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Caderno de Resumos V Seminário de Estética
Caderno de Resumos V Seminário de Estética
Caderno de Resumos V Seminário de Estética
Apoio
Departamento de Filosofia da FFLCH-USP /
CAPES / PROEX
Fotografia da capa
Fernando Rocha
Catalogação na Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
Maria Imaculada da Conceição – CRB-8/6409
S471 Seminário de Estética e Crítica de Arte da Universidade de São Paulo
(5., 2022 : São Paulo, SP).
Sentidos na asfixia [recurso eletrônico]: caderno de programação e resumos [do] V
Seminário de Estética e Crítica de Arte da Universidade de São Paulo: 27 a 30 de
setembro de 2022 / Coordenação: Ricardo Fabbrini. -- São Paulo: FFLCH/USP, 2022.
720 Kb; PDF.
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GEEC-USP 10 anos
É com grande prazer que informo que o “Grupo de estudos de estética contemporânea” do
Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
está completando dez anos de atividades ininterruptas. O GEEC-USP, inicialmente composto
por alunos de graduação, orientandos em iniciação científica, em pós-graduação em nível de
mestrado e doutorado, e por pesquisadores de pós-doutorado da FFLCH-USP e do Programa
de Pós-Graduação em Estética e História da Arte da USP (PGEHA-USP) constituiu-se, no
curso do tempo, como centro de debates sobre arte e cultura contemporâneas aberto à
comunidade. Durante uma década o GEEC-USP realizou além de encontros semanais,
inúmeros eventos, entre os quais o “Seminário de Estética e Crítica de Arte”, bianual, que
entra agora em sua quinta edição. Agradeço imensamente aos convidados de diferentes
áreas que enriqueceram nossos debates, e principalmente aos membros do grupo que
movidos pela seriedade na pesquisa e espírito colaborativo, lhe concedem vida.
Ricardo Fabbrini
Prof. DF-FFLCH/PGEHA
Coordenador GEEC-USP
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Apresentação
Com a implosão das utopias que a modernidade forjou, o horizonte de expectativas se
estreita, na medida em que o “niilismo” e a “nostalgia” ocupam o espaço antes habitado pela
paixão pelo real. Em meio a uma pandemia global, a asfixia se apresenta como o sintoma de
uma época que amiúde evidencia os limites de nossa humanidade. Ela se revela tanto pela
falta (de ar, de alimentos, de direitos e de bem-estar social) quanto pelo excesso (de
descaso, de violência, de exploração da natureza e de dados imagéticos e informacionais
que temos dificuldade em interpretar). A frase “Não consigo respirar” revela ainda a relação
entre a asfixia e o racismo, traço remanescente do colonialismo e da opressão de
determinados corpos como forma de sujeição social, cultural e política. Contudo, habitando
a catástrofe, prosseguimos buscando sentidos nesse estado geral das coisas, sentidos que
abriguem os afetos sufocados dos corpos, que possibilitem maneiras distintas de pensar e
que nos levem a outros lugares. Nesse cenário, a arte continua a propor impossíveis,
buscando redistribuir o sensível ao criar outros ritmos, intermitências e suspensões nos
fluxos vertiginosos de transações financeiras e simbólicas. É preciso inventar formas de
respirar.
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Programação
Conferência de abertura
Minicurso
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Mesas-redondas
Escutas
28/09, 19h às 21h
Kassia Borges (UFU) e Roberto Conduru (SMU)
Mediação: Virginia Aita (USP)
link para transmissão
Esta mesa propõe discutir a atualidade das modalidades de expressão e apreensão sensível
na arte, confrontando noções naturalizadas para abrir-se a uma multiplicidade de vozes em
conflito. Ouvindo o que antes parecia irracional e incompreensível, responde a um desvio
epistemológico. Não se antecipa em desvendar, se detém e se alonga em ressonâncias.
Toques
29/09, 19h às 21h
Fernanda Bruno (UFRJ) e Giselle Beiguelman (USP)
Mediação: Fernanda Almeida (USP)
link para transmissão
Esta mesa propõe pensar como o sentido do tato se configura na produção, difusão e
recepção das imagens técnicas, considerando, especialmente, as relações entre as ditas
realidades física, virtual e mista/híbrida. Os toques são aqui assimilados de modo
expandido, podendo se referir aos nossos gestos e ações, bem como emoções e
sentimentos.
