Historia Do Ladrilho Hidraulico
Historia Do Ladrilho Hidraulico
Historia Do Ladrilho Hidraulico
Ouro Preto
2018
Sabrina Elisa Gomes de Castro
Ouro Preto
2018
Castro, Sabrina Elisa Gomes de.
CDU 726.59
Catalogação: Biblioteca Tarquínio J. B. de Oliveira - IFMG – Campus Ouro Preto
AGRADECIMENTOS
A historiadora Ângela Maria Ferreira Pedro da Casa dos Contos pela disponibilidade e ajuda
com toda a pesquisa documental das igrejas e irmandades citadas nesse trabalho.
Ao Carlos José Aparecido de Oliveira da Paróquia do Pilar por ter autorizado a consulta dos
materiais referentes às irmandades.
A turma N6, e amigos Antônio Salles, Camila Pereira, Emanuela Moutinho, Lindalva
Ferreira, Ludmila Ribeiro, Jessica Freitas, Michele Regina, Natália Rodrigues, Natália Morita
pelo companheirismo, em especial a Juliana Vieira Lino pelo apoio e compreensão.
A minha família, em especial a minha mãe, Sara Assis Gomes de Castro por todo
encorajamento, paciência, apoio e incentivo e à minha avó Vicentina Assis pela ajuda e
suporte.
RESUMO
Esta monografia tem como objetivo estudar a introdução do ladrilho hidráulico nos templos
religiosos, em Ouro Preto, a partir de final do século XIX. Para tanto, apresentamos um breve
histórico da origem da técnica e do seu uso ao longo da história da arquitetura. Em seguida,
destacamos sobre a padronagem, a policromia, a tecnologia dando ênfase no seu processo
construtivo, ou seja, na produção artesanal do ladrilho hidráulico que ainda hoje vem sendo
utilizada em pequenas fábricas em Minas Gerais. Abordamos a relação ornamental e espacial
do uso específico de um modelo no templo religioso. Desta forma, selecionamos como
objetos de estudo, as seguintes igrejas, ambas localizadas em Ouro Preto: Igreja Nossa
Senhora do Carmo, Igreja Nossa Senhora do Rosário e Igreja Nossa Senhora Mercês e
Misericórdia. Esperamos, assim, ter atingido nossos objetivos e ter contribuído para a
valorização e preservação da técnica pelo seu valor artístico e histórico, além de conhecer
como ocorreu o emprego deste revestimento nessas construções, identificando desde sua
encomenda até sua aplicação.
This monograph aims to study the introduction of hydraulic tile in religious temples, in Ouro
Preto, from the end of the 19th century. To do so, we present a brief history of the origin of
the technique and its use throughout the history of architecture. Next, we highlight about the
pattern, the polychromy, the technology emphasizing its constructive process, that is, in the
artisanal production of the hydraulic tile that still today is being used in small factories in
Minas Gerais. We address the ornamental and spatial relationship of the specific use of a
model in the religious temple. In this way, we selected as objects of study the following
churches, both located in Ouro Preto: Nossa Senhora do Carmo Church, Nossa Senhora do
Rosário Church and Nossa Senhora Mercês and Misericórdia Church. We hope, therefore, to
have achieved our goals and to have contributed to the valorization and preservation of the
technique for its artistic and historical value, as well as to know how the use of this coating
occurred in these constructions, identifying from its order to its application.
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
2.1 Breve histórico da origem, do uso e da difusão do ladrilho hidráulico na Europa, Norte
da África e no Brasil ............................................................................................................... 5
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 65
1. INTRODUÇÃO
1
informações e das peças de ladrilho hidráulico juntamente com cada área que ele está
inserido.
A metodologia de pesquisa realizada para o trabalho de conclusão de curso tem
como finalidade identificar e estudar o ladrilho hidráulico, suas composições e patologias. Os
métodos utilizados foram: Pesquisa bibliográfica – realizada por meio de consultas em livros,
microfilmes, monografias, artigos e jornais –, pesquisa documental – visitas ao IPHAN,
Secretaria de Patrimônio, Centro de pesquisa da Casa dos Contos, Casa Paroquial do
Pilar/Acervo do Pilar, Museu Aleijadinho, Biblioteca do Museu da Inconfidência, Biblioteca
do IFAC (UFOP) e IFMG de Ouro Preto, entre outros acervos e órgãos, a fim de procurar
documentos referentes à edificação religiosa, registros de encomendas e serviços, que possam
identificar a origem de tais ladrilhos e o método de sua aplicação e, a pesquisa de campo
quando se realizou visitas aos locais de estudo foram realizadas para executar o registro
fotográfico detalhado do objeto de estudo e também para permitir uma análise detalhada dos
materiais, sistemas construtivos empregados e patologias existentes.
2
2. O LADRILHO HIDRÁULICO
Figura 1: Vestígios do piso do transepto da igreja da Abadia cisterciense Byland, em North Yorkshire.
Figura 2: Imagem aproximada do piso.
Fonte: <http://www.english-heritage.org.uk/visit/places/byland-abbey/history/significance/>.
Acesso em: 02 nov. 2017.
3
Essa técnica consistia em assentar pedras sobre uma estreita e fresca camada de
argamassa a base de cal. Os desenhos realizados pelo mosaicista eram feitos sobre o gesso,
realizando diferentes formas e cores, além de conseguir contrastes de sombra e luz.
(CAETANO, 2007).
O mosaico sofreu muitas modificações com o surgimento da indústria do vidro e
de diversos tipos de materiais. A partir daí, esta arte tornou-se ilimitada devido aos vários
desenhos e cores que foram surgindo, tendo influenciado o fazer artesanal com outros tipos de
materiais e tecnologias construtivas, dentre eles, o ladrilho hidráulico.
Não se sabe ao certo quando surgiu o ladrilho hidráulico. Segundo informações de
NAVARRO e MORÁN (2010), a técnica de produção do ladrilho hidráulico foi baseada pela
técnica de banchetto1, na Itália, provavelmente no século XII. Entretanto, CATOIA (2008)
descreve que, a derivação do ladrilho hidráulico remete aos mosaicos bizantinos que já
preenchiam os pisos e paredes de castelos e catedrais da Idade Média, a fim de expressar a
arte e a religiosidade presentes nos séculos IV e V.
Este revestimento foi ainda bastante difundido em diversos lugares: na Europa,
tendo se propagado pelo norte da África, Ásia e nas Américas, alcançando o Brasil no final do
século XIX.
A difusão do ladrilho hidráulico pelos continentes fez com que os termos para
referir-se ao mesmo fossem alterados de acordo com determinada região e idioma. Sendo
assim, esse revestimento na Inglaterra é denominado como hydraulic tile ou encaustic tile; na
França carreaux hidrauliques; na Holanda die zement ou enkaustischen fliesen; na Itália Le
cementine ou piastrelle a encausto; em Portugal mosaico hidráulico ou encaustico hidráulico;
em Porto Rico losa criolla, losa nativa ou losa isleña; na Espanha baldosa hidráulica; nos
Estados Unidos encaustic cement tile ou cement tile e no Brasil, ladrilho hidráulico
(NAVARRO e MORÁN, 2010).
De forma sucinta, o ladrilho hidráulico é um “revestimento de alta durabilidade
composto por cimento, areia (lavada) fina ou média. Com o auxílio de formas de latão ou
cobre, seus espaços são preenchidos por pigmentos, criando diversos desenhos e cores
diferentes”2. O azulejo3 é uma peça cerâmica de pouca espessura. Possui formato retangular
1
A técnica banchetto consiste na compactação do cimento natural umedecido seguido de aplicação, com
espátula, de uma fina camada de cimento colorido que após a secagem é submetido a polimento manual. La
«losa criolla»: Historia del mosaico hidráulico en Puerto Rico. MORÁN, Bustelo Hernán.
2
O ladrilho hidráulico: Fonte: http://pisotermico.com.br/piso-termico-tipos-de-piso-ladrilhos-hidraulicos. Acesso
em 03 nov. 2017 às 15:37 horas.
3
Fonte: http://pisotermico.com.br/piso-termico-tipos-de-piso-azulejo. Acesso em 03 nov. 2017 às 17:30 horas.
4
ou quadrado e apresenta uma face vidrada. É mais utilizado para decoração de interiores e
áreas molhadas, como banheiros e cozinhas.
De acordo com Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura - CREA (2007),
4
Mosaico. Fonte: <http://www.colegiodearquitetos.com.br/dicionario/2009/02/o-que-e-mosaico/>. Acesso em
03 nov. 2017 às 18:00 horas.
5
A conquista normanda da Inglaterra foi a ocupação do Reino da Inglaterra realizada pelo duque Guilherme II
da Normandia quando vence a batalha de Hastings (luta entre o exército franco-normando e o exército inglês do
rei Haroldo II, próximo a cidade de Battle, a noroeste de Hastings) no ano de 1606, no século XI.
Fonte: http://www.encontro2016.pr.anpuh.org/resources/anais/45/1468098876_ARQUIVO_ANPUH.pdf.
Acesso em 02 nov. 2017 as 21:29 horas.
6
Lajota é uma placa de cerâmica ou argila normalmente usada como revestimento de piso e diferentes aplicações
em paredes. Fonte: http://pisotermico.com.br/piso-termico-tipos-de-piso-lajota. Acesso em 03 nov. 2017 às
15:16 horas.
7
Heráldico ou heráldica é a forma de criar brasões com a junção de figuras, animais e ornatos envolvidos em
escudos ou em figuras geométricas. Normalmente, motivos heráldicos representam algum país, estado, cidade,
família, corporação ou associação. Fonte: <http://heraldica.genealogias.org/>. Acesso em 03 nov. 2017. às 18:55
horas.
5
Figura 3: Mosaico do piso da abadia cisterciense de Cleeve, em Somerset.
Figura 4: Mosaico do piso da abadia cisterciense de Cleeve, em Somerset.
