Science">
Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Artigo FIOCRUZ Resiliência Na Juventude

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 107

Resiliência na adolescência:

Uma reflexão sobre o potencial de superação de problemas em meninos e meninas

Laila Bom Rozemberg

Dissertação apresentada à Pós-


Graduação em Saúde Pública com vistas à
obtenção do título de Mestre em Ciências na
área de Saúde Pública

Orientadora: Profª. Drª. Joviana Avanci

Coorientadora: Profª. Drª. Miriam Schenker

Rio de Janeiro, dezembro de 2013.


PÁGINA DA FICHA CATALOGRÁFICA

2
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Dus, pelos caminhos certos em linhas tortas...

Às minhas orientadoras, Joviana e Miriam, por toda orientação e apoio ao longo desta

caminhada, pelas contribuições e disponibilidade.

Aos meus pais e irmãos, por TUDO até aqui e depois... Aos meus avós, os mais lindos

do mundo!!!!

Às amigas da turma de mestrado, Manoela, Samantha e Elaine que puderam

contribuir tanto, cada uma a seu modo e ao seu tempo, Ritinha com muito pouco

tempo para tamanho carinho e apoio. Obrigada por compartilhar essa jornada.

Aos amigos da vida que me ensinam e ajudam tanto, sem os quais a vida seria sem

dúvidas tão mais difíceis e sem cor.

Ao meu cão paixão, Pantaii, que me tira de casa e me leva pra passear, obrigada por

arejar meus pensamentos.

E ao Gustavo, meu amor, por incentivar e dar asas aos meus sonhos.

3
Veja!
Não diga que a canção
Está perdida
Tenha fé em Deus
Tenha fé na vida
Tente outra vez!(Raul Seixas, 1945 – 1989)

4
RESUMO

A dissertação apresenta dados inéditos de um estudo transversal realizado pelo Centro

Latino Americano de Estudos de Violência e saúde Jorge Careli – CLAVES. A partir

de uma abordagem quantitativa, o estudo tem como objetivo identificar as diferenças

do potencial de resiliência de adolescentes do sexo feminino e masculino, a partir da

investigação dos fatores familiares e comunitários. A metodologia se baseia na análise

de dados de um inquérito epidemiológico que contou com a participação de 889

adolescentes do 9º ano de escolas públicas e particulares de um município da região

metropolitana do Rio de Janeiro, selecionados por amostragem. Variáveis sócio-

demográficas individuais, da família (dentre os quais a violência familiar) e da

comunidade são estudadas segundo o potencial de resiliência dos adolescentes. As

variáveis são analisadas por modelos de regressão logística, tendo a resiliência como

variável desfecho e sexo como efeito modificador, incluído como um termo de

interação no modelo, tendo como nível de significância de 5%. Os resultados estão

apresentados na forma de dois artigos científicos. Verifica-se que a presença de

depressão no adolescente, um relacionamento difícil com a mãe ou madrasta, a

ausência de supervisão familiar, além da baixa utilização de estratégias de coping de

distração, coping ativo e de suporte são fatores familiares associados ao baixo

potencial de resiliência. As variáveis morar amontoado e ter relacionamento difícil

com os irmãos se mostram nocivas apenas ao potencial de resiliência das meninas. Já

as variáveis relacionadas à resiliência e comunidade mostram que os diferentes tipos

de apoio social oferecidos pela comunidade influenciam positivamente o potencial de

resiliência de adolescentes, enquanto que fatores relacionados à depressão e à falta de

satisfação com a vida possuem estreita relação com o baixo potencial de resiliência

5
dos adolescentes. É de fundamental importância que programas e políticas públicas

enfatizem a proteção da população de crianças e adolescentes como forma de

prevenção dos problemas de saúde mental e promoção da saúde, enfocando as

particularidades do gênero.

Palavras-chave: resiliência, gênero, adolescente.

6
ABSTRACT

Key-words: resilience, gender, adolescent

The dissertation presents unpublished data from a cross-sectional study by the Latin

American Center for the Study of Violence and health Careli Jorge - CLAVES. From

a quantitative approach, the study aims to identify differences in the resilience

potential of adolescent girls and boys, from the research of family and community

factors. The methodology is based on analysis of data from a survey that included the

participation of 889 adolescents in 9th grade from public and private schools in a

municipality in the metropolitan region of Rio de Janeiro, selected at random.

Individual socio-demographic variables, family (among which family violence) and

community are studied according to the resilience potential of adolescents. The

variables are analyzed by logistic regression models, and resilience as the outcome

variable and sex as a modifier effect, included as an interaction term in the model,

with the significance level of 5%. The results are presented in the form of two papers.

It is found that the presence of depression in adolescents, a difficult relationship with

her mother or stepmother, the lack of family supervision, and the low use of coping

strategies of distraction, active coping and supportive family factors are associated

with low potential resilience. Variables such as live huddle or have difficult

relationships with brothers show only harmful to the resilience potential of girls. The

variables associated with resilience and community show that different types of social

support offered by the community positively influence the potential resilience of

adolescents, whereas factors related to depression and lack of satisfaction with life

have close relationship with low potential resilience of adolescents. It is vital that

7
programs and policies emphasize the protection of the population of children and

adolescents for prevention of mental health problems and health promotion, focusing

on the particularities of the gender.

8
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10  

2. OBJETIVO GERAL DA DISSERTAÇÃO ......................................................... 16  

3. QUADRO TEÓRICO ............................................................................................ 17  

3.1. Resiliência: conceitos e aspectos desenvolvimentais .................................... 17  

3.2. Fatores individuais, familiares e sociais associados ao potencial de

resiliência em crianças e adolescentes .................................................................. 21  

3.3. Resiliência e gênero ......................................................................................... 26  

4. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................. 32  

4.1 Contexto do estudo ........................................................................................... 32  

4.2 Amostra ............................................................................................................. 34  

4.3 Instrumentos ..................................................................................................... 35  

4.4 Considerações éticas ........................................................................................ 43  

5. RESULTADOS ...................................................................................................... 45  

5.1 – Artigo 1: Resiliência, gênero e família na adolescência ............................. 45  

5.2 – Artigo: Aspectos individuais e comunitários associados relacionados à

resiliência em adolescentes .................................................................................... 59  

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 97  

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 101  

9
1. INTRODUÇÃO

Esta dissertação denominada “Resiliência na adolescência: Uma reflexão sobre o

potencial de superação de problemas em meninos e meninas” é parte de uma pesquisa

desenvolvida pela equipe do Centro Latino Americano de Estudos de Violência e

Saúde Jorge Careli da Fundação Oswaldo Cruz (CLAVES/FIOCRUZ), onde o foco

da investigação era o transtorno de estresse pós-traumático. O estudo foi desenvolvido

em 2010 em escolas públicas e particulares do município de São Gonçalo no Rio de

Janeiro e contou com o apoio do CNPq.

Neste trabalho o enfoque é dado aos fatores que diferenciam o potencial de

resiliência em meninos e meninas na fase da adolescência. Nesse contexto, além de

investigar as diferenças que emergem ao longo do processo de desenvolvimento do

potencial de resiliência de adolescentes do sexo feminino e masculino, buscou-se

verificar ainda os elementos presentes na comunidade e na família que também são

incrementadores deste processo.

A motivação para buscar este tipo de conhecimento no campo científico, parte

das inquietações suscitadas pela minha prática clínica em serviços de atendimento às

crianças e adolescentes, como o Centro de Atendimento Psicossocial Infanto-Juvenil

intitulado Centro de Atenção e Reabilitação da Infância e Mocidade (CAPSi CARIM)

e; o Núcleo de Atenção à Violência (NAV), Organização da Sociedade Civil de

Interesse Público (OSCIP), que tem como objetivo intervir em situações de violência

doméstica e risco social. No decorrer do trabalho junto a essas equipes, constatei que

as marcas deixadas pelas adversidades sofridas por aquelas crianças ou jovens não

10
possuíam uma relação de proporção ou de lógica com os eventos sofridos e, aos

poucos percebi na prática, a grandeza e a verdade contida nos conceitos construídos e

desconstruídos pelo curso de psicologia.

A minha inserção e participação na pesquisa original foi um grande estímulo

para a busca por respostas para as questões que emergem da prática. A escolha por

realizar este trabalho sob a ótica da Saúde Pública parte da aposta de que o trabalho

junto às instituições públicas é possível e indispensável para a população. O potencial

de resiliência representa um desafio no campo da promoção da saúde e prevenção de

doenças e o estudo buscou refletir e discutir sobre os elementos que influenciam a

superação de adversidades.

Estudos e pesquisas acerca do tema da resiliência buscam compreender por

que, diante de situações adversas, alguns indivíduos se desenvolvem

satisfatoriamente, mostrando uma capacidade de superação e a ressignificação do fato

ocorrido em sua história, enquanto outros sucumbem às situações difíceis,

desenvolvendo patologias ou trilhando um caminho negativo ao longo da vida

(Luthar, 2000; Grotberg, 2005; Werner, 2006). A complexidade deste constructo

envolve a interação dos eventos de vida adversos e fatores de proteção internos e

externos ao indivíduo, que responderá aos eventos ocorridos em sua vida de acordo

com os recursos subjetivos desenvolvidos ao longo de sua história.

As características da família de cada indivíduo têm uma influência

significativa no seu desenvolvimento psicossocial, com implicações para a infância,

adolescência e ao longo da vida adulta. Monteiro & Maia (2009) afirmam que, de

acordo com a perspectiva do desenvolvimento, quanto mais cedo o sujeito for exposto

à violência ou a formas de cuidado inadequadas, maiores consequências negativas ao

11
seu desenvolvimento são esperadas. É amplamente aceito na literatura que as diversas

formas de abuso e maus tratos no ambiente familiar têm impacto significativo no

desenvolvimento infantil e em seu potencial de resiliência (Malinosky-Rummel &

Hansen, 1993; Cardoso & Maia, 2006; Schenker & Minayo, 2005)

Embora a definição do conceito de resiliência pareça relativamente simples, o

sentido do fenômeno e o seu significado psicológico não são dados por uma equação

onde a soma de elementos protetivos e eventos adversos possa ser equilibrada

matematicamente. Resiliência é “um conceito fácil de entender, mas difícil de definir

e impossível de ser medido ou calculado exaustivamente” (Rodriguéz, 2005 p.127).

Essa afirmação denota a dificuldade que existe em se fazer ciência a partir de

fenômenos subjetivos e, portanto, aponta para um campo que a todo tempo se mostra

movediço e desafiante.

Nas Ciências Humanas e da Saúde, o conceito tem sido utilizado para

representar a capacidade de um indivíduo ou grupo de indivíduos, frente a uma

situação de adversidade, construir-se ou reconstruir-se positivamente, ainda que em

um ambiente desfavorável. O conceito de resiliência não está referido a um termo

concreto e imutável, mas sim a um processo que se passa entre o indivíduo e o meio,

ou seja, não se pretende estudar algo estático, mas a relação existente entre os eventos

de vida adversos e as possibilidades de superação dos mesmos (Godoy, 2011).

Hoje é sabido que a resiliência envolve processos sociais e intrapsíquicos que

estão constantemente se transformando, dependendo do grau de maturidade e

experiência individual. A resiliência como característica de uma pessoa, deve ser

relativizada e compreendida a partir de um amplo conjunto de elementos intrínsecos e

extrínsecos ao sujeito. A forma como cada um percebe e elabora as situações que vive

12
é sempre singular, pois cada indivíduo possui um sistema próprio de representações e

significados específicos (Assis, 2008), fruto de suas experiências passadas e das

projeções que pode fazer a partir daquilo que lhe ocorre. Neste sistema de

significados estão os códigos sociais que trazem, entre outras, as informações

referentes ao gênero que os sujeitos expressam ao longo de seu desenvolvimento.

Quando falamos de gênero, não pretendemos negar as evidências biológicas

implicadas no processo de desenvolvimento do sexo geneticamente disposto, mas sim

destacar o aspecto sociocultural de sua construção. As aparências biológicas e os

efeitos da expressão dos genes são submetidos a um longo trabalho coletivo de

socialização dos componentes biológicos e de biologização do social (Bourdieu,

1982).

Contudo, existe na sociedade uma ideia naturalizada do constructo de gênero.

Esta noção não costuma levar em conta o processo de subjetivação envolvido nesta

construção. A definição dos gêneros não está colocada a priori. Ao longo de seu

desenvolvimento, na construção da subjetividade, poderá ocorrer a internalização das

normas sociais que determinam o que é ser um homem ou uma mulher.

Nesta lógica, o sociólogo francês Pierre Felix Bourdieu afirma que devemos

admitir que o discurso de gênero não é apenas uma mensagem destinada a ser

decifrada; mas também um produto que colocamos à apreciação de outros e cujo valor

se definirá na sua relação com o meio em que vive (Bourdieu, 1982). Dito em outras

palavras, ao sexo biologicamente determinado são atribuídos diferentes significados,

que fundamentam o que deve ser adequado e inadequado para cada um. Esta é uma

questão fundamental para se discutir as consequências e implicações que concernem

ao gênero masculino e feminino, inclusive no enfrentamento das adversidades.

13
Assumir os padrões de gênero prototípicos pode interferir negativamente na

saúde dos indivíduos. É preciso considerar que as regras de papel de cada gênero

mudam em diferentes contextos sociais e momentos da vida. As mudanças

socioculturais e tecnológicas atuais, por exemplo, passam a exigir um

redimensionamento do que pode ser considerado como conduta apropriada de cada

gênero (Taquette, 2004; Bussey & Bandura, 1999).

Ao entender a resiliência como resultado de um conjunto de processos sociais

e intrapsíquicos complexos e multideterminados, o gênero – masculino e feminino –

apresenta-se como uma variável importante a ser estudada, por ampliar a

compreensão deste fenômeno. Ao longo do desenvolvimento, meninos e meninas

tornam-se progressivamente diferentes, não apenas em termos de maturação orgânica,

como também em termos de habilidades sociais e cognitivas, de atitudes e

comportamentos, no modo como vivenciam os afetos, em virtude, sobretudo das

aprendizagens relacionadas aos papéis de gênero em sua cultura (Ripar, 2008).

Este projeto tem como objeto o estudo dos aspectos individuais, familiares e

sociais que diferenciam o potencial de resiliência das meninas e dos meninos

adolescentes. Com isso, parte-se do pressuposto de que esses fatores impactam

diferentemente o potencial de resiliência em meninas e em meninos na fase da

adolescência. Sendo assim, o objetivo principal do trabalho é investigar fatores

individuais, familiares e sociais relacionados à diferenciação do desenvolvimento do

potencial de resiliência em meninos e meninas na fase da adolescência em alunos de

escolas do município de São Gonçalo – Rio de Janeiro.

Pretende-se, a partir dos dados obtidos, produzir conhecimento que possa

subsidiar ações de profissionais da saúde que atuem junto às crianças e adolescentes,

14
sob a ótica da prevenção de doenças e promoção da saúde, bem-estar e da qualidade

de vida de indivíduos e sociedades.

15
2. OBJETIVO GERAL DA DISSERTAÇÃO

Investigar fatores individuais, familiares e sociais relacionados à diferenciação

do desenvolvimento do potencial de resiliência em meninos e meninas na fase da

adolescência em alunos de escolas do município de São Gonçalo – Rio de Janeiro.

A dissertação será apresentada na forma de um artigo científico e um capitulo

de livro, cujos objetivos serão destacados a seguir:

Artigo: Resiliência, gênero e família na adolescência. Tem como objetivo analisar a

relação entre os elementos presentes nas relações dos adolescentes com seus

familiares e seu impacto no potencial de resiliência em meninos e meninas na fase da

adolescência.

Capítulo de livro: Aspectos individuais e comunitários relacionados à resiliência

em adolescentes. Tem como objetivo abordar a vida na comunidade, segundo às

questões de gênero, e suas implicações para a adolescência. Buscando refletir sobre

estratégias eficazes de intervenção para a promoção de saúde junto a esta população.

16
3. QUADRO TEÓRICO

3.1. Resiliência: conceitos e aspectos do desenvolvimento

O termo resiliência foi tomado do campo da Física e da Engenharia, sendo

definido como a capacidade de um corpo físico voltar ao normal depois de ter havido

uma pressão sobre si. Seria, portanto, a capacidade de um material absorver energia

sem sofrer deformação plástica permanente. Nos materiais, o módulo de resiliência

pode ser obtido em laboratórios através de medições sucessivas ou da utilização de

uma fórmula matemática que relaciona tensão e deformação e fornece com precisão a

medida da resiliência de cada material, sendo possível constatar empiricamente que

diferentes materiais apresentam diferentes módulos de resiliência (Yunes, 2001). Já a

resiliência, enquanto conceito do campo da psicologia, não pode ser precisamente

medida ou tão suscintamente conceituada.

