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E-Book Completo - Projeto de Arquitetura e Urbanismo IV - DIGITAL PAGES (Versão Digital)

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PROJETO DE PROJETO DE

Projeto de Arquitetura e Urbanismo IV


ARQUITETURA E ARQUITETURA E
URBANISMO IV URBANISMO IV
Ana Carolina Carvalho Figueiredo Ana Carolina Carvalho Figueiredo

Caro estudante, entraremos agora no mundo do desenvolvimento de projetos resi-


denciais e comerciais de média complexidade, sendo eles edificações de apartamentos
ou prédios comerciais, como restaurantes. Esses projetos devem ser desenvolvidos
com base em um anteprojeto e suas relações espaciais, considerando uma adequa-
ção funcional e volumétrica com o entorno edificado. Compreenderemos, assim, o que
fundamenta as análises pré-projetuais e como é possível realizá-las no nível do entor-
no do projeto, da tipologia e da sua função e forma.
Além disso, exploraremos a importância da criatividade e as metodologias que podem
ser adotadas para desenvolver qualquer projeto. Para escolhermos os materiais e os
sistemas construtivos do projeto, identificaremos a importância da técnica e da tec-
nologia. Todo esse processo perpassa pela apresentação de um conjunto de referên-
cias, para enriquecer nosso “vocabulário” de projeto. Esses estudos de caso apresen-
tarão similaridades com o objeto de estudo de cada unidade, e auxiliarão na definição
do pré-projeto e do anteprojeto de arquitetura. Por fim, seremos capazes de adequar
os projetos às normas e à legislação.

GRUPO SER EDUCACIONAL

gente criando o futuro

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Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz

Diretor-presidente Jânyo Diniz

Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo

Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz

Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira

Autoria Ana Carolina Carvalho Figueiredo

Projeto Gráfico e Capa DP Content

DADOS DO FORNECEDOR

Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional,

Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão.

© Ser Educacional 2021

Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro

Recife-PE – CEP 50100-160

*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.

Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos.

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio

ou forma sem autorização.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo

artigo 184 do Código Penal.

Imagens de ícones/capa: © Shutterstock

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Boxes

ASSISTA
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado.

CITANDO
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa
relevante para o estudo do conteúdo abordado.

CONTEXTUALIZANDO
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato;
demonstra-se a situação histórica do assunto.

CURIOSIDADE
Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto
tratado.

DICA
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado.

EXEMPLIFICANDO
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto.

EXPLICANDO
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da
área de conhecimento trabalhada.

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Sumário

Unidade 1 - Fundamentação temática e a análise projetual: projetos residenciais


Objetivos da unidade............................................................................................................ 12

Análises na arquitetura........................................................................................................ 13
O exercício de projetar.................................................................................................... 13
Procedimentos de análise de projetos......................................................................... 16
Estudo da quadra e entorno........................................................................................... 17
Referências projetuais.................................................................................................... 20

Análise de soluções projetuais.......................................................................................... 23


Projeto de habitação multifamiliar ............................................................................... 24
Habitação de média complexidade............................................................................... 26

Interferências na elaboração do anteprojeto arquitetônico........................................ 29


O programa de necessidades........................................................................................ 30
Partido arquitetônico de um projeto............................................................................. 32

Sintetizando............................................................................................................................ 34
Referências bibliográficas.................................................................................................. 35

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Sumário

Unidade 2 - Aspectos plásticos e escolhas técnicas do projeto arquitetônico


Objetivos da unidade............................................................................................................ 38

Aspectos plásticos do projeto de arquitetura................................................................. 39


Introdução à plasticidade em arquitetura.................................................................... 39
Relação entre volumes na concepção arquitetônica................................................ 41
Estudo volumétrico: aplicação em projetos residenciais.......................................... 42

Representação da funcionalidade em projetos arquitetônicos................................... 44


Funcionalidade em arquitetura...................................................................................... 44
Relação entre forma e função arquitetônica............................................................... 46
Maquete: representação tridimensional...................................................................... 47

A tecnologia e os materiais em projeto............................................................................ 51


Uso dos materiais e sistemas construtivos em projetos residenciais.................... 52
A relação entre partido arquitetônico e materiais de construção.......................... 54

Sintetizando............................................................................................................................ 61
Referências bibliográficas.................................................................................................. 62

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Sumário

Unidade 3 - Elaboração do anteprojeto de arquitetura: restaurantes


Objetivos da unidade............................................................................................................ 64

Estudos referenciais: restaurantes.................................................................................... 65


Projetos comerciais......................................................................................................... 65
Histórico dos projetos de restaurantes........................................................................ 70
Referências projetuais de restaurantes....................................................................... 74

Estudo das condicionantes de projeto.............................................................................. 77


Relação entre espaço urbano e os restaurantes: preexistências........................... 77
O usuário e o espaço projetado..................................................................................... 80

Desenvolvimento na etapa pré-projetual......................................................................... 81


Organograma.................................................................................................................... 82
Fluxograma........................................................................................................................ 83
Pré-dimensionamento..................................................................................................... 86

Sintetizando............................................................................................................................ 88
Referências bibliográficas.................................................................................................. 89

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Sumário

Unidade 4 - Desenvolvimento do projeto: restaurantes


Objetivos da unidade............................................................................................................ 91

Condicionantes naturais: projetos de restaurantes....................................................... 92


Estudo do lote: aspectos ambientais ........................................................................... 92
Relação entre fachada e entorno.................................................................................. 94

Desenvolvimento do projeto: restaurantes...................................................................... 96


Representação de projeto: croquis iniciais................................................................. 97
Plantas e cortes . ............................................................................................................. 99
Perspectivas e detalhamento....................................................................................... 100

Noções de legislação aplicadas à arquitetura............................................................. 103


Introdução da legislação na arquitetura.................................................................... 103
Plano Diretor e leis de uso e ocupação do solo........................................................ 104
Normas técnicas............................................................................................................ 107

Sintetizando.......................................................................................................................... 113
Referências bibliográficas................................................................................................ 114

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Apresentação

Caro estudante, entraremos agora no mundo do desenvolvimento de pro-


jetos residenciais e comerciais de média complexidade, sendo eles edificações
de apartamentos ou prédios comerciais, como restaurantes. Esses projetos de-
vem ser desenvolvidos com base em um anteprojeto e suas relações espaciais,
considerando uma adequação funcional e volumétrica com o entorno edifica-
do. Compreenderemos, assim, o que fundamenta as análises pré-projetuais e
como é possível realizá-las no nível do entorno do projeto, da tipologia e da sua
função e forma.
Além disso, exploraremos a importância da criatividade e as metodologias
que podem ser adotadas para desenvolver qualquer projeto. Para escolhermos
os materiais e os sistemas construtivos do projeto, identificaremos a importân-
cia da técnica e da tecnologia. Todo esse processo perpassa pela apresentação
de um conjunto de referências, para enriquecer nosso “vocabulário” de proje-
to. Esses estudos de caso apresentarão similaridades com o objeto de estudo
de cada unidade, e auxiliarão na definição do pré-projeto e do anteprojeto de
arquitetura. Por fim, seremos capazes de adequar os projetos às normas e à
legislação.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 9

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A autora

A professora Ana Carolina Carvalho


Figueiredo é mestre em Arquitetura,
Urbanismo e Tecnologia (2018) e gra-
duada em Arquitetura e Urbanismo
(2015), pela Universidade de São Paulo
(USP). Ministrou aulas de Projeto de Ar-
quitetura, Urbanismo e Conforto Am-
biental Térmico, entre 2019 e 2020.

Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/6811483897468144

A todos aqueles que acreditaram na minha trajetória até aqui: aos meus
pais e irmãos, que sempre me incentivaram e acreditaram em meu
potencial; aos meus professores; e aos meus alunos, que, na dinâmica
diária de aulas, sempre têm algo a me ensinar.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 10

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UNIDADE

1 FUNDAMENTAÇÃO
TEMÁTICA E A
ANÁLISE PROJETUAL:
PROJETOS
RESIDENCIAIS

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Objetivos da unidade
Entender como se dá o processo de projeto em arquitetura;

Desenvolver a análise do local de implantação de um projeto arquitetônico;

Compreender aspectos do projeto residencial de média complexidade;

Compreender a importância do programa de necessidades e da definição do


partido arquitetônico em um projeto de arquitetura.

Tópicos de estudo
Análises na arquitetura Interferências na elaboração
O exercício de projetar do anteprojeto arquitetônico
Procedimentos de análise de O programa de necessidades
projetos Partido arquitetônico de um
Estudo da quadra e entorno projeto
Referências projetuais

Análise de soluções projetuais


Projeto de habitação multifa-
miliar
Habitação de média complexi-
dade

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 12

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Análises na arquitetura
Um dos passos fundamentais
para o desenvolvimento de um es-
tudo projetual é a compreensão da
área da cidade onde ele se encontra.
Se nos atentarmos ao local em que
vivemos, podemos perceber que ele
contempla um conjunto de caracte-
rísticas: é residencial ou misto, possui
edificações altas ou apenas casas, é
de fácil acesso aos transportes públi-
cos ou não, é arborizado ou sem ve-
getação. Assim, a edificação terá uma
relação imediata com o contexto ur-
bano no qual está implantada.

O exercício de projetar
Projetar é um exercício, ao mesmo tempo, de criatividade e de cumpri-
mento de necessidades funcionais. Em arquitetura, o projeto é um processo
de concepção de um “objeto”, que será ocupado e frequentado, devendo ser
adequado (do ponto de vista de conforto e ergonomia) e precisando estar em
consonância com boas práticas ambientais, além de que deve se relacionar
com o entorno no qual está inserido. Não por acaso, um projeto pode envolver
diversas etapas.
Segundo John Christopher Jones, autor de Design Methods (1970), o aluno ou
profissional de arquitetura deve, ao projetar, deixar a mente livre para investi-
gar soluções, intuições e ideias, sem limitações práticas, a qualquer momento.
Ele estabeleceu uma metodologia com o objetivo de reduzir erros nos projetos
e torná-los mais avançados. Para isso, Jones estabeleceu a existência de três
estágios para projetar, sendo eles:
• A análise consiste na listagem das necessidades do projeto, criando com
ela uma relação de especificação de desempenhos;

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 13

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• A síntese é a etapa que busca encontrar soluções possíveis para cada
especificação que foi detalhada previamente e assinalar o desenvolvimento do
projeto;
• A avaliação considera cada uma das soluções de projeto oferecidas na etapa
de síntese e sua adequação aos requisitos impostos pelas demandas projetuais.
A primeira etapa, de análise, refere-se às questões de forma, material e de-
senho da edificação. Nela, é fundamental entender todas as propostas e infor-
mações iniciais que devem ser incorporadas ao projeto. O segundo momento,
de síntese, inclui o pensamento criativo, que deve ser aplicado para relacionar
cada um dos fatores envolvidos na edificação a soluções arquitetônicas capa-
zes de responder às suas necessidades. É possível utilizar, na etapa de síntese,
técnicas que auxiliam na criatividade, como o brainstorming.

EXPLICANDO
O brainstorming é um método de incentivo à criatividade, que consiste em
deixar fluir os pensamentos referentes a um problema. Por exemplo, ao
projetar um restaurante, o que vem à mente? Mesas, cozinhas, pessoas,
luzes, fluxos. Essas ideias vão ajudar a encontrar soluções para o projeto.
Para saber mais sobre o uso da criatividade para projetar, leia o primeiro
capítulo do livro O processo de projeto em arquitetura da teoria à tecnolo-
gia, que apresenta métodos de incentivo à criatividade aplicados à arqui-
tetura e urbanismo (KOWALTOWSKI et al., 2011).

Na última etapa do processo de projeto, a avaliação, poderão ser feitas as


correções nas soluções apresentadas, caso existam falhas. É importante que
qualquer problema seja sempre corrigido antes da execução da construção,
uma vez que é mais simples e barato corrigir qualquer erro durante a etapa
de projeto. Essas correções podem se tornar mais morosas e caras em fases
posteriores, como a execução.
Para Lawson (2011), contudo, projetar não é um processo linear, podendo
as etapas de análise, síntese e avaliação serem percorridas diversas vezes, em
vários períodos do desenvolvimento de uma edificação. Em escritórios, nor-
malmente, as etapas principais de um projeto não são denominadas como as
anteriores, sendo definidas como estudo preliminar, anteprojeto e projeto exe-
cutivo, lembrando que a análise, a síntese e a avaliação podem ser retomadas
nessas etapas (Diagrama 1).

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 14

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DIAGRAMA 1. RELAÇÃO ENTRE PROCESSOS DE PROJETO

Análise Síntese Avaliação

Estudo preliminar

Análise Síntese Avaliação

Anteprojeto

Análise Síntese Avaliação

Projeto executivo

Fonte: JONES, 1970; LAWSON, 2011. (Adaptado).

Na fase do estudo preliminar, as ideias iniciais e de organização dos am-


bientes são apresentadas e desenvolvidas, de acordo com a concepção arqui-
tetônica. A etapa de anteprojeto parte da solução escolhida no estudo preli-
minar e a apresenta com a definição de plantas, cortes e fachadas. Finalmente,
o projeto executivo é o estágio que traz o projeto completo e detalhado, apto
para ser encaminhado para a execução.
Além dessas etapas iniciais, é possível incorporar a esse desenvolvimen-
to projetual os programas de desenho auxiliado por computador (Computer
Aided Design, ou CAD, na sigla em inglês). Para Kowaltowski et al. (2006), o uso
das tecnologias e computadores auxilia no estudo do projeto devido a sua
facilidade em manipular objetos, bem como sua agilidade em criá-los e edi-
tá-los. Além disso, os programas computacionais e a representação por meio
de modelos virtuais permitem a realização de testes, simulações de conforto
ambiental, estruturas e sistemas de iluminação, por exemplo. Esses fatores
contribuem para que o resultado da proposta seja completo e mais eficiente.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 15

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Procedimentos de análise de projetos
Elena F. França (2015) define análise como o processo de decomposição
de projetos, para que seja possível conhecer cada um de seus componentes.
Em arquitetura, o ato de analisar implica investigar os elementos que fazem
parte de um projeto. Outro autor que trabalhou sobre o exercício arquite-
tônico e a importância das análises foi Simon Unwin (2013), que investigou
os parâmetros de projeto.

