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Manolo Garcia Florentino: As Histórias Do Tráfi Co Atlântico de Cativos e Da Escravidão Como Nexos Inevitáveis para Compreender o Brasil e A África

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Manolo Garcia Florentino: as histórias do tráfico atlântico

de cativos e da escravidão como nexos inevitáveis para


compreender o Brasil e a África
Roberto Guedes*

RESUMO
Em homenagem a Manolo Garcia Florentino, o artigo analisa sucintamente sua obra histo-
riográfica com foco nos temas do tráfico atlântico de cativos e da escravidão no Brasil e na
África. Salienta-se que suas abordagens sobre estes assuntos comportam valores heurísticos
em si mesmos ao mesmo tempo em que lhe deram base para interpretar o Brasil de ontem
e de hoje. O homenageado integra uma geração que assistiu ao ensaísmo dar a vez à conso-
lidação do profissionalismo historiográfico, o que foi decisivo para as inovações e impactos
de sua obra. Os ineditismos e os legados intelectuais de Manolo Florentino transformaram
Em costas negras em um clássico da historiografia brasileira e internacional. Sobre esta obra
e sobre A paz das senzalas discorre-se aqui com mais vagar.
Palavras-chave: Manolo Florentino; homenagem; legado historiográfico.

Manolo Garcia Florentino: histories of the atlantic slave trade and slavery
as necessary connections for understanding Brazil and Africa

ABSTRACT
In homage to Manolo Garcia Florentino, this article briefly analyzes his historiographical
contributions, focusing on the themes of the Atlantic slave trade and slavery in Brazil
and Africa. It highlights that his approach to these issues has heuristic value in of itself,
while also providing a basis for interpreting Brazil’s past and present.. Florentino is part
of a generation that witnessed the transition from essayistic interpretations of history to a
consolidated professional historiography, which was important context for the innovations

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/2237-101X02304901
Artigo recebido em 11 de novembro de 2021 e aceito para publicação em 22 de novembro de 2021.
* Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro / Departamento de História, Nova Iguaçu/
RJ – Brasil. Bolsista de Produtividade CNPq 2. E-mail: robertoguedesferreira@gmail.com. ORCID: https://
orcid.org/0000-0001-5500-084X.

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Manolo Garcia Florentino: as histórias do tráfico atlântico de cativos e da escravidão como nexos
inevitáveis para compreender o Brasil e a África
Roberto Guedes

and impacts of his work. The novelties and intellectual legacy of Manolo Florentino turned
Em costas negras into a classic of Brazilian and international historiography, and this article
will carefully analyze that text, along with another, A paz das senzalas.
Keywords: Manolo Florentino; homage; historiographical legacy.

Manolo Garcia Florentino: las historias de la trata atlántica de esclavos y


la esclavitud como eslabones inevitables para entender Brasil y África

RESUMEN
En homenaje a Manolo Garcia Florentino, el artículo analiza sucintamente su obra
historiográfica como foco en los temas del tráfico atlántico de esclavos y de la esclavitud
en Brasil y en África. Se destaca que sus abordajes sobre estos asuntos incorporan valores
heurísticos en sí mismos, al mismo tiempo que le dieron base para interpretar el Brasil de ayer
y de hoy. El homenajeado integra una generación que observó el ejercicio de dar su turno a la
consolidación del profesionalismo historiográfico, lo que fue decisivo para las innovaciones
e impactos de su obra. La originalidad y los legados intelectuales de Manolo Florentino
transformaron Em costas negras en un clásico de la historiografía brasileña e internacional.
Sobre esta obra y sobre A paz das senzalas el artículo se profundiza más.
Palabras Clave: Manolo Florentino; homenaje; legado historiográfico.

Introdução: formação e profissionalização

Premiado com a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico em 2009, professor


e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro entre 1989 e 2019, Manolo Garcia
Florentino cursou a graduação em História na Universidade Federal Fluminense (UFF) no
início dos derradeiros anos da ditadura civil-militar no Brasil, entre 1977 e 1981, e o mes-
trado em Estudos Africanos, entre 1982 e 1985, no Colégio do México, onde defendeu a
dissertação intitulada La Trata Atlántica y las Sociedades Agrárias del Africa Occidental (En-
sayo Sobre las Consecuéncias del Tráfico Negrero en la Agricultura del Oeste Africano, c.1450-
-c.1800). Finalmente consolidou magistralmente a sua trajetória como historiador de sólida
formação ao realizar, entre 1986 e 1991, o doutorado no Programa de Pós-Graduação em
História da UFF, no qual defendeu a tese intitulada Em costas negras: um estudo sobre o tráfico
de escravos africanos para o porto do Rio de Janeiro. c.1790-c.1835. Esta sua obra magna foi
premiada no concurso de monografias do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, em 1993
e publicada por esta mesma instituição em 1995 (FLORENTINO, 1995). A partir deste
livro, atualmente na 5ª edição (FLORENTINO, 2020), mas ainda sem tradução para ou-
tras línguas, fez reconhecer, nacional e internacionalmente, o seu brilhantismo profissional,

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sendo raro um livro em português tornar-se um clássico internacional.1 Do mesmo modo,


o tráfico de cativos lhe serviu de parâmetro para o grosso de suas pesquisas, que ensinaram
que o trato atlântico de humanos é indispensável à compreensão do Brasil e de sociedades
africanas dos séculos XVI ao XIX.
Em seu percurso intelectual, Manolo Florentino foi caudatário e/ou vivenciou intensa-
mente ambientes marcados por controvérsias sobre a formação social da economia colonial,
tema muito presente na historiografia sobre (e da) América Latina, entre os anos 1960 e
1980, no âmbito de estudos marxistas e/ou cepalinos que deram relevo ao que se denominava
de desenvolvimento e subdesenvolvimento.2 Em seu matiz historiográfico, o desenvolvimento
econômico e industrial de países centrais da economia capitalista era, em parte, relacionado
aos seus passados de supostas potências colonizadoras que lhes permitiram extrair riquezas
(sobretrabalho) das áreas coloniais para realizarem acumulação primitiva de capital. Em
contrapartida, o subdesenvolvimento de países ditos periféricos (então designados de Tercei-
ro Mundo) derivava, também, da exploração colonial que sofreram. Logo, desenvolvimento
e subdesenvolvimento eram faces da mesma moeda. Predominantemente, acreditava-se, em-
bora houvesse vozes dissonantes, que as economias coloniais seriam praticamente incapazes
de acumular riquezas devido à transferência de excedentes às metrópoles em seu perene pro-
cesso de acumulação primitiva de capital. Evidentemente, no Brasil, tais perspecti­vas, guar-
dadas as devidas proporções, remontavam a estudos de Caio Prado Júnior e ainda são ideias
vigentes para alguns estudiosos (PRADO JÚNIOR, 1942; FURTADO, 1963, NOVAIS,
1986 [1979]).3 Explicar a economia colonial era indispensável ao entendimento da divisão
internacional do trabalho, da pobreza, da desigualdade e da péssima distribuição de riqueza.
Este era o cenário florescente quando Florentino elaborava suas reflexões, no entanto ele se
inseriu nesta seara não a partir da análise das relações sociais de produção, mas via tráfico
atlântico de cativos.
Pari passu, na historiografia europeia, maiormente, mas não apenas, de matrizes fran-
cesa e inglesa, eram recorrentes, entre anos 1950 e 1970, abordagens sobre a transição do
feudalismo para o capitalismo, as chamadas crises dos séculos XIV e XVII; acumulação
primitiva de capital; origens do capital industrial; racionalidade de sistemas econômicos
etc.; como se observa em abordagens, entre outras, de Sweezy, Dobb et al (1977), Brenner
(1976), Kula (1979), Dobb (1980), O’Brien (1982), O’Brien e Engerman (1991). Na oca-
sião, a História Econômica era um dos carros-chefes da historiografia internacional, senão o
principal (LABROUSSE, 1955; 1962, p. 340-372; 1973; KULA, 1973; 1979; DAUMARD,

1
Entre outras, ver referências a seu livro maior em Eltis (2001, p. 17-46), Eltis e Richardson (2008, p. 11; 54),
Curto (2002, p. 383) e Candido (2013, p. 111; 153; 166). A internacionalização do autor também se observa
em sua intensa atuação no projeto Slave Voyages. Cf. https://www.slavevoyages.org/
2
Sobre influências da teoria da dependência em estudos sobre economia colonial, cf. Cardoso e Brignoli
(1983, p. 205).
3
Cf. balanços, para essas ocasiões historiográficas, em Hirano (1988) e Bielschowsky (1995).