Fonte: Apostila CECI - Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada, Tinoco, Jorge 2016.
Acesso em 18 out. 2017 às 11:46 horas.
Outro processo utilizado foi o sistema de gravação feito com uma forma
desenhada com o ornato em alto relevo. Essa técnica era realizada da seguinte forma: a lajota
de argila é modelada por um ou mais quadros de madeira, ficando entre um ou dois dias em
processo de cura, descansando em lugar arejado e com sombra para que possa secar e perder
parte da sua umidade para depois ser cortada, com desenhos ou impressões conforme a
técnica e motivo desejado. Depois do processo de cura, se executava o acabamento da peça e
então, uma argila semilíquida era despejada sobre a lajota, preenchendo os contornos vazios.
6
Caso houvesse algum excesso, este só deveria ser removido após alguns dias de secagem,
processo um pouco demorado devido a grande quantidade de água presente na argila colorida.
Feito isso, as peças iam ao forno para serem queimadas. Alguns ladrilhos recebiam
esmaltações, por isso estes se tornaram mais resistentes ao tempo. Este procedimento foi o
mais utilizado no período da Idade Média, na Europa. (TINOCO, 2016)
Figura 6: Modelagem de lajota de argila num quadro de madeira, realizado pelo processo medieval.
Fonte: Apostila CECI - Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada, 2016. Acesso em 18 out. 2017
7
Figura 7: Reconstituição do processo fabril do ladrilho cerâmico medieval baseado na pesquisa de Christopher
Norton, publicada no jornal The Pavements Tile medievais de Winchester Cathedral.
Fonte: HALL, 2015. Apostila CECI - 2016. Acesso em 30 out. 2017.
8
NIETO é profesor do Centro Universitário UNED Melilla, Espanha.
9
Natalia Gonzàlez-Novelles Farrús, O mosaico hidráulico e a casa Orsola Solà i Cia. Volume 1, Limit Treball,
Escola Universitária Politécnica de Barcelona, 2010. Fonte:
<http://upcommons.upc.edu/bitstream/handle/2099.1/11968/EL%20MOSAIC%20HIDR%20ULIC%20I%20LA
%20CASA%20ORSOLA%20SOL%20.%20VOLUM1.pdf?sequence=1>. Acesso em 28 dez. 2017.
10
Institut de Promoció Cerâmica, «O mosaico hidráulico». Fonte: <http://www.ipc.org.es/home.html>. Acesso
em 28 dez. 2017.
11
Devido a pesquisa de Yves Esquieu (2013), é publicado uma análise documentada da indústria de ladrilho e
suas origens. Este livro baseia-se no estudo dos arquivos documentais da empresa Auguste Lachave na cidade de
Viviers, uma indústria que fez as peças necessárias para produzir baldosas em outros lugares. Graças a este
estudo, têm-se registro das primeiras exportações de peças e modelos para a Espanha e outros países do
Mediterrâneo.
8
indústria evoluiu devido à exposição de Paris em 1867, e em 1880 se estende para o norte da
França e da Bélgica.
Em 1882 uma empresa foi criada na Sevilha, que então exportou o produto no ano
de 1886, para Lisboa em Portugal. A partir disso, varias empresas foram criadas na década de
90, destacando a indústria do ladrilho hidráulico em exposições, como a exposição feita em
Guipúzcoa (norte da Espanha) realizada pela Sociedade de Belas Artes em 1897 que destaca
as baldosas feitas com o cimento portland de Miguel Salaverría12, que três anos depois já
produziam mais de 300 modelos de desenhos diferentes, abrangendo a fabricação das
balbosas por toda a Espanha (NIETO, 2015).
A difusão do ladrilho na região do Magrebe, região noroeste da África é bem
aceita por ser um revestimento resistente que pode substituir outros pisos. Dessa forma, a
partir de 1881, há registros de fabricas de ladrilhos na Argélia na cidade de Constatina, na
Tunísia13 e em Marrocos na cidade de Tânger.
Ainda com os arquivos de Lachave, observamos que a Espanha influenciou o
mercado americano com seus ladrilhos hidráulicos. Foram registradas nos países da América
Latina: 35 fábricas na Venezuela, 30 fábricas na Colômbia, 25 fábricas no México, 16
fábricas em Porto Rico, 13 fábricas na República Dominicana, 11 fábricas na Jamaica e 14
nos Estados Unidos/Califórnia (NIETO, 2015).
A exportação das baldosas da Espanha para a América aconteceu no início do
século XX, sendo que, no ano de 1902 o Ministério do estado espanhol criou determinadas
“regras”; como o peso, tamanho de aproximadamente 20 cm, e qual a fábrica que o ladrilho
era produzido, além de uma embalagem mais adequada para os mesmos. Dessa forma, o
material chegaria ao seu destino com o menor número possível de perdas; para então ser
enviado para a América (NIETO, 2015).
Em 1903, a revista de arquitetura La Construcción Moderna afirma que os países
hispano-americanos tinham grande interesse nas compras dos ladrilhos hidráulicos, pois não
possuíam ainda fábricas de cimentos, que é um dos materiais componentes do revestimento.
12
Miguel Salaverría foi uma das indústrias que mais contribuíram para a fabricação de ladrilhos com cimento e
seus derivados para a Espanha, preenchendo vias públicas, pedestais e outros. ABC (Madrid) 01/10/1907; p6.
<Indústria guipuzcoana, fábrica de mosaicos hidráulicos de D. Miguel Salaverría>. Fonte:
http://hemeroteca.abc.es/nav/Navigate.exe/hemeroteca/madrid/abc/1907/10/01/006.html. Acesso em 02 jan.
2018.
13
Na Tunísia foram os sicilianos que introduziram esta técnica. Posteriormente, como em Marrocos e Argélia, o
setor declina após a independência do país, tornando-se um produto econômico usado apenas pelas classes mais
humildes. NIETO, 2015.
9
Figura 8: “Tapete” formado por ladrilhos hidráulicos na Espanha.
Foto: Antônio Bravo, 2013. Fonte: Antonio Bravo-Nieto, «A telha hidráulica na Espanha. Alguns aspectos de
sua expansão industrial e evolução estética (1867-1960) », ABE Journal, 2015.
Figura 9: Fábrica de baldosas, de José Gómez, Santander 1927. Modelo nº 43 catálogo de baldosas La Ideal.
Fonte: <http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2721/img-5.jpg>. Acesso em 02 jan. 2018.
10
Em Porto Rico, Segundo Hernán Bustelo Morán (2011, p. 20), o ladrilho
hidráulico, conhecido como “losa criolla”, “losa nativa” ou “losa isleña”, foi introduzido no
país no ano de 1900. Os primeiros ladrilhos hidráulicos chegaram em Porto Rico pela
exportação que saía de Barcelona14. Ele afirma que, em 1911, Porto Rico além de importar os
ladrilhos hidráulicos, também produzia. Uma empresa de engenheiros foi contratada por
Jiménez, Ribot e Co, a empresa Santurce e escritórios na ilha de Old San Juan (localizada ao
longo da costa norte, a cerca de 56 km do extremo leste de Porto Rico) que ficou conhecida
como “os famosos fabricantes de ladrilhos hidráulicos”. Nos anos de 1912 e 1914 outras
fábricas surgiram, porém, o auge da fabricação dos ladrilhos hidráulicos aconteceu em 1930 e
1940 pelas fábricas de Mosaicos Balasquide, em Peñuelas; a La Arecibeña e Mosaicos
Kofresí, em Arecibo; e quatro fábricas ativas na cidade de Mayagüez: Mosaicos Borinquen,
Mosaicos Cacique, Mosaicos de Porto Rico e Mosaicos Ramírez. A maioria dessas fábricas
ficou localizada na capital de Porto Rico.
O tipo de desenho, seu design, paleta de cores, quantas cores e o local que esses
ladrilhos seriam colocados era definido de acordo com a área da casa. Em casas feitas de
cimento, o ladrilho hidráulico mais colorido e elaborado era colocado nas varandas, salas e
em quartos principais, os outros locais eram preenchidos com ladrilhos de design mais
simples. O layout da losa criolla nos espaços principais imitava o desenho de um tapete, com
um desenho no centro, as laterais preenchidas com ladrilhos repetitivos e o restante do
cômodo era preenchido com peças de cores monocromáticas (MORÁN, 2011).
Figura 10: Designs de ladrilhos hidráulicos em varandas de duas edificações de Porto Rico.
Fotos: Hernán Bustelo Morán. Fonte: Revista oficial da oficina estatal de conservação e restauração de Porto
Rico, 2011. Ornamentos e artes decorativas. La «losa criolla»: Historia del mosaico hidráulico en Puerto Rico.
14
Revista oficial da oficina estatal de conservação e restauração de Porto Rico, 2011. Ornamentos e artes
decorativas. La «losa criolla»: Historia del mosaico hidráulico en Puerto Rico por Hernán Bustelo Morán, p22.
11
Figura 11: Corredor e sala com ladrilho de design diferente. Chalet Amill-Antongiorgi (1914).
Fotos: Hernán Bustelo Morán. Fonte: Revista oficial da oficina estatal de conservação e restauração de Porto
Rico, 2011. Ornamentos e artes decorativas. La «losa criolla»: Historia del mosaico hidráulico en Puerto Rico.
Este design de tapetes também foi utilizado em outros espaços, como em áreas
molhadas: em cozinhas e banheiros eles preenchiam toda a área, porém, com um único tipo de
ladrilho, além disso, eles também revestiam as paredes e, certas vezes eram colocados nas
fachadas das casas como um elemento decorativo. Em algumas ocasiões, as losas criollas
decoravam também túmulos e panteões.
Figura 12: Detalhe da laje e hall do balcão, residência de Baldrich, Porto Rico.
Figura 13: Detalhe de laje em varanda na residência de Baldrich, Porto Rico.
