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Caderno de Resumos V Seminário de Estética

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Caderno de Programação e Resumos

Grupo de Estudos em Estética Contemporânea

Universidade de São Paulo


Caderno de Programação e Resumos
V Seminário de Estética e Crítica de Arte da
USP: Sentidos na Asfixia, 27 a 30/09/2022
https://vseminarioestetica.wixsite.com/estetica

Organização e Realização Universidade de São Paulo


Grupo de Estudos em Estética Contemporânea
da USP Reitor: Carlos Gilberto Carlotti Junior
Vice-Reitora: Maria Arminda do Nascimento
Coordenação Arruda
Prof. Dr. Ricardo Fabbrini (Filosofia/PGEHA-
USP) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas
Comissão científica
Betty Mirocznik (FAU-USP) Diretor: Paulo Martins
Caio Olivette Pompeu (FFLCH-USP) Vice-Diretora: Ana Paula Torres Megiani
Fabiano Barboza Viana (FFLCH-USP)
Fernanda Albuquerque de Almeida (ECA-USP) Departamento de Filosofia – FFLCH-USP
Leonardo da Silva Rodrigues (FFLCH-USP)
Marcella Imparato (PGEHA-USP) Chefe: Alberto Ribeiro Gonçalves Barros
Rafaela Alves Fernandes (FFLCH-USP) Vice-chefe: Alex de Campos Moura
Victor Zamberlan Schneider (FFLCH-USP)
Virginia H. Aragonês Aita (FFLCH-USP) Secretaria
Antonia de Lourdes dos Santos
Comissão de organização Geni Ferreira Lima
Astrid Sampaio Façanha (PGEHA-USP) Lucas Martins de Castro Neto
Betty Mirocznik (FAU-USP) Ruben Dario
Fabiano Barboza Viana (FFLCH-USP)
Fernanda Albuquerque de Almeida (ECA-USP) Suporte Técnico
Leonardo da Silva Rodrigues (FFLCH-USP) Susan Thiery Satake
Marcella Imparato (PGEHA-USP) (manutenção e atualização de site)
Matheus Silveira dos Santos (EFLCH-UNIFESP)
Rafaela Alves Fernandes (FFLCH-USP)
Victor Zamberlan Schneider (FFLCH-USP)

Apoio
Departamento de Filosofia da FFLCH-USP /
CAPES / PROEX

Fotografia da capa
Fernando Rocha

Catalogação na Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
Maria Imaculada da Conceição – CRB-8/6409
S471 Seminário de Estética e Crítica de Arte da Universidade de São Paulo
(5., 2022 : São Paulo, SP).
Sentidos na asfixia [recurso eletrônico]: caderno de programação e resumos [do] V
Seminário de Estética e Crítica de Arte da Universidade de São Paulo: 27 a 30 de
setembro de 2022 / Coordenação: Ricardo Fabbrini. -- São Paulo: FFLCH/USP, 2022.
720 Kb; PDF.

1. Estética (Congressos). 2. Crítica de arte (Congressos). 3. Arte contemporânea –


Estudo e pesquisa. I.Título. II. Título: Sentidos na asfixia. III. Fabbrini, Ricardo. IV. Grupo
de Estudos em Estética Contemporânea da USP.
CDD 709.05
Sumário
GEEC-USP 10 anos 5
Apresentação 6
Programação 7
Conferência de abertura 7
Abertura das Comunicações 7
Minicurso 7
Mesas-redondas 8
Comunicações 9
Resumos das Comunicações 15
28/09 – quarta 15
Linguagens Artísticas, Processo e Formação 15
Heterotopias 16
Arte e Debates Decoloniais 18
Modernidades Repensadas 20
Imagem e Palavra 21
Formas de Vida e Comunidades 1 23
Arte, Interseccionalidades e Debates Étnico-Raciais 24
Fotografia e Dispositivos de Visibilidade 25
29/09 – quinta 27
História e Experiência 27
Formas de Vida e Comunidades 2 28
Crítica de Arte 29
Arte, Niilismo e Violência 31
O Fazer Historiográfico 33
Arte, Trauma e Memória 33
Arte, Subjetividade e Utopia 35
Arte, Erotismo e Sexualidade 36
30/09 – sexta 38
Cinema e Formas de Vida 38
Política da Arte e Vitalismo 39
Corpo e Suas Representações 40
Cinema e Percepção 41
3
Matérias e Sentidos 42
Políticas da Escrita 44
Arte, autonomia e Indústria Cultural 45
Arquitetura e cidade como lugar incomum 47

4
GEEC-USP 10 anos

É com grande prazer que informo que o “Grupo de estudos de estética contemporânea” do
Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
está completando dez anos de atividades ininterruptas. O GEEC-USP, inicialmente composto
por alunos de graduação, orientandos em iniciação científica, em pós-graduação em nível de
mestrado e doutorado, e por pesquisadores de pós-doutorado da FFLCH-USP e do Programa
de Pós-Graduação em Estética e História da Arte da USP (PGEHA-USP) constituiu-se, no
curso do tempo, como centro de debates sobre arte e cultura contemporâneas aberto à
comunidade. Durante uma década o GEEC-USP realizou além de encontros semanais,
inúmeros eventos, entre os quais o “Seminário de Estética e Crítica de Arte”, bianual, que
entra agora em sua quinta edição. Agradeço imensamente aos convidados de diferentes
áreas que enriqueceram nossos debates, e principalmente aos membros do grupo que
movidos pela seriedade na pesquisa e espírito colaborativo, lhe concedem vida.

Ricardo Fabbrini
Prof. DF-FFLCH/PGEHA
Coordenador GEEC-USP

5
Apresentação
Com a implosão das utopias que a modernidade forjou, o horizonte de expectativas se
estreita, na medida em que o “niilismo” e a “nostalgia” ocupam o espaço antes habitado pela
paixão pelo real. Em meio a uma pandemia global, a asfixia se apresenta como o sintoma de
uma época que amiúde evidencia os limites de nossa humanidade. Ela se revela tanto pela
falta (de ar, de alimentos, de direitos e de bem-estar social) quanto pelo excesso (de
descaso, de violência, de exploração da natureza e de dados imagéticos e informacionais
que temos dificuldade em interpretar). A frase “Não consigo respirar” revela ainda a relação
entre a asfixia e o racismo, traço remanescente do colonialismo e da opressão de
determinados corpos como forma de sujeição social, cultural e política. Contudo, habitando
a catástrofe, prosseguimos buscando sentidos nesse estado geral das coisas, sentidos que
abriguem os afetos sufocados dos corpos, que possibilitem maneiras distintas de pensar e
que nos levem a outros lugares. Nesse cenário, a arte continua a propor impossíveis,
buscando redistribuir o sensível ao criar outros ritmos, intermitências e suspensões nos
fluxos vertiginosos de transações financeiras e simbólicas. É preciso inventar formas de
respirar.

A 5ª edição do Seminário de Estética e Crítica de Arte, “Sentidos na asfixia”, organizada pelo


Grupo de Estudos em Estética Contemporânea da USP, faz parte das iniciativas de
comemoração dos 10 anos do grupo, que também incluem o lançamento de nosso Site
Arquivo GEEC-USP (https://uspgeec.wordpress.com).

6
Programação
Conferência de abertura

27/09, 14h às 16h


Alternâncias artísticas: inspirar, respirar, expirar
Jean Galard, com a presença de Celso Favaretto (USP) e Léon Kossovitch (USP)
Mediação: Ricardo Fabbrini (USP)
link para transmissão

Abertura das Comunicações

27/09, 19h às 21h


Planos “A Marcha à ré”
Carmen Sylvia Guimarāes Aranha (USP) e Evandro Carlos Nicolau (USP)
Mediação: Marcella Imparato (USP)
link para transmissão

Minicurso

Modernidades alternativas | 28 a 30/09, das 10h às 12h

28/09 Sônia Salzstein (USP)


A Negra, esfinge do modernismo brasileiro
Mediação: Fernanda Almeida (USP)
link para transmissão

29/09 Tales ab' Sáber (UNIFESP)


Visões do negativo na arte brasileira: entre o desenvolvimento e a ruína
Mediação: Leonardo Rodrigues (USP)
link para transmissão

30/09 José Miguel Wisnik (USP)


Mediação: Fabiano Viana
link para transmissão

7
Mesas-redondas

Escutas
28/09, 19h às 21h
Kassia Borges (UFU) e Roberto Conduru (SMU)
Mediação: Virginia Aita (USP)
link para transmissão
Esta mesa propõe discutir a atualidade das modalidades de expressão e apreensão sensível
na arte, confrontando noções naturalizadas para abrir-se a uma multiplicidade de vozes em
conflito. Ouvindo o que antes parecia irracional e incompreensível, responde a um desvio
epistemológico. Não se antecipa em desvendar, se detém e se alonga em ressonâncias.

Toques
29/09, 19h às 21h
Fernanda Bruno (UFRJ) e Giselle Beiguelman (USP)
Mediação: Fernanda Almeida (USP)
link para transmissão
Esta mesa propõe pensar como o sentido do tato se configura na produção, difusão e
recepção das imagens técnicas, considerando, especialmente, as relações entre as ditas
realidades física, virtual e mista/híbrida. Os toques são aqui assimilados de modo
expandido, podendo se referir aos nossos gestos e ações, bem como emoções e
sentimentos.

Gostos
30/09, 19h às 21h
Peter Pál Pelbart (PUC-SP) e Vladimir Safatle (USP)
Mediação: Rafaela Fernandes (USP)
link para transmissão
Esta mesa propõe discutir formas de reconfiguração dos sentidos por meio da linguagem
em meio à catástrofe, sobretudo, a que habita o presente e o continuum da história. O que o
gosto como figura conceitual e categoria estética tem a oferecer ante o murmúrio do
indiscernível e a incomensurabilidade de nossas catástrofes cotidianas?

8
Comunicações

28/09 – quarta
14h às 16h

Sala 1 | Linguagens artísticas, processo e formação


João Marcos da Trindade Duarte | O prêt-à-porter de Antunes Filho – Forma e formação
Eduarda Santos Marques | Sensibilidade e compaixão: Entender o mundo, sentir o real
Bruna Medeiros Passos | Apontamentos para uma filosofia da dança
Pablo Enrique Abraham Zunino | A política da imagem: entre a trapaça e a traição
Mediação: Leonardo da Silva Rodrigues

Sala 2 | Heterotopias
Caio Olivette Pompeu | Marcha a Ré: heterotopia desviante, performance gótica
Artur Sartori Kon | O coro inoperante: A recriação da peça didática brechtiana em Oratorium,
do She She Pop
Natalia Alves Dos Reis | As “heterotopias” e as “comunidades” do imaginário artístico
contemporâneo
Cíntia Maria Fank | Estéticas utópicas e imaginação política: canteiros experimentais e
educação popular
Mediação: Caio Pompeu

Sala 3 | Arte e debates decoloniais


Aline Matos da Rocha | Oyèrónk Oyěwùmí: restaurando Ìyá nos discursos de arte e estética
iorubá
Kelly Braz | Contramemória/Contraprova
Fabiane Schafranski Carneiro | Práticas estéticas latino-americanas: entre a arte e a vida,
como indício de uma democracia cultural
Carina Maciel Gonçalves | Do Ñe’ẽ (Guarani) ao “I can't breathe” (George Floyd), o respirar
ameaçado no mundo contemporâneo
Mediação: Virginia Aita

Sala 4 | Modernidades repensadas


Raissa Rodrigues | Reflexões sobre os Novos Museus
Amadeo Gatti Galdino | O “desenho difícil” em Zaha Hadid
Mayã Gonçalves Fernandes | Nomenclaturas em jogo: Wassily Kandinsky entre Arte
Concreta e Arte Abstrata
Luis Fernando Silva Sandes | Artur Lescher: arte e espaço
Mediação: Betty Mirocznik

9
16h às 18h

Sala 1 | Imagem e palavra


Larissa Trindade Pereira | A pintura de Frida Kahlo e a poesia de Augusto dos Anjos: um
paralelo
Eduardo Montelli Lacerda | CHICLETE: tradução de um poema coreano através de uma
perspectiva das Artes Visuais
Jéssica Ágne Campêlo Nunes e Heraldo Aparecido Silva | Arte, asfixia e solidariedade: uma
leitura das webcomics Zen Pencil a partir da filosofia de Rorty
Ronaldo Tadeu de Souza | Qual é a obra da Obra Prima Ignorada de Balzac?
Mediação: Astrid Façanha

Sala 2 | Formas de vida e comunidades 1


Leonardo da Silva Rodrigues | Da estética relacional à estética relacionante
Vaner Muniz Ferreira | Artes produtoras: mundo, relação e comunidade nas filosofias da arte
de Heidegger, Bourriaud e Rancière
Rafael de Melo Costa | Inquietante Estranheza: ancoradouros para um processo de criação
na interface Teatro e Loucura
Isabela Ferreira Loures | Lina Bo Bardi e Mario Pedrosa: a arte do povo como “alternativa
terceiro-mundista”
Mediação: Leonardo da Silva Rodrigues

Sala 3 | Arte, interseccionalidades e debates étnico-raciais


Pedro Gabriel Amaral Costa | O Orientalismo de Horace Vernet: A pintura como elemento da
estratégia colonial francesa no século XIX
Rafael da Silva dos Santos | O não lugar da população preta brasileira: a escravidão e o
processo de alienação
Alice de Carvalho Lino Lecci | Imagens político-afetivas da mulher negra na arte de Rosana
Paulino
Mediação: Rafaela Alves Fernandes

Sala 4 | Fotografia e dispositivos de visibilidade


Laura Escorel | A Fotografia das Travestis, Transformistas e Transexuais por Madalena
Schwartz e Paz Errázuriz
Paola Pacini Orlovas | A Importância da estética Rodchenko na Imagem da
contemporaneidade
Laila Djana Keller | Estética Onírica nas fotografias de Evgen Bavcar
Alan Ricardo Floriano Bigeli | Escutando Imagens: o Hiper-Real entre Arte e Psicanálise
Mediação: Laila Djana Keller

10
29/09 – quinta
14h às 16h

Sala 1 | História e experiência


Arthur Dal Ponte Santana | A asfixia da experiência por meio da saturação: Walter Benjamin
entre dois polos da perda da experiência
Leonardo Rodrigues Silvério | A interrupção crítica e a redenção
Roberto Carlos Conceição Porto | Sachgehalt e Wahrheitsgehalt: Walter Benjamin e as
Afinidades eletivas de Goethe entre a fidelidade filológica e a transformação filosófica
Thomaz da Silva Barreto | Não-contemporaneidade como crítica do progresso
Mediação: Marcella Imparato

Sala 2 | Formas de vida e comunidades 2


Gilson Schwartz | Arte Pública e Emissão de Moedas Criativas: “Avant Garden” em São Paulo
Patricia Morales Bertucci | A iminência da queda: fissuras e contradições no espaço da
cidade de Berlim, entre 1987 e 1990
Matheus Moro Gargioni | Estéticas dissidentes: o que pode vir a público?
Mediação: Patricia Morales Bertucci

Sala 3 | Crítica de Arte


Virginia H A Aita | Insurgências da forma: estratégias para um novo ethos
Daniel Donato Ribeiro | Noite clara: utopia e resignação no itinerário crítico de Mário
Pedrosa
Gabriel de Campos Barrera San Martin | Arthur Danto e a crítica de arte, novos critérios
Gustavo Torrecilha | Crítica de arte e crítica imanente: uma tentativa de interpretação da
análise de obras de arte na estética de Hegel
Mediação: Virginia Aita

Sala 4 | Arte, niilismo e violência


Hermila Resende Santos | Arte, transgressão e violência em Albert Camus
Rodrigo Mortara Almeida | A literatura face ao niilismo - uma comparação através de
Günther Anders e Dostoiévski
Renata Magri Alonge Bonfim da Silva | Niilismo e pintura: o problema da obra de arte no
diagnóstico do niilismo de Ernst Jünger no segundo pós-guerra
Douglas Gadelha Sá | O perigoso talvez da Arte em tempos de Guerra: uma leitura estética
sobre a invasão da Ucrânia
Mediação: Caio Pompeu

11
16h às 18h

Sala 1 | O fazer historiográfico


Eduardo de Moraes Carvalho | A História, a Catástrofe e o Historiador: sobre a Dicção
Política do Discurso Historiográfico
Paolo Colosso | Georges Didi-Huberman: emoção, montagem e um saber sem medo de
imaginação
Mediação: Marcella Imparato