Gostos
30/09, 19h às 21h
Peter Pál Pelbart (PUC-SP) e Vladimir Safatle (USP)
Mediação: Rafaela Fernandes (USP)
link para transmissão
Esta mesa propõe discutir formas de reconfiguração dos sentidos por meio da linguagem
em meio à catástrofe, sobretudo, a que habita o presente e o continuum da história. O que o
gosto como figura conceitual e categoria estética tem a oferecer ante o murmúrio do
indiscernível e a incomensurabilidade de nossas catástrofes cotidianas?
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Comunicações
28/09 – quarta
14h às 16h
Sala 2 | Heterotopias
Caio Olivette Pompeu | Marcha a Ré: heterotopia desviante, performance gótica
Artur Sartori Kon | O coro inoperante: A recriação da peça didática brechtiana em Oratorium,
do She She Pop
Natalia Alves Dos Reis | As “heterotopias” e as “comunidades” do imaginário artístico
contemporâneo
Cíntia Maria Fank | Estéticas utópicas e imaginação política: canteiros experimentais e
educação popular
Mediação: Caio Pompeu
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16h às 18h
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29/09 – quinta
14h às 16h
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16h às 18h
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30/09 – sexta
14h às 16
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16h às 18h
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Resumos das Comunicações
28/09 – quarta
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Bruna Medeiros Passos (UFSC)
Apontamentos para uma filosofia da dança
Esta comunicação pretende problematizar de que forma a dança foi concebida dentro de
teorias da arte, seja como arte menor e derivativa em relação às outras artes, ou mesmo,
como fora do escopo das manifestações que recebem o estatuto ontológico de arte. Tendo
como perspectiva de partida os paradigmas estético-sensorial e semântico-hermenêutico
em teorias monistas da arte, serão problematizados os critérios de artisticidade utilizados
por elas. Para isso, as hipóteses a serem defendidas são i. que o artístico da dança não
pode ser apreendido por teorias que não considerem as suas especificidades, como uma
arte que opera nos campos da atividade, atualidade, ficcionalidade e performatividade; e ii.
que o paradigma performático-performativo oferece critérios mais adequados para se
pensar a dança como arte plena. Os autores a serem abordados aqui serão Paul Valéry,
Arthur Danto, Celso Braida, Erika Fischer-Lichte. Este trabalho é parte do processo de revisão
teórica prevista no projeto de mestrado “A arte como ação e ficção: uma ontologia da
dança”, em andamento no PPGFIL UFSC sob orientação do prof. Dr. Celso Reni Braida.
Palavras-chave: dança, estatuto ontológico, arte.
Heterotopias
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heterotopia e heterocronia propostos por Foucault para com a performance. Em terceiro
lugar, mostraremos de que maneira a referida performance pode ser relacionada com o
conceito de gótico tal qual proposto por Mark Fisher. À guisa de conclusão, apontaremos
algumas reflexões sobre os potenciais sentidos e significados de Marcha a Ré dentro das
circunstâncias nas quais ela foi realizada.
Palavras-chave: heterotopia, arte pós-utópica, Teatro da Vertigem.
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Modernidades Repensadas
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fortuna crítica não-especializada por conflitar com outras concepções teóricas
estabelecidas à época.
Palavras-chave: Wassily Kandinsky, figura, abstração, arte abstrata, arte concreta.
Imagem e Palavra
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em razão de eu não ser falante da língua original do poema. Estudando o alfabeto e a
gramática coreana no “Youtube” e treinando a pronúncia com a voz do “Naver” (“Google” da
Coreia do Sul), busquei fazer uma transdução do poema em outras formas de arte, como
performance, vídeo e escultura digital. Inspirado por Franco Berardi, esse processo foi
pensado como um “calote semiótico” diante do “endividamento simbólico” e da “inflação de
sentidos” do capitalismo, exacerbados pela pandemia. Mastigar lentamente um poema
difícil de ler, arrancar pedaços de sentido de cada palavrinha estranha, usando os
dispositivos de comunicação digital para aprender a falar algo novo, mais do que para
reproduzir discursos correntes, foi uma tentativa de negar a exigência de transformar o
trauma pandêmico em um produto artístico de consumo imediato.
Palavras-chave: poesia coreana, tradução, artes visuais, covid-19.
