Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Análise de Desempenho de Filtragem Biomecânica Derivada de Biomaterial Látex Aplicada em Sistema de Aquisição, Exibição e Análise de Sinais Eletromiográficos

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 170

UnB - UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FGA - FACULDADE GAMA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA
BIOMÉDICA

ANÁLISE DE DESEMPENHO DE FILTRAGEM BIOMECÂNICA


DERIVADA DE BIOMATERIAL LÁTEX APLICADA EM
SISTEMA DE AQUISIÇÃO, EXIBIÇÃO E ANÁLISE DE SINAIS
ELETROMIOGRÁFICOS

KENNYA RESENDE MENDONÇA

ORIENTADORA: Dra. Suélia de Siqueira Rodrigues Fleury Rosa

COORIENTADOR: Dr. Cristiano Jacques Miosso Rodrigues Mendes

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ENGENHARIA BIOMÉDICA

PUBLICAÇÃO: 049A/2016

BRASÍLIA/DF: JULHO – 2016


ii
FICHA CATALOGRÁFICA

KENNYA RESENDE MENDONÇA


ANÁLISE DE DESEMPENHO DE FILTRAGEM BIOMECÂNICA DERIVADA DE
BIOMATERIAL LÁTEX APLICADA EM SISTEMA DE AQUISIÇÃO, EXIBIÇÃO E
ANÁLISE DE SINAIS ELETROMIOGRÁFICOS, [Distrito Federal] 2016.
170.p., 210 x 297 mm (FGA/UnB Gama, Mestre, Engenharia Biomédica, 2016).
Dissertação de Mestrado - Universidade de Brasília. Faculdade Gama. Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Biomédica.
1. ELETROMIOGRAFIA 2. SINAIS DE RUÍDO
3. BIOMATERIAL LÁTEX 4. FILTRAGEM FÍSICA
5. TECNOLOGIA ASSISTIVA
I. FGA UnB Gama/ UnB. II. Título (série)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

MENDONÇA, K. R. (2016). ANÁLISE DE DESEMPENHO DE FILTRAGEM


BIOMECÂNICA DERIVADA DE BIOMATERIAL LÁTEX APLICADA EM SISTEMA
DE AQUISIÇÃO, EXIBIÇÃO E ANÁLISE DE SINAIS ELETROMIOGRÁFICOS.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Biomédica, Publicação 049A/2016, Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Biomédica, Faculdade Gama, Universidade de Brasília,
Brasília, DF, 170.p.

CESSÃO DE DIREITOS

AUTOR: KENNYA RESENDE MENDONÇA.


TÍTULO: ANÁLISE DE DESEMPENHO DE FILTRAGEM BIOMECÂNICA
DERIVADA DE BIOMATERIAL LÁTEX APLICADA EM SISTEMA DE
AQUISIÇÃO, EXIBIÇÃO E ANÁLISE DE SINAIS ELETROMIOGRÁFICOS.

GRAU: Mestre

ANO: 2016

É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta dissertação


de mestrado e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e
científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação
de mestrado pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor.

________________________________________________
2016
RUA MIRANDA DE CARVALHO, Nº 1281, CENTRO.
CEP: 75.800-036 Jataí, GO – Brasil.
iii
DEDICATÓRIA

Para meus pais, irmãos e noivo, com amor.

iv
AGRADECIMENTOS

Primeiramente à Deus, pelo dom da vida, por todas as bênçãos e graças recebidas e
por tudo que conquistei até aqui.

Agradeço aos meus amados pais Delimar Pereira Mendonça e Elda Mara de Resende
Mendonça, e aos meus queridos irmãos Nayara e Henrique, que sempre estiveram ao meu
lado e me deram força para vencer todos os obstáculos de minha caminhada. Agradeço aos
meus avós pela preocupação e incentivo. Agradeço à toda a minha família, que sempre foi
o alicerce da minha vida.

Agradeço ao meu noivo e companheiro de vida, Tales Eduardo Carrijo Fraga, que
sempre esteve ao meu lado, me apoiando e me incentivando nos momentos mais difíceis
desta jornada e compartilhando minhas vitórias.

Meus sinceros agradecimentos à minha orientadora Profª. Dra. Suélia de Siqueira


Rodrigues Fleury Rosa e ao meu coorientador Prof. Dr. Cristiano Jacques Miosso
Rodrigues Mendes. Sou imensamente grata por todos os ensinamentos, pelas contribuições
profissionais e pessoais, pela paciência, dedicação e pelo incentivo e respeito durante o
desenvolvimento deste trabalho. Sou grata por não terem medido esforços para me apoiar.
Foi uma oportunidade ímpar conviver e trabalhar com essas duas pessoas que admiro
muito, e que são excelentes profissionais e servem de exemplo para mim.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica da


Universidade de Brasília por todo apoio e conhecimentos transferidos nas disciplinas
ministradas ao longo do curso. Agradeço também aos demais servidores que se dedicam
para manter a qualidade deste programa.

Aos membros convidados da banca, Profª. Dra. Vera Regina Fernandes da Silva
Marães e Profª. Dra. Cicilia Raquel Maia Leite, por aceitarem o convite e por todas as
contribuições apresentadas, fazendo enriquecer o trabalho desenvolvido.

Aos colegas do Laboratório de Engenharia e Biomaterial (BioEngLab) e Laboratório


de Engenharia & Inovação (LEI) da UnB, em especial aos amigos Alexandre Ribas e
Tiago Martins; e a todos os membros do Grupo de Pesquisa sobre a Saúde de Amputados
Transfemorais (GPSAT) da UnB/FCE, em especial à Profª. Vera Regina, à Camila Cadena
e à amiga Thanyze Zoccoli, por todo o auxílio e apoio no desenvolvimento deste trabalho.

v
Agradeço à comunidade acadêmica do Instituto Federal de Goiás (IFG), Câmpus Jataí,
por todo o apoio e incentivo para a conclusão desta pós-graduação. De modo especial,
agradeço aos docentes e alunos dos cursos de Bacharelado em Engenharia Elétrica e
Técnico Intergrado em Eletrotécnica pela compreensão, incentivo e paciência.

Agradeço a todos os meus amigos e amigas, de modo especial aos primos/irmãos


Waisten e Juliana, por sempre estarem presentes em minha vida, e aos BBF’s e à amiga
Aline Souza Rocha por todos os momentos compartilhados.

Enfim, agradeço a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização
deste trabalho, e agradeço a todos os meus familiares, amigos e colegas; sem vocês, a vida
não teria nenhuma graça.

vi
“Feliz aquele que transfere o que sabe e
aprende o que ensina”.

Cora Coralina.

vii
RESUMO

ANÁLISE DE DESEMPENHO DE FILTRAGEM BIOMECÂNICA DERIVADA DE


BIOMATERIAL LÁTEX APLICADA EM SISTEMA DE AQUISIÇÃO, EXIBIÇÃO
E ANÁLISE DE SINAIS ELETROMIOGRÁFICOS

Autor: KENNYA RESENDE MENDONÇA


Orientadora: Profª. Dra. Suélia de Siqueira Rodrigues Fleury Rosa
Coorientador: Prof. Dr. Cristiano Jacques Miosso Rodrigues Mendes
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica
Brasília, Julho de 2016.

A eletromiografia (EMG) é uma técnica utilizada para registrar e avaliar o sinal bioelétrico
coletado no músculo esquelético humano. Tem sido largamente utilizada no estudo do
movimento humano, sendo aplicada na medicina esportiva e ocupacional, em rotinas
fisioterapêuticas, em pesquisas relacionadas ao sistema neuromuscular e para gerar
comandos de controle em equipamentos para a reabilitação, como em próteses robóticas e
em interfaces homem-máquina. No entanto, sinais de EMG ruidosos são os principais
obstáculos a serem superados a fim de se conseguir um melhor desempenho nestas
aplicações. O sinal de eletromiografia de superfície (EMGS) pode ser contaminado por
vários sinais de ruído ou artefatos que se originam na interface pele-eletrodo, na eletrônica
que amplifica os sinais, e em fontes externas. Estes componentes de ruído contaminam o
sinal de EMGS e podem gerar interpretações errôneas do mesmo. Vários métodos de
eliminação de ruídos têm sido propostos, no entanto, ainda há muitas dificuldades para que
o ruído seja mitigado. O presente trabalho apresenta o desenvolvimento de um sistema de
aquisição, exibição e análise de sinais eletromiográficos de superfície, caracterizado pela
utilização de um filtro biomecânico derivado de biomaterial látex no processo de aquisição
do sinal de EMGS, visando a diminuição de ruídos de artefato de movimento e de ruídos
eletroquímicos que podem afetar a qualidade do sinal captado. O biomaterial látex,
extraído da seringueira (Hervea brasiliensis) é uma secreção de aspecto esbranquiçado
utilizado como biomaterial em dispositivos médicos e que se destaca por seu baixo custo e
biocompatibilidade, além de ser natural e ter procedência nacional. O sistema desenvolvido
é composto por três módulos principais: o módulo de aquisição, caracterizado pela
utilização de eletrodos de superfície envoltos por uma malha de biomaterial látex (filtro
físico); o módulo de hardware, responsável pelo condicionamento, digitalização e
armazenamento do sinal captado; e o módulo de software, responsável pela exibição
gráfica do sinal na tela do computador, bem como seu processamento e análise. Durante o
desenvolvimento do sistema, a frequência de amostragem, foi um importante fator
observado, estando relacionada com a qualidade do sinal coletado. Foram realizados testes
e coletas de sinais de EMGS em voluntários para verificação do funcionamento e da
eficiência do sistema desenvolvido e do desempenho da filtragem física.

Palavras-chaves: Eletromiografia, sinais de ruído, biomaterial látex, filtragem física e


tecnologia assistiva.

viii
ABSTRACT

PERFORMANCE ANALYSIS OF LATEX BIOMATERIAL-DERIVED


BIOMECHANICAL FILTRATION APPLIED IN A SYSTEM FOR ACQUISITION,
EXHIBITION AND ANALYSIS OF ELECTROMYOGRAPHY SIGNALS

Author: KENNYA RESENDE MENDONÇA


Supervisor: Profª. Dra. Suélia de Siqueira Rodrigues Fleury Rosa
Co-supervisor: Prof. Dr. Cristiano Jacques Miosso Rodrigues Mendes
Post-Graduation Program in Biomedical Engineering
Brasília, July 2016.

Electromyography (EMG) is a technique used for recording and evaluating the bioelectric
signal produced by human skeletal muscles. It has been widely used in the study of human
movement, being applied in sports and occupational medicine, as well as in physical
therapy routines, in researches related to the neuromuscular system and to generate control
commands for rehabilitation equipments, such as robotic prostheses and man-machine
interfaces. However, noisy electromyography signals are the main obstacles to be
overcome in order to achieve improved performance in the above mentioned applications.
Surface EMG signals can be contaminated by various artifacts or noise signals that
originate from skin-electrode interface, from electronics that amplify the signals, and from
external sources. Such noise components contaminate the surface EMG signal and can
generate its wrongful interpretation. Numerous noise elimination methods have been
proposed, however, many difficulties still exist for noises to be mitigated. This paper
presents the development of a system for acquisition, exhibition and analysis of surface
electromyography signals characterized by the use of a biomechanical filter, derived from
latex biomaterial, in the process of surface EMG signal acquisition. This method has the
objective of reducing noises of movement artifacts and electrochemical noises that can
affect the quality of the captured signal. Latex, extracted from rubber trees (Hervea
brasiliensis), is a secretion of milky aspect that is used as a biomaterial in medical devices
and that stands out for its low costs and biocompatibility, in addition to being natural and
found on Brazilian territory. The system that was developed is composed by three main
modules: the acquisition module, which consists in the use of surface electrodes wrapped
in a mesh of biomaterial latex (physical filter); the hardware module, responsible for the
conditioning, digitization and storage of the captured signal; and the software module,
responsible for the graphic exhibition of the signal on the computer screen, as well as its
processing and analysis. During the development of the system, the frequency of sampling
was an important factor that was observed, as it is related to the quality of the captured
signal. Tests and gathering of surface EMG signals were carried out on volunteers, so that
the running and efficiency of the developed system and the performance of the physical
filtering could be verified.

Key-words: Electromyography, noise signals, biomaterial latex, physical filtration and


assistive technology.

ix
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 22
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ............................ 22
1.2 OBJETIVOS .............................................................................................................. 26
1.2.1 Objetivo geral ...................................................................................................... 26
1.2.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 26
1.3 REVISÃO DA LITERATURA.................................................................................. 27
1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ......................................................................... 29
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 30
2.1 A ELETROMIOGRAFIA .......................................................................................... 30
2.1.1 Aspectos Históricos ............................................................................................. 30
2.1.2 Aplicações ........................................................................................................... 35
2.2 ELEMENTOS DA ANATOMIA E FISIOLOGIA PARA A EMG .......................... 36
2.3 O SINAL ELETROMIOGRÁFICO .......................................................................... 45
2.4 AQUISIÇÃO E PROCESSAMENTO DO SINAL DE EMG ................................... 48
2.4.1 Eletrodos.............................................................................................................. 44
2.4.2 Amplificação do Sinal ......................................................................................... 53
2.4.3 Filtragem ............................................................................................................. 56
2.4.4 Frequência de Amostragem ................................................................................. 59
2.4.5 Conversão Analógico/Digital .............................................................................. 60
2.4.6 Análise de sinais de EMG ................................................................................... 61
2.4.6.1 Parâmetros no domínio do tempo ........................................................... 61
2.4.6.2 Parâmetros no domínio da frequência ..................................................... 62
2.5 SINAL DE EMGS E RUÍDOS .................................................................................. 64
2.5.1 Ruído interno ....................................................................................................... 66
2.5.2 Instabilidade inerente do sinal ............................................................................. 67
2.5.3 Crosstalk .............................................................................................................. 67
2.5.4 Artefatos de eletrocardiograma (ECG) ............................................................... 67
2.5.5 Ruído inerente aos componentes eletrônicos ...................................................... 67
2.5.6 Ruído ambiente (ruído eletromagnético)............................................................. 68
2.5.7 Ruído eletroquímico ............................................................................................ 68
2.5.8 Artefatos de movimento ...................................................................................... 70

x
2.6 BIOMATERIAIS ....................................................................................................... 71
2.7 BIOMATERIAL LÁTEX .......................................................................................... 75
3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 79
3.1 SISTEMA DE AQUISIÇÃO, EXIBIÇÃO E ANÁLISE DE SINAIS DE EMGS
COM FILTRAGEM FÍSICA ........................................................................................... 79
3.1.1 Módulo 1: Aquisição .............................................................................................. 81
3.1.1.1 Eletrodos ................................................................................................. 81
3.1.1.2 Malha derivada de biomaterial látex ....................................................... 82
3.1.2 Módulo 2: Hardware ............................................................................................... 85
3.1.2.1 Circuito eletrônico ................................................................................... 86
3.1.2.2 Circuito microcontrolado ........................................................................ 91
3.1.3 Módulo 3: Software ................................................................................................ 93
3.2 COLETA DE SINAIS DE EMGS ............................................................................. 95
3.3 ANÁLISE DE DESEMPENHO DA FILTRAGEM BIOMECÂNICA DERIVADA
DE BIOMATERIAL LÁTEX........................................................................................ 101
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................. 103
4.1 SISTEMA DE AQUISIÇÃO, EXIBIÇÃO E ANÁLISE DE SINAIS DE EMGS
COM FILTRAGEM FÍSICA ......................................................................................... 104
4.1.1 Módulo de Hardware ............................................................................................ 104
4.1.1.1 Módulo de circuito eletrônico ............................................................... 108
4.1.1.2 Módulo de circuito microcontrolado ..................................................... 111
4.1.2 Módulo de Software.............................................................................................. 118
4.1.3 Malha de Biomaterial Látex ................................................................................. 123
4.2 TESTES E COLETA DE SINAIS ........................................................................... 124
4.2.1 Grupo de voluntários com amputação .................................................................. 125
4.2.2 Grupo de voluntários sem amputação ................................................................... 128
4.3 FILTRAGEM FÍSICA: ANÁLISE DE DESEMPENHO ....................................... 131
5 CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS ............................................................. 139
5.1 TRABALHOS FUTUROS ...................................................................................... 141
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 143
ANEXOS .......................................................................................................................... 150
ANEXO A – SISTEMA MUSCULAR ......................................................................... 151
ANEXO B – ESQUEMA ELÉTRICO DO CIRCUITO ELETRÔNICO ..................... 153
ANEXO C – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA..................................................... 154

xi
ANEXO D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO............. 155
ANEXO E – PUBLICAÇÕES ...................................................................................... 159
APÊNDICES .................................................................................................................... 167
APÊNDICE A – ESQUEMA ELÉTRICO DO CIRCUITO MICROCONTROLADO 168
APÊNDICE B – CÓDIGO PARA MICROCONTROLADOR .................................... 169

xii
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1: Requisitos mínimos para amplificador de EMG de superfície. ........................ 56


Tabela 2.2: Aplicações clínicas dos biomateriais. ............................................................... 74

xiii
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1: (A) Eletromiógrafo analógico modelo DISA 13A67; (B) Eletromiógrafo digital
modelo Medelec MS6. ......................................................................................................... 33
Figura 2.2: Sistema de EMG Delsys, modelo Trigno™ Wireless ....................................... 34
Figura 2.3: Áreas de aplicação da EMG .............................................................................. 35
Figura 2.4: Os três tipos de músculos do corpo humano: (a) músculo esquelético, (b)
músculo cardíaco, e (c) músculo liso................................................................................... 37
Figura 2.5: Organização da unidade motora do músculo esquelético. Cada neurônio motor
inerva um número variável de fibras musculares ................................................................ 39
Figura 2.6: Esquema de uma junção neuromuscular, ou placa motora ............................... 40
Figura 2.7: Alterações que ocorrem na membrana durante o potencial de ação: processos
de despolarização e repolarização de membrana ................................................................. 42
Figura 2.8: Gráfico do potencial de ação caracterizado pelas suas três fases distintas:
repouso, despolarização e repolarização. ............................................................................ 42
Figura 2.9: Geração do potencial de ação de uma unidade motora (MUAP) composta por n
fibras musculares ................................................................................................................. 43
Figura 2.10: Representação esquemática da geração do sinal eletromiográfico de um
músculo, a partir do somatório dos trens de MUAPs das n unidades motoras ativas desse
músculo................................................................................................................................ 46
Figura 2.11: Exemplos de sinais de EMG. .......................................................................... 47
Figura 2.12: Eletrodos de EMG – (A) de agulha, (B) de fio fino e (C) de superfície ......... 50
Figura 2.13: Amplificador diferencial ................................................................................. 53
Figura 2.14: Amplificador de instrumentação (INA) .......................................................... 55
Figura 2.15: Filtro passa baixa de primeira ordem .............................................................. 59
Figura 2.16: Filtro passa alta de primeira ordem ................................................................. 59
Figura 2.17: Gráfico representativo do PSD de um sinal eletromiográfico de superfície ... 64
Figura 2.18: Alguns elementos que influenciam o sinal de EMGS: (1) o diâmetro da fibra
muscular, (2) o número de fibras musculares, (3) a interface pele-eletrodo, (4) o
condicionamento do sinal, (5) o número de unidades motoras ativas, (6) o tecido, (7) a
distância entre a superfície da pele e as fibras musculares, (8) a velocidade de condução,
(9) o fluxo sanguíneo no músculo, (10) a distância intereletrodos, (11) a relação tipo de
fibra e sua localização, (12) taxa de disparo das unidades motoras .................................... 65
Figura 2.19: Diagrama esquemático de eletrodos colocados sobre a pele .......................... 69

xiv
Figura 2.20: Processo de extração do látex natural da seringueira ...................................... 76
Figura 3.1: Esquema geral do sistema desenvolvido neste trabalho ................................... 80
Figura 3.2: Eletrodo passivo do tipo Beckman (Ag/AgCl) utilizado para a captação do sinal
mioelétrico neste trabalho. (A) Parte externa do eletrodo, em que o cabo do circuito
eletrônico é conectado à parte metálica do eletrodo; (B) Parte interna do eletrodo, que fica
em contato com a superfície da pele, caracterizada por uma superfície adesiva, pelo
eletrólito (gel) e pelo metal do eletrodo. Caracteriza a interface metal-eletrólito-pele ....... 81
Figura 3.3: Materiais utilizados para confecção da malha de látex, observando-se a placa
de vidro (7) utilizada como molde para a malha ................................................................. 83
Figura 3.4: Exemplo de malha confeccionada a partir de biomaterial látex, com papel filme
para proteção........................................................................................................................ 84
Figura 3.5: Malha de látex envolvendo os eletrodos de superfície posicionados no bíceps
braquial de voluntária, com o intuito de garantir que não haja movimentação na conexão
entre os cabos e os eletrodos e na interface pele-eletrodo, auxiliando na redução de
interferência causada por artefatos de movimento e por ruídos eletroquímicos ................. 85
Figura 3.6: Diagrama do amplificador de instrumentação INA128P. Entre os pinos 1 e 8,
ajusta-se o ganho pelo valor do resistor RG. A alimentação simétrica se dá pelos pinos 4 e
7, e a referência pelo pino 5. Os pinos 2 e 3 são as entradas inversora e não inversora
respectivamente, nas quais o par de eletrodos do módulo de aquisição são ligados. No pino
6 tem-se o sinal de saída do circuito integrado .................................................................... 87
Figura 3.7: Conexões dos eletrodos (E1 e E2) em relação ao amplificador de
instrumentação (INA128P). O resistor R1 conectado aos pinos 1 e 8 define o ganho da
saída A do amplificador ....................................................................................................... 88
Figura 3.8: Esquemático do filtro passa alta com frequência de corte de 17 Hz e do filtro
passa baixa com frequência de corte de 483 Hz .................................................................. 89
Figura 3.9: Circuito amplificador com ganho e saída invertida, proporcionando em sua
saída um sinal com as características necessárias para a conversão A/D ............................ 90
Figura 3.10: Circuito para ajuste da tensão de offset .......................................................... 91
Figura 3.11: Visão geral das telas que compõem a interface gráfica do software do sistema
............................................................................................................................................. 93
Figura 3.12: Fluxograma que descreve as principais instruções a serem seguidas para
preparo do voluntário, recomendadas pelo protocolo SENIAM ......................................... 99

xv
Figura 3.13: Utilização da malha de biomaterial látex em: a) envolvendo os eletrodos
posicionados sob o coto do voluntário (membro inferior direito); b) envolvendo os
eletrodos posicionados sob a perna (esquerda) do voluntário ........................................... 100
Figura 3.14: Exemplo de teste de aquisição de sinais de EMGS seguindo o protocolo
descrito. No primeiro momento (A) a aquisição do sinal de EMGS é realizada no bíceps do
voluntário sem o uso da malha de látex; e, no segundo momento (B) a aquisição do sinal de
EMGS é realizada no mesmo músculo do voluntário com o uso da malha de látex. ........ 102
Figura 4.1: Módulo de hardware do sistema desenvolvido. O módulo inferior é pelo
circuito eletrônico, responsável pela amplificação, filtragem e condicionamento do sinal
bioelétrico captado pelos eletrodos; e o módulo superior é caracterizado pelo circuito
microcontrolado, sendo responsável pela conversão A/D e pelo armazenamento dos dados
em um cartão de memória ................................................................................................. 105
Figura 4.2: a) Cabos para quatro canais e referência com conector DB-9; b) Detalhe da
enumeração dos canais nos cabos; c) Encaixe entre os cabos e os eletrodos, utilizando
colchetes de pressão para roupas; d) Cabos para conexão entre módulo de circuito
eletrônico e módulo de circuito microcontrolado .............................................................. 106
Figura 4.3: Sinal de EMGS captado no bíceps do braço direito de um voluntário em
repouso com iluminação do ambiente ligada (lado esquerdo) e desligada (lado direito).. 108
Figura 4.4: Processo de desenvolvimento do módulo de circuito eletrônico para
amplificação, filtragem e condicionamento dos sinais. a) Posicionamento das oito PCI’s
(uma para cada canal) dentro do gabinete; b) Realização das ligações internas; c) Teste do
módulo em osciloscópio; d) Módulos de circuito eletrônico de oito canais cada finalizado
........................................................................................................................................... 109
Figura 4.5: No sinal em amarelo foi utilizada filtragem com AMP-OP indicado para filtros
de sinais eletromiográficos, o OPA2604 fabricado pela Texas Instruments; e o sinal em
azul é do circuito implementado com o TL074 ................................................................. 110
Figura 4.6: Fluxograma que representa a lógica de controle utilizada na primeira versão de
programa ............................................................................................................................ 113
Figura 4.7: Fluxograma que representa a lógica de controle utilizada na segunda versão de
programa ............................................................................................................................ 114
Figura 4.8: Fluxograma que representa a lógica de controle utilizada na terceira versão de
programa ............................................................................................................................ 115
Figura 4.9: Sinal de EMGS coletado utilizando-se a lógica de controle da primeira versão.
A frequência de amostragem (Fs) foi de 56 Hz. ................................................................ 116

xvi
Figura 4.10: Sinal de EMGS coletado utilizando-se a lógica de controle da segunda versão.
A frequência de amostragem (Fs) foi de 772 Hz ............................................................... 117
Figura 4.11: Sinal de EMGS coletado utilizando-se a lógica de controle da terceira versão.
A frequência de amostragem (Fs) foi de 1,7 kHz .............................................................. 117
Figura 4.12: Sinal de EMGS do canal 4 coletado utilizando-se a lógica de controle da
segunda versão e quatro canais. A frequência de amostragem (Fs) foi de 300 Hz ........... 118
Figura 4.13: Sinal de EMGS do canal 1 coletado utilizando-se a lógica de controle da
segunda versão e apenas um canal. A frequência de amostragem (Fs) foi de 772 Hz ...... 118
Figura 4.14: Tela inicial do Software de Exibição e Análise de Sinais Eletromiográficos
desenvolvido neste trabalho............................................................................................... 119
Figura 4.15: Tela inicial do modo de Exibição de Sinal EMG.......................................... 120
Figura 4.16: Tela inicial de seleção do sinal do modo de Exibição de Sinal EMG .......... 120
Figura 4.17: Exibição de um sinal de EMGS de quatro canais ......................................... 121
Figura 4.18: Exibição de um sinal de EMGS de somente um canal ................................. 122
Figura 4.19: Zoom aplicado no intervalo de 84s a 98s do sinal exibido na Figura 4.18 ... 122
Figura 4.20: Tela de seleção de parâmetros a serem analisados pelo software desenvolvido
........................................................................................................................................... 123
Figura 4.21: Malha confeccionada em biomaterial látex, com dimensão de 75 x 18 cm.. 123
Figura 4.22: Voluntário amputado durante coleta de dados .............................................. 126
Figura 4.23: Exibição de sinais captados no teste com voluntário amputado da Figura 4.22
........................................................................................................................................... 126
Figura 4.24: (A) Voluntário amputado durante coleta de dados; e (B) detalhe da prótese do
voluntário durante a realização da pedalada ...................................................................... 127
Figura 4.25: (A) Posicionamento dos eletrodos no músculo VL da perna direita; e (B)
malha de látex que revestiu o coto do voluntário após a coleta de dados ......................... 127
Figura 4.26: Exibição de sinais captados no teste com voluntário amputado da Figura 4.24
........................................................................................................................................... 128
Figura 4.27: Exibição do sinal de EMGS coletado no bíceps direito de voluntária sem
amputação .......................................................................................................................... 129
Figura 4.28-A: Zoom aplicado no intervalo de 10s a 35s do sinal exibido na Figura 4.27,
para melhor visualizadas das contrações leves .................................................................. 130
Figura 4.28-B: Zoom aplicado no intervalo de 37s a 50s do sinal exibido na Figura 4.27,
para melhor visualizadas das contrações de força média .................................................. 130

xvii
Figura 4.29: Teste de desempenho de malha de látex como filtragem física. Momento I –
sinal captado sem o uso da malha de látex ........................................................................ 132
Figura 4.30: Teste de desempenho de malha de látex como filtragem física. Momento II –
sinal captado com o uso da malha de látex ........................................................................ 132
Figura 4.31: Período do músculo em repouso – sinal captado sem o uso da malha de látex
........................................................................................................................................... 133
Figura 4.32: Período do músculo em repouso – sinal captado com o uso da malha de látex
........................................................................................................................................... 133
Figura 4.33: Período de contrações fracas – sinal captado sem o uso da malha de látex .. 134
Figura 4.34: Período de contrações fracas – sinal captado com o uso da malha de látex . 134
Figura 4.35: Período de contrações fortes – sinal captado sem o uso da malha de látex .. 135
Figura 4.36: Período de contrações fortes – sinal captado com o uso da malha de látex .. 135
Figura 4.37: Período de geração de artefatos – sinal captado sem o uso da malha de látex
........................................................................................................................................... 136
Figura 4.38: Período de geração de artefatos – sinal captado com o uso da malha de látex
........................................................................................................................................... 136
Figura 4.39: Sinal captado sem o uso da malha de látex – Voluntária 2 ........................... 137
Figura 4.40: Contração forte – sinal captado com o uso da malha de látex ...................... 137
Figura A-1: Principais músculos do corpo humano, vista anterior ................................... 151
Figura A-2: Principais músculos do corpo humano, vista posterior.................................. 152

xviii
LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURAS E ABREVIAÇÕES

a.C. – antes de Cristo

ACh – Acetilcolina

A/D – Analógico/Digital

Ag/AgCl – prata/cloreto de prata

AMP-OP – Amplificador Operacional

ARV – Average Rectified Value (Valor Médio Retificado)

BBFs – Big Best Friends (Grandes Melhores Amigos)

BCE – Biblioteca Central

BF – Bíceps Femoral

BioEngLab – Laboratório de Engenharia e Biomaterial

BIREME – Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde

CA – Corrente Alternada

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CBEB – Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica

CC – Corrente Contínua

CMRR – Common Mode Rejection Ratio (Razão de Rejeição de Modo Comum)

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CS – referente a SS (Slave Select)

ECG – Eletrocardiograma

EMG – Eletromiografia

EMGS – Eletromiografia de Superfície

FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FCE – Faculdade de Ceilândia

FFT – Fast Fourier Transform (Transformada Rápida de Fourier)

xix
FGA – Faculdade do Gama

FPM – Frequência de Potência Média

FPMd – Frequência de Potência Mediana

Fs – Frequência de amostragem

GPSAT – Grupo de Pesquisa sobre a Saúde de Amputados Transfemorais

GUI – Graphical User Interface (Interface Gráfica com o Usuário)

GUIDE – Graphical User Interface Development Environment (Ambiente de


Desenvolvimento de Interfaces Gráficas com o Usuário)

IDE – Integrated Development Environment (Ambiente Integrado de Desenvolvimento)

IEEE – Institute of Electrical and Electronics Engineers (Instituto de Engenheiros


Eletricistas e Eletrônicos)

IFG – Instituto Federal de Goiás

INA – Instrumentation Amplifier (Amplificador de Instrumentação)

LEI – Laboratório de Engenharia & Inovação

MATLAB – Matrix Laboratory (Laboratório de Matrizes)

MISO – Master In Slave Out

MOSI – Master Out Slave In

MU – Motor Unit (Unidade Motora)

MUAP – Motor Unit Action Potential (Potencial de Ação da Unidade Motora)

MUAPT – Motor Unit Action Potential Train (Trem de Potencial de Ação da Unidade
Motora)

NCBI – National Center for Biotechnology Information (Centro Nacional de Informação


Biotecnológica)

NLM – National Library of Medicine (Biblioteca Nacional de Medicina)

PA – Potencial de Ação

PCI – Placa de Circuito Impresso

PMMA – Polimetilmetacrilato

xx
PSD – Power Spectral Density (Densidade Espectral de Energia)

PTFE – Politetrafluoretileno

RGB – Red-Green-Blue (Vermelho-Verde-Azul)

RMS – Root Mean Square (Valor Médio Quadrático)

RPM – Rotações Por Minuto

SciELO – Scientific Electronic Library Online (Biblioteca Científica Eletrônica em Linha)

SCK – System Clock

SD – Secure Digital

SENIAM – Surface EMG for Non-Invasive Assessment of Muscle (Eletromiografia de


Superfície para Avaliação Não invasiva de Músculos)

SNC – Sistema Nervoso Central

SPI – Serial Peripheral Interface

TA – Tecnologia Assistiva

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UnB – Universidade de Brasília

USB – Universal Serial Bus (Porta Serial Universal)

VCC – Tensão Corrente Contínua

VL – Vasto Lateral

xxi
1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A eletromiografia (EMG) é uma ferramenta utilizada para registrar e avaliar a


atividade elétrica produzida pelos músculos do corpo humano (JAMAL, 2012). Essa
atividade elétrica, gerada pela despolarização das células musculares durante uma
contração muscular (NAJARIAN; SPLINTER, 2012), se manifesta como um potencial de
ação da unidade motora (MUAP, da sigla em inglês, Motor Unit Action Potential) que é
registrado e exibido graficamente como um sinal eletromiográfico (PORTNEY; ROY;
ECHTERNACH, 2010).