Fotos: Manuel Olmo Rodríguez. Fonte: Revista oficial da oficina estatal de conservação e restauração de Porto
Rico, 2011. Ornamentos e artes decorativas. La «losa criolla»: Historia del mosaico hidráulico en Puerto Rico.
12
ladrilhos deixarem de produzir esse piso para investir em outros tipos de produção, como as
lajes de terrazzo15 e blocos de concreto.
Figura 16: Documentação de assoalho crioulo antes da sua destruição. Teatro antigo ideal (c.1920), Yauco.
Figura 17: Ladrilhos hidráulicos importados da Espanha no início do século XX.
Fotos: Manuel Olmo Rodríguez. Fonte: Fotos: Hernán Bustelo Morán. Fonte: Revista oficial da oficina estatal de
conservação e restauração de Porto Rico, 2011. Ornamentos e artes decorativas.
Já no Brasil, muitos foram os materiais usados até meados do século XIX como
revestimento de piso. Toda a matéria prima que era necessária para realizar tal feito provinha
da natureza, como o barro, a madeira, mármore e outros. Dessa forma, destacamos os pisos
com tábuas, tacos, parquetes, pedregulhos e lajeados. O ladrilho hidráulico foi, possivelmente,
introduzido no país no começo do século XIX por imigrantes italianos que aqui fundaram
15
Pedras de mármore.
13
suas fábricas. Inicialmente as primeiras indústrias foram fixadas na cidade de São Paulo
(BRACANTE, 1981 apud BORTOLAIA, 2004).
Existem algumas versões diferentes sobre a chegada do ladrilho hidráulico no
Brasil. Uma delas refere-se a uma visita do cônsul suíço à colônia italiana paulista que
explicou sobre a técnica do revestimento e sua fabricação, dessa forma começaram a surgir as
primeiras fábricas aqui. A outra versão é referente à primeira fábrica que se instalou em São
Paulo por um casal suíço, que, aprendeu todas as fazes de produção do ladrilho com artesãos
italianos recém-chegados ao país (BORTOLAIA, 2004).
Ainda segundo Bortolaia (2004), os primeiros ladrilhos fabricados no Brasil eram
enviados para edificações mais populares e as peças que eram importadas da Bélgica, França
e Portugal decoravam fazendas, museus, teatros e a entrada dos prédios mais sofisticados da
época.
Esta mesma autora descreve que o pioneiro da produção e técnica artesanal deste
material no Brasil foi Frederico Dalle Piagge, o qual fundou uma das maiores fábricas de
ladrilhos do país que possui mais de 80 anos de tradição. Sr. Micheles (proprietário da fábrica
Ornatos Nossa Senhora da Penha) conta que, a fabricação desse material cresceu nos anos de
1940 e 1950 e já em 1960 muitas indústrias fecharam suas portas devido ao grande processo
de fabricação da cerâmica. Poucas fábricas conseguiram manter-se durante esse período,
garantindo a qualidade e aprimorando as técnicas na produção do ladrilho hidráulico por meio
de estudos e pesquisas técnicas de matéria-prima, ferramentas, pigmentos e no investimento
de mão-de-obra qualificada.
Entretanto, o século XIX foi marcado pela renovação e modernização da
arquitetura e reurbanização de cidades. A Revolução Industrial e as novas ideias do
pensamento filosófico e politico, junto do movimento iluminista16 com a renovação do espaço
arquitetônico que se caracterizou por uma miscelânea de características do passado associadas
a criações e novas combinações de variedade de estilos do momento estão associadas ao
Ecletismo17.
O Ecletismo foi um estilo que influenciou os profissionais da área da construção
civil, arquitetura e artistas a buscarem novos conhecimentos sobre a ciência, cálculos e
formas. Este acontecimento expandiu a experiência destes profissionais que exploraram o
entendimento de um novo conceito aplicado a essas áreas de estudo, inovando e utilizando
16
MASCARENHAS, MARTINS, COELHO, 2015.
17
PEDONE, Jaqueline Viel Caberlon. O espírito eclético na arquitetura. PROPAR | UFRGS, 2003.
14
materiais e técnicas aplicadas às novas edificações que estampavam a situação social,
econômica e cultural do seu proprietário (PEDONE, 2003).
A transferência da Corte Real Portuguesa para o Rio de Janeiro (1808) favoreceu
para a chegada deste estilo no Brasil e a Missão Francesa18 entre os anos de 1816 e 1826
contribuiu para a vinda de diversos materiais e equipamentos, além de mão de obra
especializada em ofícios da área civil. Portanto, este fato proporcionou a integração de novos
trabalhos e em 1850 a construção da estrada de ferro da Companhia de Estrada de Ferros Dom
Pedro II. Dezenove anos depois essa mesma ferrovia é expandida, alcançando outros lugares
como Juiz de Fora (1875), Santos Dummont (1877), Barbacena (1880) e Conselheiro Lafaiete
(1883); municípios de Minas Gerais. Depois de muito trabalho devido à topografia irregular
da cidade, em 1889 a ferrovia chega a Ouro Preto (MASCARENHAS, MARTINS, COELHO,
2015).
Dessa forma, a população da cidade aumentou, junto disso, novas edificações
foram construídas e as características arquitetônicas começaram a ser modificadas pelo
Ecletismo como a modificação de fachadas que sofreram influência do chalet francês, da villa
italiana ou do casarão neo colonial; novos materiais de construção que foram aplicados em
edificações, como o ladrilho hidráulico, gradis e portões de ferro, estuques, pinturas parietais
e outros.
Outro fator que influenciou para a modernização e mudanças da cidade foi a
chegada da República no Brasil que tinha como principal objetivo a busca pelo progresso,
crescimento populacional e econômico, além de preocupações com a infraestrutura e
saneamento básico da época, devido a todo um interesse político em manter a cidade como
Capital de Minas Gerais.
Como a topografia de Ouro Preto é muito irregular e as atividades mineradoras
estavam em declínio, não existiam mais possibilidades de manter tal título, principalmente
porque a cidade dependia do comercio e precisava do crescimento econômico. Sendo assim:
18
Nessa época o Brasil recebe forte influência cultural europeia, que se intensificou com a chegada de artistas
franceses, em 1816, encarregado da fundação da Academia Imperial de Belas Artes, inaugurada em 1826, na
qual os alunos poderiam aprender as artes e os ofícios artísticos. Esse grupo ficou conhecido como Missão
Artística Francesa. Chefiada por Jacques Le Breton, que dirigia a Academia Francesa de Belas-Artes na França,
traziam a modernização para o Brasil. Vieram pintores, escultores, arquitetos, músicos, artesãos, mecânicos,
ferreiros e carpinteiros. Fonte: <https://www.historiadasartes.com/nobrasil/arte-no-seculo-19/missao-francesa/>.
Acesso em 18 mar. 2018.
15
cultura cafeeira. Tal alienação perante a vida econômica de Minas comprometeu sua
continuidade como capital. A desarticulação socioeconômica da província teria
inspirado movimentos separatistas em sua elite econômica, influenciada por ideais
republicanos, aspirante por representação política. (Dulci, 1999, pág. 42 Martins,
2014 apud Mascarenhas et al, 2015).
19
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR 9457:2013 apud Vasconcelos, 2014. Ladrilhos
hidráulicos. Especificação Rio de Janeiro, 1986.
20
Em 1840 iniciou-se a produção do cimento Portland no Reino Unido e depois em outros países da Europa. Por
meio de registros e pesquisas pode-se afirmar que os novos usos ligados à produção deste cimento favoreceram
para o surgimento de novos produtos para construção e decoração, como colunas, pilastras, telhas de
pavimentação e outros. A França dominou o desenvolvimento do cimento Portland, provavelmente por August
Nicolas Lachave (1821-1901), que foi o mais importante produtor das máquinas para a realização das oficinas de
ladrilho hidráulico, exportando seus produtos para vários locais do mundo, entre eles, o Oriente Médio. A
fabricação do ladrilho hidráulico era feita da seguinte forma: cimento Portland, cal hidráulica, corantes, areia,
componentes pedregosos e água (SOUFAN, 2015).
16
(2011) o nome deriva da máquina que é utilizada para fabricar a peça, ou seja, a prensa
hidráulica (CAMPOS, 2011).
Tinoco (2016) afirma que o cimento Portland começou a ser produzido no Brasil
em 1924 com a implantação da Companhia Brasileira de Cimento Portland de uma fábrica em
Perus, Estado de São Paulo, cuja construção pode ser considerada como o marco da
implantação da indústria brasileira de cimento. Além disso, a Fábrica de Ladrilhos de Lunardi
& Machado (1913) em Belo Horizonte/MG, Fábrica de Mosaicos de Pelotas/RS (1914),
Fábrica Ladrilhos Artesanais (1922) em Ponte Pequena/SP e a Cerâmica São Caetano (1923)
do bairro São Caetanense S/P foram muito influentes em todo o processo de comercialização
do revestimento no Brasil.
21
Época que a rainha Vitória I governou a Inglaterra, ganhando força e importância devido ao desenvolvimento
econômico e industrial do momento, onde o país tornou-se o mais rico do mundo. Neste importante período,
ocorreram várias restaurações, além do grande desenvolvimento artístico e cultural na arquitetura (movimento
neogótico), literatura, teatro e outros. Fonte: <https://www.suapesquisa.com/historia/era_vitoriana.htm>. Acesso
em 03 nov. 2017 às 22:04 horas.
17
Figura 18: Tipos e aplicação de ladrilhos medievais.
Fontes: http://home.nordnet.fr/ccogo/LECARREAUMEDIEVAL/ENGLISH/catalogue.htm e
https://thehistoryjar.com/tag/thomas-cromwell/#jp-carousel-623. Acesso em 03 nov. 2017 às 22:17 horas.