Sala 2 | Arte, trauma e memória


Sofia Corso | Memória, dor e esquecimento: o vazio na obra de arte como possível
elaboração do trauma e do luto psicanalítico
Daniel Valdimir Tapia Lira de Siqueira | Ai Weiwei e o testemunho da catástrofe
Rafaela Alves Fernandes | Christian Boltanski: em busca da pequena memória
Laís Barreto da Silva | Ana Mendieta: arte, performance e memória
Mediação: Rafaela Alves Fernandes

Sala 3 | Arte, subjetividade e utopia


Márcio Santos de Santana | A utopia do homem novo como discurso: uma análise (Brasil,
décadas de 1920-30)
Vitor Morais Graziani | A Ditadura Civil-Militar e o Tropicalismo: crítica e integração
Rafael Goffinet de Almeida e Fábio Lopes de Souza Santos | A participação (ou o campo de
batalha sobre a subjetividade)
Rodrigo Vicente Rodrigues | A utopia não tem mais lugar? A arte como resposta a um mundo
sufocante na crítica de Mário Pedrosa
Mediação: Victor Zamberlan Schneider

Sala 4 | Arte, erotismo e sexualidade


Guilherme Grané Diniz | A erótica da asfixia em Sade
Fabiana Cardoso da Fonseca | A indissolubilidade entre a experiência estética e erótica em O
livro de Praga: narrativas de amor e arte, de Sérgio Sant’Anna
Luiz Henrique Couto Martins | Enfrentando a Medusa: arte, corpo e sexualidade no
Renascimento do Harlem
Mediação: Laila Djana Keller

12
30/09 – sexta
14h às 16

Sala 1 | Cinema e formas de vida


Eduardo Gutierrez de Sousa | Terror como experiência do racismo: realismo fantástico e a
produção recente do cinema negro norte-americano
Luana Gonçalves Carvalho Fúncia | Panorama do cinema indígena no Brasil
Matheus Fidelis Ferreira Ventura | “Carne” – A relação entre Ética e Moralidade
Mediação: Fernanda Almeida

Sala 2 | Política da Arte e Vitalismo


Matheus Barbosa Rodrigues | Deleuze e a violência sensível em Francis Bacon
Fabiano Viana | Notas sobre o Entre (d(as))Artes e a Política do Entre
Lucas Dilacerda | Políticas da arte contemporânea: estética, crítica e clínica
Mediação: Fabiano Viana

Sala 3 | Corpo e suas representações


André Aureliano Fernandes | Estados do corpo: experiência e presença
Rosana Aparecida Dalla Piazza | Interlocuções entre: selfie, espelho e simulacro
Sulamita Fonseca Lino | A série Femme Maison: os seres híbridos e as experiências da
asfixia
Monique Coutinho Huerta | Eu, a casca e a coisa
Mediação: Victor Zamberlan Schneider

Sala 4 | Cinema e percepção


Ariane Paeró D'Andrea | O olhar de Harun Farocki sobre a metrópole contemporânea
Matheus Silveira dos Santos | Alegorias do choque no tempo da asfixia
Henrique da Silva Lourenço e Fábio Morales Namura | Imagens asfixiantes de antes e de
depois
Mediação: Matheus Silveira dos Santos

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16h às 18h

Sala 1 | Matérias e sentidos


Fernanda Albuquerque de Almeida | Figurações da intimidade em “Daguerreótipos” de Agnès
Varda
Gabriel Kafure da Rocha | Alhures – hiatos metaestéticos dos sentidos em Bachelard
Gabriel Schessof | “Os poetas estão emudecendo?” – Ou sobre o que a poesia (ainda) tem a
nos dizer: reflexões a partir do pensamento de Hans-Georg Gadamer
Mediação: Fernanda Almeida

Sala 2 | Políticas da Escrita


Caio Vinicius Russo Nogueira | Rumo a outro conceito de Imagem?
Daniela Cunha Blanco | A política da escrita e a temporalidade: uma interpretação de Ao
farol, de Virginia Woolf, a partir de Jacques Rancière
Wesley Fernando Rodrigues de Sousa | Roberto Schwarz e a literatura machadiana como
crítica da forma social brasileira
Gustavo Santana de Morais | Existe uma literatura situacionista? Michèle Bernstein,
romancista incomum
Mediação: Fabiano Viana

Sala 3 | Arte, autonomia e Indústria Cultural


Bruno Carvalho Rodrigues de Freitas | Trauma e vida danificada na “Filosofia da nova
Música”
Mateus Matos Bezerra | Adorno e Valéry: o conceito de autonomia da arte na Teoria Estética
Lucas Alves Marinho | Da Subsunção Formal à Subsunção do Real dos Indivíduos no seu
Tempo Livre pela Atual Vanguarda da Indústria Cultural
Vitor Emanuel Pinto Cardoso | Um percurso histórico-filosófico sobre liberdade de
expressão, preconceito e humor: o especial de Natal do Porta dos Fundos
Mediação: Astrid Façanha

Sala 4 | Arquitetura e cidade como lugar incomum


Betty Mirocznik | Além da sujeição, o espaço público como lugar singular
Juny Kp | Quando olho para trás, vejo o futuro
Gabriel Teixeira Ramos | Mapear o quadrilátero, imaginar seus rasgos: investigações sobre
modos de caminhar e cartografar os limites dos territórios colono-modernos
Mediação: Betty Mirocznik

14
Resumos das Comunicações
28/09 – quarta

Linguagens Artísticas, Processo e Formação

João Marcos da Trindade Duarte (UFPB)


O prêt-à-porter de Antunes Filho – Forma e formação
O espetáculo teatral dirigido pelo diretor Antunes Filho (1929-2019), em cartaz entre os anos
de 1998 e 2011, foi pouco avaliado e levado em conta pela crítica de teatro. Nossa hipótese
é a de que isso pode ter acontecido pelo fato de ser um espetáculo que deve ser visto tanto
como forma artística quanto como o resultado de um processo de formação de atores. De
fato, pode-se considerar que o “Prêt-à-Porter” é o resultado de um sistema de formação de
atores, resultado da pesquisa do diretor com o Centro de Pesquisa Teatral. Sistema esse
que tem semelhanças com os empreendidos em outros lugares do mundo, mas que se
mostra original, uma vez que dá ao ator todo o protagonismo do fazer teatral. Por outro, é
uma obra de arte autônoma, constituída de três cenas, sem relação direta entre si, que
formam um todo. Para uma crítica desse espetáculo teatral, é preciso analisar cada um dos
polos (forma e formação), bem como fazer a passagem de um ao outro a fim de expor seus
vasos comunicantes. Esta comunicação tem, justamente, o objetivo de demonstrar os
resultados do percurso empreendido pelo pesquisador, até então, tentando fazer a crítica do
Prêt-à-porter como forma e como formação.
Palavras-chave: prêt-à-porter, crítica teatral, teatro, formação, obra de arte.

Eduarda Santos Marques (USP)


Sensibilidade e compaixão: Entender o mundo, sentir o real
Partindo da filosofia sensualista de Condillac a apresentação busca relacionar a importância
da arte para a compreensão dos sentimentos do outro no caos pós-moderno. Para
Condillac, o tato seria, dos sentidos, o mais filosófico. Em um mundo que se constrói a partir
do mundo virtual, não há como sentir: não há toque, não há sensibilidade, não há real.
Partindo de sua raiz etimológica, virtual vem do latim medieval virtualis que compreende
algo que, apesar de extrema correspondência com o real, não faz parte dele, gera efeito, mas
não existe. Na ótica do isolamento, o contato com o real só era possível em estado mínimo,
determinado pela necessidade e não pela possibilidade. Como manter relações e criar
empatia em uma realidade que pode nem existir? Como compadecer a milhares de
estatísticas de morte e de pobreza sendo que não vejo números por aí me pedindo comida?
É, principalmente, na arte que se encontra o sentido, que se encontra o sentir. A arte, seja ela
qual for, tem o poder de mobilizar nossas paixões ao que temos em comum. Não é um
número, é uma mãe, uma filha, o futuro do país, que poderia ser eu, você ou qualquer um. A
partir daí, busca-se sentir o real.
Palavras-chave: arte, sensibilidade, pós-modernidade.

15
Bruna Medeiros Passos (UFSC)
Apontamentos para uma filosofia da dança
Esta comunicação pretende problematizar de que forma a dança foi concebida dentro de
teorias da arte, seja como arte menor e derivativa em relação às outras artes, ou mesmo,
como fora do escopo das manifestações que recebem o estatuto ontológico de arte. Tendo
como perspectiva de partida os paradigmas estético-sensorial e semântico-hermenêutico
em teorias monistas da arte, serão problematizados os critérios de artisticidade utilizados
por elas. Para isso, as hipóteses a serem defendidas são i. que o artístico da dança não
pode ser apreendido por teorias que não considerem as suas especificidades, como uma
arte que opera nos campos da atividade, atualidade, ficcionalidade e performatividade; e ii.
que o paradigma performático-performativo oferece critérios mais adequados para se
pensar a dança como arte plena. Os autores a serem abordados aqui serão Paul Valéry,
Arthur Danto, Celso Braida, Erika Fischer-Lichte. Este trabalho é parte do processo de revisão
teórica prevista no projeto de mestrado “A arte como ação e ficção: uma ontologia da
dança”, em andamento no PPGFIL UFSC sob orientação do prof. Dr. Celso Reni Braida.
Palavras-chave: dança, estatuto ontológico, arte.

Pablo Enrique Abraham Zunino (UFRB)


A política da imagem: entre a trapaça e a traição
Quando não há outra saída senão crer no amor e na vida, quiçá possamos compreender as
palavras de Artaud: “algo possível, senão sufoco”. Assim terminavam meus devaneios sobre
filosofia e cinema no início da pandemia, quando milhares de pessoas morriam por falta de
ar e os sobreviventes morriam de medo em absoluto isolamento. A ideia era pensar o
cinema a partir de uma concepção política da arte, assinalando as diferentes funções da
imagem. Ora, mundos de cinema não são como o mundo da vida! No entanto, a estética
cinematográfica se cruza com a política da imagem quando se trata de recuperar a crença
neste mundo através de uma valorização do corpo e da vida. Nesta comunicação,
aprofundamos o problema da criação de novas possibilidades de vida, modulando essa
política da imagem – sugerida por Deleuze em “A imagem-tempo” (1985) – com as figuras
do trapaceiro e do traidor, à luz de comentários mais recentes. Nesse sentido, retomamos a
crítica de Zourabichvili ao voluntarismo político, no qual até a criatividade detém clichê; cada
qual vivendo seu próprio clichê, como o trapaceiro, que se esforça para criar, enquanto o
traidor cria forçado por amor ou impelido por um encontro.
Palavras-chave: imagem, criação, clichê, traição.

Heterotopias

Caio Olivette Pompeu (USP)


Marcha a Ré: heterotopia desviante, performance gótica
O objetivo deste trabalho é realizar um estudo de caso sobre a performance-filme Marcha a
Ré, realizada pelo Teatro da Vertigem em colaboração com o artista plástico Nuno Ramos e
o cineasta Eryk Rocha em São Paulo em meio aos primeiros meses de pandemia da Covid-
19. Além da descrição da performance e da contextualização dela dentro do cenário
pandêmico-político a partir do qual ela emerge, nos propomos a analisar a performance a
partir de três eixos principais. Em primeiro lugar, refletiremos acerca dos níveis de diálogo
que a performance estabelece com a obra do artista moderno Flávio de Carvalho. Em
segundo lugar, buscaremos traçar caminhos possíveis para a articulação dos conceitos de

16
heterotopia e heterocronia propostos por Foucault para com a performance. Em terceiro
lugar, mostraremos de que maneira a referida performance pode ser relacionada com o
conceito de gótico tal qual proposto por Mark Fisher. À guisa de conclusão, apontaremos
algumas reflexões sobre os potenciais sentidos e significados de Marcha a Ré dentro das
circunstâncias nas quais ela foi realizada.
Palavras-chave: heterotopia, arte pós-utópica, Teatro da Vertigem.

Artur Sartori Kon (USP)


O coro inoperante: A recriação da peça didática brechtiana em Oratorium, do She She Pop
A comunicação abordará a obra teatral “Oratório”, do grupo alemão She She Pop, uma
tentativa de retornar à herança brechtiana, particularmente, ao modelo da peça didática
(Lehrstück), não para reafirmá-la ou criticá-la de modo simples, mas para tentar reativá-la
por um processo de perlaboração das promessas do modernismo. Tentando incluir o
público na criação de coros, a partir de identificações políticas sempre incompletas, convida
a falar “todos os jovens sem renda fixa” ou “todas as mães que não dispõem de assistência
social”, os “berlinenses natos” ou os “estrangeiros e turistas”, ou mesmo, “os que vivem de
renda e estão bem de vida” e um “coro dos ricos” – a peça busca reproduzir a coletividade
proposta por Brecht, num tempo em que suas condições objetivas não estão dadas. O
resultado é um fracasso muitas vezes cômico, mas que não se reduz à mera derrisão da
tentativa.
Palavras-chave: teatro político, teatro contemporâneo, coro e coletividade, teatro alemão,
estética e política.

Natalia Alves Dos Reis (USP)


As “heterotopias” e as “comunidades” do imaginário artístico contemporâneo
Esta apresentação configura-se como um dos resultados pretendidos pelo projeto de
pesquisa “Estética e arte contemporânea”, orientado pelo Prof. Ricardo Fabbrini e apoiado
pelo Programa Unificado de Bolsas, da Universidade de São Paulo. O efetivo trabalho visa
reconstituir a passagem do imaginário artístico moderno europeu para o imaginário artístico
contemporâneo, na tentativa de demonstrar como a crise do projeto utópico revolucionário
que orientou as vanguardas históricas do século XX oportunizou a emergência de novas
concepções de artes calcada no embaralhamento entre arte e vida. A proposta do trabalho
consiste em apontar como certas noções, como a de comunidade e heterotopia, mobilizada
em certo debate da teoria estética (Rancière; Foucault; Agamben; Barthes; Deligny), têm sido
operadas sob o desígnio de imaginar novos espaços alternativos e relações de
convivialidade que indiciem novas formas de habitar, novos modos de ser e sentir no mundo
cotidiano, num movimento de reordenação da realidade vigente, no qual as relações de
poder e dominação que lhe constituem são abstraídas, em favor de outras configurações
socioespaciais, instauradas pela prática artística.
Palavras-chave: vanguardas, utopia, heterotopia, comunidades, imaginário.

Cíntia Maria Fank (UFSC)


Estéticas utópicas e imaginação política: canteiros experimentais e educação popular
A comunicação analisa teses que aproximam canteiros arquitetônicos experimentais do trio
Arquitetura Nova – Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre e Flávio Império – e espaços formativos da
educação popular. O objetivo é entender tais experiências enquanto estéticas utópicas, isto
é, práticas nas quais a organização do tempo, a distribuição dos fazeres e dos modos de
17
representação podem produzir uma sensibilidade para a sociedade emancipada, da
democracia como forma de vida. Para tanto, o trabalho é composto de três momentos: em
1) analisamos os canteiros da dita poética da economia como ensaio no qual se
experimenta uma arquitetura radicalmente distinta, em termos do processo de construção,
das características materiais e formais do objeto construído; em 2) evidenciamos em que
medida, na educação popular, a denominada leitura do mundo e a formação de sujeitos
políticos não se dão em relações de ordem meramente racional, mas envolve forjar outra
sensibilidade coletiva; em 3) reconstituímos formulações filosóficas de Jacques Rancière
que redefinem o campo da estética, argumentando que estas conseguem mostrar os
potenciais de estéticas utópicas, capazes de reativar a imaginação política.
Palavras-chave: estéticas utópicas, imaginação política, canteiros experimentais, educação
popular, democracia.

Arte e Debates Decoloniais

Aline Matos da Rocha (UnB)


Oyèrónk Oyěwùmí: restaurando Ìyá nos discursos de arte e estética iorubá
Este trabalho tenciona refletir sobre a instituição Ìyá (maternidade), a partir das discussões
propostas pela pensadora nigeriana de origem iorubá, Oyèrónk Oyěwùmí, que, através da
restauração de saberes subjugados por processos coloniais, denuncia que, com a instalação
da colonização britânica na sociedade iorubá, há um modelo generocêntrico nos estudos
africanos utilizado para ler e interpretar os escritos sobre a arte clássica iorubá de Ifé (antiga
cidade no estado de ṣun, no sudoeste da Nigéria) e os artefatos culturais de África. Esse
modelo generocêntrico solapa a presença de Ìyá nos discursos de arte e estética iorubá. No
entanto, a arte e estética – assim como outros âmbitos da vida iorubá – não foram
moldadas ou organizadas privilegiando atributos anatômicos, mas práticas rituais de
criação e procriação, ambas esferas privilegiadas por Ìyá, sênior primordial e honorífica,
signo de criatividade em termos socio-espirituais e filosóficos. Desse modo, este trabalho é
um convite para nos aproximarmos das discussões de Oyèrónk Oyěwùmí e pensarmos
cosmopercepções que (re)conheçam Ìyá nos discursos de arte e estética iorubá.
Palavras-chave: Oyèrónk Oyěwùmí, Ìyá, arte e estética iorubá.