O sinal eletromiográfico pode, portanto, ser definido como o sinal elétrico dos
músculos, sendo controlado pelo sistema nervoso e produzido durante o processo de
contração muscular, representando a atividade elétrica das unidades motoras e as
propriedades anatômicas e fisiológicas dos músculos (CHOWDHURY et al., 2013).

A EMG tem sido aplicada em diferentes áreas, sendo utilizada por diversos
profissionais da área da saúde, como médicos, educadores físicos, fisioterapeutas, dentistas
e fonoaudiólogos, além de ser uma ferramenta importante no estudo do movimento
humano e em pesquisas relacionadas ao sistema neuromuscular. Essa técnica permite ainda
a realização de análises clínicas e biomédicas, de estudos e análises da fadiga muscular, de
distúrbios do movimento, além de ser aplicada em rotinas terapêuticas e em diagnósticos,
em treinamentos esportivos, no controle de próteses e dispositivos para reabilitação, em
interações homem/máquina, e entre outras.

A aquisição do sinal eletromiográfico é feita a partir do uso de eletrodos, que


convertem o sinal bioelétrico, gerado pela despolarização das fibras musculares, em um
potencial elétrico capaz de ser amplificado e processado (PORTNEY; ROY;
ECHTERNACH, 2010). Um sinal de EMG típico geralmente apresenta amplitudes na
ordem de microvolts ou milivolts, sendo, portanto, necessário a utilização de um circuito
de amplificação para que o sinal possa ser melhor visualizado e analisado.

Assim, para se realizar um registro eletromiográfico, é necessário um sistema que


englobe três fases: uma fase de entrada, que inclui os eletrodos para a captação dos
potenciais elétricos do músculo em contração; uma fase de processamento, durante a qual o
pequeno sinal elétrico é amplificado; e uma fase de saída, na qual o sinal elétrico é
22
convertido em sinais visuais e/ou auditivos, de modo que possam ser visualizados e
analisados no software de exibição e/ou análise do sinal eletromiográfico (FEODRIPPE et
al., 2012).

Na fase de aquisição, para a captura dos potenciais mioelétricos, utilizam-se eletrodos


de superfície (não invasivos) ou eletrodos de agulha (invasivos). A utilização de eletrodos
invasivos caracteriza a chamada eletromiografia intramuscular, enquanto a utilização de
eletrodos não invasivos caracteriza a denominada eletromiografia de superfície (EMGS),
sendo ambas complementares e integradas uma à outra. A eletromiografia intramuscular é
mais aceita para aplicações clínicas, porém causa dor e desconforto ao paciente. Já a
EMGS, empregada neste trabalho, tem maior aplicação em ramos como biofeedback,
controle de próteses, ergonomia, medicina ocupacional e do esporte e análise de
movimento. Essa versatilidade se deve ao fato de que a EMGS permite o acesso frequente
e indolor às funções neuromusculares (COSTA, 2008).

No entanto, o sinal de EMGS pode ser contaminado por sinais de ruído ou artefatos,
que se originam na interface pele-eletrodo, na eletrônica que amplifica os sinais, em fontes
externas, em artefatos de movimento, na radiação eletromagnética (rádio, televisão,
celular, lâmpadas fluorescentes), na rede elétrica (60 Hz e harmônicas), no movimento dos
cabos e eletrodos, e entre outros (DE LUCA et al., 2010; FORTI, 2005).

O sinal de EMGS, portanto, contém o sinal que se origina no músculo (sinal


mioelétrico) e componentes de ruídos que contaminam o sinal e podem gerar
interpretações errôneas do mesmo, principalmente quando o sinal é obtido durante
contrações dinâmicas e quando ele é destinado a fornecer informações sobre a fisiologia e
anatomia dos músculos (DE LUCA et al., 2010).

Assim, a identidade real de um sinal eletromiográfico que origina de um músculo é


perdida devido a uma mistura de diferentes sinais de ruídos e artefatos. As propriedades do
sinal de EMGS dependem da estrutura interna do indivíduo, incluindo a formação da pele,
a velocidade do fluxo sanguíneo, a temperatura da pele no local da medição, a estrutura
dos tecidos (músculo, gordura, etc.), o local da medição, entre outros. Estes atributos
produzem diferentes tipos de sinais de ruídos que podem ser encontrados dentro do sinal de
EMGS. Isto pode ter um efeito no resultado de extração de características e,
consequentemente, afetar o diagnóstico do sinal (CHOWDHURY et al., 2013).

23
O sinal eletromiográfico registrado através de um sistema de aquisição apropriado é
processado posteriormente para a extração de variáveis a serem analisadas no domínio do
tempo (raiz quadrada da média e valor retificado proporcional, por exemplo) ou no
domínio da frequência (frequência média e frequência mediana, por exemplo) (ALVES,
2013; ALVIM, 2012). Sendo assim, um sinal de EMG muito ruidoso pode alterar os
valores destas variáveis, influenciando no diagnóstico e na interpretação do sinal de EMG.

Existem diversas fontes, intrínsecas e extrínsecas, de ruídos de baixa frequência que


podem contaminar o sinal de EMGS. São exemplos de fontes de ruído extrínsecas, o ruído
da fonte de alimentação e os artefatos de movimento dos cabos; e são exemplos de fontes
de ruído intrínsecas a eletrônica do sistema de amplificação (ruído térmico) e a interface
pele-eletrodo (ruído eletroquímico). Em conjunto, estas fontes de ruído formam o ruído de
linha de base que é detectado sempre que um sensor é ligado à pele. Outra fonte de ruído
são os artefatos de movimento, que também tem origem na interface pele-eletrodo, e são
gerados quando ocorre movimento muscular sob a pele e quando ocorre movimentação na
interface pele-eletrodo (DE LUCA et al., 2010).

Vários métodos de eliminação de ruídos têm sido propostos, no entanto, ainda há


muitas dificuldades para que o ruído seja mitigado. Muitos pesquisadores têm utilizado
diferentes tipos de metodologias avançadas para a análise do sinal de EMG, incluindo o
desenvolvimento de filtros eletrônicos e diferentes tipos de técnicas de processamento para
cancelar esses ruídos. A utilização adequada destas técnicas pode aumentar a qualidade do
sinal de EMG coletado (CHOWDHURY et al., 2013).

Diante do exposto, o presente trabalho apresenta o desenvolvimento de um sistema de


aquisição, exibição e análise de sinais eletromiográficos de superfície, caracterizado pela
utilização de um filtro biomecânico derivado de biomaterial látex no processo de aquisição
do sinal de EMGS, visando a diminuição de ruídos de artefato de movimento e de ruídos
eletroquímicos que podem afetar a qualidade do sinal captado, podendo causar
interpretações errôneas do mesmo.

Um biomaterial pode ser definido como qualquer material utilizado para produzir
dispositivos para substituir uma parte ou uma função do corpo de uma maneira segura,
confiável, econômica e fisiologicamente aceitável. É caracterizado por ser um material
sintético utilizado para substituir parte de um sistema vivo ou para funcionar em contato
íntimo com tecido vivo (PARK; LAKES, 2007).

24
Os biomateriais têm sido utilizados para várias aplicações, tais como substituição de
articulações, placas ósseas, cimento ósseo, ligamentos e tendões artificiais, implantes
dentários, prótese de vasos sanguíneos, válvulas cardíacas, tecido artificial, lentes de
contato, implantes mamários, entre outras (NASSAR et al., 2011).

As principais características dos biomateriais são biocompatibilidade, não ser tóxico


nem carcinogênico, apresentar bioestabilidade, propriedades mecânicas adequadas, peso e
densidade adequados, ter custo relativamente baixo, ser reprodutível e de fácil fabricação
(AGOSTINI, 2009).

Dentre as características, a biocompatibilidade é uma das mais importantes, pois a


biofuncionalidade do material só poderá se manifestar caso haja biocompatibilidade (REIS,
2013). Um biomaterial é biocompatível quando não causa dano algum; quando não faz mal
ao paciente. No contexto de um biomaterial implantado em um paciente, significa que o
material implantado não deve causar uma reação inflamatória crônica nem uma reação
imunológica. Assim, a biocompatibilidade pode ser definida como a capacidade de um
material ser compatível com um tecido vivo e ter uma reação apropriada do hospedeiro em
uma aplicação específica (HOLLINGER, 2012).

O biomaterial látex, utilizado neste trabalho, é uma secreção de aspecto esbranquiçado


utilizado como biomaterial em dispositivos médicos. É produzido a partir do látex natural
da seringueira Hevea brasiliensis, e destaca-se, principalmente, por seu baixo custo,
durabilidade, biocompatibilidade, hipoalergenicidade (baixo potencial para causar
alergias), elasticidade, fácil aquisição e manipulação e por não apresentar risco na
transmissão de patógenos (REIS, 2013; ROSA et al., 2015). Por ser natural, ter
procedência nacional e ser de fácil obtenção e manipulação, o biomaterial látex pode ser
produzido com baixo custo e ser aplicado em diferentes situações.

O biomaterial látex vem sendo testado no homem como material indutor da


neoformação tecidual, tendo sido aplicado em pacientes com úlceras crônicas dos membros
inferiores e meringoplastias, além de ter sido aplicado em palmilhas, para tratamento do pé
diabético com ou sem úlceras (RIBAS, 2015).

Neste trabalho, tem-se a utilização do biomaterial látex como um filtro físico


biomecânico, sendo aplicado na fase de aquisição do sinal de EMGS, envolvendo os
eletrodos de superfície e garantindo, assim, uma melhor fixação dos mesmos no músculo a
fim de se reduzir ruídos de artefatos de movimento e ruídos eletroquímicos, diminuindo

25
assim, a carga computacional (técnicas de processamento) e de hardware (filtros
eletrônicos) que seriam utilizadas para a eliminação destes ruídos e, consequentemente,
diminuindo os custos do sistema desenvolvido.

O sistema de aquisição, exibição e análise de sinais de EMGS desenvolvido neste


trabalho, tem o intuito de popularizar a coleta de sinais de EMGS, facilitando seu uso em
diferentes pesquisas, possibilitando, portanto, que a eletromiografia possa ser utilizada em
mais aplicações e que se torne mais acessível a pesquisadores e profissionais da área de
saúde. Essa característica de baixo custo é importante, pois alguns pesquisadores ainda
enfrentam dificuldades para ter acesso a um eletromiógrafo comercial, devido aos altos
custos desses equipamentos no mercado.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Este trabalho tem por objetivo principal o desenvolvimento de um sistema de


aquisição, exibição e análise de sinais eletromiográficos de superfície, caracterizado pela
utilização de um filtro biomecânico, derivado de biomaterial látex, que seja utilizado na
fase de aquisição do sinal de EMGS com o intuito de realizar uma filtragem física no sinal
e diminuir, assim, a presença de ruídos, principalmente de artefatos de movimento e
eletroquímicos, que podem afetar a qualidade do sinal captado.

1.2.2 Objetivos específicos

 Desenvolver um sistema de aquisição, exibição e análise de sinais de EMGS


abordando o conceito de baixo custo;
 Desenvolver uma malha derivada de biomaterial látex para ser utilizada como filtro
físico biomecânico na etapa de aquisição do sinal de EMGS;
 Possibilitar uma diminuição das influências de artefatos de movimento e de ruídos
eletroquímicos que podem afetar o sinal captado;
 Permitir uma redução da carga computacional (técnicas de processamento) e de
hardware (filtros eletrônicos) que seriam empregados para eliminação de ruídos,
reduzindo os custos de processamento e de placas;
 Permitir que o sistema desenvolvido possa ser utilizado em diferentes pesquisas.

26
1.3 REVISÃO DA LITERATURA

A pesquisa da base bibliográfica utilizada neste trabalho considerou a busca por livros,
teses, monografias e artigos nas seguintes fontes especializadas: PubMed, Portal de
Periódicos CAPES e SciELO.

O PubMed é uma base de dados que permite a pesquisa bibliográfica de artigos


publicados em revistas de grande circulação da área médica. Ele foi desenvolvido pelo
NCBI (National Center for Biotechnology Information), sendo mantido pela NLM
(National Library of Medicine). Foram realizadas pesquisas nesta base de dados com as
palavras-chave “eletromyographic signal” (sinal eletromiográfico) e “emg noise signal”
(sinal de ruído EMG), que retornaram, respectivamente, 255 e 112 artigos. Em ambas as
buscas foram utilizados dois filtros: 5 years (5 anos) para Publication dates (datas de
publicação) e Humans (Humanos) para Species (Espécies). Os artigos que apresentaram
interesse para este trabalho foram selecionados observando-se os títulos e os resumos dos
artigos resultantes das buscas.

O Portal de Periódicos CAPES é um portal de pesquisas científicas que abrange todas


as áreas do conhecimento onde professores, pesquisadores, alunos e funcionários de
instituições de ensino superior e de pesquisa em todo o País têm acesso imediato à
produção científica mundial atualizada. Nesta base de dados foi realizada uma busca com
as palavras-chave “eletromyographic signal” (sinal eletromiográfico), “surface
electromyography” (eletromiografia de superfície), “emg noise signal” (sinal de ruído
EMG) e “biomaterial látex”, e que resultou em vários artigos, que foram ordenados por
ordem de relevância. Os artigos que apresentaram interesse para este trabalho foram
selecionados observando-se os títulos e os resumos dos artigos resultantes da busca.

A Scientific Electronic Library Online - SciELO é uma biblioteca eletrônica que


abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. A SciELO é o
resultado de um projeto de pesquisa da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo), em parceria com a BIREME (Centro Latino-Americano e do Caribe
de Informação em Ciências da Saúde), sendo que desde 2002, o Projeto conta com o apoio
do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Nesta base
de dados foram realizadas buscas utilizando-se as palavras-chave “eletromiografia”,
“eletromiografia de superfície” e “biomaterial látex”, o que retornou diversos artigos, que
foram selecionados de acordo com o título e com o resumo.

27
Também foram realizadas buscas por meio eletrônico, que retornaram resultados
interessantes relacionados a este trabalho. Essas buscas foram feitas utilizando-se o Google
Scholar e consultando artigos de revistas, periódicos e journals da área biomédica, como
os da Elsevier e do IEEE.

Além das pesquisas em bases de dados relevantes, foram realizadas pesquisas


diretamente nas bibliotecas da Universidade de Brasília (UnB), tanto na biblioteca central
(BCE) quanto nas bibliotecas das Faculdades de Gama (FGA) e de Ceilândia (FCE). Em
seus acervos foram encontrados vários livros e dissertações que foram utilizados no
levantamento bibliográfico deste trabalho.

Existem muitos livros sobre a eletromiografia e os sinais de EMG, podendo-se citar os


livros Muscles Alive: Their Function Revealed by Electromyography de John V. Basmajian
e Carlo J. De Luca e ELECTROMYOGRAPHY: Physiology, Engineering, and Noninvasive
Applications de Roberto Merletti e Philip Parker; além dos livros de Jeffrey R. Cram e
Glenn S. Kasman. Para o estudo dos biomateriais, utilizou-se principalmente, os livros An
Introduction to Biomaterials, editado por Jeffrey Hollinger, Biomaterials: An Introduction,
de Joon Park e R.S. Lakes, Biomaterials Science and Engineering, editado por Rosario
Pignatello, e Biomaterials Science, editado por Buddy Ratner et al.

O resultado de todas estas buscas foi bastante promissor, resultando no estudo de


diversos trabalhos, o que permitiu um bom embasamento teórico acerca dos conceitos
abordados nesta dissertação.

Foram realizados estudos em trabalhos considerados clássicos na área da


eletromiografia, como os trabalhos de Basmajian e De Luca (1985), Merletti e Parker
(2004), e Cram e Kasman (2011), além dos diversos trabalhos e artigos publicados por
esses autores.

Para o estudo das propriedades fisiológicas dos músculos e das contrações musculares,
foram utilizados, principalmente, os clássicos de Guyton e Hall (2006) e de Silverthorn
(2010). No estudo dos conceitos acerca da eletromiografia, da eletromiografia de superfície
e dos ruídos do sinal de EMG, foram estudados diversos trabalhos, podendo-se citar os
trabalhos de Chowdhury et al. (2013), Jamal (2012), De Luca et al. (2010), Portney, Roy e
Echternach (2010), Konrad (2005), entre vários outros. Para o embasamento acerca das
recomendações para colocação de eletrodos na EMGS, foram realizados estudos
abordando o projeto SENIAM. Para o estudo do biomaterial látex, foram estudados

28
diversos trabalhos, podendo-se citar os de Rosa et al. (2015), Reis (2013), Herculano
(2009) e Agostini (2009). Vários outros trabalhos foram estudados, sendo de fundamental
importância para o desenvolvimento desta dissertação.

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho está organizado em cinco capítulos, incluindo este primeiro.

No capítulo dois, é apresentada uma visão geral do referencial teórico, objetivando a


compreensão dos principais conceitos relacionados à eletromiografia, aos sinais
eletromiográficos de superfície, à fisiologia dos músculos e do processo de contração
muscular, aos parâmetros do sinal de EMGS e aos ruídos que afetam este sinal, além de
trazer uma abordagem dos conceitos e características dos biomateriais, com enfoque no
biomaterial látex.

O capítulo três detalha a metodologia utilizada no trabalho. São apresentados os


materiais e métodos utilizados para o desenvolvimento do sistema (filtro biomecânico,
hardware e software), bem como a metodologia aplicada na coleta de dados.

O capítulo quatro descreve os resultados obtidos, apresentando o filtro biomecânico


produzido, o sistema de aquisição, exibição e análise de sinais de EMGS desenvolvido e os
dados obtidos, além de discutir os pontos de maior importância envolvendo o tema desta
dissertação.

O capítulo cinco apresenta as conclusões finais do trabalho e apresenta os trabalhos


futuros que podem ser desenvolvidos a partir das ideias apresentadas neste documento.

29
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A ELETROMIOGRAFIA

A eletromiografia (EMG) é uma técnica experimental que envolve a detecção, o


registro, a análise e o uso do sinal elétrico que emana dos músculos que se contraem,
podendo este sinal ser denominado sinal mioelétrico (DE LUCA, 2006; KONRAD, 2005).

Essa técnica possibilita o registro dos sinais elétricos gerados pelas células musculares,
sendo uma representação gráfica da atividade elétrica dos músculos. A atividade elétrica
muscular, captada por eletrodos, é registrada pelo eletromiógrafo, onde o seu traçado é
denominado eletromiograma (CORREA; COSTA; PINTO, 2012; LIMA; FREITAS;
SILVA, 2013).

A EMG tem sido largamente utilizada em diferentes aplicações, sendo uma ferramenta
importante no diagnóstico de disfunções neuromusculares e em pesquisas na área clínica e
biomédica. Historicamente, a eletromiografia tem sido constantemente influenciada pelo
avanço tecnológico e vários pesquisadores têm contribuído para o seu aperfeiçoamento.

2.1.1 Aspectos Históricos

Desde a Antiguidade estudos sobre a musculatura humana já eram realizados. Na


Grécia antiga, Aristóteles, baseado em observação e análise geométrica já deduziu o
potencial de ação de vários músculos (BLANC; DIMANICO, 2010).

Registros datados do Renascimento demonstravam o interesse técnico pelo estudo dos


músculos (MOURA, 2013). Leonardo da Vinci, por exemplo, dedicou-se à análise dos
músculos e de suas funções, realizando dissecações e confeccionado atlas da musculatura
humana (COSTA, 2008).

A primeira dedução de que um músculo gera potenciais elétricos foi documentada pelo
italiano Francesco Redi, em 1666. Ele suspeitou que o choque de um peixe elétrico fosse
de origem muscular. Já as primeiras investigações a respeito da relação entre a eletricidade
e a contração muscular foram realizadas por Luigi Galvani, que despolarizava pernas de
sapo com o toque de varas metálicas, causando contração muscular (ANDRADE, 2007).

Em 1791, Luigi Galvani apresentou seu primeiro relato acerca das propriedades
elétricas dos músculos e nervos, afirmando que o músculo esquelético é dotado da
30
capacidade de contrair e de produzir corrente elétrica. Este fenômeno ocorre tanto quando
o músculo é estimulado voluntariamente, produzindo a contração muscular mediante o
desenvolvimento de uma corrente elétrica, quanto ao sofrer estimulação elétrica,
desenvolvendo uma contração de forma involuntária. Desta maneira, houve o surgimento
da chamada “eletricidade animal” como demonstração da existência de potenciais
neuromusculares. Esta descoberta é reconhecida hoje como o nascimento da
Neurofisiologia (MORAES et al., 2013).

Entretanto, Alessandro Volta, em 1793, questionou tais experimentos, após ter


provado que diferentes metais em contato com um eletrólito (como os encontrados nos
tecidos musculares) são capazes de gerar corrente elétrica. Os resultados de Volta foram
tão contundentes que o conceito de eletricidade animal não foi cogitado por quatro décadas
(COSTA, 2008).

Somente no século XIX que o uso de eletricidade para estímulo muscular ganhou
maior notoriedade (SOUZA; LOUZADA, 2006). Em 1838, Carlos Mateucci deu início a
experimentos que envolviam a eletricidade animal questionada por Galvani. Com o auxílio
de um galvanômetro, inventado por Leopoldo Nobili em 1828, Carlos observou que
tecidos musculares quando excitados, geravam fluxo contínuo de corrente elétrica, e
demonstrou a existência da atividade elétrica durante a contração muscular (ANDRADE,
2007; MOURA, 2013).

O trabalho de Mateucci atraiu o interesse do francês Du Bois-Reymound, que, em


1849, foi pioneiro em relatar a detecção de sinais elétricos emanados de músculos humanos
(COSTA, 2008). Du Bois-Reymound forneceu a primeira evidência de atividade elétrica
em músculos humanos durante uma contração voluntária. Em seu experimento clássico, ele
detectou o sinal elétrico com um tipo de eletrodo de superfície, em que os dedos de um
indivíduo eram inseridos em uma solução salina. Ele observou desvios muito pequenos na
agulha de um galvanômetro, mas muito consistentes e previsíveis, sempre que o sujeito
flexionava a mão ou o braço. Deduziu que a magnitude da corrente era reduzida pela
impedância da pele. Após a remoção de uma porção de pele do indivíduo, ele reposicionou
os eletrodos e notou um considerável aumento na magnitude do sinal durante a flexão do
punho (ANDRADE, 2007; CRAM; KASMAN, 2011).

Na década de 1860, o francês Duchenne conduziu o primeiro estudo sistemático das


funções de músculos intactos, usando estimulação elétrica para estudar a função muscular

31
(CRAM; KASMAN, 2011; VENEZIANO, 2006). H. Piper é considerado o primeiro
cientista a estudar os sinais eletromiográficos. Em 1912, na Alemanha, usando um
galvanômetro, ele aplicou eletrodos metálicos de superfície e obteve medidas para a
musculatura humana (COSTA, 2008; MERLETTI; PARKER, 2004).

Mas os sinais dos músculos só puderam ser visualizados a partir da década de 1920,
por meio de osciloscópio de raios catódicos (VENEZIANO, 2006). Com a invenção do
tubo de raios catódicos, tornou-se possível estudar a morfologia do sinal de EMG. Hebert
S. Gasper e Joseph Erlanger foram os primeiros a estudar as características do sinal de
EMG, usando o osciloscópio de raios catódicos recém-inventado para mostrar os sinais dos
músculos. Com essa façanha, eles ganharam o Prêmio Nobel em 1944 (ANDRADE, 2007;
CRAM; KASMAN, 2011).

Em 1928, Proebster observou os sinais gerados por músculos sem inervação e


inaugurou o campo da eletromiografia clínica. O eletrodo concêntrico de agulha,
desenvolvido por Adrian e Bronk em 1929, proporcionou uma poderosa ferramenta, ainda
hoje utilizada, para o estudo da EMG (MERLETTI; PARKER, 2004).

Nas décadas de 1930, 1940 e 1950, o desenvolvimento da instrumentação para


eletromiografia de superfície propiciou estudos variados envolvendo a musculatura
humana (VENEZIANO, 2006). A partir de então, a eletromiografia começou a utilizar
dispositivos para detecção, amplificação e apresentação do sinal de EMG em forma gráfica
(ANDRADE, 2007).

A partir do começo da segunda guerra mundial, foram desenvolvidos eletromiógrafos


mais eficientes, principalmente em virtude das necessidades clínicas. No final da guerra os
eletromiógrafos passaram a ser produzidos comercialmente (ANDRADE, 2007). Em 1950,
houve a introdução do primeiro sistema de EMG comercialmente disponível. De 1950 a
1973 foi a era dos sistemas de EMG analógicos. De 1973 a 1982, os primeiros sistemas
digitais modulares de EMG foram introduzidos e em 1982, o primeiro sistema controlado
por um microprocessador foi comercializado (LADEGAARD, 2002).

Na Figura 2.1 são apresentados dois modelos de eletromiógrafos comercializados


nestes períodos: um analógico e um digital. Na Figura 2.1-A é apresentado o
eletromiógrafo modelo DISA 13A67, sendo um sistema analógico de três canais para
registros de EMG. Na Figura 2.1-B é apresentado o sistema digital Medelec MS6, um
eletromiógrafo digital para registros de EMG (LADEGAARD, 2002).

32
(A) (B)
Figura 2.1: (A) Eletromiógrafo analógico modelo DISA 13A67; (B) Eletromiógrafo digital
modelo Medelec MS6 (LADEGAARD, 2002).

No final dos anos 60, iniciou-se o uso de computadores para processamento do sinal
de EMG e, desde então, pôde-se obter informações mais consistentes sobre esse sinal
(ANDRADE, 2007). Nas décadas mais recentes, com a disponibilidade de computadores
com poderosa capacidade de processamento, tornou-se possível realizar a decomposição de
sinais de EMG em seus constituintes básicos. O uso de computadores também permitiu o
desenvolvimento de modelos e simulações no estudo do sinal de EMG, além de ter
possibilitado a análise espectral e outras técnicas de processamento de sinais de EMG, o
que melhorou o entendimento da fisiologia do músculo, dos parâmetros da fadiga e das
disfunções e dores musculares (COSTA, 2008).

Atualmente, os eletromiógrafos comerciais são, em geral, sistemas modernos,


compactos, digitais, multicanais e que integram hardwares e softwares complexos, e que
permitem um estudo mais detalhado do sinal de EMG. Na Figura 2.2 é apresentado um
modelo comercial de um sistema de EMG da empresa Delsys. O sistema de EMG Trigno™
Wireless é um dispositivo de alto desempenho projetado para tornar a detecção do sinal de
EMG fácil e confiável. Por ser um sistema sem fio, permite o uso em qualquer lugar e dá
mais liberdade de movimento ao indivíduo.

33
Figura 2.2: Sistema de EMG Delsys, modelo Trigno™ Wireless (DELSYS, 2016).

Vários pesquisadores se dedicaram no estudo do sinal de EMG e no aperfeiçoamento


das técnicas empregadas na eletromiografia. Dentre estes vários importantes
pesquisadores, tiveram grande destaque John V. Basmajian e Carlo J. De Luca. Durante o
início da década de 1960, Basmajian, considerado o pai da eletromiografia de superfície
(EMGS), concebeu um fórum internacional para compartilhar informações sobre a EMGS,
e em 1965 a Sociedade Internacional de Eletrofisiologia e Cinesiologia (International
Society of Electrophysiological Kinesiology) foi formada. Essa organização ainda existe
até hoje, com a publicação de um dos únicos jornais que aborda especificamente questões
relativas à EMGS (The Journal of Electromyography and Kinesiology). As comunidades
acadêmicas americanas e europeias forneceram princípios fundamentais para a
compreensão da EMG em geral e da EMGS em particular (CRAM; KASMAN, 2011),
podendo-se citar as contribuições do pesquisador De Luca, em seu artigo clássico
publicado em 1979 e em suas várias outras publicações (MERLETTI; PARKER, 2004).

Atualmente, a EMG tem se mostrado uma ferramenta de grande aplicabilidade na


compreensão da atividade muscular sendo largamente usada para melhorar a compreensão
do envolvimento neuromuscular em resposta ao exercício e sendo compreendida como a
quantificação dos sinais elétricos da musculatura esquelética (CORREA, COSTA E
PINTO, 2012). Além das análises clínicas, o sinal de EMG pode ser utilizado para outros
fins, como, por exemplo, no controle de equipamentos utilizados em engenharia de
reabilitação, em aplicações de fisioterapia, e em técnicas de treinamento desportivo e
biomecânica (ANDRADE, 2007; VENEZIANO, 2006).

34
2.1.2 Aplicações

A eletromiografia teve início com finalidade estritamente clínica, e se desenvolveu


fortemente como ferramenta diagnóstica durante a segunda guerra mundial. Até
recentemente, eletromiogramas eram registrados principalmente para fins exploratórios ou
de diagnóstico; no entanto, com o avanço da tecnologia bioelétrica, a eletromiografia se
tornou uma ferramenta fundamental no controle artificial do movimento de membros, na
estimulação elétrica funcional e na reabilitação. Atualmente, o sinal de EMG tem sido
usado por diferentes profissionais nas áreas de anatomia, reabilitação, esportes, medicina
clínica, odontologia, fonoaudiologia, entre outras (ANDRADE, 2007; HENNEBERG,
2000). A Figura 2.3 ilustra algumas das várias áreas de aplicação da EMG.

Figura 2.3: Áreas de aplicação da EMG (modificado de KONRAD, 2005).

A EMG tem, ao longo dos anos, desenvolvido uma vasta gama de aplicações.
Clinicamente, está sendo utilizada como ferramenta para diagnóstico de doenças
neuromusculares. Tem sido frequentemente usada para avaliação de pacientes com
doenças neuromusculares, dores lombares e distúrbios de controle motor. Além de ser
empregada em pesquisas fisiológicas e biomecânicas, a EMG tem sido desenvolvida como
uma ferramenta de avaliação em pesquisas aplicadas, em fisioterapia, reabilitação,
medicina esportiva e treinamento, biofeedback e pesquisas ergonômicas (JAMAL, 2012).

35
A eletromiografia também tem encontrado seu uso na reabilitação de pacientes com
amputações na forma de próteses robóticas, revelando-se uma ferramenta valiosa na área
de tecnologias assistivas (JAMAL, 2012; LONGO, 2015).

Tecnologia Assistiva (TA) é o termo utilizado para designar uma grande variedade de
equipamentos que visam aumentar a habilidade funcional de pessoas com deficiências e
idosos e, consequentemente, ampliar a independência e inclusão social do indivíduo
(ALBRECHT, 2010). As TAs tem um papel importante no tratamento e/ou na melhoria da
qualidade de vida de pessoas com mobilidade reduzida temporária ou permanente, ou que
precisem de algum dispositivo para auxiliar em suas atividades diárias devido a alguma
disfunção (LONGO, 2015).

Um exemplo importante que envolve TAs é o desenvolvimento de próteses para


amputados. Esses dispositivos oferecem ao usuário um aumento da independência em suas
atividades diárias para melhorar a qualidade de vida, fazendo com que esses indivíduos se
sintam capazes de levar uma vida produtiva. As próteses podem ser simples ou até mesmo
dispositivos sofisticados com vários graus de liberdade acionados eletricamente por
interfaces que utilizam sinais biológicos, como o sinal de EMG (LONGO, 2015).

Nos últimos anos muitas pesquisas focaram no desenvolvimento de próteses


controladas por EMGS, sendo um dos campos mais desenvolvidos da área de reabilitação
robótica. Muitos desses trabalhos visam o desenvolvimento de técnicas para melhorar o
controle, proporcionando maior funcionalidade às próteses. Uma prótese ideal deve ser
reconhecida pelo amputado como uma parte natural de seu corpo, fornecendo habilidades
motora e sensorial. O feedback na reabilitação e adaptação às próteses pode prover aos
pacientes a oportunidade de melhorar suas habilidades através da resposta da atividade
muscular e o aprendizado do controle de seus movimentos (LONGO, 2015).

2.2 ELEMENTOS DA ANATOMIA E FISIOLOGIA PARA A EMG

Compreender os sinais eletromiográficos implica no entendimento dos músculos e na


forma como eles geram sinais bioelétricos (MERLETTI; PARKER, 2004). Os músculos
são constituídos por tecidos musculares que através da contração e extensão das fibras
musculares realizam as atividades para que são destinados (SILVA, 2014).

No corpo humano, existem três tipos de músculos (Figura 2.4): músculo cardíaco (que
é o tecido especializado do coração); músculo esquelético (também chamado de músculo

36
voluntário, por sua capacidade de ser conscientemente controlado) e músculo liso
(conhecido por músculo involuntário, pois não se encontra sob controle consciente)
(COSTA, 2008). Os músculos esquelético e cardíaco são classificados como músculos
estriados; e os músculos lisos e o cardíaco são descritos como involuntários, enquanto os
músculos esqueléticos são descritos como músculos voluntários (SILVERTHORN, 2010).

Figura 2.4: Os três tipos de músculos do corpo humano: (a) músculo esquelético, (b)
músculo cardíaco, e (c) músculo liso (SILVERTHORN, 2010).