O conceito de resiliência vem evoluindo ao longo das últimas décadas. A

primeira geração de pesquisadores que se debruçou sobre o tema buscou identificar os

fatores de risco presentes no desenvolvimento de crianças e jovens que se adaptam

positivamente, apesar de viverem em condições de adversidade. Um marco desta

geração foi o estudo prospectivo de coorte conhecido como Kauiai Longitudinal

Study (Werner & Smith, 1977, 1982, 1993), iniciado em 1955 por uma equipe

interdisciplinar de profissionais da saúde. O objetivo era acompanhar durante 32 anos

o desenvolvimento de 698 crianças nascidas naquele ano no Havaí e que estavam

expostas a sérias adversidades, tais como pobreza, estresse perinatal e cuidados

familiares deficientes. O estudo consistiu em identificar os fatores que diferenciavam

17
aqueles que conseguiram conduzir suas vidas de maneira positiva daqueles que

assumiram condutas de risco ou que desenvolveram psicopatologias.

No desenvolvimento histórico dessa primeira geração de pesquisadores,

começa-se a ampliar o foco de pesquisa, que se desloca de um interesse em atributos

pessoais para um interesse no estudo dos fatores externos aos indivíduos, tais como,

o nível socioeconômico, a estrutura familiar, a presença de adulto significativo

próximo e de referências de identificação.

Já a segunda geração de pesquisadores, que começou a publicar na década de

1990, passou a se perguntar quais eram os processos associados a uma adaptação

positiva, já que a pessoa viveu ou vive em condições de adversidade (Infante, 2001).

Dos pioneiros na noção dinâmica da resiliência, Michael Rutter (1993) propôs o

conceito de mecanismos protetores e Edith Grotberg (1997) trouxe a ideia de que os

fatores de resiliência interagem dinamicamente.

Dessa forma, podemos dizer que a resiliência refere-se à capacidade dos seres

humanos enfrentarem e responderem, de forma positiva, às experiências que possuem

elevado potencial de risco para a saúde e o desenvolvimento do indivíduo. Trata-se,

portanto, de um fenômeno complexo, atrelado à interdependência entre os múltiplos

contextos com os quais o sujeito interage e cuja presença é observada, com mais

clareza, quando o ser humano está passando por uma situação adversa, seja esta de

caráter temporário ou constante em sua vida. (Silva, 2003).

Autoras como Junqueira e Deslandes (2003) compreendem a resiliência como

a capacidade do sujeito lidar com a adversidade, em determinados momentos e de

acordo com as circunstâncias, não sucumbindo a ela. Elas alertam para a necessidade

de se relativizar, em função do indivíduo e do contexto, o aspecto de superação de

18
eventos potencialmente estressores. Acreditam que o termo resiliência traduz

conceitualmente a possibilidade de superação num sentido dialético, constituindo-se

numa ressignificação do problema e não na sua eliminação.

Melillo (2005) aborda as diferentes definições do conceito de resiliência,

enfatizando características do sujeito resiliente, tais como: habilidade, adaptabilidade,

baixa suscetibilidade, enfrentamento efetivo, resistência à destruição, condutas vitais

positivas, e habilidades cognitivas, que lhe permitem atravessar e superar momentos

de adversidade.

No entanto, é importante fazer uma ressalva para o fato de que o conceito de

resiliência é bastante diferente da ideia de invulnerabilidade. A resiliência refere-se à

capacidade de enfrentar e responder de forma positiva às adversidades e suas

consequências negativas em potencial. Não significa que a pessoa não experimente o

estresse ou que não seja atingida pela situação adversa. Pelo contrário, o sujeito

resiliente conserva as possíveis marcas de tal situação, seja na memória ou em seus

sentimentos, no entanto é capaz de se recuperar porque encontra o suporte que o

permite prosseguir, delineando uma trajetória que pode ser considerada positiva

(Silva, 2003).

Compreende-se que o desenvolvimento humano e o potencial de resiliência

estão atrelados. Os atributos básicos ao desenvolvimento da resiliência fazem parte de

todas as fases do ciclo vital, sendo que cada uma delas passa por diferentes

metamorfoses do potencial de resiliência. Nos primeiros anos, a resiliência é fácil,

todavia frágil. Conforme as reações do meio, as centelhas de resiliência poderão se

apagar, se desviar ou se reforçar até se constituírem numa sólida maneira de agir

(Cyrulnik, 2004).

19
O potencial de resiliência de uma pessoa começa a ser desenvolvido durante a

gestação por meio das expectativas e desejos que o bebê desperta na mãe e no núcleo

familiar. Nos primeiros meses e anos de vida, o cuidado e afeto dedicados à criança

são fundamentais para o desenvolvimento saudável e a formação da capacidade de

resiliência. Neste período o significado dos limites e o sentimento de confiança

também são formados (Assis, 2008).

A partir da entrada da criança na creche ou na escola, ampliam-se as

possibilidades de espaços de socialização, com isso ela passa a contar com um

circuito mais amplo de pessoas, com a troca entre pares e com o educador, que pode

assumir um papel fundamental no desenvolvimento da resiliência. A criança nessa

fase busca conquistar um espaço e sentir-se pertencente a ele. Este espaço também

será palco de reconhecimento dos limites impostos pelo mundo e pelo outro, sendo

importante para a capacidade da criança de tolerar as frustrações da vida.

A segunda fase da infância, iniciada aos oito e terminada com o início da

puberdade, por volta dos onze anos, é um período de importantes mudanças

biológicas e emocionais. Neste momento, os pares assumem um papel importante e o

pré-adolescente tende a buscar maior independência dos pais, uma vez que seu

repertório de habilidades específicas já é mais complexo, possibilitando assim este

afastamento.

Com a entrada na adolescência há uma ampliação da gama de afetos e também

de conflitos. Surgem novos processos de identificação e uma redefinição de papéis,

onde é comum haver desajustes consigo mesmo e uma maior necessidade de

afirmação pessoal. As relações amorosas são valorizadas e o sentimento de confiança

é instável (Assis, 2008).

20
Há também nesta fase a busca pela autonomia e independência em relação à

família, determinante para enfrentarem, por si mesmos, os obstáculos da vida. Para

tanto, os adolescentes precisam contar com fatores protetivos para contrabalancear os

conflitos com os pais, as relações amorosas e o frágil sentimento de confiança que

podem vir a surgir (Assis, 2006).

As diversas questões que emergem ao longo do desenvolvimento de um

adolescente são fundamentais para a construção do conhecimento acerca da

resiliência. Neste período de transição entre a infância e a idade adulta, o adolescente

é atravessado por uma série de questões importantes para a construção de sua

identidade. A resiliência, assim como a adolescência não é um constructo estático,

mas um conjunto de constructos que se movem ao longo do tempo sócio-histórico.

21
3.2. Fatores individuais, familiares e sociais associados ao potencial de

resiliência em crianças e adolescentes

Para melhor analisar a gama de condições adversas que pode afetar a

capacidade de resiliência de crianças e adolescentes, é importante refletir sobre os

fatores de risco1 e os fatores de proteção, que em oposição ao risco, seriam elementos

que favorecem o desenvolvimento sadio de crianças e jovens (Sapienza &

Pedromônico, 2005).

De acordo com Bronfenbrenner e Evans (2000) o aumento dos fatores de risco

presentes nas comunidades, como a violência e a pobreza, interferem no

desenvolvimento e adaptação dos indivíduos que ali vivem. Os riscos que a

comunidade oferece, especialmente aquelas onde os níveis de desenvolvimento é

ainda precário, são fatores citados pela literatura como riscos ao desenvolvimento da

população ali presente. (Assis, 2006; Garbarino & Pardo,1992; Pesce, Assis & Santos,

2004).

Condições de pobreza, rupturas ou perdas na família, vivência de algum tipo

de violência, experiências de doença, abandono, maus tratos, dentre outros, são alguns

exemplos de fatores considerados de risco para o desenvolvimento de crianças e

adolescentes.

Algumas circunstâncias de vida são entendidas como fatores de risco para o

desenvolvimento humano, podendo interferir negativamente na história de vida de

crianças e adolescentes. Dentre estas circunstâncias a vitimização provocada por

conflitos armados, guerras e catástrofes naturais, além de abuso físico, psicológico e


1
Fator de risco é definido pela epidemiologia como situação que aumenta a probabilidade de
ocorrência de uma doença, agravo à saúde.
22
sexual, negligência, bem como a ocorrência de doenças e perdas de pessoas queridas,

conflitos familiares entre outros são eventos considerados adversos e que podem vir a

gerar traumas (Assis et al, 2008).

Viver em precárias condições socioeconômicas é outro fator de risco para o

desenvolvimento infanto-juvenil muito salientado pela literatura nacional e

internacional, uma vez que se associa à subnutrição, privação social e desvantagem

educacional.

No entanto, nem toda adversidade gera necessariamente uma vulnerabilidade

para o indivíduo. O que já se sabe é que alguns indivíduos, por diferenças físicas,

psíquicas e sociais, são mais suscetíveis ou vulneráveis a esses eventos, quando

comparados a outros na mesma situação de risco. Rutter (1987) salienta que a

resiliência é uma “variação individual em resposta ao risco”, e afirma “que os

mesmos estressores podem ser experienciados de maneira diferente por diferentes

pessoas” (pag. 119).

É importante lembrar que, ainda que os estudos sobre fatores de risco tenham,

inicialmente, examinado esses fatores como eventos estáticos, análises mais

sofisticadas sugerem que o risco é um processo, e que, por exemplo, o número total

de fatores de risco a que um indivíduo foi exposto, o momento e o período de tempo

da exposição ao risco podem gerar maiores consequências do que uma única

exposição grave (Pesce, 2004). Para Kaplan (1999), é a combinação entre a natureza,

a quantidade e intensidade dos fatores de risco o que define o contexto da adversidade

necessária para a resiliência. Por essa razão, um evento pode ser enfrentado como

perigo por um indivíduo e para outro, ser apenas um desafio (Yunes, 2001).

23
A habilidade de significar positiva ou negativamente as dificuldades

enfrentadas na vida é um tema complexo. Para compreender a engenharia pela qual as

adversidades da vida se articulam ao comportamento humano, é necessário refletir

sobre mecanismos e processos de risco, sejam eles biológicos, psicológicos,

socioculturais, além de sua inserção no tempo e na história individual de cada um dos

sujeitos (Assis, 2008).

Neste contexto é importante considerar ainda os elementos protetivos

incorporados nesta história, permitindo que o sujeito mantenha seu ciclo de

desenvolvimento positivo, apesar das circunstâncias hostis enfrentadas. Os fatores de

proteção, segundo Polleto & Koller (2006), são aqueles que, numa trajetória de risco,

modificam o rumo da vida do sujeito para um final mais favorável e adaptado.

O mecanismo de proteção que um indivíduo dispõe internamente ou que capta

do meio em que vive são elementos cruciais para estimular o potencial de resiliência

ao longo da vida. Fatores de proteção são descritos como recursos pessoais ou sociais

que atenuam ou neutralizam o impacto do risco (Eisenstein & Souza, 1993).

A possibilidade de enfrentar fatores de risco e de aproveitar os fatores

protetores torna o indivíduo com maior potencial de resiliência (Grünspun, 2003). A

capacidade de encontrar significado positivo para as adversidades que sofrem é outra

característica comum em pessoas resilientes, essa capacidade atua também como

componente de proteção intrínseco.

A base familiar é um fator de proteção considerado muito importante para o

desenvolvimento da criança, sendo um dos fatores protetores mais citados na

literatura (Rutter, 1971; Bowlby, 1990; Garmezy, 1991; Werner & Smith, 2001;

Schenker & Minayo, 2005). É o primeiro ambiente em que o indivíduo irá se

24
reconhecer como pertencente. A construção e o fortalecimento de sua subjetividade

ocorrem a partir destes vínculos afetivos experimentados no seio familiar e são

fundamentais para as experiências posteriores em diversos outros ambientes que vão

sendo conquistados ao longo do desenvolvimento da criança (Assis, 2008). A escola e

a comunidade surgem em um segundo momento, onde o sujeito é lançado ao convívio

social.

A escola pode servir como fator de proteção, quando seu ambiente acolhe e

trabalha valores como respeito, extinção de preconceitos, a valorização da autoestima

e do diálogo. A comunidade escolar deve ser, sobretudo, um espaço de proteção e de

promoção da cultura de paz. O desenvolvimento e a autoconfiança dos alunos

crescem quando a escola cria um ambiente que possibilita a construção do

conhecimento humanizado e não meramente técnico (Assis, 2008).

O ambiente comunitário é um componente fundamental para a compreensão

dos processos envolvidos na promoção da resiliência de adolescentes, juntamente com

o suporte familiar, a escola e a história singular de cada um. O ambiente comunitário

considerado é aquele espaço próximo às moradias da população (Assis e Marriel,

2010).

A proteção que a comunidade pode oferecer é um elemento chave para o

desenvolvimentos de seus indivíduos, em especial os adolescentes, que ao adquirirem

maior independência, ampliam seus domínios para além do seio familiar e dessa

forma são submetidos a um campo cultural e a uma rede de relações maiores. Tais

elementos passam a fazer parte da identidade em formação e possui importantes

implicações para o desenvolvimento. A importância de estudar o espaço comunitário

25
que cerca o adolescente respalda-se no fato que a atuação no macro ambiente se

reflete nas micro redes de relação em que as pessoas estão inseridas neste espaço.

26
3.3. Resiliência e gênero

Meninas e meninos podem ser parecidos em alguns pontos, no entanto existem

importantes diferenças biológicas e comportamentais entre os dois gêneros (Sagrozek,

2012). Essas diferenças entre os gêneros são evidentes, no entanto se apresentam mais

como tendências. Cada sujeito tem sua maneira singular de funcionar e existir, seja

menino ou menina, sendo assim, a naturalização das construções dicotômicas e a

discriminação como uma forma de enquadramento do ser menino e do ser menina

devem ser evitadas.

A neurocientista Lise Eliot, autora do livro Cérebro azul ou rosa (2012),

afirma que o pleno desenvolvimento das características mentais conhecidas como

femininas ou masculinas depende, em grande parte, da imersão automática que a

criança sofre na cultura feminina ou masculina e não apenas dos hormônios e

diferenças genéticas.

Eliot afirma ainda que, ao contrário do que vem sendo exposto pela mídia, os

cérebros masculinos e femininos são muito semelhantes, apesar das diferenças

conhecidas em circuitos de processamentos sensorial, memória e de linguagem, bem

como diferenças observadas no lobo frontal. De fato, o elemento determinante das

diferenças entre o cérebro masculino e o feminino é conhecido pela neurociência

como plasticidade neural. Este termo engloba as mudanças que ocorrem no cérebro

em resposta às experiências vividas e explica de que maneira homens e mulheres se

diferenciam a partir da noção de gênero que vão experimentando ao longo de suas

vidas.

27
A plasticidade neural é a base de toda aprendizagem. Na infância o cérebro é

ainda mais plástico do que em qualquer outra fase da vida. Realizar ações como

calcular, ler, correr, cantar, chorar são atividades que criam redes neurais no cérebro

humano (Callegaro, 2007; Oliva, 2009). Considerando as diferenças entre meninos e

meninas e ainda a força que as experiências iniciais com as questões de gênero

possuem sobre os trilhos que traçam caminhos neuronais, seria muito incoerente se os

cérebros dos dois sexos não apresentassem diferenças na vida adulta.

Com isso, é possível observar ao longo do levantamento bibliográfico

realizado, que os próprios cientistas já não polarizam mais este debate, mas percebem

o entrelaçamento direto dos componentes genético-fisiológicos e do papel do

ambiente enquanto formadores do gênero e da subjetividade do indivíduo. É sabido

que meninos e meninas chegam ao mundo com genes e hormônios diferentes, mas

para que aquele bebê que está sendo gerado nasça pertencendo a um gênero ou a

outro, é indispensável a constante interação com o ambiente, que já se inicia no caldo

pré-natal e continua ao longo de cada aula de balé ou de judô, das bonecas ou dos

carrinhos, dos contos de fada e dos filmes de super-herói, que, incessantemente,

reforçam a divisão de gênero estabelecida em nossa sociedade (Eliot, 2012).

Essas diferenças nos padrões de relacionamento e expressividade emocional

emergem muito cedo no desenvolvimento. Já na primeira infância, meninas se

engajam em brincadeiras mais cuidadosas e cooperativas, enquanto meninos se

engajam em brincadeiras mais agressivas e competitivas. Isto é acentuado com o

decorrer do desenvolvimento, onde é possível observar a brincadeira como veículo de

mediação de significados na infância tão claramente que temos duas categorias de

brincadeiras: as de meninos e as de meninas (Fávero, 2010).