Kelly Braz (USP)


Contramemória/Contraprova
O objetivo é apresentar o recorte crítico da exposição “Contramemória” exibida no Theatro
Municipal de SP (2022), durante celebração do centenário da Semana de Arte Moderna de
1922. Refletir sobre o diálogo entre obras/artistas contemporâneos/modernistas, o mote
curatorial e os desdobramentos a partir da obra “Carta-Cobra” da artista indígena Daiara
Tukano. A presença e singularidade das obras/artistas contemporâneos, a partir de suas
materialidades, identidades, raça/gênero (maioria eram mulheres, negros, indígenas, trans,
queer), cem anos depois, na estrutura arquitetônica tombada do Theatro Municipal, é um ato
de resistência. Mas esses mesmos artistas encontraram resistências institucionais. Quais
são os corpos autorizados a adentrar o templo hegemônico da arte da elite paulistana?
Algumas obras foram verdadeiros gritos e berros. Curadoria do artista Jaime Lauriano, da
historiadora Lilia Schwarcz e do professor Pedro Monteiro. A Contramemória é mesmo uma
contraprova da primeira experiência ocorrida cem anos antes no mesmo Municipal?
Movimenta as estruturas sociais e o sistema da arte ou serve apenas de álibi institucional
para encobrir a realidade existente?
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Palavras-chave: contramemória, narrativas enviesadas, queer, crítica de arte, semana de arte
de 1922.

Fabiane Schafranski Carneiro (USP)


Práticas estéticas latino-americanas: entre a arte e a vida, como indício de uma democracia
cultural
Esta comunicação se propõe a analisar “Práticas estéticas latino-americanas
contemporâneas”, situadas entre a arte e a vida, que se pautam na indeterminação,
experimentação e participação abarcando atores sociais diversos, suas dinâmicas,
necessidades e aspirações. À luz de subsídios teóricos de Néstor García Canclini, Jacques
Rancière e Grant Kester, busca refletir sobre o deslocamento de tais conceitos nesta
produção atual. Se a experimentação e a participação foram relevantes nos anos 1960 e
1970 – ao se autocriticar a arte e se questionar o autor e a distância entre arte, vida e
sociedade, e nos anos 1980 e 1990 – ao se tentar a autoria múltipla e novas relações com o
espaço urbano e o ativismo, na arte contemporânea tais princípios parecem ter se alterado.
Enquanto associação contraditória de ações voltadas a ratificar a autonomia da arte ou a
extrapolar suas fronteiras, a arte contemporânea parece encontrar, na indeterminação, a
abertura para que as pessoas, em coletivo, estabeleçam um campo próprio e transitório de
experiências estéticas. Esse âmbito situado em fronteiras entre mundos representados e
espaços cotidianos, parece apontar para uma possível democracia cultural.
Palavras-chave: arte contemporânea, América Latina, estética, indeterminação,
experimentação, participação.

Carina Maciel Gonçalves (PUC-SP)


Do Ñe’ẽ (Guarani) ao “I can't breathe” (George Floyd), o respirar ameaçado no mundo
contemporâneo
“Evento curto… Nós estamos fazendo desaparecer os Outros”, ao introduzir mudanças nesse
mundo, enfrentando o cretinismo e a preguiça, segundo Ailton Krenak; o antropoceno se
aproxima da discussão da necropolítica (MBEMBE, Achille) de Estado ou da asfixia e
lassidão moral (LACAN) enquanto um sintoma da cultura escancarado no racismo. Para
referir o objeto que verga o antropoceno (do grego anthropos, que significa humano, e
kainos, que significa novo) a nova época geológica afeta nossa – infamiliar – casa, no seu
sentido freudiano. O olhar sobre o antropoceno de Edward Burtynsky, na semiótica da
exploração da natureza nos atinge pela distração afetiva, (ou covarde do contato) com as
extravagantes cenas por suas escalas territoriais de impacto na Terra, ao seu contágio
viralizante que é visto do tamanho de uma tela, dentro dos seus territórios familiares ou
subjetivos. O que asfixia pela fala de George Floyd, quanto na morte de Jaider Esbell é que
atingem também a cultura, como um fenômeno que necessita “fundar o Des-mundo”. Resta
para criação de novos mundos possíveis a necessidade de respirar, no sentido guarani do
termo, e a possibilidade de sonhar esses novos mundos.
Palavras-chave: Ailton Krenak, Jaider Esbell, 34ª Faz Escuro Mas eu Canto (Bienal
Internacional de Arte de São Paulo).

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Modernidades Repensadas

Raissa Rodrigues (USP)


Reflexões sobre os Novos Museus
Digite “beaubourg” no seu site de busca preferido e você irá se deparar com a fachada
grandiosa do Museu Nacional de Arte Moderna do Centro Georges Pompidou, localizado em
Paris. Sua inauguração em 1977 é considerada pela crítica como o marco inicial do que se
convencionou chamar de “cultura dos novos museus” (FABBRINI, 2008). Muito mais do que
um fenômeno artístico, estético ou filosófico, os novos museus representam uma relação
diferenciada entre cultura e economia. A proposta desta comunicação é refletir sobre como
esse vínculo se estabeleceu, desde suas primeiras manifestações no final do século XIX, até
os dias de hoje. Esse tema envolve aspectos históricos, conceitos e discussões bastante
profundas que vão se deparar, inclusive, com as interpretações da pós-modernidade como
um todo.
Palavras-chave: novos museus, welfare state, pós-modernidade.

Amadeo Gatti Galdino (USP)


O ‘desenho difícil’ em Zaha Hadid
Pretendo apresentar, como fruto de dissertação de mestrado, a noção de “desenho difícil”
que identifico nos desenhos da arquiteta iraquiana Zaha Hadid. Consiste, sobretudo, em
operações com os códigos da representação (como o recurso à abstração, a distorção do
espaço da representação e a multiplicação de vistas perspectivas) que aumentam a
complexidade do desenho, permitindo um prolongamento do ato perceptivo. Há uma
conexão com um procedimento oriundo das vanguardas artísticas históricas do início do
século XX: o ostranênie¸ estranhamento, conforme articulado pelo crítico literário russo
Viktor Chklóvski. O desenho difícil aparece em Hadid como instrumento de formulação da
arquitetura em paralelo aos desenhos “técnicos” tradicionais; sem perder de vista a
constituição do projeto, abre-se, todavia, uma zona de indeterminação, um campo
desconstrutivo, um espaço intermediário entre o saber de um objeto representado e o não-
saber que força o pensamento. Se a obra de Hadid possui certo elogio à aceleração da
sociedade contemporânea, todavia retém, em outro vetor, a possibilidade de uma
desaceleração perceptiva que é fértil enquanto estratégia contemporânea de representação.
Palavras-chave: Zaha Hadid, desenho difícil, representação arquitetônica, estranhamento.

Mayã Gonçalves Fernandes (UnB)


Nomenclaturas em jogo: Wassily Kandinsky entre Arte Concreta e Arte Abstrata
Esta comunicação evidencia as tensões conceituais suscitadas pelas nomenclaturas “arte
concreta” e “arte abstrata”, terminologia constantemente atribuída para a produção artística
de Wassily Kandinsky. Em um artigo intitulado “Arte concreta” (1938), Kandinsky relatou que
ao recordar os debates há quase 30 anos, entendeu que o objeto ainda era uma questão
para a pintura: “[...] vejo a força imensa da pintura dita “abstrata” ou “não figurativa” e que
prefiro chamar de “concreta” (KANDINSKY, 2015, p. 259). Em 1938, ele abandona a
nomenclatura “arte abstrata” e admite suas obras como sendo concretas com uma profunda
relação com a espiritualidade. Assim, busca-se demonstrar por meio da seleção de textos e
de obras visuais como a sintaxe desenvolvida pelo artista envolve conceitos como a arte
concreta, abstração, a figura, a espiritualidade e elementos pictóricos. Com essa
comunicação, elucida-se como tais debates por vezes foram obliterados por parte da

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fortuna crítica não-especializada por conflitar com outras concepções teóricas
estabelecidas à época.
Palavras-chave: Wassily Kandinsky, figura, abstração, arte abstrata, arte concreta.

Luis Fernando Silva Sandes (USP)


Artur Lescher: arte e espaço
Diversas das obras de Artur Lescher lidam de modo acentuado com o espaço arquitetônico
expositivo onde se localizam, sendo que dele dependem para ter seu sentido completado. O
objetivo do trabalho é discutir e interpretar as formas pelas quais o artista se relaciona com
o espaço. As fontes primárias são as instalações de várias décadas intituladas “Aerólitos”
(1987), “Projeto Espacial Aerólito” (1986), “Aerólito preto” (2002 e 2020) e “Semovente”
(1989), nesta ordem. Nessas obras, sua relação artística com o espaço é mais
questionadora e incisiva, sendo “Aerólito preto” uma decorrência de obra de quando era
jovem. No geral, essas obras, entre outras do artista, não tomam o espaço como dado ou
posto e sim instituem novas relações entre o espaço, o público e a obra, de forma a fazer
que o espaço seja distinto do que havia previamente. As fontes secundárias são catálogos,
folders e críticas. Além de questionar essa tradição arquitetônica do funcionalismo, cujo
paradigma foi Le Corbusier, o artista indaga o espaço expositivo, não tomando-o como
neutro nem estático. Este trabalho faz parte da pesquisa de doutorado do autor.
Palavras-chave: arte contemporânea, arte brasileira, instalação, abstração geométrica,
espaço.

Imagem e Palavra

Larissa Trindade Pereira (UERJ)


A pintura de Frida Kahlo e a poesia de Augusto dos Anjos: um paralelo
Augusto dos Anjos, um dos maiores poetas brasileiros, autor do livro “Eu” (1912), destaca-se
por escrever poesia a partir do olhar objetivo e científico do mundo, contemplando suas
imperfeições com linguagem precisa, termos da ciência e, paralelamente, unindo tal exótica
expressividade a uma perfeita forma fixa, com rimas ricas e raras, embora inusitadas. A
grande pintora mexicana Frida Kahlo, por outro lado, conhecida por uma arte do estilo “Nova
Mulher”, prezava por uma mensagem feminista nos seus autorretratos. No entanto, ela tem
um olhar quase impiedoso sobre sua dor, o que também é reflexo de sua aproximação com
a ciência. O poeta e a pintora têm, portanto, um objetivo comum bastante claro, pois Frida
procurou mostrar a desgraça, a dor e a tristeza de forma distanciada, estoica e
profundamente analítica, o que transmite a mensagem de resistência tão característica de
seus retratos e também é objetivo da verve incomum de Augusto dos Anjos ao cantar a
“necessidade de horroroso”.
Palavras-chave: Frida Kahlo, Augusto dos Anjos, estética, ciência na arte, crítica de arte.

Eduardo Montelli Lacerda (UFCG)


CHICLETE: tradução de um poema coreano através de uma perspectiva das Artes Visuais
Apresento um processo de tradução do poema “Chiclete” do poeta coreano Kim Ki-taek,
realizado nos dois primeiros anos da pandemia de Covid-19. Em ressonância com Eduardo
Viveiros de Castro, que diz que “traduzir é instalar-se no espaço do equívoco e habitá-lo”,
minha tradução foi elaborada como transformação e ampliação de sentidos, especialmente

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em razão de eu não ser falante da língua original do poema. Estudando o alfabeto e a
gramática coreana no “Youtube” e treinando a pronúncia com a voz do “Naver” (“Google” da
Coreia do Sul), busquei fazer uma transdução do poema em outras formas de arte, como
performance, vídeo e escultura digital. Inspirado por Franco Berardi, esse processo foi
pensado como um “calote semiótico” diante do “endividamento simbólico” e da “inflação de
sentidos” do capitalismo, exacerbados pela pandemia. Mastigar lentamente um poema
difícil de ler, arrancar pedaços de sentido de cada palavrinha estranha, usando os
dispositivos de comunicação digital para aprender a falar algo novo, mais do que para
reproduzir discursos correntes, foi uma tentativa de negar a exigência de transformar o
trauma pandêmico em um produto artístico de consumo imediato.
Palavras-chave: poesia coreana, tradução, artes visuais, covid-19.

Jéssica Ágne Campêlo Nunes e Heraldo Aparecido Silva (UFPI)


Arte, asfixia e solidariedade: uma leitura das webcomics Zen Pencil a partir da filosofia de
Rorty
Desde os primórdios da humanidade, a arte vem ocupando um espaço importante na
formação do caráter humano. Com ela, a comunicação se manifestou de um modo criativo,
e assim, o homem pode se expressar através dela, às vezes de uma forma que nem as
palavras explicariam. As histórias em quadrinhos são uma das formas de comunicação que
usam a arte imagético-textual para mostrar aos leitores, direta ou indiretamente,
perspectivas críticas acerca de determinados temas sensíveis na sociedade
contemporânea. Tais temas são oriundos de diversas áreas do conhecimento, tais como:
educação, política, filosofia etc. Centraremos a discussão deste trabalho no
neopragmatismo de Richard Rorty como aporte teórico principal para abordar algumas
situações asfixiantes, restritivas ou persecutórias, evidenciadas nas webcomics “Zen
Pencils”. A fundamentação teórica baseia-se nos escritos de: Moya (1993), Rorty (2006;
2007), McLaughlin (2005), McCloud (2008), Eisner (2010), Than (2012), Mazur; Danner
(2014) dentre outros. Esta comunicação visa contribuir para o fomento de estudos e
pesquisas sobre webcomics no âmbito estético dentro dos parâmetros filosóficos do
neopragmatismo.
Palavras-chave: histórias em quadrinhos, webcomics, filosofia, neopragmatismo.

Ronaldo Tadeu de Souza (USP)


Qual é a obra da Obra Prima Ignorada de Balzac?
A arte não figurativa marcou um momento decisivo na história das artes plásticas; no século
XIX, os impressionistas (Manet, Pissarro e Monet) tomaram do pincel para construir,
paradoxalmente, a não-figuração da arte. Mas décadas antes, Honoré de Balzac vislumbrava
com o artifício da ficção literária qual era o gesto estético dos traços complexos e
indefinidos de uma arte que não encontraria na representação humana seu elemento de
beleza. Proponho ler o “Obra Prima Ignorada” como expressão de uma narrativa que exprime
aspectos do não-figurado não só do impressionismo, mas da arte moderna de vanguarda.
Palavras-chave: Balzac, não-figurado, impressionismo, modernidade, literatura.

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Formas de Vida e Comunidades 1

Leonardo da Silva Rodrigues (USP)


Da estética relacional à estética relacionante
O trabalho tem como objetivo sugerir uma significativa mudança de paradigma em curso no
interior de um dos modelos teóricos mais influentes no rol das produções e debates
estéticos na contemporaneidade, a saber, a ideia de “estética relacional”, tal como foi
concebida pelo teórico e curador francês Nicolas Bourriaud. Mostra como nas últimas
exposições com curadoria de Bourriaud, a temática do Antropoceno, isto é, a nova era
geológica na qual a humanidade estaria adentrando, ganha uma hegemonia fundamental
nas produções artísticas e debates estéticos, e demanda uma expressiva revisão de
postulados centrais para a consolidação de tal estética relacional, especialmente no que diz
respeito à primazia das relações inter-humanas e à questão da aceleração dos fluxos
radicantes.
Palavras-chave: estética relacional, radicante, antropoceno.

Vaner Muniz Ferreira (USP)


Artes produtoras: mundo, relação e comunidade nas filosofias da arte de Heidegger, Bourriaud
e Rancière
Trata-se de pensar três teorias da arte que a concebem sob certa ideia de comunidade,
enquanto produtora de maneiras de habitar o mundo. Para tanto, pretende-se expor diálogos
possíveis entre a arte que produz um mundo (Heidegger), a arte que produz novas relações
(Bourriaud) e a arte que produz uma comunidade (Rancière). Nos três casos, a arte é capaz
de produzir e ordenar o mundo. No primeiro, a arte instituiu o próprio mundo comum de um
povo que deve salvaguardá-la. No segundo, ela deixa de lado essa grande ambição
fundadora e contenta-se em propor modelos de socialidade capazes de transformar as
relações com o mundo presente. No último, ela é campo de batalha das comunidades
históricas, ordenando sua experiência sensível, fazendo do real uma ficção para que seja
possível pensá-lo e percebê-lo.
Palavras-chave: mundo, comunidade, relações, arte.