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1985), mormente de inspiração marxista e/ou braudeliana, em muitos casos assentada em


técnicas seriais de análise (baseada em fontes quantificáveis e que se repetem no tempo)
(­GODINHO, 1973; CARDOSO; BRIGNOLI, 1983). Entre muitos outros, pesquisas em
História Econômica sublinhavam temas econômicos dos estados modernos em suas relações
com as denominadas colônias americanas e predominavam as teses pautadas na ideia de ca-
pitalismo comercial. No caso, esta caracterização do capitalismo que seria vigente na época
moderna era, frequentemente, apreendida a partir da (escala da) circulação de mercadorias
e não da formação social, nesta incluídas as relações sociais de produção, as modalidades
predominantes de trabalho, as relações de poder etc.
Complementava tal quadro as teorias sobre Estado Moderno que o concebiam como de
feição absolutista, a entidade da qual emanavam os elos políticos entre metrópoles e suas colô-
nias. Então, o Estado Moderno Absolutista, representado por suas metrópoles europeias, seria
altamente centralizado e seus longos e tentaculares braços políticos controlariam, eficazmente,
mesmo à distância, as veias abertas das áreas coloniais, inclusive seus fluxos mercantis, suas
formas de trabalho e suas possibilidades de reprodução. Em síntese, as sociedades coloniais
americanas eram guiadas por estados absolutistas sediados na Europa que agiam em prol da
acumulação primitiva de capital, sob os auspícios, inclusive nos casos da colonização do Brasil
e da África, do comércio triangular. Todos os vértices do circuito fechado deste capitalismo
comercial triangular seriam controlados pelos capitais europeus. Comércio triangular que, não
custa dizer aos iniciantes, implicava, em linhas gerais, em impor uma divisão internacional do
trabalho, na qual cabia à Europa o controle via financiamento e fluxos mercantis, à África a
oferta de mão de obra escrava e às Américas a produção de matérias-primas.4
Hoje, tudo isso já foi amplamente revisto, mas, com efeito, no que concerne à crítica
ao Estado Leviatã hobbesiano que realça negociações e pluralidade institucional nas várias
partes das monarquias (reino e suas repúblicas), ela ainda não havia impactado contundente-
mente a historiografia nos anos 1980, vindo a ser mais propalada a partir dos anos 1990, até

4
Ver, sobre Estado Moderno de inspiração hobbesiana, entre outros, Anderson (1985). Sobre teses circula-
cionistas e economia-mundo, I. Wallenstein (1974, 1980, 1989, 2001), E. Williams (1975 [1944]) e F. Mauro
(1988). De uns tempos para cá, novamente com desprezo para com a África, a fixação com o capitalismo
circulacionista foi repaginada com o rótulo de Segunda Escravidão, mas não raro atualmente já sob o guarda-
-chuva de alguma história global. Cf. Tomich (1988), Marquese e Tomich (2009), Muaze e Salles (2015).
A vertente designada Segunda Escravidão só enxerga qualquer mudança na escravidão se esta advier do ou
confluir para o tal “capitalismo histórico”. Por exemplo, a “primeira” escravidão, “colonial”, entre os séculos
XVI e XIX, e a “segunda”, do século XIX, seriam diferentes, mas ambas compõem a “economia-mundo ca-
pitalista”. Além disso, há uma grande falha em uma história pretensamente global e supostamente construída
em torno de uma totalidade dada pela escravidão. Na verdade, há uma contradição porque desconsidera a
África, apesar de adotar uma perspectiva que evoca uma totalidade moldada pela “escravidão atlântica, isto é,
os sistemas de exploração do trabalho escravo africano que foram implantados pelos europeus no Novo Mun-
do” (MARQUESE, 2020, p. 110- 118). Além do teleologismo das análises e do silêncio sobre a África, elas
também praticamente ignoram, por exemplo, a maior província escravista do Brasil oitocentista, Minas Ge-
rais, entre outras áreas fora do modelo. Sobre a maior província escravista do século XIX, ver Martins (2018).

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se tornar, hoje, hegemônica, a exemplo, entre outros, das inserções de Clavero (1991), Pujol
(1991), Elliot (1992), Greene (1994) e Hespanha (1994).5
Manolo Garcia Florentino, todavia, em termos de encaminhamento de suas questões,
não priorizou as críticas ao Estado Leviatã nem focou o mercado interno colonial, ainda que
estivesse bem atento aos debates em torno do segundo. As críticas às teses circulacionistas, já
iniciadas nos anos 1970, foram muito latentes nos anos 1980 e deram relevo ao mercado in-
terno das áreas coloniais e sua capacidade de gerar e acumular riquezas nas próprias colônias,
não obstante houvesse transferência de excedentes às metrópoles, como se vê nas propostas
de Ciro Cardoso (1980, p. 109-132), Ruggiero Romano (1986) e Carlos Assadourian (1982),
entre outros. Porém, Manolo Florentino não formulou o reexame do comércio triangular a
partir da perscrutação do mercado interno em sua capacidade de acumulação. Ao invés disso,
mas sem contradizê-la, antes confluindo com a ideia, ele lançou luz sobre o ignorado tráfico
atlântico de cativos, o maior negócio do Atlântico Sul, como mecanismo de geração e reten-
ção de capital em áreas coloniais, porém, igualmente, como instância criadora de hierarquia
social excludente. Tratava-se de rever uma tradição historiográfica consolidada há décadas.
Seguindo a ideia da bilateralidade das relações entre Brasil e África, que em muitos e decisi-
vos aspectos prescindia da Europa, ele abordou o trato atlântico de cativos em sua dimensão
político-econômica nas duas costas negras atlânticas, integradas. Do mesmo modo ele deu
relevo ao papel dos panos da Índia na compra de cativos, inclusive relacionando tal aspecto
à importância do tráfico feito com a costa leste africana, Moçambique. Talvez ele tenha sido
um dos primeiros a sublinhar o papel da captura de escravos vindos de Moçambique, portan-
to, a inserção do tráfico de cativos para as Américas no circuito Índico. Assim, ele abriu uma
nova maneira de olhar a reprodução da sociedade na América portuguesa escravista e de sua
capacidade de acumulação de capital, mas enfatizando que sem a África, e seus interesses no
tráfico, não seria possível ao Brasil realizar tal acumulação. Destarte, o tráfico atlântico de
cativos era “afro-americano por definição” (FLORENTINO, 1995, p. 104).6
Igualmente, também a partir da conjuntura dos anos 1970 os impactos da denominada
3ª geração dos Annales se faziam sentir através dos seus novos objetos, problemas e abordagens,
aos moldes, entre outros, de Le Goff e Nora (1988a, 1988b). Ganhava corpo nos estudos his-
toriográficos objetos afins a grupos sociais específicos, identidades, cotidiano, religiosidades,
crianças, mulheres, família, sentimentos etc. etc. etc. Em grande parte, fortes vieses antropo-
lógicos, ademais da ciência política, da linguística, da psicanálise, etc., influenciaram este veio
historiográfico. Suas perspectivas entraram em cena para agregar e/ou contradizer a designa-

5
Para perspectivas mais recentes sobre o vocabulário político e a natureza das relações entre reino e conquis-
tas, ver, entre outros, Fragoso e Monteiro (2017) e Almeida (2019).
6
A ideia de complementariedade entre África e Brasil já havia sido ressaltada por Pierre Verger (1987), sem,
entretanto, se ocupar do tráfico como negócio e sem realçar a dimensão de diferenciação social nas duas
margens. Evidentemente, o enfoque de Verger abriu outras portas. Sobre outras abordagens que realçam
os vínculos umbilicais entre Brasil e África, ver Rodrigues (1964), Miller (1988), Alencastro (2000), Curto
(2000), Silva (2003), Curto e Lovejoy (2004) e Ferreira (2012).

