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Uma Leitura Popular Do Capital de Karl Marx (Carlo Cafiero)
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Os editores
Prefácio do Autor à Primeira Edição
Itália, março de 1878
Carlo Cafieiro
Parte 1: Mercadoria, Dinheiro, Riqueza e Capital
A mercadoria é um objeto que tem duplo valor: valor de uso e valor de
troca, que é o valor propriamente dito. Se tenho, por exemplo, 20 quilos de
café, eu posso consumi-los para meu uso próprio quanto trocá-los por 20
metros de tecido, por uma roupa,ou por 250 gramas de prata, se, em vez de
café, eu precisar de uma dessas três outras mercadorias. O valor de uso da
mercadoria se baseia na qualidade própria da mercadoria: se ela é para
beber, para comer, ou para se divertir. Portanto, essa qualidade é
determinada para satisfazer uma determinada necessidade nossa e não
qualquer outra de nossas necessidades. O valor de uso dos 20 quilos de
café é baseado nas propriedades que o café possui e estas propriedades são
tais que nos dão à bebida café, mas não prestam para fazer uma roupa ou
qualquer outra coisa. É por isso que só podemos tirar proveito do valor de
uso dos 20 quilos de café se sentimos a necessidade de beber café. Mas se
ao contrário, eu precisar de uma camiseta e não dos 20 quilos de café que
tenho em mãos? O que fazer? Não saberíamos, se a mercadoria não tivesse
também, junto com o valor de uso, o valor de troca. Encontramos agora
uma pessoa com camiseta, da qual não tem necessidade, mas que precisa
do café. Então fazemos uma troca. Eu lhe dou 20 quilos de café e ela me
dá uma camisa… Mas, como podem as mercadorias de propriedade tão
diferentes entre si, serem trocadas umas pelas outras em determinadas
proporções? Porque a mercadoria, além do valor de uso, tem também o
valor de troca. Isso já sabe. O que não sabíamos era que a base do valor de
troca, do valor propriamente dito, é o trabalho humano necessário para se
produzir esta mercadoria. A mercadoria é produzida pelo trabalhador.
Portanto, o trabalho humano é a substancia procriadora; é o trabalho que
dá a existência da mercadoria. Em sua essência, embora de propriedades
tão diversas entre si, todas as mercadorias são a mesma coisa,
perfeitamente iguais, porque são filhas de um mesmíssimo pai, tem todo o
mesmíssimo sangue em suas veias. Se trocamos 20 quilos de café por uma
camisa ou 20 metros de tecidos, é porque, para se produzir 20 quilos de
café, precisou-se de tanto trabalho humano quanto para a produção de uma
camisa ou de20 metros de tecido. Trocou-se uma camisa pó tanto trabalho
humano materializado nos vinte quilos de café, ou trocaram-se vinte quilos
de café pó tanto trabalho humano materializado em uma camisa. Ou seja,
trocou-se trabalho por trabalho. A substancia do valor da mercadoria está
no trabalho humano e a grandeza deste valor é determinada pela grandeza
do trabalho humano. Ora, se a substancia de valor é a mesma para todas as
mercadorias e isto quer dizer que todas as mercadorias como veículo do
valor são todas iguais e trocáveis entre si, o que nos resta, portanto, é
comparar o tamanho dessa grandeza, medi-la.
A grandeza do valor depende da grandeza do trabalho; e qual é a
medida do trabalho? O tempo: hora, dia, semana, mês etc. Em 12 horas de
trabalho se produz um valor duas vezes maior do que se produziria em 6
horas. Daí, alguém poderia dizer que quanto mais lento fosse um
trabalhador, quer por inabilidade, quer por preguiça, mais valor produziria.
Nada mais falso do que esta afirmação, pois o trabalho de que estamos
falando e que dá substancia ao valor, não é o trabalho de Pedro ou de
Paulo, e sim um trabalho médio, que é sempre igual e que é propriamente
chamado de trabalho social. É o trabalho que, em determinado centro de
produção, pode ser feito em média por um operário, o qual trabalha com
uma habilidade média e uma intensidade média. Conhecido o duplo
caráter da mercadoria, isto é de ser valor de uso e valor de troca,
compreendemos que a mercadoria só pode nascer por obra do trabalho, e
de um trabalho útil a todos. Por exemplo, o ar, os prados naturais, a terra
virgem, etc., são úteis ao homem, mas não constituem nenhum valor, por
que não são produtos de seus trabalhos e, consequentemente, não são
mercadorias. Também podemos fabricar objetos para nosso próprio uso,
mas que não podem ser úteis a outros; nesse caso não produzimos
mercadorias; do mesmo modo não produzimos mercadorias quando
trabalhamos com coisas que não tem nenhuma utilidade nem pra nós, nem
para os outros. As mercadorias, pois são trocadas entre sim; uma se
apresenta como equivalente da outra. Para maior facilidade das trocas,
começa-se a empregar uma determinada mercadoria como equivalente
para todas as outras. Esta mercadoria se destaca do conjunto de todas as
outras para se colocar a frente a elas como equivalente geral, isto é, como
dinheiro. Por isso, o dinheiro é aquela mercadoria que, pelo costume por
determinação legal, monopolizou o posto de equivalente geral. Assim o
dinheiro, a moeda, chegou até nós através da prata. Enquanto antes, 20
quilos de café, uma camisa, 20 metros de tecido e 250gramas de prata
eram mercadorias que se trocavam indistintamente, hoje, ao contrário,
tem-se que 20 quilos de café, uma camisa e 20 metros de tecido são três
mercadorias que valem cada uma, 250 gramas de prata, por exemplo, 500
reais. Mas, através das mercadorias diretamente, seja através do dinheiro,
a lei de trocas permanece a mesma sempre. Uma mercadoria só pode ser
trocada por outra se o seu valor de troca for igual. Isto quer dizer que se
uma mercadoria não tiver o mesmo tempo de trabalho que a outra não há
troca. Esta só acontece entre trabalhos iguais. E tudo o que vamos dizer de
agora em diante é baseado nela, nessa lei de trocas de mercadorias.
Com a chegada do dinheiro, da moeda, as trocas diretas ou imediatas de
uma mercadoria por outra desaparecem. Agora as trocas devem ser feitas
através do dinheiro. Desse modo, qualquer mercadoria que queira se
transformar em outra, deve, antes, de mais nada, como mercadoria,
transformar-se em dinheiro, retransformar-se em mercadoria. Portanto, o
esquema das trocas não será mais uma cadeia de mercadorias – uma
abóbora x uma melancia x um pão – e sim, uma cadeia de mercadoria e
dinheiro. Ei-la:
A—B—C—D