EXPLICANDO
Simon Unwin (2013) assinalou a importância de entender as característi-
cas locais de qualquer lugar onde se vá fazer um projeto, reiterando que,
normalmente, o resultado formal e de implantação são resultantes das
condições encontradas no terreno. Mas ele não falava apenas de con-
dicionantes físicas, como a topografia, tratando também das abstratas,
como cheiro e ruído.

Para Unwin, o processo de concepção em arquitetura acontece como o de


um escritor que está trabalhando em um livro: enquanto o escritor domina
as regras de linguagem em geral, a semântica e a gramática, o arquiteto deve
dominar o “vocabulário” de projeto. Esse vocabulário se refere aos desenhos
e códigos arquitetônicos, bem como aos padrões, às combinações e às compo-
sições possíveis, de acordo com os elementos disponíveis para a construção.
Um terceiro autor a trabalhar a questão da análise em arquitetura foi
Geoff rey H. Baker (1998), que apontou três fatores básicos de serem analisa-
dos em arquitetura: as condições do local, as demandas funcionais e a cultu-
ra. Sendo assim, a proposição arquitetônica depende diretamente de identi-
ficar o local e pensar no programa de necessidades e no contexto cultural na
qual ela se insere.
Podemos verificar, a partir da leitura dos três autores apresentados, que a
fase inicial de leitura das condicionantes de um determinado projeto é fun-
damental para que o seu resultado seja bom e se adeque às demandas. As
variáveis envolvidas podem ser diferentes, de acordo com: o tipo de projeto no
qual se está trabalhando, o público alvo, a cultura, o local, os recursos disponí-
veis e os materiais usuais naquela região; contudo, todas estão interligadas e
nenhuma delas deve ser abandonada ao longo do processo.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 16

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Um exercício interessante para desenvolvermos a capacidade de análise é
o de observar projetos já executados e verificar neles todas essas condicionan-
tes, sabendo como elas foram trabalhadas ali. Isso pode nos ajudar a entender,
por exemplo, como o autor se apropriou da área que tinha para construir uma
edificação, as soluções adotadas quanto aos materiais, os desafios encontra-
dos na definição da planta, bem como as questões estruturais e as resoluções
quanto ao conforto ambiental.
Com isso em mente, devemos sempre procurar trabalhar seguindo esses
preceitos, investigando a relação de um projeto com o entorno ou o próprio
terreno, e estudando o desenvolvimento histórico da tipologia trabalhada,
compreendendo a relação de processos históricos e sociais na sua evolução.
Por fim, esses estudos devem ser usados para aprimorar seu programa de ne-
cessidades, ajudando na definição de um partido arquitetônico de projeto.

Estudo da quadra e entorno


O projeto de arquitetura resulta não apenas da apropriação do programa
de necessidades do cliente, mas também da extração das potencialidades da
área de intervenção. Sendo assim, a análise do contexto urbano é um passo
importante ao iniciar o processo de projetar. Condicionantes como topogra-
fia do terreno, sistema viário do entorno, oferta de transporte público, tipos e
densidade das edificações da vizinhança e gabaritos, por exemplo, interferem
diretamente nas dinâmicas que ocorrem em um determinado local.
Lorraine Farrelly (2013) assinala que a compreensão do terreno pelo ar-
quiteto, quando da proposição de uma edificação, é essencial. Vários parâme-
tros que afetam o projeto de arquitetura podem estar interligados ao terreno,
incluindo a orientação solar e o acesso, por exemplo. Além disso, o
olhar minucioso sobre o contexto ajuda a definir a escala das edifi-
cações e materialidades a serem utilizadas. Desse modo,
a análise de vias de acesso ao terreno e dos meios de
transporte prioritários no entorno (identificando es-
tações de trem ou metrô e paradas de ônibus) per-
mite, por exemplo, reconhecer a acessibilidade de
várias regiões da cidade ao seu projeto.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 17

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Em uma próxima fase da análise, podemos verificar a densidade e o tipo
da ocupação das áreas no entorno do empreendimento, estudando o mapa
de cheios e vazios da região. Nele, estão indicadas as áreas desocupadas ou
subutilizadas, o que pode auxiliar a definir qual o melhor terreno para a loca-
lização de um projeto, caso a área final para a implantação ainda não esteja
escolhida. Em seguida, é importante estudar o tipo de ocupação do solo no
entorno do projeto, pela análise do mapa de tipologias (Figura 1). Tal estudo
permite compreender e caracterizar a economia local (comercial, residencial,
industrial ou mista), o público (residencial) e as atividades ali desenvolvidas
(multiuso, institucional). Um mapa da cidade, subprefeitura ou distrito auxilia
neste processo.

Predominância de Uso por quadra

Sem informação RH baixo padrão RH médio/alto padrão RV baixo padrão RV médio/alto padrão

Comércio e serviços Indústria e armazéns Residencial + comércio/serviços Residencial + indústria/armazéns

Comércio/serviços + indústria/armazéns Equipamentos públicos Escolas Terrenos vagos Outros

Sem predominância Minhocão + Elevado Pres. João Goulart Linha férrea Estações do metrô Estações da CPTM

Figura 1. Mapa de uso e ocupação do solo na região de Higienópolis/Santa Cecília-SP. Fonte: Prefeitura do Município de
São Paulo, 2019.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 18

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Uma etapa importante, que deve seguir esse processo, é análise do mapa de
gabaritos (Figura 2), que indica o número de pavimentos das construções do en-
torno e, assim, pode ajudar na determinação de conexões, escalas e número de
pavimentos que podemos adotar no edifício, de acordo com a relação que esta-
mos buscando com a área adjacente a ele. Além disso, o estudo dos gabaritos ca-
racteriza os índices urbanísticos de ocupação dos lotes, segundo a legislação local.

Gabarito das edificações

Até 5 metros 5 até 10 metros 10 até 30 metros 30 até 45 metros Maior que 45 metros

Minhocão - Elevado pres. João Goulart Linha férrea Estações do Metrô Estações da CPTM

Figura 2. Mapa de gabaritos das edificações na região de Higienópolis/Santa Cecília-SP. Fonte: Prefeitura do Município
de São Paulo, 2019.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 19

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Essa etapa pode ser finalizada com a identificação
de áreas de vegetação do local, incluindo cober-
turas vegetais mais densas, como no caso de pra-
ças e parques, e canteiros e arborização das vias. É
possível, ainda, verificar informações como a presen-
ça de mobiliários urbanos, pontos de lixeira, bancos e
iluminação. Todas as condicionantes mencionadas até aqui estão
ligadas diretamente à análise do entorno. Contudo, para o estudo
aprofundado do terreno, é importante considerar elementos como a
topografia, a orientação solar e os ventos predominantes.
Para entender a topografia, fazemos alguns cortes na área e analisamos
suas curvas de nível. Assim, é possível definir o perfil da área e a necessida-
de ou não de realizar movimentos de terra, para a implantação adequada do
empreendimento. Além disso, podemos nos apropriar dessas características,
utilizando-as no projeto, para torná-lo único. A caracterização dos ventos e
orientação solar, por sua vez, pode ser feita a partir de estudos de conforto,
com uso de arquivos climáticos e da carta solar.

DICA
O site do Laboratório de Eficiência Energética em Edifica-
ções (LABEEE), da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente
(MMA), apresenta uma série de informações climáticas de
várias cidades, em sua plataforma Projeteee, que incluem
os dados de insolação e ventilação, e podem ser utilizados
como coadjuvantes nos estudos de terreno para projeto.

Referências projetuais
O conjunto residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho) foi proje-
tado em 1947, por Affonso Eduardo Reidy, para abrigar funcionários públicos
do Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Reidy foi um dos maiores nomes da
arquitetura moderna brasileira e teve grande atuação como urbanista, sen-
do responsável por trabalhos de destaque na capital (FRACALOSSI, 2011). O
complexo (Figura 3) foi projetado com 328 unidades habitacionais, edifícios pú-
blicos e áreas esportivas.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 20

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Figura 3. Vista aérea do Conjunto Prefeito Mendes de Moraes. Fonte: FRACALOSSI, 2011.

Cada uma dessas funções está definida por uma forma: o paralelepípedo
está ligado à habitação; o prisma trapezoidal é para os edifícios com função
pública; e as edificações abobadadas são destinadas aos esportes. Uma das
preocupações de Reidy foi manter a vista da baía de Guanabara, ao mesmo
tempo em que se apropriava do declive natural do terreno, com pilotis de altu-
ra variáveis. Ele usou passarelas e uma avenida no topo da área que permiti-
ram o acesso ao terreno, eliminando o uso de elevadores. A principal peça do
complexo é o edifício habitacional serpenteante, que acompanha as condições
naturais e acidentadas do alto do terreno (Figura 4).

Figura 4. Implantação do Conjunto Prefeito Mendes de Moraes. Fonte: FRACALOSSI, 2011.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 21

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Claramente, observando todas as questões relativas ao projeto, é possível
identificar que Reidy se apropriou de condições existentes (por exemplo, a au-
sência de serviços como creches e escolas no entorno) e as utilizou na forma
arquitetônica final, de modo a se adequar idealmente aos seus usuários. Cer-
tamente, essa apropriação só foi possível com um estudo aprofundado das
características existentes no entorno e no próprio lote.
Desse mesmo modo, para entender melhor a importância do estudo do
contexto urbano, das áreas adjacentes e do terreno no qual a edificação será
implantada, outro projeto de edificação se torna relevante: a Casa Grelha
(Figura 4), projeto do escritório FGMF, feito em 2007 e localizado na Serra da
Mantiqueira, uma região de topografia muito acidentada, com grandes pedras
e araucárias, mas sem muita mata virgem. Assim, uma das demandas da con-
cepção do projeto foi manter uma relação direta entre a casa, o terreno e a
natureza ao redor, apropriando-se das características ali existentes.

Figura 5. Vista aérea do Conjunto Prefeito Mendes de Moraes. Fonte: FRACALOSSI, 2011.

A casa, formada por uma grelha estrutural em madeira, com módulos de


5,5×5,5x3 m, está localizada no ponto de encontro dos trajetos naturais do terre-
no, quando acessados por pedestres. Para manter esses caminhos naturais, essa
grelha estrutural foi construída de forma suspensa (Figura 6), conectando os cami-
nhos existentes a novos acessos. Além disso, o teto-jardim proposto na cobertura
criou uma continuidade do terreno existente. Alguns módulos da grelha são vaza-
dos, o que permite que as árvores do jardim inferior cresçam além da estrutura.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 22

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Figura 6. Vista superior da Casa Grelha, projetada pelo FGMF em 2007. Fonte: ArchDaily Brasil, 2012.

Desse modo, após considerarmos as recomendações iniciais


sobre a proposição de projetos de arquitetura e o estudo de
suas áreas, podemos nos aprofundar em discussões sobre
processos de análises, que se adequam à produção de uma
edificação, desde seu início.

Análise de soluções projetuais


Até agora, tivemos contato com metodologias de desenvolvimento de pro-
jetos, com algumas das possíveis análises iniciais, voltadas para característi-
cas do entorno do terreno. Faz-se necessário, então, conhecermos algumas
características da tipologia residencial e algumas formas de analisar esses
projetos. É bom que desenvolvamos sempre mais o conhecimento sobre o
tipo de projeto no qual estamos trabalhando, de forma que uma investigação
de estudos de casos de habitações de média complexidade pode nos ajudar
a ampliar nosso repertório.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 23

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Projeto de habitação multifamiliar
Normalmente, as pessoas moram em casas ou apartamentos. Na formação
das primeiras cidades, em geral, as casas – ou residências unifamiliares – eram
as principais formas de moradia. Devido à tecnologia construtiva, inicialmente,
edifícios altos não eram construídos em larga escala. Com o aumento da de-
manda por moradia nas grandes cidades, devido ao crescimento populacional,
juntamente à limitação de terras disponíveis, o número de edifícios de aparta-
mentos residenciais cresceu.
Os apartamentos podem ter diversas formas e áreas variáveis, podendo
ser até maiores que muitas casas unifamiliares. Atualmente, há uma tendência
de diminuição das áreas privadas da moradia, em detrimento de benefícios
presentes nas áreas comuns das edificações. Enquanto as áreas privadas com-
preendem especificamente o espaço da habitação (onde você dorme ou toma
banho, por exemplo), as áreas comuns são aquelas que têm espaços compar-
tilhados com seus vizinhos, como as academias, os salões de festas, o hall, os
coworkings e as áreas de cozinha coletiva.

CONTEXTUALIZANDO
Apartamentos de apenas 10 m² já são uma tendência no
Brasil, demonstrando uma tendência do mercado de pro-
duzir imóveis cada vez menores. Segundo Raquel Rolnik,
no artigo Apartamentos de 10 m²: mínimo necessário ou
lucro máximo?, o debate não deve ser a metragem míni-
ma de uma habitação ou a possibilidade de se morar em
espaços tão pequenos, mas quais são as necessidades
básicas para se viver, e como essa discussão perpassa
não apenas o ambiente domiciliar, mas o planejamento
de toda a cidade.

Até chegar em apartamentos com metragens cada vez menores, o hábi-


to de morar em residências multifamiliares passou por um conjunto de
mudanças, com diminuição progressiva dos espaços íntimos e
extinção de determinados ambientes. Na Figura 7, podemos
ver exemplos clássicos dessas mudanças no Brasil, em um
período de cinquenta anos, começando em 1970, conside-
rando plantas padrão de residências de dois dormitórios.