28
Fávero (2010) afirma ainda que a experiência de ter nascido do sexo feminino

ou masculino implica significados particulares, com conteúdos emocionais singulares.

A expressão emocional nas interações interpessoais e, em particular, nas interações

entre os gêneros é construída a partir da interação de cada sujeito com os agentes

culturais, com os elementos que constituem a sua rede de interação social e mediam

seus valores e representações de gênero em uma determinada cultura (Fávero, 2010).

A partir disso, estudos que comparam o potencial de resiliência de meninos e

de meninas apontam diferenças nas formas de relacionamento de ambos os sexos com

seus pares e com as figuras de apoio. Estes são apontados como figuras importantes

para a resiliência de adolescentes (Mghir, 1995)

Os estudos de resiliência que trazem o recorte da questão de gênero são

escassos. Grande parte deles é da década de oitenta e trazem resultados que apontam

as meninas como mais resilientes do que meninos, quando expostos a riscos múltiplos

do meio ambiente (Rutter, 1982; Werner, 1985; Gamble & Zigler, 1986). Estes

mesmos estudos afirmam que meninos tendem a apresentar comportamentos e

emoções transgressivos com maior frequência do que meninas, quando expostos à

adversidades.

Um estudo mais recente, feito com 91 adolescentes regularmente matriculados

no Ensino Médio de São Paulo revelou que o escore geral de resiliência obtido com a

Escala de Resiliência não se mostra significativamente diferente em função da

variável gênero (Godoy, 2010). Apesar da ausência de diferenças estatísticas, destaca-

se que meninos se utilizam de mecanismos como busca de pertença a grupos e amigos

íntimos, enquanto as meninas têm posição mais ativa para a resolução de problemas,

apresentando maior bem-estar psicológico (Camara & Carlotto, 2007).

29
McDonough & Walters (2001) também relatam diferenças de gênero, onde

meninas tendem a desenvolver mais patologias do que meninos sob estresse crônico e

eventos de vida adversos. Nos casos de estresse crônico, meninos aparecem como

mais vulneráveis à separação ou perda dos cuidadores na primeira década de vida,

enquanto meninas são mais vulneráveis à discórdia familiar e perdas significativas na

segunda década (Werner & Smith, 1992; Bonanno, 2011).

Outro estudo recente faz a diferenciação da resiliência em meninos e meninas

após o terremoto Áquila, na Itália, mostrando que adolescentes do sexo masculino, em

sua maioria se beneficiam mais de "mecanismos de proteção". Estes "mecanismos de

proteção" foram relatados para ambos os sexos, no entanto o sexo masculino obteve

as maiores pontuações na escala de abordagem multidimensional (Stratta, 2012).

Já as diferenças de idade e sexo relacionadas à saúde mental dos jovens

refugiados de zonas de conflito do Oriente Médio não foram conclusivas.

Apresentaram semelhança com o que foi encontrado na população geral

(Montgomery, 2010). Diferenças entre os sexos aparecem de forma muito variada nos

estudos revisados. A maioria destes estudos não aponta diferenças significativas no

potencial de resiliência de meninos e meninas (Mghir et al 1995; Rothe, 2002; Bean,

2007).

Os fatores de proteção podem diferir de acordo com o sexo na adolescência: as

meninas tendem a se tornar mais resilientes quando podem contar com o afeto de

pessoas próximas, enquanto meninos se fortalecem ao se sentirem ativos na solução

dos problemas (Bernard, 1995). Os achados epidemiológicos frequentemente

encontrados apontam, predominantemente, para desordens relacionadas ao estresse

em pessoas do sexo feminino, enquanto que o sexo masculino tem maiores índices de

30
exposição a eventos traumáticos (Becker, 2007). O mesmo autor afirma, em

consonância com outros trabalhos já citados, que estas diferenças não refletem apenas

as diferenças entre os sexos, mas uma série de fatores que influenciam a resiliência,

como o entorno afetivo, o contexto sociocultural e a tipologia dos eventos

traumáticos.

31
4. MATERIAL E MÉTODOS

A proposta de apresentação dos resultados da dissertação consta de dois

manuscritos: (1) um artigo científico, aprovado e publicado na Revista Ciência &

Saúde Coletiva, denominado “Resiliência, gênero e família na adolescência”, cujo

objetivo é analisar a associação entre os aspectos das relações dos adolescentes com

seus familiares e seu impacto no potencial de resiliência em meninos e meninas na

fase da adolescência; e (2) um capítulo de livro intitulado “Aspectos individuais e

comunitários associados relacionados à resiliência em adolescentes”, que tem como

objetivo abordar a vida na comunidade, segundo as questões de gênero. Este capítulo

integrará um livro que tem como temática a resiliência e é organizada por Normanda

Araujo de Moraes e Silvia Helena Koller.

Sendo assim, nesta parte serão apresentados os aspectos gerais da pesquisa

original, se atentando para a especificidade do presente estudo. Contudo, os materiais

e métodos específicos de cada manuscrito serão descritos adiante, na apresentação de

cada manuscrito.

4.1 Contexto do estudo

A pesquisa original que orienta este trabalho caracteriza-se por um estudo

transversal, com dados originários de um inquérito epidemiológico desenvolvido em

2010, pela equipe do Centro Latino Americano de Estudos de Violência e Saúde

Jorge Careli da Fundação Oswaldo Cruz, com o apoio do CNPq. O estudo contou

32
com a participação de adolescentes escolares do município de São Gonçalo/Rio de

Janeiro.

São Gonçalo é a segunda maior cidade do estado em termos populacionais e a

15° maior cidade do país, com uma população de 999.728 habitantes, dos quais cerca

de um terço são crianças e adolescentes e 7,8% são crianças entre 5 a 9 anos de idade

(Assis, 2011). Está situada a apenas 20 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro. O

município teve um crescimento desordenado e intenso às custas basicamente de

população de baixo poder aquisitivo, em detrimento de sua infraestrutura. Carece de

atividades culturais e esportivas, oferecendo poucas instituições sociais de apoio aos

seus moradores.

Em um trabalho recente de Assis e colaboradores (2011), realizou-se um

acompanhamento do desenvolvimento socioeconômico de famílias de São Gonçalo,

demonstrando que entre os anos de 2005 e 2008 ouve um incremento financeiro em

74,8% das famílias, o que acompanhou um aumento no consumo de bens materiais e

no acesso a serviços de saúde nestas famílias e da população brasileira. Entretanto,

este crescimento não está diretamente relacionado à melhora nas condições de vida e

saúde, pois os fatores de risco psicossociais permanecem e são frequentes.

O município possui índices alarmantes no que diz respeito à violência contra

jovens, ocupando, em 2011, a 92° posição entre as cidades onde há maior número de

homicídios de jovens (Waiselfisz, 2011). Consequências físicas da violência

constituem a terceira causa de morte de brasileiros em geral, entretanto, em

indivíduos entre 1 e 39 anos a violência atualmente é a maior causa de mortes (Viva

SUS 2008-2009). Neste contexto, cerca de 15% dos estudantes adolescentes da rede

pública e particular de São Gonçalo sofrem violência familiar severa, convivendo

33
cotidianamente com atos com elevado potencial de ferir, tais como: ser chutado,

mordido, esmurrado, espancado, ameaçado com arma ou faca ou efetivamente ter sido

agredido com estes instrumentos (Assis & Avanci, 2004).

4.2 Amostra

Participaram do estudo 889 adolescentes de 13 a 19 anos de idade, estudantes

do curso diurno do 9° ano de escolas públicas (municipais e estaduais) e particulares

do município de São Gonçalo. A amostra é representativa do total de 3.487

adolescentes matriculados em 2010 na série estudada. Participaram 44 escolas

públicas e 28 particulares, contando com duas turmas por escola. A maior parte dos

entrevistados é feminina (63,5%); pertence aos estratos sociais A e B (60,1%), de

maior poder aquisitivo; tem entre 13 e 14 anos (61,1%) e informa ter a cor de pele

negra/parda (56,5%). Foram excluídos da análise os adolescentes que reportam não

terem vivenciado nenhum evento traumático segundo a escala de eventos de vida (The

University of California at Los Angeles PostTraumatic Stress Disorder Reaction

Index UCLA-PTSD) (Steinberg, 2004).

O desenho amostral foi composto por 12 estratos, organizados segundo as sete

áreas de planejamento do município e de acordo com a natureza da instituição

(pública ou particular), a fim de alcançar uma representatividade socioeconômica

(natureza da instituição escolar) e espacial (áreas de planejamento) da amostra

analisada.

A amostragem conglomerada foi complexa, ao apresentar dois estágios de

seleção. Primeiro, as escolas foram sorteadas, com probabilidade de seleção

34
proporcional à quantidade de alunos de 9° ano (PPT sistemática) em cada um dos 12

estratos. Em segundo, as turmas foram selecionadas aleatoriamente, por escola, para a

aplicação do questionário em todos os alunos da respectiva turma sorteada. A

distribuição do número de alunos por escolas foi fornecida pelas Secretarias

Municipal e Estadual de Educação para o ano de 2008. Trabalhou-se com a média de

alunos por turma uma vez que não existiam listas de número de alunos por turma,

apenas uma única listagem com número de turmas e de alunos por escola.

A amostra foi dimensionada para obter estimativas de proporção, com erro

absoluto de 5%, nível de confiança de 96,5%, assumindo uma prevalência de 0,50 e

um efeito de desenho 2. Na visita às escolas sorteadas, encontrou-se uma defasagem

no número de alunos esperados nas turmas. Tal fato pode ser justificado pela

diferença entre o ano de aplicação do questionário (2010) e o ano das listagens de

quantitativo de alunos (2008), através das quais a amostra foi baseada. Ao calcular as

probabilidades de inclusão (para cálculo dos pesos amostrais), haviam probabilidades

acima de um. Para correção da diferença entre os anos, as escolas sorteadas com mais

alunos em 2010, em comparação a listagem de 2008, foram agrupadas em diferentes

estratos para corrigir o cálculo dos pesos amostrais. É importante citar que as escolas

informam que é comum a diferença entre os alunos matriculados e os que frequentam,

e que praticamente não há diferenças entre o número de alunos matriculados de um

ano para o outro.

4.3 Instrumentos

O questionário autopreenchível e anônimo foi aplicado de forma coletiva e por

turma, durando em média 60 minutos. Os questionários foram aplicados por uma

35
equipe de pesquisadores treinados, que foram supervisionados durante todo o trabalho

de campo.

O questionário foi testado no município em 4 escolas da rede pública (51

questionários coletados) e 3 da rede privada (46 questionários preenchidos). Os

alunos destas escolas responderam ao questionário duas vezes consecutivas, num

intervalo de sete dias, visando testar sua confiabilidade.

O instrumento é composto por itens referentes ao perfil do adolescente (sexo,

idade, cor da pele, religião, série escolar); estrutura familiar; situação socioeconômica

e relacionamento com amigos e professores, além de escalas psicológicas e

indicadores. Abaixo apresentamos as principais escalas utilizadas neste estudo.

Escala de Resiliência

A resiliência foi mensurada através da Escala de Resiliência desenvolvida

por Wagnild & Young (1993) que é um dos poucos instrumentos usados para medir

níveis de adaptação transcultural positiva frente a eventos de vida importantes. Possui

25 itens descritos de forma positiva com resposta tipo Likert variando de 1 (discordo

totalmente) a 7 (concordo totalmente). Os escores da escala oscilam de 25 a 175

pontos, com valores altos indicando elevada resiliência. Estudos têm mostrado boa

confiabilidade e validade desse instrumento (Wagnild & Young; 1993), já adaptado

para o português (Pesce, Assis & Avanci, 2005)

Escala Tática de Conflitos (Violência Familiar)

É desenvolvida por Straus (1979) e foi testada quanto à validade e à

confiabilidade. Quanto à validade concorrente, os escores obtidos por adolescentes

36
foram comparados com os de seus pais, em resposta ao mesmo instrumento. Foi

verificada correlação 0.64 entre o adolescente e o pai e 0.33 entre o primeiro e sua

mãe no que tange à violência (estes são valores altos se analisados entre os diferentes

testes e escalas psicológicas). A validade de conteúdo e de constructo também foi

obtida. O exame de confiabilidade foi efetuado através de duas técnicas para avaliar a

consistência interna do instrumento: análise da correlação de cada item com o escore

total e através do coeficiente alfa (0.82 entre irmãos e 0.62 de violência entre pais e

filhos). A confiabilidade é substancial (K= 0.83) para a escala de violência física.

Em 1996, esta escala foi validada para a população brasileira por

Maria Helena Hasselman do Grupo de Pesquisa Epidemiológica da Violência

Familiar – NUPEVI - UERJ. Foi adaptada à nossa cultura através da adaptação

transcultural do instrumento a partir de uma avaliação formal de equivalência

semântica e de mensuração entre a versão em português e o instrumento original em

inglês. A CTS original em inglês tem sido investigada desde sua concepção e vários

estudos apontam para uma baixa taxa de recusa; boa confiabilidade; e validade do tipo

concorrente, de constructo, e de conteúdo (Hasselman, 1996).

Este instrumento consiste de uma lista de ações que pode tomar um

membro da família quando em conflito com outro. Foi desenvolvida a partir de

análise fatorial, cobrindo três táticas de conflito: argumentação, agressão verbal e

violência. A escala subdivide-se em três níveis. Uma ou mais resposta positiva em

cada um destes níveis, torna o sujeito um caso de violência e/ou agressão verbal. São

eles:

37
Agressão verbal (ou simbólica): uso de meios simbólicos ou verbais para

ferir ou agredir o adolescente. Xingar ou insultar, ficar emburrado, chorar, fazer

coisas para irritar, destruir, bater ou chutar objetos.

Violência: atos que têm a intenção (percebida ou não) de causar dor física ou

ferir o adolescente. Inclui jogar objetos sobre o pesquisado, empurrar, dar tapas ou

bofetadas, murros, chutar, bater ou tentar bater com objetos, espancar, ameaçar ou

realmente usar armas de fogo ou faca.

Violência Severa: atos com alto potencial de ferir o adolescente. Inclui

apenas chutar, morder ou dar murros, espancar, ameaçar ou usar arma ou faca.

A violência ocorrida entre os pais e a entre os irmãos é aferida pelas

seguintes questões: brigas a ponto de se machucarem e humilhação um ao outro.

Assis e Avanci (2004), também com amostra de adolescentes escolares de São

Gonçalo, obtiveram bons coeficientes psicométricos na avaliação destes constructos:

na violência entre os irmãos, o alfa de Cronbach obtido foi de 0.83, ICC (índice de

correlação intraclasse) de 0.6 e kappa moderado; para a que ocorre entre os pais

contatou-se ICC de 0.68. Neste estudo, o alpha de Cronbach para os itens de violência

praticada pela mãe foi de 0,742, a violência severa foi de 0,685. A violência praticada

pelo pai obteve um alpha de 0,707 e violência severa de 0,733.

Escala de Violência Psicológica

Desenvolvida por Pitzner e Drummond (1997), avalia experiências vividas

pelo jovem, em que uma pessoa significativa denegriu suas qualidades, capacidades,

desejos e emoções, além de cobrá-lo excessivamente. É constituída por 18 itens com

opções de respostas que variam do nunca até o sempre. Foi adaptada

38
transculturalmente à realidade brasileira por Avanci (2005), onde foi verificado alfa

de Cronbach de 0.94, ICC de 0.82 e a análise fatorial apresentou estrutura de fator

com grau de explicação de 43,5% da variância. Quanto à validade de constructo,

encontrou-se correlação positiva com sofrimento psíquico (SRQ-20; Mari e Williams,

1986), violência cometida pela mãe e entre pais (CTS; Hasselman, 1996). Neste

trabalho, o Kappa dos itens desta escala variou entre 0,395 e 0,683. O alpha de

Cronbach encontrado foi de 0,930.

Violência na escola e na localidade

Utilizados pela ONU em pesquisas sobre violações auto-assumidas

(self reported offenses). No Brasil vem sendo empregado pelo Instituto Latino-

Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do

Delinquente - ILANUD/ONU (Kahn, 1999). É aferida à vitimização do adolescente

na escola e comunidade no último ano, através de humilhação, ameaça, agressão, se já

teve danificado alguma coisa sua, se já conviveu com pessoas que carregam armas

brancas ou de fogo, se já foi furtado e se já tiraram seu dinheiro à força.