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da história estruturalista fortemente associada à História Econômica e à História Demográfi-


ca (FLEURY; HENRY, 1965; GOUBERT, 1971), tidas por histórias sem sujeito. Gráficos e
séries foram postos na antessala da historiografia, mormente a partir dos anos 1980.
Todavia, persistiam obras sobre história econômica, e Manolo Florentino – sem despre-
zar as inovações dos Annales, que já não eram tão novas nos anos 1980, e que impactaram,
pelo viés antropológico, suas análises sobre família escrava nos anos 1990 – perseguiu seu
caminho de brilhante historiador em diálogo com as grandes sínteses e debates sobre Histó-
ria do Brasil e sobre História Econômica da Época Moderna. Talvez por isso mesmo, junto
a João Fragoso, seja um dos últimos intelectuais a interpretar e a fornecer uma teorização à
história do Brasil, ambos, em O arcaísmo como projeto, atualmente na 4ª edição (FRAGO-
SO; FLORENTINO, 2001), alicerçados na tese do ideário arcaico aristocratizante (que se
recusa a conceber a economia sem a política, a cultura, a religião etc.), e de como este ideário,
imbricado a estruturas sociais portuguesas redefinidas na América e, no caso de Florentino,
africanas, influenciou nossa história, nossa economia, nossa política, nossas relações sociais,
nossa desigualdade (FRAGOSO; FLORENTINO, 1993). Sem que seja preciso aqui expli-
car que arcaico no que concerne à África difere da Península Ibérica e da América portu-
guesa, Manolo Florentino trabalhou em grandes parcerias, mas, certamente, foi o principal
intelectual a refletir sobre a produção da desigualdade estrutural brasileira – a hierarquia
social excludente – a partir da história do tráfico atlântico de cativos.
Nessa vereda, suas atenções também eram tributárias de importantes obras dos anos 1960 a
1980, quando se sentia, no campo dos estudos sobre tráfico atlântico de cativos, as influências
das discussões sobre impactos social, político, demográfico e econômico em sociedades africa-
nas e, no que tange à escravidão nas Américas, versava-se sobre reprodução do sistema escravista,
com ênfase na demografia, família escrava, racionalidade do trabalho cativo e a mão de obra
escrava conjugada ou não à camponesa etc., tal como se constata, por exemplo, nos enfoques,
entre outros, de Genovese (1976) e Pinheiro (1984).7 Evidentemente, a cliometria estadunidense
também andava a passos largos a partir dos anos 1970 (FOGEL; ENGERMAN, 1974).
Em síntese, foi em meio a um vigoroso ambiente intelectual e as questões postas por ele
entre os anos 1960 e 1980, e sempre tendo como parâmetro o tráfico atlântico de cativos,
que Manolo Florentino ofereceu uma chave de leitura para conhecer a História do Brasil e
as de sociedades africanas conectadas, mutuamente influenciadas, e como uma totalidade.

Tráfico atlântico de cativos: negócios e poder

Sobre tráfico atlântico de escravos, havia um ponto controverso entre estudiosos da


­Á frica, economistas, historiadores da história econômica, da história agrária, da história de-

7
Esta coletânea redunda de uma conferência realizada em 1975.

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mográfica e do próprio tráfico. Debatia-se se a demanda por trabalho escravo nas Américas
guiou a oferta de cativos africanos ou, ao contrário, se a oferta foi a grande responsável por
instituir a mão de obra escrava, logo, instituir a escravidão nas Américas; fosse uma oferta
conduzida pelo capital mercantil europeu ou, mais timidamente, a partir de perspectivas de
sociedades africanas. Então, por exemplo, valer-se da demografia para aferir razões de sexo
(proporção de homens e de mulheres na população) dos traficados e do contingente escravo
fazia diferença, uma vez que a preferência por cativos adultos de sexo masculino requeridos
pelas lavouras brasileiras, de preços mais elevados que as mulheres nas Américas, significaria
que a demanda do continente americano prevaleceu sobre e orientou a oferta africana. Mas,
por outro lado, salientar a preferência em reter mulheres e exportar homens também era
visto como controle do fluxo demográfico a partir da oferta.8
No entanto, a tese do domínio da oferta sobre a demanda era tida, fundamentalmente,
como obra do capital mercantil europeu, pois vigia a noção de que o tráfico de cativos, além
de ser um grande nicho de capitalismo comercial moderno, tornava as sociedades escravistas
americanas e africanas dependentes do capital, do crédito e do fornecimento de cativos por
negociantes europeus, considerados os verdadeiros donos do mercado. O capital europeu con-
duzia cativos da África para as Américas e na torna-viagem da América à Europa, para ligar as
linhas do triângulo, os navios iam apinhados de mercadorias produzidas por braço escravo. A
transferência de excedentes da África e da América, destarte, tinha no tráfico um mecanismo
indispensável.9 Era essa a ideia hegemônica na historiografia nacional e internacional.
Então, a África era concebida, quase mecanicamente, como mera fornecedora de cativos
e o Brasil, em particular, e as Américas em geral, como um quintal provedor de matérias-pri-
mas. Evidentemente, o controle dos fluxos e de capitais nas mãos de mercadores europeus,
ademais de tornar sociedades americanas e africanas subordinadas, teria efeito multiplicador
na Europa, na medida em que, por exemplo, estimularia o desenvolvimento da indústria
naval, de cidades portuárias, da manufatura; enfim, o tráfico atlântico de cativos da era
moderna, direta ou indiretamente, teria contribuído, desde o século XVI, decisivamente
para a tal acumulação primitiva de capital, futura e teleologicamente, apesar da longa espera,
aplicado na Revolução Industrial setecentista.10
8
Entre outras abordagens, estas questões podem ser aferidas, por exemplo, em Curtin (1969), Klein (1978) e
Alencastro (2000). Esta última obra foi, inicialmente, defendida como tese de doutorado em 1985. Para esta
interlocução, ver Florentino (1995, p. 67-68).
9
Ver Williams (1975). Fernando Novais seguiu os passos de E. Williams para afirmar que é “a partir do tráfi-
co negreiro que se pode entender a escravidão africana colonial, e não o contrário” (NOVAIS, 1986, p. 105).
Para outra visão contraposta a esta, ver, igualmente, Schwartz (1988). No capítulo Uma geração exaurida,
nota-se que a escravidão de origem africana só vigorou plenamente na Bahia seiscentista depois que a explo-
ração e as doenças ceifaram as populações indígenas, impedindo-as de atender a demanda agrária. Então, a
demanda precede a oferta. Para o caso paulista, ver Monteiro (1994). Sobre como a montagem e a expansão
dos engenhos fluminenses em plena crise europeia, nela incluída a portuguesa, no século XVII, assentaram-se
em instâncias coloniais de acumulação, cf. Fragoso (2001; 2015).
10
As interpretações anacrônicas e evolucionistas que dão sentido ao passado a partir do porvir persistem. Mas

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Fosse demanda ou oferta os vetores determinantes, cabia aferir que certos fatores controla-
vam os fluxos mercantis de cativos tão necessários à continuidade, no longo prazo, do sistema
escravista atlântico; logo, era uma questão de compreender as próprias condições de reprodu-
ção das sociedades americanas com base no trabalho escravo, uma vez que havia um consenso
segundo o qual a escravidão nas Américas se reproduziu, em termos demográficos, basicamen-
te pelo tráfico atlântico de cativos; salvo os EUA calcados no crescimento vegetativo positivo
da população escrava. No Brasil, o tráfico atlântico de cativos, aliado à alta mortalidade da
população escrava, ao desequilíbrio sexual da escravaria (com poucas mulheres), e mesmo às
alforrias, era imprescindível para a continuidade da reprodução ampliada da escravidão.
Resumidamente, este era o estado da arte quando Manolo Florentino adentrou suas
pesquisas sobre comércio atlântico de cativos. Atento a estes debates internacionais, aqui
apresentados como grandes linhas de tendência, em sua profissionalização ele também vi-
venciou de perto o núcleo de estudos de história agrária na UFF, capitaneado por Maria
Yedda Linhares e por Ciro Flamarion Cardoso, seu orientador de doutorado, embora seu
grande interlocutor tenha sido João Fragoso, na medida em que suas análises se comple-
mentavam.11 Este núcleo, como outros, fortemente responsável pela profissionalização do
ofício de historiador no âmbito dos programas de pós-graduação que então se consolida-
vam no Brasil, debatia intensamente questões sobre história agrária e sobre formação social
do Brasil (CARDOSO, 1975; 1980, p. 109-132; 1982; 1988). Ciro Cardoso era um dos
principais expoentes das controvérsias sobre assunto, ao lado de Fernando Antônio Novais
e Jacob Gorender (GORENDER, 1988 [1978]), entre outros. Grosso modo, apesar das di-
ferenças, Ciro Cardoso e Jacob Gorender evocavam a tese de que a formação social brasi-
leira se pautava sobre o modo de produção escravista colonial, ao passo que Celso Furtado
(1963) e Fernando Novais ([1979] 1986), ainda que de forma distinta, seguiram a trilha das
teses do capitalismo comercial que remontavam a Caio Prado Júnior (1942). Por sua vez,
Gorender também pactuava a ideia de que o tráfico atlântico de cativos era de predomí-
nio do capital mercantil europeu. Em meio a este debate, formulou-se a pergunta sobre se
havia algum modo de produção peculiar que não se realimentava por si mesmo, posto que
incapaz de se autofinanciar.12 Nomeadamente, a questão implicava em definir que agentes

