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TCC Felipe
TCC Felipe
TCC Felipe
Instituto de Artes
Campinas
2021
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Música
Campinas
2021
RESUMO
Essa monografia busca discutir o emprego de músicas do Pop no repertório musical de alunos do
método Suzuki de ensino de violino. A filosofia por trás da concepção do método é explicada para
melhor compreender os seus usos na educação musical e como os acontecimentos da época
influenciaram para a sua aceitação e afirmação, já que a metodologia Suzuki é mundialmente famosa
por sua eficácia no ensino do violino para crianças em período anterior à alfabetização, algo incomum
no momento de sua criação. Também aborda-se o valor cultural e social da música Pop e sua relação
com a indústria cultural, termo muito utilizado por Adorno para explicar a exploração da cultura como
produto na sociedade capitalista do século XX. Outro tópico aqui presente é o relacionamento da
música e projetos musicais de ensino de instrumentos com populações em situação de risco e a
forma que a utilização da música Pop traria benefícios para os alunos.
Palavras-chave: Educação; Música; Métodos Ativos; Suzuki; Ensino de violino; Música Pop;
ABSTRACT
This research seeks to discuss the use of Pop songs in the musical repertoire of students of the
Suzuki method of violin teaching. The philosophy behind the conception of the method is explained to
better understand its uses in music education and how the events of the time influenced its
acceptance and affirmation, as the Suzuki methodology is famous around the world for its
effectiveness in teaching violin to children in a period prior to literacy, something unusual at the time of
his creation. It also addresses the cultural and social value of Pop music and its relationship with the
cultural industry, a term often used by Adorno to explain the exploitation of culture as a product in 20th
century capitalist society. Another topic presented here is the relationship between music and musical
instruments teaching projects for populations in harm’s way and the manner in which the use of Pop
music would bring benefits to students.
Keywords: Education; Music; Active Music Education; Suzuki; Violin teaching; Pop music;
Sumário
Introdução…………………………………………………………………………………...6
Diferença entre popular e Pop…………………………………………………………...7
Início da música Pop……………………………………………………………………....8
O valor do Pop……………………………………………………………………………....9
O aparecimento das metodologias ativas…………………………………………....11
O repertório das Metodologias ativas………………………………………………...12
A Educação do Talento………………………………………………………………......13
Repertório Suzuki……………………………………………………………………...….14
Música Pop como Repertório e suas consequências……………………………...17
Suzuki e o risco…………………………………………………………………………...19
Música Pop na educação Suzuki……………………………………………………....21
Conclusão……………………………………………………………………………….....22
Referências………………………………………………………………………………...23
Considerações
finais
6
Introdução
importância nas aulas que ela tem no cotidiano dos nossos ouvidos e descobrir se
seria possível utilizá-la como repertório de sala de aula.
Para isso, irei focar minha reflexão sobre o método Suzuki de ensino de
violino, principalmente porque é o método que tenho mais familiaridade e mais
conhecimento, entretanto, espero que seja possível futuramente expandir meus
argumentos para outros métodos também.
Justifica-se o artigo por ser um método muito famoso e reconhecido por sua
eficácia no desenvolvimento de instrumentistas desde a infância, ao investigar a
possibilidade de usar um conteúdo mais contemporâneo, mais alunos poderiam ser
cativados.
O objetivo desse estudo foi pesquisar e entender os motivos das músicas
originais terem sido escolhidas no escopo da época que o método Suzuki foi criado,
quais seriam as vantagens na utilização de um repertório diferente do original, se
seria possível a utilização de outras composições no contexto do método sem haver
perda de conteúdo e como essas mudanças poderiam afetar os alunos. A discussão
é de espécie teórica, sem experimentação prática para corroborar as ideias aqui
abordadas.
Como metodologia de trabalho, escolheu-se a pesquisa bibliográfica e a
análise de documentos para desenvolver a narrativa teórica sobre o tema.
incluir a
bibliografia e os
documentos.autor,
Diferença entre Popular e Pop
XXXX).
lingua inglesa
Primeiramente, precisamos entender o que é música Pop e qual a sua
diferença com a música popular. É interessante notar que no inglês não há
separação entre os dois estilos, ao referenciar “Pop music” poderia-se estar falando
tanto sobre músicas de origem folclórica como “Brilha, brilha, estrelinha” quanto
“Baby one more time” da Britney Spears. Todavia, em português há uma clara
distinção entre a música popular e a música Pop (JANOTTI, 2005).
