Science">
Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

O Ensino Desenvolvimental e A Aprendizagem Do Voleibol

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 7

O ENSINO DESENVOLVIMENTAL E A APRENDIZAGEM DO VOLEIBOL

Introdução
”Os pedagogos começam a compreender que a tarefa da escola contemporânea não
consiste em dar às crianças uma soma de fatos conhecidos, mas em ensiná-las a
orientar-se independentemente na informação científica e em qualquer outra. Isto
significa que a escola deve ensinar os alunos a pensar, quer dizer, desenvolver
ativamente neles os fundamentos do pensamento contemporâneo para o qual é
necessário organizar um ensino que impulsione o desenvolvimento. Chamemos esse
ensino de “desenvolvimental” (DAVÍDOV, 1988c, p.3).

Esta tese de doutorado buscou contribuir para o campo da Educação Física,


particularmente no ensino esportivo de voleibol com a possibilidade de uma aprendizagem
esportiva mais significativa nos aspectos do desenvolvimento das habilidades dos aprendizes
para pensar racionalmente as ações do jogo de voleibol e com autonomia. Assim, o tema deste
estudo foi o ensino do voleibol numa perspectiva formativa, com destaque ao uso de
procedimentos auto-avaliativos que propiciam o aprimoramento de capacidades mentais e
alterações qualitativas no desempenho de indivíduos nessa modalidade esportiva.
Por esta linha de investigação, fomos buscar as contribuições para a aprendizagem
esportiva no pensamento didático da teoria histórico-cultural de Lev Vygotsky (1896 - 1934) e
colaboradores, na teoria da atividade de Alexei Leontiev (1903 - 1979) e na teoria histórico-
cultural da atividade a partir das produções de Vasili Vasilievich Davídov (1920-1998). Autor de
vários livros, professor universitário e doutor em psicologia, Davídov faz parte da terceira
geração de psicólogos russos seguidores de Vygotsky. A sua obra destaca a peculiaridade da
atividade da aprendizagem com o objetivo de domínio do conhecimento teórico obtido pela
aprendizagem de conhecimentos comuns a diversas áreas do conhecimento (LIBÂNEO, 2004).
Davídov (1988a) procurou responder as seguintes questões didáticas do professor: é possível
por meio do ensino e da educação formar numa pessoa certas capacidades ou qualidades
mentais que não tinha anteriormente? Como analisar e organizar o conhecimento a ser
trabalho com os alunos? Como estes conhecimentos são melhor trabalhados respeitando-se os
motivos dos alunos? Que tarefas e conhecimentos são mais propícios a isso com base nos
motivos dos alunos? Como é que o professor administra o espaço das aulas e como é que ele
organiza as situações pedagógicas?

Desenvolvimento

A teoria do ensino desenvolvimental, entendida como sendo a teoria histórico-


cultural da atividade, tem sua matriz do conhecimento nos pressupostos do materialismo
histórico-dialético, onde se evidencia uma relação entre o sujeito humano e social e a realidade
externa que o cerca. Conforme Davídov (1988a, p.7), o indivíduo, ao apropriar-se dos
conhecimentos socialmente construídos, “[...] reproduz em si mesmo as formas histórico-
sociais da atividade [...]”. Assim sendo, o desenvolvimento mental faz parte do modus operandi
do ensino desenvolvimental justamente pela objetivação em levar o educando a percepção do
conceito nuclear dos objetos em estudo e fazer as possíveis abstrações que lhe permitirá
identificar os atributos secundários decorrentes, quer sejam os conhecimentos mais específicos
que caracterizam os objetos, podendo mudar conforme a generalização que se faz do conceito
central extraído das análises dos objetos investigados (LIBÂNEO, 2004).