Escala de Apoio Social

Desenvolvida por Sherbourne e Stewart, foi adaptada à população

brasileira por Chor (2001), possui 19 itens relativos ao apoio social e cinco de rede

social. Neste trabalho, apenas os itens referentes ao apoio social foram utilizados, pois

os de rede social não se adequavam à amostra adolescente. É constituída pela

dimensão emocional (apoio recebido através da confiança, da disponibilidade em

ouvir, compartilhar preocupações/medos e compreender seus problemas), informação

(através do recebimento de sugestões, bons conselhos, informação e conselhos

desejados), material (ajuda se ficar de cama, levar ao médico, preparar refeições e

39
ajudar nas tarefas diárias se ficar doente), afetiva (demonstração de afeto e amor, dar

um abraço e amar) e interação positiva (diversão juntos, relaxar, fazer coisas

agradáveis e distrair a cabeça). Cinco escores são obtidos para cada dimensão, que

tem como opção de resposta: nunca, raramente, às vezes, quase sempre, sempre. O

tercil foi o ponto de corte adotado para avaliar as dimensões da escala. Com uma

amostra de adolescentes escolares, Assis, Pesce e Avanci (2006) obtiveram alfa de

Cronbach de 0.92, ICC de 0.79 para apoio afetivo, 0.82 para o emocional, 0.82 para o

de informação e 0.77 para interação positiva. No estudo aqui apresentado, o alpha de

Cronbach para o apoio afetivo (0,821), apoio material (0,568), interação positiva

(0,820), apoio emocional (0,849), apoio de informação (0,837). O Kappa variou de

0,099 a 0,744.

Escala de satisfação com a vida

Desenvolvida por Diener, Emmons, Larsen e Grifin (1985) e adaptada para o

português por Hutz e Giacomoni (1998). É composta por cinco itens que aferem um

sentimento global de satisfação/insatisfação com a vida: a vida estar próxima daquilo

que gostaria; ter condições de vida excelentes; estar satisfeito com a vida; alcançar

metas importantes que quer na vida; se pudesse viver de novo não mudaria quase

nada. As respostas sao avaliadas em sete itens que variam de concordo (totalmente,

muito, pouco) a não concordo nem discordo e discordo (totalmente, muito, pouco).

Adotou-se como ponto de corte um desvio-padrão abaixo da média, distinguindo-se

os adolescentes satisfeitos com suas vidas como aqueles com escores acima de 50,7%

de escores positivos em relação à pontuação máxima da escala. Encontrou-se ICC de

0,79 e alfa de Cronbach de 0,78, correlacionando-se, com sofrimento psíquico,

violência psicológica, violência física, cometida pela mãe, jovem transgressor,

violência na escola e na comunidade.

40
Escala de coping

Desenvolvida por Kavsek e Seiffge-Krenke (1996), foi utilizada no Brasil

por Antoniazzi (1999). Foi empregada neste estudo para avaliar as formas de lidar

com problemas nas seguintes áreas: escola, relação com os pais, colegas,

namorado(a), consigo mesmo e com seu futuro. Possui três dimensões especificas,

aferidas pela afirmação ou negação aos seguintes itens: a) coping ativo:discutir o

problema com os pais ou outros adultos; conversar imediatamente sobre o problema

quando surge e nao se preocupar mais com ele; tentar obter ajuda em instituições

(escolas, igreja ou grupos de ajuda); tentar falar sobre o problema com a pessoa

envolvida; procurar informações em revistas, enciclopédias ou livros; tentar obter

ajuda e apoio de pessoas que estão na mesma situação, tentar resolver o problema

com a ajuda dos amigos; b) coping interno: aceitar os limites; não se preocupar,

porque tudo costuma acabar bem; pensar sobre o problema e tentar encontrar soluções

alternativas; fazer o que os outros querem para acabar logo com o problema; dizer

para si mesmo que sempre vai haver problemas; só pensar nos problemas quando eles

surgem; c) coping de evitaçao: esperar o pior; comportar-se como se tudo estivesse

bem; tentar extravasar a agressividade (ouvindo música alta, dançando loucamente,

praticando esportes); extravasar a raiva ou o desespero (gritando, chorando, batendo

portas); tentar não pensar sobre o problema; tentar esquecer os problemas com álcool

e drogas, tentar não pensar no problema porque de qualquer forma não pode mudar

nada.

Escala sobre violências na escola e na comunidade

Esse tipo de violência foi avaliado através de escalas utilizadas pela

ONU em pesquisas sobre violações auto-assumidas (self reported offenses), e no

41
Brasil vem sendo empregado pelo Instituto Latino-Americano das Nações Unidas

para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente - ILANUD/ONU. Afere a

vitimização da criança na escola e na comunidade no último ano, através de oito

perguntas dicotômicas sobre ter sido humilhado, ameaçado, agredido fortemente a

ponto de necessitar de cuidados médicos, ter tido objetos danificados propositalmente,

ter convivido com pessoas que carregam armas brancas ou de fogo, e ter sido vítima

de roubo ou furto. Um item positivo já caracteriza a criança vítima de violência na

escola e/ou na comunidade. Estudo da validade de constructo na população do estudo

mostrou que ambas as escalas correlacionaram-se entre si (coeficiente phi=0,257;

p<0,001). Para a violência na escola o alfa Cronbach obtido foi de 0,53 (IC 95% 0,45-

0,59) e na comunidade 0,52 (IC 95% 0,42- 0,62).

Foi também solicitado ao responsável que, caso a criança tivesse

sofrido ou testemunhado algum tipo de violência na escola e/ou na comunidade,

fossem contados maiores detalhes sobre o assunto, que eram digitados pelo

pesquisador a fim de futuramente se realizar uma análise qualitativa deste item.

Escala de Prejuízo Funcional Global (BIS - Brief Impairment Scale)

2008

A versão brasileira (Paula, Duarte e Bordin, 2006) da Brief Impairment

Scale (Bird, 2005) foi utilizada para mensurar prejuízo global da criança e do

adolescente, a partir da visão dos pais. Consiste em 23 itens que incluem três áreas de

funcionamento: relacionamento interpessoal, funcionamento na escola, e auto-cuidado

e auto-realização. As subescalas abordam diversas questões. Ex: Tem sido difícil

para a criança se dar bem com seus pais, irmãos ou outros familiares? Como tem sido

42
o aproveitamento da criança na escola? Comparando com outras crianças da mesma

idade, como é a aparência da criança na maior parte do tempo?

Para testar confiabilidade e validade da BIS, Bird (2005), realizaram

um estudo seccional comparando dados dos pais/respondentes de crianças entre 4 e 7

anos de uma amostra clínica (N= 757) e duas amostras da comunidade (N= 1.888 e

N= 1.132). A consistência interna da escala total variou entre 0.81 e 0.88, e entre 0.56

e 0.81 nas três subescalas. A confiabilidade teste-reteste para os itens individuais

variaram entre bom e substancial para a maioria dos itens. A BIS mostrou alta

validade convergente e concorrente.

Escores a cima de 15.5 no total da escala são considerados positivos para

prejuízo funcional global. O ponto de corte para a versão brasileira foi estabelecido a

partir de comparação da distribuição dos escores obtidos em Embu–SP com as

amostras de Porto Rico (Paula, Duarte e Bordin, 2006)

Alguns itens e indicadores utilizados no estudo estão descritos apenas

na apresentação de cada manuscrito.

4.4. Análise dos resultados

Conforme dito anteriormente, os resultados desta dissertação estão

apresentados em forma de um artigo científico e um capítulo de livro. A análise

realizada nestes trabalhos estão expostas no decorrer de sua apresentação.

4.5 Considerações éticas

43
O estudo original foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola

Nacional de Saúde Pública/ Fiocruz CAE: 0057.0.031.000-09 e apoiado pelas

Secretarias de Educação de São Gonçalo.

A direção das escolas, os adolescentes, os pais/responsáveis e professores dos

alunos envolvidos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,

conforme preconizado na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que

normatizava as pesquisas com seres humanos. Como benefício, foram viabilizadas

estratégias de encaminhamento/atendimento na rede pública de saúde para crianças

diagnosticadas com problemas comportamentais graves.

Os participantes foram convidados a participar voluntariamente, sendo-lhes

assegurada a não obrigatoriedade e o total anonimato das informações. Todos os

participantes foram esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa e da utilização e

aplicação dos instrumentos utilizados para colher as informações a respeito da

temática do estudo.

Por ser derivado dessa pesquisa original, o presente estudo foi submetido à

análise do Comitê de ética na Escola Nacional de Saúde Pública/ FIOCRUZ para a

aprovação da etapa de análise quantitativa realizada, sob o número:

15737313.0.0000.5240 em 07/08/2013.

44
5. RESULTADOS

5.1 – Artigo: Resiliência, gênero e família na adolescência

45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
5.2 – Capítulo de livro: Aspectos individuais e comunitários associados

relacionados à resiliência em adolescentes

58
Aspectos individuais e comunitários associados relacionados à resiliência em

adolescentes

Laila Rozemberg1, Joviana Avanci2, Miriam Schenker2, Thiago Pires2

Um golpe da sorte é uma


ferida que se inscreve em nossa história
e não um destino

(Boris Cyrulnik)

A partir de resultados de um estudo realizado com 889 adolescentes

escolares de um município do Rio de Janeiro, este capítulo discute a relação de fatores

comunitários (incluindo a vida na escola), de aspectos individuais (estratégias de

enfrentamento dos problemas e de questões de saúde mental) com o potencial de

resiliência de adolescentes, os quais podem ser estratégicos no delineamento de

políticas públicas voltadas a esta faixa etária. Busca também refletir sobre o impacto

diferenciado de aspectos da vida comunitária, como o apoio social, infraestrutura, e

violência na resiliência de meninos e meninas e sobre estratégias eficazes de

intervenção. Tais informações podem ser muito úteis na reflexão sobre a promoção da

saúde na adolescência, já que é uma época crítica do desenvolvimento humano. A

intenção é que a discussão deste capítulo possa oferecer subsídios para a atuação de

profissionais que trabalhem em escolas, serviços de saúde, serviços de acolhimento e

a todos aqueles que atendem crianças e adolescentes, acreditando que é possível

desenvolver e fortalecer um ciclo de promoção de saúde e bem estar, que parte da

resiliência da comunidade para o indivíduo e vice-versa.

2
Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli/Fundação Oswaldo Cruz

59
A adolescência é tipicamente um período singular no desenvolvimento

humano, onde uma série de competências funcionais são exigidas para acompanhar as

diversas mudanças desta fase. Para o adolescente há uma ampliação dos domínios

sociais e de independência, com novas possibilidades de crescimento e maior

envolvimento em situações estressantes e de risco. Além disso, as questões de gênero,

que já eram presentes na infância, se tornam protagonistas de uma série de

identificações nesta fase da vida. Assim, os afetos e os conflitos são ampliados,

podendo acarretar maior vulnerabilidade emocional e um reexame de identidade

(Bordini, 2012).

Falar de resiliência, ainda mais na adolescência, é abordar um conceito

complexo, atrelado à interdependência de múltiplos contextos de interação, e cuja

emergência é observada com mais clareza quando a pessoa está atravessando uma

situação adversa, seja esta de caráter temporário ou constante em sua vida (Silva,

2003). Embora a definição do conceito de resiliência pareça relativamente simples, o

sentido do fenômeno e o seu significado psicológico não são dados por uma equação

matemática, em que a soma de elementos protetivos e eventos adversos possa ser

equilibrada. O conceito traz em si a dificuldade em se fazer ciência a partir de

fenômenos subjetivos, apontando para um campo que a todo tempo se mostra

movediço, mas não menos desafiante (Rodriguez, 2005). A complexidade desse

constructo envolve processos sociais e intrapsíquicos que estão constantemente se

transformando, dependendo do grau de maturidade e experiência individual e devem

ser relativizados e compreendidos a partir de um amplo conjunto de elementos

internos e externos ao sujeito (Assis et al., 2008)

60
Estudos e pesquisas acerca do tema da resiliência buscam compreender por

que, diante de situações adversas, alguns indivíduos se desenvolvem mais

satisfatoriamente, mostrando uma capacidade de superação e a ressignificação do fato

ocorrido em sua história, enquanto outros sucumbem com mais facilidade às situações

difíceis, desenvolvendo patologias ou trilhando um caminho negativo.

Para direcionar a discussão teórica deste capítulo, o modelo ecológico-

transicional é adotado, onde é enfatizado o dinamismo das interações e transações

ecológicas no desenvolvimento de crianças e adolescentes, e ressaltada as dimensões

individual, familiar e da comunidade no desenvolvimento do potencial de resiliência

(Bronfenbrener, 1979/1996). Optamos neste capítulo por considerar o potencial de

resiliência dos adolescentes por considerarmos crucial que a resiliência é mais ou

menos desenvolvida ao longo da vida, dependendo do suporte social, familiar, escolar

e individual que se obtém em cada momento de seu curso.

O ambiente comunitário é um componente fundamental para a compreensão

dos processos envolvidos na promoção da resiliência de adolescentes, juntamente com

o suporte familiar, a escola e a história singular de cada um, composta por uma

complexa combinação de fatores e eventos. Quando uma criança começa a ampliar

seus domínios para além do seio familiar, ela é submetida a um amplo campo cultural,

e a uma rede maior de relações, que complementam sua identidade e que têm

implicações em seu desenvolvimento. Portanto, faz toda diferença se uma

comunidade é propícia ao desenvolvimento humano ou se ela oferece mais obstáculos

do que recursos para que isso ocorra.

61
Neste capítulo o foco é dado às questões da comunidade como elemento

fundamental ao estabelecimento da resiliência entre adolescentes. O ambiente

comunitário considerado é aquele espaço próximo às moradias da população (Assis &

Marriel, 2010). A importância de estudar o espaço comunitário que cerca o

adolescente respalda-se no fato que a atuação no macro ambiente se reflete nas micro

redes de relação em que as pessoas estão inseridas na comunidade.

A pesquisa original

Os resultados apresentados neste capítulo são originários de uma pesquisa

realizada em 2010 em escolas públicas e particulares de um município do Estado do

Rio de Janeiro, São Gonçalo. Esta cidade é a segunda maior do estado em termos

populacionais e a 15° maior cidade do país, com uma população de 999.728

habitantes, dos quais cerca de um terço são crianças e adolescentes (Assis & Avanci,

2011). O município teve um crescimento desordenado e intenso à custa basicamente

de população de baixo poder aquisitivo, em detrimento de sua infraestrutura. Além

disso, carece de atividades culturais e esportivas e oferece poucas instituições sociais

de apoio aos moradores de baixa renda. Possui índices alarmantes no que diz respeito

à violência contra jovens, ocupando, em 2011, 92° posição entre as cidades onde há

maior número de homicídios de jovens no Brasil (Waiselfisz, 2011).

A pesquisa caracteriza-se por um inquérito epidemiológico com 889

adolescentes de 13 a 19 anos de idade, desenvolvido pelo Centro Latino Americano

de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli, Fundação Oswaldo Cruz/Rio de

Janeiro. Foram excluídos da análise deste capítulo, os adolescentes que reportam não

62
terem vivenciado nenhum evento traumático segundo a escala UCLA-PTSD, descrita

a seguir (Steinberg et al., 2004).

Os adolescentes participantes preencheram um questionário

multidimensional, anônimo e autopreenchível, aplicado coletivamente nas turmas

com o apoio de equipe de pesquisadores treinados, com duração média de 60 minutos.

O inquérito foi pré-testado em 97 alunos de sete escolas (públicas e privadas) de São

Gonçalo para o estudo de validade e confiabilidade de várias escalas utilizadas.

Para avaliar o potencial de resiliência, utilizou-se a escala proposta por

Wagnild e Young (1993) e adaptada para o Brasil por Pesce et al (2005). Esta escala é

usada para medir níveis de adaptação psicossocial positiva em face de eventos de vida

importantes. Possui 25 itens descritos de forma positiva com resposta tipo likert

variando de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente). Tem demonstrado

bons índices psicométricos em diversos estudos e na presente pesquisa, obteve alpha

de Cronbach de 0,78 e a exclusão de cada um dos itens não afetou o índice geral. O

coeficiente de correlação intraclasse foi de 0,69, o que indica uma concordância

satisfatória. Neste trabalho, a resiliência foi avaliada por tercil e optou-se por analisá-

la em dois grupos: alto e médio potencial de resiliência em contraposição ao baixo.

A amostra da pesquisa foi constituída por 44 escolas públicas e 28

particulares, contando com duas turmas por escola. A maior parte dos entrevistados é

feminina (63,5%); pertence aos estratos sociais A e B (60,1%), de maior poder

aquisitivo; tem entre 13 e 14 anos (61,1%) e informa ter a cor de pele negra/parda

(56,5%). Estes dados são baseados no Critério de classificação econômica Brasil

(CCEB) que tem como objetivo avaliar o poder de compra de grupos de consumidores

63
no pais e determinar a partir dele o estrato social a que estre grupo pertence

(ABIPEME, 2001).