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Anos 70 – 100 m² Anos 80 – 87,8 m² Anos 90 – 72,85 m²

Anos 2000 – 73,76 m² Anos 2010 – 59,60 m²

Figura 7. Evolução dos apartamentos de dois quartos, de 1970 a 2010. Fonte: REIS, 2016. (Adaptado).

Se, por volta dos anos 1970 e 1980, ainda era comum ter nas residências
as chamadas “dependências de empregada”, posteriormente, esse espaço
deixou de existir. Salas de jantar enormes, quartos e banheiros grandes,
além de cozinhas separadas dos ambientes de estar, estavam presentes nas
plantas dos anos 1970 e foram abandonados ao longo dos anos. Além disso,
pode-se verificar uma diferença na metragem quadrada das unidades habi-
tacionais, com redução de cerca de 40% nesse período.
Assim, essas mudanças expressam modificações no estilo de vida da
população e até das suas necessidades e demandas quanto ao morar. Se
antes o espaço privativo era o primordial, agora podemos compreender
que a dimensão do morar engloba atividades que podem ser realizadas
nos espaços coletivos.

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Habitação de média complexidade
Começamos o processo pela definição do terreno no qual o projeto do resi-
dencial será instalado e a realização dos primeiros estudos sobre o entorno e o
local, levantando as características relevantes. Em seguida, pesquisamos sobre a
tipologia residencial e compreendemos que ela passou por diversas modificações
ao longo dos últimos anos. Desse modo, para as etapas seguintes do projeto, de-
vemos analisar a área que cada unidade residencial pode ter, bem como quais
equipamentos e espaços podem ser instalados nas áreas comuns da edificação.
Para desenvolver melhor esta demanda, é importante estudar outros con-
juntos residenciais, como referência. A partir desse estudo, algumas soluções
e ideias podem ser encontradas e incorporadas em nossa própria edificação.
Assim, elencamos dois renomados escritórios de arquitetura nacional, que
conceberam edifícios residenciais interessantes nos últimos anos, selecionan-
do dois projetos que possam ser apresentados a toda a equipe.
O primeiro edifício-referência é o Tetrys (Figura 8), projeto do escritório
FGMF, de 2013, localizado na cidade de São Paulo e com mais de 6 mil metros
quadrados. O espaço destinado para a edificação era pequeno e a escolha dos
projetistas foi evitar muros, integrando-o à calçada e à rua por meio de uma
pequena praça, com bancos, plantas e paraciclo aberto à cidade. A transição
entre o espaço público e o privado é feito por um espelho d’água.

Figura 8. Edifício Tetrys, projetado pelo FGMF, em 2013. Fonte: ArchDaily Brasil, 2019.

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A equipe do projeto pensou na tipologia residencial não como um agrupa-
mento de apartamentos formando um volume, mas em um espaço que fizesse
parte da paisagem local. Sendo assim, ele é, ainda, um objeto na paisagem,
que se difere de outras edificações e cria um marco em meio a prédios monó-
tonos. As formas e cores utilizadas, diferentes das usuais, promovem uma clara
diferença entre a proposta desta edificação e das pré-existentes.
Do ponto de vista dos apartamentos, o edifício possui unidades de áreas
pequenas, nos modelos loft ou studio, onde os ambientes de sala, quarto e co-
zinha são integrados (Figura 9), algumas das unidades contando com varandas.
Além disso, o edifício tem espaços de lazer coletivos, como piscina, academia,
terraço na cobertura e áreas de convivência para os moradores.

Figura 9. Planta do 2º pavimento do Edifício Tetrys. Fonte: ArchDaily Brasil, 2019.

Nossa segunda referência de projeto é o edifício residencial Pop XYZ (Figura


10), da Triptyque Arquitetos, projetado em 2016, na Vila Madalena, em São Pau-
lo. O local é rodeado por casas antigas, bares e restaurantes, e foi concebido
de modo que a sua volumetria pudesse dialogar com o contexto e com o relevo
existentes. O edifício é composto por oito blocos de habitação e um de serviços
e circulações independentes, com ângulos que permitem visadas do entorno,
assim como um aproveitamento adequado da ventilação e da iluminação.

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Figura 10. Edifício Pop XYZ, projetada pela Tryptyque, em 2016. Fonte: ArchDaily Brasil, 2017.

Uma das principais características dessa escolha formal é que, ao final, a


privacidade dos apartamentos se aproximava daquela existente em casas in-
dependentes, reforçando o caráter de isolamento das unidades residenciais,
além de suas possíveis posições em relação à orientação solar. Essas residên-
cias são studios, até triplex, e possuem configurações diversas, com grandes
terraços e pé-direito alto.
Do ponto de vista de materialidades, a proposta do escritório foi englobar
alguns elementos de memória coletiva do bairro (Figura 11). Entre eles, o uso
de revestimentos em concreto rugoso e rústico, em referência ao chapisco das
construções antigas dali, e o uso da cerâmica, por meio de azulejos azuis e
brancos em algumas fachadas, para referenciar os portugueses. Além disso, o
gabião, aparente em algumas partes do conjunto, confere aspectos do bruta-
lismo, complementando o referencial histórico.

ASSISTA
O brutalismo foi um movimento arquitetônico surgido
na Inglaterra, em meados dos anos 1950 e 1960, como
parte dos esforços de reconstrução pós-Segunda Guerra
Mundial. Edificações brutalistas privilegiavam deixar os
elementos estruturais à mostra, deixando aparente o
concreto armado e os perfis metálicos de vigas e pilares,
e utilizando formas geométricas angulares em uma paleta
monocromática. Em 2018, o Museu Alemão de Arquitetura
montou uma exposição chamada SOS Brutalismo, alegan-
do que o estilo está ameaçado de extinção.

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Figura 11. Fachada do Edifício Pop XYZ. Fonte: Archdaily Brasil, 2017.

Por meio dessas duas referências, podemos verificar como podem ser
apropriadas as características de apartamentos de menor área,
as condições locais, as materialidades e a constituição do pro-
grama das áreas comuns de um edifício. Essas informações
são importantes para desenvolver nossos próprios projetos
e para outras etapas do planejamento arquitetônico.

Interferências na elaboração do anteprojeto arquitetônico


Até agora, focamos em elementos que fazem parte da fase inicial da for-
mulação de um projeto arquitetônico. Contudo, com o intuito de conhecer e
dominar todas as variáveis com as quais estamos trabalhando em um projeto
de edificação e obter resultado satisfatório, devemos complementar nosso re-
pertório de análises, tornando nosso processo de projeto mais interessante e
rico. Para isso, veremos a importância de fatores morfológicos e culturais na
concepção projetual, e como elas influenciam no resultado.

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O programa de necessidades
Conforme vimos em nossa discussão sobre as análises em arquitetura,
a primeira força relacionada por Baker (1998) é o local e a importância de
seu estudo na concepção arquitetônica. O segundo elemento do projeto ar-
quitetônico, então, é, para ele, o requisito funcional, que está diretamente
relacionada ao programa de necessidades. Assim, um ponto fundamental
para o desenvolvimento do projeto arquitetônico é a definição do seu pro-
grama de necessidades.
O programa de necessidades é um roteiro ou listagem de cômodos que
uma edifi cação deve ter, considerando o anseio e as demandas do cliente,
bem como a legislação vigente. Ele depende diretamente do uso que será
dado àquele espaço, como, por exemplo, em edifi cações comerciais, que
devem conter tanto ambientes destinados ao público quanto ambientes de
uso particular. Para definir com maior precisão o programa de necessida-
des, então, devemos seguir alguns passos básicos, sendo eles (VOORDT;
WEGEN, 2013):
• A análise das atividades que a edifi cação irá abrigar, recolhendo infor-
mações e experiências dos usuários ou do cliente que irá ocupá-la;
• A tradução espacial das necessidades funcionais e das especifi cações
de desempenho apontadas nas normas e na legislação vigente;
• A busca por projetos comparáveis, estudando as informações relati-
vas àquela tipologia de projeto e coletando informações dos programas de
necessidades;
• A avaliação dos precedentes daquele tipo de projeto.
Em seguida, o próximo passo é construir um quadro ou lista que assinale
o programa de necessidades do edifício e dos apartamentos que
ele irá conter (Quadro 1). Após listar o programa de necessi-
dades, podemos definir a setorização, para iniciar
a concepção do projeto e transformá-lo em um
desenho. A setorização se baseia em agrupar
os ambientes que constituem a lista do pro-
grama de necessidades, pensando na relação
que existe entre eles.

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QUADRO 1. PROGRAMA DE NECESSIDADES DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL

LOCAL AMBIENTES

Apartamentos

Estacionamento

Edifício Hall

Portaria

Salão de festas

Dois dormitórios

Dois sanitários

Cozinha
Apartamentos
Área de serviços

Sala

Varanda

Quando há uma ligação íntima entre dois ou mais cômodos, esse proces-
so de setorização deve garantir que eles estejam próximos. Ao setorizar os
ambientes, podemos levar em conta os usos e as atividades que ali ocorrem,
bem como o modo de vida dos usuários daquele espaço e os hábitos que
eles têm. No caso da Casa Grelha, como podemos ver na Figura 12, os arqui-
tetos optaram por agrupar os ambientes de acordo com seus usos: social;
para os filhos; serviços; área do casal; decks e coberturas. A partir daí, eles
foram representados por uma determinada cor, criando agrupamentos de
determinado uso dentro do projeto.

Social + serviços + casal


Filhos
Deck + pérgola + cobertura de vidro
Cobertura retrátil

USOS

Figura 12. Setorização da Casa Grelha. Fonte: ArchDaily Brasil, 2012.

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Partido arquitetônico de um projeto
O terceiro elemento ao qual Baker (1998) faz referência, ao tratar dos componen-
tes fundamentais de um projeto, é o contexto cultural. Ao analisarmos a arquite-
tura monumental dos séculos XVI e XVII, percebemos que ela era o reflexo de uma
determinada época e da intenção de quem solicitou sua construção. Desse modo,
muitas vezes, os poderes político e religioso se manifestavam através da arquitetura.
Sendo assim, a monumentalidade fazia sentido naquele período, enquanto
que um projeto de arquitetura moderna de Le Corbusier, que preza pela funcio-
nalidade e não pretende utilizar elementos rebuscados, não faria sentido algum
ou nada representaria em séculos anteriores. Da mesma forma, não faria sentido
esperar que todas as edificações do Japão fossem iguais às do Brasil, por exem-
plo. Para aprimorar essa reflexão, observemos a Figura 13, na qual podemos
verificar diferentes projetos residenciais, cada um com suas formas particulares.

Figura 13. Estilos arquitetônicos residenciais. Fonte: AdobeStock. Acesso em: 09 set. 2020.

A forma final de uma edificação está relacionada, ainda, ao tipo do empreen-


dimento: se são edificações residenciais, comerciais ou de serviços. Além disso,
devemos considerar suas relações com o contexto, as legislações e o programa de
necessidades. A partir daí, será possível definir o volume da edificação de modo
que ele atenda aos usuários e esteja inserida na linguagem daquele período e lo-
cal. Todas essas relações estão relacionadas com o partido arquitetônico.

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Laerte P. Neves (1998) aponta que partido arquitetônico é a expressão formal
da ideia preliminar do projeto. Partimos de conceitos abstratos,
estudados até aqui, e, então, formalizamos e transformamos
essas ideias em um objeto habitável e capaz de exercer uma
determinada função. O partido arquitetônico é, então, um re-
gistro gráfico da ideia, transformando-a na linguagem primor-
dial da arquitetura – o desenho.

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Sintetizando
Nesta unidade, tivemos contato com a fase inicial de formulação de um
projeto arquitetônico, focando nas análises. A primeira parte do conteúdo ex-
plicitou as possíveis metodologias a serem adotadas ao pensar um projeto de
arquitetura, e, em seguida, vimos alguns procedimentos e características que
podem ser analisadas para enriquecer o estudo preliminar e justificar nossas
escolhas finais, do ponto de vista da forma, função e implantação, por exemplo.
O primeiro tipo de análise que vimos foi aquele voltado para o local de pro-
jeto, verificando a importância de conhecer o entorno, de acordo com tipolo-
gias, usos, gabaritos, meios de transporte, acessos, e o terreno – com a topo-
grafia, orientação solar e variáveis de conforto, como a ventilação. Em seguida,
apresentamos projetos residenciais, entendendo a tipologia a ser trabalhada.
Seguindo o histórico de apartamentos no Brasil e seu desenvolvimento ao lon-
go dos anos, foi possível observar as evoluções desse tipo de projeto, a partir
do estudo de algumas plantas-chave.
Por fim, apresentamos a incorporação de aspectos morfológicos e cul-
turais ao contexto de desenvolvimento de um projeto, mostrando como a
definição do programa de necessidades, com sua setorização, e do partido
arquitetônico são importantes na fase inicial. Com todos esses elementos,
então, somos capazes de apresentar estudos preliminares do nosso projeto
e, assim, avançar ainda mais.

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PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 35

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PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 36

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UNIDADE

2 ASPECTOS
PLÁSTICOS E
ESCOLHAS TÉCNICAS
DO PROJETO
ARQUITETÔNICO

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Objetivos da unidade
Compreender a importância das escolhas plásticas no desenvolvimento do
projeto;

Compreender a importância das escolhas plásticas no resultado do projeto;

Estudar recursos técnicos e tecnológicos disponíveis para projetos de


arquitetura;

Estudar materiais que podem ser aplicados às edificações residenciais;

Compreender formas de representação em projetos residenciais.