FIEP BULLETIN - Volume 85 - Special Edition - ARTICLE I - 2015 (http://www.fiepbulletin.net)


A expressão ensino desenvolvimental implica, então, em criar oportunidades para
os alunos investigarem problemas que os permitem desenvolver uma relação teórica com a
matéria específica. Assim, espera-se que a atividade de ensino na perspectiva
desenvolvimental dê as condições para que o aluno internalize mentalmente e incorpore no
seu fazer os conceitos necessários para solucionar problemas de toda ordem, e que, mesmo
diante de situações imprevistas e aparentemente novas que acontecem no cotidiano, possa ter
desenvolvido a habilidade de organizar mentalmente os conceitos, informações e saberes
necessários para discernir as situações e tomar as decisões mais acertadas nas situações
concretas. Este caráter generalizador dos conceitos deverá dar aos alunos a condição de
inteligentemente agirem com autonomia em qualquer situação no âmbito da vida, inclusive
criando novas soluções para novos problemas a partir da base conceitual já compreendida e
efetivada.
Esta pesquisa consistiu numa proposta de intervenção pedagógica, planejada
previamente pelo pesquisador e desenvolvida de forma colaborativa pela professora de voleibol
que prestava serviços voluntários no programa de escolinhas esportivas de uma IES da cidade
de Trindade – GO em 2010, esta professora com formação superior em Sociologia e Educação
Física passou por uma preparação específica para poder atuar na perspectiva do ensino
desenvolvimental. Assim, a finalidade deste foi compreender como se deram a apropriação dos
conceitos e as mudanças qualitativas almejadas no processamento das ações mentais dos
alunos. Para a escolha dos alunos estabelecemos que deveria ser um grupo de jovens de
escolas públicas, de ambos os sexos e que ainda não tivessem participado efetivamente de
programas de iniciação esportiva sistemática de voleibol. Nestes termos, após a divulgação do
evento o critério de escolha do grupo contemplou a ordem de chegada para fazer a inscrição
dos alunos. Participaram efetivamente do experimento 22 jovens, sendo 15 do sexo feminino e
7 do sexo masculino, todos voluntários e com 12 ou 13 anos de idade no momento do início do
experimento.
O objetivo geral da investigação foi a aplicação dos pressupostos da teoria do
ensino desenvolvimental na aprendizagem esportiva, em particular a possibilidade da auto-
avaliação-dinâmica no voleibol, mediante um experimento didático-formativo. Mais
especificamente procuramos verificar o movimento didático que acontece entre a professora, o
aluno e o objeto diante do desenvolvimento das atividades propostas no plano de ensino
didático formativo e investigar a influência da auto-avaliação dinâmica como estratégia de
ensino na perspectiva desenvolvimental.
O experimento didático-formativo (EDF) é um método especial de investigação que
consiste em estudar, em situação real, mudanças no desenvolvimento de ações mentais dos
alunos mediante a influência intencional do pesquisador. O experimento formativo examina o
objeto em foco, enquanto ele transcorre, ou seja, ele cria condições cabíveis e propícias em
que, ao mesmo tempo que se ensina, também se observa sistematicamente as mudanças
conforme elas vão surgindo e se apresentando nas condições que estão postas na prática
pedagógica. O que se obtém, portanto, de um experimento é o relato das ações de observação
e acompanhamento do pesquisador sobre um fenômeno em processo de desenvolvimento,
com base na atuação do professor observado. Para Davídov (1988b), os conteúdos das
matérias devem ser dispostos de modo a facilitar a formação do pensamento teórico-científico,
por meio da atividade de aprendizagem.
Nas dinâmicas auto-avaliativas, buscamos identificar as possibilidades de ganhos na
formação da personalidade do aprendiz e no seu desempenho técnico esportivo do jogo de
voleibol colocando à prova num experimento didático-formativo o método auto-avaliativo
dinâmico, em que o aluno, após as abstrações que teve nas fases iniciais do processo de
ensino e aprendizagem, compreendida pela formação dos conceitos preliminares importantes
para a prática dos movimentos e pela prática das ações esportivas com consciência,
desenvolvia ações pré-determinadas de autodomínio dos movimentos já estudados com o