A maioria dos músculos esqueléticos está unida aos ossos do esqueleto, o que capacita
esses músculos a controlarem os movimentos do corpo. Os músculos esqueléticos
constituem a maior parte da musculatura do corpo e equivalem a cerca de 40% do peso
37
corporal total. São responsáveis pelo posicionamento e movimento do esqueleto, como seu
próprio nome sugere (SILVERTHORN, 2010). Os seres humanos possuem centenas de
músculos esqueléticos, estando alguns destes representados nas figuras (A-1 e A-2) do
Anexo A. Esses músculos se diferem em forma e tamanho, de acordo com a tarefa que
desempenham (COSTA, 2008).

Os músculos esqueléticos, objeto de estudo da eletromiografia, são os únicos que se


contraem somente em resposta a um sinal de um neurônio motor somático. Eles não podem
iniciar sua própria contração. Um músculo esquelético é um conjunto de células
musculares (as chamadas fibras musculares), assim como um nervo é um conjunto de
neurônios (COSTA, 2008; SILVERTHORN, 2010).

Neste trabalho, foram realizados testes e coletas de sinais de EMG nos músculos
esqueléticos vasto lateral direito e esquerdo, bíceps femoral direito e esquerdo e bíceps
braquial direito/esquerdo, que podem ser obervados no Anexo A.

O movimento do corpo humano é uma integração perfeita entre o cérebro, o sistema


nervoso e os músculos. Sempre que os músculos do corpo são recrutados para realizarem
certa atividade, o cérebro envia sinais de excitação através do Sistema Nervoso Central
(SNC) (JAMAL, 2012). O SNC envia informações aos músculos através de pulsos
elétricos por meio de motoneurônios-alfa. O corpo celular desses neurônios é localizado na
medula espinhal e suas terminações axônicas inervam as fibras musculares (ALMEIDA;
FERRI; QUEVEDO, 2012; JAMAL, 2012).

A contração dos músculos esqueléticos é comandada pelos nervos, um conjunto de


neurônios que, saindo da medula espinhal, estabelecem um contato fisiológico com a
membrana da célula muscular. Por esta razão, estes neurônios são denominados neurônios
motores, pois sua atividade produz a contração muscular. Um único neurônio motor é
capaz de suprir, com as suas inúmeras ramificações, um número variável de fibras
musculares. O conjunto formado por um neurônio motor e as fibras musculares inervadas
por ele é chamado unidade motora, sendo esta a unidade fisiológica do músculo
esquelético (SALLES et al., 2009).

A unidade motora (MU, do inglês motor unit), representada na Figura 2.5, é o termo
utilizado para descrever a menor unidade muscular controlável. Uma unidade motora é
constituída por um único neurônio motor, suas junções neuromusculares e as fibras
musculares inervadas por esse neurônio (ANDRADE, 2007).

38
Figura 2.5: Organização da unidade motora do músculo esquelético. Cada neurônio motor
inerva um número variável de fibras musculares. (SALLES et al., 2009).

A ativação da unidade motora é um processo sequencial, iniciando no interior da


medula espinhal, onde o neurônio motor recebe influências sinápticas de neurônios de
regiões do cérebro, da medula e da sua periferia. Os impulsos nervosos, gerados na região
de disparo, são então conduzidos pelo axônio do neurônio motor até a junção
neuromuscular. A junção neuromuscular, ou placa motora, esquematizada na Figura 2.6, é
a região onde as fibras musculares são inervadas pelas terminações nervosas do axônio
(ANDRADE, 2007; AVELINO, 1992).

39
Figura 2.6: Esquema de uma junção neuromuscular, ou placa motora (ANDRADE, 2007).

Nas regiões das placas motoras as terminações sinápticas do axônio ativam as várias
fibras musculares. Quando um potencial de ação (impulso elétrico que se propaga ao longo
da membrana celular de fibras excitáveis, como células nervosas e musculares) chega ao
terminal do axônio, ocorre a liberação do neurotransmissor acetilcolina (ACh) na fenda
sináptica. Este neurotransmissor entra em contato com a membrana da fibra muscular
(sarcolema) e estimula a sua contração. A interação do neurotransmissor com a membrana
de uma fibra muscular causa a despolarização desta, disparando um potencial de ação.
Finalmente, a ação do potencial de ação ao longo da fibra muscular causa a sua contração
(ANDRADE, 2007; AVELINO, 1992; SALLES et al., 2009).

Com a liberação de ACh na fenda sináptica, os receptores de ACh, nas pregas


subneurais, tornam a membrana muscular mais permeável aos íons de sódio (Na+). O
influxo abrupto desses íons no músculo gera um potencial de ação muscular, que se
propaga na membrana da fibra muscular. O potencial de ação despolariza a membrana da
fibra muscular e também penetra profundamente no interior dessa. Depois de
aproximadamente 0,2 ms que a ACh é liberada pelas vesículas sinápticas, ela é
transformada em ácido acético e colina, pela enzima acetilcolinesterase presente na fenda
sináptica. Essa reação ocorre para que a membrana muscular, localizada na fenda sináptica,
diminua a permeabilidade ao potássio de maneira que a placa motora fique preparada para
um novo estímulo (ANDRADE, 2007).

Os Potenciais de Ação (PA) são rápidas alterações do potencial de membrana que se


propagam com grande velocidade por toda a membrana da fibra nervosa. Cada potencial de

40
ação começa por uma alteração súbita do potencial de membrana normal negativo para um
potencial positivo, terminando, então com retorno quase tão rápido para o potencial
negativo. Para conduzir um sinal nervoso, o potencial de ação se desloca ao longo da fibra
nervosa até sua extremidade final (GUYTON; HALL, 2006). Os estágios sucessivos do
potencial de ação são descritos a seguir.

 Estágio de repouso: é o potencial de repouso da membrana, antes do início do


potencial de ação. Diz-se que a membrana está “polarizada” durante esse estágio,
em razão do potencial de membrana de –90 mV negativo existente.

 Estágio de despolarização: algum estímulo de qualquer natureza (químico, elétrico,


térmico ou mecânico) pode aumentar subitamente a permeabilidade da membrana
aos íons sódio iniciando o potencial de ação (ANDRADE, 2007). A esse tempo, a
membrana fica subitamente muito permeável aos íons sódio, permitindo que grande
número destes íons, positivamente carregados, se difunda para o interior do axônio.
O estado normal de polarização de –90 mV é, de imediato, neutralizado pelo
influxo de íons sódio com carga positiva, com o potencial aumentando,
rapidamente, para um valor positivo. Isso é referido como despolarização da
membrana. Nas fibras nervosas de maior calibre, o grande excesso dos íons sódio
positivos que se deslocam para o interior da fibra faz com que o potencial de
membrana “ultrapasse” (overshoot) rapidamente o nível zero e torne-se positivo.

 Estágio de repolarização: em alguns décimos de milésimos de segundo após a


membrana ter ficado muito permeável aos íons sódio, os canais de sódio começam
a se fechar e os canais de potássio se abrem mais que o normal. Então, a rápida
difusão dos íons potássio para o exterior restabelece o potencial de repouso
negativo da membrana. Isso é referido como repolarização da membrana
(GUYTON; HALL, 2006).

A Figura 2.7 apresenta as alterações que ocorrem na membrana durante o potencial de


ação, com a transferência de cargas positivas para o interior da fibra, no seu início, e o
retorno das cargas positivas para o exterior, a seu término, ilustrando, assim os processos
de despolarização e de repolarização da membrana, bem como a geração do impulso
nervoso. A Figura 2.8 mostra, graficamente, as sucessivas alterações do potencial de
membrana, por poucos décimos de milésimos de segundo, ilustrando o início explosivo do
potencial de ação e sua quase idêntica recuperação.

41
Figura 2.7: Alterações que ocorrem na membrana durante o potencial de ação: processos
de despolarização e repolarização de membrana (SÓ BIOLOGIA, 2008).

Figura 2.8: Gráfico do potencial de ação caracterizado pelas suas três fases distintas:
repouso, despolarização e repolarização (GUYTON; HALL, 2006).

42
Ao impulso que tem origem no neurônio motor e se propaga ao longo do axônio do
nervo espinhal, chegando até a fibra muscular, chamamos potencial de ação motor, que é o
responsável por iniciar o processo de contração muscular. Este impulso, ao chegar às fibras
musculares, acaba gerando o potencial de ação muscular (COSTA, 2008).

Quando um neurônio envia um potencial de ação, todas as fibras musculares da sua


unidade motora são estimuladas. O resultado da soma algébrica dos potenciais de ação nas
n fibras de uma unidade motora é chamado potencial de ação da unidade motora (MUAP,
do inglês motor unit action potential). Os MUAPs, ao percorrerem as fibras musculares,
geram um campo eletromagnético nas redondezas das fibras. Um eletrodo, localizado
dentro desse campo, é capaz de detectar o potencial elétrico referente a uma contração
muscular, caracterizando o chamado sinal eletromiográfico (ANDRADE, 2007).

Dessa forma, os potenciais de ação associados a cada fibra muscular correspondem à


contribuição individual que cada fibra ativa fornece ao sinal detectado na região do
eletrodo. Na Figura 2.9 tem-se uma representação esquemática de um conjunto de fibras
musculares de uma única unidade motora que estão próximas de um eletrodo para permitir
a captação de seus potenciais de ação através deste (AVELINO, 1992).

Figura 2.9: Geração do potencial de ação de uma unidade motora (MUAP) composta por n
fibras musculares. Modificado de (KONRAD, 2005).

43
No esquema da Figura 2.9, o sinal coletado pelo eletrodo tem contribuição de todas as
n fibras musculares da unidade motora, através de seus potenciais de ação individuais.
Assim, o sinal resultante, captado pelo eletrodo, será constituído pela superposição espaço-
temporal das contribuições dos potenciais de ação individuais, sendo este sinal resultante
chamado de potencial de ação da unidade motora (NAKASHIMA, 2003). O potencial de
ação desta unidade motora (MUAP) é, portanto, o somatório espacial e temporal dos
potenciais de ação individuais das n fibras musculares que constituem esta unidade.

A forma e a amplitude de um MUAP dependem do arranjo geométrico formado pelas


fibras musculares ativas e pelo local do eletrodo, bem como de todos os fatores que afetam
os potenciais de ação individuais (NAKASHIMA, 2003). Existem diversos fatores que
podem influenciar o sinal gerado pela unidade motora, como a relação geométrica entre a
superfície de detecção do eletrodo e a fibra muscular da unidade motora, a posição relativa
entre a superfície de detecção do eletrodo e a zona de inervação, o diâmetro da fibra, o
número de fibras musculares de uma unidade motora na região de detecção do eletrodo e a
interface pele/eletrodo (BARROS, 2005).

Pelo fato do MUAP ter um período relativamente pequeno (2 a 10 ms), as unidades


motoras devem ser ativadas repetitivamente para que se possa sustentar uma contração
muscular por períodos maiores, ou seja, a ativação do sistema nervoso central deve ser
repetida continuamente durante o tempo em que o músculo necessita para gerar força. Essa
ativação contínua (sequência de MUAPs) produz os denominados trens de potenciais de
ação da unidade motora (MUAPT, do inglês motor unit action potential train)
(ANDRADE, 2007; JAMAL, 2012).

Assim, o sinal eletromiográfico captado pelo eletrodo é a soma dos MUAPTs gerados
na proximidade do local de detecção durante a contração muscular (NAKASHIMA, 2003).
Dessa forma, o sinal eletromiográfico captado consiste na soma algébrica de todas as
influências dos MUAPTs sobre os eletrodos (QUEVEDO, 1993).

Durante uma contração muscular, as descargas das unidades motoras em taxas de


estímulos variáveis dependem do limiar de recrutamento das unidades e do nível de força a
ser produzido. Assim, se as fibras musculares de outras unidades motoras são ativadas na
vizinhança de captação do eletrodo, seus MUAPs também serão detectados. Quando duas
ou mais unidades motoras descarregam ao mesmo tempo, o potencial detectado pelo

44
eletrodo é a soma algébrica dos potenciais individuais dessas unidades motoras e
denomina-se onda sobreposta (BERNARDES et al., 2007; NAKASHIMA, 2003).

O número de músculos recrutados depende da atividade em que o corpo está


envolvido. Sempre que for necessário gerar mais força, a excitação do sistema nervoso
central aumenta, mais unidades motoras são ativadas e a taxa de disparo de todas as
unidades motoras aumenta, resultando em altas amplitudes de sinal eletromiográfico
(JAMAL, 2012).

Durante uma contração voluntária do músculo esquelético, a atividade elétrica das


unidades motoras ativas pode ser detectada com eletrodos de superfície ou de inserção. O
sinal eletromiográfico resultante é o somatório dos potenciais de ação das unidades
motoras descarregadas pelas fibras musculares nas proximidades dos eletrodos de registro.
Assim, o sinal eletromiográfico contém ricas informações do recrutamento de unidades
motoras e da intenção de movimento e estado geral fisiológico do sistema neuromuscular
(XIE et al., 2014).

2.3 O SINAL ELETROMIOGRÁFICO

O sinal eletromiográfico é a manifestação elétrica da ativação neuromuscular


associada à contração muscular. Representa a corrente elétrica gerada pelo fluxo iônico
através das membranas das fibras musculares que se propaga pelos tecidos até atingir a
área de detecção de um eletrodo (DE LUCA, 2006).

Esse sinal, obtido através da eletromiografia, é proporcional à atividade elétrica


muscular, que por sua vez é proporcional ao número de fibras musculares e, portanto, ao
número de unidades motoras estimuladas no processo de contração (ROBERGS;
ROBERTS, 2002). O eletrodo utilizado em EMG, geralmente, não capta apenas os
potenciais de ação de uma única fibra muscular, mas sim o somatório de todos os
potenciais gerados pela despolarização quase que simultânea das muitas fibras musculares
de uma unidade motora ou de várias unidades motoras vizinhas, resultando na
superposição de suas formas de onda (AVELINO, 1992).

O sinal eletromiográfico é composto pelos potenciais de ação dos grupos de fibras


musculares organizadas nas unidades motoras. Quando apenas duas ou três MUs na
vizinhança dos eletrodos são ativadas, é geralmente possível identificar visualmente a
maioria dos potenciais de ação individuais das MUs porque a incidência de superposição

45
entre os potenciais de ação individuais das MUs é relativamente baixo. No entanto, quando
o sinal eletromiográfico contém a ativação de quatro ou mais MUs, os potenciais de ação
individuais de cada MU tornam-se, em grande parte, indistinguíveis a olho nu, pois a
incidência de superposição entre dois ou mais potenciais de ação de MU torna-se
numerosos e as formas dos potenciais de ação podem aproximar-se na similaridade (DE
LUCA et al., 2006).

Assim, o sinal eletromiográfico pode ser definido como o somatório linear de todos os
MUAPTs das P unidades motoras ativadas pelo processo de contração muscular e que
estão perto o suficiente da área de captação dos eletrodos (Figura 2.10). Pode ser
representado por meio do somatório descrito pela equação 2.1 (MOURA, 2013):

(2.1)

em que EMG(t,F) representa o sinal de EMG e MUAPTi representa o i-ésimo MUAPT


contribuinte.

Figura 2.10: Representação esquemática da geração do sinal eletromiográfico de um


músculo, a partir do somatório dos trens de MUAPs das n unidades motoras ativas desse
músculo. Modificado de (ANDRADE, 2007).

Como resultado, o sinal eletromiográfico é um sinal complexo, sendo uma composição


de inúmeros potenciais de ação de todas as unidades motoras ativas sobrepostas umas às
outras. É afetado pelas propriedades anatômicas e fisiológicas dos músculos, pelo esquema

46
de controle do sistema nervoso, bem como pelas características da instrumentação que é
utilizada para detectá-lo e observá-lo (DE LUCA, 2006; HAMILL; KNUTZEN, 2008).

As Figuras 2.11-A e 2.11-B ilustram a complexidade deste sinal, sendo apresentados


dois exemplos de sinais eletromiográficos captados em indivíduos diferentes. O indivíduo
do sinal (A) realizou três contrações do músculo avaliado, enquanto que o indivíduo do
sinal (B) realizou cinco contrações do músculo avaliado.

(A)

(B)
Figura 2.11: Exemplos de sinais de EMG (BARTLETT, 2007, p. 269; LOPES, 2014, p. 4).

A amplitude do sinal eletromiográfico é de natureza estocástica (aleatória) e pode ser


razoavelmente representada por uma função de distribuição Gaussiana. A amplitude do
sinal pode variar de 0 a 10 mV (pico-a-pico) ou de 0 a 1,5 mV (RMS). A energia utilizável
do sinal é limitada à faixa de frequência de 0 a 500 Hz, sendo a energia dominante na faixa
de 50 a 150 Hz (DE LUCA, 2002).

A amplitude do sinal eletromiográfico varia com diversos fatores, como o diâmetro da


fibra muscular, a distância entre as fibras musculares ativas e o posicionamento e as
propriedades dos eletrodos, por exemplo. No entanto, a amplitude aumenta quando a

47
intensidade da contração muscular aumenta, não significando que exista uma relação linear
entre a amplitude de um sinal eletromiográfico e a força muscular (BERNARDES et al.,
2007; HAMILL; KNUTZEN, 2008).

No sinal (A) da Figura 2.11, é possível observar uma relação, não necessariamente
linear, entre a força muscular e a amplitude do sinal registrado. De acordo com Lopes
(2014, p.3), na primeira contração, o sujeito realiza uma força de 362 N, 575 N na segunda
contração e uma força de 772 N na terceira contração. Assim é possível relacionar a
amplitude do sinal com a força da contração.

Nos sinais (A) e (B) da Figura 2.11, a linha de base corresponde a um período de
silêncio eletromiográfico, momento em que os músculos encontram-se em repouso. O
repouso pode trazer informações importantes, desde a presença de ruídos e interferências
no sinal eletromiográfico às contrações involuntárias realizadas pelos músculos em estudo
(FEODRIPPE et al., 2012). Em repouso, o músculo normal apresenta silêncio elétrico. Em
músculos de indivíduos com disfunções neuromusculares, observa-se o aparecimento de
atividade espontânea durante o repouso muscular. Essa atividade espontânea se manifesta
por presença de potenciais de fibrilação, ondas agudas ou fasciculação (CHAVES;
FINKELSZTEJN; STEFANI, 2008).

Para capturar e registrar os potenciais de ação que formam o sinal eletromiográfico, é


necessário um sistema e toda uma instrumentação eletrônica. Em geral, os sistemas são
compostos por dois módulos principais, o módulo de hardware responsável pela captura e
tratamento do sinal eletromiográfico e o módulo de software, responsável pela
apresentação gráfica do sinal bioelétrico na tela do computador, processamento do sinal e
também do seu armazenamento para uma posterior análise (VIEIRA et al., 2004). Esses
sistemas são, geralmente, complexos, apresentando altos custos e tempo de
desenvolvimento elevado (ALMEIDA; FERRI; QUEVEDO, 2012).

2.4 AQUISIÇÃO E PROCESSAMENTO DO SINAL DE EMG

O sinal eletromiográfico, gerado pela ativação de múltiplas unidades motoras, pode ser
obtido a partir de medição não invasiva, com o uso de eletrodos de superfície, ou medição
invasiva, com o uso de eletrodos de agulha. O sinal medido pelos eletrodos é amplificado,
condicionado e registrado para produzir o formato que for mais conveniente para responder
às questões clínicas e científicas de interesse (MOTION LAB SYSTEMS, 2009).

48
Em geral, os sistemas de obtenção do sinal eletromiográfico são caracterizados por
três fases: uma fase de entrada, que inclui os eletrodos para a captação dos potenciais
elétricos do músculo em contração; uma fase de condicionamento, durante a qual o
pequeno sinal elétrico é amplificado e/ou filtrado; e uma fase de saída, na qual o sinal
elétrico é convertido em sinais que possam ser visualizados e analisados no software do
sistema. (FEODRIPPE et al., 2012).

A medição e gravação de um sinal analógico complexo como o sinal de EMG é uma


questão complexa, uma vez que os sinais de interesse são invariavelmente muito pequenos
(na ordem de micro e milivolts). Além disso, os sinais eletromiográficos normalmente
podem ser afetados por vários sinais de ruídos, como artefatos de movimento, tensões
induzidas de linhas de alimentação CA, luzes fluorescentes, telefones celulares e outros
equipamentos elétricos, como computadores e monitores. Dessa forma, para se obter um
sinal de EMG confiável, é essencial que o sistema de EMG seja de qualidade (MOTION
LAB SYSTEMS, 2009).

Para tanto, certos parâmetros devem ser ajustados na aquisição do sinal


eletromiográfico, dependendo da tarefa e objetivos para posterior análise. Os principais
parâmetros a serem observados são: componentes como eletrodo, amplificados, filtros e
conversor analógico/digital; frequência de amostragem; além do equipamento de
armazenagem dos dados (computador) (MARCHETTI; DUARTE, 2006).

2.4.1 Eletrodos

A atividade bioelétrica do interior do músculo de um corpo humano (sinal mioelétrico)


é detectada com a ajuda de eletrodos de EMG. Existem dois tipos principais de eletrodos
de EMG: os eletrodos de superfície e os eletrodos de inserção, sendo que estes últimos
podem ser de agulha ou de arame (fio) fino (JAMAL, 2012).

Os eletrodos de inserção são aplicados diretamente no músculo, sendo utilizados para


músculos profundos ou pequenos. Já os eletrodos de superfície são aplicados sobre a pele,
por cima de um músculo, de modo que são utilizados principalmente para músculos
superficiais (HAMILL; KNUTZEN, 2008).

Os eletrodos de agulha (Figura 2.12-A) são amplamente utilizados em procedimentos


clínicos em avaliações neuromusculares. A qualidade do sinal captado com o uso desses
eletrodos é maior do que com o uso dos outros tipos, uma vez que sua área de captação é

49
relativamente pequena, o que permite a detecção de MUAPs individuais durante
contrações fracas. No entanto, o uso de eletrodos de agulha causa dor e desconforto ao
paciente. Os eletrodos de fio (Figura 2.12-B) são extremamente finos, sendo facilmente
implantados e retirados dos músculos esqueléticos e são geralmente menos dolorosos do
que os eletrodos de agulha. Já os eletrodos de superfície (Figura 2.12-C) fornecem uma
técnica não invasiva, sendo de simples e fácil implementação. Aplicações de eletrodos de
agulha e fio fino requerem observação médica rigorosa e certificação, enquanto que os
eletrodos de superfície não precisam de tais formalidades. Os eletrodos de superfície têm
sido utilizados em diversas aplicações, como em estudos de comportamento motor,
registros neuromusculares, avaliações clínicas esportivas e para os indivíduos que se
opõem às inserções de agulhas, como as crianças (JAMAL, 2012).

(A) (B) (C)


Figura 2.12: Eletrodos de EMG – (A) de agulha, (B) de fio fino e (C) de superfície.
(JAMAL, 2012).

A utilização de eletrodos invasivos (de inserção) caracteriza a chamada


eletromiografia intramuscular, enquanto a utilização de eletrodos não invasivos caracteriza
a denominada eletromiografia de superfície (EMGS). A primeira, que se utiliza de agulhas
ou microeletrodos colocados diretamente no interior do músculo, é mais adequada e
largamente aceita para aplicações clínicas, porém causa dor e desconforto ao paciente. Já a
EMGS tem maior aplicação em ramos como biofeedback, controle de próteses, ergonomia,
medicina ocupacional e do esporte e análise de movimento. Essa versatilidade se deve ao
fato de que a EMGS permite o acesso frequente e indolor às funções neuromusculares
(COSTA, 2008).

Na EMGS, os eletrodos são colocados sobre a pele que recobre o músculo a ser
avaliado, captando a soma da atividade elétrica de todas as fibras musculares ativas.
Caracteriza-se por ser um método simples, não invasivo, com menos desconforto, e de fácil

50
execução, permitindo observar o comportamento eletrofisiológico de diversos músculos
em diferentes condições fisiológicas e a investigação das variações dos potenciais elétricos
da musculatura durante as contrações, bem como as condições musculares fisiológicas e
patológicas (NASCIMENTO et al., 2013).

Além dos eletrodos de registro (sejam superficiais ou intramusculares), deve ser


aplicado um eletrodo de referência, para permitir um mecanismo de cancelamento do
efeito de interferência do ruído elétrico externo, como os causados por luzes fluorescentes,
instrumentos de radiodifusão, equipamentos de diatermia, e outros aparelhos elétricos. Este
eletrodo é constituído por uma lâmina metálica aderida à pela nas proximidades dos
eletrodos registradores, devendo ser colocado sobre um tecido eletricamente inativo, como
por exemplo, uma proeminência óssea (FORTI, 2005).

Os eletrodos de superfície podem ser aplicados num arranjo monopolar ou bipolar. No


modo monopolar, um eletrodo é aplicado diretamente sobre o músculo em questão e um
segundo eletrodo fica sobre um local eletricamente neutro. No modo bipolar, dois eletrodos
com um diâmetro de cerca de 8 mm são aplicados sobre o músculo com um afastamento de
aproximadamente 1,5 a 2 cm, e um terceiro eletrodo é aplicado num local eletricamente
neutro (HAMILL; KNUTZEN, 2008).

Os eletrodos de superfície podem, ainda, ser ativos ou passivos. Os eletrodos passivos


consistem de um disco de Ag/AgCl, que deve ser posicionado acima da pele e
caracterizam-se por não possuir amplificação no próprio eletrodo. Já os eletrodos ativos
incluem um circuito de amplificação, sendo que normalmente estes eletrodos são bipolares,
ou seja, o amplificador utilizado é o diferencial. Em geral, os eletrodos passivos são
utilizados em conjunto com um gel ou pasta condutora contendo íons de cloro, a fim de
diminuir a impedância de contrato entre o eletrodo e a pele. Já os eletrodos ativos são
chamados de eletrodos secos, pois normalmente não necessitam do uso de gel condutor
(ANDRADE, 2007).

Uma das desvantagens de se utilizar o eletrodo passivo pode ser a grande área de
detecção com possibilidade de crosstalk (detecção de sinais provenientes de outros
músculos). No entanto, o fenômeno de crosstalk pode ser minimizado selecionando o
tamanho e posicionamento adequado dos eletrodos e a separação ideal entre eles
(BARROS, 2005).

51
O posicionamento correto dos eletrodos é crucial para que seja obtido um bom registro
(HAMILL; KNUTZEN, 2008). Com a intenção de padronizar e otimizar a captura dos
sinais de EMG de superfície, foi desenvolvido o Projeto Surface EMG for Non-Invasive
Assessment of Muscles (SENIAM – Eletromiografia de Superfície para Avaliação Não
invasiva de Músculos) criado por Hermens et al. (1996).

O projeto SENIAM foi desenvolvido observando dois objetivos principais. O primeiro


objetivo estava relacionado com o intercâmbio de conhecimentos e experiências sobre
EMGS entre os diferentes países e áreas, a fim de se aumentar a transferência de
conhecimentos entre pesquisas básicas e aplicadas. O segundo objetivo foi desenvolver
recomendações sobre itens chaves que atualmente impedem uma útil troca de
conhecimento e experiência, especialmente em relação aos dados experimentais e clínicos.
Os elementos essenciais foram considerados como eletrodos, procedimentos de colocação
dos eletrodos, processamento de sinais e modelagem (HERMENS et al., 1996). Assim, as
recomendações do projeto SENIAM são um referencial para o correto posicionamento dos
eletrodos de superfície.

Em relação ao posicionamento dos eletrodos, os membros do SENIAM recomendam


que alguns cuidados devam ser tomados para a diminuição da influência da impedância da
pele, na preparação da pele. Antes da colocação dos eletrodos é preciso realizar a limpeza
da pele (retirada da oleosidade e sujeira), e/ou remoção dos pelos (tricotomia) e leve
abrasão para a remoção das células mortas da pele. O SENIAM sugere que o eletrodo deve
ser alinhado no sentido das fibras musculares, já que a trajetória do potencial de ação segue
o mesmo sentido, e que seja colocado entre o ponto motor e o tendão distal do músculo
avaliado. O eletrodo é posicionado numa configuração bipolar, na região do ventre
muscular do músculo escolhido, disposto longitudinalmente às fibras musculares. Para a
localização da região em que o eletrodo é fixado, e correto posicionamento do mesmo,
deve-se levar em consideração os pontos anatômicos do músculo e deve-se estimular uma
atividade deste músculo, para a palpação e visualização da sua região mais robusta, ou
seja, a linha média do ventre muscular. Isso deve acontecer em todos os músculos a serem
avaliados (RAPOSO; SILVA, 2013).

Além do posicionamento dos eletrodos, existem algumas considerações importantes a


serem feitas com relação à qualidade do sinal, que são: tipo de fibras, diâmetro das fibras,
distância entre as fibras, tipo de tecido entre as fibras, ponto de captação do sinal,
distribuição espacial das unidades motoras, quantidade de unidades motoras recrutadas,

52
posicionamento e propriedades dos eletrodos utilizados para detecção do sinal, dentre
outros. Outro ponto de grande importância seria a presença de ruídos que podem ser
emanados de várias fontes, sendo grande responsável por deterioração nas características
do sinal. A influência dos ruídos no sinal eletromiográfico e as fontes que o geram serão
abordados na seção 2.5 deste capítulo.

2.4.2 Amplificação do Sinal

Em função da baixa amplitude do sinal eletromiográfico durante a aquisição, faz-se


necessário amplificar o sinal mioelétrico coletado para posterior processamento. Vários
fatores no amplificador são de grande importância, como o ganho (quantidade de
amplificação aplicada ao sinal, relação Vout/Vin), a largura de banda (região de frequências
de trabalho), a relação sinal-ruído e o índice de rejeição do modo comum (FORTI, 2005;
MARCHETTI; DUARTE, 2006).

O ganho é definido como a razão entre a voltagem que entra e a que sai do
amplificador; deve adequar-se à características da experiência, dos músculos estudados, do
tipo de eletrodo e da utilização futura do sinal amplificado. Considerado que o sinal de
EMG apresenta, na contração voluntária máxima, uma amplitude que não excede os 5 mV
pico a pico, o ganho deve ser ajustável entre 10 e 1000 vezes. Deve-se tomar cuidado para
que o ganho escolhido não exceda a voltagem esperada em nenhuma etapa do sistema, sob
risco de perda de parte da informação ou de danos ao próprio sistema (AMORIM, 2009).

O tipo de amplificador habitual utilizado na amplificação do sinal de EMG é o


amplificador diferencial (Figura 2.13), que pode amplificar linearmente o sinal de EMG
sem amplificar o ruído ou erro no sinal (HAMILL; KNUTZEN, 2008).

Figura 2.13: Amplificador diferencial (MALVINO; BATES, 2011).

53
Um amplificador diferencial é aquele que responde à diferença entre dois sinais
aplicados em suas entradas e idealmente rejeita sinais que são comuns às suas duas
entradas. A eficácia de um amplificador diferencial é medida pelo grau de sua rejeição a
sinais de modo comum em detrimento a sinais diferenciais. Isso é normalmente
quantificado por uma medida conhecida como razão de rejeição de modo comum (CMRR,
do inglês, common mode rejection ratio) (SEDRA; SMITH, 2007).

O amplificador diferencial é frequentemente usado em aplicações nas quais o sinal de


entrada diferencial é uma pequena tensão (milivolts) e o sinal de entrada em modo comum
é uma tensão grande (volts). Como resultado, o CMRR do circuito torna-se um parâmetro
crítico (MALVINO; BATES, 2011). O sinal de modo comum é aquele detectado em
ambos os eletrodos, tais como interferências da rede elétrica, músculos distantes ou
batimentos cardíacos, considerados ruídos. Quanto mais alta a CMRR, melhor o
cancelamento do sinal de modo comum (MARCHETTI; DUARTE, 2006), ou seja, melhor
será a capacidade do amplificador de rejeitar sinais de ruído.

No entanto, o amplificador diferencial básico apresenta algumas desvantagens, como


por exemplo, sua baixa resistência de entrada, o que o limita em algumas aplicações. Para
contornar essas dificuldades, alguns circuitos foram propostos, como é o caso do
amplificador de instrumentação.

O amplificador de instrumentação ou instrumentation amplifier (INA), é um dos mais


úteis, precisos e versáteis amplificadores disponíveis hoje, sendo utilizado para medição,
instrumentação, controle e aquisição de dados (COUGHLIN; DRISCOLL, 2001). É um
tipo específico de amplificador operacional, cuja função é realizar a diferenciação entre um
par de entradas que é direcionado a uma única saída que opera de acordo com a referência
(RIBAS, 2015).

É projetado com vários amplificadores operacionais e resistores de precisão, o que


torna o circuito extremamente estável e útil em aplicações em que a precisão é importante.
O INA é construído a partir de três amplificadores operacionais e sete resistores,
caracterizado pela ligação de um amplificador buffer a um amplificador diferencial básico
(COUGHLIN; DRISCOLL, 2001), conforme pode ser obervado na Figura 2.13.

O primeiro estágio (o pré-amplificador) consiste em dois seguidores de tensão que


isolam (função buffer) as entradas, o que causa um aumento da impedância de entrada. O
ganho de tensão do primeiro estágio é unitário tanto para o sinal de entrada diferencial

54
quanto para o sinal em modo comum. Portanto, o segundo estágio (o amplificador
diferencial) ainda tem de fornecer todo o CMRR do circuito (MALVINO; BATES, 2011).