O desenho amostral foi composto por 12 estratos, organizados segundo as

sete áreas de planejamento do município e de acordo com a natureza da instituição

(pública ou particular), a fim de alcançar uma representatividade sócio-econômica

(natureza da instituição escolar) e espacial (áreas de planejamento) da amostra

analisada.

A amostragem conglomerada foi complexa, ao apresentar dois estágios de

seleção. Primeiro, as escolas foram sorteadas, com probabilidade de seleção

proporcional à quantidade de alunos de 9° ano em cada um dos 12 estratos. Em

segundo, as turmas foram selecionadas aleatoriamente, por escola, para a aplicação do

questionário em todos os alunos da respectiva turma sorteada. A distribuição do

número de alunos por escolas foi fornecida pelas Secretarias Municipal e Estadual de

Educação para o ano de 2008. Trabalhou-se com a média de alunos por turma uma

vez que não existiam listas de número de alunos por turma, apenas uma listagem geral

de número de turmas e alunos por escola.

A amostra foi dimensionada para obter estimativas de proporção, com erro

absoluto de 5%, nível de confiança de 96,5%, assumindo uma prevalência de 50% e

um efeito de desenho 2. Na visita às escolas sorteadas, encontrou-se uma defasagem

no número de alunos esperados nas turmas. Tal fato pode ser justificado pela

diferença entre o ano de aplicação do questionário (2010) e o ano das listagens de

quantitativo de alunos (2008), através das quais a amostra foi baseada. Para contornar

essa diferença, escolas sorteadas com mais alunos em 2010 do que havia sido listado

64
em 2008 foram agrupadas em diferentes estratos para corrigir o cálculo dos pesos

amostrais.

No decorrer do capítulo, variáveis sobre status sócio-econômico (ABIPEME,

2008), eventos de violência na comunidade e na escola (Pitzner & Drummond, 1997;

Trombeta & Guzzo, 2002, Kahn et al., 1999), escala de apoio social (Chor et al.,

2001), de estratégias de coping, de depressão (Warthier, Dell'Aglio, Bandeira, 2008) e

de satisfação com a vida (Diener et al, 1985; Giacomoni & Hutz, 1998), além de uso

de álcool e maconha são analisadas segundo o potencial de resiliência e através da

razão de chances (OR) e seus respectivos intervalos de confiança (IC95%).

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional

de Saúde Pública/ Fiocruz CAE: 15737313.0.0000.5240 em 07/08/2013 e apoiado

pelas Secretarias de Educação de São Gonçalo. Também os adolescentes,

pais/responsáveis e a direção das escolas assinaram termos de consentimento livre

esclarecido, conforme preconizado na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de

Saúde que normatizava as pesquisas com seres humanos.

Aspectos comunitários ligados à resiliência

A comunidade se caracteriza em linhas gerais pelo território em que o

indivíduo vive e faz parte, podendo promover apoio e assistência, mas também impor

obstáculos e determinantes negativos ao desenvolvimento dos que ali residem. No

esforço em compreender a resiliência sob o prisma mais ampliado, o da comunidade,

parte-se da metáfora proposta por Bronfenbrenner, onde toda a experiência individual

se dá em ambientes “concebidos como uma série de estruturas encaixadas, uma

65
dentro da outra, como um conjunto de bonecas russas (Bronfenbrenner, 1979/1996,

p. 5).

Viver em condições precárias é um importante fator de risco ao desenvolvimento

humano, associada à subnutrição, à privação social e à desvantagem educacional, por

exemplo (Ceconello & Koller, 2000). Eventos considerados como risco são

obstáculos individuais ou ambientais que aumentariam a vulnerabilidade da criança

para resultados negativos no seu desenvolvimento (Assis et al, 2006). De acordo com

Bronfenbrenner e Evans (2000) o aumento destes fatores nas comunidades, como a

violência e a pobreza, interferem no desenvolvimento e adaptação dos indivíduos que

ali vivem. Apesar desta constatação, os resultados apresentados neste capítulo

revelam que pertencer a determinado status socioeconômico não está associado ao

potencial de resiliência em adolescentes de São Gonçalo, o que também é verificado

em outro estudo realizado com amostra de adolescentes das mesmas redes de ensino

no início dos anos 2000 (Assis, Pesce & Avanci, 2004). Tal achado revela que, apesar

da privação socioeconômica afetar problemas emocionais e relacionais de crianças e

adolescentes, por mais pobre que seja uma comunidade o potencial de resiliência

individual parece não ser afetado por esta situação isoladamente.

A violência comunitária é caracterizada por um fenômeno que se origina e

se reflete nas relações interpessoais mais próximas do espaço físico dos bairros e das

moradias das famílias e estendendo-se a espaços socializadores como a escola (Assis

& Marriel, 2010). A criminalidade, a infraestrutura inadequada dos bairros, o alto

índice de desemprego, a desigualdade social e o pouco apoio da rede social de

proteção estão fortemente associados a esta violência.

Esta forma de violência possui distintos conceitos, o que dificulta

66
comparações. Neste capítulo é definida como aquela vivenciada ou testemunhada pelo

adolescente no ambiente comunitário, incluindo ruas, escola e outros ambientes

proximais em que transita. Inclui situações como ser vítima/testemunha de ações de

conflito, espancamentos, tiroteios, ver pessoas mortas, assalto a casa, humilhações,

roubos, dentre outros.

A violência comunitária é bastante impactante para o desenvolvimento de

adolescentes e uma realidade bastante presente nesta fase da vida. Manifesta-se de

diversas formas e nas mais variadas relações entre os membros de uma comunidade,

sendo muito visível quando determinado território é submetido ao poder paralelo de

facções criminosas que cerceiam o direito de ir e vir dos moradores e ditam regras e

leis próprias e se utilizam de meios agressivos para se impor. O medo originado pelo

descontrole e pela insegurança torna a vida na comunidade mais difícil e limitada. As

famílias tendem a se sentir impotentes, pois não possuem condições de intervir nem

possuem meios para proteger efetivamente seus jovens deste contato (Fowler et al.,

2009).

Revisão de estudos sobre o tema mostra que mais de 70% das amostras de

jovens já testemunharam essa forma de violência no lugar em que vivem (Phelps et al.

2002). Assis et al (2009) apresentam revisão sobre o fenômeno no Brasil e indicam

prevalências de violência comunitária contra crianças e adolescentes variando de

13,5% a 67,4%, com estudos desenvolvidos nas seguintes cidades brasileiras: São

Gonçalo (RJ), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF).

Crianças mais velhas e adolescentes são mais expostos a violência comunitária, bem

como os do sexo masculino (Fowler et al., 2009, Stein et al., 2003).

67
Dentre as situações de violência comunitária investigada no presente estudo,

apenas ter sofrido humilhação na comunidade demonstra associação com o baixo

potencial de resiliência entre adolescentes. Aqueles que afirmam ter vivido esta

violência psicológica no espaço da comunidade têm mais chance (OR=3,15) de ter

baixo potencial de resiliência, em comparação aos adolescentes que não sofrem

humilhação (tabela 1).

Tabela 1: Razão de chances entre situações de violência comunitária e o potencial de


resiliência em adolescentes de São Gonçalo*

Resiliência

Violência na comunidade Médio+Alto Baixo OR IC95%

N (%) N (%)

Sim 419 (66,8) 208 (33,2) 1,01 (0,62-1,63)


Estar em um lugar com conflitos
armados (tiroteios)
Não 596 (67,0) 294 (33,0) 1

Ser espancado, levar um tiro ou Sim 140 (61,3) 89 (38,7) 1,33 (0,69-2,53)
ser seriamente ameaçado de ser
machucado Não 871 (67,8) 414 (32,2) 1

Ter recebido a noticia da morte Sim 519 (68,4) 240 (31,6) 0,86 (0,56-1,30)
violenta ou o ferimento grave de
um ente querido Não 489 (65,0) 264 (35,0) 1

Sim 140 (73,7) 50 (26,3) 0,69 (0,36-1,31)


Ter a casa assaltada ou roubada
Não 870 (65,9) 451 (34,1) 1

Sim 76 (42,2) 104 (57,8) 3,15 (1,50-6,63)


Sofrer humilhação
Não 913 (69,7) 397 (30,3) 1

Sim 77 (61,6) 48 (38,4) 1,26 (0,45-2,93)


Sofrer ameaça
Não 916 (67,0) 452 (33,0) 1

Sim 150 (68,0) 71 (32,0) 0,94 (0,36-2,44)


Conviver com pessoas que
carregam armas de fogo
Não 843 (66,7) 421 (33,3) 1

68
Sim 80 (69,1) 36 (30,9) 0,89 (0,34-2,28)
Conviver com pessoas que
carregam armas brancas
Não 914 (66,5) 461 (33,5) 1

Sim 130 (69,9) 73 (36,1) 1,16 (0,53-2,55)


Ser furtado
Não 1

Ser agredido por alguém o Sim 14 (66,4) 7 (33,6) 1,02 (0,08-12,97)


bastante para que precisasse de
curativo ou ir ao médico Não 972 (66,8) 484 (33,2) 1

*Em negrito os resultados que obtiveram significância estatística.

Uma forma relevante de violência comunitária é aquela que ocorre na

escola, caracterizada neste capítulo por situações em que o adolescente sofreu

ameaças, teve coisas danificadas, andou com pessoas que usam armas de fogo e

branca, e teve coisas furtadas neste espaço da escola. Em pesquisa realizada no sul do

Brasil com estudantes de colégios públicos, notou-se que 99,7% dos adolescentes

investigados foram expostos a alguma forma de violência neste espaço de

socialização, sendo que 70,9% foram vítimas, 98,4% testemunhas e 99,2%

conheceram alguma vítima de violência (Zavaschi et al., 2002).

Assis, Pesce e Avanci (2006) constataram que um em cada cinco

adolescentes escolares da rede pública e privada de São Gonçalo/RJ foi humilhado na

escola, e um em cada quatro adolescentes teve objetos pessoais furtados neste espaço.

Neste trabalho também é apontado que os adolescentes relataram também que tiveram

objetos danificados propositalmente (13,9%) e que tiveram dinheiro ou outros objetos

roubados no espaço escolar (2,5%). Contudo, pouco se sabe como essas variadas

formas de violência podem realmente atingir a saúde mental de crianças e

adolescentes.

69
O que se sabe é que a escola tem papel indispensável no desenvolvimento de

crianças e adolescentes, pois representa o segundo microambiente de socialização.

Para que a escola seja um ambiente promotor de resiliência, ela precisa desenvolver,

dentre outros aspectos, relações de confiança e de afetividade entre seus alunos. Mas,

se a escola oferece um ambiente hostil e conflituoso, ou se permite que a relação entre

seus membros não seja saudável, passa a se tornar um ambiente nocivo ao

desenvolvimento, podendo impactar o potencial de resiliência de seus alunos.

Tal como encontrado por Assis, Pesce e Avanci (2006) nas mesmas redes de

ensino de São Gonçalo há cerca de uma década atrás, os resultados ora analisados

revelam que o impacto das situações de violência vividas no meio escolar não se

mostra decisivo para o comprometimento no potencial de resiliência. Ou seja, os

adolescentes, mesmo quando expostos às adversidades na escola, seja por sofrer

ameaças e furtos, por ter coisas danificadas, ou andar com pessoas que usam armas de

fogo e branca não se mostram menos resilientes.

Contudo, na contramão das situações de risco existentes na comunidade em

que os adolescentes entrevistados vivem, apresentadas até aqui, é importante ressaltar

o relato de apoio social percebido por estes jovens no meio em que vivem, incluindo

comunidade e família. O apoio social parece ser decisivo para que o potencial de

resiliência não se abale, mesmo no enfrentamento de situações de violência na

comunidade e na escola. A existência de uma rede de apoio acolhedora, cuidadora e

atenta às necessidades do adolescente - o que inclui presença da família e de amigos

ou outras pessoas com quem o adolescente pode contar e dividir medos e

inseguranças, pode fazer toda diferença à forma com que ele enfrenta as adversidades

vivenciadas (Margolin & Gordis, 2000; Fowler et al., 2009).

70
A escala de apoio social utilizada foi desenvolvida por Sherbourne & Stewart

(1991) e adaptada à população brasileira por Chor e colaboradores (2001). Apresenta

dezenove itens relativos ao apoio social e cinco referentes à rede social. Neste

capítulo as dimensões do apoio social, apresentadas a seguir, são analisadas segundo

tercis, compondo o gradiente de baixo, médio e alto apoio social.

Os resultados do presente estudo indicam que quanto mais apoio afetivo de

interação positiva (alguém que demonstre amor e afeto e amor, de abraço ou

carinhos); emocional (apoio recebido através de confiança, da disponibilidade em

ouvir e compartilhar as preocupações e medos); de informação (através do

recebimento de sugestões, bons conselhos, informação sobre temas importantes) e

material (ajuda se ficar de cama, levar ao médico, preparar refeições, e suporte nas

tarefas diárias) mais é elevado o potencial de resiliência. Exemplificando os

resultados obtidos, adolescentes de São Gonçalo mais resilientes informam mais

apoio afetivo do que os com resiliência baixa (OR=3,22). Relação semelhante é

encontrada entre os demais tipos de apoio e o potencial de resiliência. Interessante

perceber que apoio de informação se destaca entre os demais, apresentando maior

razão de chance (OR=5,02), ao se comparar os adolescentes de baixo e alto apoio de

informação, o que permite sugerir que receber conselhos, informações e ajuda para

compreender uma determinada situação é uma questão fundamental no fortalecimento

do potencial de resiliência (Tabela 2).

71
Tabela 2: Razão de chances entre tipos de apoio social e o potencial de resiliência em
adolescentes de São Gonçalo*

Resiliência

Apoio social X resiliência Médio+Alto Baixo OR IC95%

N (%) N (%)

Baixo 221 (48,4) 235 (51,6) 3,22 (1,99-5,20)


Apoio afetivo
Médio 787 (75,1) 261 (24,9) 1

Baixo 229 (49,5) 233 (50,5) 4,27 (2,32-7,83)


Interação
Médio 395 (70,1) 169 (29,9) 1,788 (0,98-3,23)
positiva
Alto 387 (80,7) 92 (19,3) 1

Baixo 233 (50,3) 229 (49,7) 3,94 (1,88-8,24)

Apoio emocional Médio 446 (71,6) 177 (28,4) 1,589 (0,81-3,08)

Alto 330 (80,0) 82 (20,0) 1

Baixo 239 (49,7) 242 (50,3) 5,02 (2,64-9,54)


Apoio de
Médio 422 (69,5) 186 (30,5) 2,178 (1,11-4,26)
informação
Alto 346 (83,2) 70 (16,8) 1

Baixo 273 (56,9) 206 (43,1) 2,54 (1,54-4,19)

Apoio material Médio 357 (66,8) 177 (33,2) 1,67 (0,93-2,96)

Alto 376 (77,1) 112 (22,9) 1

*Em negrito os resultados que obtiveram significância estatística.

Esses resultados evidenciam a importância de se desenvolver, tanto na

comunidade quanto nas famílias, uma cultura de apoio e suporte voltados para esta

população. Sem dúvida, a promoção de suporte, parcerias e cuidado se reverte em

bem estar e autoconfiança, mesmo para aqueles que se encontram em situação de

risco ou que atravessam algum período de adversidade.

72
Robert e Li (2001) sugerem três indicadores de comunidades resilientes, os

quais estão diretamente ligados à resiliência individual: (1) existência de ambiente

físico positivo, (2) de ambiente social propício ao convívio e, (3) presença de uma

rede de serviços segura no campo macro-organizacional e no campo das relações,

como de transporte, segurança, saúde e educação. No entanto, recuperando o modelo

bioecológico do Bronfenbrener (1979/1996) o equilíbrio e a presença da família, da

escola e da comunidade são centrais na promoção da resiliência. Mais ainda,

independente do ambiente em que o jovem está inserido, seu desenvolvimento

depende da qualidade das interações nestas relações, que podem ser marcadas por

sentimentos positivos, reciprocidade e equilíbrio de poder, mas também o inverso

(Bronfenbrenner, 1996).