22
Luterano/luteranismo é uma doutrina protestante feita por Martinho Lutero que acreditava que somente a fé
poderia salvar as pessoas. Este período aconteceu durante a Reforma Protestante, em 1517, na Alemanha. Época
onde a Igreja Católica foi contestada e criticada devido às suas ações. Mesmo com a intervenção da igreja, a
reforma teve influência na Alemanha, França, e outros países europeus. Fonte:
https://www.suapesquisa.com/protestante/reforma_luterana.htm e https://www.todamateria.com.br/luteranismo/.
Acesso em 03 nov. 2017 às 23:00 horas.
23
Cuenca ou arestas é uma técnica que consiste na formação de linhas e quando realçadas com esmalte, criavam
um relevo sobre os desenhos do motivo do ladrilho. No azulejo, essa técnica é realizada com a impressão de
moldes de barro, que, quando aplicado no mesmo, cria espaços limitados por paredes delgadas, criando arestas,
isolando as cores no momento da queima. Pode ser considerada uma técnica decorativa hispano-mourisca (arte
islâmica desenvolvida no Al-Andalus no final do século XV e início do século XVI) quando o desenho, ao ser
gravado com um molde em barro cru, deixava saliente o relevo ou arestas, evitando dessa forma a mistura dos
pigmentos, quando aplicados à peça. Fonte: <http://jornalareliquia.blogspot.com.br/2010/08/arte-do-
azulejo.html e http://artes123.webnode.pt/glossario/>. Acesso em 03 nov. 2017 às 23:24 horas.
18
de pessoas e por este ser escorregadio, sua produção foi totalmente reduzida no século XVIII
(TINOCO, 2016).
19
Figura 21: Ladrilhos de Pugin.
Fonte: http://www.puginfoundation.org/. Acesso em: dez. 2015. Apostila CECI, 2016.
Figura 22: Modelo nº 577 - Catálogo da Factory Vda e Hijos de Juan Vila, Barcelona.
Fonte: <http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2721/img-7.jpg>. Acesso em 04 jan. 2018.
20
XX, por exemplo, o livro publicado pela editora Montaner e Simón apresentam os desenhos
mais históricos das baldosas hidráulicas para então, desenvolverem outros desenhos depois
(NIETO, 2015).
No ano de 1900 os materiais e documentos da arte espanhola apresentaram dois
modelos do ladrilho hidráulico projetados por Mattew Culell e Aznar que mostram a relação
do surgimento do ladrilho na história da arte e os seus diferentes ofícios na arquitetura.
21
Figura 25: Catálogo de ladrilhos hidráulicos de La Fabril Melillense, de Juan Montes Hoyo, Melilla, séc XX.
Figura 26: Edifício em Calle Alferez Sanz. Melilla, Francisco Hernanz, 1935. Foto de José Linares, 2013.
Fonte: <http://journals.openedition.org/abe/2721?lang=en>. Acesso em 04 jan. 2018.
Figura 27: Capa do catálogo e modelo de ladrilhos imitando mosaicos romanos, de Francisco Lledó.
Fonte: <http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2721/img-12.jpg>. Acesso em 04 jan. 2018.
24
Por Marcelo Albuquerque: opus tessellatum é um tipo de mosaico feito para ornamentação dos pisos, baseado
na montagem de pequenas peças coloridas denominadas tesserae. São feitas de vários materiais,
como mármores, pedras rústicas e nobres, pedras semipreciosas, vidros, esmaltes, metais e cerâmicas.
Fonte: <https://historiaartearquitetura.com/tag/tesserae/>. Acesso em 05 jan. 2018.
22
Os modelos ecléticos, historicistas ou da art nouveau são menos utilizados no
século XX, dando espaço a designs mais estilizados e modernos, com desenhos geométricos e
uma paleta de cores mais limitada e tons mais sutis. Em 1930, ambos os estilos se
comportavam dividindo o mesmo espaço em um mesmo período. Os modelos mais
complexos que misturavam diferentes formas geométricas em uma mesma peça de ladrilho
hidráulico, como o círculo e o quadrado, também ganharam espaço (NIETO, 2015).
Figura 28: Ladrilho hidráulico com design geométrico. Calle Mohamed V, Tetuán, Carlos Óvilo, 1920/1930.
Fonte: <http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2721/img-13.jpg>. Acesso em 04 jan. 2018.
Figura 29: Mosaicos G - design geométrico da Art Deco, do catálogo da Fábrica de Mosaicos Casildo Moreno.
Fonte: <http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2721/img-14.jpg>. Acesso em 04 jan. 2018.
Ainda, Nieto (2015) descreve que nos anos de 1930 a uma simplificação muito
grande dos desenhos ornamentais na baldosa hidráulica, principalmente referindo-se a
arquitetura vanguardista ou racionalista. Os ladrilhos hidráulicos deixaram de ter formas,
23
ornamentos e desenhos, estes ficaram planos, muito simples e com uma única cor. Nas
décadas de 40 e 50 a busca pela simplicidade do revestimento levou a decadência estética do
mesmo. As baldosas hidráulicas continuaram no mercado por mais alguns anos, com
designers simples, tons mais claros e monocromáticos, que, certas vezes anulavam o seu valor
decorativo e artístico que antes era uma de suas mais importantes características, vistoso e
colorido em qualquer lugar que eram compostos.
Interessante comentar que na Síria e no Líbano em 1930 os ladrilhos hidráulicos
não eram muito populares como outros tipos de revestimento (madeira, mármore). A
construção do Consulado Britânico em Damasco é um exemplo de edificação que preferiu
preencher seus cômodos com outros tipos de piso, utilizando o mármore e a madeira de
carvalho para lugares mais importantes, como: salas, salas de reuniões, recepção e entradas,
por fim, os ladrilhos foram utilizados em regiões secundárias, como em quartos, porões e
áreas de serviço (SOUFAN, 2015).
No final do século XIX e início do XX, no Brasil, o ladrilho hidráulico foi
considerado como um piso requintado, aplicado em áreas externas como em calçadas e
varandas e em áreas internas; em corredores, cozinhas e banheiros. Os ladrilhos hidráulicos
empregados nos corredores, varanda, cozinha e banheiro apresentavam desenhos coloridos
com textura lisa e os ladrilhos que eram colocados nas calçadas possuíam características
diferentes, com uma única cor, em texturas e normalmente não tinham desenhos (CAMPOS,
2011).
Figura 30: Ladrilho hidráulico do hall de acesso do edifício Memorial Minas Gerais – Vale, (1897).
Figura 31: Padrão de ladrilho usual nas calçadas de Belo Horizonte, desde a sua construção.
Fonte: Trajetória e significado do ladrilho hidráulico em BH, CAMPOS 2011. Acesso em 15 jan. 2018.
24
estabelecida, a fim de orientar pessoas com deficiência visual e melhorar a qualidade da
acessibilidade dos mesmos. Portanto, foram feitos dois tipos de ladrilhos que apresentam
relevos diferentes; duas faixas de piso tátil, sendo que, um ladrilho tem a faixa direcional e o
outro a faixa de alerta (FIG 32).
Figura 32: Padrões de Ladrilho hidráulico tátil. Fotos: Cláudia Fátima Campos.
Fonte: Trajetória e significado do ladrilho hidráulico em BH, CAMPOS 2011. Acesso em 15 jan. 2018.
Figura 33: Modelos de divisórias de cimento, produzidos pela Lachave & Fils, utilizados na Síria e no Líbano.
Fonte: http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2897/img-7.jpg.
Figura 34: Modelos locais e importados, usados em prédios em Damasco.
Foto: Sra. Sara Abdal Mawla al-Pasha (Arquiteta) e do Sr. Nazir al-Kurdi.
Fonte: http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2897/img-8.jpg. Acesso em 05 jan. 2018.
25
2.3 Equipamentos e tecnologia | Fábricas e Fabricantes
Figura 35: Ilustração da revista The Penny Magazine (1843), mostrando um ladrilheiro produzindo peças.
Fonte: The Penny Magazine (1843, p.80)
https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=mdp.39015068360489;view=1up;seq=90. Acesso em 06 nov. 2017.
Dessa forma, Wright desistiu de sua invenção e vendeu seu equipamento para a
joint venture Chamberlain25 & Company, de Worcestershire, e Herbert Minton26, de Stoke-
25
Chamberlain era um artista e artesão reconhecido em todo o mundo como fabricante de cerâmica fina (faiança
e porcelana). TINOCO, 2016.
26
on-Trent, em partes iguais. A empresa, Chamberlain & Co e Royal Porcelain Works,
produzem cerâmicas holandesas de Worcestershire, com os melhores artistas e artesãos da
região que seguem as tradições de Robert Chamberlain, criando produtos cerâmicos de alta
qualidade. A empresa funciona até os dias atuais.
As pesquisas feitas por esses importantes artesãos concluíram que a prensa criada
por Wright não foi muito inovadora. Dessa forma, a Enciclopédia Diderot, cujos últimos
volumes foram publicados no ano de 1772, apresenta uma prensa de cunhagem de matrizes
para moedas cujas caraterísticas de forma e funcionamento pode ter sido uma fonte de
inspiração para Wright. Sendo assim, ele fez poucas adaptações e fundiu em ferro a prensa
para a moldagem de ladrilhos (TINOCO, 2016).
Figura 36: Prensa de parafuso, operada manualmente, usada para golpear matrizes de moedas e medalhas.
Figura 37: Prensa e ferramentas de Wright expostas no Gladstone Pottery Museum, em Stoke-on-Trent (UK).
Molde da Minton, Hollins & Company (século XIX), com desenho atribuído à Augustus Welby Pugin.
Fonte: Apostila CECI- 2016. Acesso em 04 nov. 2017.
Wright teria exigido uma condição ao vender sua máquina, e esta seria a de
manter os seus direitos da patente sobre sua criação. Com o acordo aceito, em 1844, foi
renovado o termo da patente por mais sete anos e então, o processo de Wright foi
aperfeiçoado por Minton. As modificações foram realizadas em dois processos:
26
Herbert Minton vem de uma família de oleiros da cidade de Stoke, uma região famosa devido à produção de
cerâmicas. Este iniciou os seus trabalhos no ano de 1828 e aprendeu a técnica da faiança azul, graças ao John
Turner, ceramista que conheceu o trabalho na China. TINOCO 2016.