Diferentemente de um amplificador operacional (AMP-OP) comum, que pode realizar


diversas funções através da combinação de vários componentes, no INA somente é
possível ajustar o ganho através de um resistor, Rg ilustrado na Figura 2.14, ou alguma
ligação entre seus pinos (RIBAS, 2015).

Figura 2.14: Amplificador de instrumentação (INA) (PERTENCE JR., 2015).

A grande diferença entre o INA e um AMP-OP simples está na alta precisão e ganho
em corrente contínua (CC) mesmo em algum ambiente ruidoso, geralmente causados pela
frequência de corrente alternada (CA) da rede elétrica. Essa característica do INA é
decorrente do seu alto índice de rejeição em como comum (CMRR), que muitas vezes é
ajustado de maneira proporcional ao ganho, eliminando parte dos ruídos indesejáveis.
Outra característica é referente à alta impedância de entrada, cerca de 109 ohms, tornando-
se ideal para a medida de sinais de baixa tensão, como os sinais biológicos (RIBAS, 2015).

A impedância na junção da pele e superfície de detecção pode variar desde vários


milhares de ohms para vários megaohms para a pele seca. A fim de evitar a atenuação e a
distorção do sinal detectado, devido aos efeitos de carga de entrada, a impedância de
entrada do amplificador diferencial deve ser tão grande quanto possível, sem causar
complicações auxiliares para o funcionamento do amplificador diferencial. Além da

55
magnitude da impedância de entrada, o equilíbrio entre as impedâncias dos dois locais de
detecção também é de grande importância (DE LUCA, 2002).

Lamontagne (2001, p. 34) traz algumas especificações mínimas recomendadas para


amplificadores de EMGS. Essas informações são apresentadas na Tabela 2.1.

Tabela 2.1: Requisitos mínimos para amplificador de EMG de superfície.


Variáveis Requisitos mínimos
> 1010 at DCa,b
> 108 at 100 Hz
Impedância de entrada
> 106 c
> 1012 d
> 80 dBa,b
CMRR
> 90 dBc
Ganho do amplificador 200 – 10.000a,b,c
1 – 3000 Hza
Reposta em frequência 1 – 1000 Hzb
1 – 500 Hzd
Ruído < 5µV RMS com resistência 100 kΩ a
a
Recomendado por ISEK
b
Recomendado por Winter (1990)
c
Recomendado por De Luca (1993)
d
Recomendado por Lamontagne (1992)

(Modificado de LAMONTAGNE, 2001).

2.4.3 Filtragem

Durante o processo de aquisição, o sinal eletromiográfico pode ser contaminado por


ruídos, que afetam a qualidade do sinal captado. Por este motivo, o sinal deve ser
devidamente filtrado, mesmo após a amplificação diferencial (JAMAL, 2012). A filtragem
do sinal eletromiográfico pode reduzir certos sinais elétricos interferentes, restringindo a
amplitude da frequência da EMG registrada (NEUMANN, 2011).

Um filtro, que é um dispositivo designado para atenuar variações específicas de


frequências, permite a passagem de uma faixa de frequências enquanto rejeita outra. Os
filtros podem separar os sinais desejados dos indesejados, bloquear sinais de interferência,
além de melhorar e modificar certos sinais (MALVINO; BATES, 2011; MARCHETTI;
DUARTE, 2006).

56
As frequências de ruído que contaminam o sinal eletromiográfico podem ser tanto
altas quanto baixas. O ruído de baixa frequência, que pode ser provocado pelo offset do
amplificador, pelo movimento do sensor sobre a pele e pelas flutuações de temperatura,
por exemplo, pode ser removido utilizando-se um filtro passa alta. Já o ruído de alta
frequência, que pode ser causado pela condução nervosa e pela interferência de altas
frequências de sistemas de radiodifusão, computadores, telefones celulares, etc., pode ser
removido utilizando-se filtro passa baixa (JAMAL, 2012).

Assim, há dois filtros básicos que podem ser aplicados em sinais eletromiográficos, o
filtro passa alta, que deixa passar as frequências mais altas e atenua as frequências mais
baixas, e o filtro passa baixa, que deixa passar as frequências mais baixas e atenua os sinais
de frequência mais elevada (MOTION LAB SYSTEMS, 2009).

O sinal captado pode ser filtrado por hardware ou por software. A filtragem por
hardware é feita na etapa de amplificação e a por software, durante seu processamento
(AMORIM, 2009).

Dessa forma, os filtros podem, ainda, ser analógicos ou digitais. Os analógicos são
baratos, rápidos, possuem grande variação dinâmica em amplitude e frequências, e são
relacionados ao condicionamento do sinal. São caracterizados por circuitos eletrônicos e
seus componentes fundamentais são os resistores, capacitores e indutores (filtros passivos).
O uso adicional de amplificadores (filtros ativos) é utilizado comumente para aumentar o
desempenho dos filtros. Entretanto, os filtros digitais são superiores em seu nível de
desempenho e muito requisitados para a análise dos dados após sua digitalização. Na
prática, frequentemente são utilizados diferentes tipos de filtros, alguns envolvidos com o
próprio condicionamento do sinal (antes de qualquer digitalização), implicando o uso de
filtros analógicos; e outros necessários para a análise dos dados já digitalizados,
implicando o uso de filtros digitais (MARCHETTI; DUARTE, 2006).

Em relação à utilização de filtros analógicos para o condicionamento do sinal


eletromiográfico, as recomendações do SENIAM relacionam o tipo de filtro a ser utilizado
à frequência a ser atenuada. Para a EMGS, no filtro passa baixa, a frequência de corte é
usualmente próxima de 500 Hz, sendo aplicado para promover uma atenuação dos
componentes de frequências de ruído; já no filtro passa alta, a frequência de corte é de 10 a
20 Hz, para a análise do movimento. Estes componentes de baixa frequência podem ser
causados por artefatos de movimento e instabilidade na interface pele-eletrodo, sendo que

57
estes sinais indesejados estão usualmente em frequências de 0 a 20 Hz (FORTI, 2005;
MARCHETTI; DUARTE, 2006).

Assim, o filtro para EMG deve ser projetado levando-se em consideração a maior
energia do sinal, que está compreendida na faixa de 20 a 500 Hz. Além de limitar a faixa
para análise, o filtro tem ainda o papel de eliminar ruídos e evitar o efeito aliasing,
fenômeno que aparece quando a frequência de amostragem não é suficientemente grande
(BARROS, 2005).

Alguns condicionadores utilizam filtros do tipo notch, que são capazes de rejeitar uma
faixa de frequência. Esses são empregados para a retirada da frequência advinda da rede
elétrica (50 ou 60 Hz). Contudo, há grandes perdas de sinal de EMG pela eliminação de
frequências vizinhas da faixa de rejeição (TOMÉ, 2015).

Para o condicionamento dos sinais eletromiográficos, utilizam-se com maior


frequência certos tipos de filtros, podendo-se citar os filtros de Butterworth, Chebyshev e
Bessel. Geralmente são utilizados filtros de ordem superior. A ordem de um filtro exprime
a complexidade do mesmo e se define pelo número de componentes reativos que ele possui
em seu circuito tais como capacitores e indutores; e define o rigor do mesmo, que é
caracterizado pela sua banda de transição. Os filtros de ordem superior possuem uma ação
mais rígida em rejeitar ou deixar passar os sinais desejados. Um filtro de primeira ordem
atenua bandas de transição com valores de sinal de entrada de 20 dB/década, enquanto que
um filtro de segunda ordem atenua 40 dB/década (MARCHETTI; DUARTE, 2006).

Neste trabalho, no entanto, não foram utilizados filtros de ordem superior. Os filtros
utilizados são de primeira ordem. Essa escolha é justificada pelo uso de um filtro físico,
biomecânico, constituído por uma malha derivada de biomaterial látex, na fase de
aquisição do sinal de EMGS. Assim, os filtros utilizados são os filtros ativos passa alta e
passa baixa básicos, de primeira ordem.

O filtro ativo do tipo passa baixa, que tem a função de atenuar os sinais de alta
frequência, em uma de suas configurações mais simples (primeira ordem), é possível de ser
projetado utilizando um AMP-OP, dois resistores e um capacitor, conforme pode ser
observado na Figura 2.15. O filtro ativo do tipo passa alta de primeira ordem (Figura 2.16),
que atua de forma a atenuar as frequências mais baixas, assim como o passa baixa de
primeira ordem, é construído apenas por um AMP-OP, dois resistores e um capacitor,
porém com disposição diferente (RIBAS, 2015).

58
Figura 2.15: Filtro passa baixa de primeira ordem (RIBAS, 2015).

Figura 2.16: Filtro passa alta de primeira ordem (RIBAS, 2015).

Para esses filtros, calcula-se o ganho da saída pela equação 2.2 e a frequência de corte
pela equação 2.3 (RIBAS, 2015):

(2.2)

(2.3)

onde A representa o ganho de saída, e wc a frequência de corte.

2.4.4 Frequência de Amostragem

A frequência de amostragem refere-se ao número de pontos registrados por segundo.


Quanto maior for a frequência de amostragem, maior a quantidade de informação e melhor
a representação do sinal (FORTI, 2005).

59
Sob certas condições, um sinal de tempo contínuo (analógico) pode ser completamente
representado por seus valores ou amostras uniformemente espaçadas no tempo. Essa
propriedade vem de um resultado básico que é conhecido como teorema da amostragem. O
conceito de amostragem estabelece que um sinal de tempo contínuo pode ser representado
por uma sequência de amostras uniformemente espaçadas. Se um sinal é subamostrado (ou
seja, a frequência de amostragem é menor que aquela exigida pelo teorema de
amostragem), então o sinal reconstruído estará relacionado ao sinal original por meio de
uma forma de distorção conhecida como aliasing (OPPENHEIM; WILLSKY, 2010).

A definição da frequência de amostragem possui um papel crítico para a correta


reprodução digital do sinal de EMG analógico. Um sinal analógico, reproduzido
digitalmente com uma baixa frequência de amostragem, pode não conter todas as
informações relevantes (MARCHETTI; DUARTE, 2006).

O teorema de Nyqüist propõe que para a correta reconstrução digital do sinal de EMG,
sem aliasing, deve-se utilizar uma frequência de amostragem de, no mínimo, o dobro de
sua maior frequência. Como o sinal de EMG pode ter frequências de até cerca de 400 a 500
Hz, portanto, considera-se como frequência de amostragem mínima para o sinal de EMG
frequências da ordem de 1 kHz ou mais (MARCHETTI; DUARTE, 2006). No entanto, na
prática, é recomendada uma frequência de pelo menos 4 vezes a frequência do sinal
capturado (FORTI, 2005).

2.4.5 Conversão Analógico/Digital

O processo de digitalização de um sinal de EMG analógico é realizado por


conversores analógico/digital (A/D). O conversor transforma um sinal analógico em dado
digital, sendo que as grandezas analógicas são aquelas cujas medidas podem assumir uma
infinidade de valores, e os dados digitais são caracterizados por assumir uma quantidade
finita de valores discretos. Estes dispositivos são componentes comuns dos equipamentos
eletrônicos e são utilizados para capturas sinais analógicos e expressar a informação em
formato digital. Uma vez digitalizada, a informação pode ser processada por um software,
por exemplo, para alcançar objetivos específicos (AMORIM, 2009; MARCHETTI;
DUARTE, 2006).

O processo de conversão A/D implica a quantificação, em segmentos discretos, do


sinal analógico (sinal contínuo). O número de níveis de quantificação é dado por 2N em que

60
N é o número de bits da saída digital. Geralmente são usados conversores de 8, 12 e 16 bits
(LOPES, 2014; MARCHETTI; DUARTE, 2006).

A resolução é o termo usado para descrever a tensão mínima que um conversor A/D
consegue distinguir. Num conversor com N bits o incremento mínimo de tensão detectável
à entrada é dado pela equação 2.4 (LOPES, 2014):

(2.4)

onde:
Vref = tensão de referência do conversor A/D;
N = número de bits do conversor.

A faixa de entrada é um parâmetro associado à resolução do sinal e informa a faixa de


tensões que a placa conversora A/D consegue representar numericamente (AMORIM,
2009).

2.4.6 Análise de sinais de EMG

O sinal eletromiográfico registrado através de um sistema de aquisição apropriado é


processado posteriormente para a extração das variáveis a serem analisadas no domínio do
tempo ou no domínio da frequência (ALVIM, 2012).

2.4.6.1 Parâmetros no domínio do tempo

Algumas das primeiras técnicas para avaliação do sinal de EMGS envolviam a


medição da amplitude pico a pico e a contagem manual do número de picos que
ultrapassavam um determinado valor, a partir de um registro em papel. Com os avanços
tecnológicos, outros métodos mais modernos puderam ser desenvolvidos. Atualmente, os
parâmetros no domínio do tempo mais utilizados são o valor médio do sinal retificado
(ARV, do inglês Average Rectified Value) e o valor da raiz média quadrática (valor RMS,
do inglês Root Mean Square) (ALMEIDA, 2010).

Os avanços obtidos nos dispositivos eletrônicos durante as últimas décadas tem


tornado possível calcular convenientemente e com precisão os valores RMS e ARV do
sinal de EMG. O valor ARV é semelhante ao valor retificado integrado, se os cálculos

61
forem feitos corretamente e com precisão. Ambas estas variáveis proporcionam uma
medição da área sob o sinal, mas não tem um significado físico específico. Por outro lado,
o valor RMS é uma medida da potência do sinal, assim, ele tem um significado físico
claro. Por esse motivo, o valor RMS é preferível para a maioria das aplicações (DE LUCA,
2002).

Para calcular o valor RMS, que resulta em um valor associado à potência do sinal no
intervalo analisado, realiza-se a soma de todas as amostras do sinal da EMGS elevadas à
segunda potência. Esse somatório é dividido pelo número total de amostras e extrai-se a
raiz quadrada do quociente obtido. Já o ARV consiste no somatório do sinal retificado em
um intervalo de tempo, dividido pelo tamanho do intervalo. As equações 2.5 e 2.6 mostram
como encontrar essas estimações de amplitude do sinal de EMGS (ALMEIDA, 2010;
TELES, 2015).

(2.5)

(2.6)

onde xi é o sinal de EMGS amostrado e N é o número de amostras do trecho considerado


na análise (ALMEIDA, 2010).

Apesar de essas ferramentas matemáticas serem similares e permitirem inferências


sobre o nível de ativação muscular e/ou associações entre a amplitude do sinal e valências
físicas, o valor RMS é consagrado na literatura e consistente em demonstrar linearidade
tanto para contrações dinâmicas quanto isométricas quanto a amplitude do sinal
eletromiográfico (TELES, 2015).

2.4.6.2 Parâmetros no domínio da frequência

Na análise no domínio da frequência as informações são processadas por softwares


para observar os conteúdos de frequências advindos do sinal de EMG (TOMÉ, 2015).

Os estimadores de frequência mais comumente utilizados para o sinal de EMGS são a


frequência de potência média (FPM) e frequência de potência mediana (FPMd). Os

62
parâmetros de frequência do sinal de EMGS são utilizados para descrever fenômenos
fisiológicos como fadiga e patologias neuromusculares. Normalmente, utiliza-se o
estimador de FPMd por ser menos sensível à ruído e mais sensível à fadiga, o que é
desejado em vários estudos (ALMEIDA, 2010; TELES, 2015). É apresentado o cálculo da
FPM e da FPMd nas equações 2.7 e 2.8 respectivamente (TOMÉ, 2015):

(2.7)

(2.8)

onde fs é a frequência de amostragem, Pi é a i-ésima linha de potência do espectro, fi é a i-


ésima frequência considerada, fmediana é a frequência de potência mediana (FPMd) e M é o
maior harmônico considerado (TOMÉ, 2015).

Tem-se, assim, uma representação do sinal de EMGS em um espectro de frequências,


onde o conteúdo do sinal é representado como um histograma e normalmente utilizando a
transformada rápida de Fourier (FFT, do inglês fast Fourier transform) (TELES, 2015).
Geralmente, a análise de frequência envolve a determinação do espectro de frequências via
FFT, e então pode-se obter a análise de densidade espectral de energia (PSD, do inglês
power spectral density). A PSD pode ser utilizada para calcular as frequências médias e
medianas e o comprimento de banda do sinal eletromiográfico. Técnicas de análise
espectral são frequentemente utilizadas para descrever as características das frequências do
sinal eletromiográfico. Para sinais de EMGS, as frequências do espectro possuem uma
média de aproximadamente 120 Hz, e um valor da mediana em torno de 100 Hz
(MARCHETTI; DUARTE, 2006).

A PSD tem como função descrever como a variância de um processo aleatório está
distribuída em relação às suas frequências, onde a área sob a curva representa a energia ou
potencia do sinal (AMABILE, 2008). Na Figura 2.17 é apresentado um gráfico

63
representativo do PSD de um sinal de EMGS. Neste gráfico, observa-se que a maior parte
da energia do sinal está entre 75 Hz e 150 Hz.

Figura 2.17: Gráfico representativo do PSD de um sinal eletromiográfico de superfície


(MARCHETTI; DUARTE, 2006).

2.5 SINAL DE EMGS E RUÍDOS

A eletromiografia de superfície (EMGS) é uma técnica não invasiva utilizada para


medir e avaliar a atividade elétrica dos músculos esqueléticos (RIILLO et al., 2014). Na
EMGS, o sinal captado é o somatório dos potenciais de ação das fibras musculares
localizadas sob os eletrodos fixados na superfície da pele do indivíduo (DE LUCA, 1979).

A EMGS é o método mais comum de registro da atividade elétrica dos músculos. Em


comparação com eletrodos intramusculares, os eletrodos de superfície são mais
convenientes e não invasivos; por conseguinte, a EMGS é a técnica de escolha para a
grande maioria dos músculos superficiais (WINTER; FUGLEVAND; ARCHER, 1994).
No entanto, a EMGS apresenta algumas limitações, pois os eletrodos não detectam sinais
de músculos profundos e nem seletivamente de músculos pequenos, sendo que neste caso
os sinais dos músculos adjacentes também são detectados (FREITAS, 2015).

Vários fatores podem afetar as características do sinal de EMGS. Dentre elas podemos
citar o diâmetro e o número de fibras musculares, o tecido e a interface pele-eletrodo, o

64
condicionamento do sinal, o número de unidades motoras ativas, a distância entre a
superfície da pele e as fibras musculares, a velocidade de condução, o fluxo sanguíneo no
músculo, a distância intereletrodos, a relação tipo de fibra e sua localização e a taxa de
disparo das unidades motoras. Estes fatores são apresentados de forma esquemática na
Figura 2.18 (ALMEIDA, 2010).

Figura 2.18: Alguns elementos que influenciam o sinal de EMGS: (1) o diâmetro da fibra
muscular, (2) o número de fibras musculares, (3) a interface pele-eletrodo, (4) o
condicionamento do sinal, (5) o número de unidades motoras ativas, (6) o tecido, (7) a
distância entre a superfície da pele e as fibras musculares, (8) a velocidade de condução,
(9) o fluxo sanguíneo no músculo, (10) a distância intereletrodos, (11) a relação tipo de
fibra e sua localização, (12) taxa de disparo das unidades motoras (ALMEIDA, 2010).

A identidade de um sinal de EMGS que se origina no músculo pode ser perdida devido
a uma mistura de diferentes sinais de ruído ou artefatos, que podem ser encontrados no
sinal de EMGS, e podem ter um efeito sobre o resultado de extração de características e,
consequentemente, afetar o diagnóstico dos sinais (CHOWDHURY et al., 2013). Um certo
número de fontes de ruído podem contaminar a gravação de sinais eletromiográficos e não
são reconhecidos facilmente por inspeção visual. Estas fontes podem distorcer o sinal e
podem levar a erros na interpretação do sinal eletromiográfico utilizado para investigação
da atividade muscular (DELSYS, 2016).

Quando o sinal eletromiográfico é detectado e registrado, existem duas questões


importantes referentes à sua fidelidade. A primeira é a relação sinal/ruído, ou seja, a
relação entre a energia do sinal eletromiográfico e a energia do sinal de ruído. Ruído são
sinais elétricos que não pertencem ao sinal eletromiográfico procurado. A segunda questão

65
é a distorção do sinal, o que significa que a contribuição relativa de qualquer componente
de frequência no sinal eletromiográfico é alterada (AMORIM, 2009).

Muitos fatores podem afetar a qualidade do sinal eletromiográfico. Em geral, esses


fatores podem ser divididos em fisiológicos, físicos e elétricos e em fatores intrínsecos e
extrínsecos. Os fatores intrínsecos, em geral, são caracterizados por fatores fisiológicos,
como a forma, o diâmetro e a geometria das fibras musculares, as características das
unidades motoras, o número de unidades motoras ativas, a velocidade de condução, as
características do tecido do indivíduo (gordura corporal, temperatura corporal, fluxo
sanguíneo muscular) e entre outros. Já os fatores extrínsecos estão relacionados, em geral,
com fatores físicos e elétricos, como a estrutura, localização e orientação dos eletrodos,
distância intereletrodos, o ruído da fonte de alimentação, artefatos de movimento dos
cabos, entre outros (CORREA; COSTA; PINTO, 2012; DE LUCA et al., 2010;
LAMONTAGNE, 2001).

O ruído pode, assim, emanar de várias fontes, como de componentes eletrônicos de


detecção e equipamentos de registro; ruído ambiente; artefatos de movimento (interface
entre a superfície de detecção do eletrodo e a pele, e movimento do cabo de conexão dos
eletrodos com o amplificador); instabilidade referente ao sinal (a amplitude do sinal
eletromiográfico é quase aleatória na natureza), entre outros (AMORIM, 2009). A seguir
são descritas as principais fontes de ruído que afetam a qualidade do sinal de EMGS e que
podem gerar interpretações errôneas do mesmo.

2.5.1 Ruído interno

Fatores anatômicos, bioquímicos e fisiológicos ocorrem devido ao número de fibras


musculares por unidade, profundidade e localização de fibras ativas, e quantidade de
tecido. Esses fatores são chamados de ruído interno e afetam diretamente a qualidade do
sinal eletromiográfico. Os efeitos capacitivos também agem como um ruído interno para
um sinal de EMG. A quantidade de tecido entre os músculos e os eletrodos, juntamente
com a sua espessura, afeta a amplitude do sinal de EMG. Estudos mostraram que, se a
espessura do tecido subcutâneo entre o eletrodo de superfície e os músculos ativos
aumenta, então a atividade eletromiográfica diminui. A quantidade de excesso de gordura
corporal é considerada um ruído interno para EMG, pois aumenta a separação entra as

66
fibras musculares ativas e os locais de detecção. Esses efeitos podem ser parcialmente
reduzidos pelo uso de filtros espaciais passa alta (CHOWDHURY et al., 2013).

2.5.2 Instabilidade inerente do sinal

A amplitude do sinal de EMG é quase aleatória na natureza. Os componentes de


frequência entre 0 e 20 Hz são particularmente instáveis, porque são afetadas pela natureza
quase aleatória da taxa de disparo das unidades motoras que, na maioria das condições, são
ativadas nessa região de frequência. Por causa da natureza instável destes componentes é
aconselhável considerá-los como ruído indesejado e removê-los do sinal (DE LUCA,
2002).

2.5.3 Crosstalk

Algumas parcelas do sinal eletromiográfico podem não ser provenientes do músculo


de interesse. Músculos vizinhos podem produzir uma quantidade significativa de EMG que
é detectado pela região de detecção dos eletrodos. Esse sinal de EMG indesejado,
proveniente de músculos vizinhos é chamado de “crosstalk”. Esses sinais de crosstalk
contaminam o sinal, sobrepondo-se ao sinal eletromiográfico do músculo de interesse, e
sua presença distorce a amplitude e temporização dos dados de EMG, podendo causar uma
interpretação incorreta da informação do sinal. Crosstalk depende de fatores fisiológicos e
pode ser minimizado escolhendo o tamanho do eletrodo e as distâncias intereletrodos
cuidadosamente (CHOWDHURY et al., 2013; DELSYS, 2016; KONRAD, 2005).

2.5.4 Artefatos de eletrocardiograma (ECG)

A atividade cardíaca (artefato ECG) muitas vezes contamina os sinais de EMG,


especialmente em registros eletromiográficos de músculos do tronco. Para a eliminação
dos efeitos provocados por esse artefato, filtros passa alta podem ser utilizados
(CHOWDHURY et al., 2013).

2.5.5 Ruído inerente aos componentes eletrônicos

Todos os equipamentos eletrônicos geram ruído elétrico. O ruído gerado pela


eletrônica do sistema de amplificação pode ser denominado ruído térmico. Este ruído tem

67
componentes de frequência que variam de 0 Hz a vários milhares de Hz. Este ruído pode
ser reduzido pelo uso de componentes eletrônicos de alta qualidade, pelo projeto de
circuitos inteligentes e técnicas de construção (DE LUCA, 2002; DE LUCA et al., 2010).

2.5.6 Ruído ambiente (ruído eletromagnético)

Este ruído provém de fontes de radiação eletromagnética, como transmissão de rádio e


televisão, fios de energia elétrica, lâmpadas fluorescentes, etc. O corpo humano comporta-
se como uma antena – a superfície do corpo é continuamente inundada com radiação
elétrica e magnética, que é a fonte do ruído eletromagnético. A preocupação dominante
para o ruído ambiente surge a partir da radiação de 60 Hz (ou 50 Hz) a partir de fontes de
energia. O sinal de ruído ambiente pode ter uma amplitude que é de um a três ordens de
magnitude maior do que o sinal de EMG (CHOWDHURY et al., 2013; DE LUCA, 2002).
Filtros notch podem ser utilizados para a retirada da frequência advinda da rede elétrica (50
ou 60 Hz). Contudo, há grandes perdas de sinal de EMG pela eliminação de frequências
vizinhas da faixa de rejeição (TOMÉ, 2015).

2.5.7 Ruído eletroquímico

O ruído eletroquímico é originado na interface pele-eletrodo (DE LUCA et al., 2010).


No processo de gravação de sinais biomédicos, um componente significativo de ruído é
introduzido pelo eletrodo, e com isso, a resolução de um sistema de gravação de
biopotencial é limitada pelo ruído dos eletrodos (HUIGEN, 2001; HUIGEN; PEPER;
GRIMBERGEN, 2002).

O eletrodo é um condutor, sendo aplicado sobre a pele com um eletrólito. É papel do


eletrodo reproduzir fielmente as diferenças de potencial na superfície do corpo. Dentro do
corpo humano, correntes elétricas são transportadas por íons e o eletrodo, sendo um
transdutor, tem que conduzir este fluxo de íons em um fluxo de elétrons em seus fios
metálicos. Devido à interação entre o eletrólito e a pele, a pele é, de fato, parte do
transdutor, o que complica o estudo da produção de ruído do eletrodo. Observou-se em
alguns estudos que o ruído eletroquímico origina principalmente na interface pele-eletrólito
e que é altamente dependente do gel de eletrodo utilizado e das propriedades da pele do
indivíduo (HUIGEN, 2001; HUIGEN; PEPER; GRIMBERGEN, 2002).

68
A Figura 2.19 mostra uma representação simplificada de dois eletrodos de superfície
que são usados para medir a diferença de potencial na pele. O metal do eletrodo fica em
contato com a pele através de um eletrólito. O eletrólito assegura um contato galvânico
entre o metal e a pele e reduz a impedância das camadas superiores da pele. O eletrólito é
normalmente referido como pasta de eletrodo ou gel (HUIGEN, 2001).

Figura 2.19: Diagrama esquemático de eletrodos colocados sobre a pele (modificado de


HUIGEN, 2001).

Na interface metal-eletrólito, uma transferência de cargas entre íons e elétrons ocorre


no eletrodo, por meio do contato galvânico entre o metal e o eletrólito. Para a medição de
uma diferença de potencial são necessários dois eletrodos. Em princípio, os potenciais de
contato de ambas as interfaces de metal-eletrólito anulam-se mutuamente. No entanto,
instabilidades nos potenciais de contato dos eletrodos, faz surgir ruído na medição.
Algumas pesquisas afirmam que o ruído dos eletrodos depende do metal utilizado, e
indicam que a interface pele-eletrólito contribui para o ruído de eletrodos de superfície. A
interface eletrólito-pele também pode contribuir para a geração deste ruído. Nesta
interface, os íons a partir do corpo e do eletrólito são trocados. Para este fim, eles têm de
ser transportados através da camada exterior da pele, chamada estrato córneo, que é uma
camada seca de células mortas, sendo a principal responsável pela elevada impedância da
pele. Algumas pesquisas verificaram que ferir a pele, por exemplo com lixa fina, e a
utilização de gel, reduz o ruído de eletrodos de superfície, pois reduz a alta impedância da
pele (HUIGEN, 2001).

Quando um eletrodo é colocado sobre a pele, as superfícies de detecção entram em


contato com o eletrólito da pele. A reação química ocorre e requer um certo tempo para
estabilizar, tipicamente na ordem de alguns segundos. No entanto, a reação química deve
permanecer estável durante o período de gravação e não deve alterar significativamente se

69
as características elétricas da pele mudarem pela transpiração ou mudança de umidade (DE
LUCA, 2002).

2.5.8 Artefatos de movimento

O ruído de artefatos de movimento também tem origem na interface pele-eletrodo. Ele


é gerado quando: (a) os músculos se movimentam debaixo da pele, e (b) quando uma força
de impulso viaja através do músculo e da pele subjacente ao sensor causando um
movimento na interface pele-eletrodo (DE LUCA et al., 2010).

Assim, tem-se que os artefatos de movimento são causados pelo movimento relativo
do sensor em relação à pele subjacente sobre o músculo de interesse. Existem duas fontes
principais de artefatos de movimento: uma relacionada à interface entre a superfície de
detecção do eletrodo e a pele (interface pele-eletrodo), e outra relacionada ao movimento
dos cabos de ligação do eletrodo para o amplificador. Quando o músculo é ativado, o
comprimento do músculo diminui e o músculo, a pele e o eletrodo se deslocam um em
relação ao outro. Os sinais elétricos dessas fontes de ruído têm maior parte da sua energia
na gama de frequências de 0 a 20 Hz. Podem ser causados por um impacto direto com o
sensor ou com o corpo, por um movimento rápido do segmento de corpo ao qual o sensor
está ligado, e por alterações do equilíbrio químico da interface pele-eletrodo, devido a
alterações volumétricas durante o encurtamento e alongamento do músculo durante o
processo de contração muscular. Os artefatos de movimento são particularmente
problemáticos durante contrações dinâmicas ou atividades vigorosas (CHOWDHURY et
al., 2013; DE LUCA, 2002; DELSYS, 2016).

Para reduzir esses artefatos, algumas técnicas podem ser utilizadas, como
procedimentos de filtragem, utilizando-se filtros de ordens superiores (como Chebyshev,
por exemplo), e algumas técnicas de processamento (CHOWDHURY et al., 2013).

Neste trabalho, no entanto, é apresentada uma nova técnica para a diminuição destes
ruídos por artefato de movimento: uma filtragem física, biomecânica, baseada em uma
malha derivada de biomaterial látex. Com essa técnica de filtragem física, é possível
diminuir o uso de filtros de ordem superior e de técnicas avançadas de processamento, o
que permite uma diminuição da carga de hardware e de software e possibilita, assim, uma
redução dos custos do sistema.

70
A malha derivada de biomaterial látex é aplicada envolvendo os eletrodos
posicionados no músculo, possibilitando que os mesmos fiquem mais bem fixados e que
não se movimentem em relação à pele caso haja algum impacto.

2.6 BIOMATERIAIS

Existem muitos tipos de materiais com diferentes aplicações. A busca por novos
materiais sintéticos para o tratamento de alterações teciduais incentiva o estudo de uma
técnica apoiada no desenvolvimento tecnológico, ainda pouco explorado, a do biomaterial.
Os biomateriais destacam-se por causa da sua capacidade de se manter em contato com os
tecidos do corpo humano (NASSAR et al., 2011; REIS, 2013).

Um biomaterial pode ser definido como qualquer substância sintética ou natural que
pode ser utilizada como tratamento para substituir parte de um sistema vivo ou para
funcionar em íntimo contato com um tecido vivo (PARK; LAKES, 2007; REIS, 2013).

Os biomateriais têm sido utilizados para diversas aplicações, sendo aplicados como
próteses ósseas, articulações artificiais, próteses de válvulas cardíacas, implantes dentários,
tecido artificial, lentes intraoculares, implantes mamários, entre vários outros (NASSAR et
al., 2011; RATNER et al., 1996).

Há mais de um século, guiados por estudos clínicos e experimentais, os pesquisadores


procuram desenvolver materiais com características adequadas para substituição total ou
parcial dos tecidos biológicos presentes no corpo humano por ocasião de alguma patologia
ou traumatismos diversos, visando assim uma recomposição mais próxima possível da
ideal para anatomia e a função da região comprometida. Os primeiros registros da
utilização de biomateriais datam de 4.000 a.C.; entretanto, o uso desses materiais estavam
fadados ao insucesso, uma vez que eram desconhecidos os conceitos relativos aos
materiais, a infecção e as reações biológicas (SINHORETI; VITTI; SOBRINHO, 2013).