não são novas e mimetizam o que Dobb (1980) chamou de development of capitalism.
11
Esta avaliação é do próprio Ciro Cardoso: “Florentino nunca precisou de verdade de um orientador – em-
bora eu lhe possa ter sido útil, talvez, como interlocutor. Mesmo quanto a isto, porém, é mister reconhecer
que seu interlocutor-mor, seu interlocutor por excelência durante o longo processo de preparação da tese de
que resultou este livro foi João Luís Ribeiro Fragoso. Esta constatação nos conduz à primeira originalidade do
trabalho. As teses de Manolo e de João Luís se desenvolveram em contraposto, em diálogo constante, o que as
torna complementares e, se bem que cada uma marcada pelo perfil específico de seu autor, indissoluvelmente
ligadas a um projeto maior comum: esclarecer segundo certas premissas o funcionamento e a dinâmica da
sociedade colonial brasileira” (CARDODO, 1995, p. 17). Ver também Cardoso (1993).
12
Cf. os termos postos pelo próprio Florentino (1995, p. 76-80).

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controlavam o capital e as demais condições necessárias para aceder e reproduzir, também,


o fator trabalho, isto é, o tráfico atlântico de cativos.
Faltava a todos, porém, salvo os que replicavam (e os que ainda replicam sob nova rou-
pagem) as teses circulacionistas inspirados em I. Wallenstein (1974; 1980; 1989; 2001) e
E. Williams (1944), uma percepção mais larga sobre o funcionamento do tráfico atlântico
de cativos e sobre as supostamente passivas sociedades africanas e seus contributos para
a estruturação da história econômica e social do Brasil colonial e imperial e das próprias
sociedades africanas. Reside aí, não apenas no preenchimento de uma lacuna, mas, na for-
mulação de uma nova interpretação, a grande inovação de Manolo Florentino: trazer à luz
o tráfico atlântico de cativos como componente estrutural do e para a explicação do Brasil
e de sociedades africanas.
Em resumo, a trajetória que levou à proposição teórica de Manolo Florentino se fez
na encruzilhada de questões em torno da história econômica moderna, do debate sobre
a formação social do Brasil colonial/imperial, da econometria estadunidense, da história
demográfica, da história agrária, da controvérsia em torno do tráfico atlântico de cativos
e da reprodução da escravidão nas Américas. Mais relevante, quaisquer que fossem as
vertentes explicativas, havia a perspectiva de fornecer explicações gerais, isto é, construir
teorizações sobre as sociedades observadas a fim de formular hipóteses que pudessem
servir de modelo. Mergulhado no ambiente intelectual de sua época, mas também por
escolha própria, as perguntas centrais formuladas por Manolo Florentino foram: quem
pagou a conta da reprodução do tráfico atlântico de cativos, vetor maior da reprodução da
sociedade escravista no Brasil, o maior recebedor de escravos africanos das Américas entre
1700 e 1850? Que papel fundamental (estrutural) o tráfico desempenhou em sociedades
escravistas americanas e africanas?
Com tais indagações, Manolo Florentino, como bolsista pela Unesco, partiu para a realiza-
ção, ainda entre 1982 e 1985, do seu mestrado no Colégio do México, então o principal centro
de estudos sobre África na América Latina. Conviveu com seu orientador, Carlos Sempat
Assadourian, um estudioso do tráfico atlântico de cativos e do mercado interno nas Américas
(ASSADOURIAN, 1965; 1982), objetos afins à seara temática de Florentino. Desde então,
constatando a precariedade, quando havia, de estudos relacionados ao tráfico de cativos no
Brasil, Manolo Florentino preocupou-se em colocá-lo no centro dos fatores explicativos da so-
ciedade escravista brasileira, mas, sem, em momento algum, desvinculá-lo da história da África
porque se tratava de um negócio “afro-americano”, não apenas por envolver as duas margens
atlânticas, mas, essencialmente, porque o comércio de cativos moldou as duas “costas negras”.
Nessa trilha, perspicazmente – e em uma época em que não havia PDF, redes sociais e
que computador doméstico era para poucos (é sempre bom lembrar) – Manolo Florentino
elegeu como foco essencial de sua análise a comunidade traficante da praça mercantil do Rio
de Janeiro durante o período compreendido entre 1790 e 1830, ainda que também se repor-
tasse a outros momentos do século XVIII. A escolha teve suas razões. Em primeiro lugar, o

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inevitáveis para compreender o Brasil e a África
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Rio de Janeiro era, na ocasião, o maior porto recebedor de escravos africanos das Américas,
a partir de meados do século XVIII. Mas na época nem todos os historiadores sabiam disso,
o que se tornou “fato” conhecido, principalmente, a partir da abordagem de Florentino. E
por isso hoje é rara uma obra séria sobre escravidão no eixo Sul-Sudeste do Brasil que não se
refira ao tráfico de cativos no século XVIII com base em Em costas negras.
Também se sabia muito pouco sobre as procedências africanas dos cativos desembar-
cados no Rio de Janeiro de antanho. Familiarizado com a melhor historiografia sobre co-
mércio atlântico de cativos disponível à época de seu doutorado, a qual propicia ainda hoje
grande parte do fundamental sobre o assunto13, Manolo Florentino, porém, não se ateve
apenas a esta constatação empírica, também indagou os motivos pelos quais o continente
africano se dispôs a fornecer cativos às Américas durante mais de três séculos. Descartando
como resposta, de imediato, uma maldade atávica à África, mas igualmente rejeitando a
vitimização construída por qualquer historiografia independentista, ou por qualquer ideia
“politicamente correta” avant la lettre (FLORENTINO, 1985, p. 80), ele visou perceber o
fenômeno como componente essencial à compreensão de sociedade africanas. Afinal, “na
África, o comércio negreiro não poderia reduzir-se a uma mera indução exterior. Ali, ele cer-
tamente deveria desempenhar um importante papel nos processos de constituição e recons-
tituição das relações sociais e econômicas”. Mas, em termos historiográficos, quando autores
reconheciam a “participação africana no tráfico”, não viam “nela um elemento estrutural”
(FLORENTINO, 1985, p. 22; 81).
Florentino também intuiu que para perscrutar o tráfico de cativos como negócio era pre-
ciso saber as origens de seu capital, suas formas de funcionamento, sua lucratividade e, não
menos importante, como fatores extraeconômicos (a política, principalmente) o condiciona-
ram, haja vista que o comércio de cativos não era redutível a um mercado smithiano calcado
em leis autoreguláveis. O tráfico de cativos era um mercado que fazia confluir sociedades ar-
caicas (orientadas pela política e pela cultura) nas duas costas negras, cada uma a seu modo.
E Portugal? Não foi esquecido, mas o débil capital mercantil português reinol, de menta-
lidade arcaica aristocratizante, não era prioritariamente reinvestido na mercancia traficante e
muito menos desembocou no setor produtivo. Assim, ele só foi dominante no tráfico atlântico
de cativos antes do boom desta atividade no século XVIII, a partir de quando se tornou incapaz
de responder à demanda americana.14 No lugar do frágil capital mercantil português metropo-

13
A exemplo de Birmingham (1966), Curtin (1969; 1975), Meillassoux (1975; 1996 [1986]), Klein (1978),
Lovejoy (1983), Eltis (1987) e Miller (1988).
14
Em tempo, a debilidade do capital mercantil português reinol que abriu portas ao capital colonial residente
se viu, igualmente, na Bahia, ou melhor, na Carreira da Índia: “Numa época [séculos XVI ao XVIII] em
que o rápido declínio português tirava inteiramente àquele país a possibilidade de ter uma certa hegemonia
sobre o Atlântico e o Índico, partilhados que estavam sendo os mares, as ilhas e os continentes pela expansão
colonial de outros países mais poderosos [...] a Carreira da Índia não conseguiu subsistir sobre o controle
português, como magra rota mantenedora comercial e militar do império ultramarino. A sua permanência
foi possível entretanto graças às novas riquezas que, sobretudo através da Bahia, vieram engrossar-lhe a cir-