Tópicos de estudo
Aspectos plásticos do projeto A tecnologia e os materiais em
de arquitetura projeto
Introdução à plasticidade em Uso dos materiais e sistemas
arquitetura construtivos em projetos resi-
Relação entre volumes na con- denciais
cepção arquitetônica A relação entre partido arquite-
Estudo volumétrico: aplicação tônico e materiais de construção
em projetos residenciais

Representação da funcionali-
dade em projetos arquitetônicos
Funcionalidade em arquitetura
Relação entre forma e função
arquitetônica
Maquete: representação tridi-
mensional

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Aspectos plásticos do projeto de arquitetura
Como estudante de Arquitetura, você conhece a importância de explorar,
em seus projetos, as formas e volumes e definir como eles ocuparão o espaço
final que você conceberá. Naturalmente, isso gera alguns questionamentos.
Necessariamente, essas formas são resultado da função? Ao longo dos anos,
como os arquitetos têm explorado a volumetria de suas edificações? Você
consegue libertar-se de formas predefinidas e criar propostas que façam um
estudo volumétrico fora do comum?
Ao longo desta unidade, você verá um histórico de projetos de arquitetura
que exploraram sua forma de acordo com a função a ser desempenhada,
bem como quais as relações entre volumetria e arquitetura e sua aplicação
em projetos da tipologia residencial.
Vamos trabalhar com a ideia de que você é membro de um escritório de
arquitetura que está propondo um residencial novo para a sua cidade. Para
a concepção dessa edificação, você deverá passar por uma etapa de explo-
ração formal. Vamos buscar compreender quais serão as características fun-
damentais, para você e sua equipe, nesse desenvolvimento. Vamos começar?

Introdução à plasticidade em arquitetura


Você sabe o que é plástica? E plasticidade? Mais do que isso, sabe a impor-
tância desses termos e como eles podem ser aplicados ao contexto arquite-
tônico? A arquitetura é um tipo de expressão artística e, como tal, concebe
objetos volumétricos e com algum sentido estético. No entanto, diferente
de outras expressões artísticas, cuja principal finalidade é a contemplação, o
resultado de um projeto arquitetônico tem funções definidas, com usos para
seus espaços.

EXPLICANDO
A palavra estética origina-se da palavra grega aisthetiké, que significa co-
nhecimento sensorial, experiência sensível ou sensibilidade (CHAUÍ, 2000).
Sua principal ideia está em entender que as artes são criações humanas
capazes de comover e estimular a sensibilidade daqueles que as observam.

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Já pensou nos edifícios, que são projetados por você, dessa forma? E como a
arquitetura poderia se relacionar à plástica? A ideia de plástica está vinculada à
maleabilidade de um determinado meio e/ou material. Quando os materiais utili-
zados em um determinado objeto são mais flexíveis, o nível de plasticidade dele é,
consequentemente, maior (ALMEIDA, 2011). Você acha que a arquitetura e os ma-
teriais disponíveis em sua concepção são suficientemente plásticos para que o re-
sultado seja maleável e, consequentemente, tenha elevado grau de plasticidade?
Para entender um pouco sobre a ideia de obras arquitetônicas plásticas, obser-
ve a comparação feita por Jatobá (2008). O autor analisa as obras de dois impor-
tantes arquitetos: Frank Gehry e Oscar Niemeyer. Ambos tratavam a arquitetura
como um volume plástico e de valor escultórico, trabalhando, em alto grau, sua di-
mensão de emocionar as pessoas. Eles utilizavam croquis feitos à mão para traçar
livremente seus projetos que, posteriormente, recebiam o tratamento da alta tec-
nologia de suas equipes, que utilizavam softwares de ponta para gerar desenhos
técnicos aptos à construção dessas edificações.
O ponto-chave, no entanto, é que ambos os arquitetos não se limitavam, mas
pensavam sua volumetria da forma mais livre e não convencional possível, utilizan-
do caneta e papel. Apesar disso, suas obras diferenciam-se muito no resultado, uma
vez que Niemeyer utilizava o concreto e Gehry esculpiam suas obras em metal.
Nas Figuras 1 e 2, você pode conferir exemplos tradicionais da obra de ambos.
A primeira apresenta o Museu Guggenheim Bilbao, de Gehry, construído na Espa-
nha, e a segunda traz uma imagem do Museu de Arte Contemporânea de Niterói
(MAC), localizado no Rio de Janeiro, projetado por Niemeyer:

Figura 1. Museu Guggenheim Bilbao. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/01/2021.

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Figura 2. Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/01/2021

Qual é a sua opinião sobre essas obras? Como você poderia agregar essas
ideias, desenvolvidas por dois grandes arquitetos, em seu próprio projeto? Inspi-
re-se nas obras apresentadas e explore as possibilidades existentes na concepção
arquitetônica do seu edifício residencial.

Relação entre volumes na concepção arquitetônica


O processo de concepção na arquitetura é aquele no qual as ideias que estão
na mente do arquiteto são traduzidas a partir de desenhos, transformando-se
em formas ocupáveis. Esses desenhos podem ser desde croquis até plantas,
cortes, fachadas e isométricas do projeto. Eles vão auxiliar tanto na execução,
quanto na compreensão do projeto por parte de todos os agentes envolvidos no
processo, como os clientes, os engenheiros, os mestres de obra e os pedreiros,
que precisam compreender a ideia do projeto para que a construção possa gerar
um resultado compatível com aquilo que foi pensado pelo arquiteto.
Você costuma utilizar todas essas ferramentas desde o início e em todas
as fases do seu processo de projeto, ou as apresenta como produtos? Já expe-
rimentou criar planos de massas do seu objeto arquitetônico quando o está
concebendo? O plano de massas nada mais é do que uma leitura do projeto
(que pode englobar seu terreno e entorno), em que podem ser utilizadas co-
res e apontadas formas, potencialidades, fragilidades e materialidades do seu
projeto. Nele, sua edificação é apresentada como uma volumetria, e ainda não
existe uma divisão exata das áreas internas dela.

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Nesse momento, você está livre para criar e pode levar seu pensamento além
das duas dimensões da planta e das fachadas. É possível explorar curvas, inclina-
ções e outras relações que fogem à ortogonalidade comum à arquitetura tradicio-
nal. Que tal aproveitar essa oportunidade para experimentar como sua concepção
arquitetônica pode resultar em volumes não usuais pela exploração volumétrica?
De acordo com Almeida (2011), você pode utilizar as dinâmicas da ação e da
maleabilidade formal e gerar um movimento plástico. Utilize sua experiência, ba-
seie-se nas obras apresentadas e em tantas outras disponíveis na internet e im-
prima forma às suas ideias. Seja dinâmico e aberto às possibilidades que o livre
desenho traz. Não utilize, no primeiro momento, ferramentas digitais.
Embora a tecnologia digital auxilie vários processos durante o projeto e
apresente incríveis possibilidades de rápida modificação e visualização do ob-
jeto projetado, bem como da aplicação de materiais, que tal tentar utilizá-la
apenas depois que fez os primeiros estudos à mão? Teste a possibilidade de
relacionar volume e arquitetura pelos desenhos e, até mesmo, por modelos
físicos (ALMEIDA, 2011).

Estudo volumétrico: aplicação em projetos residenciais


Uma vez que você está trabalhando em um projeto residencial, deve estar
se perguntando como é possível associar um estudo volumétrico a esse tipo de
edificação. Deve pensar se é necessário recorrer sempre à tradicional forma or-
togonal para solucionar seu projeto, ou se diferentes volumetrias podem ser em-
pregadas para criar um edifício residencial. Que tal buscar projetos de referência
com boas soluções já empregadas nessa tipologia para lhe inspirar quanto às
formas do projeto de edifício residêncial?
Você já ouviu falar em Antoni Gaudí? Gaudí foi um arquiteto espanhol que
viveu entre os séculos XIX e XX, e que projetou diversas obras em Barcelona. Tal-
vez a obra mais conhecida seja, o ainda inacabado, Templo Expiatório da Sagrada
Família, ou apenas Sagrada Família, como a catedral é popularmente conhecida.
Em 1906, o arquiteto projetou uma edificação residencial em Barcelona, que nos
leva a pensar sobre a forma e a arquitetura empregadas nesse tipo de edifício.
O edifício, feito para a família Batlló (que pretendia morar nos primeiros an-
dares e alugar os demais), pode ser considerado muito artístico. A principal in-

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tervenção foi a reconfiguração da fachada, que se caracteriza pela presença de
curvas, ossos e por formas de répteis. Além disso, é uma obra colorida e rica,
em cerâmica e vidro. As formas utilizadas por ele contrastam com a rigidez do
entorno e afiliam-se ao movimento art nouveau, pelo qual a arquitetura da Euro-
pa passava naquele momento. No interior do edifício, mais uma vez, há formas
curvas e surpreendentes (FRACALOSSI, 2012).
Você pode acompanhar essas características pela observação das Figuras 3
e 4. A primeira apresenta o exterior, onde é possível perceber diferentes mate-
rialidades, cores e curvas, com grande organicidade. A segunda reproduz mais
uma vez a riqueza colorida da proposta de Gaudí, em conjunto com suas formas
inusitadas em um pátio interno coberto de azulejos:

Figura 3. Casa Batlló (exterior). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/01/2021.

Figura 4. Casa Batlló (interior). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/01/2021.

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A observação desse projeto lhe permite vislumbrar possibilidades quanto às
volumetrias, formas e cores. Você já o conhecia? Procure saber um pouco mais
sobre ele, bem como de outras obras de Gaudí. Em conjunto com as obras de
Niemeyer e Gehry, apresentadas anteriormente, você já tem três grandes nomes
capazes de enriquecer seu repertório volumétrico e plástico.

Representação da funcionalidade em projetos


arquitetônicos
Um projeto de arquitetura gera um conjunto de relações entre formas e
funções. É possível considerar que as funções se expressam formalmente pelo
partido arquitetônico e pelas escolhas volumétricas de uma equipe ou arquite-
to. A função, por sua vez, está relacionada ao programa de necessidades.
Como, porém, é possível relacionar essas condicionantes durante seu pro-
cesso de concepção? Como formular um processo que auxilie você a definir
desenho e forma final do projeto de arquitetura?
Aqui, você aprenderá um pouco mais sobre a importância da função na
arquitetura e sua relação com as escolhas formais. Posteriormente, o que
você acha de começar a praticar essa junção por meio de representações em
maquete? Acompanhe as páginas a seguir e veja a importância dessa etapa
desde o início do seu processo de projeto.

Funcionalidade em arquitetura
Se você é arquiteto, e está trabalhando no projeto de uma edificação residen-
cial para um cliente da sua cidade, significa que há uma demanda de moradia no
local. Assim, aquele que o contratou pretende utilizar seus serviços para conce-
ber uma nova edificação que cumpra a função de habitação para aqueles que
comprarem um imóvel ali.
Pensando nisso, você sabe, de antemão, que sua proposta arquitetônica tem
uma função bastante definida: ela será residência para um conjunto de pessoas.
Isso leva você a pensar que, dentro da edificação e de cada unidade habitacio-
nal específica, deverá propor espaços que possam ser ocupados e utilizados de
forma eficiente.

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Quais são, porém, esses espaços? Lembre-se de que a especificação deles de-
penderá tanto da funcionalidade da arquitetura quanto dos anseios do cliente.
Nesse caso, a ideia é que a edificação contenha espaços coletivos no térreo, como
salão de festas, piscina, academia e coworking. Além disso, você pode acompa-
nhar, no Quadro 1, as demandas do cliente com relação a dois tipos de apartamen-
tos que devem compor o edifício residencial que você está projetando:

QUADRO 1. EXEMPLO DE PROGRAMA DE NECESSIDADES DOS


APARTAMENTOS

Tipo de apartamento Ambientes

Sala, cozinha e quarto integrados

Studio (30 m²) Banheiro

Varanda gourmet

Sala

Cozinha com área de serviços integrada


Dois dormitórios
Dois dormitórios
(65 m²)
Banheiro

Varanda gourmet

Ao analisar o Quadro 1, você vai perceber que existem duas demandas diferen-
tes para apartamentos no seu edifício, além das áreas comuns já citadas. Assim,
como você organizará a planta tipo da edificação, de forma a conter este conjunto
de espaços previstos na lista do programa de necessidades?

EXPLICANDO
Você sabe o que é uma planta tipo? Essa expressão é utilizada para fazer
referência à planta-padrão de uma edificação, ou seja, ela refere-se à
planta que se repete pelo maior número de pavimentos dentro do edifício.
No caso de uma edificação residencial, por exemplo, a planta que contém
os apartamentos e é replicada por vários pavimentos é a chamada planta
tipo. Assim, caso sua proposta apresente vários pavimentos iguais, não é
necessário desenhá-los separadamente.

Para a construção dessa planta tipo, qual será a forma adotada por você,
pensando que há dois apartamentos de diferentes dimensões e propostas?
Você pode começar criando setores diversos em uma planta, sendo um deles

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destinado apenas aos apartamentos do tipo studio e outro para os apartamen-
tos de dois dormitórios (mas não se esqueça de que isso poderá refletir-se na
forma final do seu edifício).
Outra possibilidade disponível é mesclar, em um mesmo pavimento, as di-
ferentes plantas e metragens. Ainda com essa segunda opção, é possível criar
uma volumetria interessante. Também não se esqueça de pensar em como os
equipamentos coletivos desse residencial se distribuirão pelo edifício, ao for-
mular seu projeto.

Relação entre forma e função arquitetônica


Acompanhando o programa de necessidades da edificação na qual você
está trabalhando, é possível perceber que a existência dos dois tipos de resi-
dência demonstra que, embora a função de habitar seja a mesma para am-
bas, ela pode ser feita em espaços com configurações e dimensões distintas.
Dessa forma, uma mesma função não implica homogeneidade formal final
em seu objeto arquitetônico.
Apartamentos diferentes podem resultar, sim, em locais parecidos que ape-
nas diferem em áreas e, é claro, no público atendido. Sua escolha como arquiteto
pode ser a de apresentar formalmente essa distinção de necessidades espaciais,
que cada um desses tipos traz. No entanto, quais as referências formais que você
tem, e como as explora?
Entre os arquitetos brasileiros mais conhecidos, está Oscar Niemeyer. Você
já viu uma de suas obras por aqui, mas conhece outras? Niemeyer criou uma
linguagem arquitetônica própria, ao explorar, diante da arquitetura moderna em
que a linhas e ângulos retos eram predominantes, as curvas. Segundo o próprio
Niemeyer (2005), sua inspiração vinha das formas curvilíneas das mulheres e das
montanhas cariocas.