A ciência dos biomateriais tem apresentado grande evolução, graças ao


desenvolvimento científico e tecnológico multidisciplinar de diversas áreas como
Medicina, Odontologia, Biologia, Engenharia, Física e Química. No decorrer das últimas
décadas observa-se um significante aumento na utilização dos biomateriais, justificado
pelo aumento da expectativa de vida da população e, consequentemente, ao elevado índice
de traumas e doenças que demandam a necessidade de se realizar tratamentos cada vez
mais eficazes. Isso tudo está aliado a grande concorrência entre as corporações industriais

71
de inovação tecnológica, principalmente no campo da nanotecnologia, a qual tem
promovido rápido progresso na área de biomateriais, proporcionando o desenvolvimento
de novos materiais e dispositivos para aplicações biomédicas, além de maior conhecimento
sobre a interação entre biomateriais e tecidos biológicos (SINHORETI; VITTI;
SOBRINHO, 2013).

No futuro, espera-se que os biomateriais sejam capazes de melhorar a regeneração de


tecidos naturais, promovendo assim o restabelecimento do comportamento estrutural,
funcional, metabólico e bioquímico, bem como o desempenho biomecânico. A concepção
de materiais novos, de baixo custo, biocompatíveis, é crucial para a melhoria das condições
de vida e bem estar da população, levando-se em consideração o número crescente de
pessoas que precisam de implantes (NASSAR et al., 2011).

Os biomateriais devem apresentar propriedades físicas e biológicas compatíveis com


os tecidos biológicos do hospedeiro, de modo a estimular uma resposta adequada dos
mesmos. Devem apresentar características como biocompatibilidade, não ser tóxico nem
carcinogênico, apresentar bioestabilidade, propriedades mecânicas adequadas, peso e
densidade adequados, ter custo relativamente baixo, ser reprodutível e de fácil fabricação.
Sendo assim, para se utilizar um biomaterial com segurança, o mesmo deve apresentar três
características básicas: (1) biocompatibilidade, não induzindo respostas biológicas
adversas, como reações alérgicas e inflamatórias não toleráveis pelo organismo; (2) alta
osteocondutividade, estimulando o crescimento de células ósseas; e (3) bioatividade, que é
a capacidade do material em se unir com tecido biológico (AGOSTINI, 2009;
SINHORETI; VITTI; SOBRINHO, 2013).

Dentre as características, a biocompatibilidade é uma das mais importantes, pois a


biofuncionalidade do material só poderá se manifestar caso haja biocompatibilidade (REIS,
2013). A biocompatibilidade pode ser caracterizada pela aceitação de um implante
artificial pelo tecido circundante e pelo corpo como um todo. O biomaterial não deve ser
degradado pelo ambiente do organismo (exceto quando esta é sua finalidade), e a sua
presença não deve prejudicar o tecido, os órgãos ou os sistemas. Se o biomaterial se
destina a ser degradado, os produtos de sua degradação não devem prejudicar órgãos e
tecidos (PARK; LAKES, 2007).

Quando um material estranho entra em contato com os fluídos biológicos, respostas de


proteção são desencadeadas e se manifestam como processos inflamatórios ou

72
imunológicos, visando à eliminação do corpo estranho. Portanto, o bom desempenho de
um biomaterial pós-implante está associado a um equilíbrio entre biocompatibilidade e
biofuncionalidade (REIS, 2013).

Assim, a escolha de um material para ser usado como biomaterial depende da análise
de uma série de requisitos que devem ser observados. Nesse sentido, a biocompatibilidade
(efeito do ambiente orgânico no material e efeito do material no organismo), a
biodegradabilidade (fenômeno em que o material é degradado ou solubilizado em fluidos
tissulares, desaparecendo do sítio de implantação), bem como a velocidade de degradação
do material são características desafiadoras para o desenvolvimento e fundamentais para a
escolha de um biomaterial (OLIVEIRA et al., 2010).

Essas propriedades conferem ao biomaterial uma interação benéfica com o organismo


onde é implantado, desde que: (1) o material não desencadeie resposta inflamatória
sustentada ou tóxica na sua implantação in vivo; (2) o tempo de degradação do material
permita a ocorrência do processo de regeneração ou cura do sítio comprometido; (3) o
material apresente propriedades mecânicas adequadas à aplicação para que foi indicado e
que qualquer variação das propriedades mecânicas decorrente da sua degradação in vivo
seja compatível com o processo de regeneração ou restabelecimento do sítio de
implantação; e (4) sua degradação não gere produtos tóxicos e que sejam facilmente
metabolizados e liberados do corpo (OLIVEIRA et al., 2010).

Os biomateriais podem ser classificados de acordo com a sua origem e depende da sua
natureza química, dividindo-se em (i) biomateriais naturais (ou biológicos) que se
subdividem em homólogos (quando originados do próprio indivíduo, como é o caso das
pontes de safena), autólogos (quando originados de outras pessoas) e
heterólogos/xenógenos (quando originados de animais e aproveitados em implantes ou
cirurgias) ou (ii) biomateriais sintéticos que incluem implantes cirúrgicos, e que se dividem
em metálicos (ferrosos e não ferrosos), cerâmicos, polímeros e compósitos. A Tabela 2.2
relaciona algumas aplicações de biomateriais sintéticos. Os biomateriais também podem
ser classificados através da resposta induzida ao meio biológico, podendo ser bioinertes,
bioabsorvíveis e bioativos (AGOSTINI, 2009; SINHORETI; VITTI; SOBRINHO, 2013).

A Tabela 2.2 ilustra a diversidade de tipos e de aplicações dos biomateriais,


reforçando o uso dos mesmos na medicina. Nas últimas décadas, os biomateriais têm
recebido grande atenção, tanto da comunidade científica como tecnológica, os quais vêm

73
sendo empregados em diversos procedimentos relacionados ao tratamento de queimaduras,
restauração de artéria, cicatrização óssea, recuperação de tímpanos, reparo de defeitos
diafragmáticos, entre outras aplicações (RIBEIRO, 2014). Embora os biomateriais sejam
utilizados principalmente na área médica, eles também são utilizados em outras aplicações,
como em laboratórios clínicos, em aplicações biotecnológicas, em aplicações de matrizes
genéticas, entre outros (RATNER et al., 1996).

Tabela 2.2: Aplicações clínicas dos biomateriais.


Biomaterial Vantagens Desvantagens Aplicações
Polímeros Suturas, artérias,
Polietileno veias; maxilofacial
PTFE Elasticidade, fácil Baixa resistência (nariz, orelha,
Poliéster fabricação, baixa mecânica, degradação maxilar, mandíbula,
Poliuretano densidade. dependente do tempo. dente); cimento,
PMMA tendão artificial;
Silicona oftalmologia.
Baixa
biocompatibilidade,
Metais e ligas
Alta força de tensão, corrosão em meio Fixação ortopédica
Aço inoxidável
alta resistência a fisiológico, perda das (parafusos, pinos,
Liga de titânio
desgaste, energia de propriedades placas, fios, hastes);
Liga de cobalto-
deformação alta. mecânicas com implantes dentários.
cromo
tecidos conectivos
moles, alta densidade.
Cerâmicas e vidros
Boa
Alumina Baixa força de Ossos, juntas,
biocompatibilidade,
Zircônia tensão, baixa dentes, válvulas,
resistência à corrosão,
Carbono resistência mecânica, tensões, vasos
inércia, alta
Fosfatos de cálcio baixa elasticidade, sanguíneos e
resistência à
Porcelana alta densidade. traqueias artificiais.
compressão.
Vidros bioativos
Compósitos Válvula cardíaca
Fibra de carbono- artificial (carbono ou
Boa
resina termofixa grafite pirolítico),
biocompatibilidade, Material de
Fibra de carbono- implantes de juntas
inércia, resistência à fabricação
termoplástico de joelho (fibra de
corrosão, alta força de incompatível.
Carbono-carbono carbono reforçada
tensão.
Fosfato de cálcio- com polietileno de
colágeno alta densidade).

(Modificado de KAWACHI et al., 2000).

74
2.7 BIOMATERIAL LÁTEX

O látex de borracha natural é um líquido de aspecto leitoso extraído da seringueira


(Hevea brasiliensis) (REIS, 2013). A borracha natural é um elastômero, ou seja, possui a
habilidade de retornar a sua forma original após ser deformada por tensão, compressão ou
cisalhamento. Devido a sua estrutura molecular única e alta massa molar, a borracha bruta
possui propriedades valiosas de elasticidade, plasticidade, força, durabilidade, resistência à
abrasão e ao impacto, dispersão eficiente de calor, não condutividade elétrica e resistência
à água (SCHLEMMER; ANDREANI; VALADARES, 2014).

A borracha natural é uma matéria-prima agrícola importante, utilizada em indústrias


como a pneumática, a de autopeças, e de produtos bélicos. É utilizada também em artefatos
leves como luvas cirúrgicas, preservativos, chupetas, solados e couro vegetal e,
recentemente, como biomaterial para aplicação médica (DALL’ANTONIA et al., 2006).

O Brasil já foi o maior produtor e exportador do látex de borracha natural do mundo,


uma vez que a seringueira é originária da floresta Amazônica. No final de século XIX
várias sementes foram levadas ao sudeste da Ásia e plantadas para a produção de borracha.
Atualmente, plantações de seringueira são encontradas em muitos países incluindo
Tailândia, Indonésia, Malásia, Índia, China, Vietnã e algumas partes da África. O Brasil
também é produtor de borracha natural, contudo, a produção nacional não é suficiente para
abastecer o mercado interno, sendo o Brasil um importador de borracha desde 1951.
Atualmente, a borracha natural é produzida no país por meio de cultivo de plantas de alta
produtividade, selecionadas e adaptadas também às regiões Sudeste e Centro-Oeste do país
(HERCULANO, 2009; SCHLEMMER; ANDREANI; VALADARES, 2014).

O látex é uma solução coloidal de polímero em meio aquoso, de aspecto leitoso. A


composição química do látex natural fresco é bem complexa. Os principais componentes
são água e hidrocarbonetos. As partículas de borracha (poli-isopreno) encontram-se
dispersas em um meio aquoso. Nesse meio aquoso, a água representa 50 a 70% do
peso/volume. Os hidrocarbonetos compõem aproximadamente 33% da massa do látex e se
apresentam como o polímero cis-1,4-poli-isopreno. A dispersão de látex também pode
conter solutos, tais como eletrólitos, surfactantes e polímeros hidrofílicos (RIBEIRO,
2014; SCHLEMMER; ANDREANI; VALADARES, 2014).

Látices de borracha natural ocorrem em cerca de 200 espécies de plantas, sendo que a
Hevea brasiliensis fornece aproximadamente 99% da produção mundial de borracha

75
natural. O látex acha-se em minúsculos vasos no córtex interno da casca da árvore o qual
fica abaixo do córtex externo. No processo de extração, após a remoção de fatias da casca,
um corte é feito na árvore na camada de tecido do vegetal. O corte é feito da esquerda para
a direita em um ângulo de 30º em meia circunferência ao redor do tronco e no ponto mais
baixo é inserida uma cânula de metal por onde o látex escorre para dentro de pequenos
potes (Figura 2.20). O corte deve ser feito em dias alternados e as incisões devem ser feitas
logo abaixo do corte anterior (HERCULANO, 2009).

Figura 2.20: Processo de extração do látex natural da seringueira (RIBAS, 2015).

As plantações de seringueiras apresentam uma densidade de aproximadamente 450


árvores por hectare e começam a produzir após 7 a 8 anos de plantio. A obtenção de
espécies de alta produtividade é conseguida através de processos de enxertia de borbulhas,
de árvores reconhecidas como de alta produção, em mudas obtidas a partir de sementes;
estas mudas, assim enxertadas, são denominadas clones. Todas as árvores de um mesmo
clone, sob as mesmas condições ambientais, apresentam baixa variabilidade. Outro ponto
importante a considerar no clone é a uniformidade das propriedades do látex. Para
propósitos industriais específicos, ele é mais bem apreciado, considerando essa
uniformidade essencial (AGOSTINI, 2009).

76
Para que a borracha natural possa ter uma aplicação industrial, é necessário que passe
pelo processo de vulcanização. A vulcanização é uma reação química que ocorre na
presença de calor, onde o aditivo químico reage com o elastômero para transformá-lo de
um estado viscoso, pegajoso e com limitadas propriedades mecânicas, num material firme
com resistência à ruptura, maior elasticidade e dureza. É um processo pelo qual um
elastômero, constituído pelo emaranhado de polímeros lineares se transforma em uma rede
tridimensional, mediante a formação de ligações cruzadas, entre agentes químicos e
polímeros, dando, ao artefato acabado, propriedades físico-químicas melhoradas
(RODRIGUES, 2010).

Contudo, a borracha vulcanizada representa um desafio no que diz respeito ao


descarte, pois o seu tempo de degradação no meio ambiente é extremamente longo e sua
queima ao ar livre não deve ser realizada devido à liberação de vapores sulfúricos, que
estão associados à chuva ácida. A borracha natural encontra aplicações em diversos
setores, como o setor de transportes, de consumo, médico e de higiene (SCHLEMMER;
ANDREANI; VALADARES, 2014).

O látex de seringueira tem sido utilizado em diferentes aplicações na área médica. Ele
apresenta importantes propriedades biológicas, tais como: atividade angiogênica,
promoção de adesão celular e formação de matriz celular, atividade neovascular, entre
outras. Essas propriedades aceleram a reparação de tecido e proporcionam sensível
abreviação no tempo de tratamento com substancial vantagem econômica e de qualidade
de vida. O uso do látex também possui a vantagem de menor risco de transmissão de
doenças em relação aos materiais provenientes de tecidos animais (RIBEIRO, 2014).

O látex natural é um material biocompatível com alta resistência mecânica, apresenta


elasticidade, baixo custo e acelera o processo de angiogênese. Uma importante descoberta
para a área de biomateriais aplicados a medicina é que o látex de seringueira tem alta
capacidade angiogênica, além de ser biocompatível a sistemas vivos. Angiogênese é o
processo pelo qual novos vasos sanguíneos são desenvolvidos a partir de vasos pré-
existentes. Na medicina moderna há inúmeros biomateirais com a capacidade de promover
a angiogênese, entre eles podem-se citar cremes que estimulam a cicatrização de feridas,
catéteres para implantes de coração, e malhas sintéticas ou biossintéticas para reparo de
lesões na parede abdominal. Dentre os vários biomateriais com potencial angiogênico os
quais vêm sendo utilizados na medicina hoje em dia, o látex de plantas vêm recebendo
destaque (RIBEIRO, 2014).

77
Muitas pesquisas que utilizaram o látex como implante, em diferentes tecidos, têm
demonstrado resultados satisfatórios, o que motiva a realização de novos trabalhos nesta
área. Na literatura existem muitos estudos sobre o látex com resultados satisfatórios que
permitem a avaliação do seu emprego experimental em diferentes tecidos (REIS, 2013).

Assim, o látex apresenta resultados positivos obtidos a partir de sua utilização como
um biomaterial, apresentando características favoráveis como: a possibilidade de moldar
peças do tamanho e formato desejado, a alta resistência à tração, a alta aderência à
superfície da pele, ser biocompatível, ter o custo reduzido, ser de fácil aquisição e
manipulação, além de não apresentar risco na transmissão de patógenos. Todas essas
características tornaram o látex natural uma grande solução no que se diz respeito a
biomateriais. Dentre as vantagens em sua utilização como biomaterial, podemos citar:
melhoria no processo de cicatrização, indutor da regeneração/neoformação tecidual,
biomembrana, fatores pró antiogênicos, reposição tecidual, aceleração da formação óssea,
entre outros (RIBAS, 2015).

78
3 METODOLOGIA

Neste trabalho é apresentado o desenvolvimento de um sistema de aquisição, exibição


e análise de sinais eletromiográficos de superfície, caracterizado pela utilização de um
filtro biomecânico, derivado de biomaterial látex, aplicado na fase de aquisição do sinal de
EMGS, com o intuito de realizar uma filtragem física no sinal e diminuir, assim, a presença
de ruídos, principalmente de artefatos de movimento e de ruídos eletroquímicos, que
podem afetar a qualidade do sinal captado.

Para esse desenvolvimento, a metodologia utilizada caracteriza-se por três etapas


principais: (i) desenvolvimento do sistema de aquisição, exibição e análise de sinais de
EMGS, caracterizado pela utilização da filtragem física; (ii) coleta de sinais de EMGS
(coleta de dados), com a realização de testes para verificação do funcionamento do sistema
e do desempenho do filtro; e (iii) análise de desempenho da filtragem biomecânica
derivada de biomaterial látex. A seguir é apresentada a metodologia utilizada para o
desenvolvimento de cada etapa.

3.1 SISTEMA DE AQUISIÇÃO, EXIBIÇÃO E ANÁLISE DE SINAIS DE


EMGS COM FILTRAGEM FÍSICA

O sistema de EMGS desenvolvido neste trabalho é composto por três módulos


principais:

(1) Módulo de aquisição do sinal mioelétrico, caracterizado pela utilização de eletrodos de


superfície envoltos em uma malha de biomaterial látex (filtro físico);

(2) Módulo de hardware, responsável pela amplificação, tratamento e armazenamento do


sinal captado; e

(3) Módulo de software, responsável pela exibição gráfica do sinal bioelétrico na tela do
computador, bem como seu processamento e análise.

Nesse sistema, o sinal de EMGS é captado com a utilização de eletrodos de superfície,


sendo estes envolvidos por uma malha fabricada com biomaterial látex. O sinal captado
pelos eletrodos passa, portanto, por uma filtragem física (biomaterial) e é então, enviado
para uma placa eletrônica de aquisição de sinais de EMGS, que amplifica e normaliza o
sinal captado. Em seguida, o sinal é enviado para um hardware microcontrolado,
caracterizado pelo uso da plataforma Arduino Mega, que realiza a digitalização do sinal e o
79
armazena em um cartão de memória, podendo o sinal armazenado ser posteriormente
visualizado em um computador. No computador, o software exibe o sinal de EMGS
armazenado no cartão de memória e analisa alguns parâmetros para a avaliação
eletromiográfica do indivíduo. O esquema apresentado na Figura 3.1 ilustra o sistema
desenvolvido.

Figura 3.1: Esquema geral do sistema desenvolvido neste trabalho.

Esse sistema foi desenvolvido considerando o conceito de baixo custo, e, sendo assim,
a escolha dos materiais utilizados para o desenvolvimento do mesmo seguiu o critério de
redução de blocos funcionais e de componentes, optando-se por componentes acessíveis e
que permitam uma simplificação de hardware e software, sem comprometer a obtenção de
um sinal de qualidade suficiente para atender a demanda necessária.

Essa simplificação é justificada, principalmente, pelo uso da filtragem física na etapa


de aquisição do sistema. A malha derivada de biomaterial látex tem a função de realizar
uma filtragem no sinal captado a fim de diminuir as influências geradas pelos ruídos de
artefatos de movimento e ruídos eletroquímicos, sendo possível diminuir a carga
computacional e dos circuitos eletrônicos que seria utilizada para a redução destes ruídos.

80
O sistema foi desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Engenharia e
Biomaterial (BioEngLab®) da Universidade de Brasília (UnB), com o intuito de
disponibilizar um sistema de aquisição, exibição e análise de sinais de EMGS que possa
ser utilizado por outros pesquisadores e ser aplicado em pesquisas na área biomédica.

3.1.1 Módulo 1: Aquisição

3.1.1.1 Eletrodos

Na etapa de aquisição, o sinal bioelétrico proveniente do músculo é captado com o uso


de eletrodos de superfície passivos, do tipo Beckman (Ag/AgCl). Os eletrodos são de
superfície condutora de Ag/AgCl, possuem superfície adesiva e uma camada de gel
condutor para otimizar a condução elétrica. Os eletrodos são descartáveis e de uso único.
Foram utilizados eletrodos passivos com arranjo no modo bipolar, sendo que dois eletrodos
com um diâmetro de cerca de 8 mm (área interna) são aplicados sobre o músculo com um
afastamento de aproximadamente 1,5 a 2 cm, e um terceiro eletrodo é aplicado num local
eletricamente neutro. A Figura 3.2 ilustra o tipo de eletrodo utilizado neste trabalho.

(A) (B)
Figura 3.2: Eletrodo passivo do tipo Beckman (Ag/AgCl) utilizado para a captação do sinal
mioelétrico neste trabalho. (A) Parte externa do eletrodo, em que o cabo do circuito
eletrônico é conectado à parte metálica do eletrodo; (B) Parte interna do eletrodo, que fica
em contato com a superfície da pele, caracterizada por uma superfície adesiva, pelo
eletrólito (gel) e pelo metal do eletrodo. Caracteriza a interface metal-eletrólito-pele.

81
3.1.1.2 Malha derivada de biomaterial látex

Para garantir redução de interferências não fisiológicas e movimentação dos eletrodos


por conta da transpiração do participante da pesquisa, são utilizadas, na etapa de aquisição
do sistema apresentado neste trabalho, malhas fabricadas de biomaterial látex que são
posicionadas de forma a envolver os eletrodos, esperando-se, assim, reduzir os ruídos por
artefatos de movimento e ruídos eletroquímicos.

Conforme apresentado nas seções 2.6 e 2.7 deste trabalho, a utilização do látex natural
requer o preparo de um composto que garanta à malha características indispensáveis, como
elasticidade, suavidade, impermeabilidade e biocompatibilidade. Para conferir ao produto
tais características, é importante que o látex natural, após ser extraído da seringueira, passe
por alguns processos de preparo do composto, passando por algumas etapas, como
filtragem, diluição, centrifugação e pré-vulcanização, com a adição de agentes
vulcanizantes (como aceleradores à base de óxido de zinco e enxofre).

Neste trabalho, o composto de látex utilizado para a confecção das malhas foi
adquirido no mercado nacional, com base em algumas características-padrão que são
necessárias, tais como quantidade baixa de enxofre e alta viscosidade. O látex adquirido é
da empresa Du Látex e é um composto bi centrifugado e pré-vulcanizado, o que torna o
processo de preparo da malha de látex para este trabalho mais simplificado.

Para a confecção da malha de látex, foram utilizados os seguintes materiais: látex bi


centrifugado e pré-vulcanizado (Du Látex); uma colher de plástico para espalhar o látex;
recipiente de vidro para moldar a malha de látex no tamanho e formato desejados; papel
filme para proteger a malha do contato com o ar; papel toalha e álcool em gel para limpeza
do molde; um copo de 50 ml para medição; tesoura; luva hospitalar para o contato com o
látex; e óculos e máscara hospitalar para proteção.

O recipiente que foi utilizado para moldar o formato da malha de látex é uma placa de
vidro e possui dimensões de 73 cm de comprimento por 43 cm de largura. Essas dimensões
foram definidas para o formato da malha de látex pensando-se na aplicação da mesma. Os
sinais de EMGS coletados neste trabalho são de músculos das pernas e dos braços. Sendo
assim, como a malha de látex deve envolver os eletrodos posicionados sobre a pele do
voluntário, a mesma deve ter um tamanho que permita que o músculo do voluntário seja
envolto pela malha.

82
Na Figura 3.3 é possível observar alguns dos materiais utilizados para a confecção da
malha de látex, podendo-se observar a placa de vidro (7) utilizada como molde para a
confecção da malha de látex.

Figura 3.3: Materiais utilizados para confecção da malha de látex, observando-se a placa
de vidro (7) utilizada como molde para a malha.

Para a confecção da malha, inicialmente deve-se agitar o tubo que contém o látex
natural (2), e retirar uma quantidade de aproximadamente 50 ml de látex do tubo com o
auxílio do copo (4). O látex no copo deve ficar em repouso até que as bolhas de ar que se
formaram com a agitação do látex sejam desfeitas. Enquanto isso deve-se realizar a
limpeza do recipiente (placa de vidro) utilizado para moldar a malha (7). A limpeza do
molde deve ser feita utilizando-se álcool em gel (1), com o auxílio de papel toalha. Após a
limpeza do molde e tendo as bolhas de ar sido desfeitas, deve-se colocar o látex no molde
e, utilizando-se uma colher (5), deve espalhá-lo e deixá-lo uniforme. Dependendo da
espessura desejada para a malha e do tamanho do molde, a quantidade de látex colocado no
molde com o copo deve ser alterada. Neste trabalho, para a confecção de cada malha foram
colocados no molde 5 copos de 50 ml com látex.

83
Após espalhar de forma uniforme o látex no molde, deve-se iniciar o processo de
vulcanização. A vulcanização é uma reação química que ocorre na presença de calor e
permite que o material fique firme, com resistência à ruptura, maior elasticidade e dureza.
Geralmente, utiliza-se uma estufa para realizar este processo. No entanto, como o molde
utilizado tem dimensões maiores que a estufa, utilizou-se o processo de vulcanização ao
ambiente, com temperatura média de 20ºC a 25ºC, pelo processo ter sido realizado durante
a noite. Utilizou-se um ventilador sobre o látex para acelerar o processo de vulcanização.
Após a vulcanização, a malha fica firme e apresenta características elásticas e adesivas,
sendo necessário, após removê-la do molde, cobrir os dois lados da malha com plástico
filme (3) para evitar que alguma região da malha encoste-se a outra, colando
imediatamente. Assim, a malha fica coberta por papel filme até o momento de uso, quando
o papel filme deve ser removido e a malha aplicada na região de interesse. Caso seja
necessário, a malha pode ser cortada para ser utilizada em membros menores. Na Figura
3.4 é ilustrada uma das malhas de látex confeccionadas neste trabalho utilizando-se o
procedimento descrito.

Figura 3.4: Exemplo de malha confeccionada a partir de biomaterial látex, com papel filme
para proteção.

Dadas às características do látex de fácil aquisição e manipulação, e por não apresentar


risco na transmissão de patógenos, justifica-se o uso do látex como biomaterial na
produção de uma malha para envolver os músculos do participante da pesquisa juntamente
com os eletrodos, a fim de reduzir interferências de ruídos eletroquímicos e de artefatos de

84
movimento que poderiam afetar o sinal adquirido. A Figura 3.5 ilustra uma malha de látex
desenvolvida neste trabalho devidamente aplicada sobre os eletrodos de superfície
posicionados sobre o bíceps braquial de uma voluntária.

Figura 3.5: Malha de látex envolvendo os eletrodos de superfície posicionados no bíceps


braquial de voluntária, com o intuito de garantir que não haja movimentação na conexão
entre os cabos e os eletrodos e na interface pele-eletrodo, auxiliando na redução de
interferência causada por artefatos de movimento e por ruídos eletroquímicos.

3.1.2 Módulo 2: Hardware

O módulo de hardware do sistema apresentado neste trabalho engloba dois circuitos:


(a) um circuito eletrônico e (b) um circuito microcontrolado. O sinal de EMGS captado
pelo módulo de aquisição, descrito anteriormente, é enviado para a placa eletrônica de
aquisição de sinais de EMGS (a) e, posteriormente enviado para a placa microcontrolada
(b), sendo que ambas compõem o módulo de Hardware do sistema (módulo 2).

A placa eletrônica de aquisição de sinais de EMGS (a), que integra o módulo de


hardware do sistema, é composta por dois estágios principais: o estágio de amplificação,
caracterizado pelo uso do amplificador de instrumentação INA, e o estágio de filtragem,
caracterizado pelo uso de filtros ativos básicos de primeira ordem (passa alta e passa
baixa), além de estágios de adequação do sinal para a conversão A/D feita na placa
microcontrolada (b).

O sinal resultante do circuito eletrônico (a) é enviado para um canal do conversor


analógico/digital (A/D) da placa microcontrolada (b) que compõem o módulo de hardware
85
do sistema. Esse circuito microcontrolado (b) é caracterizado pelo uso da plataforma
Arduino Mega, que possui 16 canais de conversor A/D, de 10 bits. O sinal analógico
(bioelétrico) que é enviado para o conversor A/D, é convertido em um sinal equivalente
digital para que seja compreendido pelo computador. O sinal digital, resultante da
conversão, é então armazenado em um módulo de cartão de memória compatível com a
placa microcontrolada utilizada, para ser, posteriormente visualizado e/ou analisado no
módulo de software do sistema.

3.1.2.1 Circuito eletrônico

O hardware eletrônico desenvolvido para aquisição do sinal de EMGS consiste em um


circuito que amplifica, filtra e normaliza esse sinal de acordo com as especificações das
entradas analógicas do microcontrolador.

Esse circuito eletrônico, que compõem o módulo de hardware do sistema apresentado


neste trabalho, é apresentado no Anexo B, sendo composto por quatro estágios:

(I) estágio de amplificação diferencial;


(II) estágio de filtragem;
(III) estágio de ganho e
(IV) estágio de ajuste de offset.

A alimentação adotada em todo o circuito é do tipo simétrica, sendo que V -


corresponde a -9 V e V+ corresponde a +9 V.

I. Estágio de amplificação diferencial:

O primeiro estágio desse circuito eletrônico é caracterizado pela amplificação


diferencial do sinal bioelétrico captado pelos eletrodos no módulo de aquisição do sistema.
A aquisição do sinal de EMGS inicia-se pela diferenciação dos sinais capturados pelos
eletrodos posicionados sob a superfície da pele (E1 e E2), sendo E3 o eletrodo de
referência. Para realizar essa diferenciação, utiliza-se um amplificador de instrumentação
(INA, do inglês instrumentation amplifier), o qual produz uma saída com ganho ajustável.

Conforme foi apresentado na seção 2.4.2 desta dissertação, o INA é composto


basicamente por três amplificadores operacionais e sete resistores, caracterizado pela
ligação de um amplificador buffer a um amplificador diferencial básico. A grande

86
diferença entre o INA e um amplificador operacional (AMP-OP) simples está na alta
precisão e no ganho em corrente contínua mesmo em ambientes ruidosos, geralmente
causados pela frequência de corrente alternada da rede elétrica. Essa característica do INA
é decorrente do seu alto índice de rejeição em modo comum (CMRR), que nesse caso é
ajustado de maneira proporcional ao ganho, eliminando grande parte dos ruídos
indesejáveis. Outra característica é referente à alta impedância de entrada, cerca de 10 9 Ω,
o que o torna ideal para a medição de sinais de baixa tensão, como os sinais biológicos
(RIBAS, 2015).

Nesse trabalho, foi utilizado o INA128P, produzido pela Texas Instruments®. Na


Figura 3.6 é apresentado o esquema simplificado desse amplificador e na Figura 3.7 é
apresentado como ele foi implementado nesse primeiro estágio do circuito eletrônico. O
sinal de saída possui ganho que pode ser ajustado pelo usuário através de um resistor,
representado por RG na Figura 3.6 e R1 na Figura 3.7. A determinação do ganho do
amplificador em questão é dada pela equação 3.1. Neste trabalho, foi utilizado um resistor
de 3,3kΩ, o que resultou em um ganho de 16 V/V.

(3.1)

Figura 3.6: Diagrama do amplificador de instrumentação INA128P. Entre os pinos 1 e 8,


ajusta-se o ganho pelo valor do resistor RG. A alimentação simétrica se dá pelos pinos 4 e
7, e a referência pelo pino 5. Os pinos 2 e 3 são as entradas inversora e não inversora
respectivamente, nas quais o par de eletrodos do módulo de aquisição são ligados. No pino
6 tem-se o sinal de saída do circuito integrado (TEXAS INSTRUMENTS, 2015).

87
Figura 3.7: Conexões dos eletrodos (E1 e E2) em relação ao amplificador de
instrumentação (INA128P). O resistor R1 conectado aos pinos 1 e 8 define o ganho da
saída A do amplificador (RIBAS, 2015).

Sobre o CMRR, pode-se afirmar que está acima de 106 dB, pois essa condição
também é descrita no datasheet. A escolha do ganho foi feita de acordo com o valor de
CMRR esperado, pois com esse ganho, o valor do CMRR está de acordo com a aplicação
para EMG. Em teoria, quanto maior o CMRR, maior será a rejeição de ruídos indesejáveis.
Entretanto, quando muito elevado, por volta de 130 dB, torna o circuito muito instável e
susceptível a oscilações por conta da alimentação, e nesse caso foi escolhido um valor não
muito alto para evitar a instabilidade e ainda assim, manter uma boa taxa de rejeição
(RIBAS, 2015).

II. Estágio de filtragem:

O sinal (A) resultante do estágio de amplificação do circuito eletrônico do hardware


do sistema segue para o segundo estágio do circuito eletrônico, o estágio de filtragem,
caracterizado pelo uso de filtros ativos de primeira ordem passa alta e passa baixa. Os
filtros ativos com ganho de tensão foram projetados utilizando-se o AMP-OP TL074, que é
um amplificador bastante comum e de baixo custo. Utilizaram-se filtros do tipo ativo
devido ao isolamento em relação aos outros estágios que essa topologia de filtros permite.