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litano, Manolo Florentino constatou que a comunidade traficante carioca (residente) foi hábil
em se converter em fonte principal de crédito para o funcionamento do tráfico atlântico de
cativos como negócio. Ela foi capaz de alugar e comprar embarcações, produtos de escambo
(cachaça, fumo, material bélico e, sobretudo, têxteis indianos), montar companhias de seguro
etc. A elite mercantil carioca, da qual os traficantes atlânticos eram parte substancial, investia,
logo também de onde capitalizava recursos, em imóveis urbanos, apólices de seguro, títulos
de dívida pública, mercado interno de alimentos, etc. Ela era dona dos setores mais lucrativos
da economia colonial, enfim (FLORENTINO, 1995; FRAGOSO; FLORENTINO, 1993;
FRAGOSO, 1992). Economia na qual os baixos custos dos fatores econômicos fundamentais
de sociedades agrárias (trabalho, terra e alimentos) contribuíam para a reprodução do sistema
(FRAGOSO; FLORENTINO, 1993). Trabalho, leia-se, oriundo da produção social do cativo
em sociedades africanas, mas uma produção africana barata porque era fruto da violência. A
etapa violenta da produção de cativos em África coube às próprias sociedades africanas a partir
de suas razões, que, conforme Florentino, advinham de motivações políticas, econômicas e
sociais: fortalecer elites, gerar riquezas e estabelecer hierarquia social.
Com efeito, o capital mercantil carioca residente era o ponto de partida e a grande
fonte de crédito da cadeia de adiantamento-endividamento que fazia o trato negreiro gi-
rar, tornando comunidades mercantis em portos africanos dependentes do capital residente
carioca, mas a cadeia se estendia às áreas interioranas de apresamento de cativos. Apesar
disso, Manolo Florentino salientou que a produção social do escravo em África antecedia
sua chegada às Américas. Em suas palavras, era imprescindível “indagar sobre o significa-
do da demanda carioca para a esfera da oferta, já que ao consumo do escravo precede um
movimento típico da face africana do tráfico, o da produção social do cativo”. A partir daí,
munido da historiografia internacional sobre o assunto, considerou que a “oferta africana
tinha, pois, que ser uma oferta elástica e barata de homens” (FLORENTINO, 1995, p. 66;
84-85), já que a posse de cativos no Brasil, ainda que concentrada, também era amplamente
disseminada entre diferentes segmentos sociais.
Dessa maneira, somente voltando os olhos aos motivos da produção de escravos em
África seria possível explicar o papel estrutural do tráfico para as sociedades africanas que
dele participaram. Perseguindo esse objetivo, Manolo Florentino salientou que “as guerras
conformavam o instrumento básico [não exclusivo] por meio do qual os homens eram trans-
formados em escravos e vendidos no litoral”. Vender homens no litoral “lhes permitia acesso
a diversos tipos de mercadoria e material bélico. Deste modo, aumentava sua capacidade de
produzir mais escravos e, por conseguinte, de controlar os bens envolvidos no escambo”.
(FLORENTINO, 1995, p. 66; 84-85).15

culação, logrando assim manter seus interesses comerciais, através da conquista de novos mercados atraídos
pelos novos produtos” (LAPA, 1968, p. 301). Lembro que capital residente não é, como talvez se possa erro-
neamente supor, sinônimo de capital e de historiografia nacionais.
15
Não obstante a ênfase atual recair sobre outras formas de escravização em sociedades africanas, teses afins

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Mas este fenômeno foi, sobretudo, realizado a partir de fins do século XVII, e intensifi-
cado no seguinte. O boom aurífero setecentista no Brasil, aliado à debilidade do arcaico ca-
pital mercantil português reinol, ou o desenvolvimento dos complexos açucareiros da Bahia
e Caribe a partir de meados do século XVII, criou ou estimulou aquele movimento de pro-
dução de cativos via guerras no continente africano voltado a atender à demanda americana.
Por isso, na África Ocidental, os séculos XVII e XVIII assistiram ao “apogeu dos grandes
Estados interioranos da Baixa Guiné (Daomé, Oyo, Ardra, Ashante etc.), os quais, por meio
das rotas que do interior alcançavam a costa, dominaram o fluxo de cativos para a América”.
Então, reinos costeiros foram conquistados por Estados interioranos ou estes desenvolveram
“meios próprios de comercialização”. Por estes mecanismos, a África Ocidental remeteu às
Américas, entre 1650 e 1850, cerca de “cinco milhões de cativos, a maior parte vendida na
Costa do Ouro e na baía do Benin”. O papel estrutural do tráfico de cativos foi, em suma,
alterar relações de poder e fortalecer Estados em África, produzir hierarquia política e dife-
renciação social (FLORENTINO, 1995, p. 93-96).
Processo muito similar se deu na África Central Atlântica, região congo-angolana, onde o
Estado português até que tentou, nos séculos XVI e XVII, tomar as rédeas do negócio. Mas
em Angola seiscentista a tentativa de colonização nos moldes produtivos do Brasil fracassou,
não porque uma política metropolitana, atendendo ao “‘sentido’ da colonização mercantilista”,
quisesse impor ali apenas uma atividade complementar (o tráfico) à estrutura produtiva brasi-
leira. Florentino discordava da ideia de que o tráfico atlântico de cativos era um instrumento de
afirmação do poder metropolitano que, por meio dele, fazia confluir os interesses dos colonos,
dobrando-os, aos da metrópole (ALENCASTRO, 2000). Seria supor que o tráfico atlântico
de cativos, conduzidos pelo capital mercantil europeu, teria sido capaz de infligir a escravidão
nas Américas. Se fosse o caso de adotar tal perspectiva, Florentino repetiria, novamente, a
velha mania de conceber a África e a América como sociedades historicizadas pelo capitalismo
comercial. Daí que Manolo Florentino seguiu por outra trilha que ele próprio abriu.
Visava-se, na verdade, compreender, a partir do arcaísmo, a debilidade do capital mer-
cantil português metropolitano e a fragilíssima ocupação lusa em Angola, aliás, até o século
XIX. Assim, “ensaiava-se uma situação inusitada para os parâmetros originais do Sistema
Colonial, pois a colônia brasileira transformava-se, na prática, na grande intermediária entre
Portugal e Angola”, com contornos “mais nítidos a partir do século XVIII”. Setecentos, ali-
ás, que foi a fase áurea do tráfico pela África Central Atlântica, “especialmente no período
1760-1830”. Ainda entre 1701 e 1800 a África Central Atlântica exportou dois milhões de
cativos, aquém, é fato, dos três milhões e meio remetidos pela África Ocidental, mas um
volume “três a quatro vezes maior do que as exportações da própria África Central nos cem

à escravização militar persistem. Sobre formas judiciais, ver Ferreira (2012) e Candido (2011; 2013). Sobre
guerra e escravização, Miller (1988), Thornton (1983; 1988; 1999), Stilwell (2004; 2014), Sparks (2014) e
Carvalho (2014; 2020).

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anos anteriores” (FLORENTINO, 1995, p. 99-101). Recrudesceu ainda mais na primeira


metade do século XIX, sobretudo entre o pós-Independência do Brasil em 1822 e a Lei Eu-
sébio de Queiróz em 1850.
Mas nada disso seria possível se as costas negras não estivessem visceralmente ligadas,
pois a demanda americana impactou decisivamente a demografia do tráfico e as estruturas
sociais africanas. Por exemplo, referido em Joseph Miller (1988), Florentino realçou que a
competição por recursos gerava grande pressão demográfica na África Central Atlântica por
causa de suas condições ecológicas, com secas periódicas etc., “cujos reflexos sociais e eco-
nômicos eram contundentes”. Tais condições ecológicas internas e as demandas americanas
por cativos “tornavam mais contundentes os enfretamentos entre Estados, etnias, classes
sociais e grupos domésticos, e com eles se aumentava a oferta de africanos”. Paulatinamente,
“os Estados Bantus tenderam a se afirmar como instância de poder acima das linhagens –
ainda que delas dependentes” (FLORENTINO, 1995, p. 99-102). Como resultado, “sem
deixar de contar com os ciclos ecológicos favoráveis, a produção de homens assumia uma
natureza econômica que cada vez mais se justificava por si mesma. O tráfico energia como
mais eficiente mecanismo de acumulação de homens e recursos, acentuando e/ou cristali-
zando a diferenciação social” na África.
É neste ponto que Brasil e África interagiram umbilicalmente pelo comércio atlântico de
cativos. Em síntese, nas palavras de Manolo Florentino:

A demanda americana de escravos, em particular a brasileira, detonou ou, dependendo da


região considerada, simplesmente incentivou o desenvolvimento da produção e circulação
inicial dos cativos na África, onde estas duas variáveis incorporavam diversos tipos de elementos
independentes (econômicos, sociais, políticos e militares), constituindo um contexto de
interações sem o qual a demanda americana jamais poderia ser atendida.