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Formas de Vida e Comunidades 1
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Fabio Herrmann, que visa na sua ação o des-velar das lógicas que sustentam o campo
investigado, possibilitando assim pensar novos procedimentos de criação cênica.
Palavras-chave: processo de criação, teatro, loucura, unheimlich, inquietante estranheza.
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silenciam e os alienam socialmente. Este contexto é insuflado tanto pelas dinâmicas de
poder e disputas enviesadas no cerne das relações humanas pelas classes dominantes,
quanto sustentado epistemologicamente por leituras que se consolidam na realidade
brasileira a partir de conceitos colonialistas e imperialistas europeus e estadunidenses e,
prioritariamente branca. Aventando estas premissas, este ensaio se debruça na retomada de
um olhar para o preto brasileiro que desconstrua o seu não lugar social, apoiado por uma
narrativa de desumanização sustentada por mais de 300 anos de escravidão e teorias de
inferioridade, que corroboraram para um presente alinhado com o genocídio e naturalização
da violência contra a população negra.
Palavras-chave: negro, alienação, existência, violência.
História e Experiência
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Patricia Morales Bertucci (pesquisadora independente)
A iminência da queda: fissuras e contradições no espaço da cidade de Berlim, entre 1987 e
1990
Em 1987, a prefeitura de Berlim iniciou um projeto em forma de exposição – Internationele
Bauausstellung Berlin, IBA – que trouxe os maiores nomes da arquitetura mundial para
realizar intervenções urbanas nas áreas abandonadas e quase desabitadas depois da
guerra. Essa exposição carregava o discurso de crítica para o modelo de cidade baseado no
urbanismo moderno, no entanto, funcionou como vitrine para promover uma arrancada
capitalista na cidade, com olhos voltados para a unificação, dada a iminência da queda do
muro de Berlim. Com a queda do muro, em 1989, a contrapelo dessas intervenções de
caráter público, aconteciam transformações urbanísticas de outra ordem, pois não
apontavam para a vitória do capitalismo, mas para a criação de fissuras e contradições
nesse sistema. A partir de 1990, jovens, principalmente da antiga Alemanha Ocidental,
ocupavam edifícios abandonados e construíram essas comunidades à sua imagem: salas e
cozinhas coletivas, cafés e bares autogeridos, ateliês de artistas, pátios ocupados com
móveis, cinemas etc.
Palavras-chave: intervenção urbana, arte, cidade, espaço, comunidade.
Crítica de Arte
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forma, inflectindo-a na ‘prosa do mundo’, pressupõe a reductio de um formalismo que
instrumentalizou a exclusão sistemática do 'diverso'. Valendo-se de formulações como a
noção ético-estética de Thick Concept (B. Williams); a “cena estética” (Rancière) e o
embodied meaning (Danto), essa análise examina o deslocamento da “forma”, reconfigurada
como “relação interna” irredutível a seus relata, numa estética pluralizada que ipso facto
redimensiona a crítica. A obra de Sonia Gomes, como epígrafe, torna-se o contra-exemplo
eloquente da recusa do design da forma, da “colonização” da “língua/linguagem” (F. Fanon),
interpelando Maya Angelou denuncia as prisões da linguagem, suas platitudes, restituindo a
semiose da imagem ao inflectir num inventário de “retalhos” a ancestralidade de ritos Afro-
diaspóricos. Recompõe-os numa mnemotécnica, em gestos auráticos, liturgicamente
repetidos, de recombinar, envolver, cerzir, torcer, tramar, suspender. Tecer indefinidamente
uma nova trama do visível, apropriando-se dessas micro memórias impressas, subvertendo
políticas opressivas e a liquidez da imageria, num libelo decolonial.
Palavras-chave: imagem espessa, dissenso, ethos, sociabilidades, formalismo, cena estética,
embodied meanings, crítica de arte, Sonia Gomes, mnemotécnica, liturgia do gesto.
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Palavras-chave: Arthur Danto, crítica de arte, arte contemporânea, fim da arte.
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O Fazer Historiográfico
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Rafael Goffinet de Almeida e Fábio Lopes de Souza Santos (USP)
A participação (ou o campo de batalha sobre a subjetividade)
Sabemos que a “participação” despontou como palavra de ordem no horizonte de
transformação político-cultural das décadas de 1960-70. Menos conhecidos, porém, são os
deslizamentos semânticos subjacentes ao interesse por processos sociais de toda ordem.