27
Eram preparadas nesta etapa duas outras ferramentas, tratava-se do requadro de
anteparo do molde e do contrapeso da prensagem, que eram elaborados em madeira para
servirem de moldes na fundição.
27
Encáustico: palavra que vem do grego enkaustikos, e significa “queimar”. Após o processo de cura do ladrilho,
este é levado ao forno e dessa forma é realizado sua queima. Ladrilho encáustico (passa pelo processo de
queima). Fonte: <http://www.atelieinclusivo.com.br/>. Acesso em 06 nov. 2017 às 20:01 horas.
28
Figura 40: Remoção dos excessos da argila de preenchimento dos ornatos com uso de uma lâmina metálica.
Figura 41: Com a superfície do ladrilho lixada e limpa, estes eram submetidos à queima em fornos.
Fonte: Apostila CECI - 2016. Acesso em 01 set. 2017.
Figura 42: Ladrilho cerâmico (encaustico) encontrado no antigo prédio da Great Western of Brazil Railway
Company Limited, no Recife (1881). Oficina de Mosaico e Ladrilhos do CECI realizada em 2011.
Fonte: Apostila 2016. Acesso em 01 set. 2017.
30
Figura 43: Lachave & Fils Prensa hidráulica nº 7, na oficina de N. al-Kurdi em Damasco, 2014.
Figura 44: Prensa hidráulica produzida no Líbano a favor de Balat Chaya Co. 2014.
Fonte: <http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2897/img-1.jpg> e
<http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2897/img-2.jpg>. Acesso em 05 jan. 2018.
Figura 45: Diferentes partes do molde, quadrado, nomeados de Damascene. A placa (al-ṣiniyyeh), o quadro (al-
'uswārah) e a capa (al-ṭarbouš), com demonstração de como o divisor pode ser configurado no molde.
Fonte: <http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2897/img-3.jpg>. Acesso em 05 jan. 2018.
Anas Soufan (2015) fez uma pesquisa com foco na documentação de importação
de máquinas e ferramentas para poder identificar os modelos dos ladrilhos hidráulicos desse
período. No registro encontrado é possível verificar que cada fabricante de ferramentas e
máquinas para ladrilho hidráulico apresentava catálogos diversos, com prensas, moldes,
divisórias, acessórios e afins, como o catálogo de Lachave e Fils. Nazir al-Kurdi e o Sr.
Muhammad Awwād afirmam que havia uma pessoa em Damasco que desenhava e forjava as
formas e suas divisórias de 1930 até 1950. Dessa forma, vários modelos ("Damascene" e
"Beiruti") surgiram nessa época e tiveram seus nomes registrados nestes locais, como: Al-
zanbaqah (cravo), al-'amīr (o príncipe), al-musaddas (o hexágono), al-mušaqqaf (o
31
dividido), al-tāj (a coroa) e outros empregados na oficina de al-Kurdi em Damasco são
exemplos relevantes (FIG. 49).
Figura 46: Prensa hidráulica importada da Alemanha pela oficina Sioufi em Damasco. Viviers (França).
Figura 47: Prensa hidráulica nº. 4 produzido por Lachave & Fils. Viviers (França).
Fonte: http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2897/img-4.jpg e
http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2897/img-5.jpg. Acesso em 04 jan. 2018.
Figura 48: Prensa hidráulica nº 7 produzido por Lachave & Fils. Viviers (França).
Fonte: http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2897/img-6.jpg. Acesso em 05 jan. 2018.
Figura 49: Divisores produzidos em Damasco, 1930/40, utilizados na oficina de N. al-Kurdi, Damasco.
Fonte: <http://journals.openedition.org/abe/docannexe/image/2897/img-9.jpg>. Acesso em 05 jan. 2018.
32
Na fabricação deste tipo de revestimento são usados alguns objetos auxiliares, estes, não
descaracterizam o produto final.
No Brasil, inicialmente as fabricas eram importadas. Com o conhecimento de
parte da população do país com a siderurgia e metalurgia, logo começaram a produzir
máquinas e também prensas com as fundições instaladas no país. Na primeira metade do
século XIX o fuso das prensas maiores e mais complexas eram movidas a vapor e as que
possuíam motor elétrico foram encontradas posteriormente, no final do século XIX. Essa
fabricação dos fusos exigia o uso de fresas e tornos mecânicos maiores, além de ferramentas
de corte e amolação complementares. A fundição de São Paulo, Irmãos Masiero Ltda Jahu
(Jaú, SP) fundia e comercializava as prensas para a fabricação de ladrilhos no ano de 1910
(TINOCO 2016).
33
Figura 52: Prensas modernas; elétrica.
Figura 53: Prensa pneumática.
Figura 54: Prensa hidráulica.
Fonte: Apostila CECI - TINOCO 2016.
A prensa do tipo parafuso manual era manobrada por manípulos presos ao volante
que, ao ser acionado em movimento giratório, rotaciona o parafuso nele fixado e a base deste
parafuso era ajustada para comprimir a forma e por fim modelar o ladrilho hidráulico. O
funcionamento da prensa tipo parafuso mecânica era feito através do sistema de engrenagens
– o parafuso tinha a parte superior fixada em uma roda maior de coroa engrenada por outras
duas rodas menores. Para o acionamento do sistema, uma alavanca era movimentava no
sentido vertical, para baixo o parafuso desce e comprime a fôrma e para cima o conjunto
retorna a posição inicial. As prensas hidráulicas são semelhantes às descritas, porém, os
moldes são apertados de encontro aos contramoldes por meio da pressão obtida por bomba
34
hidráulica. Provavelmente esta prensa era mais cara, pois, otimizava a produção da empresa,
além de ser uma inovação no sistema de funcionamento. No entanto, esse procedimento
alterou a técnica da produção do ladrilho devido à pressão exercida sobre o molde, que neste
caso era definida pela máquina e não pelo controle da força empregada pelo ladrilheiro
(SEGURADO, 19- -?a apud CAMPOS, 2011).
Segundo este autor, a pressão que uma máquina hidráulica exerce sobre uma peça
de ladrilho hidráulico equivale a 70 toneladas e, a pressão de máquinas mecânicas e manuais
variam entre 12 e 20 toneladas em um ladrilho de 0.20 x 0.20m.
A prensa manual que era usada no final do século XIX e a utilizada atualmente em
algumas empresas têm características mais simples.
35
As dimensões do ladrilho hidráulico provavelmente não sofreram alterações
durante o tempo. É provável que, alguma variação na dimensão da camada do mesmo possa
acontecer devido à produção manual, que, neste contexto pode vir a variar um pouco de
acordo com o artesão ladrilheiro que produz cada peça (CAMPOS, 2011).
Figura 56: Corte lateral do ladrilho hidráulico produzido no ano de 1910 pela Lunardi & Machado.
Fonte: Trajetória e significado do ladrilho hidráulico em Belo Horizonte. CAMPOS, 2011.
Acesso em 11 jan. 2018.
As dimensões dos ladrilhos são 0,20 x 0,20m, ou seja, 25 por metro quadrado; o seu
peso regula por 1,570 Kg. Há também ladrilhos hexagonais, medindo 0,20m entre
vértices opostos, sendo precisos 28 para preencher um metro quadrado. Ainda há os
rectangulares, imitando tijolo, medindo 0,20m x 0,10 m, ou seja, 50 por metro
quadrado, e ainda 0,26 x 0,13m correspondendo a 30 por metro quadrado. Fazem
também ladrilhos para rodapés com uma pequena aba revirada em ângulo recto
arredondado, para arrematar com o azulejo da parede; estes ladrilhos medem 0,20m
de largura, por 0,18m de comprimento útil que adicionado à espessura da aba
vertical perfaz o comprimento normal de 0,20m. Encontram-se também no mercado
ladrilhos octogonais com 0,20 x 0,20m que exigem para seu assentamento pequenos
quadrados de 0,065m de lado, que intercalam entre eles.
Além disso, em seus estudos, este mesmo autor que estuda os materiais de
construção descreve dois métodos de manufatura deste revestimento: “por via seca” e “por via
úmida”. No procedimento a seco a porcentagem de água não deve ultrapassar 7% ou 8% e no
procedimento por via úmida a camada superior é empregada no estado fluído. Dessa forma,
ambos os processos são diferentes por causa da consistência da argamassa que cada um
apresentará e também pelo processo de cura.
No fabrico a seco os moldes são inteiriços, com uma pequena saída, a fim de
facilitar a retirada dos ladrilhos moldados. Faz-se primeiramente o fundo ou a base
do ladrilho com a pasta consistente, sobre a qual se deita a camada superficial que se
arrasa com um rodo e se submete seguidamente à pressão hidráulica.
Retirado os ladrilhos da prensa, são postos em caixilhos horizontais, que após dois
dias são introduzidos num tanque com água, durante duas horas a fim de que o
cimento absorva a água que lhe é precisa para fazer presa. Retiram-se da água,
deixando-se secar 48 horas nos seus caixilhos, empilhando-se depois em lugar seco,
formando pilhas de até 3 metros de altura. Devem permanecer no enxugo pelo
menos três meses antes de se entregarem ao consumo.
37
No fabrico por via húmida empregam-se moldes de desarmar, que se assentam em
blocos de aço polido, em que se deita a pasta fluida como dissemos. Coloca-se o
molde sobre o bloco, enche-se com a pasta fluida, usando-se para isso de um
recipiente de bico. Se o ladrilho deve ter cor uniforme deita-se primeiro a pasta de
cimento devidamente corada, dentro do molde, salpicando-a depois com cimento
puro em pó a fim de absorver o excesso de água que a pasta contenha, acabando-se
de encher o molde com a argamassa que deve formar a base do ladrilho. Sobre a
argamassa põe-se a tampa, aplicando-se seguidamente a pressão na prensa.