A música popular para Andrade (2004) significa uma música que ajuda na
construção de uma identidade nacional, e Janotti (2005, p.2) complementa como
“produzida e difundida de maneira independente dos grandes conglomerados
multimidiáticos”. Estas seriam as músicas compartilhadas oralmente pela população
de uma região, que os pais cantam para ninar os filhos, que as crianças cantam
durante brincadeiras, ou que marcam o ritmo de trabalho das lavadeiras, por
8
exemplo. Vale lembrar que a MPB, Música Popular Brasileira, é um gênero originário
na bossa nova e que instituiu sua própria categoria, apesar de conter “música
popular” em seu nome, mas que também foi influenciada pela cultura popular
originária do Brasil, com alguns compositores bebendo dessa fonte em suas letras.
Já o termo “música Pop”, como é utilizado atualmente, aparece primeiro por
volta dos anos 1950, de acordo com Roy Shuker (1994, 1999), inicialmente para
definir músicas com características tidas como “universais” para atingir todos os
públicos e, assim, ser de fácil consumo. Por ser um produto mercadológico, a
música Pop almejava quaisquer meios de comunicação que conseguisse utilizar
para obter uma maior gama de consumidores, expandindo sua influência para várias
esferas da sociedade, mas foi nos singles e letras do universo adolescente que
realmente encontrou o seu lugar. de dificil concenso
A definição de “Pop” ainda hoje é bem abrangente e chega a ser um pouco
difícil se obter um consenso. Conseguimos encaixar vários gêneros diferentes dentro
dessa explicação inicial, quaisquer artistas que estejam ligados à grandes selos e
em evidência poderiam ser encaixados como Pop. Por isso não podemos
desvincular o Pop dos canais de comunicação desenvolvidos no pós-segunda
guerra mundial.
maiusculo
Curiosamente, o início do termo Pop está intimamente conectado com o
surgimento do Rock. As guitarras e baixos amplificados acompanhados de uma
bateria num ritmo rápido e dançante foi essencial para a emergente cultura jovem do
pós-segunda guerra mundial, definindo uma época que almejava a felicidade após
vários anos de tristeza. Janotti (2015) explica que o termo Pop nasceu para
deslegitimar essa nova expressão, ligando o som feito pela pipoca ao explodir
(“pop”), com a efemeridade que acreditavam que essa cultura teria nas vidas desses
jovens. Ou seja, seria uma fase tão rápida quanto estourar pipocas, com um
consumo mais rápido ainda. Elaborar o comentário
Digo que é curiosa essa ligação, pois o Rock é definido por Rodrigo Merheb
(2012) como uma música revolucionária criada para quebrar paradigmas culturais.
Entretanto, o mundo pós-guerra de 1950 também teve uma crescente cultura
midiática por meio de filmes, programas televisivos e de rádio, meios de
9
O valor do Pop
O Adorno achava
o Jazz pobre Tal massificação cultural seria descrita por Adorno (2021) como uma
esteticamente?
"Indústria cultural” com o objetivo de simplificar o gosto musical das pessoas com
músicas repetitivas e pobres esteticamente. Um fato curioso é que o principal alvo
de Adorno na época era o Jazz, estilo hoje dificilmente descrito como “Pop”.
É possível entender a preocupação de Adorno se relacionarmos o aumento
do consumo de música de indivíduos sem conhecimento de notação musical que
Janotti comenta. Os aparelhos de reprodução musical que foram desenvolvidos no
final do século XIX e início do século XX são essenciais para essa mudança. Com
eles, se tornou possível qualquer pessoa ter contato com a música: já não era
necessário ser ou estar na companhia de um músico para se deleitar com uma
canção.
Esse “empobrecimento” que Adorno critica tem um paralelo com a dualidade
entre música sacra e música secular que ocorreu há alguns séculos atrás. A música
sacra era divina, pura e angelical, enquanto a música secular era profana e não teria
lugar na casa de Deus. Da mesma forma qual a música sacra influenciou a música
erudita e a transformou em um ícone de música “boa”, que precisava de um local
sagrado para ser reproduzida (salas de teatro e salões nobres), músicas que
provinham das camadas menos abastadas da sociedade, como o Jazz, eram
10
Por fim, de acordo com o que vimos até o momento, podemos julgar o
repertório da primeira geração atrasado em relação ao que estava presente na
vanguarda e no cotidiano da música ocidental.
A Educação do Talento
Shinichi Suzuki gostava de pensar em seu método como uma filosofia de vida
e o chamava de “Educação do Talento”. O motivo disso é bem simples, ele
acreditava que todas as crianças tinham a capacidade de serem excelentes
musicistas, da mesma forma que tinham capacidade de aprender a sua língua
materna fluentemente, por mais complexa que seja.