Rafael de Melo Costa (UNESP)


Inquietante Estranheza: ancoradouros para um processo de criação na interface Teatro e
Loucura
Pesquisa de doutoramento em fase inicial que investigará os processos de criação na
interface Teatro e Loucura junto com pessoas com agudo sofrimento psíquico. A partir da
compreensão de que a experiência de estranhamento é anterior a de identidade para o ser
humano, ideia desdobrada do conceito freudiano de unheimlich, esta investigação propõe a
criação de uma poética teatral nomeada como Inquietante Estranheza. Neste sentido, a
construção da cena não parte do desmonte do que é familiar, lógica que carrega consigo
uma certeza identitária inata, mas sim pela experiência de sermos estranhos a nós mesmos
e de não termos certeza sobre quem somos. Ao utilizar o unheimlich como operador e traçar
uma analogia deste com a Loucura, esta pesquisa cria ancoradouros teóricos e dispositivos
práticos para a realização do Laboratório Inquietante Estranheza (espaço de
experimentação cênica com pessoas com agudo sofrimento psíquico). O método que
sustenta esta investigação é o Método Psicanalítico por Ruptura de Campo, como descreve

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Fabio Herrmann, que visa na sua ação o des-velar das lógicas que sustentam o campo
investigado, possibilitando assim pensar novos procedimentos de criação cênica.
Palavras-chave: processo de criação, teatro, loucura, unheimlich, inquietante estranheza.

Isabela Ferreira Loures (USP)


Lina Bo Bardi e Mario Pedrosa: a arte do povo como ‘alternativa terceiro-mundista’
Mário Pedrosa e Lina Bo Bardi entre o fim dos anos 60 e os anos 70 viam na arte popular
uma alternativa ao modelo do modernismo europeu. Para Bo Bardi, a arte popular carregava
o potencial diferencial do pensamento criativo brasileiro. Já para Pedrosa, recém-chegado
de seu exílio, se voltar para as camadas mais pobres da população constituía a “alternativa
terceiro-mundista”, como uma proposição frente à desilusão com as utopias da arte
europeia. Em ambos, a mirada para a arte popular vem acompanhada do posicionamento
político de esquerda, alinhando-se aos valores dos extratos mais baixos da população. Em
suma, através da presente proposta de comunicação, visa-se apresentar e analisar, em suas
aproximações e diferenças, as concepções críticas e as ações de Pedrosa e Bo Bardi como
visões alternativas, estéticas e políticas, ao projeto falido da modernidade europeia.
Palavras-chave: arte popular, Mário Pedrosa, Lina Bo Bardi.

Arte, Interseccionalidades e Debates Étnico-Raciais

Pedro Gabriel Amaral Costa (USP)


O Orientalismo de Horace Vernet: A pintura como elemento da estratégia colonial francesa no
século XIX
Horace Vernet foi um dos maiores pintores da França no século XIX. Pintor romântico, o
artista foi muito influente em seu tempo, principalmente a partir de suas viagens à Argélia
colonial, primeiro alvo do processo de expansão colonial francesa no período. Assim como
pregava a moda artística de sua época, Vernet foi ao oriente (África setentrional) buscar
inspiração para suas pinturas. Porém, o artista teve uma oportunidade única ao ser
convidado pelo rei Luís Filipe I para retratar os “frutos da colonização”. Nesse período, o
artista pintou diversas batalhas entre franceses e árabes e cenas dos costumes e da cultura
dos povos argelinos. Vernet o faz, contudo, através das lentes coloniais que França moderna
desenvolve. Assim como aponta Edward Said, em sua obra “Orientalismo: O Oriente como
invenção do Ocidente”, a invasão colonial do mundo árabe levou diversos intelectuais
europeus a mapear cientificamente a cultura, os comportamentos e posturas dessa
população, antes, como uma forma de domínio desses povos, do que, como um modo de
conhecê-los efetivamente. A arte de Vernet opera nessa mesma direção. Imagens coloniais,
que reiteram a dominação europeia sobre os povos não europeus.
Palavras-chave: Horace Vernet, colonização, modernidade, orientalismo.

Rafael da Silva dos Santos (UFF)


O não lugar da população preta brasileira: a escravidão e o processo de alienação
As formas de estar e ser do homem são contradições de um devir histórico que o recorta em
violência, ditando sua corporeidade na medida em que humaniza a sua existência.
Perfazendo um duplo movimento, que primeiro incorpora a historicidade desenvolvida por
uma objetividade e subjetividade que lugariza os sujeitos em uma estrutura. E que em um
segundo momento, marginaliza os mesmos sujeitos, permeando-os de significações que os

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silenciam e os alienam socialmente. Este contexto é insuflado tanto pelas dinâmicas de
poder e disputas enviesadas no cerne das relações humanas pelas classes dominantes,
quanto sustentado epistemologicamente por leituras que se consolidam na realidade
brasileira a partir de conceitos colonialistas e imperialistas europeus e estadunidenses e,
prioritariamente branca. Aventando estas premissas, este ensaio se debruça na retomada de
um olhar para o preto brasileiro que desconstrua o seu não lugar social, apoiado por uma
narrativa de desumanização sustentada por mais de 300 anos de escravidão e teorias de
inferioridade, que corroboraram para um presente alinhado com o genocídio e naturalização
da violência contra a população negra.
Palavras-chave: negro, alienação, existência, violência.

Alice de Carvalho Lino Lecci (UFR)


Imagens político-afetivas da mulher negra na arte de Rosana Paulino
Mediante a crítica acerca da obra “Assentamento” (2013), de Rosana Paulino, apresenta-se
uma análise sobre as formas de representação da mulher africana, no fim do século XIX, e
sobre as intervenções criadas pela artista em torno destas fotografias, de maneira a conferir
outro sentido às mesmas. Isto é, desde já, destaca-se que a finalidade originária das
imagens trabalhadas pela artista compreendeu a tipificação da espécie humana, em uma
linguagem supostamente científica. Pretendeu-se, portanto, inferir a degeneração, a
inferioridade dos grupos étnicos africanos. A despeito disso, Paulino subverte este ideário
ao reverenciar as nossas ancestrais negras, buscando uma reelaboração que as
humanizassem. Assim, ao utilizar essas fotografias, Paulino representa a sua ancestralidade
africana, ao mesmo tempo em que critica, aos modos próprios da arte, os métodos
científicos empregados com o propósito de racializar os povos africanos. Dito isso, a
retomada de Paulino às fotografias de Augusto Sthal, as intervenções feitas pela artista nas
mesmas e a composição da cena na instalação “Assentamento” permite ao observador
rever essas imagens em uma chave de compreensão humanizada.
Palavras-chave: estética afro-brasileira, arte negra, instalação, racismo.

Fotografia e Dispositivos de Visibilidade

Laura Escorel (USP)


A Fotografia das Travestis, Transformistas e Transexuais por Madalena Schwartz e Paz
Errázuriz
Sentidos na asfixia é o que buscam os ensaios das fotógrafas Madalena Schwartz (1921-
1993) e Paz Errázuriz (1944) sobre as travestis, transformistas e transexuais realizados no
Brasil e no Chile, respectivamente, durante a ditadura. Esta comunicação propõe uma
análise comparativa do trabalho das duas fotógrafas, refletindo sobre suas propostas
estéticas. Schwartz desenvolve seus ensaios sobre o universo trans do centro de São Paulo,
entre os anos de 1971 e 1976, principalmente nos camarins ou em ambiente de estúdio. Já
Errázuriz realiza seu trabalho nos prostíbulos das travestis de Santiago e Taca, entre 1983 e
1987. Enquanto a produção de Schwartz é resultado da negociação entre retratadas e
retratista na busca da construção de uma imagem, Errázuriz não se identifica como
retratista, e sim como fotógrafa documental. Entre semelhanças e diferenças, ambos os
trabalhos dão visibilidade aos corpos trans em contextos opressivos, adquirindo na
atualidade papel de memória de grupos marginalizados e apontando estratégias de
resistência.
Palavras-chave: fotografia, transexualidade, ditadura, América Latina.
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Paola Pacini Orlovas (FCL)
A Importância da estética Rodchenko na Imagem da contemporaneidade
Com passagens notórias pelo Design, pela Arte e até a Publicidade, Aleksandr Rodchenko foi
um dos rostos do movimento construtivista russo, convivendo e criando ao lado de figuras
importantes como Vladimir Maiakóvski, Lilya Brik e Dziga Vertov. É preciso considerar seus
anos como pintor e designer para entender como a experiência em outros campos e
mudança de trajetória até a fotografia abriram portas para que se tornasse uma figura
essencial e diferenciada para a documentação fotográfica e crítica da União Soviética. Com
novas técnicas, como a mudança do eixo e perspectiva e a fotomontagem, o fotógrafo e
artista criou uma obra extensa, política e de oposição, influenciada por acontecimentos de
seu tempo, tal como a Revolução de 1917, a industrialização do trabalho, outros
movimentos de vanguarda, a popularização da câmera fotográfica e o realismo socialista.
Palavras-chave: Aleksandr Rodchenko, construtivismo, fotojornalismo, URSS, comunicação.

Laila Djana Keller (FISMA/USP)


Estética Onírica nas fotografias de Evgen Bavcar
A báscula entre o corpóreo e o incorpóreo em Evgen Bavcar confere uma atmosfera onírica
à obra do artista citado. Atemo-nos nestes pontos, buscando compreender a transcendência
inscrita em seus registros. As fotografias de Bavcar materializam a captura de um aspecto
imaterial, daquilo que costuma escorrer diante do olhar do observador. Para além disto,
segundo o próprio fotógrafo, seu olhar se entrelaça aos resquícios de memória de sua
infância, os quais são matéria viva no forjar de suas composições fotográficas. Suas obras,
enquanto tradução da mediação entre seu espaço interior e o espaço exterior, resultam em
uma captura subjetiva e onírica. Os objetos capturados por Bavcar não se traduzem
enquanto formas delineadas, mas sim enquanto imagens de formas que contemplam em si
os resquícios de uma movimentação, imagens de formas que, portanto, confundem-se
diante do jogo de luz e sombra, tornando-se imagens esvoaçantes. Segundo Bavcar, quanto
“mais se alarga o mundo visível, mais se alarga o mundo invisível” (Signifiants invisibles).
Em sua obra, pontuamos questões emaranhadas em atravessamentos ditos subjetivos,
perceptivos e filosófico-estéticos.
Palavras-chave: onírico, Evgen Bavcar, fotografia, incorpóreo.

Alan Ricardo Floriano Bigeli (UNESP)


Escutando Imagens: o Hiper-Real entre Arte e Psicanálise
As imagens são capazes de seduzir a percepção, suspender sentidos e nos provocar
subjetivamente, afetando nossos processos mais íntimos. Tais inquietações compõem a
problemática artística de poéticas modernas e pós-modernas, dentre as quais nosso olhar
se detém sobre o Hiper-Realismo. Com a criação de imagens que evidenciam algo a mais,
buscando a hipertrofia da realidade e explorando limites representativos, esse movimento
força nosso olhar para particularidades que essa mesma realidade tentaria esconder. Nosso
intuito, portanto, reside em ver/escutar a transitoriedade e a dinâmica com que essas
instâncias imagéticas podem se (re)configurar, dissolvendo as fronteiras entre quem olha e
quem é olhado. Assim, por intermédio de detalhes aparentemente banais das obras de arte,
olhando/ouvindo atentamente suas características enigmáticas – repetições, retornos e
diferenças –, é possível aprofundar os debates entre expressões estéticas e processos de
subjetivação na atualidade. Para tanto buscamos na teoria psicanalítica da Arte um meio de
escutar o que essas imagens têm a dizer.
Palavras-chave: olhar, escuta, arte contemporânea, psicanálise, imagens.
26
29/09 – quinta

História e Experiência

Arthur Dal Ponte Santana (UFSC)


A asfixia da experiência por meio da saturação: “Walter Benjamin entre dois pólos da perda da
experiência”
Um dos aspectos centrais do pensamento benjaminiano é sua forma de trabalhar a história.
Contrapondo-se ao paradigma moderno, proponente de uma temporalidade linear e
homogênea, Walter Benjamin traz à tona uma outra maneira de experienciar a história,
partindo da ideia de narrativa e do resgate das formas de experiência comunitária anteriores
ao surgimento da sociedade industrial. Esse trabalho visa mobilizar o aparato filosófico
benjaminiano para pensar o tempo de agora é a maneira que este faz aparecer em um
instante o tempo passado. Busca-se aqui construir uma constelação entre a asfixia das
experiências do período entreguerras e do presente marcado pela modificação da
temporalidade vigente por meio da lógica imposta pela pandemia. Nesse sentido, preocupa-
se em observar não só as semelhanças, mas também manter vivas as diferenças, marcadas
principalmente pela forma disseminação da vivência asfixiada. Se no passado essa asfixia
da experiência se dava nos termos negativos da incapacidade de compartilhar o vivido, hoje,
há de se pensar nessa impossibilidade de modo positivo, como uma saturação da
experiência por meio da disseminação massificada da vivência.
Palavras-chave: Walter Benjamin, vivência, experiência, história, pandemia.

Leonardo Rodrigues Silvério (USP)


A interrupção crítica e a redenção
Esta comunicação tem como objetivo expor os principais conceitos mobilizados por Walter
Benjamin, principalmente nos textos da década de 1920, como “As afinidades eletivas de
Goethe”, para compor sua noção de “crítica” e evidenciar como ela se desdobra em sua
filosofia da história, ao construir a figura de um crítico que necessita de um caráter de
compreensão aberta da história e da política – o que mobiliza uma constelação de ideias
que nos faz considerar algumas “afinidades eletivas” entre o romantismo e o messianismo.
No limiar dialético entre estética e política, Benjamin constrói bases para um agir
revolucionário capaz de interromper o avanço contínuo de uma história progressista e
catastrófica para fazer romper, a partir de fissuras, a esperança de uma redenção para os
explorados e oprimidos da história, no passado e no tempo de agora. Buscamos, através
dessa investigação, verificar o que há de atualidade no pensamento crítico de Benjamin e o
que ele nos deixa de material reflexivo para o nosso tempo, que padece entre o desespero e
a indiferença diante de uma catástrofe climática aparentemente imparável, como um trem
sem freios.
Palavras-chave: história, violência, catástrofe, salvação.

Roberto Carlos Conceição Porto (UFABC)


Sachgehalt e Wahrheitsgehalt: Walter Benjamin e as Afinidades eletivas de Goethe entre a
fidelidade filológica e a transformação filosófica
Esta comunicação pretende analisar o ensaio de Walter Benjamin sobre o romance
Wahlverwandtschaften [Afinidades eletivas], de Goethe. Nossa hipótese é que a análise
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benjaminiana parte de uma premissa de fidelidade filológica, mas transforma os resultados
filosoficamente, com os conceitos criados por ele de Sachgehalt [teor “coisal”] e
Wahrheitsgehalt [teor de verdade]. Se o Sachgehalt do romance goetheano é o mito, seu
Wahrheitsgehalt é uma concepção peculiar de “vida” como “criatura”, uma vida limitada ao
seu aspecto biológico, incapaz de transcender e de tomar decisões históricas e políticas,
estando à mercê da violência mítica e suas instituições, como demonstrado no romance.
Palavras-chave: Walter Benjamin, Goethe, mito, crítica.

Thomaz da Silva Barreto (UNESP)


Não-contemporaneidade como crítica do progresso
O presente trabalho busca enxergar na colisão dos conceitos de não-contemporaneidade
(Ernst Bloch) e imagem dialética (Walter Benjamin) com a crítica de Theodor W. Adorno da
noção de progresso, um substrato negativo comum que permitiria reorientar nossa relação
com o legado da arte moderna sob um filtro conceitual renovado: não olhar ao antigo como
um encerrado sobre o qual tecemos juízo, mas, tirar de sua irrealização novos potenciais e
modos de pensar o novo. Se iniciará com uma exposição dos conceitos de Bloch e Benjamin
e sua articulação com o projeto adorniano de crítica da noção de progresso em dois níveis:
primeiramente, como modos de relação com o passado que se diferenciam do ideal
romântico de retorno a um passado idealizado, depois na dimensão necessária de atividade
na retomada do potencial ainda-não-realizado do passado. Tomaremos como modelo a
influência da música folclórica das Bálcãs na música do compositor húngaro Bela Bartók
para propor como esse projeto composicional pode ser lido hoje se valendo da conceituação
da discussão anterior, de forma a compreender essa proposta composicional moderna
específica enquanto chave de leitura para sua interpretação mesma.
Palavras-chave: filosofia, teoria crítica, filosofia da música.