A compreensão da dinâmica da oferta africana nos obrigará a tomar o tráfico atlântico


enquanto mecanismo que, além de reproduzir estruturalmente a força de trabalho na América,
também desempenhava um papel estrutural na África. Chega-se a esta conclusão quando se
considera um simples dado: a oferta africana perdurou por mais de três séculos e meio, sem
que, no fundamental, fosse necessário que os traficantes europeus e americanos produzissem
diretamente o escravo, ou seja, que o apresassem ou que o exigissem como tributo. Aliás, o
exemplo português mostra que, quando se tentou, através de guerras, uma maior produção
direta dos escravos, desestabilizaram-se as rotas que secularmente alimentavam de braços os
portos do Atlântico.

Esse dado, por sua vez, remete à relação entre o comércio negreiro e as contradições internas
africanas, fossem estas pré-existentes ou não à migração forçada. Daí que a análise da
dinâmica interna da oferta passe, necessariamente, por desvendar a natureza estrutural do

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comércio negreiro na África. Destacar esse aspecto implica em repensar articulação entre a
economia escravista colonial e as diversas formações africanas envolvidas no tráfico, inserindo
estas últimas no quadro geral dos elementos estruturais para viabilização e permanência da
escravidão no Brasil. O tráfico atlântico passa a ser afro-americano por definição, não porque
significa uma migração forçada de africanos para a América, mas sim principalmente o que
desempenha funções estruturais nos dois continentes (FLORENTINO, 1995, p. 104).

Palavras finais: um historiador cativo do tráfico atlântico de escravos

Fazendo-se voluntariamente cativo analítico do tráfico atlântico de cativos, Manolo


­Florentino também se serviu dele para perscrutar a escravidão no Brasil pelo viés da demo-
grafia, do parentesco, da infância, da alforria e da miscigenação.
Em termos demográficos e de parentesco, aquando de suas pesquisas sobre população
escrava no Brasil, o consenso em linhas gerais era o de que (e ainda é até hoje), embora
houvesse variações regionais e temporais, o contingente mancípio era incapaz de se repro-
duzir continuamente e de forma ampliada pelo crescimento vegetativo positivo por causa,
principalmente, ainda que não apenas, das altas taxas de mortalidade e do desequilíbrio
sexual em favor dos homens. Daí que a população escrava era aberta, ampliando-se pelo
fluxo migratório forçado a partir do tráfico atlântico de cativos, necessário à perenidade
da sociedade escravista. O tráfico revertia a tendência de decréscimo da população escrava
(FLORENTINO, 1995, p. 32-35).
No entanto, nada disso significou, na perspectiva de Manolo Florentino, ausência de pa-
rentesco escravo e de reprodução natural da escravaria. Para ele, tinham “razão muitos his-
toriadores quando supõem que a família escrava era uma realidade estrutural da sociedade
de então”, provavelmente um “um fenômeno de longa duração” (FLORENTINO; GÓES,
1997, p. 22). A família escrava, destarte, não era nenhuma novidade entre historiadores, mas
o que Florentino fez, em parceria com José Roberto Pinto de Góes, foi explicar o parentesco
escravo a partir do desembarque de cativos africanos e da demografia escrava, politizando-o.
O constante fluxo de cativos africanos estrangeiros trazidos pelo comércio atlântico forçou
a socialização parental escrava, tornando-a estrutural não necessariamente no sentido de-
mográfico, mas político. Para construir tal perspectiva, Florentino dialogou muito com as
mudanças historiográficas em estudos sobre escravidão intensificados nos anos 1980 e com
as influências da antropologia mais ou menos relacionadas aos Annales.
De fato, a virada dos anos 1980 para os anos 1990 foi particularmente profícua em
inovações em pesquisas sobre escravidão no e sobre o Brasil, mas também alhures, algumas
delas já iniciadas a partir dos anos 1970, seguindo uma tendência historiográfica internacio-

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nal.16 Refiro-me ao modo de caracterizar a ação dos escravos na história da escravidão, e hoje
não se pode deixar de dizer, também, a ação das escravas – ignorando, claro, o bom portu-
guês porque o primeiro termo em sua flexão masculina e na forma plural, escravos, não é
excludente e contempla o segundo, escravas; mas o inverso não é verdadeiro. Se bem que, no
caso das famílias escravas vistas por Florentino, prevaleceu mesmo a ação dos homens sobre
a das mulheres. Adianto-me. Para Florentino, não é porque as mulheres eram minoritárias
na escravaria que se pode supor que elas “estivessem em condições privilegiadas na escolha
do parceiro, como se o acasalamento entre os cativos fosse um mero problema matemático”
(FLORENTINO; GÓES, 1997, p. 154-155).
Retornando àquela a mudança de perspectiva historiográfica sobre escravidão, em linhas
gerais ela atentou para as várias formas de manifestação das ações escravas, suas possibilida-
des de negociação dentro da ordem escravista, suas fugas reivindicatórias para dentro, não de
negação da ordem escravista, o que se chamava de “resistência cotidiana, sistemática e mais
poderosa, com que por vezes se lograva reordenar alguns cânones da escravidão” (FLOREN-
TINO, 2005, p. 350). Pretendia-se trazer à luz, o que teve grande êxito, o papel dos escravos
com sujeitos ativos na história, rompendo de vez com a ideia de escravo objeto e dando lugar
ao escravo negociador, que não era nem um Zumbi e nem um Pai João. Esta acepção ganhou
grande estatura na virada daqueles decênios. Então, resistência e autonomia escravas, por
exemplo, eram palavras-chave em obras sobre escravidão de antanho, noções aplicadas para
abarcar múltiplas e muito distintas ações escravas17 – talvez por isso mesmo na época não se
aludia aos escravos na voz passiva (escravizados), e também era um momento historiográfico
em que os escravos arrancavam a alforria de seus senhores e não se aludia à suposta liberda-
de precária que lhes subtrai a racionalidade – Afinal, talvez indagasse Florentino: para quê
comprar a alforria para ser reescravizado?
Assim, vivenciando aquele ambiente de novos horizontes no contexto da redemocrati-
zação do país, Manolo Florentino, em parceria com José Roberto Pinto de Góes, aferiu a
agência escrava expressa no parentesco. É verdade que atentar para a demografia associada
ao parentesco já era uma preocupação timidamente manifestada pelo autor em Em costas
negras (FLORENTINO, 1995, p. 63-66), e mesmo antes, em um periódico dedicado à
família escrava de fins dos anos 1980 (FLORENTINO; FRAGOSO, 1987).18 Porém, o
desenvolvimento do tema floresceu plenamente no início da década seguinte, redundando

16
Especialmente sobre família escrava no Brasil, as referências fundamentais eram Genovese (1974) e G
­ utman
(1976). Grahan (1979, p. 41-59) havia, no entanto, aludido à família escrava no Brasil.
17
Por exemplo, Machado (1988), Reis e Silva (1989) e Lara (1988). Os dois últimos livros são citados por
Manolo Florentino na primeira edição de Em costas negras.
18
Em alusão a inventários post-mortem manuseados para analisar relações de parentesco escravo, afirmou em
Em costas negras, Florentino afirmou: “O grosso destas fontes está em análise no bojo de uma reflexão acerca
das relações parentais entre os escravos, junto com o professor José Roberto Góes” (FLORENTINO, 1995,
p. 43). Então, José Roberto Góes (1993) desenvolvia dissertação de mestrado sobre compadrio e comunidade
escrava. Ver também, do mesmo autor, Escravos da paciência (GÓES, 1998).