Moldando o ladrilho retira-se o molde e a tampa e volta-se o ladrilho com a face
para cima, o que exige uma certa pericia da parte do operário, visto aquele aderir
sempre um pouco ao bloco de aço. Coloca-se num caixilho que não é preciso
mergulhar em água, mas apenas regá-lo durante dois dias; empilha-se deixa-se secar
entre dois a três meses, sendo depois entregue ao consumo. (SEGURADO,19- -?a,
p. 179,180 apud CAMPOS, 2011).
A produção de ladrilhos por via úmida foi a mais utilizada e a que prevaleceu no
Brasil, provavelmente isso aconteceu devido ao uso de um maquinário que é menor e que
possui um custo menor que os outros, além de passar por um processo de cura de menos
tempo (TINOCO, 2016).
Hoje, as peças de ladrilho hidráulico apresentam algumas variações na sua
dimensão, estas podem ser quadradas (50x50); 100 x 100 mm; 150 x 150 mm, 200 x 200 mm
e 250 x 250 mm; ou de forma retangular que é utilizado como rodapé e pode ser encontrado
nas medidas de 100 x 200 mm e 150 x 200 mm. As peças sextavadas e oitavadas, entre outros
formatos também podem ser encontradas. A espessura do ladrilho hidráulico pode variar de
16 mm até 18 mm28.
O assentamento do ladrilho hidráulico é feito com uma camada de argamassa
composta do cimento Portland ou pela “bastarda” (argamassa que apresenta a cal e o cimento
como aglomerantes), que, ainda fresca, peneirava-se uma fina camada de cimento que
proporciona uma película superficial de maior resistência e fator de aderência. (SEGURADO,
191?b apud CAMPOS, 2011). Estes são assentados pelo sistema de “junta seca”, ou seja, eles
não sofrem dilatação, dessa forma, possuem rejunte mínimo. Este tipo de rejuntamento
proporciona às peças de ladrilho hidráulico a continuidade dos seus desenhos, adquirindo
aspecto de tapete e demais efeitos decorativos29.
Outros materiais completam a composição do ladrilho hidráulico, como o quartzo
pó de pedra, calcita, areia, dalomita, pigmento30 e água. É muito importante saber a
28
De acordo com a NBR 9457, o ladrilho hidráulico deve ter 20 mm de espessura, porém, há tolerância de 10%
nesta dimensão. CAMPOS, 2011.
29
A NBR 9457:2013 especifica os métodos de ensaios para aplicação do ladrilho hidráulico para pavimentação.
30
As substâncias que originam os pigmentos são óxido de ferro, que origina as cores amarelas, marrons,
vermelhas e pretas; dióxido de manganês, o negro; e óxido de cromo, o verde e o azul cobalto. Para alcançar
estas diferentes cores, os óxidos de ferro são submetidos a diferentes graus de temperaturas. Esses pigmentos
podem sofrer alterações de tom no momento de preparo das cores devido às propriedades físicas do cimento de
38
procedência de cada material, isso por causa da sua qualidade, pois, quanto maior a qualidade
da matéria prima melhor será o resultado do ladrilho hidráulico, evidenciando a sua
durabilidade e também a cor empregada em cada peça do revestimento, que pode ser
comprometida devido a impurezas de alguns materiais.
A sua produção é feita com matriz ou molde de bronze ou latão com arestas que
variam de formato de acordo com o desenho escolhido que será feito pelo artesão, produzido
na superfície do ladrilho a fim de separar as cores na modelagem; A prensa utilizada
comprime a forma, dessa forma as camadas ficam unidas para dar forma a peça de ladrilho.
Essa prensa é dimensionada para quatro artesãos trabalharem ao mesmo tempo. A máquina é
acionada manualmente, pelo artesão, quando gira a alavanca (“balancinho”) na parte superior
(CAMPOS, 2011).
A produção do ladrilho hidráulico é feita por etapas: preparação da argamassa,
elaboração do ladrilho e cura.
Preparação da argamassa
A preparação da argamassa é descrita por três etapas, sendo elas a camada
superior, intermediária e inferior, já citada anteriormente.
A camada superior é feita com o cimento Portland que pode ser branco ou cinza,
uma misturada de dolomita31 e quartzito (pó de mármore), pigmento caso o ladrilho seja
colorido e água para diluir até que a massa se torne líquida. É preciso ressaltar que, para o
preparo de pigmentos é necessário fazer uma massa independente para cada tipo de cor, sendo
que, a cor vermelha, branco, azul e outras devem ser feitas com o cimento portland branco,
dessa forma as características do pigmento não são alteradas devido à cor do cimento. Já o
pigmento preto e marrom pode ser feito com o cimento portland cinza. O procedimento desta
camada precisa ter uma quantidade equilibrada de massa + pigmento, pois, o resultado dessa
mistura influencia na espessura das cores do ladrilho que possibilita condições desejáveis para
um futuro polimento e manutenção da peça (CAMPOS, 2011).
A camada intermediária, conhecida também por “secante” tem o objetivo de
absorver o excesso de água da camada superior; esta é feita com o quartzito (calcita) e o
cimento Portland (cinza) que são misturados de forma homogênea. O traço é 1 de cimento
diferentes fabricantes. Estes óxidos de ferro naturais estão sendo substituídos pelos novos óxidos sintéticos, que
oferecem maior grau de pureza na sua composição, uniformidade mais consistente, grande diversidade de tons e
capacidade maior de coloração (CATÓIA, 2007).
31
A dolomita é um mineral composto por carbonato de cálcio e magnésio. Fonte: <https://www.greenme.com.br/
usos-beneficios/5674-dolomita-beneficios-para-saude>.Acesso em 15 jan. 2018.
39
para 3,5 de calcita que pode ser preparada um dia antes da produção do ladrilho, pois, a
mesma não é hidratada (CAMPOS, 2011). Segundo Segurado (19- -?a, p. 177 apud
CAMPOS, 2011), em algumas empresas a betoneira é utilizada para fazer a mistura da
camada intermediária, pois, quando a mistura dos componentes da argamassa é realizada pela
betoneira, obtêm-se uma “amassadura” com maior homogeneidade, tornando-se de grande
importância no fabrico dos ladrilhos.
Por fim, a camada inferior é composta pelo quartzito (areia) e o cimento portland
(cinza) hidratado que são aplicados no contra piso, que, para poder ter mais aderência no
mesmo deve ter uma textura áspera. Se porventura a elaboração desta camada apresentar
alguma fissura ou esfarelamento no momento que a peça for desenformada, esta pode ser
reaproveitada quando é esfarelada e peneirada para depois ser acrescentada com a mistura de
cimento e quartzito para depois adicionar a água.
32
Depoimento de Antônio Carlos Alves de Carvalho à Becker (2009, p.28 e 29).
40
Quanto mais requintado o desenho maior precisão e técnica o ladrilheiro precisa
ter para que a peça tenha um melhor resultado. Além disso, a precisão da matriz precisa estar
em perfeitas condições, sem nenhuma empena ou defeito que possa causar o vazamento da
tinta. A complexidade do design do molde e a variação de cores do mesmo podem influenciar
no valor do ladrilho hidráulico, pois, quanto mais cores e mais difícil for a sua produção, mais
tempo e material será gasto.
Com todas as áreas preenchidas, o artesão movimenta levemente a forma para
assentar as massas e então o molde é removido cuidadosamente para não causar borrões no
desenho. Pode surgir algum borrão superficial das tintas, porém, este não interfere no design
do ladrilho devido à carga que está misturada na tinta que rapidamente se decanta, tornando a
mistura que fica mais acima aquosa33. Depois disso o molde é mergulhado em uma bacia com
água para que o pigmento não “grude” no mesmo, além de limpar com mais facilidade os
vestígios de tinta e aumentar a sua vida útil.
Figura 58: Primeira camada do ladrilho hidráulico (pigmento) aplicada dentro da forma.
Figura 59: Remoção da forma de desenhos depois da primeira camada aplicada.
Fotos: Sabrina Castro. Abril, 2017.
33
A mistura ou “invasão” se dá entre 2 a 3 mm acima, considerando o ponto zero a superfície do desenho.
OLIVEIRA, Depoimento de Antônio Eustáquio de. (Engenheiro Civil e Design de Produto – fabricante de
moldes para ladrilho hidráulico): Caracterização do processo produtivo do ladrilho hidráulico para Campos,
Cláudia Fátima. Trajetória e significado do ladrilho hidráulico em Belo Horizonte/2011. Acesso em 11 jan. 2018.
41
ele. Ao finalizar este procedimento, a forma é fechada com o tampão para receber a carga de
prensagem (CAMPOS, 2011).
A alavanca da prensa é acionada duas vezes em sentido horário e anti-horário. Este impulso
proporciona a resistência da peça, que, dependendo da máquina gera uma força de
aproximadamente oito toneladas.
Figura 63: Ladrilho depois de prensado, elaborado pela autora na oficina de Restauro e produção de ladrilhos e
mosaicos, realizada no X Seminário da FAOP ministrada por Jorge Tinoco/CECI em abril de 2017.
Foto: Sabrina Castro. Abril, 2017.
42
Processo de cura
Esta fase da produção do ladrilho hidráulico é muito importante, pois influencia
diretamente na resistência e qualidade que a peça apresenta. Como o cimento precisa da
umidade, quanto mais tempo à peça permanecer imersa em água, mais dureza e rigidez ela vai
alcançar.