Em seu livro “Educação é Amor” (2008), Suzuki explica a sua trajetória como
violinista e professor, assim, podemos entender com facilidade de onde veio a
epifania que o tornou mundialmente famoso se levarmos em conta alguns eventos
de sua vida.
Masakichi Suzuki, pai de Shinichi, era dono da maior fábrica de violinos do
mundo no início dos anos 1900, entretanto, ninguém da família tocava, foi apenas
quando tinha por volta dos 17 anos que teve a vontade de aprender a tocar violino
após ganhar um gramofone e ouvir “Ave Maria” de Schubert interpretada por Mischa
Elman, Shinichi ficou fascinado com o som do violino, já que durante a sua infância o
violino era considerado apenas um “brinquedo”, e ao ouvir aquela melodia, decidiu
aprender a tocá-lo. Por alguns anos Suzuki estudou sozinho, reproduzindo as
músicas no gramofone e tentando copiar aquilo que ouvia, mas com 21 anos teve
suas primeiras aulas formais de violino e com quase 23 anos foi para Berlim, onde
ficou por oito anos se dedicando ao instrumento.
Suzuki voltou ao Japão como o instrumentista que desejava ser, mas foi o
cenário do pós-guerra que o tornou notório como professor de violino. Alguns anos
antes disso, um pai pediu para Suzuki ensinar seu filho a tocar violino, mas a criança
era muito nova, tinha somente quatro anos, foi quando Suzuki teve a epifania de que
poderia ensinar violino da mesma maneira que uma criança aprende a falar sua
língua materna. Quando as crianças aprendem sua língua mãe, desde antes de
falarem, passam por um exercício ininterrupto de ouvir as pessoas ao seu redor
conversarem, os familiares e cuidadores sempre incentivam sem repreender erros e
mostrando com parcimônia e amor a maneira correta de se comunicar. Suzuki
14
propôs um processo de ensino de música similar, antes de tocar a criança deve ouvir
música, deve ver pessoas íntimas ouvindo música e praticando os instrumentos,
deve ser incentivada com amor, ter contato com o instrumento para “brincar” e o
explorando com liberdade, de forma que o contato com o instrumento seja divertido
e tão natural quanto uma conversa. Existem dois outros aspectos críticos, o primeiro
é que a criança primeiro desenvolve a habilidade de falar, apenas depois disso ela é
alfabetizada, o segundo é a produção sonora em grupo, assim, os alunos ajudam-se
mutualmente e são incentivados à produção musical.
O método alcançou um enorme sucesso na Escola de Música de Matsumoto,
fundada com o objetivo de ajudar na reconstrução do país, e se espalhou por toda a
região. Em 1964 Suzuki viajou com alguns de seus estudantes para uma série de
concertos e conferências nos Estados Unidos para mostrar seu trabalho com as
crianças, foi a partir desses eventos que o método Suzuki ganhou notoriedade por
todo o mundo.
Apesar das pessoas olharem as “crianças Suzuki” com gênios, apenas cerca
de cinco por cento delas seguem uma carreira musical (SUZUKI, 2008, p. 139). Além
disso, Suzuki explica que o objetivo do método não é formar intérpretes, é formar
“bons cidadãos" (2008, p. 139).
Por fim, é essencial entender que o método leva em consideração a
organização social japonesa do meio do século XX e, por causa disso, pode não
reproduzir os mesmos resultados em uma sociedade distinta, como a brasileira.
Repertório Suzuki
Uma das formas propostas para quebrar a barreira elitista da música, similar
ao que Paulo Freire(2014) defende na pedagogia, é partir da cultura do aluno.
Assim, ao invés de usar músicas folclóricas europeias nos estágios iniciais do
aprendizado pelo método Suzuki, poderíamos propor outros gêneros musicais de
fácil acesso, espaço esse capaz de ser preenchido pelo Pop sem dificuldades.
Entretanto, é imprescindível ter cuidado para não cair em um comportamento
de rejeição da cultura erudita e criar “guetos culturais” (PENNA, 2015), pois, sem
explorar tópicos novos, o aluno ainda estaria segregado e a educação não cumpriria
seu papel como força equalizadora. Logo, a ideia é usar a música Pop para criar
elos entre o cotidiano do aluno e a música erudita. Consequentemente:
Suzuki e o risco
Ser um bom cidadão é recorte
de interesses políticos
Apesar de ser um objetivo vago e Suzuki também não definir o que é “ser um
bom cidadão”, podemos conceber uma noção genérica de que um “bom cidadão” é,
em resumo, um indivíduo que vive conforme as normas estabelecidas pelo estado,
como: Cumprir todas as leis e a constituição, não ferir os direitos de outras pessoas,
contribuir com os tributos devidos e apoiar o progresso da nação.