Formas de Vida e Comunidades 2

Gilson Schwartz (USP)


Arte Pública e Emissão de Moedas Criativas: “AvantGarden” em São Paulo
A comunicação detalha aspectos conceituais, metodológicos, tecnológicos, econômicos e
políticos do projeto “AvantGarden”, uma iniciativa voltada à criação de uma rede de
produção de arte pública associada à emissão de criptomoedas com foco em proteção
ambiental. O projeto foi aprovado pela Prefeitura Municipal de São Paulo em 2022 e já
assegurou 100% da captação de recursos no âmbito do PROMAC. A formação da rede será
realizada por meio de oficinas em dezessete CEUs e nos dois “campi” da Universidade de
São Paulo (EACH e Butantã). A proposta estabelece vínculos entre aprendizagem em
tecnologias de produção audiovisual digital, a emissão de criptomoedas e NFTs e a
mobilização de crianças e jovens para a criação artística comprometida com a proteção
ambiental e a gestão de espaços públicos, como parques e hortas comunitárias, bem como,
a transformação da paisagem. A produção artística é ancorada nas metas de
desenvolvimento sustentável e os recursos representam renúncia fiscal relativa a IPTU e ISS
na cidade de São Paulo.
Palavras-chave: arte pública, economia criativa, ativismo ambiental.

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Patricia Morales Bertucci (pesquisadora independente)
A iminência da queda: fissuras e contradições no espaço da cidade de Berlim, entre 1987 e
1990
Em 1987, a prefeitura de Berlim iniciou um projeto em forma de exposição – Internationele
Bauausstellung Berlin, IBA – que trouxe os maiores nomes da arquitetura mundial para
realizar intervenções urbanas nas áreas abandonadas e quase desabitadas depois da
guerra. Essa exposição carregava o discurso de crítica para o modelo de cidade baseado no
urbanismo moderno, no entanto, funcionou como vitrine para promover uma arrancada
capitalista na cidade, com olhos voltados para a unificação, dada a iminência da queda do
muro de Berlim. Com a queda do muro, em 1989, a contrapelo dessas intervenções de
caráter público, aconteciam transformações urbanísticas de outra ordem, pois não
apontavam para a vitória do capitalismo, mas para a criação de fissuras e contradições
nesse sistema. A partir de 1990, jovens, principalmente da antiga Alemanha Ocidental,
ocupavam edifícios abandonados e construíram essas comunidades à sua imagem: salas e
cozinhas coletivas, cafés e bares autogeridos, ateliês de artistas, pátios ocupados com
móveis, cinemas etc.
Palavras-chave: intervenção urbana, arte, cidade, espaço, comunidade.

Matheus Moro Gargioni (UFSC)


Estéticas dissidentes: o que pode vir a público?
A comunicação parte da compreensão de que as dissidências ensaiam novas formas de
sociabilidades e representações. Rancière é a matriz teórica, a partir da qual analiso os
fenômenos sociais e culturais através da lente da estética, que configura o que é visível e o
que não é no espaço público. Abordo o processo de espetacularização urbana a partir de
Debord, e articulo com a literatura nacional por meio de Otília Arantes e sua definição de
culturalismo de mercado. Trabalho com a prática crítica de arte, via Pallamin, enquanto
forma de resistência e potência de dissensos, a partir da definição de Rancière, neste
cenário de espetáculo sensível, em que os fenômenos encontram-se visibilizados ao
extremo. Articulo com a Teoria Queer através de Foucault, e sua definição de sexo como
dispositivo histórico, e Butler, com a performatividade de gênero. Aponto, então, fenômenos
concretos de arte urbana que articulam corpos queer no espaço público como forma de
contestação e reconfiguração estética no cenário urbano. Minha contribuição no seminário é
tornar a partilha do sensível um debate sobre as disputas pelo espaço público e quem pode
vir à público nele.
Palavras-chave: estética, arte pública, arte urbana, teoria queer.

Crítica de Arte

Virginia H. Aragonês Aita (USP)


Insurgências da forma e estratégias para um novo ethos
A “imagem espessa”, como cesura e “irrupção” na temporalidade diacrônica delimita a arte
ao figurar a insurgência do sentido corporificado, inflectido em suas opacidades. Ao operar
uma redistribuição da linguagem, prefigura outro ethos que emerge da dissolução de uma
ordem heterônoma, das hierarquias implícitas na ‘forma construtiva’. Projetando modos de
sociabilidade, essa imagem anacrônica, oblíqua, dissemelhante, aspira figurar no dissenso a
heterogeneidade de uma realidade social complexa. Corporificada, redistribui o sensível
declinando a semântica em elipses, prosopopeias, sinestesias. Romper a superfície da

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forma, inflectindo-a na ‘prosa do mundo’, pressupõe a reductio de um formalismo que
instrumentalizou a exclusão sistemática do 'diverso'. Valendo-se de formulações como a
noção ético-estética de Thick Concept (B. Williams); a “cena estética” (Rancière) e o
embodied meaning (Danto), essa análise examina o deslocamento da “forma”, reconfigurada
como “relação interna” irredutível a seus relata, numa estética pluralizada que ipso facto
redimensiona a crítica. A obra de Sonia Gomes, como epígrafe, torna-se o contra-exemplo
eloquente da recusa do design da forma, da “colonização” da “língua/linguagem” (F. Fanon),
interpelando Maya Angelou denuncia as prisões da linguagem, suas platitudes, restituindo a
semiose da imagem ao inflectir num inventário de “retalhos” a ancestralidade de ritos Afro-
diaspóricos. Recompõe-os numa mnemotécnica, em gestos auráticos, liturgicamente
repetidos, de recombinar, envolver, cerzir, torcer, tramar, suspender. Tecer indefinidamente
uma nova trama do visível, apropriando-se dessas micro memórias impressas, subvertendo
políticas opressivas e a liquidez da imageria, num libelo decolonial.
Palavras-chave: imagem espessa, dissenso, ethos, sociabilidades, formalismo, cena estética,
embodied meanings, crítica de arte, Sonia Gomes, mnemotécnica, liturgia do gesto.

Daniel Donato Ribeiro (UFABC)


Noite clara: utopia e resignação no itinerário crítico de Mário Pedrosa
Em “Da Natureza Afetiva da Forma na Obra de Arte”, Mário Pedrosa (1900-1981) investiga as
particularidades da percepção estética fundamentando-se no conceito de Forma como
unidade que se prolonga entre objeto sensível e ato perceptivo. Em uma noite clara, afirma o
autor, constelações se destacam a percepção visual como unidades figurais cujo
reconhecimento dos contornos é anterior ao entendimento. É apenas posteriormente ao ato
perceptivo, segundo as leis de organização da forma, que as figuras podem ser dotadas de
significação. Nesse momento, a Gestalt entra para fornecer fundamentos à crítica de
Pedrosa demonstrando simpatia às possibilidades de extravasamento social das formas
plásticas. Já nos anos 1970, as transformações nos meios de comunicação e a reviravolta
no panorama da produção artística, parecem levar o crítico a adotar uma postura resignada
frente à arte “pós-moderna”. Nesta comunicação, visamos apresentar as mudanças de
critérios, e da avaliação da produção artística, em jogo no itinerário crítico de Mário Pedrosa.
Palavras-chave: Mário Pedrosa, Gestalt, crítica de arte, estética.

Gabriel de Campos Barrera San Martin (UNICAMP)


Arthur Danto e a crítica de arte, novos critérios
Quais são as atividades contemporâneas que delineiam o trabalho do crítico de arte? Essa é
a questão que, persistentemente, atravessou o pensamento de Arthur Danto a partir da
década de 1980. A reboque da sua teoria sobre o fim da arte, Danto percebe as implicações
que a suposta pluralidade da arte contemporânea haveria de apontar também no que tange
às metamorfoses da crítica de arte. Averso a análises ingênuas, pautadas na ideia de uma
reflexão atrelada exclusivamente à materialidade das obras, Danto procura uma polissemia
na percepção das transformações suscitadas pelo novo período histórico da arte
instaurado. Da sua filosofia da arte essencialista, nada poderia findar, senão, um tipo de
análise que privilegie o conceito ontológico na reflexão sobre as obras. A partir disso, Danto
reconhece que a hostilidade da arte contemporânea quanto a teorias da arte prescritivas
haveria de, naturalmente, direcionar a crítica a um novo campo de jogo que difere da
normatividade moderna.Nessa via, esta comunicação pretende discutir o arcabouço teórico
de Danto para formular uma crítica de arte não normativa e procura lidar com textos críticos
do autor, placa à placa com, o seu pensamento filosófico.

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Palavras-chave: Arthur Danto, crítica de arte, arte contemporânea, fim da arte.

Gustavo Torrecilha (USP)


Crítica de arte e crítica imanente: uma tentativa de interpretação da análise de obras de arte
na estética de Hegel
Em que medida a interpretação de obras de arte, como a que Hegel empreende em sua
estética, pode ser considerada um tipo de crítica de arte? E em que medida, essa suposta
crítica se relaciona com o conceito de crítica imanente que perpassa sua filosofia? Como se
trata de uma pesquisa em desenvolvimento, não é nosso objetivo apresentar respostas
definitivas, mas trazer essas questões para debate. Partindo da caracterização que Danto
faz de Hegel como crítico de arte, buscaremos discutir essa questão em dois pontos: (i)
compreendendo a relação do conceito de crítica imanente em Hegel (e seu desenvolvimento
em sua filosofia) com a crítica de arte; e (ii), verificando de que maneira se dá essa suposta
crítica de arte hegeliana, a qual é tomada por Danto como base para a análise de obras
modernas e pós-modernas. Pretendemos com essa discussão questionar a caracterização
de Hegel como crítico de arte posposta por Danto, pois é possível apresentar objeções à
análise hegeliana de obras de arte com base em pensadores das mais diversas matrizes
teóricas, como Adorno, Gadamer e Belting, justamente a partir da relação de imanência que
existe entre sua filosofia e sua interpretação de obras de arte.
Palavras-chave: crítica de arte, crítica imanente, Hegel, Danto.

Arte, Niilismo e Violência

Hermila Resende Santos (UFL)


Arte, transgressão e violência em Albert Camus
Ao rejeitar a violência indiscriminada que pode surgir do movimento de revolução, Camus
admite, por outro lado, uma espécie de violência necessária para resguardar a própria
dignidade do humano, enquanto ser coletivo. Como julgar de forma justa e equilibrada em
quais situações essa dignidade poderia ser aniquilada pelo gesto violento ou poderia, pelo
mesmo gesto, ser defendida? De que maneira seria possível identificar os limites de um
engajamento histórico eficaz e, ao mesmo tempo, dignificante de toda a espécie humana
sem negar ou afirmar absolutamente a opressão? Apesar da obra de Camus ter sido
interrompida por sua morte precoce, o filósofo parece apontar um caminho. Aparentemente
a criação artística poderia cumprir esse papel, carregando em sua essência a transgressão e
a violência necessárias à defesa da dignidade humana, sendo capaz de conciliar o
engajamento histórico eficaz e o ultrapassamento de uma realidade opressora, sem ferir as
premissas essenciais do espírito revoltado: solidariedade, recusa à passividade e
insurgência contra a condição absurda.
Palavras-chave: arte, transgressão, violência, Camus, revolta.

Rodrigo Mortara Almeida (USP)


A literatura face ao niilismo – uma comparação através de Günther Anders e Dostoiévski
Em seu ensaio “Sobre a bomba e as causas de nossa cegueira face ao apocalipse” o filósofo
Günther Anders (1902-1992) trabalha com o tema do niilismo e desenvolve a seguinte tese:
o niilismo irrompeu numa “shock-situation”, foi o efeito de um acontecimento catastrófico –
a recepção do materialismo europeu na Rússia ao longo do século XIX. Este niilismo de raiz
russa – “niilismo clássico” nos termos do autor – não é, entretanto, o foco principal do
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ensaio. O que realmente interessa Anders é a irrupção de outro tipo de niilismo ligado a
outro acontecimento: a invenção e utilização da bomba atômica. Nessa comunicação
pretendo esboçar uma comparação entre estes dois tipos de niilismo me baseando, para
além do ensaio já citado, por um lado, nos textos de Anders sobre a literatura de sua época,
e por outro, na representação artística dos “niilistas clássicos” empreendida por Dostoiévski
e sua fortuna crítica. Em ambos os casos, trata-se de obras que surgem nos seus
respectivos contextos de catástrofe e que, assim como os diferentes tipos de niilistas,
respondem de maneira diferente a esses.
Palavras-chave: niilismo, Dostoiévski, Günther Anders, literatura.

Renata Magri Alonge Bonfim da Silva (UNICAMP)


Niilismo e pintura: o problema da obra de arte no diagnóstico do niilismo de Ernst Jünger no
segundo pós-guerra
No ensaio “Über die Linie” [Sobre a Linha] Ernst Jünger (1895-1998) nos apresenta um
diagnóstico do niilismo após o horror da barbárie da Segunda Guerra Mundial. Nele o autor
não deixou de dar considerável atenção à situação da arte, em especial da pintura, ao
apresentar o processo de consumação do niilismo neste pós-guerra. Como processo de
redução e destruição do paradigma tradicional, o niilismo acaba por consistir também num
processo criativo ao passo que ao produzir esse esgotamento produz por efeito
incontornável demanda por novos valores. Há a dimensão de catástrofe e ruína em todo
esse processo, mas pode haver também o despontar da vida e da arte em outras formas.
Nesse sentido, a comunicação proposta tem por objetivo apresentar reflexões sobre a
relação entre o niilismo e a pintura moderna a partir do diagnóstico jüngeriano focando em
práticas pictóricas realizadas no mesmo período da escrita e publicação do ensaio do autor,
as quais no campo da Crítica e da Historiografia da arte consagraram-se sobretudo como
práticas pictóricas do informe. Caberá analisar em que medida tais manifestações
pictóricas operaram na tensão entre niilismo e afirmação de novos sentidos.
Palavras-chave: niilismo, Ernst Jünger, pintura moderna, 1940-1950, informe.

Douglas Gadelha Sá (USP)


O perigoso talvez da Arte em tempos de Guerra: uma leitura estética sobre a invasão da
Ucrânia
A relação entre Arte e Guerra pode ser mítica, ideológica ou técnica. O combate político
entre países gera um risco material em seus patrimônios imateriais, formando um horizonte
estético, político e filosófico encoberto. A nossa hipótese procura desvelar a questão que
surge dos dois lados: a perigosa relação que emerge do atrito entre essas instituições. Se
por um lado, a Arte manifesta profundamente a cultura de um país, a Guerra é a sua aliança
de instituições pelo confronto de ideias [logos] e lugares [topos], e quando deflagrado a
disputa, inicia-se uma intensa luta pelos sentidos que as obras de arte em si carregam
enquanto símbolo. Por sua vez, a Técnica visando usurpá-las durante as destruições, acaba
construindo negativamente novos sentidos através das invasões, saques, confiscos e
roubos destas obras. Dois exemplos históricos mostram um padrão, em comparação com a
invasão da Ucrânia por Putin em 2022: a invasão do Cairo no Egito por Napoleão em 1798 e
a Ocupação de Paris por Hitler em 1940. Ao pensar a memória cultural como doadora de
sentido estético e político à sociedade, vemos um trauma na (re)abertura de seus campos
interpretativos no pós-saque pelo país inimigo.
Palavras-chave: obra de arte, Ucrânia, destruição, técnica.

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O Fazer Historiográfico

Eduardo de Moraes Carvalho (USP)


A História, a Catástrofe e o Historiador: sobre a Dicção Política do Discurso Historiográfico
É a Panofsky que se deve certa definição do historiador da arte como sujeito reflexivo, como
aquele que leva em conta a constituição de seu próprio equipamento cultural de modo a não
permitir que os tempos se confundam e o anacronismo se imiscua na fruição de seus
objetivos. Celibato da história, para usar a expressão de Augustin Thierry. A interpretação
contextualista se inscreve nesse regime da eucronia, na formulação de Didi-Huberman, e
orienta a etiqueta ascética do métier historiográfico. Mas os tempos insistem em se
misturar e a história não deixa de ser convocada constantemente ao território do presente —
anacronismo estratégico, para lembrar que o discurso da história é, como sugere Foucault,
filho do discurso da guerra. Mas a que ética ele se reporta quando o trauma impõe a
equivocidade dos estratos de tempo? A presente comunicação visa instituir um espaço de
circulação conceitual capaz de fazer colidir os pressupostos da tarefa do historiador, de
modo a buscar, nos fragmentos, o índice de sua racionalidade estratégica recalcada. Olhar
para a catástrofe e para os elementos precários de sua simbolização pode indicar a
redescoberta da dicção política do discurso da história.
Palavras-chave: trauma, catástrofe, história.