FIEP BULLETIN - Volume 85 - Special Edition - ARTICLE I - 2015 (http://www.fiepbulletin.net)


objetivo de, após cada ação realizada, registrar sistematicamente as suas atuações, conforme
os parâmetros estabelecidos previamente. As atividades desse processo de auto-avaliação
devem proporcionar uma condição de análise sistemática sobre cada ação realizada, dando
espaço para se criar uma justificativa teórica científica e sensata para o domínio da ação, e
propor uma solução lógica, diante da base conceitual histórica e cultural, que possa minimizar
as dificuldades percebidas nas ações do jogo.
Portanto, o método auto-avaliativo dinâmico pretende ajudar o aluno a interiorizar os
modos de pensar, de raciocinar, de investigar e de atuar da ciência ensinada. Espera-se que
haja uma tomada de consciência entre a ação realizada e o julgamento quase instantâneo da
ação pelo próprio praticante (auto-avaliação), e que envolva o provável problema e a possível
solução do mesmo. Esta conscientização do aluno deve considerar a base conceitual que ele
já possui, mas, se não for suficiente ele poderá buscar ajuda no próprio grupo que de certa
forma avalia, também, as ações uns dos outros sob a supervisão do professor mediador ou
intermediador do conhecimento entre o sujeito e objeto (VYGOTSKY, 1996; LUNT, 1995).
Assim, ao final de uma sessão, ou período de trabalho dos conteúdos, após a prática
sistemática dos fundamentos e das anotações das auto-avaliações, o professor disporá de
elementos importantes para avaliar o trabalho que está sendo desenvolvido, podendo
reestruturar os conhecimentos e propor novas ações mentais que sejam capazes de levar os
alunos a pensarem teoricamente, reformulando seus conceitos, com reflexo nas ações
desejáveis para a prática do jogo de voleibol. De fato, o aluno deve ser constantemente
avaliado, para que o professor possa mantê-lo instrumentalizado, dando-lhe condições de
exercitar o pensamento lógico e o raciocínio naquilo que ele se dispõe a fazer.
Para o desenvolvimento do EDF foram aplicados testes diagnósticos (questionários)
no início e no final do experimento com o objetivo de acompanhar o desenvolvimento da turma.
Os testes envolveram questões sobre o desejo de aprender, os conceitos de ações e regras do
jogo de voleibol. Após o desenvolvimento de cada sessão foram realizadas entrevistas
individuais seguindo um roteiro semi-estruturado, com intuito de obter informações sobre o
contexto sociocultural dos alunos, assim como para abstrair elementos para a análise das
atividades desenvolvidas no experimento. O pesquisador acompanhou o grupo em todas as
aulas de voleibol e em todas as atividades realizadas pela professora que desenvolveu o
experimento. No total foram 18 sessões com duração de cerca de uma hora e trinta minutos
cada, onde foram trabalhadas as ações básicas do jogo de voleibol.
Os conteúdos trabalhados no plano de ensino foram: a) A história do voleibol; b) O
conceito nuclear do jogo de voleibol; c) Os atributos secundários para o jogo de voleibol:
saque, toque por cima, manchete, cortada, bloqueio. Foi solicitada a participação dos alunos
nas seguintes competências: a) Identificar e descrever os movimentos corporais teoricamente
fundamentados para jogar o voleibol de acordo com as regras da modalidade; b) Analisar e
perceber o tipo de movimento mais adequado a ser executado diante das características da
ação (jogada) que transcorre na prática do jogo; c) Correlacionar os êxitos e insucessos nas
ações do jogo como forma de encontrar as melhores estratégias de movimentos quando da
ocorrência de novas ações similares as anteriores; d) Explicar e discutir convenientemente os
erros e acertos das ações ocorridas durante o ato de jogar, caracterizando os conceitos que
envolvem o domínio dos fundamentos do jogo.
Assim, buscando o suporte nos fundamentos do ensino desenvolvimental
desenvolvemos uma estrutura para trabalhar os conteúdos de ensino no experimento didático
formativo da seguinte forma: a) Sobre o trabalho com os conteúdos de ensino, inicialmente
eram trabalhados os seus conceitos científicos, onde os alunos tinham a possibilidade de
reinventar o objeto de estudo a partir da necessidade de resolução de problemas propostos
pela professora; b) No segundo momento era trabalhado um aporte teórico científico para os
alunos, que incluía a formulação de conceitos, as definições dos termos, o estudo da evolução
histórica do objeto de estudo, a experimentação dos movimentos e suas variações,