Inicialmente, o ladrilho hidráulico fica entre 14 horas e 24 horas em repouso,
antes do processo de cura, para criar certa rigidez e integridade física para poder ser
manuseado. Depois disso, a peça é colocada em grade, que é conhecida pelos ladrilheiros
como “girafa” e então são colocados em imersão na água, permanecendo na grade por
aproximadamente 24 horas. Esta atividade é conhecida como cura úmida. Após esse tempo
retiram-se as peças da água colocando-as nas “girafas” para realizar o escoamento da água
que é feito em um local arejado e na sombra. Os ladrilhos são mantidos neste local por mais
24 horas. Passado mais um dia, os ladrilhos são armazenados em prateleiras, ainda em local
com sombra, recebendo ventilação por todas as faces. Por fim, os ladrilhos permanecem
secando de forma natural por aproximadamente 17 dias 34.
Borges 2005 apud CAMPOS (2011) descreve que, mesmo feito por um processo
de modelagem, a produção deste material permanece de base artesanal e, curiosamente,
atende a uma demanda atual dos consumidores de adquirir produtos personalizados, feitos sob
medida para cada um. A técnica dessa fabricação é passada de geração para geração, na
relação do ladrilheiro com o aprendiz, de pai para filho que transfere habilidades e histórias,
34
Conforme a NBR 9457:2013, considerando as propriedades físicas do cimento, deve-se obedecer o tempo
estipulado de vinte e oito dias necessários para atingir o limite do grau de dureza. Fonte: Campos, Cláudia
Fátima. Trajetória e significado do ladrilho hidráulico em Belo Horizonte/2011. Acesso em 11 jan. 2018.
43
ensinam passo a passo todas as fazes do trabalho para obter o resultado esperado do ladrilho
hidráulico; procedimento esse que lapida o comportamento e desenvolvimento técnico do
aprendiz para torna-lo um ladrilheiro experiente.
Os ladrilhos hidráulicos depois que são assentados ficam expostos a qualquer tipo
de atrito e absorção. Essas ações preocupam os fabricantes deste tipo de revestimento, pois:
44
3. O LADRILHO HIDRÁULICO NAS IGREJAS DE OURO
PRETO: NOSSA SENHORA DO CARMO, NOSSA SENHORA DAS
MERCÊS E MISERICÓRDIA E NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO
35
Salete Retamoso Palma, e Djalma Dias da Silveira A saudade ecologicamente correta: a educação ambiental e
os problemas ambientais em cemitérios. UFSM 2010 Santa Maria, RS.
46
Figura 66: Ladrilho da Igreja de Nossa Senhora do Carmo em São João Del-Rei.
Fonte: <http://www.patriamineira.com.br/imprimir_noticia.php?id_noticia=1694>.Acesso em 5 mar. 2018.
Figura 67: Ladrilho da Igreja Matriz São Pedro Apóstolo em Poço das Antas/RS.
Fonte: http://raizesdaarquitetura.blogspot.com.br/2014/12/ladrilho-hidraulicoparte-ii.html. Acesso 5 mar. 2018.
Figura 68: Ladrilhos do Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens no Caraça.
Foto: Sabrina Castro, 2017.
36
MILANI, Menezes de Eliva. Arquitetura, luz e liturgia: um estudo da iluminação nas Igrejas Católicas. 2006.
Fonte: <http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/Arquitetural/Pesquisa/arquitetura%20luz%20e%20liturgia.pdf>.
Acesso em 15 mar. 2018.
48
1865, finalizando toda a obra em 1897 com a construção das catacumbas. A finalização das
obras da igreja se deu em 1909 com a conclusão das seguintes atividades: pinturas do teto,
forros e paredes, douramentos, adequação de portões de ferro no adro, realização do jardim e
limpeza geral da igreja e do seu entorno.
No século XX foi feita uma restauração nas fachadas laterais, frontal, no adro e
cemitério da igreja. Além disso, o muro do cemitério que era de alvenaria foi substituído por
grades de ferro; foi feita também uma obra de paisagismo por José Zanine.
No dia 20 de abril de 1938 a Igreja e todo o seu acervo foi tombado, de acordo
com a Resolução do Conselho Consultivo da SPHAN, de 13 de agosto de 1985, referente ao
Processo Administrativo nº 13/85/SPHAN (Furtado de Menezes 1975; apud Queiroz et al,
2012).
A edificação esta localizada próxima ao Museu da Inconfidência; um ponto de
visibilidade importante devido à altitude que a mesma se encontra devido ao aterro que foi
feito no terreno, proporcionando a mesma uma maior elevação diante das outras edificações
do seu entorno. O acesso da mesma pode ser feito pelas escadas pavimentadas com pedras de
quartzito, o acesso principal é feito por uma escadaria longa que ao chegar ao topo encontra-
se a fachada frontal da igreja, e os outros são feitos pelas laterais; a primeira na lateral
esquerda da igreja, na Rua Brigadeiro Musqueira e a outra mais ao fundo, próxima à Praça
Tiradentes.
49
Segundo NEVES (2010)37, a irmandade do Carmo esclarece em seus documentos
que todo o material utilizado na construção inicial e final da igreja precisam ser de primeira
qualidade. A capela-mor, corredores laterais e a sacristia da igreja são constituídos de ladrilho
hidráulico; sendo que, os modelos dos ladrilhos se diferem em cada área onde foram
aplicados.
Figura 70: Ladrilho hidráulico da Capela-mor, Sacristia e Corredores laterais da igreja do Carmo/OP.
Foto: Sabrina Castro. Março 2018.
Figura 71: Planta baixa da igreja Nossa Senhora do Carmo adaptada pela autora.
Fonte:<http://www.bibliotecadigital.mg.gov.br/consulta/consultaDetalheDocumento.php?iCodDocumen
to=48859>. Acesso em 10 mar. 2018
Algumas alterações foram feitas nas obras da igreja, entre essas mudanças, no ano
de 1831 houve o pedido de suspensão de sepultamento dos cadáveres no interior da mesma
(FIG 72).
1831 - A Câmara Municipal desta importante cidade de Ouro Preto em cumprimento
da Resolução do Conselho Geral da Província comunicada em Ofício de fim de
inventário de 18 de fevereiro próximo papado: Declara que se participasse a Vossa
Senhoria que o mesmo conselho geral melhorizou a conclusão das catacumbas que
Vossa Senhoria tem começado para o enterramento dos cadáveres de seus irmãos,
que faleceram aceitando-se a oferta que prometeram para a fartura do cemitério
37
Neves, Maria Agripina. Do Monte Carmelo a Vila Rica: aspectos históricos da Ordem Terceira e da Igreja do
Carmo de Ouro Preto, 2010.
50
Geral, cuja importância deseja a Câmara que Vossa Senhoria lhe declarem a quanto
orçará. Isto, pois, com memória a Vossa Senhoria para sua inteligência, e para que
deem as necessárias providências a fim de se suspender o enterramento dos
cadáveres dentro do templo de primeiro de janeiro de 1832 em diante. Deem graças
a V.S. À importante cidade de Ouro Preto 18 de março de 1831.
Aos Irmãos presentes e mais definitório da Ordem Terceira de Nossa Senhora do
Carmo.
Depois disso, foi declarado que a Ordem Terceira do Carmo estava construindo
um cemitério próximo ao templo, hoje anexado entre a fachada lateral esquerda e posterior da
igreja. Aconteceram várias pausas na obra do mesmo devido à falta de verba; não
concordância de demais irmãos e demais secretarias sobre a concessão do terreno, e compras
de materiais para sua construção. Em 18 de outubro de 1865 as obras ainda estavam atrasadas.
Sendo assim, uma das opções da Irmandade foi contar com a contribuição de fiéis que
regularmente contribuíram com qualquer quantidade de dinheiro que lhes eram possíveis para
dar continuidade às obras dos jazigos. Em 26 de julho de 1936 as obras já estavam
finalizadas.
A Capela-mór possui um modelo geométrico de ladrilho hidráulico, este,
apresenta quatro cores no seu conjunto principal que compõe a parte maior da capela-mór,
sendo elas: preto, vermelho, branco e terra cota; e o desenho dos ladrilhos que compõe a
borda do conjunto tem seis cores: amarelo, azul, vermelho, branco, preto e cinza.
Provavelmente, as cores dos altares, ornamentação e pintura desta área da igreja
influenciaram as cores e o modelo escolhido do ladrilho hidráulico, sendo que, esta igreja
apresenta influência do estilo rococó e faz o uso de cores mais leves, como o azul e tons mais
claros, como o branco, sempre ao fundo dos desenhos para ajudar na interpretação e dar
profundidade ao design. Além disso, pela capela-mór ser a região mais importante da igreja, o
modelo do revestimento aplicado na mesma é mais elaborado e colorido que os outros.
51
Figura 73: Fita de ladrilhos que compõe as peças principais da Capela-mór.
Foto: Sabrina Castro, Março 2018.
Figura 74: Fita de ladrilhos com motivos florais que compõe as peças principais da Sacristia.
Foto: Sabrina Castro, Março 2018.
52
3.2 Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia
38
SANTOS, Wladimir Alves dos (1984) apud CARMO et al (2012).
53
A igreja com traços incomuns por ter características distintas das outras pode ser
localizada na região mais alta que a Praça Tiradentes no centro de Ouro Preto, próximo ao
Museu da Inconfidência e Rodoviária de Ouro Preto. Portanto, é reconhecida por diversos
pontos da cidade. A igreja de proporções menores que as demais, composta somente por uma
torre é muito popular por muitos turistas e moradores da região.
Figura 76: Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia. Ouro Preto/MG.
Foto: Sabrina Castro. Março; 2018.
54
Figura 77: Planta baixa da Igreja Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia adaptada pela autora. A área colorida
representa os lugares que são revestidos por ladrilho hidráulico.
Fonte:<http://www.bibliotecadigital.mg.gov.br/consulta/consultaDetalheDocumento.php?iCodDocumento=4886
5>. Acesso em 10 mar. 2018.
Figura 78: Ladrilho hidráulico presente nos corredores laterais e sacristia da Igreja das Mercês/OP.
Foto: Sabrina Castro, Março 2018.