Paolo Colosso (UFSC)


Georges Didi-Huberman: emoção, montagem e um saber sem medo de imaginação
O objetivo da apresentação é compreender as redefinições teóricas empreendidas pelo
filósofo francês Georges Didi-Huberman e assumir que o saber próprio à estética envolve
emoção e imaginação. Para tanto, o trabalho é dividido em três momentos. Num primeiro,
repassamos os ajustes feitos pelo autor acerca dos métodos da história da arte, o que o leva
a reelaborar a e peri ncia estética – rede nindo portanto o polo do sujeito e o polo do
objeto. Deste balanço, deve-se destacar a crítica pretensão de esgotar a análise da
imagem sob o discurso verbal, isto é, a sujeicão completa do visível ao legível. Deve-se notar
ainda que Didi-Huberman pretende realizar uma reaproximação ou mesmo uma implicação
recíproca das faculdades do conhecer, do ver e do imaginar. O segundo momento do
trabalho analisa os expedientes intelectuais com os quais Didi-Huberman estende suas
análises para além do campo das artes, a partir de lições de uma antropologia e história
visuais. Desta maneira, o campo da estética passa a ter como escopo todo fenômeno
sensível. Por esta via, o trabalho deve mostrar em que medida Didi-Huberman cria condições
renovadas para uma filosofia provida de imaginação.
Palavras-chave: imaginação, montagem, emoção, Georges Didi-Huberman.

Arte, Trauma e Memória

Sofia Corso (USP)


Memória, dor e esquecimento: o vazio na obra de arte como possível elaboração do trauma e
do luto psicanalítico
Esse trabalho objetiva problematizar o vazio na obra de arte como possível elaboração do
trauma e do luto psicanalítico, não apenas no sentido individual ao qual os termos
geralmente se referem, mas de uma condição sociopolítica e cultural em que as obras foram
produzidas. Para tanto, utilizaremos obras clássicas, modernas e contemporâneas a fim de
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salientar que a presença do vazio não é inerente a uma concepção modernista de arte, mas
uma modalidade que atravessa a produção artística em diversos momentos da história. Três
obras irão compor o argumento desse trabalho: “Marat Assassinado” (1793), do artista
neoclássico Jacques-Louis Davi; “Quadrado negro” (1915) de Kazimir Maliévitch; e “Box,
Cube, Empty, Clear, Glass – A Description” (1965) de J. Kusoth. A partir dessas produções,
sob a perspectiva analítica e conceitual de autores como Didi-Huberman e Susan Sontag, a
pesquisa visa refletir sobre os conceitos de vazio, esvaziamento, silêncio e falta como
possíveis sintomas de construção, desconstrução e representação da memória, da dor e do
esquecimento em sentido ontológico, fenomenológico e psicanalítico.
Palavras-chave: arte conceitual, arte clássica, vazio, luto, trauma.

Daniel Valdimir Tapia Lira de Siqueira (USP)


Ai Weiwei e o testemunho da catástrofe
Este trabalho relaciona a obra de Ai Weiwei com o conceito de testemunho, discute a
questão da violência e aponta o valor artístico de sua obra, inserida na sua postura de
ativista. Recorre-se a Walter Benjamin para apontar a ambiguidade da ação policial e como
através dela o Estado mantém a ordem e controla as ações dos cidadãos. Para ilustrar isto,
escolheu-se o que aconteceu ao artista no episódio relacionado ao terremoto da China em
2008, no qual cerca de 5.000 crianças morreram. Houve denúncias de que o material usado
para construção era de má qualidade e acusou-se as autoridades e as construtoras de
desvio de verbas. O governo se recusou a publicar o nome das crianças mortas e o artista se
mobilizou para descobrir o nome delas e as publicou em seu blog. Posteriormente, o artista
realizou várias obras para que a morte dessas crianças não fosse esquecida.
Palavras-chave: Ai Weiwei, testemunho, ativismo, China.

Rafaela Alves Fernandes (USP)


Christian Boltanski: em busca da pequena memória
Christian Boltanski é o artista da pequena memória, mas, sobretudo, da memória que
irrompe consciente de suas aporias e possíveis fracassos. Com uma trajetória artística
extensa, tendo transitado entre as mais diferentes linguagens e suportes, em suas obras a
memória assume o estatuto de uma força imanente, assim, objetos, listas de nomes e
fotografias funcionam como dispositivos que evocam a dimensão imaterial e invisível da
rememoração, pois as histórias e os testemunhos que sobreviverão são, para ele, o mais
importante. Nesta comunicação, nos propomos a analisar obras selecionadas do artista que
impõem uma série de interrogações que tocam no cerne do debate envolvendo a dita “nova
arte da memória”, ou, mais precisamente, “a arte da pequena memória”. Para tanto,
dividiremos a exposição em três partes: infância; anonimato; história, ficção e regime
estético da memória.
Palavras-chave: Christian Boltanski, pequena memória, infância, anonimato, ficção.

Laís Barreto da Silva (UNICAMP)


Ana Mendieta: arte, performance e memória
O imaginário social das mulheres artistas contemporâneas, principalmente nos anos 70, que
se propuseram a criticar e expor a relação do corpo feminino. Suas narrativas poéticas
almejavam questionar a ordenação discursiva fundamentada na tendência universalista que
hierarquiza determinados povos, territórios e sobretudo corpos de mulheres como
justificativa de dominação. Ana Mendieta é uma artista cubana exilada, capaz de elaborar
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tais fraturas históricas ao abordar as dimensões culturais e políticas de universos distintos
em suas performances. Isto é, são narrativas que atravessam a corporalidade feminina e a
natureza através da temática corpo/terra, também chamadas de earth body art, em diálogo
com os arquétipos femininos e memória de povos originários latino-americanos. Tal
experiência pessoal influencia a criação de sua série intitulada “Siluetas” (1973-1980), na
qual a artista busca se reconectar com a sua fonte materna e construir uma narrativa
identitária múltipla. Desse modo, sua produção artística propõe uma ressignificação estética
a qual podemos analisar partir de uma crítica cultural feminista, abordando, principalmente,
a dimensão do corpo.
Palavras-chave: corpo, crítica cultural feminista, arte contemporânea.

Arte, Subjetividade e Utopia

Márcio Santos de Santana (UEL)


A utopia do homem novo como discurso: uma análise (Brasil, décadas de 1920-30)
A cultura do tempo presente requer uma visão de mundo diferenciada por parte dos atores
sociais. Com este trabalho, apresento uma reflexão acerca da utopia do homem novo,
inserida nos quadros da modernidade, exigindo uma constante reconstrução – interior e
exterior – do sujeito, no qual a flexibilização alcança até mesmo as relações afetivas. Frente
a um mundo em constante transformação, realizadas em ritmo, sentido e profundidade que
desnorteia os atores envolvidos no processo, a reinvenção da identidade torna-se um
imperativo categórico. O processo de metropolização gerou um tipo de experiência social
essencialmente dependente da tecnologia. Tal processo, no entanto, foi acompanhado por
formas de consciência pertencentes a um mundo remotamente anterior ao da Era Moderna.
A resposta à invasão das máquinas foi a busca por um mundo o mais próximo possível da
natureza. O discurso imagético – registrado na capa da quinta edição do jornal Juventude –
enfatiza essa ideia, cabendo ao jovem revolucionário a liderança em tal processo. Além
disso, a revolução viria para romper com o sistema que havia gerado toda essa realidade: o
capitalismo.
Palavras-chave: utopia, homem novo, juventude.

Vitor Morais Graziani (USP)


A Ditadura Civil-Militar e o Tropicalismo: crítica e integração
Em 1964, o Brasil assistiu a um golpe civil-militar que instituiu uma Ditadura Civil-Militar que
remodelou o país. O pacto nacional-desenvolvimentista, então vigente,deu lugar a um
capitalismo plutocrático e autoritário e o projeto moderno brasileiro viveu um último respiro,
agora à direita. No campo cultural, viu-se uma efervescência de novos gêneros e
modalidades que iam do enfrentamento direto ao novo regime instituído a sua aceitação
passiva. Esta comunicação visa, a partir dos trabalhos dos críticos José Ramos Tinhorão e
Roberto Schwarz acerca do movimento tropicalista, compreender as relações instituídas
entre a Ditadura Civil-Militar e o Tropicalismo. A partir da análise desses críticos ao
movimento, será possível compreender os limites entre a crítica à 'porteira aberta pelo golpe'
e a integração ao 'novo tempo da experiência brasileira' que 1964 representou ao buscar
uma reconceitualização do Tropicalismo, enquanto agente de denúncia e/ou racionalização
desta realidade, bem como, de construção de uma agenda para o momento.
Palavras-chave: tropicalismo, José Ramos Tinhorão, Roberto Schwarz, 1964, modernização
capitalista.

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Rafael Goffinet de Almeida e Fábio Lopes de Souza Santos (USP)
A participação (ou o campo de batalha sobre a subjetividade)
Sabemos que a “participação” despontou como palavra de ordem no horizonte de
transformação político-cultural das décadas de 1960-70. Menos conhecidos, porém, são os
deslizamentos semânticos subjacentes ao interesse por processos sociais de toda ordem.
No Brasil, diferentes sínteses programáticas do período reivindicaram diferentes “posições
participantes” – entre elas, a “conscientização popular” renovada pela arte “novista” e as
“vivências descondicionantes” tropicalistas. Pretendemos explorar, no entanto, o ponto em
que as divergências parecem fatalmente confluir: a tarefa de produção de subjetividades
transformadoras abriu senão o campo da transformação subjetiva, estendendo terreno para
certa formação discursiva da racionalidade neoliberal – aquela do sujeito “ativo”, “precário”,
“autorrealizável”. Interessa reexaminar o embate “engajamento revolucionário” versus
“rebeldia contracultural” (RIDENTI, 2014; HOLLANDA, 1982), para entrevermos a emergência
de tecnologias de controle social à contraluz do léxico contestador da “arte engajada”. Não
significa dizer que a “participação” esgotou-se. Contudo, reconhecer sua contraface é
imprescindível para desvelar outros horizontes.
Palavras-chave: participação, subjetivação neoliberal, arte engajada, horizontes utópicos.

Rodrigo Vicente Rodrigues (USP)


A utopia não tem mais lugar?
Mário Pedrosa foi um pensador essencial para a crítica de arte brasileira no século XX. Se o
“breve século XX”, como o chamou Hobsbawm, foi um período de embate de ideias e de
tentativas de colocação de utopias em prática, o século XXI não se mostra como seu
contrário, isto é, não pode ser considerado como palco de resignação. Nesse sentido, evocar
a atuação de Pedrosa se mostra como algo muito frutífero, uma vez que percorrer seu
itinerário crítico chegando à arte de retaguarda (nos últimos textos), necessariamente
calcada na realidade latino-americana, sublinha um pensamento que vê a arte como um
ponto central da ressignificação e reconstrução do homem num mundo árido. Assim, a
proposta desta comunicação é observar como a arte pode ser um respiradouro num mundo
sufocante a partir da obra crítica de Pedrosa, evidenciando como ele a via como algo sobre
o qual se pode edificar uma nova sensibilidade do sujeito, sobretudo, a partir da arte de
retaguarda e do “Discurso aos Tupiniquins ou Nambás” (1975), trazendo essa visão para o
século XXI como uma resposta à reificação do homem e ao recrudescimento de discursos
conservadores, violentos e/ou esterilizantes.
Palavras-chave: crítica de arte brasileira, Mário Pedrosa, utopia, educação pela arte, arte de
retaguarda.

Arte, Erotismo e Sexualidade

Guilherme Grané Diniz (USP)


A erótica da asfixia em Sade
Dentre as diversas perversões e atos retratados na vasta obra erótica do Marquês de Sade, a
asfixia é recorrente. Em todos os romances sadeanos ela é empregada, com algumas
variações, como forma de subjugação, tortura ou assassinato durante o sexo; ou, mais
esparsamente, como forma do próprio libertino obter prazer e excitação. A asfixia é uma das
poucas perversões sadeanas que pôde passar da página à realidade, tornando-se parte do
repertório das práticas conhecidas como BDSM (bondage and sado-masochism; acrônimo

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que, não casualmente, inclui o nome de Sade). Indagar os sentidos possíveis dessa prática
passa por retomar sua origem sadeana, observando como o autor figura a asfixia em suas
obras. No universo sadeano, isso aponta para uma intercambialidade entre libertino e vítima
que é fundada em uma metafísica materialista. De maneira mais geral, pode-se entender que
isso se traduz na inexistência de sentidos fixos ou dados quando se trata da ação sexual: a
asfixia ou outras formas de experiência sexual entendidas como sádicas ou, mais
genericamente, perversas, podem ser expressão de violência, mas também de desejo, sem
que isso se refira a seus sentidos morais ou médicos.
Palavras-chave: Marquês de Sade, Justine, Os 120 Dias de Sodoma, BDSM, literatura erótica.

Fabiana Cardoso da Fonseca (UFU)


A indissolubilidade entre a experiência estética e erótica em O livro de Praga: narrativas de
amor e arte, de Sérgio Sant’Anna
Escrito por encomenda para o projeto Amores Expressos, “O livro de Praga: narrativas de
amor e arte”, publicado em 2011, problematiza diversas questões da arte e do erotismo. Os
textos, apesar de serem independentes entre si, guardam um centro comum e uma
determinada linearidade, cujo fio condutor é o flanar transformador do narrador-escritor-
protagonista, Antonio Fernandes, enviado à Praga por sua editora para escrever uma história
de amor ambientada naquela cidade. Nessa empreitada, Fernandes transita pelo território
fugidio dos devaneios eróticos e combina-os com reflexões sobre os destinos da arte no
mundo contemporâneo. Os textos contam com inúmeras referências musicais, históricas e
literárias, tensionando sempre as fronteiras entre vida e arte. Pensando nisso, este trabalho
propõe verificar como a escritura de algumas narrativas operacionaliza uma interseção entre
diferentes linguagens artísticas, bem como analisar de que maneira a junção corpo/texto
contribui para eliminar a fronteira entre vida e arte.
Palavras-chave: Sérgio Sant'Anna, O livro de Praga, arte, erotismo.

Luiz Henrique Couto Martins (USP)


Enfrentando a Medusa: arte, corpo e sexualidade no Renascimento do Harlem
Tomando emprestado os conceitos de “camp” da teoria estética (Susan Sontag) e de
“queer” e “performatividade” da teoria feminista (Judith Butler), essa apresentação tem
como objetivo explorar e analisar como o camp foi uma ferramenta estética, artística e
política utilizada pela comunidade negra e queer do começo do século XX nos Estados
Unidos para criticar o padrão discriminatório de arte da época. Utilizando como metáfora o
mito grego da górgona Medusa, em que uma mulher de beleza excepcional é transformada
em um monstro capaz de converter qualquer pessoa que a contemplasse em pedra,
buscaremos mostrar como o conceito de beleza e arte durante o período do Renascimento
do Harlem excluía as manifestações de imigrantes e pessoas homossexuais, petrificando ou
asfixiando formas alternativas de representação artística e política. Pela ótica de Susan
Sontag e críticos do conceito de camp observaremos as características do camp que
permitem este ser a estética predileta dos bailes mascarados e teatros drags que criticam a
normatividade hétero-racial, permitindo, por meio da representatividade destas artes, a
expressão de uma nova sexualidade e uso dos corpos em espaços públicos.
Palavras-chave: arte, camp, corpo, sexualidade, performatividade.

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30/09 – sexta

Cinema e Formas de Vida

Eduardo Gutierrez de Sousa (USP)


Terror como experiência do racismo: realismo fantástico e a produção recente do cinema
negro norte-americano
A partir dos estudos de caso de certa produção audiovisual recente de artistas negros
insurgentes na cena contemporânea, busca-se ter um panorama geral da estética do
Afrofuturismo. Até que ponto poderíamos concebê-la como uma vanguarda inovadora após
as vanguardas tardias, mas, também, encontrando-se no limiar das imagens clichês da
produção “mass-media” da indústria cultural? Para tanto, analisaremos a estrutura do
“terror” inerente ao racismo nos filmes do cineasta Jordan Peele, “Get Out” (2017) e “Us”
(2019), e o realismo fantástico negro contemporâneo na série de Donald Glover, “Atlanta”
(2016).
Palavras-chave: afrofuturismo, racismo, realismo fantástico, terror, cinema negro norte-
americano.