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na publicação, em 1997, de A paz das senzalas, trabalho, que, se mal lido, ou lido de má von-
tade, pode passar a impressão de ausência de conflito. Longe disso, porque a “demografia da
escravidão” manifestava “um cenário conflitivo por definição” (FLORENTINO; GÓES,
1997, p. 174). Por isso mesmo, a paz (relativa estabilidade política) foi organizada pelas re-
gras do parentesco escravo e provém de uma potencialidade de conflito inerente à escravaria.
Baseado em Marshall Sahlins, Manolo Florentino asseverou que o conflito era em grande
parte instituído pelo tráfico de cativos que, constantemente, renovava as senzalas com escravos
estrangeiros. O comércio de cativos trazia dessemelhantes, desavenças, potencialidade de guer-
ra, mas nas senzalas lutava-se “contra a guerra” e se buscava a “paz, consoante a experiência da
virtualidade da primeira” (FLORENTINO; GÓES, 1997, p. 32). Desse modo, o “cativeiro
assentava-se na contínua produção social do estrangeiro (isto é, antropologicamente falando),
de um indivíduo desprovido de laços parentais e não estava nas mãos do senhor interromper o
mecanismo que continuamente instaurava a diferença em seu plantel”. Afinal, para um senhor,
não “era possível prescindir desse mercado para tocar suas fazendas e, por isso, de certo modo,
também ele estava condenado a ser um estrangeiro em meio aos homens que comprava”. Daí
que os “cativos faziam e refaziam o parentesco, enquanto o mercado produzia e produzia mais
uma vez o estrangeiro” (FLORENTINO; GÓES, 1997, p. 36).
Em contraposição à estraneidade imposta pela constante entrada de cativos nas escrava-
rias no Brasil, o parentesco escravo que engendrava a paz das senzalas – e tudo que a ele dizia
respeito (tipos de família, idade das uniões sexuais/afetivas entre os cônjuges, casados ou não,
procriação, intervalo genésico, controle dos homens mais velhos, etc.) – impedia, entre os pró-
prios escravos, a guerra de todos contra todos. Deste modo, os cativos foram artífices da paz,
porque precisavam regrar sua própria comunidade política. Ao mesmo tempo, o parentesco os
socializava, quer dizer, transformava os cativos estrangeiros em escravos. Era como se os cativos
fossem, a partir de sua organização parental, protagonistas de sua própria escravidão.
Um bom exemplo da socialização parental se dava pelos modos de procriar. As mulheres
escravas tendiam a começar a parir cedo, “um a três anos antes da mulher livre colonial”,
mas, em contrapartida, seus intervalos genésicos (períodos entre as concepções) eram espa-
çados por causa do aleitamento materno, expressando “mais um padrão africano, onde o
prolongamento do período de lactação poderia adiar por até três ou quatro anos uma nova
concepção” (FLORENTINO; GÓES, 1997, p. 135-136). Se o intervalo genésico prolon-
gado contrabalançava a primeira gravidez precoce, reduzindo a urgência em procriar, por
outro lado as mulheres cativas estendiam ao máximo sua fecundidade, pois suas idades
quando da última procriação podiam atingir o limite máximo por volta, em média, dos 38
anos de idade, altíssimo para os padrões de época. Assim, “o alvo desta incessante busca do
ventre gerador era recriar e tornar mais complexo, junto, o parentesco. Porque este fazia a
paz” (FLORENTINO; GÓES, 1997, p. 140). Em suma, procriava-se e aparentava-se para
estabelecer normas de convívio, a paz das senzalas.

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Mas não teria sido tudo isso, basicamente, obra senhorial? Absolutamente.
Os senhores também eram estrangeiros impossibilitados de uma conduta patriarcal e
paternalista, posto que suas escravarias, com altíssimos índices de mortalidade, eram cons-
tantemente renovadas pela chegada de estrangeiros trazidos pelo tráfico. Não obstante, eles
auferiram uma renda política indireta advinda da paz engendrada pelo parentesco escravo,
mesmo que seus cativos aparentados tivessem menos valor monetário de mercado. Perdiam
recursos econômicos, mas desfrutavam da estabilidade política que impedia a instauração da
anomia social. Frise-se bem que nada disso quer dizer que os senhores conduziram o parentes-
co escravo para controlar politicamente a escravaria. Eles apenas desfrutaram, indiretamente,
a renda política construída pelas normas parentais forjadas pelos escravos, sem ingerência
sobre elas. Note-se bem, portanto, que Casa Grande, que seria uma metáfora para os senho-
res, não faz parte do título do livro, mas senzalas, sim. Afinal de contas, aos cativos também
interessava a paz porque reduzia suas tensões internas e outras agruras da vida em escravidão.
Como se nota, muito atento à revisão da historiografia brasileira nos estudos sobre es-
cravidão a partir dos anos 1980, a ação política escrava foi percebida por Manolo Florentino
por via da abordagem da demografia e do parentesco, fatores que, no entanto, foram decisi-
vamente moldados pelo impacto do tráfico atlântico de cativos.
Nos momentos em que os desembarques de cativos no Brasil se intensificavam, recrudes-
cia também a urgência da socialização parental, quer pela procriação, pelo estabelecimento
de uniões sexuais, sancionadas ou não pelas normas canônicas etc. Por exemplo, nos picos
de desembarques, relaxavam-se certas normas vigentes na escravaria para regular o acesso ao
bem escasso (a mulher cativa), posto que nas grandes escravarias (metaforizadas nas senzalas)
o desequilíbrio demográfico era maior em favor dos homens. Nessas ocasiões, os cativos ti-
nham que refazer suas regras. Mas, em conjunturas de estabilidade do tráfico de cativos, um
fator muito crucial de estabilidade política relativa se manifestava no modo como os muitos
homens do cativeiro dividiam as poucas mulheres, reproduzindo um padrão africano. Então:

Os cativos mais velhos, os mais curtidos pela escravidão, constituem um poder que ordenava
a vida e a vida da comunidade – Isto é, eram reconhecidos pelos demais escravos como tal.
A singular posição que ocupavam no mercado matrimonial sugere isso. Eles exerciam uma
espécie de monopólio sobre as mulheres mais jovens [...]. Africano ou crioulo, não importa,
quanto mais velho o cativo, maior a diferença etária entre ele sua esposa – escolhida quase
sempre, aliás, entre as mais jovens (FLORENTINO; GÓES, 1997, p. 176).

Porém, “não se pense que tudo era paz naquela comunidade”. Na realidade eram precá-
rios “os acordos apesar do esforço dos homens mais velhos”. Havia limites estreitos porque
“a escravidão era muito sovina afinal”. Ela só podia “se recriar um tempo de forma tão pre-
visível se tivesse sempre a enfraquecer o pouco poder conseguir amealhado pelo escravo” e o