FIEP BULLETIN - Volume 85 - Special Edition - ARTICLE I - 2015 (http://www.fiepbulletin.net)


demonstrações de padrões de movimentos, análise de possibilidades biomecânicas na
execução dos movimentos e a fundamentação das regras internacionais estabelecidas para a
prática dos movimentos específicos; c) No terceiro momento os alunos eram submetidos a uma
auto-avaliação dinâmica para verificação, reflexão, conscientização e reestruturação do
processo; d) No quarto momento, a professora fazia uma nova mediação do conhecimento em
estudo, por meio de um reforço do aporte teórico e em função dos novos referenciais sobre o
desempenho dos alunos. Em seguida, a auto-avaliação dinâmica era retomada; e) O quinto
momento era destinado a uma reflexão e avaliação do processo como um todo. Assim, os
conteúdos foram desenvolvidos por grupos de tarefas, de forma que as atividades exigissem
dos sujeitos um papel ativo na aprendizagem, em especial no desenvolvimento das habilidades
de pensamento e competências cognitivas.
Conforme, Davídov (1988, p. 196): “O método do experimento formativo caracteriza-
se pela intervenção ativa do pesquisador nos processos mentais que ele estuda”.
O desenvolvimento desta pesquisa permitiu um processo de análise e síntese sobre
as regularidades observadas no desenvolvimento do EDF em jovens iniciantes de voleibol na
perspectiva do ensino desenvolvimental. Durante o processo a professora de codinome Flôr
usou como estratégias as tarefas de aprendizagem esportiva que incluiu as atividades lúdicas,
os conteúdos do voleibol e a avaliação formativa proposta pelo modo da auto-avaliação
dinâmica. Durante o desenvolvimento do experimento observamos que há vários fatores
intervenientes que podem influenciar nos resultados esperados pela teoria do ensino
desenvolvimental. Conforme Davídov, ensinar é favorecer o desenvolvimento do pensamento e
para isso as condições externas e internas dos sujeitos envolvidos na pesquisa devem ser
competentemente controladas.
Num primeiro plano, o professor tem que se apropriar dos pressupostos do ensino
desenvolvimental para não recair em alguma perspectiva de ensino tradicional. Como já disse
Davídov (1986), a escola tradicional percorre o caminho da lógica empírica e desenvolve no
aluno o pensamento empírico. No caso do ensino esportivo, o professor não deve se deixar
vencer pela pressão que será imposta pela cultura do “fazer por fazer”, uma atitude muito
enfática nos espaços educacionais.
Pelo que observamos no contexto investigado, o ensino do voleibol na perspectiva
desenvolvimental para os jovens escolares de 12 e 13 anos de idade pode encontrar certos
determinantes culturais de comportamento que dificultam o processo de assimilação, pelos
alunos, do modo de aprendizagem desenvolvimental.
A representação social dos alunos sobre a aprendizagem do voleibol, provavelmente
gerou os motivos para eles participarem do experimento. Percebemos que se a realidade se
apresentar diferentemente da representação que eles trazem, haverá resistências a serem
vencidas por parte dos professores no sentido de promover uma aproximação dos interesses.
Pelo que constatamos o aluno ao chegar para a aula de voleibol, não estava ali para
desenvolver um modo especial de habilidades de raciocínio. Neste sentido, houve um grande
esforço empreendido pela professora que se traduz na sua convicção, determinação, olhar
focal e paciência diante de uma cultura apática de aprendizagem que parecia estar dentro
destes jovens. O fato de o experimento ter sido desenvolvido com os adolescentes reforçou a
premissa de Davídov de que o ensino elementar deve voltar-se, sobretudo, para a formação,
nas crianças, de uma atitude criativa em relação à atividade de aprendizagem. Talvez se
iniciando mais cedo o ensino na perspectiva desenvolvimental os alunos assimilem melhor uma
cultura mais profícua para o desenvolvimento da habilidade de pensar.