Conforme apresentado na seção 2.4.3 deste trabalho, o filtro passa alta atua de forma a
atenuar as frequências mais baixas, enquanto que o filtro passa baixa tem a função de
atenuar os sinais de alta frequência. Esses filtros ativos, em uma de suas configurações

88
mais simples (primeira ordem), podem ser projetados utilizando um AMP-OP, dois
resistores e um capacitor, diferenciando-se pelas diferentes disposições de seus
componentes.

A Figura 3.8 apresenta o esquemático dos filtros implementados, os quais são ativos,
inversores e de primeira ordem. O sinal amplificado (A) passa pelo filtro passa alta
inversor com ganho de tensão (U2:A), seguido pelo filtro passa baixa inversor com ganho
de tensão (U2:B). De acordo com as equações 2.2 e 2.3, o filtro passa alta foi projetado
com ganho igual a –5 V/V e frequência de corte de 17 Hz, enquanto que o filtro passa
baixa foi projetado com frequência de corte igual a 483 Hz e ganho de –10 V/V. Assim,
nesse estágio de filtragem atenuam-se as frequências que estão abaixo e acima da faixa
entre 17 Hz e 483 Hz (RIBAS, 2015).

Figura 3.8: Esquemático do filtro passa alta com frequência de corte de 17 Hz e do filtro
passa baixa com frequência de corte de 483 Hz. (RIBAS, 2015).

Um fato de primordial importância nesse circuito é a utilização de filtros ativos de


primeira ordem. É comum a utilização de filtros do tipo Butterworth e de ordens superior à
quarta para o processo de filtragem de sinais de EMG. Destaca-se que, com a utilização do
INA128, tornou possível a utilização de filtros considerados mais simples e menos
eficazes, sem haver perda na qualidade do sinal. A escolha dos filtros de primeira ordem
possibilitou ao circuito dimensões menores e custo reduzido.

Essa escolha é justificada, além da utilização do INA128, pelo uso de um filtro físico,
biomecânico, constituído por uma malha derivada de biomaterial látex, na fase de

89
aquisição do sinal de EMGS. Assim, os filtros utilizados são os filtros ativos passa alta e
passa baixa básicos, de primeira ordem.

III. Estágio de ganho:

Além da amplificação dos estágios anteriores, houve a necessidade da adição de mais


ganho ao sinal, de modo a fazer com que o sinal varie com uma amplitude máxima de 5 V.
Nesse caso, esse estágio é composto por um amplificador inversor, tendo seu ganho
calculado pela razão entre as resistências R7 e R6 representadas na Figura 3.9,
proporcionando ganho de –3,4 V/V ao circuito (RIBAS, 2015).

Figura 3.9: Circuito amplificador com ganho e saída invertida, proporcionando em sua
saída um sinal com as características necessárias para a conversão A/D. (RIBAS, 2015).

IV. Estágio de ajuste de offset:

Para que o sinal esteja dentro dos limites das entradas analógicas do microcontrolador,
que é entre 0 e 5 V, foi necessário estabelecer o offset do circuito em 2,5 V. Para isso, foi
utilizado um somador, onde ao sinal de saída do bloco anterior (C), foi somado 2,5 V em
um amplificador também configurado como inversor.

Para obter a tensão de 2,5 V utilizou-se um regulador de tensão 79L05, onde sua
entrada foi proveniente da tensão de -9 V da alimentação do circuito. A saída desse
regulador de tensão fornece tensão igual a -5 V e a partir de um divisor de tensão, foi
possível obter a metade desse valor para o somador. A Figura 3.10 apresenta essa etapa do
circuito eletrônico.

90
Figura 3.10: Circuito para ajuste da tensão de offset. (RIBAS, 2015).

3.1.2.2 Circuito microcontrolado

O hardware microcontrolado deste trabalho é responsável pela conversão do sinal


analógico, proveniente da saída (D) do circuito eletrônico de aquisição do sinal de EMGS,
em um sinal equivalente digital para que possa ser compreendido pelo computador. Além
da conversão A/D do sinal, a placa microcontrolada é responsável também por armazenar
os dados convertidos, utilizando um módulo de cartão de memória compatível com a
plataforma microcontrolada.

A placa microcontrolada escolhida foi a plataforma Arduino Mega 2560 R3,


observando-se sua relação custo/benefício e suas características de sistema open-source. O
Arduino Mega 2560 é uma placa de prototipagem eletrônica baseada no microcontrolador
ATmega2560, fabricado pela Atmel.

O microcontrolador ATmega2560 trabalha internamente com dados digitais, portanto


é necessário traduzir o sinal analógico (sinal de EMGS proveniente da placa eletrônica)
para um valor digital. Esse processo é feito pelo conversor analógico digital, ou conversor
A/D, disponível no microcontrolador. O ATmega2560 possui 16 canais de conversor
analógico digital, que quantificam o valor analógico conforme a quantidade de bits da sua
resolução.

Conforme apresentado na seção 2.4.5, a resolução de um conversor A/D (equação 2.4)


depende da tensão de referência e da quantidade de bits do conversor. O conversor A/D do
microcontrolador ATmega2560 é de 10 bits, caracterizando assim 1024 níveis de
91
conversão (210 – 0 a 1023), e a sua tensão de entrada pode variar de 0 V até o valor de
VCC (+5V). Sendo assim, esse microcontrolador apresenta uma resolução de 4,88 mV,
conforme a equação 3.2:

resolução =5 V / 1024 = 4,88 mV (3.2)

Além da conversão A/D do sinal, a placa microcontrolada que compõe o módulo de


hardware do sistema é responsável por armazenar os dados convertidos utilizando um
módulo de cartão de memória compatível com a plataforma.

O módulo SD utilizado, também conhecido como shield SD, aceita cartões FAT16 ou
FAT32 (File Allocation Table) e utiliza comunicação via SPI (Serial Peripheral Interface),
por meio dos pinos MOSI, SCK, MISO e CS. Para a gravação dos dados no cartão, um
arquivo de texto (do tipo .txt), é criado sempre que uma aquisição é iniciada. Para o uso
desse shield a biblioteca SD.h deve ser incluída no código de controle do microcontrolador.

O esquema de ligação do shield SD à plataforma Arduino Mega pode ser observado no


Apêndice A. O módulo SD utilizado neste trabalho opera com níveis de sinal de 3,3 V e,
por isso, faz-se necessário a utilização de um divisor de tensão nos pinos SCK, MOSI e
CS, uma vez que o Arduino trabalha com 5 V de sinal.

Para se evitar problemas com a frequência de amostragem do sinal, foi necessário a


implementação de um buffer durante o processo de aquisição/gravação do sinal. Com essa
técnica, os dados coletados são armazenados no buffer e somente são gravados no cartão
de memória após o fim da coleta. O sinal salvo no cartão de memória pode,
posteriormente, ser exibido e analisado pelo software do sistema.

Como a placa microcontrolada possui um conversor A/D de 16 canais, o módulo de


hardware do sistema permite que sejam armazenados até 16 sinais de EMGS diferentes.
Para tanto, é necessário que em cada canal do conversor A/D da placa microcontrolada,
esteja ligada uma placa eletrônica (descrita na seção 3.1.2.1). Assim, se houver o interesse
em adquirir 16 sinais de EMGS simultaneamente, é necessário que sejam implementadas
16 placas eletrônicas, e cada uma deve estar ligada em um canal do conversor A/D da
placa microcontrolada.

Dessa forma, o sinal digital salvo no cartão de memória depende da quantidade de


canais selecionados durante a aquisição, e as informações salvas em formato .txt são

92
separadas em colunas, uma para cada canal. No entanto, deve-se observar a relação com a
frequência de amostragem, que pode ser influenciada pela quantidade de canais.

3.1.3 Módulo 3: Software

O módulo de software do sistema apresentado neste trabalho apresenta duas funções


principais: (i) a função de exibição do sinal de EMGS digitalizado que foi salvo no cartão
de memória pela placa microcontrolada; e (ii) a função de análise do sinal de EMGS,
fornecendo alguns parâmetros para a análise eletromiográfica do indivíduo.

O software apresenta-se como uma interface gráfica que permite ao usuário visualizar
o sinal de EMGS captado e obter os principais parâmetros para a análise eletromiográfica.
Essa interface é constituída por telas que são acessadas pelo usuário através da
programação de botões. Na Figura 3.11 é apresentado um diagrama que representa a
interação entre as telas que compõem a interface gráfica do software do sistema.

Figura 3.11: Visão geral das telas que compõem a interface gráfica do software do sistema.

93
Na tela inicial da interface o usuário pode escolher se deseja visualizar o sinal de
EMGS salvo no cartão de memória ou se deseja obter alguns parâmetros do sinal. Nessa
tela inicial o usuário também tem a opção de acessar informações relacionadas aos autores
do software, acessando o botão “Créditos”.

Se o usuário pressionar o botão “Análise de Sinal EMG”, ele será direcionado para
uma tela para a escolha de quais parâmetros ele deseja que sejam analisados a partir do
sinal adquirido. Após a escolha dos parâmetros desejados, o usuário deve clicar no botão
“Analisar Sinal” e, então, ele terá a opção de selecionar o arquivo e o canal que contém o
sinal eletromiográfico que ele deseja que seja realizada a análise. Após essa seleção, o
software realizará os cálculos dos parâmetros selecionados para o sinal escolhido. Os
resultados da análise são exibidos para o usuário no formato de uma tabela.

Se o usuário escolher o botão “Exibição de Sinal EMG”, ele será direcionado para
uma tela de seleção, em que ele pode escolher visualizar todos ou alguns dos sinais (1 a 16
canais) que estão salvos no arquivo do cartão ou pode escolher visualizar apenas um sinal
(canal) que está salvo no arquivo. Nesta tela ele ainda tem a opção de escolher realizar uma
comparação visual de dois sinais (canais) desejados. De acordo com a escolha do usuário,
ele será direcionado para diferentes telas. No entanto, em todas estas telas, o usuário deve
pressionar o botão “Selecionar Sinal EMG”, para selecionar o arquivo .txt que contenha
o(s) sinal(is) desejado(s).

Tendo o usuário selecionado o arquivo desejado e o(s) sinal(is) a ser(em) exibido(s), o


software realizará a plotagem do(s) sinal(is), exibindo graficamente o(s) sinal(is)
captado(s) pelo sistema. O usuário tem, ainda, a opção de aplicar um zoom no sinal
plotado, o que permite que seja exibido apenas uma parte desejada do sinal. Em todas as
telas o usuário tem a opção de voltar para as telas de seleção, através dos botões “Voltar”.

Foi utilizado o software MATLAB® e sua ferramenta GUIDE para o desenvolvimento


do software do sistema. O MATLAB (do inglês Matrix Laboratory) é um software de
computação numérica de análise e visualização de dados. Ele nasceu como um programa
para operações matemáticas sobre matrizes, o que justifica seu nome (Laboratório de
Matrizes), mas ao longo dos anos transformou-se em um sistema computacional bastante
útil e flexível (BECKER et al., 2010).

O MATLAB caracteriza-se por uma linguagem de alto nível e um ambiente interativo


para computação numérica, visualização e programação. Possibilita análise de dados,

94
desenvolvimento de algoritmos e criação de modelos e aplicações. A linguagem, as
ferramentas, e as funções matemáticas internas permitem a exploração de múltiplas
abordagens e obtenção de uma solução mais rápida do que com planilhas ou linguagens de
programação tradicionais, como C/C++ ou Java. Pode-se usar o MATLAB para uma
variedade de aplicações, incluindo processamento de sinais e comunicação, processamento
de imagem e vídeo, sistemas de controle, entre outros. Mais de um milhão de engenheiros
e cientistas na indústria e na academia usam MATLAB, a linguagem de computação
técnica (MATHWORKS, 2016).

Em computação, uma GUI (Graphical User Interface) é uma interface gráfica que
apresenta um mecanismo mais atraente e mais amigável ao usuário na utilização de um
software. O MATLAB possui uma ferramenta chamada GUIDE que permite construir
interfaces gráficas de interação com o usuário. Essa ferramenta auxilia o programador a
implementar recursos gráficos de forma mais rápida e fácil. Para inicializar a ferramenta
GUIDE é necessário digitar guide na Command Window do MATLAB, e posteriormente
clicar em Blank GUI (default). Em conjunto com a tela inicial é criado um arquivo .m com
o código fonte da GUI criada. Todas as possíveis alterações no modo de operação devem
ser feitas nesse arquivo (JUNIOR et al., 2014).

3.2 COLETA DE SINAIS DE EMGS

Foram realizados testes e coletas de sinais de EMGS em voluntários para verificação


do funcionamento e da eficiência do sistema apresentado neste trabalho e do desempenho
da filtragem física.

A realização dos testes in vivo ocorreu após aprovação pelo Comitê de Ética da
Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (1.446.986/03-2016),
apresentado no Anexo C. Os testes aconteceram em conjunto com a equipe do Grupo de
Pesquisa sobre a Saúde de Amputados Transfemorais (GPSAT) e com supervisão médica.
Os voluntários assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
apresentado no Anexo D deste trabalho.

Os testes foram realizados em dois grupos de voluntários, que foram convidados pela
equipe conjunta, sendo um grupo de oito voluntários com amputação transfemoral
unilateral de membro inferior e outro grupo com oito voluntários sem amputação. Os
voluntários com amputação são todos do sexo masculino e tem faixa etária entre 20 e 45

95
anos. Já os voluntários sem amputação são quatro do sexo feminino e quatro do sexo
masculino e possuem faixa etária entre 18 e 47 anos.

Os testes realizados com os dois grupos de voluntários teve o intuito de verificar se o


sistema apresentado neste trabalho é capaz de captar sinais de EMGS de qualidade e
condizentes com os testes e movimentos realizados, bem como verificar o desempenho da
malha de látex, observando se o seu uso oferece um sinal com menos interferências por
ruídos eletroquímicos e de artefatos de movimento. Os testes realizados com o grupo de
voluntários com amputação permitem verificar se a malha de látex influencia de forma
positiva no sinal captado, uma vez que o uso de prótese gera vários artefatos de movimento
durante o processo de aquisição.

Os testes e coletas de sinais de EMGS com o grupo de voluntários com amputação


foram concomitantes aos testes de ergoespirometria e variabilidade de frequência cardíaca,
e foram realizados em uma bicicleta ergométrica no Laboratório de Biofísica e Fisiologia
do Exercício da UnB/FCE, sob supervisão da equipe do GPSAT e com supervisão médica.
Nestes testes, foram captados os sinais dos músculos vasto lateral (VL) direito e esquerdo e
bíceps femoral (BF) direito e esquerdo de cada voluntário.

O protocolo seguido para a captura dos sinais de EMGS deste grupo de voluntários foi
baseado em um protocolo de rampa, em que o voluntário é submetido a um aumento
gradativo de carga na bicicleta, até atingir o esforço máximo. O protocolo para os testes
com o grupo de voluntários com amputação seguiu os seguintes passos:

1. Verificação do módulo de hardware do sistema, observando se a quantidade de


canais selecionada condiz com o desejado, e se está funcionando conforme o
previsto; além da realização da conexão dos cabos (que serão ligados nos eletrodos)
às entradas do módulo;

2. Preparação do voluntário e posicionamento dos eletrodos de superfície nos


músculos de interesse (seguindo protocolo SENIAM), bem como o posicionamento
da malha de látex sobre os eletrodos, de forma e envolvê-los;

3. Colocação da prótese no membro amputado e posicionamento do voluntário na


bicicleta, bem como a realização da conexão dos cabos que estão ligados no
módulo de hardware aos eletrodos;

4. Após todo esse preparo, inicia-se a coleta dos sinais, selecionando a chave de início
de gravação no módulo de hardware;

96
5. Inicialmente o voluntário permanece cinco minutos em repouso posicionado na
bicicleta;

6. Após o repouso, o voluntário começa a pedalar e a carga da bicicleta vai sendo


aumentada gradativamente, até que o voluntário atinja o esforço máximo, sendo
que a cada minuto a carga da bicicleta é aumentada em 15 W. Neste estágio, os
voluntários são orientados a manter uma velocidade de 60 rpm (rotações por
minuto) na bicicleta;

7. Após atingir esforço máximo, o voluntário pedala por mais um minuto sem carga
na bicicleta;

8. Passado esse tempo, o voluntário permanece mais cinco minutos em repouso


posicionado na bicicleta, e após, seleciona-se a chave de fim da coleta no módulo
de hardware;

9. Por fim, o voluntário desce da bicicleta e são retirados os eletrodos e a malha de


látex do mesmo.

Já nos testes realizados com o grupo de voluntários sem amputação, a coleta de sinais
de EMGS foi realizada no músculo bíceps braquial (direito ou esquerdo) do(a)
voluntário(a) e foram realizadas contrações leves e fortes do músculo em questão. Nesses
testes, é seguido um protocolo que estabelece dois momentos, um momento inicial em que
o voluntário realiza movimentos definidos sem a malha de látex envolvendo os eletrodos e
um segundo momento em que o voluntário realiza os mesmos movimentos definidos tendo
a malha de látex envolvendo os eletrodos.

Esses testes foram realizados no Laboratório de Engenharia e Biomaterial


(BioEngLab®) / Laboratório de Engenharia & Inovação (LEI) da Universidade de Brasília
(UnB), Campus Darcy Ribeiro. Os testes realizados com o grupo de voluntários sem
amputação seguiram um protocolo com os seguintes passos:

I. Verificação do módulo de hardware do sistema, observando se a quantidade de


canais selecionada condiz com o desejado, e se está funcionando conforme o
previsto; além da realização da conexão dos cabos (que serão ligados nos eletrodos)
às entradas do módulo;

II. Preparação do voluntário e posicionamento dos eletrodos de superfície no músculo


de interesse (seguindo protocolo SENIAM);

97
III. Conexão dos cabos que estão ligados no módulo de hardware aos eletrodos;

IV. Início do primeiro momento do teste, em que o voluntário segue uma sequência de
ações definidas sem a malha de látex estar envolvendo os eletrodos;

V. Para iniciar a gravação dos sinais deste primeiro momento, deve-se selecionar a
chave de início de gravação no módulo de hardware;

VI. Inicialmente o voluntário deve permanecer com o braço avaliado em repouso, por
um determinado período de tempo;

VII. Após esse período em repouso, é solicitada ao voluntário a realização de contrações


leves do músculo em questão com pequenos intervalos de tempo entre uma
contração e outra;

VIII. Após essas contrações leves, o voluntário deve permanecer alguns segundos com o
músculo em repouso;

IX. Passado esse tempo, o voluntário deve realizar contrações fortes do músculo
avaliado, com intervalos de tempo entre uma contração e outra;

X. Após essas contrações fortes, o voluntário deve permanecer mais alguns segundos
com o músculo em repouso;

XI. Passado esse tempo de repouso, é solicitado ao voluntário manter o músculo em


repouso, enquanto o pesquisador que conduz o teste realiza uma simulação de
geração de artefatos de movimento, promovendo uma movimentação na interface
pele-eletrodo;

XII. Após, deve-se selecionar a chave de fim da coleta no módulo de hardware,


finalizando esse primeiro momento do teste;

XIII. Para a realização do segundo momento do teste, é feito o posicionamento da malha


de látex sobre os eletrodos já posicionados no músculo, de forma que a malha
envolva os eletrodos;

XIV. Para iniciar a gravação dos sinais deste segundo momento, deve-se selecionar a
chave de início de gravação no módulo de hardware, e o voluntário deve repetir os
passos de VI a XII, finalizando o segundo momento do teste.

XV. Por fim, são retirados os eletrodos e a malha de látex do voluntário.

98
Uma vez que foram utilizados eletrodos de superfície em todas as coletas realizadas, a
coleta dos sinais de EMGS dos voluntários segue as recomendações europeias para
eletromiografia de superfície. Assim, o preparo do voluntário é realizado de acordo com as
normas do protocolo da Surface EMG for the Non-Invasive Assessment of Muscle
(SENIAM), em que são seguidas instruções desde o preparo da pele do participante da
pesquisa (voluntário) até o local de posicionamento dos eletrodos. Essas instruções podem
ser observadas no fluxograma da Figura 3.12.

Figura 3.12: Fluxograma que descreve as principais instruções a serem seguidas para
preparo do voluntário, recomendadas pelo protocolo SENIAM.

De acordo com o protocolo SENIAM, antes da colocação dos eletrodos é preciso


realizar a limpeza da pele (retirada da oleosidade e sujeira), e/ou remoção dos pelos
(tricotomia) e leve abrasão para a remoção das células mortas da pele. O local e o
posicionamento dos eletrodos são fatores que também podem causar interferência na
qualidade do sinal de EMGS. O SENIAM sugere que o eletrodo deve ser alinhado no
sentido das fibras musculares, já que a trajetória do potencial de ação segue o mesmo
sentido, e que seja colocado entre o ponto motor e o tendão distal do músculo avaliado. O

99
eletrodo é posicionado numa configuração bipolar, na região do ventre muscular do
músculo escolhido, disposto longitudinalmente às fibras musculares. Para a localização da
região em que o eletrodo é fixado, devem-se observar os pontos anatômicos e estimular
uma atividade deste músculo, para a palpação e visualização da sua região mais robusta, ou
seja, a linha média do ventre muscular. Isso deve acontecer em todos os músculos a serem
avaliados. A colocação dos eletrodos deve obedecer a uma padronização, iniciando pelo
eletrodo de referência ou “terra”, que é utilizado para minimizar interferências do ruído
elétrico externo. O mesmo é colocado em um ponto distante do local de registro dos
músculos avaliados. Em seguida, são fixados os demais eletrodos (RAPOSO; SILVA,
2013).

O posicionamento das malhas fabricadas com biomaterial látex também está


relacionado com o preparo do voluntário. As malhas foram utilizadas para envolver os
eletrodos, de modo a evitar que os mesmos de movimentem. Nos voluntários com
amputação, foram utilizadas malhas tanto para envolver os eletrodos posicionados sob o
coto, quanto na outra perna. E nos voluntários sem amputação, a malha de látex foi
utilizada no segundo momento do teste. A Figura 3.13 ilustra o uso de malhas de látex em
um voluntário com amputação, estando as malhas devidamente aplicadas de forma a
envolver os eletrodos.

(a) (b)
Figura 3.13: Utilização da malha de biomaterial látex em: a) envolvendo os eletrodos
posicionados sob o coto do voluntário (membro inferior direito); b) envolvendo os
eletrodos posicionados sob o membro inferior (esquerdo) do voluntário (RIBAS, 2015).

100
3.3 ANÁLISE DE DESEMPENHO DA FILTRAGEM BIOMECÂNICA
DERIVADA DE BIOMATERIAL LÁTEX

Para a verificação do desempenho da malha de látex como filtro biomecânico, os


testes realizados seguiram os protocolos descritos na seção 3.2. No grupo de voluntários
com amputação, a malha de látex foi utilizada no membro amputado do voluntário,
podendo ser utilizada no membro não amputado também. A utilização da malha de látex
no membro amputado possibilita uma verificação do desempenho da malha de látex como
filtro físico, uma vez que o uso de prótese causa vários artefatos de movimento durante o
processo de aquisição.

No grupo de voluntários sem amputação, o protocolo estabelecido possibilita uma


comparação entre dois sinais (sem e com a malha de látex), do mesmo músculo, do mesmo
voluntário e seguindo os mesmos movimentos. Nestes testes, inicialmente os sinais de
EMGS foram coletados no bíceps braquial do voluntário sem o uso da malha de látex,
seguindo uma ordem de ações estabelecida (seção 3.2); e, posteriormente, foi realizada
outra coleta no mesmo músculo do voluntário e seguindo a mesma ordem de ações
estabelecida, só que neste segundo momento com o uso da malha de látex envolvendo os
eletrodos.

A aquisição destes sinais, sem e com a malha de látex, possibilita, assim, uma
comparação entre os dois sinais de EMGS, permitindo a realização de uma análise de
desempenho da malha de látex como filtro físico, podendo-se verificar se o sinal captado
com o uso da malha de látex possui aspectos positivos em comparação ao sinal captado
sem o uso da malha de látex, observando principalmente as interferências por ruídos
eletroquímicos e artefatos de movimento.

Uma característica importante a ser ressaltada é que os eletrodos utilizados nos


momentos (1) e (2) de cada teste (sem e com a malha de látex, respectivamente) do grupo
de voluntários sem amputação, são os mesmos, sendo posicionados no início do
procedimento. Isso garante que os sinais de EMGS captados nos dois momentos do teste
sejam referentes ao mesmo músculo e ao mesmo posicionamento dos eletrodos.

Um exemplo de um teste de aquisição de sinais de EMGS realizado em um voluntário


sem amputação, seguindo o protocolo descrito anteriormente, pode ser observado na
Figura 3.14. Neste teste, no primeiro momento (A), o sinal de EMGS é adquirido sem o

101
uso da malha de látex sobre os eletrodos; e no segundo momento (B), o sinal é adquirido
com o uso da malha de látex envolvendo os eletrodos.

(A) (B)
Figura 3.14: Exemplo de teste de aquisição de sinais de EMGS seguindo o protocolo
descrito. No primeiro momento (A) a aquisição do sinal de EMGS é realizada no bíceps
braquial do voluntário sem o uso da malha de látex; e, no segundo momento (B) a
aquisição do sinal de EMGS é realizada no mesmo músculo do voluntário com o uso da
malha de látex.

A partir da aquisição destes sinais, com e sem o uso da malha de látex, e seguindo o
protocolo descrito, é possível a realização de comparações dos sinais de EMGS coletados.
As comparações feitas são visuais e qualitativas, e foram realizadas utilizando-se o
software desenvolvido neste trabalho. Foram comparados os momentos de repouso, de
contrações leves, contrações fortes e simulação de artefatos de movimento, dos dois sinais
de cada voluntário, podendo-se assim, realizar algumas afirmações acerca do uso e do
desempenho da malha de látex como filtragem física durante a aquisição dos sinais.

102
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo, objeto deste trabalho, foi realizado em um período de um ano e quatro


meses, considerando os testes iniciais com o sistema desenvolvido e os testes realizados
com os voluntários. As primeiras implementações do sistema de EMGS apresentado neste
trabalho começaram a ser realizadas em janeiro de 2015 e a versão atual do sistema foi
finalizada em abril de 2016. Essa etapa de desenvolvimento do sistema foi marcada por
desafios e foi realizada pela equipe de EMG do laboratório BioEngLab/LEI da UnB.

Os testes e coletas de sinais de EMGS com os voluntários foram realizados em um


período de onze meses (junho/2015 à abril/2016), através de uma parceria entre a equipe
de EMG do BioEngLab e a equipe do GPSAT da UnB/FCE, e foram realizados com o
sistema em desenvolvimento. Dessa forma, os sinais de EMGS adquiridos com os
primeiros voluntários apresentam uma qualidade inferior aos sinais adquiridos com os
testes mais recentes com voluntários. Assim, é possível observar a evolução no
desenvolvimento do sistema e as melhorias que foram sendo realizadas.

A confecção das malhas de látex ocorreu à medida que foram sendo realizados os
testes com os voluntários, conforme a demanda solicitada, e seguiu os aspectos abordados
na seção 3.1.1.2 deste trabalho.

A divulgação dos resultados do presente estudo será feita a partir de submissões de


artigos em congressos científicos e periódicos nacionais e internacionais nas áreas de
Engenharia Biomédica e Eletromiografia. No Anexo E são apresentados dois artigos
relacionados ao trabalho que foram submetidos ao XXV Congresso Brasileiro de
Engenharia Biomédica (CBEB 2016). Ambos os artigos estão relacionados ao sistema
desenvolvido neste trabalho, sem abordar os resultados relacionados à filtragem física
(malha de látex). Os resultados relacionados à malha de látex como filtro biomecânico
serão abordados em outros artigos que serão submetidos a periódicos científicas nacionais
e internacionais.

A seguir são apresentados os resultados do estudo realizado, abordando os resultados


do sistema de aquisição, exibição e análise de sinais de EMGS desenvolvido, os resultados
da coleta de sinais de EMGS e da análise de desempenho do filtro físico derivado de
biomaterial látex.

103
4.1 SISTEMA DE AQUISIÇÃO, EXIBIÇÃO E ANÁLISE DE SINAIS DE
EMGS COM FILTRAGEM FÍSICA

Conforme apresentado na seção 3.1 deste trabalho, o sistema de EMGS desenvolvido


contempla os módulos de aquisição, de hardware e de software.

O módulo de aquisição é caracterizado pelo uso de eletrodos de superfície para a


captação do sinal mioelétrico, e pelo uso de uma malha de látex aplicada de modo a
envolver os eletrodos, tendo o objetivo de realizar uma filtragem física na etapa de
aquisição, esperando-se, assim, reduzir os ruídos por artefatos de movimento e ruídos
eletroquímicos e, consequentemente, diminuir a carga computacional (técnicas de
processamento) e de hardware (filtros eletrônicos de ordem superior) que seriam
empregados para eliminação de ruídos. Os resultados relacionados ao desempenho da
malha de látex como filtro físico são apresentados na seção 4.3 desta dissertação.

4.1.1 Módulo de Hardware

O módulo de hardware do sistema desenvolvido é composto por dois circuitos


principais, sendo um circuito eletrônico de amplificação, filtragem e condicionamento do
sinal bioelétrico captado pelos eletrodos e um circuito microcontrolado de digitalização e
armazenamento do sinal de EMGS captado. Os esquemas de ligação de ambos os circuitos
podem ser observados no Anexo B e no Apêndice A.

Para a implementação dos circuitos do módulo de hardware inicialmente os circuitos


foram montados em protoboard (matriz de contatos) para verificação e ajustes de
funcionamento e, após definição dos esquemáticos e dos layouts dos circuitos, foram
fabricadas placas de circuito impresso (PCI), utilizando-se o software Proteus 7.8 para o
desenvolvimento do layout das PCIs e, por fim, foi implementado o módulo de hardware
do sistema.

A Figura 4.1 apresenta o módulo de hardware desenvolvido. Nesta é possível observar


que o hardware foi separado em duas partes, sendo que o módulo inferior é caracterizado
pelo circuito eletrônico, responsável pela amplificação, filtragem e condicionamento do
sinal bioelétrico captado pelos eletrodos; e o módulo superior é caracterizado pelo circuito
microcontrolado, sendo responsável pela conversão A/D e pelo armazenamento dos dados
em um cartão de memória.

104
Figura 4.1: Módulo de hardware do sistema desenvolvido. O módulo inferior é pelo
circuito eletrônico, responsável pela amplificação, filtragem e condicionamento do sinal
bioelétrico captado pelos eletrodos; e o módulo superior é caracterizado pelo circuito
microcontrolado, sendo responsável pela conversão A/D e pelo armazenamento dos dados
em um cartão de memória (RIBAS, 2015).

Conforme pode ser observado na Figura 4.1, os eletrodos devem ser ligados no
módulo inferior e o cartão de memória deve ser inserido no módulo superior. Ambos os
módulos possuem chave de liga/desliga e led indicador de estado ligado/desligado. O
módulo superior possui ainda uma chave para iniciar/encerrar a gravação de dados no
cartão SD e um led RGB que indica os estados de gravação: sistema em falha (led
vermelho), sistema pronto para uso (led verde) e sistema em gravação (led azul).

O hardware desenvolvido permite a aquisição de até 16 canais de sinal de EMGS,


permitindo assim, que sejam avaliados até 16 músculos de interesse. Para a opção de 16
canais, no entanto, devem ser utilizados dois módulos de circuito eletrônico (módulo
inferior da Figura 4.1), sendo que a saída de canais de cada módulo deve ser ligada às
entradas de canais do módulo de circuito microcontrolado (módulo superior da Figura 4.1).

Para a ligação dos eletrodos ao módulo de circuito eletrônico (inferior) e deste módulo
ao módulo de circuito microcontrolado (superior), foram implementados cabos de conexão.

105
Todo cabeamento, seja entre os módulos ou entre os eletrodos e os módulos, foram
montados com conectores do tipo DB-9.

A Figura 4.2 demonstra o cabeamento implementado para o módulo de hardware.


Para a conexão entre o módulo de circuito eletrônico e os eletrodos foram montados cabos
para quatro canais (dois cabos por canal) e mais um cabo para o eletrodo de referencia,
sendo desse modo, possível utilizar apenas uma das entradas do módulo inferior (Figura
4.1) caso sejam coletados até quatro canais. Para cada módulo de circuito eletrônico foram
fabricados dois conjuntos de cabos de quatro canais, resultando num total de quatro
conjuntos de cabos de quatro canais para conexão dos eletrodos aos módulos de circuito
eletrônico. Para a conexão destes módulos ao módulo de circuito microcontrolado, foram
implementados cabos menores com conectores DB-9 (Figura 4.2-d).

Figura 4.2: a) Cabos para quatro canais e referência com conector DB-9; b) Detalhe da
enumeração dos canais nos cabos; c) Encaixe entre os cabos e os eletrodos, utilizando
colchetes de pressão para roupas; d) Cabos para conexão entre módulo de circuito
eletrônico e módulo de circuito microcontrolado (RIBAS, 2015).