Aspectos individuais ligados à resiliência: coping, depressão e uso de drogas

Para que os adolescentes consigam superar as adversidades da vida sem

sucumbirem às doenças e aos problemas de outras naturezas, são utilizadas diversas

estratégias de enfrentamento, conhecidas na literatura nacional e internacional como

coping. Lazarus e Folkman (1984), pioneiros dos estudos acerca deste conceito,

definem este constructo como os esforços cognitivos e comportamentais em constante

mudança para o manejo específico de demandas internas ou externas que excedem os

recursos psíquicos de uma pessoa. É um processo dinâmico que se adequa às

demandas dos indivíduos para contrabalancear os conflitos internos e ambientais,

onde o indivíduo orienta seus pensamentos e comportamentos de modo a evitar os

problemas, buscar distração ou suporte ou ainda enfrentá-los ativamente.

73
Para avaliação das estratégias de coping, utilizou-se a escala de coping (How

I Coped Under Pressure Scale - Program for Prevention Research, 1999), composta

por 19 questões, que englobam as seguintes dimensões: distração (vê televisão ou lê,

meditar, rezar, fazer ginástica ou esporte, desenhar ou escrever), ativo (dizer para si

que as coisas vão melhorar, aprender o máximo com a situação difícil e fazer trabalho

voluntário), evitação (gritar, se envolver em briga, faltar aula, evitar pessoas, tomar

bebida alcóolica, fumar cigarro e ficar fora de casa) e suporte (conversar sobre o

problema com os pais, com a escola ou outros profissionais de saúde e da igreja). A

escala tem apresentado validade em várias amostras de crianças e adolescentes e tem

sido recorrentemente exaltada nas revisões da literatura sobre o tema (Ayres et al,

1996; Compas, 2001; Skinner, 2003). Cada dimensão foi avaliada por tercil,

compondo o gradiente baixo, médio e alto.

Conforme observado na tabela 3, algumas estratégias de coping estão em

estreita relação com o potencial de resiliência. Aqueles que afirmam ter mais

dificuldades em desenvolver estratégias mais ativas de enfrentamento dos problemas

(coping ativo) apresentam chance (OR=2,80) maior de desenvolver baixo potencial de

resiliência. Similarmente, reduzem-se as estratégias de coping de suporte à medida

que decresce o potencial de resiliência, ocorrendo o inverso no outro grupo. Os tipos

de coping de distração e de evitação não apresentaram diferenças estatísticas

significativas segundo o potencial de resiliência (Tabela 3).

74
Tabela 3: Razão de chances entre tipos de coping e o potencial de resiliência em
adolescentes de São Gonçalo*

Resiliência
Coping X resiliência Médio+Alto Baixo OR IC95%
N (%) N (%)
Baixo 471 (62,1) 288 (37,9) 1,67 (0,93- 0,30)
Coping Distração Médio 263 (70,2) 111 (29,8) 1,16 (0,61-2,18)
Alto 281 (73,2) 103 (26,8) 1
Baixo 318 (54,0) 270 (46,0) 2,80 (1,38-5,66)
Coping Ativo Médio 363 (73,4) 131 (26,6) 1,19 (0,66-2,13)
Alto 334 (76,7) 101 (23,3) 1
Baixo 350 (67,4) 169 (32,6) 1,03 (0,60-1,75)
Coping Evitação Médio 315 (65,0) 169 (35,0) 1,15 (0,57-2,29)
Alto 349 (68,1) 164 (31,9) 1
Baixo 158 (53,8) 136 (46,2) 2,87 (1,55-5,27)
Coping suporte Médio 501 (65,7) 262 (34,3) 1,75 (0,89-3,42)
Alto 352 (77,0) 105 (23,0) 1
*Em negrito os resultados que obtiveram significância estatística.

No que se refere aos problemas de saúde mental, a depressão é um

fenômeno bastante presente na adolescência. Estima-se que no Brasil, cerca de 10% a

15% dos adolescentes desenvolva o transtorno depressivo (Salle, 2001; Avanci, Assis

& Oliveira, 2008), mas este percentual se eleva quando é analisada a presença de

sintomas depressivos (e não o transtorno já instalado), quadro que também precisa ser

cuidado numa esfera preventiva. De acordo com Andrade (2006), os sintomas

depressivos estão presentes em pelo menos alguma fase da adolescência em cerca de

30% dos jovens.

A depressão costuma estar associada à baixa resiliência e é caracterizada

pelo humor deprimido ou irritável; diminuição de interesse/prazer; alteração de peso,

apetite e sono; agitação ou retardo psicomotor; fadiga; sentimentos de inutilidade;

culpa; dificuldade de pensamento e concentração, além de ideias recorrentes de morte

75
e suicídio, assim como a duração dos sintomas e o prejuízo no funcionamento social

(APA, 2003).

Neste capítulo a sintomatologia depressiva foi estudada pelo Inventário de

Depressão Infantil (CDI) (Kovacs, 2003; Gouveia et al, 1995), que verifica a presença

e a severidade de sintomas em crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, a partir do

autorrelato. Contém 27 itens e tem sido descrito como psicometricamente satisfatório

em diversos países e no Brasil. Os casos clínicos de depressão são aqueles em que

pontuaram acima de um desvio padrão e meio da média do escore da amostra.

Os resultados revelam que os adolescentes de São Gonçalo com sintomas

depressivos apresentam mais chance (OR=3,08) de apresentar baixo potencial de

resiliência do que o outro grupo mais resiliente, o que reforça a urgente necessidade

de considerar o tópico da depressão em programas de promoção de saúde (tabela 4).

A depressão em adolescentes pode ser detectada por profissionais da educação,

devido ao seu contato diário com os jovens. A escola pode ser a fonte de sofrimento,

se a relação entre os pares se estabelece a partir de violências físicas ou verbais, é

importante que o profissional esteja atento e possa intervir neste ciclo de violência, e

ainda acolha as dificuldades e se necessário encaminhe o caso para um serviço de

cuidado, a fim de prevenir outras consequências, como a perda de interesse escolar,

distúrbios psicossomáticos e isolamento (Lopes Neto, 2005; Severo, 2009)

Nesta linha, também foi avaliada a satisfação global do adolescente com a

sua vida (Diener et al, 1985; Giacomoni & Hutz, 1998). Constatou-se que aqueles

mais insatisfeitos com sua vida apresentam mais chances (OR=5,7) de desenvolver

baixo potencial de resiliência (tabela 4).

76
O consumo de álcool e maconha também foram estudados segundo o

potencial de resiliência, os quais não apresentaram relação direta com o potencial de

superação dos problemas (tabela 4). Apesar disso, este tema deve ser sempre

discutido e alertado junto aos adolescentes por familiares e profissionais de saúde e

educação, sendo consensual as graves consequências acarretadas à saúde do

adolescente, sendo o seu enfrentamento um grande desafio para os profissionais de

saúde e para a comunidade como um todo.

Tabela 4: Razão de chances entre tipos de uso de álcool e outras drogas, depressão e
satisfação de vida e o potencial de resiliência em adolescentes de São Gonçalo*

Resiliência

Atributos individuais Médio+Alto Baixo OR IC95%

N (%) N (%)

Clínica 49 (42,3) 66 57,7 3,08


Depressão (1,35-7,04)
Não Clínica 869 (69,3) 384 (30,7) 1

Não 390 (50,7) 379 (49,3) 5,70


Satisfação com a vida (3,37-9,64)
Sim 610 (85,4) 104 (14,6) 1

Uso de bebida Sim 162 (66,3) 82 (33,7) 1,03 (0,57-1,88)


alcoólica até se
embriagar ou sentir-
Não 853 (67,0) 421 (33,0) 1
se bêbado(a)

Sim 9 (73,3) 3 (26,3) 0,71 (0,09-5,18)


Uso de maconha
Não 1000 (66,7) 500 (33,3) 1

*Em negrito os resultados que obtiveram significância estatística.

Aspectos relacionados ao gênero, comunidade e resiliência

O construto de gênero não se resume ao papel biologicamente determinado

pelo sexo, mas sim às construções sociais e culturais de masculinidades e de

77
feminilidades, independente das bases biológicas (Segato, 1997; Roughgarden, 2005).

Considerando o desenvolvimento da identidade sexual, a Associação Americana de

Psicologia (2005) define como orientação sexual a escolha afetiva, romântica, sexual

e emocional.

A forma como cada indivíduo percebe e elabora as situações que vive é

sempre singular, pois cada sujeito estabelece um sistema próprio de representações e

significados específicos (Assis et al., 2008). Estes são fruto de suas experiências

passadas e das projeções que pode fazer a partir daquilo que lhe ocorre. Neste sistema

de significados estão os códigos sociais que trazem, entre outras, as informações

referentes ao gênero que os sujeitos expressam ao longo de seu desenvolvimento.

Estudos afirmam que adolescentes homoafetivos e transexuais são

confrontados com uma série de experiências negativas, tais como preconceito na

comunidade e na escola, rejeição familiar, discriminação em ambientes de trabalho e

ainda crimes relacionados à homofobia. De acordo com Elizur e Niv (2001) esta

população possui maior risco de desenvolver desordens de ansiedade, abuso de

substâncias, comportamento sexual de risco e comportamento suicida do que

adolescentes heteroafetivos (Fergusson, Horwood, & Beautrais, 1999; Lock &

Steiner, 1999; Safren & Heiberg, 1999; Costa & Nardi, 2013).

Tais questões de gênero demandam que a comunidade se desenvolva no

sentido de superar preconceitos e acolher as dificuldades dos adolescentes. Há uma

relação dialógica da resiliência com a comunidade: superando seus preconceitos, a

comunidade pode oferecer aos jovens um ambiente acolhedor e promotor de

resiliência. Esta conscientização da comunidade acerca da questão do gênero precisa

se voltar para a desnaturalização de comportamentos comumente atribuídos ao sexo

78
feminino e masculino, bem como a questão da homo/heteroafetividade, estimulando o

respeito e à inclusão das diferenças de gênero.

Voltando a discussão para o estudo da relação da diferença entre resiliência e

sexo dos adolescentes, os resultados do estudo em escolas de São Gonçalo revelam

que ser menino ou menina não está associado ao potencial de resiliência em

adolescentes. Contudo, com a intenção de compreender melhor a relação do sexo com

as questões referentes aos aspectos comunitários (estrato social, violência comunitária

e apoio social) e individuais (estratégias de coping, depressão, satisfação da vida e uso

de álcool e maconha) abordados neste capítulo, modelos de regressão logística foram

produzidos, tendo a resiliência como variável desfecho e sexo como efeito

modificador (incluído como um termo de interação no modelo).

Os resultados desta análise de regressão logística indicam duas variáveis que

apresentaram interações estatisticamente significativas (p<0,001) com o sexo,

apontando para a maior vulnerabilidade feminina: (1) ao serem agredidas em sua

localidade de forma forte o bastante de modo que tenha precisado de curativos ou ir

ao médico, as meninas adolescentes têm maior probabilidade do que meninos de

terem baixo potencial de resiliência ; (2) o uso da maconha ou outras drogas é mais

relatado pelas meninas com baixo potencial de resiliência, em comparação com

meninos com este nível de resiliência. Tal resultado pode sugerir que as meninas,

culturalmente mais protegidas dos eventuais riscos extradomésticos acabam por se

mostrar mais vulneráveis quando expostas a situações citadas acima.

O entorno sócio afetivo, o contexto sócio cultural e a tipologia dos eventos

de risco e vulnerabilidade são diferentes para adolescentes do sexo masculino e

femino. Culturalmente, as meninas são mais protegidas e reservadas ao ambiente do

79
lar, enquanto meninos são encorajados a atuar ativamente no ambiente em que vivem.

Com isso, os achados epidemiológicos frequentemente encontrados apontam,

predominantemente para desordens relacionadas a depressão e estresse em meninas,

enquanto meninos tem maior índice de exposição aos eventos traumáticos e

transtornos trangressores (Becker et al, 2007, Bernard, 1995;).

Os resultados obtidos neste capítulo referentes à questão de gênero merecem

ser analisados com cautela, uma vez que o número de participantes é baixo ao se

estratificar as variáveis de análise e ainda com a interação entre os sexos. Estudos

futuros precisam se deter na compreensão destas relações.

Ainda que não sejam evidentes as diferenças entre o sexo e o potencial de

resiliência dos adolescentes de São Gonçalo, é fundamental que se possa incluir este

constructo nos programas de atenção aos adolescentes. Existem diversos estudos que

relacionam a importância da abordagem diferenciada entre os meninos e meninas

(Rohlfs, 1999; Mcdonough, 2001; Camara, 2007) e afirmam ainda a necessidade de

agregar essas diferenças nas estratégias de atuação em saúde, educação e

conscientização dos indivíduos que compõem uma comunidade.

Estratégias de promoção de resiliência na comunidade e escola: algumas

reflexões

Promover resiliência é um grande desafio! Questiona-se no meio acadêmico

quais são os mecanismos que devem ser estimulados com este fim e de que maneira é

possível promover resiliência em indivíduos e em comunidades. Existem diversos

80
programas de atuação e diretrizes para o trabalho dos profissionais que pretendem

atuar nesta direção. Edith Grotberg (1993), um dos grandes nomes internacionais do

estudo sobre resiliência, propõe que profissionais de escolas estimulem o debate

acerca do tema e postula três fatores básicos na promoção da resiliência: eu tenho, eu

sou e eu posso (I HAVE, I AM, I CAN). Cada um destes enfatiza as diferentes

potencialidades do indivíduo, onde o primeiro seria uma forma de destacar que há

alguém disposto a servir como suporte; o segundo esclarece as forças, os sentimentos

e encoraja as crenças e; o terceiro visa desenvolver as potencialidades dos indivíduos.

A autora propõe o debate acerca do tema e a dinâmica de grupo como estratégias para

o desenvolvimento do potencial de resiliência escolar e comunitária.

Lakewood, uma cidade de médio porte dos Estados Unidos, desenvolveu um

programa de sucesso na promoção de resiliência e redução das taxas de violência

contra crianças e adolescentes. A cidade enfrentava uma onda de violência e de abuso

de álcool e drogas entre adolescentes, ao mesmo tempo em que o abandono escolar

vinha crescendo, devido a ameaças de bomba e violência na escola. Primeiramente,

foi feito um diagnóstico sobre os motivos para o aumento da violência entre os

adolescentes e sobre o papel das instituições envolvidas, ou seja, onde falharam, o que

poderiam mudar e que medidas poderiam ser tomadas a curto e a longo prazo. A

partir disso, foram criados modelos de atenção às famílias juntamente às escolas, além

de centros de aconselhamento e o encaminhamento dos casos mais graves para o

serviço equivalente ao conselho tutelar da cidade, a fim de que fossem acompanhados

e avaliados periodicamente. Aumentaram o controle da venda de álcool a

adolescentes e o policiamento nas ruas. A violência entre os adolescentes foi

trabalhada com palestras e acompanhamento psicológico. O trabalho assíduo junto

81
aos adolescentes foi importante e procurou fortalecê-los para que se tornassem

também protagonistas dessa mudança.

O caso descrito é parte de um livro chamado “Learning from resilient

people”, de Morley Glicken (2006). O caso da cidade de Lakewood serviu de

exemplo para outras cidades americanas e mostra que com o investimento

governamental e a devida implicação de pessoas e instituições de uma comunidade

em questões como a violência e outros problemas comuns na adolescência e na

comunidade pode-se estimular a resiliência de adolescentes e jovens, tornando assim,

a própria comunidade mais resiliente. Dentre as características que este programa

visava desenvolver estavam as estratégias de coping, por acreditar que os

adolescentes precisavam desenvolver mecanismos para superar as adversidades que

enfrentavam.

Outras estratégias e intervenções coletivas baseadas na resiliência têm sido

utilizadas especialmente em projetos identificados na América Latina, e variam em

função das diferentes realidades sociais e étnicas. O Brasil e a Argentina têm

acumulado experiências e materiais para a capacitação de pessoal e para inclusão dos

grupos familiares, em função de promoção de atitudes resilientes em termos

individual e comunitário (Ferreira, Silveira & Peixoto, 2013; Munist et al, 2013).

Ojeda (2007) afirma que atualmente pode-se considerar a resiliência como ferramenta

de genuíno cunho latino-americano, que pode ser utilizada na luta contra a pobreza e a

desigualdade.

Uma iniciativa brasileira que focaliza intervenções baseadas em atividades

esportivas e culturais acontece no Rio de Janeiro, desde 2003, no Instituto Reação. É

uma iniciativa do judoca medalhista olímpico Flávio Canto, atuante em comunidade

82
de baixa renda, com objetivo de promover o desenvolvimento humano e a inclusão

social por meio de ações complementares de educação (Soares, 2007). A ideia de

utilizar o esporte como instrumento de atração dos jovens visa desenvolver

competências sociais, cognitivas e pessoais dos alunos, que mantém com o projeto, o

compromisso de se manter na escola e com bom aproveitamento. Além disso, o Judô,

possui fortes componentes educacionais, de disciplina, respeito ao próximo e não

violência, fortalecendo assim a autoestima, determinação e autoconfiança dos

adolescentes, características importantes para o desenvolvimento do potencial de

resiliência e ainda inspiradora de estratégias de enfrentamento de adversidades, como

coping ativo e de suporte, já citadas como fatores decisivos para a adolescência. As

referidas comunidades são marcadas pela violência e pelo domínio de facções do

crime organizado e a iniciativa acabou fortalecendo os jovens, projetando o nome

dessas comunidades com boas notícias, como a da medalha de ouro conquistada pela

atleta Rafaela Silva, primeira brasileira a conquistar o título de campeã Mundial,

exemplo de superação de adversidades.