Conclusões

Este estudo respondeu as perguntas formuladas inicialmente, pois o


desenvolvimento dos conteúdos do voleibol e da atividade auto-avaliativa dinâmica na

FIEP BULLETIN - Volume 85 - Special Edition - ARTICLE I - 2015 (http://www.fiepbulletin.net)


perspectiva desenvolvimental pode proporcionar ações mentais necessárias e suficientes para
levar os alunos a internalizarem os conceitos básicos para a prática do jogo de voleibol como
os aspectos da personalidade, a formação de conceitos, o pensamento autônomo e crítico
sobre o objeto de estudo. Assim os objetivos desta pesquisa puderam ser alcançados com a
aplicação dos pressupostos da teoria do ensino desenvolvimental na aprendizagem do voleibol
e com o desenvolvimento da auto-avaliação-dinâmica no processo experimental. Mas, isto se
deu na medida em que a professora percebeu e assumiu que a atividade humana proposital
repercute no ato de fazer das pessoas, incorporando nelas novos valores e atitudes que não
apresentavam antes. Desta forma, o fato dos alunos serem todos voluntários favoreceu a
pesquisa, mas isto não garantia o desenvolvimento pleno da proposta de ensino planificada.
Foi preciso por parte da professora uma habilidade adicional para identificar os entraves
conjunturais da relação pedagógica e saber coadunar os interesses dos sujeitos participantes
no processo.
A estratégia de desenvolver as atividades lúdicas na parte preparatória das aulas
através da perspectiva desenvolvimental favoreceu muito a participação dos alunos ao modo
de aprender buscando a identificação da gênese dos conhecimentos. Os alunos se mostravam
muito dispostos para as atividades recreativas. Esta condição deu abertura para a professora
desenvolver as atividades previstas para o desenvolvimento dos conteúdos do voleibol
possibilitando a efetivação do experimento.
O processo auto-avaliativo dinâmico que foi experimentado apresentou resultados
condizentes com a prática pedagógica desenvolvimental. Este procedimento didático buscou
construir o conhecimento do objeto em análise “pelo” e “durante” o processamento da
avaliação. Os procedimentos que estruturaram as tarefas auto-avaliativas dinâmicas
desenvolvidas sob a coordenação da professora, se mostraram eficientes quando analisadas
as manifestações dos alunos. Observamos que dentro do processo auto-avaliativo dinâmico o
aluno tinha condições favoráveis para ampliar sua visão e raciocínio sobre o objeto de estudo
podendo ser percebido o seu modo de desenvolvimento.
As limitações do valor das atividades auto-avaliativas dinâmicas na perspectiva
desenvolvimental são mais observáveis na alçada das condições internas dos sujeitos. Pois o
nível de solicitações de ações mentais se torna muito alto em virtude das tarefas que são
postas e da limitação de tempo para o aluno desencadear na sua „cabeça‟ as ações
necessárias e lógicas para resolver os problemas complexos. Sobre este fato, observamos que
o aluno se cansava quando lhe eram solicitadas muita atividade mental.
O procedimento auto-avaliativo dinâmico exige dos sujeitos envolvidos uma
compreensão exata dos objetivos formativos da atividade e uma disponibilidade total de
esforço e desempenho para que eles possam abstrair ao máximo os conhecimentos implicados
na dinâmica. Tanto o professor quanto o aluno precisam estar imbuídos da tarefa
desenvolvimental e assimilarem que o ensino e a aprendizagem representam o meio para
impulsionar o desenvolvimento mental e que isto acontece a partir de uma estrutura geral para
a organização da atividade de aprendizagem. Caso não haja uma tomada de consciência dos
sujeitos, a atividade auto-avaliativa dinâmica recai no “praticismo” pedagógico e não possibilita
o aproveitamento do potencial pedagógico desenvolvimental pretendido na atividade.
Portanto, depreendemos do desenvolvimento desta pesquisa que o trabalho
educacional que se fundamenta na abordagem desenvolvimental, necessariamente, não se
trata da opção por uma determinada vertente pedagógica, pois atuar com os alunos de forma
desenvolvimental precede as finalidades de caráter ideológico e filosófico as quais
constantemente são objetivadas nas propostas educacionais. Acreditamos que será justamente
pelo o desenvolvimento das capacidades próprias de raciocínio dos alunos e dos professores
que qualquer vertente pedagógica poderá se efetivar. Logo, muito provavelmente, o insucesso
de alguns projetos político-pedagógicos de ensino pode estar relacionado com o processo de
formação dos professores em que a internalização dos conceitos nucleares da abordagem

