na América Latina. Os métodos orais sofrem uma série de críticas pelos limites que apresentam. O descontentamento com o oralismo e as pesquisas sobre línguas de sinais deram origem a novas propostas pedagógico-educacionais em relação à educação da pessoa surda, e a tendência que ganhou impulso nos anos 70 foi a chamada comunicação total. “Comunicação Total é a prática de usar sinais, leitura orofacial, amplificação e alfabeto digital para fornecer inputs linguísticos para estudantes surdos, ao passo que eles podem expressar-se nas modalidades preferidas” (Stewart 1993, p. 118). O objetivo é fornecer à criança a possibilidade de desenvolver uma comunicação real com seus familiares, professores e coetâneos, para que possa construir seu mundo interno. A oralização não é o objetivo em si da comunicação total, mas uma das áreas trabalhadas para possibilitar a integração social do indivíduo surdo. A comunicação total pode utilizar tanto sinais retirados da língua de sinais usada pela comunidade surda quanto sinais gramaticais modificados e marcadores para elementos presentes na língua falada, mas não na língua de sinais. Dessa forma, tudo o que é falado pode ser acompanhado por elementos visuais que o representam, o que facilitaria a aquisição da língua oral e posteriormente da leitura e da escrita (Moura 1993). Entretanto, a forma de implementar a comunicação total mostra-se muito diferente nas diversas experiências relatadas. Paralelamente ao desenvolvimento das propostas de comunicação total, estudos sobre línguas de sinais foram se tornando cada vez mais estruturados e com eles foram surgindo também alternativas educacionais orientadas para uma educação bilíngüe. Essa proposta defende a idéia de que a língua de sinais é a língua natural dos surdos, que, mesmo sem ouvir, podem desenvolver plenamente uma língua visogestual. Certos estudos (Bouvet 1990) mostram que as línguas de sinais são adquiridas pelos surdos com naturalidade e rapidez, possibilitando o acesso a uma linguagem que permite uma comunicação eficiente e completa como aquela desenvolvida por sujeitos ouvintes. Isso também permitiria ao surdo um desenvolvimento cognitivo, social etc. muito mais adequado, compatível com sua faixa etária. O modelo de educação bilíngue contrapõe-se ao modelo oralista porque considera o canal visogestual de fundamental importância para a aquisição de linguagem da pessoa surda. E contrapõe-se à comunicação total porque defende um espaço efetivo para a língua de sinais no trabalho educacional; por isso advoga que cada uma das línguas apresentadas ao surdo mantenha suas características próprias e que não se "`misture" uma com a outra. Nesse modelo, o que se propõe é que sejam ensinadas duas línguas, a língua de sinais e, secundariamente, a língua do grupo ouvinte majoritário. Sendo assim, o objetivo da educação bilíngue é que a criança surda possa ter um desenvolvimento cognitivo-linguístico equivalente ao verificado na criança ouvinte, e que possa desenvolver uma relação harmoniosa também com ouvintes, tendo acesso às duas línguas: a língua de sinais e a língua majoritária.