Partindo das referências mais importantes da área, já citadas ao longo do

texto, e em posse dos resultados do estudo realizado com os adolescentes de São

Gonçalo, pode-se verificar que, ainda que a comunidade ofereça adversidades, se o

adolescente pode contar com o apoio de pares e de pessoas próximas, para alguns a

resiliência pode se manter estável, proporcionando aos adolescentes a possibilidade de

superação dessas adversidades e mostrando que a comunidade, ainda que enfrente

condições adversas, pode oferecer o que há de mais importante para o

desenvolvimento, que é o suporte humano, o afeto e a transmissão da cultura (Schore,

2003)

83
O ambiente escolar também deve ser incluído no trabalho de promoção de

resiliência. Os profissionais que ali atuam devem ser capacitados para lidar com as

dificuldades comuns de cada etapa do desenvolvimento e ainda precisam estar atentos

para identificar situações onde devem intervir, tais como: situações de violência, maus

tratos ou negligência de cuidados básicos, conflitos entre alunos, bem como situações

de pobreza extrema ou outras condições em que as famílias precisem ser

encaminhadas para serviços de assistência social. O trabalho da escola não se limita

apenas à educação relativa às áreas do saber. Essa instituição possui papel

fundamental na construção subjetiva de futuros homens e mulheres, podendo atuar

como potente tutor de resiliência na comunidade. Se estes sujeitos que compõem a

comunidade forem capazes de trabalhar em prol da superação de adversidades, sem

dúvidas o potencial de saúde e de bem estar da mesma em que vivem os adolescentes

poderá ser ampliado, o que gera um processo cíclico no desenvolvimento do potencial

de resiliência.

É de extrema importância incluir os elementos do ambiente e da comunidade

no processo de desenvolvimento do potencial de resiliência dos adolescentes, uma vez

que este constructo não se limita apenas a um estado psicológico de bem estar, nem

mesmo a um conjunto de comportamentos positivos e socialmente aceito após a

exposição ao risco ou ainda uma condição que resulte de capacidades inatas ou

latentes (Ungar, 2005). Há que se considerar as questões estruturais que atingem os

adolescentes e a sociedade de maneira mais ampla, bem como se trabalhar junto à

essas questões de modo que os indivíduos contem com um aparato socioambiental

promotor de saúde e bem estar e possam ainda ter um papel ativo na multiplicação

deste processo. Assim, a resiliência pode ser desenvolvida enquanto traço comum ao

coletivo, cada um dos sujeitos tendo um papel, um lugar social e político onde se

84
constrói e se é construído, se fortalece e é fortalecido pela capacidade de superação

das adversidades.

A relação dialógica estabelecida entre a comunidade e seus membros

correlaciona os atributos individuais e comunitários. Se uma comunidade é composta

por indivíduos fortalecidos e cientes de que possuem papel ativo para melhorá-la, o

ambiente se torna também fortalecido. A participação dos membros de comunidades

nas intervenções propostas para melhorá-lo e o trabalho próximo de promoção de

cuidados com jovens têm reflexos imediatos. Contudo, o desafio em promover a

resiliência é enorme, com ele estão propostos também outras questões, não basta

apenas focar na eliminação das adversidades e na promoção de cuidados. É

indispensável que haja também a promoção de uma cultura de apoio e atenção às

necessidades dos jovens desde o ambiente familiar, a comunidade pode ajudar e

muito, mas a singularidade de cada adolescente deve ser atendida e valorizada no

âmbito, privado, onde já ficou claro que o apoio de pessoas próximas, supervisão

familiar e relacionamento com a família é decisivo para o desenvolvimento da

resiliência (Chao, 2002; Compas, 2007; Walsh, 2006).

Estratégias de promoção de resiliência e saúde

Existe um crescente interesse pelo estudo da resiliência e sua aplicação no

campo da prevenção e promoção da saúde tendo como base o indivíduo, a família, a

escola e a comunidade. Essa nova tendência no campo da saúde pública reflete o

progressivo abandono da abordagem centrada nos fatores de risco e em contrapartida,

o crescimento da ênfase dada aos fatores positivos que levam um indivíduo a superar

a adversidade. Esse novo paradigma é certamente otimista, principalmente por

85
acreditar que é possível, através de ações e programas, promover o bem estar do

indivíduo e da comunidade através do fortalecimento e desenvolvimento de

competências pessoais e comunitárias que proporcionem resiliência (Bloom, 1996;

Munist et al, 1998).

Como se pode chegar a esse fortalecimento comunitário? Se pensarmos que é

possível reconhecer e impulsionar as competências individuais e grupais e que os

recursos sociais podem reforçar as resiliências de pessoas, famílias, comunidades e

culturas, então exercitar um permanente olhar sobre as competências é uma ação que

deve ser constante no campo da saúde e da educação. Em um nível relacional, uma

escuta e um acolhimento mais cuidadoso à criança, ao adolescente e à sua família por

parte do profissional de saúde e educação é essencial tanto na prevenção quanto no

cuidado das pessoas e suas histórias de violência.

A atuação da Estratégia de Saúde da Família mostra grande potencial de ação

em nível comunitário, à medida que suas equipes possam se preparar para lidar com

esses tipos de problemas. Trabalhar a família como foco da atenção tem sido uma

estratégia para interromper a vulnerabilidade de seus membros e também das

comunidades, uma vez que elas têm responsabilidade e potencial para atuar frente aos

problemas dos locais em que vivem, tais como marginalidade e violência. Agregar o

enfoque de família/agente significa viabilizar ações através de seus recursos próprios.

É justamente a partir da articulação de diversas estratégias, como as acima

citadas, e os esforços provenientes da família e daqueles que compõem a comunidade

que a promoção de resiliência pode de fato ocorrer. O processo de desenvolvimento

da resiliência, conforme apresentado ao longo deste capítulo, não é um estado

adquirido e imutável, ele demanda o trabalho contínuo de pessoas dispostas a transpor

86
as barreiras das dificuldades locais para fazer as mudanças acontecerem. É possível

apostar no efeito contagioso da resiliência na comunidade para promover a resiliência

de cada adolescente, de maneira singular, respeitando e incluindo as diferenças e

promovendo um ambiente fortalecido e uma cultura de superação.

87
Referências bibliográficas

Abipeme – Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado. (2001). Critério

de classificação econômica Brasil. São Paulo.

Calbo, A. S., Busnello, F. D. B., Rigoli, M. M., Schaefer, L. S., & Kristensen, C. H.

(2009). Bullying na escola: Comportamento agressivo, vitimização e conduta pró-social

entre pares. Contextos clínicos, 2(2), 73-80.

American Psychiatric Association. (2003). DSM-IV-TR: manualdiagnóstico e estatístico

de transtornos mentais. Porto Alegre: Editora Artes Médicas.

American Psychological Association, & American Psychological Association. (2005).

Policy statement on evidence-based practice in psychology. Retrieved on July, 27, 2010.

Andrade, T. M. R., & Argimon, I. I. D. L. (2006). Sintomas depressivos eo uso de

substâncias psicoativas durante a vida em adolescentes. Revista Brasileira de Terapias

Cognitivas, 2(1), 95-104.

Assis, S. G. D., Avanci, J. Q., Pesce, R. P., & Njaine, K. (2008). Resiliência na

adolescência: refletindo com educadores sobre superação de dificuldades. Rio de Janeiro:

FIOCRUZ; ENSP; CLAVES; CNPq.

Assis, S. G. D., Avanci, J. Q., Pesce, R. P., & Ximenes, L. F. (2009). The situation of

Brazilian children and adolescents with regard to mental health and violence. Ciência &

Saúde Coletiva, 14(2), 349-361.

Assis, S. G., Pesce, R. P., Avanci, J. Q. & Oliveira, R. V. (2011) Socioeconomic

88
development, family income, and psychosocial risk factors: a study of families with

children in public elementary school. Cadernos de Saúde Pública, 27(suppl.2), 209-s221.

Assis, S. G., & Marriel, N. S. M. (2010). Reflexões sobre violência e suas manifestações

na escola In: Impactos da violência na escola. Um diálogo com professores.

Assis, S. G., Pesce, R. P., & Avanci, J. Q. (2006). Resiliência: enfatizando a proteção dos

adolescentes. Porto Alegre: Grupo A.

Avanci, J. Q., Assis, S. G., & Oliveira, R. V. (2008). Sintomas depressivos na

adolescência: estudo sobre fatores psicossociais em amostra de escolares de um município

do Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 24(10), 2334-2346.

Ayers, T.S., Sandler, I.N., West, S.G., Roosa, M.W. (1996). A dispositional and

situational assessment of children's coping: testing alternative models of coping. Journal

of Personality, 64(1):923–958.

Becker, J. B., Monteggia, L. M., Perrot-Sinal, T. S., Romeo, R. D., Taylor, J. R., Yehuda,

R., & Bale, T. L. (2007). Stress and disease: is being female a predisposing factor?. The

Journal of Neuroscience, 27(44), 11851-11855.

Bernard, B. (1995). Fostering resiliency in children. Urbana, IL:(ERIC Document

Reproduction Service No. ED386327).

Bloom, M. (1996). Primary prevention and resilience: changing paradigms and changing

lives. Preventing violence in America, 4, 87-114.

Bordini, G. S., & Sperb, T. M. (2012). Concepções de gênero nas narrativas de

adolescentes. Psicologia: Reflexão e Crítica, 25(4), 738-746.

89
Bronfenbrenner, U. (1996). A ecologia do desenvolvimento humano: Experimentos

naturais e planejados (M. A. V. Veronese, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. (Original

publicado em 1979)

Bronfenbrenner, U., & Evans, G. W. (2000). Developmental science in the 21st century:

Emerging questions, theoretical models, research designs and empirical findings. Social

development, 9(1), 115-125.

Câmara, S.G., Carlotto, M.S. (2007). Coping e Gênero em Adolescentes. Psicologia em

Estudo, 12(1), 87-93.

Cecconello, A. M.; & Koller, S. H., (2000). Competência social e empatia: um estudo

sobre resiliência com crianças em situação de pobreza. Estudos de Psicologia, 5(1), 71-93.

Chao, R. K., & Willms, J. D. (2002). The effects of parenting practices on children’s

outcomes. Vulnerable children: Findings from Canada’s national longitudinal survey of

children and youth, 149-165.

Chor, D., Griep, R. H., Lopes, C. S., & Faerstein, E. (2001). Social network and social

support measures from the Pró-Saúde Study: pre-tests and pilot study. Cadernos de Saúde

Pública, 17(4), 887-896.

Compas, B.E., Connor-Smith, J. K., Saltzman, H., Thomsen, A. H. & Wadsworth, M. E.

(2007). Coping with stress during childhood and adolescence: problems, progress, and

potential in theory and research. Psychological bulletin, 127(1), 87-127.

Costa, A. B., & Nardi, H. C. (2013). Sexual diversity and psychological evaluation: human

rights in question. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(SPE), 124-137.

90
Diener, E. D., Emmons, R. A., Larsen, R. J., & Griffin, S. (1985). The satisfaction with

life scale. Journal of personality assessment, 49(1), 71-75.

Elizur, Y., & Ziv, M. (2001). Family Support and Acceptance, Gay Male Identity

Formation, and Psychological Adjustment: A Path Model. Family process, 40(2), 125-144.

Fergusson, D. M., Horwood, L. J., & Beautrais, A. L. (1999). Is sexual orientation related

to mental health problems and suicidality in young people?. Archives of general

psychiatry, 56(10), 876-880.

Ferreira, A. L., da Silveira, M. D. F. G., & Peixoto, A. C. L. (2013). Promoção de cultura

de paz e resiliência: um estudo de caso do projeto de extensão rede coque vive da UFPE.

Reflexão & Ação, 21(1), 140-168.

Gouveia, V. V., Barbosa, G. A., Almeida, H. J. F. D., & Gaião, A. D. A. (1995).

Inventário de depressão infantil-CDI: estudo de adaptação com escolares de João Pessoa;

Children's depression inventory-CDI: adaptation study with students of João Pessoa.

Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 44(7), 345-349.

Kovacs M. (2003). Children's Depression Inventory (CDI): Technical Manual Update.

Toronto: Multhi-Health Systems Inc.

Fowler, P. J., Tompsett, C. J., Braciszewski, J. M., Jacques-Tiura, A. J., & Baltes, B. B.

(2009). Community violence: A meta-analysis on the effect of exposure and mental health

outcomes of children and adolescents. Development and Psychopathology, 21(1), 227-259.

Glicken, M. D. (2006). Learning from resilient people: Lessons we can apply to

counseling and psychotherapy. Sage.

91
Grotberg, E. (1993). Promocion de la "defensa ante la adversidad" en los ninos: Nueva

aproximacion.' In: Medicina y Sociedad, 10(1-2), 24-30.

Hutz, C. S., & Giacomoni, C. H. (1998). Adaptação da Escala de Satisfação de Diener

para o Brasil. Porto Alegre: UFRGS.

Giacomoni, C. H., & Hutz, C. S. (2006). Escala de afeto positivo e negativo para crianças:

estudos de construção e validação. Psicologia escolar e educacional, 10(2), 235-245.

Kahn, K., Tollman, S. M., Garenne, M., & Gear, J. S. (1999). Who dies from what?

Determining cause of death in South Africa's rural north‐east. Tropical Medicine &

International Health, 4(6), 433-441.

Lazarus, R. S., Folkman, S. (1984). Stress, appraisal, and coping. NewYork: Springer.

Lock, J., & Steiner, H. (1999). Gay, lesbian, and bisexual youth risks for emotional,

physical, and social problems: Results from a community-based survey. Journal of the

American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, 38(3), 297-304.

Lopes Neto, A. A. (2005). Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de

Pediatria, 81(5), 1-12.

Margolin, G., & Gordis, E. B. (2000). The effects of family and community violence on

children. Annual review of psychology, 51(1), 445-479.

McDonough, P., & Walters, V. (2001). Gender and health: reassessing patterns and

explanations. Social science & medicine, 52(4), 547-559.

Munist, M., Santos, H., Kotliarenco, M. A., Suárez, E., Infante, F., & Grotberg, E. (1998).

Manual de identificación y promoción de la resiliencia en niños y adolescentes.[Manual

92
for identifying and promoting resilience in children and adolescents] Washington DC:

Panamerican Health Organization/WHO.

Ojeda, E. N. S., Jara, A., & Marquez, C. (2007). Resiliência comunitária. In L. C. Hoch &

S. M. Rocca, Sofrimento, resiliência e fé–implicações para as relações de cuidado (pp.

33-59). São Leopoldo: Sinodal.

Pesce, R.P., Assis S.G., Avanci, J.Q., Santos, N.C., Malaquias, J.V., Carvalhaes, R.

(2005). Adaptação transcultural, confiabilidade e validade da escala de

resiliência. Cadernos de Saúde Pública, 21(2), 436-448.

Phelps, Lori F., Michael R. McCart, and W. Hobart Davies. "The Impact of Community

Violence on Children and Parents Development of Contextual Assessments." Trauma,

Violence, & Abuse 3.3 (2002): 194-209.

Pitzner, J.K., & Drummond, P.D., (1997). The reliability and validity of empirically scaled

measures of psychological/verbal control and physical/sexual abuse: relationship between

current negative mood and a history of abuse independent of other negative life Events.

Journal of Psychosomatic Research, 2(1), 125-142.

Robert, S. A., Li, L. W. (2001). Age variation in the relationship between community

socioecomic status and adult health. Research on aging, 23(2), 233-258.

Rodriguez, D. H. (2005). O humor como indicador de resiliência. In: Melillo, A.; Ojeda,

E. N. S. Resiliência: descobrindo as próprias fortalezas. Porto Alegre: Artmed Editora.

Rohlfs, D. (1999). La perspectiva de género el estudio de las diferencias y desigualdades

93
en salud [Resumen]. Anais de la I Jornada de la Red de Médicas y Profesionales de la

Salud, Madrid, 2, 12-13.

Roughgarden, J., (2005). Evolução do gênero e da sexualidade. Londrina: Planta.