No Brasil, diferentes sínteses programáticas do período reivindicaram diferentes “posições
participantes” – entre elas, a “conscientização popular” renovada pela arte “novista” e as
“vivências descondicionantes” tropicalistas. Pretendemos explorar, no entanto, o ponto em
que as divergências parecem fatalmente confluir: a tarefa de produção de subjetividades
transformadoras abriu senão o campo da transformação subjetiva, estendendo terreno para
certa formação discursiva da racionalidade neoliberal – aquela do sujeito “ativo”, “precário”,
“autorrealizável”. Interessa reexaminar o embate “engajamento revolucionário” versus
“rebeldia contracultural” (RIDENTI, 2014; HOLLANDA, 1982), para entrevermos a emergência
de tecnologias de controle social à contraluz do léxico contestador da “arte engajada”. Não
significa dizer que a “participação” esgotou-se. Contudo, reconhecer sua contraface é
imprescindível para desvelar outros horizontes.
Palavras-chave: participação, subjetivação neoliberal, arte engajada, horizontes utópicos.
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que, não casualmente, inclui o nome de Sade). Indagar os sentidos possíveis dessa prática
passa por retomar sua origem sadeana, observando como o autor figura a asfixia em suas
obras. No universo sadeano, isso aponta para uma intercambialidade entre libertino e vítima
que é fundada em uma metafísica materialista. De maneira mais geral, pode-se entender que
isso se traduz na inexistência de sentidos fixos ou dados quando se trata da ação sexual: a
asfixia ou outras formas de experiência sexual entendidas como sádicas ou, mais
genericamente, perversas, podem ser expressão de violência, mas também de desejo, sem
que isso se refira a seus sentidos morais ou médicos.
Palavras-chave: Marquês de Sade, Justine, Os 120 Dias de Sodoma, BDSM, literatura erótica.
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30/09 – sexta
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Sulamita Fonseca Lino (UFOP)
A série Femme Maison: os seres híbridos e as experiências da asfixia
A representação dos seres híbridos ocorreu nas artes plásticas de maneiras diversas: na
fusão dos corpos de animais e humanos, presentes nas pinturas de Bosch e nas esculturas
do Gótico; nas colagens e pinturas do Dadaísmo e Surrealismo, etc. A série “Femme Maison”
de Louise Bourgeois mantém essa ideia de hibridismo, mas agora o corpo está misturado
com um componente da arquitetura, no caso, a casa ou até mesmo um prédio de vários
andares. Essa série tem uma característica em comum, o edifício substitui (asfixia) a cabeça
ou então é como uma roupa que reveste (asfixia) o corpo. Esses hibridismos têm sentidos
diferentes no que tange a experiência estética da arte. Por um lado, podemos aproximar
obras de períodos tão distintos através de um aspecto em comum como a forma híbrida, por
outro, também é possível conectá-las através do surrealismo, tendo em vista que artistas
dessa vanguarda revisaram a história da arte através do tema do fantástico. O objetivo deste
trabalho é analisar a série “Femme Maison”, revisando a forma como o tema dos seres
híbridos foram abordados através das vanguardas do século XX.
Palavras-chave: hibridismo, surrealismo, asfixia, experiência estética.
Cinema e Percepção
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Palavras-chave: experiência da metrópole, Harun Farocki, cinema, cidade contemporânea.
Matérias e Sentidos
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eles e as aproximações decorrentes do cuidado costumeiro com o qual a cineasta se
endereça aos seus entrevistados. Nesta apresentação, pretendo investigar essas figurações,
por meio de uma análise interpretativa, segundo a qual elas seriam capazes de desvelar as
particularidades desses comerciantes, suas dificuldades, habilidades e pequenos gestos
artesanais no ritmo da banalidade cotidiana, bem como suscitar a sensação de delicadeza e
uma disposição de abertura à alteridade, propícias ao diálogo e à compreensão de suas
especificidades. O filme revelaria, assim, uma política da imagem marcada pelo acolhimento
da alteridade dessa vizinhança composta pela maioria silenciosa, isto é, trabalhadores
desinteressados pela política por seu foco nos problemas da subsistência. A apresentação
integra a pesquisa de pós-doutorado “Políticas da forma: figurações do amor em Agnès
Varda”, realizada no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA-USP.