ASSISTA
Conheça um pouco mais sobre a obra de Oscar Niemeyer e sua manei-
ra de explorar a forma arquitetônica assistindo ao documentário Oscar
Niemeyer – a vida é um sopro, dirigido por Fabiano Maciel e lançado em
2007. O documentário tem 89 minutos e conta com a participação de Chico
Buarque de Hollanda e Lúcio Costa, entre outras personalidades.

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As obras fluidas de Niemeyer são parte de um conjunto arquitetônico que,
mesmo ao longo dos anos, rompem com a rigidez formal e passam a explorar
a forma livre na arquitetura como uma expressão necessária. Para arquitetos
como ele e Frank Gehry, a obra arquitetônica era pensada como uma escultura
que, posteriormente, assumiria a função à qual estava destinada. Nesse sen-
tido, a plasticidade e a beleza adquirem um sentido ainda mais forte do que o
comum (JATOBÁ, 2008).
Para você, qual a ordem de pensamento quando se trata do projeto arquite-
tônico? A função aparece em primeira instância, dando sentido à forma poste-
rior, ou a forma é pensada primeiramente, e a função encaixada nela posterior-
mente? Tais questionamentos podem surgir, pois, em arquitetura e projeto, não
existe uma regra ou metodologia única e totalmente linear no desenvolvimento
de uma edificação.
Entretanto, o ponto-chave é que exista relação entre esses dois fatores – for-
ma e função – e, ainda, que eles possam ser representados de modo que seja
compreensível para qualquer um que tenha contato com o projeto em todas as
suas fases. Para tal, você pode utilizar tanto os desenhos, que permeiam todos
os momentos do projeto, quanto maquetes e modelos tridimensionais.
No subtópico seguinte, você verá a importância da representação arquitetô-
nica por meio da maquete e como esse recurso pode ser utilizado também na
determinação da forma da edificação, mesmo na fase de projeto.

Maquete: representação tridimensional


Você já deve saber, empiricamente e pela prática, que, em arquitetura, o
desenho é uma entidade presente durante todo o processo de projeto. Isso
acontece independentemente da tipologia que está sendo projetada e, ainda,
da fase em que se está trabalhando.
Desde a concepção inicial e esquemática do seu objeto arquitetônico até à
entrega de um projeto executivo completo com plantas, cortes, fachadas e de-
talhamentos específicos que nortearão a execução da obra, a comunicação em
arquitetura passa pela representação das ideias para um determinado espaço.
Isso, porém, não significa que o desenho deva ou precise ser a única maneira de
o arquiteto comunicar suas intenções projetuais e resultados.

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É possível utilizar o recurso das maquetes mesmo quando a proposta ainda
não está plenamente definida, ou, ainda, como exploração da forma. Esses pri-
meiros estudos podem estar vinculados aos croquis iniciais do projeto e podem
ser realizados em diversos materiais, incluindo o papel sulfite e o papelão.
Esses simples papéis podem ser usados para representar planos ou pavi-
mentos de uma edificação. Na Figura 5, você pode observar e se inspirar em
um modelo de maquete física que é representativa dos estudos iniciais de um
volume arquitetônico, importante nas fases iniciais do desenvolvimento do
projeto de uma edificação:

Figura 5. Representação física, em papelão, de edificação. Fonte: DOMENEGHETTI, 2015.

É importante considerar que esses estudos volumétricos devem ser reali-


zados em escala. A utilização correta dela permite compreender as possibili-
dades funcionais, os acessos, a relação com o terreno e o entorno disponível,
a insolação de acordo com o posicionamento da edificação no terreno e a for-
ma adotada. Além disso, pode-se, a partir da escala, fazer um estudo das va-
riáveis que destaquem as potencialidades e possíveis modificações a serem
feitas no projeto. Claro que, se você ainda está na etapa inicial dos estudos,
as informações encontradas também serão iniciais.
Ao longo do processo de desenvolvimento do projeto, embora não exista
regra, é interessante que o conjunto de desenhos feitos por você e sua equi-
pe, e apresentados ao cliente, seja acompanhado de estudos volumétricos.
Seguindo nosso exemplo, explore algumas alternativas formais, consideran-
do o programa de necessidades que você já conhece. Tente enlaçar as variá-
veis de forma e função que você tem.

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Com os resultados encontrados, faça novos desenhos, desenvolva sua
ideia. A partir do momento que os desenhos estão mais desenvolvidos, gere
um novo modelo tridimensional. Lembre-se de que o segundo estudo pro-
porcionará novas variáveis da relação entre objeto arquitetônico e entorno.
Também é importante salientar que o uso dessas maquetes ajudará tanto
no seu processo de concepção e aprimoramento do projeto quanto na com-
preensão do cliente sobre ele. Talvez você escolha passar da fase das maque-
tes físicas para as virtuais. Isso também pode acontecer, mas, novamente,
não é o único modelo a ser seguido.
Para que você se anime com a possibilidade de trabalhar com maquetes
físicas, observe as Figuras 6 e 7. Nelas, você vê a representação de projetos
de arquitetura sem a utilização de recursos virtuais e já com alto grau de de-
talhamento da edificação e do entorno:

Figura 6. Maquete física de projeto arquitetônico (1). Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 13/01/2021.

Figura 7. Maquete física de projeto arquitetônico (2). Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 13/01/2021.

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Considerando as Figuras 6 e 7, veja que as maquetes são modelos que
podem ser utilizados para facilitar o entendimento, ou mesmo para realizar
leituras de condicionantes locais em relação à volumetria do projeto.
É comum trabalhar, também, com essas maquetes físicas para realizar
testes de conforto. A adequação das edificações, independentemente da sua
tipologia, às condições de conforto ambiental é essencial para que o proje-
to arquitetônico seja sustentável e adequado para seus usuários. A análise
pode ser realizada em laboratório e, para tal, os modelos físicos devem ser
construídos com suas aberturas posicionadas corretamente no terreno, em
relação à orientação solar e dos ventos.
Isso permite visualizar, por exemplo, o percurso dos ventos no interior
das edificações, garantindo que a unidade, como um todo, seja ventilada. O
equipamento utilizado para esse tipo de teste é o túnel de vento.
Há a possibilidade de realizar testes com outro equipamento usual em la-
boratórios de conforto ambiental: o heliodon. Utilizando-o, é possível simular
a trajetória do sol em relação à maquete de acordo com a posição
e orientação geográfica dela – relacionando-a à direção norte do
dispositivo. Assim, é possível verificar como se dá a inso-
lação no edifício projetado ao longo do dia e em datas
específicas do ano, como os solstícios de verão e in-
verno e os equinócios de primavera e outono. Essa
operação sempre pode ser feita para unidades separa-
das da edificação ou para a sua totalidade, dependendo da maquete
realizada. Também é possível verificar a interferência de vegetação e outros
edifícios do entorno quanto à radiação solar no seu projeto.

CURIOSIDADE
O solstício representa a data na qual a Terra recebe uma quantidade de
sol maior em um dos hemisférios. No dia 21 de junho, acontece o solstício
de inverno no hemisfério sul e o de verão no hemisfério norte; e no dia
21 de dezembro, acontece o solstício de verão no hemisfério sul e o de
inverno no hemisfério norte. O equinócio é quando a luz do sol e o calor
atingem os dois hemisférios da mesma forma. Ele acontece entre os dias
20 e 21 de março para equinócio de primavera no hemisfério norte e de
outono no hemisfério sul; em 23 de setembro ocorre o equinócio de outono
no hemisfério norte e o de primavera no sul.

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Com a utilização cada vez maior de tecnologias computacionais no contex-
to da arquitetura, é comum que os modelos sejam desenvolvidos virtualmen-
te. Uma das vantagens da maquete virtual é o realismo com o qual ela pode
ser feita. Com uma disponibilidade tecnológica enorme, é possível represen-
tar um projeto arquitetônico de forma bem próxima à realidade. Esse fator
contribui não apenas para a fácil visualização de fatores, como o partido ar-
quitetônico adotado, as materialidades e espaços, mas também para estudos
mais aprofundados e complexos.
Com o realismo virtual é possível que os estudos sobre o comportamen-
to térmico e acústico das edificações, por exemplo, seja bastante completo,
antes mesmo de sua construção. Por meio de softwares e plug-ins, o modelo
desenvolvido pode ser estudado considerando a influência da vegetação pre-
sente no entorno, a incidência solar durante os diversos períodos e estações
do ano e o comportamento dos materiais empregados do ponto de vista tér-
mico e estrutural.
Esses estudos permitem modificações mais rápidas e fáceis, anteriores à
construção do seu projeto. Isso é importante para corrigir falhas potenciais e
permitir o melhor desempenho possível para a edificação, sem custos extras
ou elevados, caso o projeto já estivesse efetivamente construído.
Volte ao exemplo da sua edificação com essas informações. Elabore a área
na qual está trabalhando, incluindo a topografia, e modele o edifício residen-
cial sobre ela. Comece a explorar alguns fatores relacionados à insolação, ve-
getação e outros volumes edificados no entorno, e verifique a influência que
ocorre entre eles. Isso tornará necessárias mudanças na forma inicial que
você estava prevendo para o projeto? Pense que seu projeto está ganhando
forma e mostrando-se mais completo e complexo, com camadas de caracte-
rísticas que o tornarão eficiente para seu cliente e os usuários futuros.

A tecnologia e os materiais em projeto


Até agora, você explorou determinantes funcionais e formais no seu proje-
to de edificação residencial. É preciso, entretanto, lembrar-se sempre de que
a arquitetura se compõe de determinados materiais, capazes de suportar as
cargas e formas definidas para a ocupação daquele espaço.

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Dessa maneira, a definição dos materiais é um passo fundamental para
consolidar a caracterização de uma edificação. Há diferenças entre projetos
de acordo com as materialidades dele, e isso é inquestionável. Quais, porém,
são as variáveis que podem ajudar você a escolher esses materiais? E nos
projetos residenciais, o que é importante considerar? A partir de agora, você
verá algumas possibilidades. Não se esqueça de aplicá-las aos seus projetos.

Uso dos materiais e sistemas construtivos em projetos


residenciais
Você já passou pelas primeiras fases do seu projeto residencial, tendo ago-
ra um conjunto de elementos pronto para ser materializado. No entanto, qual
será sua escolha do ponto de vista das materialidades? Preferirá trabalhar com
sistemas construtivos convencionais ou optará por desenvolver seu projeto em
consonância com novos materiais, sistemas e tecnologias?
Lembre-se, primeiramente, de que o seu edifício terá mais de quatro pavi-
mentos. Para isso, seu sistema estrutural deve ser resistente. Em geral, edifica-
ções com vários pavimentos podem usar sistemas construtivos com pré-mol-
dados de concreto compostos por pilares, vigas e elementos de vedação (como
paredes e lajes). No Brasil, esses sistemas são convencionais.
Esses sistemas, normalmente, são compostos por vigas e pilares metálicos
ou de concreto; lajes de concreto ou blocos distribuídos em uma rede metálica;
e, ainda, por paredes de alvenaria, drywall, madeira ou mesmo painéis de vi-
dro. Nesse caso, é possível adotar uma modulação ou coordenação modular da
malha de pilares, determinantes para o dimensionamento do edifício. A adoção
desses sistemas exige o dimensionamento prévio de redes elétricas, de internet,
comunicações e hidrossanitárias.
Uma das vantagens de utilizar esses sistemas é a possibilidade de utilizar
os pré-fabricados. Com o uso deles, a rapidez com que a obra é executada é
maior, desde que os projetos arquitetônicos e complementares estejam cor-
retos e devidamente compatibilizados. Além disso, no canteiro de obras, os
resíduos são menores, e há facilidade de controlar os insumos que são utiliza-
dos pelos fabricantes e priorizar empresas que trabalhem com mão de obra
especializada.

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De forma geral, ao trabalhar com sistemas construtivos pré-fabricados, a
dinâmica da construção é sempre parecida, independentemente dos materiais
adotados. Isso porque se está utilizando um sistema em que apoios verticais
(pilares e paredes portantes) estabelecem os dimensionamentos e espaços da
edificação. Do ponto de vista horizontal, também se estabelecem os ritmos das
vigas, lajes e pisos que sustentam o peso das atividades cotidianas e do mobi-
liário, finalizados pela cobertura que protege todo o espaço projetado (CHING;
ONOUYE; ZUBERBUHLER, 2015).
Na Figura 8, você pode acompanhar a dinâmica de um sistema construtivo e
estrutural pilar-viga convencional, conforme descrito anteriormente:

Figura 8. Dinâmica de sistema estrutural tradicional. Fonte: CHING; ONOUYE; ZUBERBUHLER, 2015, p. 90. (Adaptado).

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Entretanto, podem ser adotados outros sistemas construtivos e materiais
no conjunto da obra. Há opções como o steel frame e o wood frame, muito
utilizados em obras de diversas tipologias nos EUA, por exemplo. Enquanto
o primeiro é formado por montantes metálicos, o segundo é composto por
montantes de madeira, e podem ser fechados por painéis de gesso acartona-
do ou placas cimentícias.
Você já fez algum projeto utilizando algum desses sistemas construtivos?
Sabe como os utilizar e aplicar nas suas edificações, independentemente de
quantos pavimentos as formam? Faça um teste. Tente pesquisar um pouco
mais sobre o uso desses sistemas em edificações e veja a possibilidade de im-
plantá-los no seu projeto residencial.