106
Os cabos de conexão dos eletrodos aos módulos de circuito eletrônico foram
fabricados em dois tamanhos diferentes, 1,0 m e 2,20 m, pois é importante que durante a
coleta dos sinais, os cabos não tenham nenhum contato com o solo e também tenham o
mínimo de movimento possível para evitar ruídos por artefatos de movimento. Essa opção
de tamanhos diferentes possibilita ao usuário utilizar o cabo com comprimento que seja
mais adequado à sua captura de sinais (RIBAS, 2015).

O módulo de circuito eletrônico (módulo inferior da Figura 4.1) é alimentado por


baterias de 9 V. O consumo elétrico de cada canal corresponde a 20 mA, ou seja, o
consumo total de cada módulo de circuito eletrônico é de 160 mA. A alimentação por meio
de baterias foi estabelecida pois grande parte dos ruídos que interferem no sinal de EMGS
são de 60 Hz, ou seja, provenientes da rede elétrica. Desse modo, a alimentação por meio
de baterias possui a vantagem em relação ao nível de ruídos e a portabilidade do
equipamento, em contrapartida, há um custo por conta da necessidade da reposição das
baterias (RIBAS, 2015).

A alimentação do módulo de circuito microcontrolado (módulo superior da Figura 4.1)


pode ser feita por baterias de 9 V, através de conexão USB a um computador ou por uma
fonte de alimentação de 12 V. No entanto, durante a realização de alguns dos testes com
voluntários, verificou-se que o uso da fonte de alimentação gerava ruído proveniente da
rede elétrica no sinal captado. Outra observação foi que, caso o módulo seja alimentado
pelo computador (conexão USB) e o computador esteja com seu carregador ligado à rede
elétrica, o sinal também era contaminado por ruídos provenientes da rede elétrica. Sendo
assim, estabeleceu-se que a alimentação do módulo de circuito microcontrolado poderia ser
feita por baterias, ou através do cabo USB conectado a um computador (notebook), sendo
que este não poderia estar ligado à rede elétrica.

Durante os testes iniciais do módulo de hardware, constatou-se que o nível de ruído


no sinal captado variava muito de um teste para outro, observando-se que grande parte
destes ruídos era proveniente de fontes externas (ruído ambiente, ruído eletromagnético –
seção 2.5.6). Para verificar essa influência do ruído ambiente, foram realizados testes com
o auxílio de um osciloscópio, utilizando-se o módulo de circuito eletrônico desenvolvido
neste trabalho. A Figura 4.3 apresenta um exemplo de como o ruído ambiente
(eletromagnético) interfere na captura do sinal de EMGS, onde se percebe a interferência
do ruído de 60 Hz da rede elétrica no sinal.

107
Figura 4.3: Sinal de EMGS captado no bíceps braquial direito de um voluntário em
repouso com iluminação do ambiente ligada (lado esquerdo) e desligada (lado direito)
(RIBAS, 2015).

Devido à essa interferência, durante a realização dos testes de coleta de sinais de


EMGS, ficou estabelecido que as luzes do ambiente devem ser desligadas no momento de
captura dos sinais e que os celulares devem ficar distantes do músculo e voluntário
avaliado.

4.1.1.1 Módulo de circuito eletrônico

A Figura 4.4 apresenta o processo de construção do módulo inferior que compõe o


hardware do sistema (Figura 4.1), sendo composto pelo circuito eletrônico desenvolvido
para amplificação, filtragem e condicionamento do sinal captado pelos eletrodos. Foram
produzidos dois módulos de circuito eletrônico iguais, cada um com oito canais, resultando
em um sistema final com capacidade de registro de 16 canais.

Para cada canal, foi produzida uma placa do circuito eletrônico apresentado no Anexo
B, e como o módulo de hardware permite a conexão de até 16 canais, foram produzidas 16
placas de circuito eletrônico, estando oito em cada módulo. A divisão dos 16 canais, e
consequentemente das 16 placas, em dois módulos se deu pelo fato de que, nem sempre
durante a realização dos testes foram feitas aquisições de 16 sinais de EMGS. Em alguns
testes foram usados quatro canais, sendo utilizado apenas um dos módulos de circuito

108
eletrônico. A divisão em módulos diminui o consumo de energia pelos canais não
utilizados e reduz o tamanho do equipamento, além de permitir o uso de acordo com a
necessidade de cada aquisição.

Figura 4.4: Processo de desenvolvimento do módulo de circuito eletrônico para


amplificação, filtragem e condicionamento dos sinais. a) Posicionamento das oito PCI’s
(uma para cada canal) dentro do gabinete; b) Realização das ligações internas; c) Teste do
módulo em osciloscópio; d) Módulos de circuito eletrônico de oito canais cada finalizados
(RIBAS, 2015).

Os sinais de EMGS que saem dos módulos de circuito eletrônico correspondem aos
sinais mioelétricos captados pelos eletrodos, e são sinais que passam por etapas de
amplificação, filtragem e condicionamento (circuito eletrônico), e que devem ser enviados
ao módulo de circuito microcontrolado, para ser digitalizado e armazenado.

Um fato de primordial importância nesse circuito eletrônico é a utilização de filtros


ativos básicos de primeira ordem, conforme apresentado na seção 3.1.2.1. É comum a
utilização de filtros elétricos do tipo Butterworth e de ordens superior à quarta para o
processo de filtragem de sinais de EMGS. Neste trabalho, a utilização de filtros mais
simples e menos eficazes no módulo de circuito eletrônico pode ser justificada pela

109
utilização do amplificador de instrumentação INA128P, que devido ao alto CMRR
consegue eliminar grande parte o sinal de modo comum, e devido ao uso da malha de látex
como filtragem física na etapa de aquisição do sinal. A escolha dos filtros de primeira
ordem proporcionou ao esquema elétrico dimensões reduzidas, menor quantidade de
componentes, menor consumo elétrico e custo reduzido (RIBAS, 2015).

Outro aspecto importante está relacionado à escolha dos amplificadores operacionais


do tipo TL074 utilizados nas etapas de filtragem, ganho e ajuste de offset que compõem o
circuito eletrônico do módulo de hardware do sistema. Em grande parte dos circuitos para
amplificação de sinais de EMG encontrados na bibliografia são utilizados outros modelos
de amplificadores, considerados mais robustos e precisos e consequentemente mais caros e
de aquisição mais difícil. Para verificar o desempenho do TL074 em relação a outros
modelos de amplificadores, foi realizado um teste de comparação entre o TL074 e o
amplificador OPA2604 fabricado pela Texas Instruments, que é indicado para filtros de
sinais eletromiográficos. Essa comparação, feita em um osciloscópio, pode ser observada
na Figura 4.5. Com essa comparação, constatou-se que além de ter um custo menor em
relação ao outro amplificador, o TL074 se mostrou equivalente, o que valoriza e justifica
seu uso neste trabalho (RIBAS, 2015).

Figura 4.5: No sinal em amarelo foi utilizada filtragem com AMP-OP indicado para filtros
de sinais eletromiográficos, o OPA2604 fabricado pela Texas Instruments; e o sinal em
azul é do circuito implementado com o TL074. (RIBAS, 2015).
110
4.1.1.2 Módulo de circuito microcontrolado

O módulo de circuito microcontrolado utilizado no hardware do sistema (módulo


superior da Figura 4.1) é caracterizado pelo uso da plataforma Arduino Mega, responsável
pela digitalização do sinal proveniente do módulo de circuito eletrônico e pelo
armazenamento do sinal digital em um cartão de memória.

Os arquivos salvos no cartão de memória são de extensão (.txt), e contém os sinais


digitalizados, em que os valores armazenados estão divididos em colunas (uma para cada
canal de aquisição), de modo a ser apropriado para posterior leitura no software de
visualização e análise do sistema (módulo 3 deste trabalho).

No interior do módulo de circuito microcontrolado, foram instalados os seguintes


componentes: um microcontrolador Arduino Mega 2560, shield de cartão SD, chaves de
acionamento, leds de indicação e cabeamento para ligações internas. No painel frontal do
módulo, conforme indicado na Figura 4.1, há uma chave liga/desliga e um led vermelho
para indicação de estado ligado/desligado; entrada para cartão SD; duas entradas do tipo
DB-9 para o sinal proveniente do módulo de circuito eletrônico; uma chave para início/fim
da gravação de dados no cartão e um led RGB que indica os estados de gravação: sistema
em falha (led vermelho), sistema pronto para uso (led verde) e sistema em gravação (led
azul). Nas laterais do módulo encontram-se o jack para alimentação do tipo P4 ou entrada
para alimentação por cabo USB e botão reset do microcontrolador. Para o funcionamento
com bateria de 9 V, deve-se retirar a tampa inferior para o acesso ao clip da bateria.

Como foram implementadas 16 placas de circuito eletrônico, para fornecer um módulo


de aquisição de 16 canais, faz-se necessário o uso de um microcontrolador que tenha 16
canais de conversor A/D, o que justificou a escolha da plataforma Arduino Mega. Sendo
assim, o sinal de saída de cada placa eletrônica (sinal mioelétrico amplificado, filtrado e
condicionado) deve ser ligado em um canal do conversor A/D que compõe o
microcontrolador da placa Arduino Mega. Essa ligação pode ser obervada no esquema de
ligação do Apêndice A.

Para que o microcontrolador da plataforma Arduino Mega utilizada realize a


digitalização do sinal de saída do módulo de circuito eletrônico e o armazenamento do
sinal digital no cartão de memória, é necessário que seja implementado um programa e que
o mesmo seja salvo na memória do microcontrolador. Para isso, utilizou-se o software

111
Arduino IDE, que é um ambiente de programação que permite o desenvolvimento dos
programas de controle do microcontrolador.

O código de controle utilizado para a programação do microcontrolador é apresentado


no Apêndice B. Esse é o código final do sistema desenvolvido, no entanto, ele foi sofrendo
alterações ao longo do desenvolvimento do trabalho. Foram implementadas três versões de
código de controle, sendo a terceira a versão a atual.

As melhorias feitas de uma versão para outra são, principalmente, em relação à


frequência de amostragem (número de pontos registrados por segundo), que é determinada
a partir do uso da função micros() na programação. Essa função retorna o tempo, em
microssegundos, desde que a placa Arduino começa a rodar o programa. Assim, para
determinar a frequência de amostragem, é preciso salvar o valor de tempo da função
micros a cada vez que se realizar uma aquisição de sinal. Dessa forma, o tempo utilizado
para o cálculo da frequência de amostragem será determinado pela diferença de tempo
entre duas aquisições.

Por exemplo, ao ligar o Arduino, o programa começa a ser executado, e a função


micros começa a contar o tempo. Quando a chave de início da gravação é acionada, é feita
a primeira leitura dos sinais digitais (convertidos pelo conversor A/D) que correspondem
ao sinal analógico (com seus n canais) que chega ao conversor, bem como a primeira
leitura de tempo (t1) que a função micros retorna, sendo estes valores salvos na primeira
linha do arquivo de texto no cartão SD, um em cada coluna (o valor de tempo será salvo na
última coluna, após as colunas dos sinais referentes a cada canal). Caso a chave de fim da
gravação não tenha sido acionada, é realizada uma nova leitura dos sinais de saída do
conversor A/D e outra leitura de tempo (t2), sendo esses valores salvos na segunda linha do
arquivo de texto no cartão, seguindo a mesma sequência de colunas da leitura anterior.
Essa sequência se repete até a chave de fim da gravação ser acionada.

Tendo os valores de tempo (t1 e t2 no exemplo) salvos, a frequência de amostragem


pode ser determinada pela diferença entre esses valores (t2 – t1), e corresponde à diferença
de tempo entre uma aquisição de sinal e outra. Assim, é possível determinar quantas
aquisições de sinal foram feitas em um segundo, o que caracteriza a frequência de
amostragem. Quanto menor o tempo entre uma aquisição e outra, mais valores são
adquiridos e, consequentemente, maior será a frequência de amostragem do sinal. Quanto
maior a frequência de amostragem, melhor será a qualidade do sinal, e mais próximo o

112
sinal digital estará do sinal real analógico. Essa lógica para se determinar a frequência de
amostragem utilizando-se a função micros foi adotada nas três versões de código de
controle. No entanto, as versões apresentaram frequências de amostragem diferentes,
devido à lógica de programação utilizada, o que causou perda de informação nos sinais
coletados com as primeiras versões.

No programa da primeira versão, o sinal analógico (sinal de saída das placas


eletrônicas) enviado nos canais do conversor A/D da placa microcontrolada era convertido
para digital pelo conversor A/D de 10 bits, salvo no cartão de memória e a gravação
encerrada. Ou seja, a cada aquisição de sinal, era realizada a abertura do arquivo de texto, o
sinal digital convertido (n canais) e o valor de tempo eram gravados no cartão de memória
e após o arquivo era fechado. O fluxograma da Figura 4.6 apresenta a lógica desta primeira
versão da programação.

Figura 4.6: Fluxograma que representa a lógica de controle utilizada na primeira versão de
programa.

113
Nos testes realizados utilizando-se a lógica da primeira versão, observou-se uma
frequência de amostragem muito pequena, na ordem de 50 Hz (para sinais com 1 canal),
insuficiente para aquisições do sinal de EMGS, o que resultou em perdas de informações
do sinal mioelétrico avaliado. Estudando essa lógica, percebeu-se que o erro estava em
abrir e fechar o arquivo de texto a cada aquisição. Para realizar tal ação, o programa
demorava alguns segundos e, sendo assim, enquanto abria e/ou fechava o arquivo, as
informações do sinal analógico eram perdidas. Para resolver esse problema, foi
desenvolvida a segunda lógica de controle, apresentada no fluxograma da Figura 4.7.
Nessa segunda lógica de controle, o arquivo de texto é aberto uma única vez, quando a
chave de início de gravação é acionada e é fechado somente quando a chave de fim da
gravação é ativada. Com essa lógica foi possível obter sinais com frequência de
amostragem na ordem de 700 Hz (para sinais com 1 canal).

Figura 4.7: Fluxograma que representa a lógica de controle utilizada na segunda versão de
programa.

114
Apesar dessa significativa melhora o valor da frequência de amostragem ainda é
considerado baixo, pois não atende o teorema de Nyqüist, podendo ocorrer aliasing.
Conforme apresentado na seção 2.4.4 deste trabalho, para uma correta reconstrução digital
de um sinal analógico, sem aliasing, deve-se utilizar uma frequência de amostragem de, no
mínimo, o dobro de sua maior frequência. Como o sinal de EMG pode ter frequências de
até cerca de 400 a 500 Hz, considera-se como frequência de amostragem mínima para o
sinal de EMG frequências da ordem de 1 kHz ou mais (MARCHETTI; DUARTE, 2006).
Sendo assim, foi desenvolvida a terceira versão da lógica de controle, apresentada no
fluxograma da Figura 4.8. Essa é a versão atual do sistema e é a base do código do
Apêndice B.

Figura 4.8: Fluxograma que representa a lógica de controle utilizada na terceira versão de
programa.

Estudando a lógica da segunda versão, observou-se que a cada leitura realizada, cada
valor lido era gravado no arquivo de texto no cartão de memória. Assim, se fosse realizada
a leitura de um sinal de quatro canais, a cada momento de leitura eram realizadas cinco

115
gravações (quatro canais e o tempo) no cartão SD. Percebeu-se que a gravação de dados no
cartão de memória causa um pequeno atraso na execução do programa. Sendo assim, para
solucionar esse problema, foi implementado um vetor de buffer, utilizado para armazenar
os valores lidos a cada momento de leitura e gravar todos os valores de uma única vez no
arquivo de texto. Assim, se for realizada a leitura de um sinal de quatro canais, conforme
exemplo anterior, a cada momento de leitura, os sinais referentes aos quatro canais e ao
tempo, são guardados no vetor de buffer e, então, o vetor de buffer grava, uma única vez,
os valores correspondentes à esse momento de leitura no arquivo de texto no cartão. Com a
implementação desse buffer, foram adquiridos sinais com frequência de amostragem na
ordem de 1,7 kHz, o que garante um sinal com mais informações e mais próximo ao sinal
analógico real.

Nas Figuras 4.9, 4.10 e 4.11 são apresentados três sinais de EMGS coletados com os
três códigos com lógicas diferentes. Os três sinais são de apenas 1 canal e foram coletados
no músculo bíceps braquial de um voluntário sem amputação e representam uma contração
leve com duração de 3 s.

O sinal da Figura 4.9 foi coletado utilizando-se a lógica de controle da primeira versão
e teve uma frequência de amostragem de 56 Hz. Já o sinal da Figura 4.10 foi coletado
utilizando-se a lógica de controle da segunda versão e teve uma frequência de amostragem
de 772 Hz. Já o sinal da Figura 4.11 foi coletado utilizando-se a lógica de controle da
terceira versão e teve uma frequência de amostragem de 1,7 kHz. Visivelmente é possível
observar a perda de informações do sinal da Figura 4.9. Essa perda de informações está
relacionada com a baixíssima frequência de amostragem do sinal, insuficiente para
aquisição de sinais de EMG, que é um sinal que tem muitas variações em um curto espaço
de tempo.

Figura 4.9: Sinal de EMGS coletado utilizando-se a lógica de controle da primeira versão.
A frequência de amostragem (Fs) foi de 56 Hz.

116
Figura 4.10: Sinal de EMGS coletado utilizando-se a lógica de controle da segunda versão.
A frequência de amostragem (Fs) foi de 772 Hz.

Figura 4.11: Sinal de EMGS coletado utilizando-se a lógica de controle da terceira versão.
A frequência de amostragem (Fs) foi de 1,7 kHz.

Durante a realização dos testes e coletas de sinais, observou-se também que a


quantidade de canais influencia na frequência de amostragem. Um sinal de oito canais, por
exemplo, apresentou uma frequência de amostragem menor que um sinal de apenas um
canal. Essa observação foi feita desde os estudos com o código da segunda versão. Nas
Figuras 4.12 e 4.13 são apresentados dois sinais para ilustrar essa diferença. Ambos foram
capturados utilizando-se o código com a lógica da segunda versão. No sinal da Figura 4.12,
foram coletados quatro canais, o que resultou em uma frequência de amostragem de 300
Hz. O sinal apresentado é o sinal do canal 4 e representa uma contração leve do bíceps
braquial de um voluntário sem amputação. Já no sinal da Figura 4.13, foi coletado apenas
um canal, o que resultou em uma frequência de amostragem de 772 Hz. O sinal
apresentado é o sinal do canal 1 e representa uma contração leve do bíceps braquial do
mesmo voluntário sem amputação.

117
Figura 4.12: Sinal de EMGS do canal 4 coletado utilizando-se a lógica de controle da
segunda versão e quatro canais. A frequência de amostragem (Fs) foi de 300 Hz.

Figura 4.13: Sinal de EMGS do canal 1 coletado utilizando-se a lógica de controle da


segunda versão e apenas um canal. A frequência de amostragem (Fs) foi de 772 Hz.

Os testes de captura de sinais de EMGS em que foram utilizados os códigos com a


lógica da terceira versão, também apresentaram diferenças na frequência de amostragem de
acordo com a quantidade de canais utilizados. Nestes testes, quando adquirido apenas um
canal, a frequência de amostragem obtida é de, em média, 1,7 kHz. Já quando são
adquiridos quatro canais a frequência de amostragem fica por volta de 800 Hz. Sendo
assim, estabeleceu-se que a quantidade máxima de canais a ser usada nos testes futuros é
de quatro canais e que o usuário deverá selecionar a quantidade de canais desejada no
momento da captura dos sinais.

4.1.2 Módulo de Software

O módulo de software do sistema tem a função de exibir e/ou fazer algumas análises
básicas do sinal de EMGS que foi salvo no cartão de memória pelo módulo do circuito
microcontrolado.

118
O software desenvolvido, conforme descrito na seção 3.1.3, apresenta uma interface
gráfica que permite ao usuário visualizar o sinal captado e/ou obter os principais
parâmetros para a análise eletromiográfica. Foi utilizado o software MATLAB e sua
ferramenta GUIDE para o desenvolvimento deste software, que é caracterizado pela
interação de várias telas, conforme apresentado na Figura 3.11.

O Software de Exibição e Análise de Sinais Eletromiográficos desenvolvido neste


trabalho apresenta dois modos principais, o modo Exibição de Sinal EMG e o modo
Análise de Sinal EMG, conforme ilustrado na Figura 4.14. Para acessar qualquer um dos
modos, basta o usuário clicar no botão do modo desejado. Esta tela inicial também permite
ao usuário ter acesso a informações relacionadas aos autores do software, através do botão
Créditos.

Figura 4.14: Tela inicial do Software de Exibição e Análise de Sinais Eletromiográficos


desenvolvido neste trabalho.

No modo Exibição de Sinal EMG, o sinal salvo pela placa microcontrolada no cartão
de memória é selecionado pelo usuário e o sinal captado é exibido graficamente na tela do
software. Neste modo, o usuário tem a opção de escolher quantos canais deseja visualizar
(Figura 4.15), observando a quantidade de canais que o sinal a ser exibido contém. Além
disso, o usuário também pode visualizar cada canal do sinal de forma separada (botão
Selecionar Canal de Sinal EMG), além de poder comparar dois canais de interesse de um
mesmo sinal (botão Comparação de dois Canais).

119
Figura 4.15: Tela inicial do modo de Exibição de Sinal EMG.

Para a exibição do sinal, o usuário é direcionado para uma tela em que poderá
selecionar o sinal que deseja visualizar (Figura 4.16). Nesta tela, o usuário deve pressionar
o botão Selecionar Sinal e, assim, uma caixa de seleção será aberta para que o usuário
selecione o arquivo (.txt) que contém o sinal desejado. Após a seleção, o software exibirá o
sinal (ou o canal do sinal) escolhido, permitindo ao usuário visualizar o sinal desejado.

Figura 4.16: Tela inicial de seleção do sinal do modo de Exibição de Sinal EMG.

120
A Figura 4.17 ilustra a exibição de um sinal de EMGS de quatro canais e a Figura 4.18
ilustra a exibição de um sinal de EMGS de apenas um canal. O sinal da Figura 4.17 foi
capturado em um voluntário sem amputação em que os eletrodos foram posicionados nos
músculos bíceps braquial direito (canal 1) e esquerdo (canal 3), bem como nos músculos
do antebraço direito (canal 2) e esquerdo (canal 4). Este teste inicial foi realizado apenas
para verificar o funcionamento do sistema, não seguindo os protocolos de aquisição
apresentados na seção 3.2. Mesmo assim, observou-se que o sinal exibido corresponde aos
movimentos que foram realizados pelo indivíduo ao longo do teste.

Figura 4.17: Exibição de um sinal de EMGS de quatro canais.

Já o sinal da Figura 4.18 foi adquirido de uma voluntária sem amputação em que os
eletrodos foram posicionados no bíceps esquerdo, seguindo o protocolo estabelecido na
seção 3.2. Durante a aquisição do sinal do músculo em questão, a voluntária permaneceu
um minuto com o músculo em repouso, depois realizou três contrações leves, seguidas por
mais um repouso de 30s e, por fim, realizou quatro contrações fortes.

Em todas as situações de exibição, o usuário tem a opção de adicionar um título para


cada canal do sinal exibido. Além disso, nas telas de Seleção de Canal e Comparação de
Canais, o usuário também tem a opção de aplicar um zoom em um determinado período de
interesse do sinal exibido. A Figura 4.19 ilustra um zoom que foi aplicado no sinal da
Figura 4.18 para se visualizar melhor as contrações fortes realizadas pela voluntária.

121
Figura 4.18: Exibição de um sinal de EMGS de somente um canal.

Figura 4.19: Zoom aplicado no intervalo de 84s a 98s do sinal exibido na Figura 4.18.

Já no modo Análise de Sinal EMG, o sinal selecionado pelo usuário é analisado pelo
software e algumas informações, escolhidas pelo usuário, referentes ao sinal selecionado
são fornecidas. Na tela inicial do software (Figura 4.14), se o usuário pressionar o botão
Análise de Sinal EMG, ele será direcionado para uma tela para a escolha de quais
parâmetros ele deseja que sejam analisados a partir do sinal adquirido (Figura 4.20).

122
Figura 4.20: Tela de seleção de parâmetros a serem analisados pelo software desenvolvido.

Após a escolha dos parâmetros desejados, o usuário deve clicar no botão Analisar
Sinal e, então, ele terá a opção de selecionar o arquivo e o canal que contém o sinal de
EMG que ele deseja que seja realizada a análise. Após essa seleção, o software realizará os
cálculos dos parâmetros selecionados para o sinal escolhido. Os resultados da análise são
exibidos para o usuário no formato de uma tabela. Os cálculos feitos pelo software seguem
os conceitos e as equações descritas na seção 2.4.6 deste trabalho.

4.1.3 Malha de Biomaterial Látex

As malhas derivadas de biomaterial látex foram desenvolvidas seguindo os


procedimentos relatados na seção 3.1.1.2 desta dissertação. A Figura 4.21 apresenta uma
das malhas de látex desenvolvidas neste trabalho. Essa malha tem dimensões de 75 cm de
comprimento e 18 cm de largura. Dependendo em qual músculo ela for aplicada, pode-se
cortar a malha e definir o tamanho que seja mais adequado ao músculo do indivíduo.

Figura 4.21: Malha confeccionada em biomaterial látex, com dimensão de 75 x 18 cm.

123
Durante a realização dos testes, os voluntários, de forma geral, não sentiram incômodo
por parte da malha de látex envolvendo os eletrodos. No entanto, nos testes realizados com
os voluntários com amputação, para o coto, na maioria dos voluntários, a malha dificultou
que a prótese fosse colocada de maneira adequada, atrapalhando a sucção entre o coto e o
soquete, deixando folgas e com risco de que ela se soltasse durante os testes.

A suspensão da prótese é mais complicada nas amputações transfemorais do que nas


amputações mais distais, em razão de coto mais curto, ausência de contornos ósseos e
aumento do peso da prótese. Os soquetes tradicionais com suspensão por sucção atuam
quando a pele forma um selo a prova de ar de encontro ao soquete. O ar é forçado
distalmente por meio de uma pequena válvula unidirecional quando a prótese é vestida e a
cada passo durante a marcha, mantendo, assim, pressão negativa distal no soquete. O
processo de vestir uma prótese com suspensão por sucção requer habilidade e esforço, e os
indivíduos devem ter boa coordenação, membro superior funcional e equilíbrio para essa
tarefa. Geralmente os sistemas de suspensão com válvula de sucção são confortáveis e são
considerados os mais aceitáveis esteticamente (SKINNER; MCMAHON, 2015).

Observou-se, durante os testes com os voluntários amputados, que o uso da malha de


látex no coto não garantiu a sucção total, impedindo a correta fixação da prótese durante a
realização dos testes. Apenas em um caso a malha não interferiu nesse aspecto, dando
segurança para o voluntário poder pedalar.

Um aspecto que deve ser levado em consideração é que as malhas que foram
produzidas cerca de três meses antes de sua utilização, perderam algumas características
como a alta aderência à pele humana ou ao próprio látex. Foi constatado que, devidas as
características do látex em prosseguir com sua vulcanização durante longo período de
tempo, é importante que, para garantir maior aderência quando envolvendo os eletrodos, a
malha seja confeccionada em no máximo um mês antes de sua utilização (RIBAS, 2015).

4.2 TESTES E COLETA DE SINAIS

Conforme descrito na seção 3.2, foram realizados testes e coletas de sinais de EMGS
com dois grupos de voluntários (com amputação e sem amputação) tendo dois objetivos
principais: (i) verificação do funcionamento e da eficiência do sistema de aquisição,
exibição e análise de sinais de EMGS desenvolvido neste trabalho e (ii) análise de
desempenho da filtragem física com malha de látex desenvolvida.

124
4.2.1 Grupo de voluntários com amputação

Os testes e coletas de sinais com o grupo de voluntários amputados apresentaram


problemas relacionados à frequência de amostragem e ao uso da malha de látex. Foram
realizados testes com oito voluntários amputados, sendo que em seis casos houve queda da
prótese e o teste teve que ser interrompido e em dois casos o teste pode ser concluído.

Os testes realizados com esse grupo foram feitos utilizando-se a primeira versão do
código de controle do Arduino, o que resultou em sinais com uma frequência de
amostragem insuficiente e, consequentemente, com perdas de informações.

Em relação à malha de látex, como comentado anteriormente, o seu uso no coto do


voluntário dificultou a sucção da prótese, deixando folgas e em alguns casos contribuindo
para a queda da prótese durante o teste. A queda da prótese de alguns voluntários foi
causada por uma série de fatores, como ausência de descarga de peso na bicicleta e o uso
da malha de látex. Esses fatores influenciaram na perda de sucção da prótese e
consequentemente, na queda da mesma.

A Figura 4.22 ilustra uma coleta de dados de um voluntário amputado. A coleta de


sinais de EMGS com esse voluntário ocorreu sem a presença da malha de látex envolvendo
o coto. Inicialmente, após o posicionamento dos eletrodos, revestiu-se o coto com a malha,
porém houve dificuldades para o voluntário conseguir um bom encaixe entre o coto e o
soquete da prótese, o que poderia implicar na queda da prótese durante o teste. Dessa
forma, após algumas pedaladas para efeitos de teste, foi decidido que não seria possível
realizar a captura com a malha de látex no coto (membro inferior direito). Na outra perna
(esquerda), a malha de látex foi utilizada para envolver os eletrodos, conforme o previsto.

Neste teste, foram coletados os sinais de EMGS dos músculos vasto lateral direito
(canal 1), vasto lateral esquerdo (canal 2), bíceps femoral direito (canal 3) e bíceps femoral
esquerdo (canal 4) do voluntário, e foi seguido o protocolo de rampa estabelecido na seção
3.2 desta dissertação. De acordo com esse protocolo, o voluntário inicia o teste posicionado
na bicicleta e fica em repouso durante cinco minutos. Depois, ele começa a pedalar e a
carga da bicicleta vai sendo aumentada gradativamente em 15 W a cada minuto, até que o
voluntário atinja o esforço máximo. Após atingir esse limiar, o voluntário deve permanecer
mais um minuto pedalando sem carga na bicicleta. Os sinais captados neste teste são
apresentados na Figura 4.23.

125
Figura 4.22: Voluntário amputado durante coleta de dados.

Figura 4.23: Exibição de sinais captados no teste com voluntário amputado da Figura 4.22.

126
A Figura 4.24 ilustra outra coleta de dados com voluntário amputado. Esse voluntário
não sentiu desconforto e nem se queixou da falta de sucção da prótese, mesmo com a
utilização dos eletrodos e da malha de látex no coto (Figura 4.25). Conforme o protocolo
estabelecido, foram coletados os sinais dos músculos vasto lateral direito e esquerdo, e
bíceps femoral direito e esquerdo do voluntário, e foi seguido o protocolo de rampa
estabelecido pelo protocolo. Os sinais coletados são apresentados na Figura 4.26.

(A) (B)
Figura 4.24: (A) Voluntário amputado durante coleta de dados; e (B) detalhe da prótese do
voluntário durante a realização da pedalada.

(A) (B)
Figura 4.25: (A) Posicionamento dos eletrodos no músculo VL da perna direita; e (B)
malha de látex que revestiu o coto do voluntário após a coleta de dados.
127
Figura 4.26: Exibição de sinais captados no teste com voluntário amputado da Figura 4.24.

Ambas as coletas apresentadas tiveram um frequência de amostragem da ordem de 50


Hz, o que é insuficiente para uma aquisição de sinais de EMGS de qualidade. Nestas
aquisições, devido à baixa frequência de amostragem, houve muita perda de informação do
sinal mioelétrico captado, o que resulta em um sinal de baixa qualidade.

Devido aos problemas com o uso da malha de látex, e principalmente devido à baixa
frequência de amostragem, os sinais coletados com o grupo de voluntários amputados não
foram utilizados para a análise de desempenho da filtragem física da malha de látex. Os
sinais captados foram utilizados como testes iniciais de verificação do funcionamento do
sistema e permitiram que vários ajustes importantes pudessem ser implementados.

4.2.2 Grupo de voluntários sem amputação

Os testes e coletas de dados realizados com o grupo de voluntários sem amputação


foram realizados no Laboratório de Engenharia e Biomaterial (BioEngLab®) / Laboratório
de Engenharia & Inovação (LEI) da Universidade de Brasília (UnB), Campus Darcy
Ribeiro e seguiram o protocolo estabelecido na seção 3.2 deste trabalho.

Foram realizados testes com oito voluntários sem amputação, sendo que todos
apresentaram resultados positivos em relação ao desempenho do sistema desenvolvido. Os
sinais de EMGS coletados foram condizentes com o músculo em questão, e com os

128
movimentos e estágios de contração realizados. Também foram realizados testes, com esse
grupo de voluntários, para verificar o desempenho da filtragem física realizada pela malha
de látex. Os resultados destes testes são apresentados na seção 4.3.

Um destes testes foi realizado com uma voluntária do sexo feminino e teve o objetivo
de verificar o funcionamento do sistema desenvolvido. Neste teste, utilizou-se apenas um
canal de aquisição e o código de controle do circuito microcontrolado foi da terceira
versão. O músculo analisado foi o bíceps braquial direito. O teste teve uma duração de
quase 2 minutos e foi solicitado que a voluntária realizasse diferentes estágios de
contração. Inicialmente, foi solicitado que a voluntária permanecesse com o músculo
analisado em repouso e, após 10 segundos, a voluntária realizou cinco contrações leves,
seguidas de um breve repouso e posteriormente foram realizadas três contrações de força
média. O sinal de EMGS capturado foi armazenado em um cartão de memória pelo
hardware do sistema e foi, posteriormente, visualizado no software desenvolvido.