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tráfico cumpria muito bem “esse papel” ao pôr em xeque “as regras arduamente construídas
pelos cativos, obrigando a refazê-las mais uma vez”. Neste movimento de criação e recriação
de regras exigia dos escravos sempre “renomear o mundo” para suportar a escravidão. Assim,
nas fases altas dos desembarques de cativos estrangeiros o mais premente era aparentar-se
para manter a paz das senzalas porque “à escravidão apenas importava ferir a humanidade
do cativo o suficiente para conservá-lo escravo, mais que isso era tolice”, porque “Deus só
imporá a cada alma o que ela puder suportar” (FLORENTINO; GÓES, 1997, p. 178).
Crianças cativas, no entanto, suportaram arduamente a dura demografia da escravidão.
Tão alta era a mortalidade escrava, mas só um pouco acima da população em geral – uma
típica mortalidade de antigo regime na escravidão, em que se nascia muito e se morria às
pencas (GOUBERT, 1971) –, que os infantes crioulos, isto é, nascidos no Brasil, feneciam
ainda em tenra idade e também cedo viam seus pais e irmãos partirem para o mundo do
além. Destarte, a infância escrava também foi vista por Manolo Florentino a partir dos im-
pactos do tráfico de cativos, crianças inclusive africanas trazidas em proporções jamais vistas
entre 1810 e 1850 (FLORENTINO; VILLA, 2016). Suscetíveis ao choque microbiano, as
populações escravas sucumbiam, também, pelo próprio regime demográfico imposto pelo
comércio de cativos. Mais da metade das crianças escravas nascidas no Brasil não chegava
aos 12 anos de idade, e morria-se mais nas fases de alta de desembarque de africanos. Igual-
mente, os índices de orfandade eram altíssimos. Contudo, nas morfologias da infância es-
crava, a comunidade se encarregava de socializar crianças órfãs via arranjos parentais. Tios,
primos, padrinhos e madrinhas, entre outros afins, se encarregavam de não tornar solitária
a vida de meninos crioulos. Logo, não era “tão fácil uma criança escrava ficar insuportavel-
mente só” (FLORENTINO; GÓES, 2005, p. 217).
Entretanto, cedo o trabalho alcançava as crianças e lhes transmutava em escravos. Entre
os “quatro e os 11 anos” aprendiam-se “um ofício e a ser escravo” porque o “trabalho era
o campo privilegiado da pedagogia senhorial” (FLORENTINO; GÓES, 2005, p. 218).
Ademais, o “adestramento da criança também se fazia pelo suplício”, não as punições exem-
plares reservadas aos seus pais, mas o “suplício do dia-a-dia, feito de pequenas humilhações
e grandes agravos” (FLORENTINO; GÓES, 2005, p. 218). Crescendo neste ambiente, os
crioulos, que nunca eram estrangeiros, tornaram-se, em consequência, escravos mais impa-
cientes e até podiam desprezar os africanos. O crioulo via a escravidão com muito mais má
vontade porque muitos libertos eram nascidos no Brasil, e entre a população livre miscige-
nada abundavam egressos do cativeiro.
Em meio à construção socialmente compartilhada da miscigenação, aliás, crianças escra-
vas crioulas nem sempre eram geradas por pais escravos, posto que, muitos pais eram livres
com antepassado escravo ou alforriados, fossem estes últimos libertos africanos ou crioulos,
cujas modalidades de alforria (pagas, gratuitas ou condicionais) também eram largamente
condicionadas pelo volume de desembarques de cativos na cidade do Rio de Janeiro. A mes-

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ma escravidão e o mesmo tráfico de cativos que produziram hierarquização e diferenciação


social excludente não foram avessos à mobilidade social expressa, entre outros aspectos, na
alforria (FLORENTINO, 2005b), mas também na posse de escravos entre os de antepas-
sado escravo e libertos. Emergiu uma população livre oriunda da escravidão, mas também
composta de portugueses pobres, que inevitavelmente propiciou intercursos sexuais entre
homens livres e forros e mulheres escravas; homens que frequentemente, na verdade na
imensa maioria das vezes, não eram seus senhores. Redunda daí a larga miscigenação na
vigência da escravidão brasileira, também edificada por mulheres livres e forras. Em suma, a
sociedade escravista foi, também, um grande criatório de mestiços nascidos livres ou escra-
vos vindos de matrizes variadas.
Nisso, Manolo Florentino foi tributário de Gilberto Freyre, mas excluindo deste a
ideia de que a miscigenação foi fruto, principalmente, das interações violentas entre ca-
sa-grande e senzala.19 Quando pensava tais assuntos, Florentino se recusava a aderir à
­explicação fácil, indo muito na contramão, no Brasil, dos ecos, ainda hoje muito altos,
de teses uspianas sobre escravidão que tendiam (e ainda tendem) a moldar a maior parte
das análises distorcidamente críticas sobre as interpretações de Gilberto Freyre20, a quem
foi imputada a iniciativa de ter gestado o mito da democracia racial brasileira, ideia ela-
borada, na verdade, a partir da e pela crítica ao autor pernambucano. No dizer de Ma-
nolo Florentino: “[...] o mito de que Freyre seria a fonte da democracia racial brasileira”
é um “equívoco que se nutre, em grande medida, do desconhecimento da obra de um
dos melhores intérpretes do Brasil por parte de inúmeras gerações universitárias. Óbvio,
há exceções [...]”. Florentino não jogou a criança junto com a água porque percebeu que
discriminação e miscigenação caminhavam e caminham juntas e de mãos dadas (FLO-
RENTINO, 2007, p. 92). Outrora a miscigenação fora obra de libertos, libertas, escravos
e escravas, de homens e mulheres mestiços nascidos livres, de portugueses, de pardos e
pardas, de mulatos e mulatas; e de escravas e homens livres que não eram seus senho-
19
Segundo Freyre, para além da sifilização ladear a civilização, o que “a negra das senzalas fez foi facilitar a
depravação com sua docilidade escrava; abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não:
ordem”. No “senhor branco o corpo quase que se tornou exclusivamente o membrum virile [...] o sexo arro-
gante e viril. Em contraste com os negros – tantos deles gigantes enormes, mas pirocas de menino pequeno”
(FREYRE, 1987 [1933], p. 450; 429). Tem razão José Góes ao afirmar que Freyre “sexualizou o passado ao
trabalhar intensamente com a idéia de desejo” (GÓES, 1988, p. 65).
20
“Engendrou-se [...] um dos grandes mitos de nosso tempo: o ‘mito da democracia racial brasileira’. Admita-
-se, de passagem, que esse mito não nasceu de um momento para o outro. Ele germinou longamente, apa-
recendo em todas as avaliações que pintavam o jugo do escravo [...] sendo suave, doce [...]. Todavia, tal mito
não possuiria sentido na sociedade escravocrata e senhorial. A própria legitimação da ordem social [...] repelia
a idéia de uma ‘democracia racial’” (FERNANDES, 1978, v. I, p. 52-57; 152). Continua-se a ler Freyre mal e
de má vontade. Ainda há os que não sabem diferenciar a interpretação que Tannenbaum fez de Casa-grande
e senzala e a própria abordagem Gilberto Freyre: “Reconhecer esse dado empírico [as alforrias] das realidades
do passado escravista das Américas não significa necessariamente esposar as teses de Freyre e Tannenbaum
sobre uma suposta democracia racial que todos sabemos nunca ter passado de um mito” (MARQUESE,
2020, p. 223-224).

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res, fundamentalmente (­FLORENTINO; MACHADO, 2000; 2002a; 2002b, p. 91-116;


2005, p. 367-388; FLORENTINO; GÓES, 2013, p. 5-27). Explicar o Brasil requeria, em
suma, assumir que discriminação e miscigenação são irmanadas. Foram e são construções
coletivas socialmente compartilhadas. O tráfico de cativos, portanto, deixou marcas na
sociedade brasileira perceptíveis para poucos, porém os que tentam compreender a hie-
rarquização excludente brasileira assoberbados nos pés de barro das dicotomias analíticas
apenas reproduzem lugares comuns. Manolo Florentino, entretanto, nunca se baseou nos
lugares comuns. Ele e seu legado são extraordinários.

Uma inevitável nota pessoal

Resisti o quanto pude a finalizar esta homenagem sem uma nota pessoal dirigida a meu
amigo e professor, o historiador Manolo Garcia Florentino. Porém, fui seu aluno em disci-
plinas que ministrou na graduação, seu bolsista de iniciação científica entre 1992 e 1996 e
seu orientando de monografia de fim de curso. Também cursei disciplinas de pós-graduação
que ele ofereceu e, ao longo dos anos em que convivemos, mais ou menos próximos, troca-
mos vários textos, documentos, conversas e ideias. Em termos profissionais, foi ele quem me
ensinou a pesquisar e me estimulou, quando eu ainda era graduando, nos idos de 1990, a ir
a arquivos para fazer história com base em documentos e em diálogos historiográficos. Por
sua influência me enveredei pela área de escravidão no Brasil e um pouco pela História da
África pré-colonial. De personalidade forte, controversa, excentricamente incomum para os
dias atuais, mas sempre afável para com os que prezava, ele moldou, pelos menos nos passos
iniciais, uma geração de historiadores e de professores que hoje atuam em universidades e em
escolas do ensino básico no Brasil e no exterior. Assim, por si ou pelos que ajudou a formar,
ele projetou a historiografia brasileira no mundo. Por tudo isso, eu não pude deixar de regis-
trar aqui esta nota pessoal repleta de imensa gratidão, de inevitável admiração intelectual, de
respeito, de amizade e de saudade. Tento fazer jus à dedicatória que, há quase um quarto de
século, ele me ofereceu na ocasião do lançamento de A paz das senzalas: “Pro amigão Guedes,
com cuja amizade sempre contarei. Manolo 9/12/97”.

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