A relação entre partido arquitetônico e materiais de


construção
Partido arquitetônico está relacionado à cara que seu projeto adquirirá ao
final e vincula-se, historicamente, às vertentes arquitetônicas, como arquitetura
renascentista, barroca, art nouveau e modernista, por exemplo. Essa vincula-
ção se relaciona ao uso da arte e arquitetura para demonstrações de poder das
instituições dominantes, bem como com o desenvolvimento dos materiais, de
acordo com cada período.
Atualmente, é possível assinalar que você se encontra no momento em que a
arquitetura predominante é a contemporânea. Uma de suas principais caracte-
rísticas é a vinculação entre construção e tecnologia. Com relação às tipologias
predominantes, sabe-se que a construção de grandes corporações e empresas
multinacionais globalizadas têm sido mais comum. Além disso, tratando-se das
edificações residenciais, têm-se caracterizado apartamentos de área mínima e
aumento das áreas externas à unidade habitacional.
No que se refere às grandes questões incorporadas e representa-
das pelas edificações, tem-se a ideia da sustentabilidade. Ao
longo de quase 40 anos, o termo sustentável tem sido usa-
do para descrever a capacidade das gerações futuras de
satisfazerem suas necessidades, mesmo que as gerações
atuais também o façam (BRUNDTLAND et al., 1987). A ideia

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está associada às dimensões sociais, ambientais, econômicas, culturais, tecnoló-
gicas e espaciais das diversas áreas, incluindo a construção civil.
Na arquitetura, a sustentabilidade tem sido incorporada sob a égide da ar-
quitetura verde. Esta pode ser representada de diversas formas: com a redu-
ção dos resíduos na construção civil, prioridade à mão de obra não explorada,
uso de materiais certificados de baixo impacto ambiental, certificação de edi-
ficações pela sua redução no consumo de energia e uso de materiais susten-
táveis, criação de áreas verdes nas edificações, bem como o uso de materiais
reciclados e recicláveis.
Assim, você tem diferentes possibilidades que podem ser incorporadas,
também, às edificações residenciais. Você já viu algo sobre essa temática ou
conhece algum tipo de sistema ou material que incorpore as demandas pelos
materiais sustentáveis desde seus primeiros passos?
Uma das principais questões da adequação da arquitetura à sustentabi-
lidade está no uso de suas premissas desde as fases iniciais de projeto. Isso
porque pensar em soluções sustentáveis vai além da arquitetura tradicional,
embora possa englobar alguns fatores dela. Você se lembra quando leu sobre
a importância de verificar o conforto ambiental das edificações?
Pois bem, a verificação do conforto ambiental tem tudo a ver com a ar-
quitetura sustentável. Com o bom desempenho, principalmente térmico,
das edificações, é possível evitar a utilização de sistemas de climatização
que demandem grandes quantidades de energia elétrica. Dessa forma, a
incidência solar adequada e o posicionamento correto quanto aos ventos
predominantes, dependendo da região na qual seu edifício será implanta-
do, já fazem toda a diferença.
Você acha que o uso de novos materiais e tecnologias, ou a ideia de reci-
clagem, são, ao mesmo tempo, pensamentos em prol da sustentabilidade e
das questões contemporâneas? Com certeza, sim.
A arquitetura sustentável tem a preocupação tanto com o usuário
quanto com o impacto que uma determinada edificação vai ge-
rar no meio ambiente. Uma residência sustentável é aquela que
utiliza tecnologias modernas para atender às necessidades dos
usuários ao mesmo tempo que atua com soluções para proble-
mas ambientais existentes atualmente (ARAÚJO, s. d.).

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Como, então, criar métodos que promovam melhorias ambientais e satisfa-
çam as necessidades humanas ao mesmo tempo, sem desperdício de seus re-
cursos naturais? É possível exemplificar essa ideia com o uso de containers para
a construção de residências. Você já viu casas feitas com eles?
Em alguns países, como os EUA, projetos utilizando containers têm sido feitos
com mais frequência. É uma opção de arquitetura sustentável, uma vez que eles
são estruturas com possibilidade de serem reciclados, embora, muitas vezes, se-
jam colocados em depósitos em condições de uso perfeitas. Eles são formados
por estruturas metálicas resistentes e duráveis, que podem ser utilizadas como
módulos das edificações (LEONE, 2014).
Nas Figuras 9 e 10, você pode ver exemplos da aplicação desses containers
em projetos de edificações residenciais. Uma das características é a sua capaci-
dade de trabalhar um ou múltiplos pavimentos e, assim, conter várias unidades:

Figura 9. Edifício de containers. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 13/01/2021.

Figura 10. Edifício de containers na Alemanha. Fonte: Adobe Stock. Acesso em: 13/01/2021.

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Você acredita que é possível utilizar uma tecnologia assim na sua propos-
ta? Do ponto de vista estético, o uso dos containers é agradável para você ou
gera estranhamento à sua forma final? É importante salientar que, embora o
exterior dessas edificações feitas com containers reutilizados seja diferente de
edifícios convencionais, elas têm muitos elementos em comum, e seu interior
pode ser igual ao de um que tenha sido projetado em sistemas construtivos
tradicionais.
No geral, embora ainda exista uma lembrança dos containers, é possível
visualizar além das perspectivas de um material que é usualmente descartado.
Pode-se perceber a construção de uma edificação com estrutura metálica e
componentes comuns a qualquer edificação: portas e janelas de vidro com es-
quadrias metálicas ou de madeira, revestimento interno em drywall com aca-
bamentos de tinta ou cerâmica, pisos tradicionais e todos os outros sistemas
que compõem uma residência.
Ainda assim, traduz um período histórico que se está vivendo, no qual
existem, de um lado a tecnologia para trabalhar com materiais metálicos, e
de outro a necessidade de repensar e reutilizar determinados produtos antes
descartados. Você adotaria, na proposta projetual do residencial novo da sua
cidade, um material como esse?
É claro que a arquitetura sustentável não é a única pauta possível para os
projetos arquitetônicos. Existem outras questões que podem ser utilizadas na
escolha de um partido arquitetônico de uma edificação e que também estão
ligadas ao período contemporâneo. Entre elas, a tecnologia aplicada a mate-
riais convencionais para a criação de formas cada vez mais fluidas e ligadas à
expressão artística.
Segundo Almeida (2011), é importante pensar nos materiais a serem uti-
lizados na construção, desde o processo de projeto, a fim de que a forma
final se adeque à ideia formulada pelo arquiteto. Isso porque, se a
construção deve ser mais fluida e flexível, os materiais utilizados
devem ser suficientemente maleáveis a ponto de adquirem
o aspecto final desejado. Na atualidade, muitos arquite-
tos realmente investigam as possibilidades formais da-
das pelos materiais, e são flexíveis na adoção de novas
formas arquitetônicas.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 57

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Para exemplificar essa relação entre desenvolvimento dos materiais tradi-
cionais a ponto de serem utilizados em formas diferentes das convencionais,
criando resultados arquitetônicos inéditos, observe a Figura 11. O edifício pro-
jetado pelo arquiteto Rem Koolhaas para a sede da China Central Television,
em 2012, desafia o tradicional conceito de arranha-céu com uma rede diagonal
de estruturas metálicas completadas por vidro na fachada:

Figura 11. Edifício da China Central Television, Pequim. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/01/2021.

Outro importante exemplo, considerando que você está trabalhando com


a tipologia residencial, é o edifício projetado pelo Zaha Hadid Architects no
Museum Park, em Miami. Concluída em 2020, a edificação tem 62 andares e
uma estrutura em seu perímetro com linhas fluidas que dão suporte às lajes
das áreas internas. O material utilizado na maior parte da edificação é o con-
creto, que foi reforçado com fibra de vidro. Além disso, é possível observar a
presença do vidro na edificação e a ausência de linha retas.
Nas Figuras 12 e 13, você pode observar o processo de construção do edifício
e seu resultado. Ambas as imagens reforçam a relação entre técnica e arquitetu-
ra, com aprimoramento de materiais tradicionais, ampliando seu uso de modo
que a tecnologia melhore seu desempenho e permita, por exemplo, a constru-
ção de edifícios de tamanha altura com uma forma tão fluida:

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Figura 12. Construção do edifício residencial no Museum Park, em 2017. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/01/2021.

Figura 13. Edifício residencial no Museum Park, pronto, em 2020. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/01/2021.

O que você acha de se inspirar nos projetos apresentados para realizar sua
proposta? Pesquise mais sobre o desenvolvimento dos materiais, seus usos e
outros projetos que apresentem possibilidades formais que vão além do tradi-
cional e representam a forma de viver contemporânea.

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Lembre-se de que você está nas etapas iniciais de concepção e que esse é o
momento ideal para explorar sem temores todas as possibilidades existentes.
Apenas com a aprovação posterior do projeto, você trabalhará com desenhos
executivos e detalhamentos – que são fundamentais quando a obra arquitetôni-
ca não se enquadra em soluções comuns.
Mesmo que sua escolha final seja pela manutenção de sistemas construtivos
e materiais consagrados na construção civil, saiba que é importante saber trans-
mitir suas ideias para o papel, para que todos os envolvidos as compreendam.
Comece pelas maquetes física ou virtual. Apresente para seus colegas aquilo que
pretende executar e, posteriormente, você o tornará um projeto executivo capaz
de alcançar, também, outros envolvidos no processo.

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Sintetizando
Nessa unidade, você aprendeu sobre a importância da forma e da plástica
ao desenvolver seu projeto. Além disso, compreendeu como é possível utili-
zar maneiras de representação que vão além do desenho e como a escolha
dos materiais, sistemas construtivos e tecnologias influencia o resultado da
sua edificação.
Em um primeiro momento, foram apresentadas a relação entre plástica
e plasticidade e o resultado arquitetônico de uma edificação. Você pôde ver
que existe relação entre as escolhas formais e as funções de um edifício e,
consequentemente, a ligação entre programa de necessidades e partido ar-
quitetônico.
No momento seguinte, foi possível compreender como a representação
da sua ideia é importante para que esse partido arquitetônico seja traduzido
corretamente. Nesse processo, pode ser utilizado o recurso de criação de
maquetes. Tanto físicas como virtuais, elas podem ajudar nos ajustes formais,
bem como auxiliar nos estudos do comportamento da edificação com relação
ao conforto ambiental e topografia da área de implantação, por exemplo.
Além disso, foi possível compreender a relação entre novas tecnologias
construtivas e sistemas de construção tradicionais. Você viu que a adoção
de um determinado sistema construtivo impacta diretamente na plasticida-
de da edificação e, ainda, que há uma tendência contemporânea de uso de
materiais já tradicionais, mas de diferentes modos e configurações, potencia-
lizados pelo melhor desempenho desses materiais consagrados devido ao
desenvolvimento da tecnologia.
Também teve contato com uma outra questão contemporânea da arquite-
tura: a de construções sustentáveis. Você viu exemplos do uso de containers
para projetos residenciais e como essa solução pode lhe auxiliar, do ponto de
vista da sustentabilidade.

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PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 62

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UNIDADE

3 ELABORAÇÃO DO
ANTEPROJETO DE
ARQUITETURA:
RESTAURANTES

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Objetivos da unidade

Compreender sobre as variáveis envolvidas na concepção de um projeto


comercial, principalmente de restaurantes, a partir de estudos referenciais;

Desenvolver estudos iniciais de um projeto de restaurante considerando a


inserção espacial da área;

Desenvolver a etapa pré-projetual do restaurante, considerando seu pré-


dimensionamento e uso de organogramas e fluxogramas.

Tópicos de estudo
Estudos referenciais: restaurantes Desenvolvimento na etapa
Projetos comerciais pré-projetual
Histórico dos projetos Organograma
de restaurantes Fluxograma
Referências projetuais Pré-dimensionamento
de restaurantes

Estudo das condicionantes


de projeto
Relação entre espaço urbano
e os restaurantes: preexistências
O usuário e o espaço projetado

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Estudos referenciais: restaurantes
Você já deve ter saído para comer em um restaurante da sua cidade, certo? A
escolha do local para comer foi influenciada pelos pratos que são ali servidos ou
também teve relação com o ambiente e o projeto arquitetônico do lugar? Quan-
do se frequenta um ambiente coletivo, comercial, por exemplo, as qualidades da
arquitetura do local se relacionam, sim, à impressão final do usuário. Isto por-
que, tanto do ponto de vista estético quanto do funcional, a percepção de quem
utiliza um espaço está vinculada às escolhas arquitetônicas ali empregadas. E, é
claro, não é possível levar em conta apenas as relações do público que frequenta
o espaço, mas também daqueles usuários permanentes, como os funcionários.
Em um restaurante, há, ainda, a necessidade de cumprir uma série de re-
quisitos normativos que auxiliem no fluxo dos alimentos e estejam envolvidos
na produção das refeições, bem como normas sanitárias e de higiene. Sendo
assim, veremos o universo dos projetos comerciais, partindo do histórico e das
referências projetuais.