A Figura 4.27 apresenta o sinal coletado neste teste e as Figuras 4.28-A e 4.28-B
apresentam zooms que foram aplicados no sinal, utilizando-se as opções de visualização do
software desenvolvido. Na Figura 4.28-A, foi aplicado um zoom no sinal da Figura 4.27
para visualização das contrações leves realizadas pela voluntária, e na Figura 4.28-B foi
aplicado um zoom no sinal da Figura 4.27 para visualização das contrações de força média
realizadas pela voluntária.

Figura 4.27: Exibição do sinal de EMGS coletado no bíceps braquial direito de voluntária
sem amputação.

129
Figura 4.28-A: Zoom aplicado no intervalo de 10s a 35s do sinal exibido na Figura 4.27,
para melhor visualizadas das contrações leves.

Figura 4.28-B: Zoom aplicado no intervalo de 37s a 50s do sinal exibido na Figura 4.27,
para melhor visualizadas das contrações de força média.

Esse teste teve uma frequência de amostragem satisfatória, de 1,77 kHz, e com ele, foi
possível verificar a eficiência do sistema desenvolvido, sendo condizente com os
movimentos realizados e coletando sinais de qualidade.

130
4.3 FILTRAGEM FÍSICA: ANÁLISE DE DESEMPENHO

Para verificar o desempenho da malha de látex aplicada como filtro físico, foi seguido
o protocolo descrito na seção 3.3 e foram analisados os sinais coletados do grupo de
voluntários sem amputação.

Os testes realizados neste grupo possibilitam uma comparação entre dois tipos de
sinais (sem e com a malha de látex), sendo ambos referentes ao mesmo músculo, ao
mesmo voluntário e seguindo a mesma sequência de movimentos.

A aquisição destes sinais, sem e com a malha de látex, possibilita, assim, uma
comparação visual entre esses dois tipos de sinais de EMGS, permitindo a realização de
uma análise de desempenho da malha de látex como filtro físico, podendo-se verificar se o
sinal captado com o uso da malha de látex possui aspectos positivos em comparação ao
sinal captado sem o uso da malha de látex, observando principalmente as interferências por
ruídos eletroquímicos e artefatos de movimento.

Nas Figuras 4.29 e 4.30 são apresentados dois sinais coletados para a realização desta
comparação. Os sinais foram captados no bíceps braquial direito de uma voluntária do sexo
feminino sem amputação, e foi utilizado um canal de aquisição em cada teste e a terceira
versão da lógica de controle do circuito microcontrolado. Ambos os sinais apresentaram
frequência de amostragem de 1,77 kHz.

O protocolo seguido é caracterizado por dois momentos. No primeiro momento, o


sinal captado (Figura 4.29) é referente ao teste sem o uso da malha de látex; e no segundo
momento, o sinal captado (Figura 4.30) é referente ao teste com o uso da malha de látex
envolvendo os eletrodos. É importante ressaltar que ambos os testes foram realizados com
o mesmo posicionamento dos eletrodos no músculo da voluntária.

Os movimentos realizados nos dois momentos do teste são os mesmos e seguem a


seguinte ordem: inicialmente a voluntária fica alguns segundos com o músculo em
repouso; depois realiza algumas contrações leves; fica mais alguns segundos com o
músculo em repouso; após, realiza contrações fortes, permanecendo em seguida, com o
músculo novamente em repouso. Ao final, a voluntária permanece em repouso enquanto o
pesquisador que conduz o teste realiza uma simulação de geração de artefatos de
movimento, promovendo uma movimentação nos cabos e na interface pele-eletrodo.

131
Figura 4.29: Teste de desempenho de malha de látex como filtragem física. Momento I –
sinal captado sem o uso da malha de látex.

Figura 4.30: Teste de desempenho de malha de látex como filtragem física. Momento II –
sinal captado com o uso da malha de látex.

Para melhor comparação, foram aplicados zoom em quatro períodos dos sinais, que
estão apresentados a seguir:
(1) no período de repouso;
(2) no período de contrações leves;
(3) no período de contrações fortes e
(4) no período de geração de artefatos de movimento.

132
(1) Repouso:

Figura 4.31: Período do músculo em repouso – sinal captado sem o uso da malha de látex.

Figura 4.32: Período do músculo em repouso – sinal captado com o uso da malha de látex.

133
(2) Contrações leves:

Figura 4.33: Período de contrações leves – sinal captado sem o uso da malha de látex.

Figura 4.34: Período de contrações leves – sinal captado com o uso da malha de látex.

134
(3) Contrações fortes:

Figura 4.35: Período de contrações fortes – sinal captado sem o uso da malha de látex.

Figura 4.36: Período de contrações fortes – sinal captado com o uso da malha de látex.

135
(4) Geração de artefatos de movimento:

Figura 4.37: Período de geração de artefatos – sinal captado sem o uso da malha de látex.

Figura 4.38: Período de geração de artefatos – sinal captado com o uso da malha de látex.

136
A partir destas comparações, é possível observar visualmente uma pequena
diminuição nos níveis dos sinais captados com o uso da malha de látex em relação aos
sinais captados sem o uso da malha de látex. No entanto, essa é uma avaliação visual e
qualitativa, dependendo da análise realizada pelo avaliador.

Nas figuras 4.39 e 4.40 é apresentada uma comparação de dois sinais captados de
outra voluntária, mas seguindo os mesmos procedimentos. Os sinais apresentados são de
contrações fortes e também evidenciam uma pequena diferença nos níveis dos sinais.

Figura 4.39: Sinal captado sem o uso da malha de látex – Voluntária 2.

Figura 4.40: Contração forte – sinal captado com o uso da malha de látex.

137
As avaliações e comparações realizadas neste trabalho em relação a sinais sem e com
o uso da malha de látex são avaliações visuais e, sendo assim, não é possível enunciar
afirmações concretas sobre o desempenho da malha de látex como filtro físico.

Dessa forma, não é possível afirmar que o sinal captado com o uso da malha de látex
possui aspectos positivos em comparação ao sinal captado sem o uso da malha de látex,
observando as interferências por ruídos eletroquímicos e artefatos de movimento.

No entanto, observa-se que o uso da malha de látex influencia de alguma forma o sinal
captado. Para uma melhor determinação dessa influência, faz-se necessária a realização de
um estudo mais específico abordando essa problemática. Neste estudo, devem ser previstos
métodos quantitativos para avaliações e comparações mais concretas e consistentes.

138
5 CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS

O sistema de aquisição, exibição e análise de sinais de EMGS desenvolvido neste


trabalho mostrou-se um sistema capaz de realizar capturas de sinais de EMGS, resultando
em sinais condizentes com os músculos analisados, e com os movimentos e estágios de
contração realizados.

Seu desenvolvimento foi marcado por dificuldades, que foram em sua maioria
superadas, e resultou em um sistema para a coleta de sinais de EMGS que pode ser
melhorado.

Destaca-se o uso de circuitos simples, de fácil aquisição e de custo reduzido no


hardware do sistema, o que permitiu um esquema elétrico com dimensões reduzidas,
menor quantidade de componentes, menor consumo elétrico e custo reduzido.

O uso do amplificador de instrumentação INA128P no circuito eletrônico contribui


para a eliminação de ruídos de modo comum que podem afetar o sinal. Essa característica é
devido ao alto CMRR que este componente apresenta. Destaca-se também o uso de filtros
ativos básicos de primeira ordem, sendo que em outros sistemas é comum a utilização de
filtros elétricos do tipo Butterworth e de ordens superior à quarta para o processo de
filtragem de sinais de EMGS.

No circuito microcontrolado do hardware do sistema, destaca-se o uso da plataforma


Arduino Mega, que é uma placa simples, acessível, de fácil aquisição e que tem sido
amplamente utilizada em várias pesquisas. Ela desempenha a função de digitalização do
sinal condicionado pelo circuito eletrônico e de armazenamento do sinal digital em um
cartão de memória. No entanto, ela apresenta limitações relacionadas ao conversor A/D
que a compõe. Esse conversor é de 10 bits, o que influencia na resolução do processo de
conversão A/D.

O processo de gravação do sinal digital em um cartão de memória apresentou vários


desafios para o desenvolvimento do sistema. Durante vários testes, observou-se que a
lógica de controle para a gravação dos dados no cartão influencia diretamente na
frequência de amostragem do sinal. A primeira lógica utilizada foi marcada por um erro
que resultou em uma frequência de amostragem insuficiente para uma aquisição de sinais
de EMGS de qualidade. A identificação deste erro só possível após um estudo detalhado da
lógica de controle aplicada. Com a correção do erro, observou-se que o ato de salvar os

139
dados captados pelo sistema diretamente no cartão de memória, gera uma perca de tempo
durante a aquisição, o que também influencia na frequência de amostragem do sinal. Para
solucionar esse problema, foi implementado um buffer durante o processo de aquisição.
Com essa técnica, os dados coletados são armazenados no buffer e somente são gravados
no cartão de memória após o fim de cada momento de leitura. Isso proporcionou um
aumento significativo na frequência de amostragem do sinal, garantindo uma maior
qualidade ao sinal de EMGS coletado.

Outro ponto analisado foi a relação entre a frequência de amostragem e a quantidade


de canais utilizados. Inicialmente, o sistema foi desenvolvido para aquisição de até 16
canais. No entanto, observou-se que quanto maior o número de canais utilizados, menor a
frequência de amostragem por canal. Dessa forma, limitou-se o número máximo de 4
canais de aquisição a serem utilizados com o sistema desenvolvido. Os sinais adquiridos
utilizando-se somente 1 canal, apresentam uma frequência de amostragem de, em média,
1,7 kHz, sendo um valor considerado satisfatório para a aquisição de sinais de EMGS. Já
os sinais adquiridos utilizando-se 4 canais, apresentam uma frequência de amostragem de,
em média, 800 Hz por canal. Esse valor, apesar de não ser o ideal, permite a realização de
aquisições de sinais de EMGS.

Apesar destes desafios, o armazenamento dos sinais digitalizados em um cartão de


memória traz a vantagem de que o sinal adquirido fica salvo e pode ser, posteriormente,
visualizado, processado e/ou analisado.

O software de exibição e análise de sinais de EMGS desenvolvido neste trabalho


apresenta-se como uma interface gráfica que permite aos usuários visualizar o sinal
captado e obter alguns parâmetros relacionados ao sinal de forma intuitiva e facilitada. O
desenvolvimento da interface gráfica permite que usuários que não estejam familiarizados
com o software MATLAB, possam usar de suas poderosas ferramentas, sem ter que
desenvolver scripts de programação.

O uso da malha de biomaterial látex como filtro físico na fase de aquisição do sinal de
EMGS para diminuição de ruídos eletroquímicos e de artefatos de movimento, conforme
foi apresentado neste trabalho, não pode ser comprovado com a metodologia empregada. A
análise visual não se mostrou eficiente e impossibilitou a determinação concreta dessa
filtragem. No entanto, durante a realização dos testes e analisando visualmente os sinais,

140
fica evidente que a malha de látex influencia de alguma forma na captura dos sinais,
podendo sim realizar uma filtragem física.

Em um contexto geral, este trabalho englobou diversos conceitos relacionados aos


sinais eletromiográficos de superfície. O objetivo de desenvolver um sistema de aquisição,
exibição e análise de sinais de EMGS abordando o conceito de baixo custo foi atingido, e o
sistema desenvolvido pode ser aplicado em outras pesquisas, de forma a popularizar a
coleta de sinais de EMG, facilitando seu uso e possibilitando aplicações da eletromiografia
em mais áreas.

Já o objetivo de desenvolvimento de uma malha derivada de biomaterial látex para ser


utilizada como filtro biomecânico na etapa de aquisição do sinal de EMGS não foi
totalmente atingido, uma vez que não foi possível comprovar de forma concreta essa
filtragem. Mas acredita-se que a malha desenvolvida e sua aplicação na etapa de aquisição
são válidas, faltando somente o desenvolvimento de uma metodologia quantitativa que
comprove a filtragem física.

Assim, o presente trabalho possibilita o desenvolvimento de outros estudos mais


específicos, abordando separadamente cada uma das etapas apresentadas nesta dissertação,
de forma a melhorar o sistema desenvolvido. O desenvolvimento deste trabalho apresentou
uma grande interdisciplinaridade e contribuiu significativamente para a formação científica
e acadêmica dos pesquisadores.

5.1 TRABALHOS FUTUROS

Propõe-se, para trabalhos futuros, a realização de estudos que abordem os ajustes a


serem feitos em cada etapa apresentada, de forma a melhorar o sistema desenvolvido.
Dessa forma, propõe-se a:

 Substituição da plataforma Arduino Mega por outra que contenha um conversor


A/D de ordem superior (Arduino Due, por exemplo, com conversor A/D de 12
bits), para garantir uma conversão com maior resolução, permitindo uma melhoria
no sinal digital resultante;

 Realização de estudos na lógica de controle do circuito microcontrolado que


proporcionem um aumento maior na frequência de amostragem do sinal;

141
 Melhoria no modo de análise do software, garantindo cálculos mais eficientes, e a
implementação de um modo de visualização dos sinais de forma instantânea;

 Realização de um estudo específico relacionado à utilização da malha de látex


como filtro físico, utilizando metodologias quantitativas eficientes para a
comprovação desta influência.

142
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGOSTINI, D. L. S. Caracterização dos constituintes do Látex e da borracha natural que


estimulam a angiogênese. Dissertação de Mestrado. UNESP, Presidente Prudente, 2009.

ALBRECHT, B. L. Controle de uma cadeira de rodas motorizada através de


eletromiografia em uma plataforma embarcada. Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Porto Alegre/RS, 2010.

ALMEIDA, C. A. P. Investigação de parâmetros espectrais do EMG aplicáveis à terapia


por Biofeedback. Dissertação de Mestrado em Engenharia Biomédica. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 2010.

ALMEIDA, T. P.; FERRI, C. A.; QUEVEDO, A. A. F. Sistema para Captura de Sinais


Eletromiográficos de Superfície com sete canais utilizando Módulo Freescale® Tower
S08MM128. Anais do XIX Congresso Brasileiro de Automática, Campina Grande, 2012.

ALVES, C. G. Avaliação eletromiográfica de amputados transfemorais para ativação de


membros artificiais. Dissertação de Mestrado em Engenharia Biomédica. Universidade de
Brasília, 2013.

ALVIM, F. C. Investigação das propriedades do sinal eletromiográfico do músculo bíceps


braquial em diferentes níveis de força isométrica voluntária. Universidade Federal de Juiz
de Fora, Juiz de Fora/MG, 2012.

AMABILE, R. A. N. Remoção de artefatos e análise de parâmetros espectrais em sinais de


EEG: efeitos do fármaco flunitrazepam. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de
Minas Gerais. Belo Horizonte/MG, 2008.

AMORIM, C. F. Eletromiografia de superfície como ferramenta de quantificação aplicada


no estudo da reabilitação motora e funcional. Tese de Doutorado, Universidade do Vale do
Paraíba. São José dos Campos, 2009.

ANDRADE, N. A. Desenvolvimento de um sistema de aquisição e processamento de


sinais eletromiográficos de superfície para a utilização no controle de próteses motoras
ativas. Universidade de Brasília, Faculdade de Tecnologia, Departamento de Engenharia
Elétrica. Dissertação de Mestrado em Engenharia Elétrica. Brasília/DF, 2007.

ATLAS VISUAL DO CORPO HUMANO. Editora Rideel, 2006. Disponível em:


<https://issuu.com/joemermoutinhocamargos/docs/atlas_visual_do_corpo_humano>.
Acesso em: março 2016.

AVELINO, V. F. Sistema de Detecção e Classificação para Eletromiografia Clínica. São


Paulo: Escola Politécnica da USP, 1992.

143
BARROS, K. R. Metodologia para classificação de sinais EMG para controle de próteses
com baixo esforço computacional. Dissertação de Mestrado em Ciências. Universidade
Federal de Uberlândia. Uberlândia: FEELT-UFU, 2005.

BARTLETT, R. Introduction to Sports Biomechanics: Analysing Human Movement


Patterns. 2 ed. Taylor & Francis e-Library, 2007.

BASMAJIAN, J. V.; DE LUCA, C. J. Muscles Alive. 5th ed., Williams & Wilkins,
Baltimore, 1985.

BECKER, A. J. et al. Noções Básicas de Programação em MATLAB. UFSM. Santa Maria,


2010.

BERNARDES, W. M. S. et al. Decomposição e Análise de Sinais Eletromiográficos. V


CEEL, Universidade Federal de Uberlândia, 2007.

BLANC, Y.; DIMANICO, U. History of the Study of Skeletal Muscle Function with
Emphasis on Kinesiological Electromyography. The Open Rehabilitation Journal, v. 3,
2010, p. 84-93.

CHAVES, M. L. F.; FINKELSZTEJN, A.; STEFANI, M. A. Rotinas em neurologia e


neurocirurgia. Porto Alegre: Artmed, 2008.

CHOWDHURY, R. H. et al. Surface Electromyography Signal Processing and


Classification Techniques. Sensors, v. 13, n. 9, p. 12431-12466, 2013.

CORREA, C. S.; COSTA, R.; PINTO, R. S. Utilização de diferentes técnicas para o


controle do posicionamento dos eletrodos de superfície na coleta do sinal eletromiográfico.
Rev. Acta Brasileira do Movimento Humano, v.2, n.2, p.5-13 – Abr/Jun, 2012.

COSTA, M. V. C. Compressão de sinais de eletromiografia explorando correlação


bidimensional. Dissertação de Mestrado em Engenharia Elétrica. Universidade de Brasília,
2008.

COUGHLIN, R. F.; DRISCOLL, F. F. Operational Amplifiers and Linear Integrated


Circuits. 6 ed. Prentice Hall, 2001.

CRAM, J. R.; KASMAN, G. S. The basics of surface electromyography. In: CRISWELL,


E. Cram’s introduction to surface electromyography. Jones and Bartlett Publishers, LLC.,
2011.

DALL’ANTONIA, A. C. et al. Avaliação de Clones de Borracha Natural Crua por Ensaios


Padrão e Análise Dinâmico-Mecânica. Polímeros: Ciência e Tecnologia, vol. 16, n° 3, p.
239-245, 2006.

DE LUCA, C. J. Physiology and Mathematics of Myoelectric Signals. IEEE Transactions


on Biomedical Engineering, volume: BME-26, p. 313-325, 1979.

144
DE LUCA, C. J. Surface Electromyography: Detection and Recording. DelSys
Incorporated, 2002.

DE LUCA, C. J. Electromyography. In: Webster JG (Ed). Encyclopedia of Medical


Devices and Instrumentation, John Wiley Publisher, 98-109, 2006.

DE LUCA, C. J. et al. Decomposition of Surface EMG Signals. J Neurophysiol, vol 96, p.


1646–1657, 2006.

DE LUCA, C. J.; et al. Filtering the surface EMG signal: Movement artifact and baseline
noise contamination. Journal of Biomechanics, volume 43, p. 1573–1579, 2010.

DELSYS. What factors affect EMG Signal Quality? 2016. Disponível em:
<http://www.delsys.com/products/software/emgworks/sqm/factors/>. Acesso em abril,
2016.

DELSYS. Trigno™ Wireless Systems and Smart Sensors. 2016. Disponível em:
<http://www.delsys.com/products/wireless-emg/>. Acesso em abril, 2016.

FEODRIPPE, P. et al. EMG BIOANALYZERBR para a análise de sinais


eletromiográficos na deglutição. Rev. CEFAC. Mai-Jun; 14(3):498-505, 2012.

FORTI, F. Análise do sinal eletromiográfico em diferentes posicionamentos, tipos de


eletrodos, ângulos articulares e intensidades de contração. Dissertação de Mestrado em
Fisioterapia. Universidade Metodista de Piracicaba. Piracicaba, 2005.

FREITAS, G. S. Biofeedback eletromiográfico no tratamento das disfunções orofaciais


neurogênicas: revisão integrativa de literatura. UFSC, Florianópolis/SC, 2015.

GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 11ª edição. Rio de janeiro:
Elsevier, 2006.

HAMILL, J.; KNUTZEN, K. M. Bases biomecânicas do movimento humano. 2 ed.


Barueri, SP: Manole, 2008.

HENNEBERG, K. Principles of Electromyography. In: The Biomedical Engineering


Handbook. (Joseph D. Bronzino, Ed.). Second Edition. Boca Raton: CRC Press LLC,
2000. Cap. 14.

HERCULANO, R. D. Desenvolvimento de membranas de látex natural para aplicações


médicas. Tese de Doutorado. USP, Ribeirão Preto, 2009.

HERMENS, H. J. et al. SENIAM – Surface ElectroMyoGraphy for the Non-Invasive


Assessment of Muscles. European Recommendations for Surface ElectroMyoGraphy,
1996-1999. Disponível em: <http://www.seniam.org/>. Acesso em março, 2016.

HOLLINGER, J. O. An Introduction to Biomaterials. 2 ed. CRC Press Taylor & Francis


Group, 2012.

145
HUIGEN, E. Noise characteristics of surface electrodes. Delft Technical University, 2001.

HUIGEN, E.; PEPER, A.; GRIMBERGEN, C. A. Investigation into the origin of the noise
of surface electrodes. Medical & Biological Engineering & Computing, vol. 40, p. 332-
338, 2002.

JAMAL, M. Z. Signal Acquisition Using Surface EMG and Circuit Design Considerations
for Robotic Prosthesis. In: NAIK, G. R. Computational Intelligence in Electromyography
Analysis – A Perspective on Current Applications and Future Challenges. INTECH
publishing, cap. 18, p. 427-448, 2012.

JUNIOR, D. H. et al. Apostila de MATLAB. Universidade Federal do Ceará.


Fortaleza/CE, 2014.

KAWACHI, E. Y. et al. Biocerâmicas: tendências e perspectivas de uma área


interdisciplinar. Química Nova, 23(4), p. 518-522, 2000.

KONRAD, P. The ABC of EMG - A Practical Introduction to Kinesiological


Electromyography. Powered by Noraxon INC, USA, version 1.0, 2005.

LADEGAARD, J. Story of electromyography equipment. Muscle & Nerve Supplement 11:


p. S128–S133, Wiley Periodicals, Inc, 2002.

LAMONTAGNE, M. Application of Electromyography in Sport Medicine. Cap. 4, p. 31-


42. In: PUDDU, G.; GIOMBINI, A.; SELVANETTI, A. Rehabilitation of Sports Injuries:
Current Concepts. Springer, 2001.

LIMA, L. M.; FREITAS, M. C. R.; SILVA, H. J. Análise e Leitura do Sinal


Eletromiográfico. Cap 2. In: SILVA, H. J. Protocolos de Eletromiografia de Superfície em
Fonoaudiologia. Barueri/SP: Pró-Fono, 2013.

LONGO, B. B. Desenvolvimento de Ferramentas para Pesquisas em Tecnologias


Assistivas baseadas em Sinais Biológicos. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal
do Espírito Santo. Vitória/ES, 2015.

LOPES, R. F. G. Processo de Conversão A/D para Aquisição de Sinais Mioelétricos.


Dissertação de Mestrado. FEUP, 2014.

MALVINO, A.; BATES, D. J. Eletrônica. Volume 2, 7 ed. Porto Alegre: AMGH


(McGraw-Hill e Bookman), 2011.

MARCHETTI, P. H.; DUARTE, M. Instrumentação em Eletromiografia. Laboratório de


Biofísica, Universidade de São Paulo, 2006.

MATHWORKS. MATLAB. The MathWorks, Inc., 2016. Disponível em:


<http://www.mathworks.com/products/matlab/index.html>. Acesso em abril 2016.

MERLETTI, R.; PARKER, P. ELECTROMYOGRAPHY: Physiology, Engineering, and


Noninvasive Applications. IEEE Press, John Wiley & Sons, Inc., 2004.

146
MORAES, K. J. R. et al. Conceitos básicos que envolvem a eletromiografia de superfície:
potencial de ação muscular, aquisição do sinal elétrico e a importância para o sistema
estomatognático. Cap 1. In: SILVA, H. J. Protocolos de Eletromiografia de Superfície em
Fonoaudiologia. Barueri/SP: Pró-Fono, 2013.

MOTION LAB SYSTEMS. A software user guide for EMG Graphing and EMG Analysis.
Motion Lab Systems, Inc. 2009.

MOURA, I. L. B. Sistema para aquisição sem fio dos sinais de eletromiografia de


superfície baseado no protocolo IEEE 802.15.4. Universidade de Brasília, FGA, 2013.

NAJARIAN, K.; SPLINTER, R. Biomedical Signal and Image Processing. Second


Edition. Boca Raton: CRC Taylor & Francis, 2012.

NAKASHIMA, G. Y. Aplicação do filtro de Wiener para tratamento de sinais


eletromiográficos. Dissertação de Mestrado em Bioengenharia. Universidade de São Paulo,
São Carlos, 2003.

NASCIMENTO, G. K. B. O. et al. Protocolo de avaliação eletromiográfica em mastigação.


Cap 3. In: SILVA, H. J. Protocolos de Eletromiografia de Superfície em Fonoaudiologia.
Barueri/SP: Pró-Fono, 2013.

NASSAR, E. J. et al. Biomaterials and Sol-Gel Process: A Methodology for the


Preparation of Functional Materials. Cap 1. In: PIGNATELLO, R. Biomaterials Science
and Engineering. InTech, 2011.

NEUMANN, Donald A. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético: fundamentos para


reabilitação. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

OLIVEIRA, L. S. A. F. et al. Biomateriais com aplicação na regeneração óssea – método


de análise e perspectivas futuras. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, 9, p. 37-44,
2010.

OPPENHEIM, A. V.; WILLSKY, A. S. Sinais e Sistemas. 2 ed. São Paulo: Pearson


Prentice Hall, 2010.

PARK, J.; LAKES, R. S. Biomaterials: An Introduction. 3 ed. Springer, 2007.

PERTENCE JR., Antonio. Amplificadores Operacionais e Filtros Ativos: eletrônica


analógica. 8 ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.

PORTNEY, L. G.; ROY, S. H.; ECHTERNACH, J. L. Eletromiografia e testes de


velocidade de condução nervosa. In: O’SULLIVAN, S. B.; SCHMITZ, T. J. Fisioterapia:
avaliação e treinamento. 5ª Ed. Barueri, SP: Manole, p.295-342, 2010.

QUEVEDO, A. A. F. Desenvolvimento de um Sistema de Análise Digital de Sinais


Eletromiográficos. Faculdade de Engenharia Elétrica, Departamento de Engenharia
Biomédica. Campinas: UNICAMP, 1993.

147
RAPOSO, R. D.; SILVA, H. J. Proposta de um protocolo de avaliação da atividade elétrica
dos músculos masseter e supra-hióideos em recém-nascidos pré-termo durante a
alimentação. Rev. CEFAC. 15(4):803-814, 2013.

RATNER, B. D. et al. Biomaterials Science: An Introduction to Materials in Medicine.


Academic Press, 1996.

REIS, M. C. Sistema indutor de neoformação tecidual para pé diabético com circuito


emissor de luz de leds e utilização do látex natural. Tese de Doutorado em Engenharia
Elétrica, Universidade de Brasília, 2013.

RIBAS, A. S. F. Amputados Transfemorais: Sistema de Captura de Sinais


Eletromiográficos com Interface de Biomaterial Látex. Universidade de Brasília, FGA,
Brasília/DF, 2015.

RIBEIRO, T. P. Avaliação da biocompatibilidade e potencial angiogênico do látex de


Hancornia speciosa. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Goiás.
Ipameri/GO, 2014.

RIILLO, F. et al. Optimization of EMG-based hand gesture recognition: Supervised


vs.unsupervised data preprocessing on healthy subjects and transradial amputees.
Biomedical Signal Processing and Control, 14, p. 117–125, Elsevier Ltd, 2014.

ROBERGS, R. A.; ROBERTS, S. O. Função neuromuscular e adaptação ao exercício. In:


Princípios Fundamentais de Fisiologia do Exercício: para Aptidão, Desempenho e Saúde.
São Paulo: Phorte Editora, p. 76-109, 2002.

RODRIGUES, E. B. Estudo da estabilidade das propriedades mecânicas e químicas de


compostos de borracha vulcanizados com enxofre após envelhecimento térmico e
oxidativo. Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
2010.

ROSA, S. S. R. F. et al. Use of Natural Latex as a Biomaterial for the Treatment of


Diabetic Foot - A New Approach to Treating Symptoms of Diabetes Mellitus. Topics In
Public Health, InTech. [s.l.], p.213-248, 2015.

SALLES, A. D. et al. Corpo Humano I. v. 2, 2.ed. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ,


2009.

SCHLEMMER, D. A.; ANDREANI, L.; VALADARES, L. F. Biomateriais: Polímeros e


Compósitos. Comunicado Técnico, 10, Embrapa Agroenergia. Brasília/DF, 2014.

SEDRA, A. S.; SMITH, K. C. Microeletrônica. 5 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2007.

SILVA, J. P. L. Desenvolvimento de eletrodos e ferramenta para processamento de sinais


eletromiográficos de superfície. Universidade de Brasília, FGA. Brasília/DF, 2014.

148
SILVERTHORN, D. U. Fisiologia Humana: uma abordagem integrada. 5 ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010.

SINHORETI, M. A. C.; VITTI, R. P.; SOBRINHO, L. C. Biomateriais na Odontologia:


panorama atual e perspectivas futuras. Revista da Associação Paulista de Cirurgiões
Dentistas; 67(3):178-86, 2013.

SKINNER, H. B.; MCMAHON, P. J. CURRENT: Diagnóstico e tratamento: Ortopedia. 5.


ed. AMGH Editora, 2015.

SÓ BIOLOGIA. Transmissão do impulso nervoso. 2008. Disponível em:


<http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Histologia/epitelio29.php>. Acesso em: abril
2016.

SOUZA, G. S. S.; LOUZADA, H. B. S. Desenvolvimento de instrumentação e


metodologia relativas à atividade de aquisição, processamento e interpretação de sinais
eletromiográficos de superfície. Universidade de Brasília, 2006.

TELES, F. S. Análise de parâmetros eletromiográficos durante exercício realizado com


resistência elástica sob controle objetivo ou subjetivo. Dissertação de Mestrado,
Universidade de Brasília, 2015.

TEXAS INSTRUMENTS. INA12x Precision, Low Power Instrumentation Amplifiers.


Texas Instruments Incorporated, 2015. Disponível em:
<http://www.ti.com/lit/ds/symlink/ina128.pdf>. Acesso em: abril, 2016.

TOMÉ, F. B. Metodologias de concepção de eeletrodos para Eletromiografia de


Superfície. Dissertação Mestrado Engenharia Biomédica. Universidade de Brasília, 2015.

VENEZIANO, W. H. Estudo do comportamento do sinal eletromiográfico de superfície


em atividades subaquáticas. Tese de Doutorado em Engenharia Elétrica, Universidade de
Brasília, 2006.

VIEIRA, R. G. et al. Sistema para Aquisição, Monitoramento e Processamento de Sinais


Eletromiográficos. IV Workshop de Informática aplicada à Saúde – CBComp, p. 552-555,
2004.

WINTER, D. A.; FUGLEVAND, A. J.; ARCHER, S. E. Crosstalk in Surface


Electromyography: Theoretical and Practical Estimates. Journal of Electromyographyn and
Kinesiology, vol.4, nº 1, p. 15-26, 1994.

XIE, H. et al. Hybrid soft computing systems for electromyographic signals analysis: a
review. BioMedical Engineering OnLine 2014, 13:8.

149
ANEXOS

150
ANEXO A – SISTEMA MUSCULAR

Figura A-1: Principais músculos do corpo humano, vista anterior.


(ATLAS VISUAL DO CORPO HUMANO, 2006).

151
Figura A-2: Principais músculos do corpo humano, vista posterior.
(ATLAS VISUAL DO CORPO HUMANO, 2006).

152
ANEXO B – ESQUEMA ELÉTRICO DO CIRCUITO ELETRÔNICO

Esquema elétrico do circuito eletrônico que compõem o módulo de hardware do sistema.


(RIBAS, 2015).

153
ANEXO C – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA

154
ANEXO D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

155
156
157
158
ANEXO E – PUBLICAÇÕES

Artigo submetido (CBEB 2016).

159
Artigo submetido (CBEB 2016).

160
Artigo submetido (CBEB 2016).

161
Artigo submetido (CBEB 2016).

162
Artigo submetido (CBEB 2016).

163
Artigo submetido (CBEB 2016).

164
Artigo submetido (CBEB 2016).

165
Artigo submetido (CBEB 2016).

166
APÊNDICES

167
APÊNDICE A – ESQUEMA ELÉTRICO DO CIRCUITO
MICROCONTROLADO

168
APÊNDICE B – CÓDIGO PARA MICROCONTROLADOR

169
170

Você também pode gostar