Luana Gonçalves Carvalho Fúncia (USP)


Panorama do cinema indígena no Brasil
Uma das manifestações contemporâneas da resistência indígena – forma também de
expressão da história dos índios no Brasil – é o cinema, seja aquele que os retrata, seja
aquele feito por eles, a exemplo das produções do projeto “Vídeo nas Aldeias”. O objetivo
desta comunicação, portanto, é traçar um breve panorama dos filmes indígenas no Brasil,
com destaque para uma análise da temporalidade específica presente em “Serras da
Desordem”, de Andrea Tonacci. A partir do documento cinematográfico é possível discutir a
questão da suposição da percepção temporal distinta entre as populações viventes no
regime produtivista do capitalismo e as indígenas ainda em regime anterior ao contato com
o branco. Além dessa análise, será também possível dar destaque às produções de Vincent
Carelli, tanto no projeto “Vídeo nas Aldeias”, quanto nas produções recentes como
“Corumbiara” (2009) e “Martírio” (2016). Tem-se como escopo também abordar brevemente
o projeto “Vídeo nas Aldeias”, cujo registro, por exemplo, da cosmologia e das línguas
indígenas é de valor inestimável.
Palavras-chave: cinema, indígena, resistência, Brasil.

Matheus Fidelis Ferreira Ventura (UFAL)


“Carne” – A relação entre Ética e Moralidade
Este texto pretende analisar o curta-metragem “Carne” de 1991, do diretor argentino Gaspar
Noé, podendo chegar a muitas reflexões como, por exemplo: uma mera ação é capaz de nos
tirar tudo em frações de segundos? O desejo de fazer justiça com as próprias mãos seria
uma solução justificável? Além disso, podemos nos questionar também a que ponto um
pensamento premeditado pode acabar nos tornando assassinos. Para entender melhor
estes aspectos, iremos usar como um apoio às nossas reflexões algumas ideias do livro “As
virtudes morais” do autor Marco Zingano, que apresenta e discute duas teorias éticas, a
saber, a deontológica e a consequencialista, apresentando também alguns filósofos que
estudaram essas éticas, como Immanuel Kant e John Stuart Mill. O objetivo dessa análise é
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criar uma relação entre a trama do diretor e os conceitos filosóficos do autor refletindo
sobre a relatividade das ações, tendo como escopo as teorias éticas citadas. Pretendo
analisar também questões concernentes aos limites da ética e da moralidade e ao que é
imoral e amoral, de acordo com a história e com os acontecimentos narrados em “Carne”.
Palavras-chave: filosofia, ética, estética.

Política da Arte e Vitalismo

Matheus Barbosa Rodrigues (UNIFESP)


Deleuze e a violência sensível em Francis Bacon
Partindo de “Francis Bacon: logique de la sensation” (1981), de Gilles Deleuze, nosso
objetivo é determinar o papel da violência nos quadros de Francis Bacon (1909-1992). Em
um primeiro momento, retomaremos os principais elementos da maneira com que Bacon
torna visíveis forças invisíveis em sua pintura. Em seguida elaboraremos a distinção
deleuziana entre duas formas de violência, uma representativa e outra sensível. Para tanto,
teremos como caso exemplar o “grito”, objeto da série de releituras que Bacon realiza do
retrato de Velázquez do papa Inocêncio X. Nosso intuito é trazer à luz, por fim, uma leitura
pouco convencional da estética baconiana: mais do que destacar das suas figuras
deformadas a ausência de sentido da condição humana, trata-se de extrair delas, ao
contrário, um inesperado vitalismo.
Palavras-chave: Deleuze, Francis Bacon, violência sensível, vitalismo.

Fabiano Viana (USP)


Notas sobre o Entre (d(as))Artes e a Política do Entre
Propomos o exame de momentos decisivos da figuração da ideia de “entre” no campo das
discussões estético-artísticas atuais. Configurações específicas sobre os espaços limites
(atuais ou virtuais), fronteiriços, cheios-lacunares, visíveis-discretos passam a se delinear,
gradualmente, no discurso das artes, desde o momento de fundação de uma disciplina
Estética na Europa, em meados do século XVIII, até a irrupção das múltiplas acepções
contemporâneas. Se nas relações assimétricas entre literatura e escultura a partir das
observações de Lessing em torno do grupo de Laocoonte, passando em pleno século XX
pelas reivindicações de Clement Greenberg e, até certo ponto, de Theodor Adorno,
objetivava-se que cada arte deveria resguardar sua autonomia “restringindo-se à exploração
do seu medium próprio”, as relações entre especificidade e confluência entre as práticas
artísticas distintas se tornarão cada vez mais complexas e embaralhadas a partir de uma
singularização paulatina de um próprio desse espaço do “entre” artes, a contrapelo de
demarcações de territórios artísticos estanques. Assim, o espaço do entre se converterá em
eixo de uma política do interartístico na dita “pós-modernidade”.
Palavras-chave: entre, limite, arte, política.

Lucas Dilacerda (UFC)


Políticas da arte contemporânea: estética, crítica e clínica
Quais os impactos do neoliberalismo no mundo da arte? O neoliberalismo é o novo
colonialismo do século 21 (MBEMBE, 2013) e, além de uma teoria econômica (FOUCAULT,
1978), é também uma forma de vida (DARDOT; LAVAL, 2009) que incorpora valores do
capitalismo. Essa forma de vida neoliberal provoca alterações nos regimes de visibilidade e
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dizibilidade da estética (RANCIÈRE, 2000) e nos nossos modos de sentir, perceber, lembrar,
imaginar e criar, além de produzir uma crise da criatividade, uma proliferação de afetos
tristes (SPINOZA, 1677) e sintomas neoliberais: a desatenção (TÜRCKE, 2012), a miopia
(PAGLIA, 2014), o esquecimento (BEIGUELMAN, 2019), a apatia (SONTAG, 2003), o cansaço
(HAN, 2010), o medo (NEGRI; HARDT, 2012), a culpa (LAZZARATO, 2014) a insegurança
(VIRILIO, 1976), a ansiedade (SAFATLE; DUNKER, 2021) etc. Partindo desse cenário, o
objetivo da comunicação é investigar como a arte contemporânea tem se posicionado ora
como crítica (NIETZSCHE, 1883), diagnosticando e denunciado os sintomas do mundo
neoliberal (sintomatologia), ora como clínica (DELEUZE, 1993), criando e mobilizando
energias vitais (CASTIEL, 2022) que apontam para novos modos de vida (nomadologia).
Palavras-chave: política, arte contemporânea, curadoria, crítica, clínica.

Corpo e Suas Representações

André Aureliano Fernandes (USP)


Estados do corpo: experiência e presença
Pretende-se apresentar a exposição “Estados do corpo: experiência e presença”, realizada
no Adelina Instituto, no final de 2020 e início de 2021, quando tudo parecia ainda bastante
incerto em relação à pandemia do Covid. Naquele momento, propôs-se a quatro artistas
visuais – Fernanda Braz Leme, Narciso, Raquel Cutin e Victor Narumi – que, em suas linhas
de investigação, considerassem, para a confecção de quatro obras inéditas, o corpo, seus
estados e modo de ser, em vista de uma realidade incontornável. Além de mim, participou o
curador Diogo Barros, que contribuiu com a construção da mostra, com ênfase em mostrar o
corpo dissidente nessa realidade. Em ambos, porém, o corpo, sua configuração e seu modo
de ser estavam ligados a respiros em vista de um sufocamento político.
Palavras-chave: arte e política, corpo, experiência, presença.

Rosana Aparecida Dalla Piazza (USP)


Interlocuções entre: selfie, espelho e simulacro
O presente artigo tem como objetivo buscar aproximações e congruências entre o fenômeno
autorretrato/selfie, o conceito do Simulacro e o Espelho. A pose, no autorretrato, assume o
caráter simulacro. O sujeito torna-se o modelo no jogo teatral das aparências. A duplicação
das imagens representa o fenômeno narcísico. O selfie/autorretrato é interpretado de duas
maneiras: o duplo na foto e o duplo no espelho. A partir deste universo das replicações, a
pesquisa bibliográfica qualitativa e documental alude esses conceitos entre simulacro,
espelho e selfies baseados nas obras da artista brasileira Helga Stein. Em sua poética as
fotografias manipuladas, propõem uma revisão dos conceitos, contribuindo para formar
novas visões de mundo em que nada é real tudo é construído e forjado conforme os padrões
que o mercado e a publicidade aceitam. Helga Stein busca formas híbridas de expressão
nos aparatos tecnológicos, imersa na transformação vertiginosa do real a partir da ficção e
da ironia com que trata a crença nas imagens. Neste jogo de olhares manipulados pela
tecnologia, o corpo se transforma em mercadoria, espetáculo a ser observado e admirado,
um corpo que não adoece e nem envelhece.
Palavras-chave: simulacro, identidade, espelho, selfie, autorretrato.

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Sulamita Fonseca Lino (UFOP)
A série Femme Maison: os seres híbridos e as experiências da asfixia
A representação dos seres híbridos ocorreu nas artes plásticas de maneiras diversas: na
fusão dos corpos de animais e humanos, presentes nas pinturas de Bosch e nas esculturas
do Gótico; nas colagens e pinturas do Dadaísmo e Surrealismo, etc. A série “Femme Maison”
de Louise Bourgeois mantém essa ideia de hibridismo, mas agora o corpo está misturado
com um componente da arquitetura, no caso, a casa ou até mesmo um prédio de vários
andares. Essa série tem uma característica em comum, o edifício substitui (asfixia) a cabeça
ou então é como uma roupa que reveste (asfixia) o corpo. Esses hibridismos têm sentidos
diferentes no que tange a experiência estética da arte. Por um lado, podemos aproximar
obras de períodos tão distintos através de um aspecto em comum como a forma híbrida, por
outro, também é possível conectá-las através do surrealismo, tendo em vista que artistas
dessa vanguarda revisaram a história da arte através do tema do fantástico. O objetivo deste
trabalho é analisar a série “Femme Maison”, revisando a forma como o tema dos seres
híbridos foram abordados através das vanguardas do século XX.
Palavras-chave: hibridismo, surrealismo, asfixia, experiência estética.

Monique Coutinho Huerta (FEBASP)


Eu, a casca e a coisa
Este artigo é uma reflexão a vídeo-performance “Eu, a casca e a coisa”, que busca
aprofundar conceitos sobre o corpo em estado de devir-monstro e objeto enquanto criatura.
Tanto o corpo humano, passando por conceitos de biopolítica, quanto o corpo-objetual são
discutidos nesse texto. O corpo-monstro habita em locais semelhantes à criatura que toma
vida, ambos na borda da consciência. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=bMCmm-ZjxDg.
Palavras-chave: performance, vídeo-performance, devir-monstro, objeto-criatura.

Cinema e Percepção

Ariane Paeró D'Andrea (USP)


O olhar de Harun Farocki sobre a metrópole contemporânea
O olhar de Harun Farocki sobre a metrópole contemporânea através dos percursos
propostos pelo filme “Imagens do mundo e inscrições da guerra” (1989) e pela
videoinstalação “Contra-música” (2004), realizados pelo alemão Harun Farocki, busca-se
investigar as formas pelas quais Farocki produz, através de suas obras audiovisuais e
textos, um pensamento sobre o papel das imagens no mundo contemporâneo e suas
relações com as formas de organização do capital. E com isso trazer uma contribuição
crítica para a elaboração de uma reflexão acerca das técnicas de controle que atravessam a
esfera dos dispositivos ópticos e participam da constituição da racionalidade
governamental do neoliberalismo. Harun Farocki, ao utilizar as imagens e o cinema como
ferramentas para produzir um conjunto de comentários audiovisuais sobre as
transformações pelas quais a sociedade tem passado nas últimas décadas, contribui,
enquanto artista e teórico, para a formulação das discussões propostas nesta pesquisa.
Aqui nos interessa verificar, especialmente, como a preocupação com as transformações no
campo das tecnologias da visão informa a reflexão que Farocki faz a respeito da
espacialidade e da experiência urbana contemporânea.

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Palavras-chave: experiência da metrópole, Harun Farocki, cinema, cidade contemporânea.

Matheus Silveira dos Santos (UNIFESP)


Alegorias do choque no tempo da asfixia
A partir de uma perspectiva psicanalítica e estética, esta exposição visa elaborar uma
reflexão sobre o choque na fotografia e no cinema. A natureza do choque nas montagens
cinematográficas consiste em criar uma situação em que não se dispõe apenas do poder
individual de uma imagem, mas da fusão de seu poder individual com um outro, gerando
assim uma terceira imagem. Essa dialética produz um efeito disruptivo no olhar, uma pulsão
escópica capaz de gerar uma tensão somática no espectador. Pesquiso sobre o conceito
benjaminiano de imagem dialética na produção cinematográfica de Pasolini, mais
especificamente o documentário “La Rabbia”, e como as imagens dialéticas contidas nele
produzem choques. O conceito de choque concerne a um evento envolvendo a descarga de
violência. O advento das ferrovias transformou a experiência tradicional do tempo e do
espaço na modernidade, a forma de respirar também se transformou na era da
hiperconectividade digital, a virtualização das relações do corpo gerou um dissenso com
nossos órgãos. A consequência disso são os espasmos do ritmo caótico com seus
sintomas de ansiedade e traumas. Exibirei as alegorias choque nas imagens e suas
implicações somáticas.
Palavras-chave: choque, fotografia, cinema, trauma, imagem dialética.

Henrique da Silva Lourenço e Fábio Morales Namura (USP)


Imagens asfixiantes de antes e de depois
Há uma forma de retratar a história por meio de imagens de antes e de depois das
catástrofes – “[...] uma justaposição de duas fotografias do mesmo lugar, feitas em
diferentes ocasiões, antes e depois das consequências de um evento [...]” (WEIZMAN, 2017,
p. 05, tradução nossa). A partir delas, é possível recompor séries, planos e acontecimentos.
Essa política da imagem do antes e do depois revela um reservatório de representações
imagináveis e de resistência, situadas na lacuna entre a fotografia inicial e a final. São
incontáveis histórias possíveis e intermediárias que, sobremaneira, constrangem as
interpretações óbvias. No Brasil, por exemplo, a substituição dos cinemas urbanos por
igrejas neopentecostais são possibilidades/registros fotográficos para acessar tais lacunas
entre o passado e o presente. Interessa-nos explorar esse reservatório de imagens de
resistência entre o antes-cinema e depois-igreja para contrapô-lo à asfixia do futuro que
cada vez mais se organiza pela lógica dos simulacros, nos dissociando da realidade
(BAUDRILLARD, 1991), subordinando a vida ao desencantamento do mundo (WEBER, 2004).
Palavras-chave: Fotografias de antes e de depois, desencantamento do mundo, simulacros,
imagens de resistência.

Matérias e Sentidos

Fernanda Albuquerque de Almeida (USP)


Figurações da intimidade em “Daguerreótipos” de Agnès Varda
“Daguerreótipos” (1975) é um documentário de Agnès Varda, que apresenta retratos de seus
vizinhos, os pequenos comerciantes da Rua Daguerre, em Paris. Esses retratos podem ser
compreendidos como figurações da intimidade que refletem os limites das relações entre

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eles e as aproximações decorrentes do cuidado costumeiro com o qual a cineasta se
endereça aos seus entrevistados. Nesta apresentação, pretendo investigar essas figurações,
por meio de uma análise interpretativa, segundo a qual elas seriam capazes de desvelar as
particularidades desses comerciantes, suas dificuldades, habilidades e pequenos gestos
artesanais no ritmo da banalidade cotidiana, bem como suscitar a sensação de delicadeza e
uma disposição de abertura à alteridade, propícias ao diálogo e à compreensão de suas
especificidades. O filme revelaria, assim, uma política da imagem marcada pelo acolhimento
da alteridade dessa vizinhança composta pela maioria silenciosa, isto é, trabalhadores
desinteressados pela política por seu foco nos problemas da subsistência. A apresentação
integra a pesquisa de pós-doutorado “Políticas da forma: figurações do amor em Agnès
Varda”, realizada no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA-USP.
Palavras-chave: Agnès Varda, Daguerreótipos, figurações da intimidade, políticas da imagem,
alteridade.