Projetos comerciais
Para que um projeto de um restaurante seja elaborado da forma mais efi-
ciente possível, atendendo às expectativas do cliente, é necessário que toda a
equipe entenda as demandas de um projeto desse ramo. Será, então, neces-
sário, começar pela identificação das principais características que compõem
essa tipologia de projeto.
Quando as pessoas saem para comer em um restaurante, elas estão con-
sumindo um produto. Por isso, é interessante compreender o fluxo de pessoas
em um restaurante, o dinamismo necessário em um estabelecimento voltado
para a alimentação, bem como é preciso porte para atender ao público e às
influências de todas essas variáveis no projeto.
Após o chefe da equipe de projetos estabelecer quem será o responsável
por identificar algumas características sobre arquitetura comercial de forma
geral, é preciso fazer um levantamento teórico e documental sobre essa tipolo-
gia. Como as cidades brasileiras estão situadas em relação aos espaços comer-
ciais? Qual a evolução destes projetos no contexto urbano? Quais as formas

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adotadas em projetos comerciais ao longo do tempo? Quais as principais estra-
tégias para a implantação de um projeto comercial?
Nesta busca, é importante entender que a história do comércio está asso-
ciada à própria evolução da civilização ao longo da história humana. Isto por-
que o comércio está relacionado às trocas de diversos produtos, que caracte-
rizam a dinâmica urbana.
Esta foi a relação comentada por Ascher (2010), que definiu o sistema BIP
(bens, informações e pessoas), sabendo que as cidades são os locais de desen-
volvimento de comunicação, meios de transporte e de armazenamento de bens.
Assim, a dinâmica da urbanização é, ao mesmo tempo, a dinâmica do sistema
BIP. Além disso, as áreas urbanas são onde as pessoas circulam e, não por acaso,
as cidades com maiores populações são aquelas que têm uma maior dinâmica.
Analise então: a cidade é bastante populosa e tem uma grande dinâmica
comercial? As relações comerciais de uma cidade como São Paulo são as mes-
mas ou parecidas com as de uma cidade pequena do interior? Instintivamen-
te, é possível definir que não. Em uma área como São Paulo, onde a população
é elevada e as dinâmicas constantes, o comércio também se caracteriza por
ser mais intenso.
Mas, é claro, o comércio não se desenvolveu apenas a partir do momento
que as cidades já alcançavam grandes proporções. Ele já existia em espaços
como as ágoras, na Grécia, e os fóruns romanos, nos quais se desenrolava a
vida política e social de suas civilizações. E foi graças às grandes negociações
gregas e conquistas territoriais de Roma, que levaram à abertura de novos por-
tos, que as relações comerciais atingiram o nível internacional.
A Idade Média se caracterizou pelas atividades comerciais em praças,
que recebiam mercados e feiras notadamente locais. Nesse período, a di-
versificação do comércio ocorreu, sobretudo, pelo contato com o Oriente
devidos às Cruzadas.

EXPLICANDO
As Cruzadas foram movimentos militares cristãos originados na Europa
Ocidental com o objetivo de combater o domínio islâmico na chamada
Terra Santa e Jerusalém. Esses movimentos foram fundamentais para a
ampliação do comércio com o Oriente no período da Idade Média.

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Com o incremento comercial decorrente das trocas internacionais, as feiras,
antes itinerantes, passaram a se fixar, e foram criados alguns burgos que de-
ram origem a novas cidades. Neste momento, surgiram também corporações,
como a de ofício, que eram responsáveis pelo controle de produção e do valor
das mercadorias. Elas seriam as precursoras das fábricas que foram desenvol-
vidas na Revolução Industrial.
Já por volta dos séculos XIV e XV, com o Renascimento, as cidades se amplia-
ram junto com suas áreas de comércio, que não ocupava mais áreas ao ar livre e
feiras, principalmente, mas passou a se instalar nas edificações especializadas.
Esse movimento se ampliou até culminar nos grandes centros urbanos do
século XIX, onde o capitalismo se desenvolvia cada vez mais. Sendo assim, tam-
bém se desenvolveram áreas especializadas em comércio, como as galerias.
A Figura 1 exemplifica esta tipologia, que retrata a Galeria Vittorio Emanuele
II, localizada na Piazza del Duomo, em Milão. É um exemplar da tipologia que
se voltava para as lojas e restaurantes, localizados no térreo desta construção.
Construída entre 1865 e 1877, ela apresenta uma arquitetura com arcadas, estru-
tura metálica e vidro, além de passagens cobertas, típicas das galerias italianas e
francesas, que se tornaram famosas neste período.

Figura 1. Galeria Vittorio Emanuele, Milão, Itália. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 18/01/2021.

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É possível perceber que esses espaços consistem no primeiro momento no
qual as áreas de comércio diversificado se encontraram em um local fechado.
Essas galerias proporcionavam ao cliente a experiência de consumo isolada
das áreas externas, oferecendo, por exemplo, maior proteção das condições do
clima, por vezes adversas, ao livre caminhar pelos locais de comércio. Observe
que esta será a referência inicial para as propostas de shoppings centers que
vieram posteriormente.
Conseguimos vislumbrar o que ocorria no comércio, principalmente, na
Europa. O que se tem a saber sobre o Brasil, nesse contexto? Sabe-se que o
movimento comercial se expandiu pela América, atingindo o Brasil também.
Em um primeiro momento, o modelo desenvolvido no País se baseou na expe-
riência europeia de centros comerciais e galerias. Já em um segundo momento,
o modelo americano foi a principal inspiração, conforme será exposto a seguir.
Vargas (2001) assinala que a possibilidade de tratar da dinâmica comercial no
território brasileiro se deu a partir do século XX, principalmente. Já existiam pe-
quenos comércios, mas o desenvolvimento deste setor ainda era primitivo duran-
te a maior parte dos séculos até o XVIII e refém do comércio de outras regiões.
A cidade de São Paulo, com uma economia cafeeira bastante desenvolvida,
pode ser utilizada como exemplo para tratar das principais fases pelas quais pas-
sou o desenvolvimento comercial brasileiro. A primeira delas se deu até a constru-
ção de grandes lojas de departamentos; a segunda trazia as galerias; e, finalmente,
os shoppings centers foram incorporados à dinâmica do comércio urbano.
Tratando-se das galerias, as primeiras foram construídas na cidade perto
de 1950, com o crescimento econômico do pós-Segunda Guerra Mundial e pela
valorização do consumo de bens produzidos nacionalmente. Além disso, o pe-
ríodo se caracterizou pela expansão das barreiras da cidade que, antes, se con-
centrava no chamado “centro velho”. Foi criado, então, o “centro novo” próximo
às vilas operárias e à Avenida Barão de Itapetininga. Assim, a cultura paulistana
se centrava na crescente urbanidade. Com uma elite pronta para consumir, es-
tava pavimentado um cenário ideal para a construção das galerias.
Foram criados, em São Paulo, quatro tipos principais de galerias, segundo
Vargas (2001): os edifícios mistos; edifícios com salas comerciais no térreo e
ruas para pedestres; edifícios exclusivamente comerciais; e passagens entre
quadras por um caminho estreito cheio de lojas.

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Vejamos como exemplificar esses quatro tipos de galerias na capital paulis-
ta. Primeiramente, vale mencionar a Galeria Pagé. Localizada na região onde,
hoje, se encontra a famosa Rua 25 de Março, ela foi inaugurada em 1962, e
ainda funciona, sendo um símbolo do comércio popular.
A capital tem, também, um outro exemplo expressivo. A Figura 2 retrata a
Galeria do Rock.

Figura 2. Galeria do Rock, São Paulo, Brasil. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 18/01/2021.

Fundada em 1963 como Shopping Center Grandes Galerias, na Avenida São


João, entre a Rua 24 de Maio e o Largo do Paysandu, esta galeria é um exem-
plo de um comércio especializado e apresenta a tendência da época em que
foi construída. Entretanto, ao longo dos anos, não apenas esta galeria, mas o
comércio da região central de São Paulo perdeu prestígio, uma vez que muitos
comerciantes passaram a se dirigir para fora dos centros. Foi um movimento
crescente para as zonas sul e oeste da cidade.
Neste sentido, tanto os comerciantes quanto o público das galerias se per-
deram, em parte. Sobretudo, seguindo um modelo norte-americano, começou-

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-se a implantação dos shoppings centers, capazes de concentrar o comércio e
os serviços voltados para diversos públicos.
Neles, é possível ver áreas estritamente comerciais, outras voltadas para a
alimentação, como as famosas praças e, ainda, cinemas. A ideia de fazer com-
pras e ir a um restaurante em espaços fechados se ampliou cada vez mais.
Assim, podemos imaginar que a dinâmica que ocorreu com os restaurantes
também seguiu uma lógica como a dos projetos comerciais.

Histórico dos projetos de restaurantes


É preciso seguir a busca referente aos projetos de restaurantes. Lembre-se
que essa etapa é fundamental para constituir a base do seu entendimento so-
bre este tipo de empreendimento.
Primeiro, você se situou sobre os empreendimentos comerciais e seu histórico
no contexto urbano, incluindo o Brasil. Agora, precisa compreender sobre as es-
pecificidades de um restaurante, partindo de suas raízes históricas também. Você
acredita que os restaurantes sempre existiram? Ou houve uma evolução ao longo
dos séculos até chegar ao modelo que conhecemos hoje? Existe um único modelo
de restaurante a ser replicado? Quais os diversos modelos possíveis?
É importante responder estas questões na etapa inicial. Para isso, admita
que um restaurante está diretamente relacionado à alimentação de um deter-
minado povo, cultura e período histórico. Sendo assim, um restaurante pode
assumir tanto o papel de importância local como se tornar um atrativo turístico
da área em que está alocado.
Sabe-se que se alimentar é um hábito biologicamente fundamental para a
sobrevivência das pessoas. Mas, também, está associado ao mercado, ao po-
der e status. Isto porque a gastronomia luxuosa, com o consumo de alimentos
caros ou raros, assume, muitas vezes, um papel social na vida de determinada
parcela da população para afirmar sua distinção.
No passado, a alimentação estava relacionada, também, ao poder territo-
rial de um determinado povo. Sendo assim, as origens da gastronomia moder-
na se ligam às questões políticas e militares. Outra função dada aos hábitos
alimentares é o de convivência social. Muitas vezes, as pessoas se reúnem para
partilhar seus alimentos, confraternizando com grandes banquetes.

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Tudo isso deve ser pensado quando se propõe um restaurante. Porque, além
de buscar saciar a fome, um local voltado para a alimentação pode ser uma área
de celebrações, de reuniões sociais, de negócios e decisões importantes. Não é
um espaço ocasional, mas relevante na cultura urbana. Você já imaginou que o
restaurante que você rojetará pode alcançar esse status?
Pense, portanto, nos sons, nas luzes, nos odores e no conjunto total que
eles formam no ambiente. Como usuário, qual seria essa configuração?
De acordo com Franco (2001), o comportamento gastronômico da sociedade
tem sido cada vez mais observado de perto, pois está ligado diretamente aos pa-
drões de consumo do homem. Você se lembra se na sua cidade há algum restau-
rante que, ao ser inaugurado, não recebia muitos clientes devido ao tipo de comi-
da que era servida ali? Ou, pelo contrário, algum estabelecimento que atraiu de
imediato, a partir de sua inauguração, uma grande quantidade de consumidores?
Historicamente, a ideia de reunir-se para as refeições como um ato social é
antiga, tendo se iniciado entre os povos da Mesopotâmia, próximo ao ano 3500
a. C., e passado aos antigos egípcios, assírios e babilônios. Estes povos ocupa-
vam as regiões do nordeste da África e do Oriente Médio.
Posteriormente, os gregos e romanos também desenvolveram o hábito de
se reunir em torno de refeições. Você já assistiu algum filme do período antigo
no qual havia uma reunião de pessoas para comer em torno de uma fogueira?
Pois bem, este foi o início, e costumes assim permaneceram em parte da popu-
lação mesmo após o desenvolvimento de fogões.
Passando pelas reuniões entre grupos familiares, o hábito de juntar pessoas
para se alimentar se estendeu às rotas migratórias. Com elas, seja por meio das
Cruzadas ou das Grandes Navegações, por exemplo, conhecia-se novos costu-
mes e ingredientes que poderiam ser incorporados aos próprios comportamen-
tos. E, inclusive, começaram a ser feitas algumas refeições nas ruas.
Têm-se notícia das primeiras lojas de alimentação na cidade de
Óstia, na Itália, onde eram preparadas comidas “quen-
tes”. Durante a Idade Média, em Bizâncio, os locais de
venda e consumo de alimentos ganharam o nome
de tavernas, caracterizadas por mesas espalhadas
em locais fechados ou ao ar livre, e que serviam co-
mida, vinho e jogos para entreter os frequentadores.

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No mesmo período, de forma semelhante a estes estabelecimentos, mas
em estradas ou rodovias, as estalagens passaram a servir comidas e bebidas,
além de serem locais de abrigo para os viajantes. No século XVI, em locais como
Paris, foram criados os primeiros cabarés, que associavam alimentação a ou-
tras diversões, como música e dança.
A cidade ficou famosa tanto por estes primeiros estabelecimentos quanto
pelos que vieram posteriormente, como os cafés. Antes frequentados principal-
mente por homens e mulheres de classes sociais mais baixas, a partir de 1660,
foram liberados para que as mulheres da aristocracia também pudessem visitar.
Isto tornou os cafés áreas de notícias, discussão e ideias, além do simples
local de alimentação. A Figura 3 demonstra um destes exemplares: o café pa-
risiense Le Procope, inaugurado em 1686, o mais antigo da Europa e que foi
frequentado por Voltaire, Diderot e Danton. Durante os anos anteriores à Re-
volução Francesa, os cafés e novos restaurantes da capital foram tomados por
revolucionários que se reuniam para fazer suas refeições e discutir, o que os
tornava estabelecimentos “perigosos” (FRANCO, 2001).

Figura 3. Café Le Procope, Paris, França. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/01/2021.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 72

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E o Brasil nesse contexto? Como e quando foram registrados os primeiros
estabelecimentos parecidos com cafés ou restaurantes? No período do Brasil
colônia já existiam alguns registros de locais que conjugavam as atividades de
dormitórios e alimentação, como as hospedarias ou estalagens.
O País recebeu muitas influências europeias quanto aos estabelecimentos
voltados para gastronomia. O Rio de Janeiro, capital federal até 1960, foi um
dos locais mais influenciados, principalmente, pelos hábitos e cultura francesa.
É possível observar a Confeitaria Colombo (Figura 4), inaugurada em 1894, na
Rua Gonçalves Dias. Foi, desde então, um local frequentado por senhoras da
aristocracia e artistas, como Olavo Bilac, e ainda hoje é um ponto turístico na
região central da cidade, onde serve salgados e doces franceses, chás, cafés,
chocolate quente e também refeições completas.