Salle, E. (1999). Estudo de sintomatologia depressiva em adolescentes de 15 a 17 anos de

II grau de Porto Alegre, através das escalas auto-aplicáveis Beck Depression Inventory

(BDI) Carrol Rating Scale (CRS). Center for Epidemiological Studies for depression

(CES-D). Dissertação de Mestrado não publicada, Programa de Pós-Graduação em

Clínica Médica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.[Links].

Severo, A.C., Busnello, F. D. B., Rigoli, M. M., Schaefer, L. S., & Kristensen, C. H.

(2009). Bullying na escola: Comportamento agressivo, vitimização e conduta pró-social

entre pares. Contextos Clínicos, 2(2), 73-80.

Sherbourne, C. D., & Stewart, A. L. (1991). The MOS social support survey. Social

science & medicine, 32(6), 705-714.

Schore, A. N. (2003). Affect dysregulation & disorders of the self (pp. 178-234). New

York: WW Norton.

Silva, M. R. S. (2003). A construção de uma trajetória resiliente durante as primeiras

etapas do desenvolvimento da criança: o papel da sensibilidade materna e do suporte

social. Tese de doutorado, Programa de Pós-graduação em enfermagem, Universidade

Federal de Santa Catarina.

Segato, R. L. (1997). Os percursos do gênero na antropologia e para além dela. Sociedade

e Estado,12(2), 235-262.

94
Skinner, E.A., (2003). Searching for the structure of coping: a review and critique of

category systems for classifying ways of coping. Psychological bulletin, 129(2), 216-269.

Soares, A. J. D. M. (2007). O Instituto Reação: um projeto social aplicado. Rio de Janeiro:

Fundação Getúlio Vargas.

Stein, B. D., Jaycox, L. H., Kataoka, S., Rhodes, H. J., & Vestal, K. D. (2003). Prevalence

of child and adolescent exposure to community violence. Clinical child and family

psychology review, 6(4), 247-264.

Steinberg, A. M., Brymer, M. J., Decker, K. B., & Pynoos, R. S. (2004). The University of

California at Los Angeles post-traumatic stress disorder reaction index. Current psychiatry

reports, 6(2), 96-100.

Trombeta, L. H. A., & Guzzo, R. S. L. (2002). Enfrentando o coitidiano adverso: estudo

sobre resiliência em adolescentes. Cidade: Alínea.

Ungar, M. (Ed.). (2005). Handbook for working with children and youth: Pathways to

resilience across cultures and contexts. Cidade: Sage.

Wagnild, Gail M.; Young, Heather M. (1993). Development and psychometric evaluation

of the Resilience Scale. Journal of nursing measurement, Volume(número), páginas.

Waiselfisz, J. J. (2011). Mapa da Violência: os jovens do Brasil: versão para web.

Brasília: Instituto Sangari, Ministério da Justiça.

Walsh, F. (1996). The concept of family resilience: Crisis and challenge. Family process,

35(3), 261-281.

Wathier, J.L., Dell'Aglio, D.D., & Bandeira, D.R., (2008). Análise fatorial do Inventário

95
de Depressão Infantil (CDI) em amostra de jovens brasileiros. Avaliação

Psicológica, 7(1):75-84.

Zavaschi, M. L. S., Satler, F., Poester, D., Vargas, C. F., Piazenski, R., Rohde, L. A. P., &

Eizirik, C. L. (2002). Associação entre trauma por perda na infância e depressão na vida

adulta. Revista Brasileira de Psiquiatria, 24(4), 189-195.

96
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados desta dissertação apontam questões importantes acerca do tema

resiliência. Cada manuscrito levanta um ponto principal de discussão que permeia e é

permeado pela literatura especializada na temática investigada no presente estudo. O

trabalho de análise quantitativa dos dados da pesquisa original se iniciou com um

levantamento bibliográfico acerca do tema resiliência, de textos que tratavam da

questão de gênero e desenvolvimento e ainda das relações que os adolescentes

estabelecem com a família e a comunidade, e o impacto que estas possuem sobre o

potencial de resiliência dos adolescentes.

Foi possível notar neste levantamento um crescente interesse acerca da

resiliência na última década, principalmente no que tange aos fatores de risco e

proteção a que os adolescentes estão submetidos. Contatou-se ainda, que o conceito

da resiliência vem sendo reformulado ao longo do tempo, e que hoje é compreendido

enquanto conjunto de fenômenos, e não mais como uma característica estanque que o

individuo possui ou não. Esta noção de processo que se tem hoje acerca do conceito

oferece aos profissionais que atuam junto a adolescentes a possibilidade de estender o

conceito à prática. Desta forma, é possível se falar em promoção de resiliência e em

fortalecimento da capacidade de superar adversidades.

Contudo, muitas são as críticas acerca do conceito de resiliência. A fim de

esclarecê-las, proponho algumas reflexões. Primeiro, a ideia da promoção de

resiliência não é uma proposta que visa o desenvolvimento de jovens invulneráveis,

capazes de suportar qualquer adversidade. Muito pelo contrário, a ideia visa promover

97
sim a resiliência, mas juntamente a propostas que vão ao encontro da linha de

cuidados e proteção de crianças e adolescentes. A própria Organização Pan-

Americana de Saúde (OPS) entende que estes são cuidados complementares e associa

os fatores de proteção diante de condições de vulnerabilidade à temática da

resiliência, uma vez que os primeiros moderam a relação entre riscos e o

desenvolvimento do sujeito (Adolescência Latino-americana, 2001). Segundo, a

crítica mais comum é relacionada à relação do conceito como uma característica

ideológica de sucesso individual e de uma adaptação passiva às normas sociais, o que

criaria uma ideia restrita da resiliência com competência, gerando um estigma e um

rótulo (Aznar-Farias & Monteiro, 2006). No entanto, os próprios autores que

trabalham com modelos de resiliência em suas pesquisas alertam para o fato de que

promover resiliência não substitui de forma alguma políticas de combate à miséria,

violência, desigualdade social e nem tão pouco representa uma conformidade e

adaptação passiva diante de adversidades (Luthar & Cicchetti, 2000; Rutter & Bishop,

2011). Indicar a resiliência como uma característica intrínseca é justamente negar que

a resiliência possa ser contingente, provisória, imprevisível e dinâmica.

Em relação aos resultados aqui encontrados, tenho algumas reflexões. O

primeiro artigo produzido ao longo do mestrado procurou salientar as diferenças do

potencial de resiliência de meninos e de meninas com enfoque nas relações familiares

que permeiam a adolescência. Nesta investigação, não encontrou-se diferenças

significativas no potencial de resiliência entre os sexos, podendo-se supor que muitos

aspectos do universo familiar afetam igualmente o potencial de resiliência de meninos

e meninas. No entanto, foi possível observar que alguns fatores familiares parecem

ser estratégicos e mais impactantes ao potencial de resiliência, a saber: um difícil

relacionamento com a mãe e com outros parentes; a ausência de supervisão da família

98
à criança e ao adolescente; conjugado à violência como forma de comunicação Com

isso, podemos afirmar que um vínculo familiar de qualidade protege a autoestima do

sujeito e lhe confere segurança por ser pautado na aceitação de sua autoimagem.

Essas questões estão relacionadas com o cuidado e atenção e conforme já

mencionado, estão relacionadas ao desenvolvimento do potencial de resiliência,

especialmente quando o assunto é promoção de saúde. Neste contexto, a inclusão dos

elementos relacionais da família pode ser um caminho para elucidar as múltiplas

dimensões e a complexidade que envolve o trabalho junto a adolescentes, segundo

inclusive a ótica do gênero.

No capítulo do livro, foi possível observar de que maneira a comunidade

influencia ativamente a capacidade de superação dos problemas dos adolescentes. Os

resultados destacam o apoio social como um elemento decisivo para que o potencial

de resiliência seja mais protegido. Ou melhor, a existência de uma rede de apoio

acolhedora, cuidadora e atenta às necessidades do adolescente - o que inclui presença

da família e de amigos ou outras pessoas com quem o adolescente pode contar e

dividir medos e inseguranças - pode fazer diferença na forma com que ele enfrenta as

adversidades vivenciadas em seu meio de convivência.

Em relação às questões de gênero estudadas em ambos os manuscritos, o

presente estudo revelou que ser menino ou menina não está associado ao potencial de

resiliência em adolescentes. Contudo, ainda que estas diferenças não apareçam em

relação ao potencial de resiliência, é fundamental que se possa incluir este constructo

nos programas de atenção aos adolescentes. Existem diversos estudos que relacionam

a importância das diferenças de gêneros nas mais distintas formas de relação (Rohlfs,

1999; Mcdonough, 2001; Camara, 2007) e afirmam ainda a necessidade de agregar

99
essas diferenças nas estratégias de atuação em saúde, educação e conscientização dos

indivíduos que compõem uma comunidade, a fim de construir uma cultura de respeito

às diferenças e uma educação comunitária mais igualitária.

Dessa forma, seja qual for o contexto, promover resiliência é um desafio. No

entanto, somente a partir da união de forças das diversas estratégias dos governos, das

escolas e da comunidade, bem como esforços provenientes da própria família é que a

disseminação do conceito e a promoção de da resiliência propriamente dita pode

acontecer.

100
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Adolescência latino-americana, 2001; 2 (3), 124-176.

Assis SGD, Avanci, JQ, Pesce RP, Njaine K. Resiliência na adolescência: refletindo

com educadores sobre superação de dificuldades. In Resiliência na adolescência:

refletindo com educadores sobre superação de dificuldades. FIOCRUZ; ENSP;

CLAVES; 2008.

Assis SG, Pesce RP, Avanci JQ, Pesce RP, Avanci JP. Resiliência: enfatizando a

proteção dos adolescentes. Grupo A; 2006.

Bourdieu P. A economia das trocas simbólicas. São paulo: perspectiva, 1982.

Bussey K, Bandura, A. Social cognitive theory of gender development and

differentiation. Psychological Review, 1999; 106, 676-713.

Callegaro MM, Landeira-Fernandez J. Pesquisas em neurociência e suas

implicações na prática psicoterápica. Psicoterapias abordagens atuais, 2007; 3,

851-872.

Cyrulnik, B. Os patinhos feios. Tradução Mônica Stahel. São Paulo: Martins

Fontes; 2004.

Eisenstein E, Souza RP. Situações de risco à saúde de crianças e adolescentes.

Petrópolis: Vozes, 1993.

Eliot, L. Pink brain, blue brain: How small differences grow into troublesome

gaps-and what we can do about it. Oneworld Publications; 2012.

101
Garbarino, J., Dubrow, N., Kostelny, K., & Pardo, C. (1992). Children in danger:

Coping with the consequences of community violence. Jossey-Bass.

Garmezy, N. Resilience and vulnerability to adverse developmental outcomes

associated with poverty. American Behavioral Scientist; 1991.

Godoy K, Aparecido B. Avaliação da resiliência em escolares do ensino

médio. Mudanças-Psicologia da Saúde. 2011; 18(2):79-90.

Grotberg E. The international resilience project. A charge against society: the

child's right to protection, 19-32; 1997.

Grotberg E. Introdução: novas tendências em resiliência. In: melillo, a; ojeda, e. N. S.

et al. Resiliência: descobrindo as próprias fortalezas. Porto Alegre: Artmed, 2005.

Grünspun H. Conceitos sobre resiliência. Revista Bioética, 2003;10(1).

Infante FA. Resiliência como processo: uma revisão da literatura recente. In: Melillo,

A.; Ojeda, E.N.S. (eds.). Resiliência: descobrindo as próprias fortalezas. São Paulo;

Artmed, 2005.

Infante F. A resiliência como processo: uma revisão da literatura recente.

Resiliência: descobrindo as próprias fortalezas, 23-38; 2005.

Infante FA. Resiliência como processo: uma revisão da literatura recente. In: Melillo,

A.; Ojeda, E.N.S. (eds.). Resiliência: descobrindo as próprias fortalezas. São Paulo;

Artmed, 2005.

102
Junqueira MDF, Deslandes SF. Resilience and child abuse. Cadernos de Saúde

Pública, 2003;19(1), 227-235.

Kaplan H. Toward an understanding of resilience: A critical review of definitions and

models”, en Glantz, M.; Johnson, J. (eds.), Resilience and development: positive life

adaptations, Plenum Publishers, New York, p. 17-84, 1999.

Luthar S, Cicchetti D, Becker, B. The construct of resiliencea critical evaluation and

guidelines for future work. Child Development, 2000.

Luthar SS, Cicchetti D, Becker B. The construct of resilience: A critical evaluation

and guidelines for future work. Child development, 2000; 71(3), 543-562.

Malinosky-Rummel R, Hansen DJ. Long-term consequences of childhood physical

abuse. Psychol Bull, 1993; 114:68-79.

Mghir, R. I. M., Freed, W., Raskin, A., & Katon, W. (1995). Depression and

posttraumatic stress disorder among a community sample of adolescent and young

adult Afghan refugees. The Journal of nervous and mental disease, 183(1), 24-30.

Monteiro IS, Costa Maia, A. Avaliação psicométrica de três questionários sobre a

história familiar. Rev Psiquiatr Clin, 2010; 37(3), 97-104.

Munist, M., Santos, H., Kotliarenco, M. A., Suárez, E., Infante, F., & Grotberg, E.

(1998). Manual de identificación y promoción de la resiliencia en niños y

adolescentes.[Manual for identifying and promoting resilience in children and

adolescents] Washington DC: Panamerican Health Organization/WHO.

103
Oliva AD, Dias GP, Reis RA. Plasticidade sináptica: natureza e cultura

moldando o Self. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2009; 22(1), 128-135.

Pesce, R. P., Assis, S. G., Avanci, J. Q., Santos, N. C., Malaquias, J. V., &

Carvalhaes, R. (2005). Adaptação transcultural, confiabilidade e validade da escala de

resiliência. Cadernos de Saúde Pública, 21(2), 436-448.

Pesce RP, Assis SG, Santos N, Oliveira RD. Risco e proteção: em busca de um

equilíbrio promotor de resiliência. Psicologia: teoria e pesquisa, 2004; 20(2),

135-143.

Poletto M, Koller SH. Resiliência: uma perspectiva conceitual e histórica.

Resiliência e psicologia positiva: Interfaces do risco à proteção, Casa do

psicólogo, São Paulo, 19-44, 2006.

Ripar AA, Evangelista SFQ. Resiliência e gênero. Psicólogo informação, 2010; 12.12:

33-52.

Rutter M. Psychosocial resilience and protective mechanisms. American

journal of orthopsychiatry, 1987; 57(3), 316-331.

Rutter M. Resilience: Some conceptual considerations. Journal of adolescent

health, 1993; 14(8), 626-631.

Rutter M, Bishop D, Pine D, Scott S, Stevenson JS, Taylor EA, Thapar A.

Rutter's child and adolescent psychiatry. Wiley. Com, 2011.

Sapienza G, Pedromônico MRM. Risco, proteção e resiliência no

desenvolvimento da criança e do adolescente. Psicologia em estudo, 2005;

104
10(2), 209-216.

Schenker M, Minayo MCS. Fatores de risco e de proteção para o uso de drogas na

adolescência. Ciência e Saúde Coletiva, 2005; 10: 707-717.

Steinberg AM, Brymer MJ, Decker KB, Pynoos RS. The University of California at

Los Angeles Post-traumatic Stress disorder reaction index. Curr Psychiatry Rep.

2004; 6(2):96-100.

Silva MRS. A construção de uma trajetória resiliente durante as primeiras etapas do

desenvolvimento da criança: o papel da sensibilidade materna e do suporte social.

Tese de doutorado, Programa de Pós-graduação em enfermagem, Universidade

Federal de Santa Catarina; 2003

Taquette SR, Vilhena MM, Paula MC. Doenças sexualmente transmissíveis e gênero:

um estudo transversal com adolescentes no Rio de Janeiro Sexually transmitted

diseases and gender: a cross-sectional study with adolescents. Cad. saúde pública,

2004; 20(1), 282-290.

Werner EE. Risk, resilience, and recovery: Perspectives from the Kauai

Longitudinal Study. Development and psychopathology, 1993; 5, 503-503.

Werner EE, Smith RS. Kauai's children come of age. Honolulu: University

Press of Hawaii; 1977.

Werner EE, Smith RS. Vulnerable, but invincible: A longitudinal study of

resilient children and youth; McGraw-Hill (New York); 1982.

105
Werner E. What can we learn about Resilience from Large-Scale Longitudinal

Studies? Handbook of resilience in children: Springer; 2006.

Yunes MAM. A questão triplamente controvertida da resiliência em famílias de baixa

renda. Tese de Doutorado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo;

2001.

106
107

Você também pode gostar