Criada em 1715 a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos iniciou suas
atividades na Matriz de Nossa Senhora do Pilar e um ano depois foi transferida para uma
capela no Bairro do Caquende. Segundo Menezes (1975) apud Queiroz et al (2012), essa
antiga capela foi como a Matriz da Freguesia de Ouro Preto entre os anos de 1730 e 1733,
pois, durante esse tempo a Matriz do Pilar estava passando por um processo de reconstrução.
Quando a obra no Pilar foi concluída (1733), a Irmandade do Rosário realizou uma festa,
conhecida como “Triunfo Eucarístico”, comemorando a volta da imagem do Santíssimo
Sacramento para a nova Igreja Matriz Nossa Senhora do Pilar. Devido a essa festividade e
55
também à procissão, foi construída uma passagem na rua pelos irmãos do Rosário, que foi
nomeada por Rua do Sacramento (atual Getúlio Vargas) para que os fiéis pudessem celebrar a
volta da imagem.
Tal ato fez com que a Irmandade conseguisse do Senado da Câmara a autorização
de um grande terreno, dessa forma, a antiga capela foi demolida para que capela, atual Igreja
do Rosário fosse construída.
Por causa da ausência de alguns registros sobre a construção da igreja não é
possível identificar qual é a data certa do início das obras. Por meio dos documentos do
mestre de obras José Pereira Santos é possível verificar que, em aproximadamente 1762 as
obras já estavam adiantadas e em 1784 as atividades do interior da igreja foram feitas,
finalizando tudo entre 1822 e 1823 aproximadamente (QUEIROZ, 2012).
Entre os anos de 1869 e 1882 houve uma restauração na igreja e no século XX
algumas obras foram feitas no templo religioso, como aplicação de grades de ferro, bancos de
madeira e outros.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário possui o formato de um “oito” formado por
dois círculos ovais e uma sacristia de formato retangular. No interior da edificação pode-se
observar o piso de ladrilho hidráulico rico em detalhes e cores, se destacando dos pisos das
demais igrejas. Na capela-mor o ladrilho hidráulico se estende até a nave, formando um
grande tapete central.
56
Figura 80: Ladrilho da entrada e capela-mór. Ladrilho presente nos corredores laterais da igreja.
Foto: Sabrina Castro, Março 2018.
Além de sua arquitetura se destacar das outras do Brasil, pelo ano que foi
construída, é considerada inovadora devido aos seus traços e ao desenho da planta. A Igreja
foi tombada no dia 8 de setembro de 1939 junto de todo o seu acervo, de acordo com a
Resolução do Conselho Consultivo da SPHAN, de 13/08/85, referente ao Processo
Administrativo nº. 13/85/SPHAN39. A edificação está localizada no Largo do Rosário,
concentrada em um terreno de formato triangular e plano e está acima do nível das demais
edificações. O adro da igreja é pavimentado com pedra pé-de-moleque.
39
SANTOS, Wladimir Alves dos (1984) apud CARMO et al (2012).
57
Figura 82: Planta baixa da Igreja Nossa Senhora do Rosário adaptada pela autora. Todas as áreas coloridas são
compostas por ladrilho hidráulico.
Fonte:<http://www.bibliotecadigital.mg.gov.br/consulta/consultaDetalheDocumento.php?iCodDocumento=4894
4>. Acesso em 10 mar. 2018.
A estampa do ladrilho que foi assentado nesta igreja tem o design mais complexo
dentre os das outras igrejas. No Nártex e Capela-mór a estampa dos ladrilhos são iguais. Este
modelo possui motivos florais e geométricos completamente elaborados com oito cores:
preto, amarelo, branco, azul escuro, azul claro, marrom, vermelho e cinza. As peças que
complementam a borda dos outros ladrilhos são iguais aos ladrilhos que também fazem o
conjunto das bordas da Capela-mor da igreja do Carmo.
Figura 83: Fita de ladrilhos que compõe toda a borda do conjunto principal das peças.
Foto: Sabrina Castro. Março; 2018.
58
o mais elaborado de todos os outros já citados aqui. A localização que o revestimento se
encontra provavelmente influenciou para a escolha mais detalhada aplicada na mesma.
Figura 84: Detalhe dos ladrilhos que estão assentados na borda do conjunto, na Nave da igreja.
Foto: Sabrina Castro. Março; 2018.
Figura 85: Traços, ornamentos, motivos fitomórficos e geométricos do ladrilho presente na Nave da igreja.
Foto: Sabrina Castro. Março; 2018.
Figura 86: Fita de ladrilhos envoltos na borda das outras peças. Ladrilhos do corredor e sacristia da igreja.
Foto: Sabrina Castro. Março; 2018.
59
Pode-se observar que a padronagem geométrica, fitomórfica e ornamental está
presente nas áreas mais importantes do templo religioso: a Nave, Nártex e a Capela-mor.
Além disso, cinco cores permaneceram iguais nestas mesmas áreas: amarelo, azul, vermelho,
branco e preto. Os corredores laterais e a sacristia das três igrejas apresentam desenhos
geométricos simples e a única diferença que existe entre eles é a fita de ladrilhos que
complementa a borda do conjunto principal, pois, uma delas tem motivos florais e as outras
duas tem linhas geométricas. Quatro cores padrão também foram observadas neste caso,
sendo: o preto, cinza, vermelho e branco.
Dessa forma, é possível identificar que as características do estilo arquitetônico da
igreja de acordo com a hierarquia que cada lugar representa na liturgia e iconografia,
influenciam muito nos padrões decorativos, modelos, estética e posicionamento dos ladrilhos
hidráulicos utilizados na igreja. Quanto mais importante o lugar e mais visível ele for, mais
detalhada e colorida será a peça escolhida para complementar o local.
Segundo informações de receita, despesas e obras da igreja, a introdução do
ladrilho hidráulico na mesma aconteceu no ano de 1897, devido a um melhoramento feito no
seu interior. Foram feitas compras de baldrames, assoalhos, grades, cimento, areia e o ladrilho
hidráulico, além de contratarem serviços de servente de pedreiro para a aplicação dos novos
materiais e também para fazer o desaterro. Esse trabalho foi realizado por contratação dos
serventes Affonso de Paula Santos e Antônio Augusto de Almeida que também alugaram um
animal para a irmandade a fim de transportar materiais mais pesados e também conduzir o
solo extraído para outro local. José Olearia de Oliveiros também trabalhou como pedreiro nas
obras da igreja (Volume 126 Microfilme nº 213).
Figura 87: Contrato de serviços dos serventes Affonso, Antônio e José Olearia de Oliveiros.
Foto: Sabrina Castro. Fev; 2018.
60
Por um registro de recibo encontrado pode-se constatar que a Irmandade Nossa
Senhora do Rosário de Ouro Preto comprou os ladrilhos hidráulicos por 1.200$000 (um cento
e duzentos mil reis) de uma fábrica na época localizada no Rio de Janeiro, a Emanuele Cresta
& Cia - fábrica de ladrilhos, mosaicos, cerâmica, cimento, que também importava ladrilhos de
Veneza, mármores e azulejos e materiais para construção; além disso também importavam
outros materiais.
O Recibo registrado no Volume 126 do microfilme nº 213, datado de 1897, traz o
seguinte texto: Recebemos do Senhor Frederico Gomes Monteiro a quantia de um cento e
duzentos mil reis por ordem de Ignácio Burlamaque e conta de Ouro Preto.
Na nota abaixo (FIG 88) pode-se observar a encomenda realizada dos materiais,
sendo eles: um tipo de ladrilho de cerâmica e outros dois de ladrilho hidráulico, modelos
gregos.
Além disso, Launindo Alves de Lima foi o pedreiro que realizou o trabalho de
assentamento dos ladrilhos, como pode ser verificado no registro abaixo (FIG 89): Recebi do
Senhor Tesoureiro da Irmandade Nossa Senhora do Rosário de Ouro Preto, Manoel Fiuza, a
quantia de 110$500 (centro e dez mil e quinhentos reis) proveniente de 17dias de trabalho que
fiz para a mesma, de assentamento de ladrilhos. Ouro Preto, 13 de dezembro de 1897.
Launindo Alves de Lima. Por meio de outros documentos o trabalho executado por Launindo,
junto de outros nomes, como Augusto Geraldo dos Santos se estendeu até aproximadamente
março de 1898.
61
Figura 89: Recibo de pagamento aos pedreiros Launindo e Augusto.
Foto: Sabrina Castro. Fev; 2018.
62
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Por um estudo feito baseado nas datas de restaurações e obras que aconteceram
nessas três igrejas, é possível concluir que o ladrilho hidráulico presente nas mesmas
apresenta mais ou menos 119 anos. Uns são mais elaborados e detalhados que outros, mas
todos possuem seus desenhos e cores diferenciados. No que diz respeito aos danos observados
nestas peças, observam-se marcas de abrasionamento e falhas, principalmente os que estão
perto das portas onde o atrito é maior, porém, a integridade das outras peças não estão
danificadas. Diante de tantos momentos que esse material já apresentou é possível identificar
com clareza que quando a sua manutenção é feita sua durabilidade aumenta ainda mais; seus
níveis continuam iguais e sua superfície ainda vibra com as cores utilizadas em cada mosaico
de ladrilhos preservados durante todo esse tempo.
Desta forma, acreditamos ter correspondido com os objetivos desta pesquisa.
Entretanto, este tema não foi ainda abordado de forma mais detalhada. Sugerimos, portanto,
que outros ensaios acadêmicos e práticos sejam desenvolvidos para que possam contribuir, no
futuro, para o resgate, a revalorização e, sobretudo, a conservação e difusão deste material
decorativo, que prevaleceu em determinado período da historia construtiva e decorativa de
Ouro Preto.
64
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66
MORÁN BUSTELO, Hernán. Revista oficial de la oficina estatal de conservacion
histórica de Ruerto Rico. Ornamentos e artes decorativas. 2011. 81 f. Porto Rico, vol 3,
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67
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68