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As Sete Pragas
As Sete Pragas
As Sete Pragas
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Olá, vamos iniciar nossa disciplina com uma discussão que tem se perpetuado a bastante tempo no ensino de
português. Para isso, vamos tomar um texto bastante antigo, mas que diz muito sobre o cenário atual.
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FARACO, C. A. As Sete Pragas do Ensino de Língua Portuguesa. Revista: CONSTRUTORA, ano III, nº 1, p. 5-12, 1975.
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Carlos Alberto Faraco é professor titular (aposentado) de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), tendo lecionado
português no ensino médio de Curitiba. Formou-se em Letras em 1972. Fez mestrado em Linguística na Unicamp em 1978, doutorou-se em
Linguística Românica na Inglaterra, em 1982.
Laboratório de práticas de oralidade, leitura e escrita.___________
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revolucioná-lo, por meio da extensão dos resultados da linguística à Educação, assunto de que nos ocuparemos em
trabalhos futuros. Mas, vamos às pragas!!
1ª PRAGA: LEITURA NÃO COMPREENSIVA
Grande tem sido a preocupação dos professores (em especial no início do 1° grau) com o aprimoramento da mecânica
da leitura. Indiscutível o valor desta mecânica, no sentido de desenvolver a leitura clara e fluente. Esta habilidade,
porém, é mero passo em direção a objetivos qualitativamente superiores (que devem começar a ser atingidos desde os
primeiros anos de escola), ou seja, a penetração na mensagem e a apreciação crítica desta, atividades relegadas,
atualmente, a um plano secundário, quando não esquecidas de todo. O aluno brasileiro "lê", como diz conhecido
educador, como agulha de vitrola, vai passando pela trilha e produzindo som". Conseqüência: O resultado desta falta de
hábito de leitura compreensiva e crítica é a incapacidade dos universitários (e do cidadão comum) de entender um texto
e de analisá-lo criticamente (observa-se a situação dos próprios professores que se mostram, por exemplo, incapazes de
uma análise da gramática tradicional!).
2ª PRAGA: TEXTOS "CHATOS"
Chato está aqui para representar todo aquele conjunto de textos desligados da realidade e da cultura nacionais, afastados
dos interesses e das necessidades das crianças e adolescentes e que inundam as nossas escolas, via livros
didáticos. Consequência: Ninguém toma gosto pela leitura (como cativar os alunos para a leitura desse Textos
intragáveis?) e pouco de conteúdo se tira das aulas de português, justamente nessas faixas etárias em que mais queremos
saber das coisas da vida e do mundo! (como lhes ser úteis com textos que nada lhes dizem?).
de Letras, mas completamente fora de propósito na escola de 1° e 2° graus). Exemplo típico disso é o estudo da
classificação das vogais e consoantes.
Problema 2: Assuntos que deveriam constar de manuais apenas como ponto de referência para uma eventual consulta
(eventual, em razão da raridade da ocorrência), passam para os programas escolares, para os li vros didáticos e os alunos
são obrigados a retê-los, num evidente desperdício de energia mental, sobrecarregando a memória com uma carga inútil
de informações desnecessárias. Estão incluídas, aqui, coisas como as vozes dos animais (alguém poderia justificar a
presença deste assunto nos livros didáticos e no ensino?), certos coletivos (atilho, cainçalha, coldra, chorrilho...), certos
femininos" dos "adjetivos pátrios" (que indivíduo que nasceu na Provincia do Entre-Douro-e-Minho, Portugal, saiba que
ele é interamnense, vá lá. Mas que um nascido em Oriximiná, Pará, deva necessariamente saber, tenha dó!), certos
"numerais" (septingentésimo, nongentésimo,...), “aumentativos e diminutivos (naviarra, fogacho, homúnculo,
diabrete,...), certos "adjetivos eruditos" (cinegético, beluíno, lígneo, equóreo, porcino,...).
Problema 3: Insiste-se no domínio ativo de formas arcaicas (Vós, algumas regências, mesóclises esdrúxulas,...).
Consequência: Cria-se no indivíduo uma falsa ideia sobre a língua (Quantas coisas realmente “ficam de fora!) e sobre o
estudo da língua (pensa-se que estudar a língua é só aprender essa matalotagem de coisas inúteis). Daí, decorre o
desprezo pela língua e a incapacidade de aprimorar o domínio do instrumento linguístico. Decorrem daí, também, essas
monstruosidades que são as provas de português os concursos para ingresso em organizações públicas e particulares,
dos exames supletivos e dos vestibulares (sem esquecer, é claro, das provas nas escolas...)!
7° PRAGA: LITERATURA-BIOGRAFIA
Há todo um sistema de se "ensinar literatura que consiste em coletar dados biográficos dos autores e arrolar suas obras.
Saiu de um desses professores e brilhante expressão "literatura é decoreba"! Tornou-se possível ensinar literatura em
nossas escolas, sem que os alunos entrem em contato com textos!!
CONCLUSÃO
Não houve propósito, neste artigo, de se oferecer alternativas para o ensino de português. Pretendeu se apenas contribuir
para uma análise crítica que nos conduza à necessidade de repensar e reorganizar este tipo de ensino. Como conclusão,
ficam estas palavras: Sabemos que grau de abnegação é necessário para que o professor, primário ou secundário,
recoloque em causa aquilo que ensina, em certos casos depois de muitos anos. Mas sabemos que não hesitará se estiver
convencido de que o futuro de seus alunos está em jogo.