Já os objetivos das artes na educação básica definidos por Penna são:
“Ampliar o alcance e a qualidade da experiência artística dos alunos, contribuindo
para uma participação mais ampla e significativa nas culturas socialmente
produzidas” (PENNA, 2015, p. 99).
Visto que um dos deveres do indivíduo é apoiar o progresso da nação, é
possível concluir que os objetivos citados por Penna contribuem para a formação de
um “bom cidadão" ao qual Suzuki aspira. Sendo assim, iremos trazer para discussão
o livro “A música e o risco” de Rose Satiko Hikiji para reforçarmos o tópico de como
a música pode transformar indivíduos em “bons cidadãos”.
Ser considerado um “cidadão” seria algo cobiçado por muitos pois é a
comprovação de pertencer à sociedade e não estar marginalizado por ela. Todavia,
ser “cidadão” não é um “prêmio” a ser conquistado, é um direito de todos.
Hikiji aborda situações e reflexões sobre alunos de música participantes em
projetos sociais de ensino de música, mais especificamente os polos Mazzaropi e
FEBEM (atual fundação CASA) do Projeto Guri.
De acordo com Elizabeth Parro, o objetivo do Projeto Guri não é a formação
de músicos, mas “mostrar para a criança uma condição de vida melhor” (HIKIJI,
2006, p.65). Tal afirmação é evidentemente similar ao proposto por Suzuki. Além
disso, é bom lembrar que um dos motivos que alavancou o sucesso de Suzuki foi a
utilização do método para contribuir na reconstrução do Japão durante o pós-guerra,
portanto, há um elo entre a filosofia Suzuki e a utilização da música com indivíduos
em situação de risco, semelhante aos acontecimentos narrados por Hikiji.
Como o Projeto Guri não tem caráter profissionalizante, ouviu muitas críticas
acerca de sua utilidade porque a música é vista como uma atividade ociosa,
geralmente para a elite que tem o capricho e o prazer de poder gastar seu tempo em
atividades não utilitárias, então, seria um desperdício para a classe trabalhadora que
deveria estar engajada apenas em melhorar sua produtividade com cursos
20
Hikiji examina durante uma das cenas observadas numa apresentação dos alunos
do polo FEBEM do Projeto Guri.
Enquanto esses alunos estavam performando em cima do palco, eles foram
ovacionados e tratados como artistas com valor cultural dentro da sociedade, mas
logo após saírem para a coxia voltaram a ser infratores e não recebiam mais essa
validação, sendo novamente segregados. Por um momento a prática musical
mobilizou mecanismos de socialização, de criação de identidades, reforçou
sentimentos de pertencimento, ampliou horizontes espaciais e alteridades (HIKIJI,
2006, p. 97), construindo também a apropriação da arte na deselitização proposta
por Penna (2015).
Hikiji finaliza a sua discussão sobre cidadania com o termo “protagonismo
juvenil”, arquitetado por pesquisadores da Unesco para definir a “participação dos
jovens nos contextos em que estão inseridos, no sentido de co-organização, de
propostas de caminhos, para a concretização da condição da cidadania”. Para a
autora, o Projeto Guri restringia a participação dos alunos nos processos e propõe
que seus anseios fossem ouvidos.
Se voltarmos a pensar na filosofia Suzuki para o “protagonismo juvenil”,
parece que esse também tem falhas. É possível que as crianças encontrem o
mesmo sentimento de pertencimento de grupo e é justo conceber que o método
reforça a posição do indivíduo como cidadão, mas, infelizmente, não foram
encontradas fontes que discutissem o impacto do método Suzuki na sociedade
japonesa para apoiar essa afirmação.
Couto (2009) faz uma análise muito boa do caminho feito pela música popular
na educação formal de música. Para a autora, a música popular foi por muito tempo
ignorada dentro do contexto da educação formal de música, sendo assim, os
músicos populares tiveram, em sua maioria, um caminho diferente dos músicos
eruditos. Assim, a teoria musical não teria a mesma importância do que o fazer
musical e, em vários casos, a transmissão de conhecimento acaba sendo por meio
oral ou “tiradas de ouvido” por tentativa e erro, ao invés de ser por meio do estudo
de uma partitura, por exemplo.
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Conclusão
Referências
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