Palavras-chave: Agnès Varda, Daguerreótipos, figurações da intimidade, políticas da imagem,
alteridade.
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Políticas da Escrita
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Mateus Matos Bezerra (UFMT)
Adorno e Valéry: o conceito de autonomia da arte na Teoria Estética
Paul Valéry apresenta uma formulação estética, que tem por seu método um “materialismo
de segunda”, ao menos é assim que Adorno caracteriza, ao incorporar isso a sua estética
materialista. Adorno vai estabelecer o conceito de autonomia da forma estética, em sua
Teoria Estética, sob a influência da relação entre o que se diz e o que se pensa, através da
obra de arte autêntica, em seu processo de construção ou crítica. Os fundamentos
metodológicos dessa argumentação são derivados do fragmento de Valéry, que define o
poema como “a hesitação prolongada entre o som e o sentido”. A consideração de Valéry
estabelece a incorporação do que é dito e do que é pensado, indo além da mera intenção do
artista, pois o processo de formação do sentido é constituído durante o processo de
apresentação material da obra de arte, em contato com a realidade, gerando assim o
potencial de expressão do conteúdo de verdade. Sob essa influência, Adorno demonstra que
a arte é autônoma, ao mesmo tempo em que se apresenta como antítese social,
estabelecida pelo seu modelo crítico de constituição de sentido, dado pela forma estética
como conteúdo sedimentado.
Palavras-chave: autonomia, arte, sociedade.
Juny Kp (USP)
Quando olho para trás, vejo o futuro
“Quando olho para trás, vejo o futuro” nasce do tijolo pó de mico, também conhecido como
tijolo de barro cozido, e de seu acúmulo. Elemento mínimo formador de uma construção, o
tijolo possui uma força concentrada e um poder de ícone, de representação de toda
habitação dentro de um modelo de construção anterior, em que o tijolo foi elemento
construtor central. Vejo nele uma solidez retumbante. Proponho discutir a memória da
cidade e o processo gentri cador dos centros urbanos. Proponho um mapeamento de áreas
públicas e privadas em abandono. Após mapeamento, foi realizado registro fotográ co
destes terrenos, seguido de e posicão das fotogra as captadas. O projeto propõe preencher
os vazios urbanos com imagens e re e ões. otos, pinturas, mapas, tijolos pó de mico
recolhidos de demolições, memória, utopia e o desejo estarão reunidos na e posição para
marcar o hoje, olhando para o passado e vislumbrando um (utópico) futuro. Nesse recorte
constituído por imagens de terrenos privados registrados de dentro e terrenos públicos
registrados de cima, se embrenha no dentro e fora. No vazio e no cheio, no público e no
privado. Uma coisa é comum: o abandono e o descaso social.
Palavras-chave: cidade, vazio urbano, fotografia, gentrificação, memória.
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Gabriel Teixeira Ramos (UFG)
Mapear o quadrilátero, imaginar seus rasgos: investigações sobre modos de caminhar e
cartografar os limites dos territórios colono-modernos
Esta proposta de comunicação reimagina posições e deslocamentos pelos quais
cartografias foram produzidas, designadas e disputadas, tendo como mote as expedições
geográficas da Comissão Cruls para o Centro-Oeste brasileiro ocorridas em fins do século
XIX. Para tal, utiliza-se da noção de “rasgadura da imagem”, de Didi-Huberman, partindo-se
de uma abordagem não do mapa (imagem), mas do ato de mapear (imaginar), apontando-se
para um fazer cartográfico a ocorrer pelo ato de caminhar o Quadrilátero Cruls, configurado
como perímetro do Distrito Federal. Isso emerge pela inferência sobre as linhas retas serem
uma síntese do pensamento moderno ocidental, cuja obstinação se deu pela confirmação
da diferenciação entre homem e natureza, sendo efetivada pelo que deve ser esquadrinhado,
apartado e hierarquizado, no melhor aproveitamento das divisões. Se, para Lúcio Costa, o
ato de projetar Brasília surge qual o de quem toma posse do lugar no território, deste ponto
de vista, seu desenvolvimento se exacerbaria ao atingir a ideia de pureza e ordem
geométrica, numa ode às linhas retas derivada de um pensamento a criar e demarcar os
limites dos lugares, submetendo o mundo a seus desígnios.
Palavras-chave: mapas, imaginação, caminhar, Quadrilátero Cruls, Distrito Federal.
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