FIEP BULLETIN - Volume 85 - Special Edition - ARTICLE I - 2015 (http://www.fiepbulletin.net)


adotada não foi suficientemente consistente para ser externalizada conforme prevêem os seus
pressupostos teóricos, quer seja, uma abordagem tradicional, crítica, apaziguadora etc.
Concluímos que a Educação Física tem um grande potencial de mobilização das
crianças e jovens para atuar de forma desenvolvimental. O desenvolvimento do EDF nos
mostrou que é plenamente possível para esta área do conhecimento ter uma participação mais
profícua na formação dos alunos no sentido de melhor prepará-los para as exigências do
mundo contemporâneo. Através do ensino esportivo de voleibol podemos levar os alunos a
perceberem o modo de aprender baseado nos pressupostos da teoria do ensino
desenvolvimental. Por meio das dinâmicas de aprendizagem esportiva podemos influenciar na
formação das personalidades dos alunos, mostrando e propondo-lhes atividades que irão levá-
los se tornarem indivíduos mais autônomos e com uma capacidade de pensamento mais
reflexivo, lógico, crítico e condizente com as aspirações de uma sociedade justa, solidária,
democrática.
Palavras - chave: Ensino desenvolvimental; Educação esportiva; Aprendizagem de voleibol.
REFERENCIAL BÁSICO:
BAPTISTA, T. J. R. & MIRANDA, J. M. A Metodologia Do Ensino Desenvolvimental
Aplicada À Educação Física. Anais do XVII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e IV
Congresso Internacional de Ciências do Esporte Porto Alegre, 11 a 16 de setembro de 2011.
disponível em> http:// www.rbceonline.org.br/congressos/index.php/XVII_CONBRACE/2011,
ISSN 2175-5930. Acessado em: 10 de dezembro de 2011.
DAVÍDOV, V. V. & ZINCHENKO, V. O. A contribuição de Vygotsky para o desenvolvimento da
psicologia. In: DANIELS, H. (Org.). Vygotsky em foco: pressupostos e desdobramentos.
Tradução de Mônica Saddy Marttins e Elisabeth Jafet Cestari, Campinas: Papirus, 1994.
DAVYDOV, V. V. Tipos de generalización em la ensiñanza. Havana, Ed. Pueblo y
Educación, 1981.
. Problemas do ensino desenvolvimental - a experiência da pesquisa teórica e
experimental na psicologia. Textos publicados na Revista Soviet Education, August/VOL
XXX, N° 8, sob o título “Problems of Developmental Teaching. The Experience of Thbeoretical
and Experimental Psycholgogical Research – Excerpts”, de V.V. Davydov. EDUCAÇÃO
SOVIÉTICA. Tradução de José Carlos Libâneo e Raquel A. M. da Madeira Freitas, 1986.
. A atividade de aprendizagem no primeiro período escolar. In: Problemas do ensino
desenvolvimental: A experiência da pesquisa Teórica e Experimental na Psicologia.
Tradução de textos publicados na Revista Soviet Education sob título Problems of
desenvolvimental teaching (tradução para o português não publicada). Educação Soviética.
Agosto 1988a.
. Os conceitos básicos da psicologia contemporânea. In: Problemas do ensino
desenvolvimental: A experiência da pesquisa Teórica e Experimental na Psicologia.
Tradução de textos publicados na Revista Soviet Education sob título Problems of
desenvolvimental teaching (tradução para o português não publicada). Educação Soviética.
Agosto 1988c.
. O problema da generalização e do conceito na teoria de Vygotsky. Texto de
conferência proferida na reunião do Comitê Internacional da International Society for Cultural
Research and Activity Theory. Departamento de Ciências Psiquiátricas e Medicina Psicológica
da Universidade de Roma. 1992.
LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978.
. Actividad, Consciencia y Personalidad. La Habana: Editorial Pueblo y Educación,
1985.
. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psique infantil. In: VIGOTSKI, L. S.,
LURIA, A. R., LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem.São Paulo:
Ícone, p. 59-83, 1992.