Gabriel Kafure da Rocha (UECE)


Alhures – hiatos metaestéticos dos sentidos em Bachelard
Questionar seu pertencimento à estética dichavando as ontologias dos sentidos e os hiatos
metaestéticos de seu pensamento. Ou seja, o que significa para Bachelard o toque, cor, som,
cheiro, sabor? Como esses sentidos estão ligados à imaginação? Nos valeremos de textos
como os de José Américo Pessanha sobre Bachelard, para encontrarmos os gestos da
condição poética do pensar após a fenomenologia. A vitória da materialidade sobre a
idealidade nos faz recair na estética como caminho último de pensar e, alhures dessa
condição, sabemos que a virtualidade é uma realidade na qual os hiatos espaciais nos dão
oportunidade de ocupação. Assim, colocar Bachelard no lugar de esteta nos parece uma
tarefa salutar para o imaginário desse saber, procurando habitá-lo em sua casa onírica e na
cosmicidade microscópica das miniaturas que detalham a eterna aproximação da escada
do saber.
Palavras-chave: sentidos, lugares, materialidade.

Gabriel Schessof (UNISINOS)


“Os poetas estão emudecendo?” – Ou sobre o que a poesia (ainda) tem a nos dizer: reflexões
a partir do pensamento de Hans-Georg Gadamer
A pergunta que proporciona fôlego para este trabalho é colocada no contexto de uma
sociedade marcada por uma pandemia, pelo fluxo caótico das informações, por ameaças à
democracia, por uma crise ambiental sem precedentes e mais uma série de acontecimentos
determinantes cujo número extrapola em muito o espaço que temos para mencioná-los.
Dada a urgência, envergadura e característica dos problemas que marcam a
contemporaneidade, poderíamos pensar que a palavra poética nada tem a oferecer,
principalmente se tivermos por comparação o que cientistas, sociólogos, economistas,
políticos e ambientalistas podem falar. A pergunta sobre o que a poesia ainda tem a nos
dizer, então, só parece poder ser colocada se, antes, respondermos à questão sobre a
própria atualidade da poesia no atual estágio de nossa civilização. Tendo por referência o
pensamento do filósofo alemão Hans-Georg Gadamer, defenderemos que o dizer da poesia
se legitima por abrir um horizonte de compreensão diferente do proporcionado pelas
diversas áreas do saber, mas não menos significativo: uma perspectiva de compreensão
sobre o próprio sentido de ser humano num mundo problemático, instável e aparentemente
carente de sentido.
Palavras-chave: poesia, sociedade, sentido, Gadamer.

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Políticas da Escrita

Caio Vinicius Russo Nogueira (USP)


Rumo a outro conceito de Imagem?
Tradicionalmente ligado por um lado, à visualidade, do icônico ao pictural, e por outro, ao
dizível, da descrição literária às figuras de retórica, o conceito de imagem parece ser o eixo
de encontro entre dois regimes incompossíveis. Em outros termos, como nos lembra Jean-
Luc Nancy, as Musas se dizem sempre no plural. Pautado na distinção de Lessing, o
discurso de determinado modernismo, tal qual descrito por Rancière, radicalizou a
separação entre as artes ao ponto de defini-las não através dos seus fazeres (poièsis), ou da
criação específica de um sensível (aiesthesis), mas, sim, a partir do médium que constitui
cada uma das artes. Identificadas a partir do seu suporte material e isoladas no seu “fazer-
mundo” particular, cada arte diria respeito apenas à pureza dos domínios técnicos do seu
médium. Em um tipo de “contra-história do modernismo”, Rancière propõe o caminho
inverso: a separação entre as artes, ao contrário das regras estabelecidas no regime
mimético-representativo, se turva no regime estético. É a partir dessa dupla interferência,
enquanto operação disjuntiva, entre o visível e o dizível, que pensaremos alguns aspectos do
conceito de imagem em Jacques Rancière.
Palavras-chave: Rancière, imagem, médium, regime estético.

Daniela Cunha Blanco (USP)


A política da escrita e a temporalidade: uma interpretação de Ao farol, de Virginia Woolf, a
partir de Jacques Rancière
Jacques Rancière afirma que toda escrita se liga a uma política, ou seja, que o modo de
pensamento que ordena uma narrativa diz respeito a um modo de ordenação da vida em
sociedade. Há, assim, uma política da escrita que pode ser depreendida de todo texto. A
partir da leitura que Rancière faz do livro “Ao farol”, de Virginia Woolf, pretendemos pensar
como o livro tensiona duas temporalidades diversas, cujas políticas que operam se opõem,
dando a ver, de um lado, uma vida asfixiada por uma ordenação causal do tempo e, de outro,
uma vida que, ao suspender essa causalidade, desenha fissuras e desvios na trama da vida,
abrindo espaço para a resistência. De um lado, as intrigas da vida familiar dos personagens,
cujas vidas obedecem a uma ordenação e a uma divisão do tempo que determina que todo
acontecimento possui uma causa que lhe precede. Uma vida pessoal, organizada entre os
dias que se sucedem, asfixiada pelo utilitarismo de um sistema que aprisiona as vidas em
determinadas funções. De outro lado, a vida impessoal, na qual os acontecimentos não nos
remetem a uma linha causal, tampouco à familiaridade dos dias, mas, antes, à suspensão de
toda ordem e a uma temporalidade diversa.
Palavras-chave: Jacques Rancière, Virginia Woolf, políticas da escrita, temporalidade,
literatura.

Wesley Fernando Rodrigues de Sousa (UFSC)


Roberto Schwarz e a literatura machadiana como crítica da forma social brasileira
Roberto Schwarz é um autor singular na interpretação da cultura brasileira. Um intelectual
que se assenta à serviço da compreensão cultural e artística – em especial a literária – de
nosso país. O estilo ensaístico de Schwarz mostra seu vigor, diante tanto de adeptos quanto
de seus críticos (seja na estética, seja na crítica literária). Em nossa apresentação, o
problema está na interpretação crítica do Brasil, fundando pelo trabalho servil, pelo
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colonialismo e o subdesenvolvimento capitalista a partir da literatura machadiana. Na forma
ensaísta do autor, temos a característica central que marca busca do movimento de seu
objeto: a inserção das ideias em um terreno social dado, o qual pode ser analisada por meio
de seus escritos sobre Machado de Assis. No decorrer de nossa exposição, faremos alguns
apontamentos sobre as principais contribuições na crítica cultural e política no Brasil,
visando reposicionar as ideias de nosso autor no modo que a literatura machadiana se faz
presente ao longo de sua produção intelectual.
Palavras-chave: Roberto Schwarz, Machado de Assis, literatura brasileira, dialética.

Gustavo Santana de Morais (USP)


Existe uma literatura situacionista? Michèle Bernstein, romancista incomum
A Internacional Situacionista é conhecida sobretudo por sua relação com maio de 68 na
França e pela figura proeminente de Guy Debord, tendo contado com muitos outros
membros ao longo de seus quinze anos de existência. No entanto, somente algumas
pesquisas recentes apontam a importância fundamental das mulheres do grupo, dentre elas
Michèle Bernstein, autora dos romances “Tous les chevaux du roi” (1960) e “La nuit” (1961).
Confrontando-se com a literatura contemporânea, principalmente o Nouveau roman,
Bernstein redobra o esforço empreendido por autores como Nathalie Sarraute e Alain Robbe-
Grillet de superar o romance a partir de sua própria forma. Na tentativa de superar a arte na
vida cotidiana, como pensar uma nova função, então, para essa “arte esgotada”?
Apropriação paródica das “receitas do gênero” que admite a literatura como mero
entretenimento — que isola o leitor, principalmente o estrato ascendente da juventude e sua
revolta parcial —, trata-se de analisar como a autora explora a ambivalência do romance e
leva adiante a literatura como campo do possível, da recusa e da experimentação
comportamental.
Palavras-chave: Michèle Bernstein, Internacional Situacionista, vanguarda, romance, Guy
Debord.

Arte, autonomia e Indústria Cultural

Bruno Carvalho Rodrigues de Freitas (USP)


Trauma e vida danificada na “Filosofia da nova Música”
Trata-se, nesta comunicação, de apresentar uma leitura da “Filosofia da nova música” de
Adorno, que ressalta o papel do conceito psicanalítico de trauma. Adorno se vale do
esquema benjaminiano de leitura da poesia de Baudelaire (que a compreendia como uma
elaboração das experiências de choque da vida no capitalismo pós-industrial), mas o utiliza
na música. As obras Schönberg e Stravinsky, compositores mais importantes de duas
escolas da música nova, trabalham com diferentes sujeitos composicionais e suas formas
de lidar com os choques da vida moderna. Tanto Benjamin quanto Adorno se valem da
teoria freudiana para a compreensão da noção de choque, em especial, sua teoria da
angústia e do trauma. As obras desses compositores, compreendidas como modelos de
elaboração do trauma, oferecem distintas formas de reagir ao mesmo, como a identificação
com o agressor (o sujeito da vida danificada) e a resistência.
Palavras-chave: Adorno, psicanálise, trauma, choque, música nova.

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Mateus Matos Bezerra (UFMT)
Adorno e Valéry: o conceito de autonomia da arte na Teoria Estética
Paul Valéry apresenta uma formulação estética, que tem por seu método um “materialismo
de segunda”, ao menos é assim que Adorno caracteriza, ao incorporar isso a sua estética
materialista. Adorno vai estabelecer o conceito de autonomia da forma estética, em sua
Teoria Estética, sob a influência da relação entre o que se diz e o que se pensa, através da
obra de arte autêntica, em seu processo de construção ou crítica. Os fundamentos
metodológicos dessa argumentação são derivados do fragmento de Valéry, que define o
poema como “a hesitação prolongada entre o som e o sentido”. A consideração de Valéry
estabelece a incorporação do que é dito e do que é pensado, indo além da mera intenção do
artista, pois o processo de formação do sentido é constituído durante o processo de
apresentação material da obra de arte, em contato com a realidade, gerando assim o
potencial de expressão do conteúdo de verdade. Sob essa influência, Adorno demonstra que
a arte é autônoma, ao mesmo tempo em que se apresenta como antítese social,
estabelecida pelo seu modelo crítico de constituição de sentido, dado pela forma estética
como conteúdo sedimentado.
Palavras-chave: autonomia, arte, sociedade.

Lucas Alves Marinho (IFMG)


Da Subsunção Formal à Subsunção do Real dos Indivíduos no seu Tempo Livre pela Atual
Vanguarda da Indústria Cultural
Trata-se de: i) compreender a indústria cultural como maquinaria, capaz de realizar, durante
o tempo livre, o mesmo que a maquinaria laboral realizou, historicamente, no tempo laboral:
a gradativa apropriação, por segmentação e objetivação técnica, num fluxo maquinal,
homogeneizante, de atividades (de lazer), antes realizadas natural-espontaneamente – até a
materialização da subsunção dos seus consumidores típicos, pela atual vanguarda da
indústria cultural (os mobile social media). ii) demonstrar que tal materialização da
subsunção dos indivíduos modifica qualitativamente o modo de influência prioritátio ou
mais eficaz da indústria cultural: de uma influência entendida, grosso modo, como
manipulação psicológica, para um modo de influência mais marcadamente fisiológico,
aquém da possibilidade de qualquer interpretação ideológica razoável da realidade social.
Palavras-chave: indústria cultural, tempo livre, subsunção real.

Vitor Emanuel Pinto Cardoso (UTP)


Um percurso histórico-filosófico sobre liberdade de expressão, preconceito e humor: o
especial de Natal do Porta dos Fundos
O tema desta dissertação almeja analisar os limites da liberdade de expressão, preconceito
e humor na trajetória histórico-filosófica no Especial de Natal de 2019 produzido pela Porta
dos Fundos. Nosso objetivo é utilizar através de uma construção na longa temporalidade
alicerçada na origem do humor grego, especificamente como surgiu a comédia e como o
humor era, na Antiguidade, utilizado. Estudaremos as reflexões de Platão e Sócrates a
respeito do humor e também a do dramaturgo Aristófanes, assim como a relação
sociopolítica do humor nos discursos deles. Com base na filosofia moderna, os conceitos de
Immanuel Kant, Hannah Arendt a respeito da liberdade, liberdade de expressão e
preconceito. Em 2019 a Porta dos Fundos exibiu direto na Netflix, o Especial de Natal
daquele ano. Nesse episódio Jesus era apresentado como homossexual e com um amante.
Esse conteúdo provocou grandes controvérsias, culminando, no natal desse mesmo ano, a
sede da produtora sofrer um atentado. Nossa problemática tem as seguintes questões:
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Quais e se existem os limites da liberdade de expressão no contexto do humor
contemporâneo? Pode o humor ter limites? Quais e se existem preconceitos no Especial de
Natal?
Palavras-chave: liberdade, humor, preconceito, Porta dos Fundos, percurso histórico-
filosófico.

Arquitetura e cidade como lugar incomum

Betty Mirocznik (USP)


Além da sujeição, o espaço público como lugar singular
Pretende-se refletir sobre a forma com que as populações urbanas se apropriam dos
espaços públicos a partir de projetos artísticos. Para tanto, contrapõe-se a percepção do
espaço segundo os conceitos fenomenológicos propostos por Gernot Böhme e Christian
Norberg-Schulz com o conceito de asfixia proposto por Franco Berardi. O que nos interessa
é a análise da relação entre o homem e o espaço urbano na construção de um lugar singular
que instigue as sensações e o envolvimento físico e perceptual do sujeito com o objeto
artístico e a cidade. Elegeu-se para essa narrativa o Beco do Batman em São Paulo pela sua
configuração única e, pela variedade, qualidade e quantidade de grafites que lá se
encontram, resultando em um museu a céu aberto. Esse pequeno espaço dentro da cidade
caótica assume a função de transgredir e possibilita a construção de novos significados e
significantes. Essa proposta contestatória se irradiou para além das fronteiras do beco,
contagiando outros muros, becos e vielas da cidade de São Paulo, com ou sem
consentimento dos proprietários e poder público.
Palavras-chave: populações urbanas, espaços públicos, lugar singular.

Juny Kp (USP)
Quando olho para trás, vejo o futuro
“Quando olho para trás, vejo o futuro” nasce do tijolo pó de mico, também conhecido como
tijolo de barro cozido, e de seu acúmulo. Elemento mínimo formador de uma construção, o
tijolo possui uma força concentrada e um poder de ícone, de representação de toda
habitação dentro de um modelo de construção anterior, em que o tijolo foi elemento
construtor central. Vejo nele uma solidez retumbante. Proponho discutir a memória da
cidade e o processo gentri cador dos centros urbanos. Proponho um mapeamento de áreas
públicas e privadas em abandono. Após mapeamento, foi realizado registro fotográ co
destes terrenos, seguido de e posicão das fotogra as captadas. O projeto propõe preencher
os vazios urbanos com imagens e re e ões. otos, pinturas, mapas, tijolos pó de mico
recolhidos de demolições, memória, utopia e o desejo estarão reunidos na e posição para
marcar o hoje, olhando para o passado e vislumbrando um (utópico) futuro. Nesse recorte
constituído por imagens de terrenos privados registrados de dentro e terrenos públicos
registrados de cima, se embrenha no dentro e fora. No vazio e no cheio, no público e no
privado. Uma coisa é comum: o abandono e o descaso social.
Palavras-chave: cidade, vazio urbano, fotografia, gentrificação, memória.

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Gabriel Teixeira Ramos (UFG)
Mapear o quadrilátero, imaginar seus rasgos: investigações sobre modos de caminhar e
cartografar os limites dos territórios colono-modernos
Esta proposta de comunicação reimagina posições e deslocamentos pelos quais
cartografias foram produzidas, designadas e disputadas, tendo como mote as expedições
geográficas da Comissão Cruls para o Centro-Oeste brasileiro ocorridas em fins do século
XIX. Para tal, utiliza-se da noção de “rasgadura da imagem”, de Didi-Huberman, partindo-se
de uma abordagem não do mapa (imagem), mas do ato de mapear (imaginar), apontando-se
para um fazer cartográfico a ocorrer pelo ato de caminhar o Quadrilátero Cruls, configurado
como perímetro do Distrito Federal. Isso emerge pela inferência sobre as linhas retas serem
uma síntese do pensamento moderno ocidental, cuja obstinação se deu pela confirmação
da diferenciação entre homem e natureza, sendo efetivada pelo que deve ser esquadrinhado,
apartado e hierarquizado, no melhor aproveitamento das divisões. Se, para Lúcio Costa, o
ato de projetar Brasília surge qual o de quem toma posse do lugar no território, deste ponto
de vista, seu desenvolvimento se exacerbaria ao atingir a ideia de pureza e ordem
geométrica, numa ode às linhas retas derivada de um pensamento a criar e demarcar os
limites dos lugares, submetendo o mundo a seus desígnios.
Palavras-chave: mapas, imaginação, caminhar, Quadrilátero Cruls, Distrito Federal.

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