FIEP BULLETIN - Volume 85 - Special Edition - ARTICLE I - 2015 (http://www.fiepbulletin.net)


. O desenvolvimento do psiquismo. Tradutor: Rubens Eduardo Frias. 2ª ed., São Paulo:
Centauro, 2004.
. Os princípios do Desenvolvimento Mental e o Problema do Atraso Mental. In: LEONTIEV,
A. et al. Psicologia e pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do
desenvolvimento. Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2005.
LIBÂNEO, J. C. A didática e a aprendizagem do pensar e do aprender: a teoria histórico-
cultural da atividade e a contribuição de V. Davydov. Revista Bras. De Educação, Rio de
Janeiro, n.27, p. 5-24, dez. 2004.
. As teorias pedagógicas modernas revisadas pelo debate contemporâneo na educação.
In: LIBÂNEO, J. C.; SANTOS, A. (Orgs.) Educação na era do conhecimento em rede e
transdisciplinaridade. Campinas, SP: Ed. Alínea, 2005.
. Docência universitária: formação do pensamento teórico-científico e atuação nos
motivos dos alunos. IX Encontro de Pesquisa em Educação do Centro Oeste – EPECO, 3 de
julho, 2008a.
. Teoria Histórico-Cultural: objetivações contemporâneas para o ensino, a
aprendizagem e o desenvolvimento humano. Texto da conferência de abertura da VII
Jornada de Ensino de Marília, promovido pelo Curso de Pedagogia da UNESP-Marília, 12 a 14
de agosto, 2008b.
LIBÂNEO, J. C. & FREITAS, R. A. M. da M. Vygotsky, Leontiev, Davydov: contribuições da
teoria histórico-cultural para a didática. Rio de Janeiro: Deescubra, 2007.
LURIA, LEONTIEV, VYGOTSKY e outros. Psicologia e Pedagogia: Bases Psicológicas da
Aprendizagem e do Desenvolvimento. Trad. de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro,
2005.
SACRISTÁN, J. G. & GÓMEZ, A. I. P. Compreender e transformar o ensino / J. Gimeno
Sacristán e A. I. Pérez Gómez. Trad. Ernani F. da Fonseca Rosa – 4. ed. ArtMed, 1998.
SAVIANI, D. As teorias da educação e o problema da marginalidade. Escola e
democracia. São Paulo, Cortez, 1983.
TAFFAREL et al. Metodologia do ensino da Educação Física. 2. ed. São Paulo: Cortez,
1992.
VYGOTSKI, L. S. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1994.
. Pensamento e linguagem. Tradução de Jéferson Luiz Camargo, 6ª ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.
. Aprendizagem e Desenvolvimento Intelectual na Idade Escolar. In: LEONTIEV, A. et al.
Psicologia e pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento.
Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2005.
. A formação social da mente. Trad. José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto,
Solange Castro Afeche. – 7ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Endereço: Rua 1024, quadra 62, lotes 6/7, número 76, Edifício Centurion, apartamento 803,
Setor Pedro Ludovico, Goiânia-Go, CEP 74823040. Telefone: (62) 32784489. E-mail:
madejr@ig.com.br

FIEP BULLETIN - Volume 85 - Special Edition - ARTICLE I - 2015 (http://www.fiepbulletin.net)

Você também pode gostar