Figura 4. Confeitaria Colombo, Rio de Janeiro, Brasil. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/01/2021.

Com o passar dos anos, este tipo de estabelecimento ganhou notoriedade


na maior parte das grandes cidades brasileiras. E não apenas este tipo espe-
cífico: as principais cidades são rodeadas por bares, botequins e restaurantes
que servem desde “pratos feitos” e salgados até as famosas refeições por peso.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 73

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Por outro lado, também surgiram um conjunto de empreendi-
mentos ditos gourmets com comidas de diferentes nacionalida-
des, rodízios para comer à vontade e locais famosos
por sobremesas requintadas. Desde padarias que
permanecem abertas 24 horas, pizzarias, recantos
de comida peruana, mexicana, italiana e japonesa:
a diversificação, quando se trata de restaurantes, é
uma variável muito presente hoje.

Referências projetuais de restaurantes


Imaginemos que estamos procurando bases para projetar um restaurante
em uma cidade. Após a equipe verificar o histórico desta tipologia, todos acre-
ditam ser necessário buscar algumas referências para que este repertório seja
ainda mais enriquecido, antes de iniciar o processo de projetação.
Na sua busca, decidimos, considerando que já existe o repertório histórico,
partir para a noção atual de projetos voltados para a alimentação. Quais são
os modelos utilizados neste tipo de projeto? Como os clientes assimilam estes
moldes? Quais os materiais utilizados? As escalas de projeto são de grande por-
te ou restaurantes pequenos?
A primeira ideia é buscar o tipo de projeto mais comum no que se refere a
espaços de alimentação: as praças de alimentação de um shopping e os res-
taurantes instalados nela. Nestes locais, normalmente, são encontradas desde
redes de fast-foods até os restaurantes mais exclusivos e locais. Também há
uma grande variedade de dimensões destes restaurantes e lanchonetes.
Observe, então, a Figura 5. É possível identificar na imagem um tipo de
projeto de restaurantes típico no contexto da arquitetura e da alimentação
contemporânea. É bastante comum visualizar grandes áreas voltadas para a
alimentação em centros de comércio, como os shoppings. Eles se caracterizam
pela diversidade, podendo atender os diferentes públicos e, ainda, por possuí-
rem redes de fast-foods que estão localizadas em várias cidades do mundo, por
exemplo. Neste sentido, a arquitetura dos empreendimentos deste tipo pode
ser padronizada, o que permite pouca liberdade de criação àqueles que estão
envolvidos em seu planejamento.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 74

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Figura 5. McDonald’s. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/01/2021.

O agrupamento de vários restaurantes em um espaço único nem sempre


significa sua padronização. Por exemplo, o Eataly é um centro de comércio de
alimentação em São Paulo especializado em culinária italiana, que, além de mer-
cados e empórios, ainda apresenta um conjunto de restaurantes. Cada um deles
é especializado em uma determinada área da gastronomia italiana (Figura 6).

Figura 6. Eataly, São Paulo, Brasil. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/01/2021.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 75

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Entre as especialidades do local, podem ser encontradas panificadoras, pi-
zzarias, restaurantes de massas, peixes e carnes, além de gelaterias. Embora
englobadas em um grande edifício comercial de três pavimentos e temática
comum da cultura italiana, estes restaurantes apresentam, cada um, algumas
características próprias. O restaurante de massas, por exemplo, possui mesas
com toalhas de cantina e pratos típicos.
A autenticidade, entretanto, de englobar a culinária de um país em um es-
paço único é um fator relevante e que diferencia este espaço de muitos outros
na cidade. O fato de ser autêntico, aliás, é interessante em se tratando de culi-
nária. Já apresentamos, na história dos restaurantes, que alguns bistrôs fran-
ceses foram fundamentais para o desenvolvimento desta tipologia. No Brasil,
espaços gastronômicos baseados nos parisienses são um fenômeno recente
da alimentação.

Figura 7. Restaurante Paris 6, São Paulo, Brasil. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/01/2021.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 76

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Na Figura 7 podemos verificar a fachada de um dos restaurantes da marca
Paris 6. Esta franquia gastronômica possui algumas poucas unidades distribuí-
das em cidades como São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro, onde são servidos
pratos não necessariamente típicos da França. Uma das características que o
diferencia, além da sua arquitetura claramente referenciada à cultura francesa,
é o fato de ser um restaurante 24 horas. Ou seja, é possível frequentá-lo em
qualquer horário do dia e, inclusive, durante a madrugada. Sendo assim, você
pode perceber que existem algumas características de cada um destes restau-
rantes que os tornam únicos dentro do segmento da alimentação.
Agora, imagine que seu cliente já tem um público definido, bem como uma
culinária específica e isto não será modificado. Entretanto, é possível que pon-
tos inerentes a cada um destes exemplos apresentados sejam capazes de con-
tribuir com o seu próprio desenvolvimento.

Estudo das condicionantes de projeto


O projeto de arquitetura está relacionado tanto às demandas que o cliente
tem quanto às condições do meio no qual ele está inserido. E o meio interpõe
condicionantes que não são apenas ambientais.
É necessário compreender as relações existentes entre uma edificação e os usuá-
rios: quem são eles, o que esperam da experiência de estar naquela edificação e como
se deslocam até lá, por exemplo, são algumas das questões que você pode fazer.
De forma geral, lembre-se que você está em uma equipe responsável por
projetar um restaurante para sua cidade. Após os primeiros estudos, avança-
remos para a fase em que compreenderemos melhor as preexistências do ter-
reno onde será implantado o projeto, bem como quem será o público principal.

Relação entre espaço urbano e os restaurantes:


preexistências
A proposta de uma edificação está diretamente relacionada com as condi-
ções do espaço urbano que a contém. Como a ideia é projetar um restaurante
novo para a cidade, em quais relações devemos pensar sobre ele e o espaço no
qual ele se insere?

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Uma variável importante na produção arquitetônica é respeitar as condi-
ções preexistentes de um espaço sem, entretanto, propor um projeto que tire
proveito das potencialidades locais. Reflita: a área disponível para projetar o
restaurante tem quais qualidades?
Uma coisa que você pode observar é se este local possui uma tendência
turística. Em muitas cidades brasileiras, devido à cultura ou riquezas naturais,
é comum que o turismo seja uma atividade usual. Neste sentido, os bares, res-
taurantes e comércios servem não apenas à população local, mas ao público
externo, de outras regiões do país ou do mundo.
A própria gastronomia pode ser um atrativo: segundo Córner (2006 apud
GARCIA e colaboradores, 2015), ela e o turismo podem estar relacionados, na
busca e descoberta de novas culturas. Os sabores de um restaurante podem
representar uma grande experiência de saberes e culturas sobre um deter-
minado local.
Neste sentido, muitas cidades desenvolvem o turismo gastronômico, que
utiliza a cultura local e regional, além de hábitos da população destas áreas,
para atrair turistas de diversas regiões. Considerando a diversidade populacio-
nal, cultural, territorial e climática do Brasil, é possível imaginar que há várias
áreas nas quais os atrativos turísticos podem ser explorados.

EXPLICANDO
Você já deve ter percebido a importância do turismo na economia
de algumas cidades brasileiras, como no Rio de Janeiro e em várias
outras cidades da costa, onde há praias exuberantes. Elas têm, muitas
vezes, uma culinária própria, que se soma a seus outros atrativos. Al-
gumas outras regiões podem ter a culinária como um dos itens funda-
mentais do turismo. Minas Gerais, por exemplo, é um estado brasileiro
conhecido por pratos como pão de queijo, doce de leite e torresmo,
dentre muitos outros.

Sendo assim, é preciso conhecer as características existentes na área que se


está projetando e pensar nas possíveis vocações dela. Cidades do Rio Grande
do Sul, por exemplo, possuem muitas influências étnicas e regionais de povos
europeus, como os alemães (GARCIA e colaboradores, 2015). Se o projeto esti-
ver sendo feito em áreas assim, como podemos utilizar estas características?

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Há, ainda, uma outra questão quando se fala de implantação de um projeto
e a relação com elementos preexistentes. Principalmente em grandes cidades,
pode-se imaginar que as características culturais, sociais e mesmo as tendên-
cias e gostos mudam de acordo com o bairro para o qual se está projetando.
Na Figura 8, podemos conferir uma fila em barracas de comida da popular
Festa de San Gennaro, no bairro da Mooca, em São Paulo. Este é um dos bair-
ros da capital paulista conhecidos pela tradição italiana. Nesse sentido, festas
que, como essa, estão vinculadas à tradição cristã utilizam o fator fundamental
da cultura italiana como um importante atrativo culinário.

Figura 8. Festa de San Gennaro, Mooca, São Paulo, Brasil. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/01/2021.

Assim como o caso da Mooca, em São Paulo, a própria capital abriga vários
bairros que têm uma tradição específica, com um público dominante que é
conhecedor e praticante desta determinada cultura. Sendo assim, conhecendo
a área de projeto, há características culturais, turísticas ou tradicionais fortes
que devem ser consideradas. Lembre-se: utilizar estas características pode ser
um fator primordial para o sucesso do empreendimento.

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O usuário e o espaço projetado
Já observamos algumas características preexistentes da área onde deverá
ser projetado o restaurante, portanto, este é o momento para trabalhar as di-
retrizes relacionadas aos usuários. É possível que um projeto de restaurante
englobe uma grande diversidade de público-alvo e isso estará diretamente re-
lacionado ao tipo de comida que será servido e à localização do projeto.
Observe a Figura 9. Esta ilustração se refere a uma praça de alimentação na
qual frequentam e interagem diversos públicos.

CAFÉ SALADA BAR PADARIA

Figura 9. Exemplo de usuários em uma praça de alimentação. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/01/2021.

A diversidade de públicos pode estar ligada tanto ao local onde o restau-


rante está instalado quanto à própria variedade de alimentos servidos ali, bem
como aos horários nos quais o estabelecimento permanece aberto. Se você
está projetando um restaurante em uma área onde existem grandes empre-
sas, cheias de funcionários que trabalham durante todo o dia, é possível tanto
servir refeições no almoço e também oferecer bebidas para reuniões tardias
ou encontros de amigos após o expediente.

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Por outro lado, se o restaurante está localizado ao lado de um hospi-
tal, considerando que muitas pessoas que trabalham ali fazem plantões e
que os pacientes podem chegar e sair a qualquer hora, que tal propor um
projeto que fique aberto 24 horas por dia? E quais seriam as característi-
cas arquitetônicas que chamariam a atenção do público em cada um dos
casos relatados?
Se você está projetando algo para um público que busca diversão, ou se a
sua intenção é representar aconchego e conforto, as características do projeto
devem deixar isso claro. As cores, os materiais e o mobiliário escolhido serão
diferentes para cada situação.
E como você consegue definir o público que será atendido? Não se es-
queça de consultar atentamente o seu cliente: ele já tem algumas diretrizes
fundamentais para utilizar no projeto, como o horário em que o restaurante
funcionará. Além disso, se for possível, visite o local destinado ao projeto
e verifi que, durante algum tempo, o público desta área. Pode-se
fazer isso observando quem passa por ali, consultando quais
são os outros atrativos da região, como comércios e
serviços locais, e verifi cando a disponibilidade de
meios de transporte para acesso ao local. Estas
informações serão fundamentais para entender
a interlocução entre o espaço projetado e o pú-
blico que o utilizará.

Desenvolvimento na etapa pré-projetual


Compreendemos, até este ponto, alguns dos passos fundamentais
para definir um projeto de arquitetura. Assim, chegou o momento de fa-
zer os primeiros esboços. Mas, como começar? Veremos, a seguir, que os
primeiros passos podem ser tomados buscando organizar o programa de
necessidades do seu projeto em relação ao fluxo de trabalho e à organiza-
ção dos ambientes. Para que isso seja mais efetivo, veremos ainda que é
possível pré-dimensionar algumas áreas de acordo com a função que elas
ocupam. Com esse repertório, você será capaz de desenvolver os estudos
iniciais do restaurante.

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Organograma
Neste momento, vejamos os primeiros esboços do espaço interno do res-
taurante. Para tal, sugerimos que você busque organizar o programa de ne-
cessidades, recebido pelo cliente, como o passo inicial. Este exercício projetual
sugerido se trata do organograma. Compreenda melhor o que é e como você
pode desenvolver o seu próprio analisando a Figura 10.

Vestiários/
Salão principal Cozinha
WCs

Acesso

Adega Acesso de
WCs Adm.
funcionários
Bar

Figura 10. Organograma de um restaurante.

Percebemos que o organograma está relacionado à organização dos espa-


ços que compõem um projeto. A Figura 10 propõe um organograma de um
restaurante contendo os seguintes espaços:
• Acesso (do público);
• Salão principal (para mesas);
• Adega;
• Bar;
• Banheiros (WCs);
• Cozinha;
• Administração;
• Vestiário/WCs de funcionários;
• Acesso de funcionários.
Ou seja, o programa de necessidades, que é a lista com todos os ambientes
que seu projeto deve contemplar, é colocado em um gráfico que organiza esses
espaços de acordo com as relações que devem existir entre eles. Você pode

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chamar cada uma das diferentes cores utilizadas em um organograma de hie-
rarquias entre unidades funcionais.
Observe, novamente, a Figura 10. Há quatro diferentes cores nela. O que
você acha que cada uma delas representa? A primeira cor está agrupando os
espaços de acesso, salão principal, bar e adega, representando as áreas prin-
cipais de contato dos clientes com o restaurante. A segunda cor é relativa ao
banheiro de clientes, que, embora seja um espaço secundário e de auxílio, tam-
bém tem acesso aos clientes. A terceira cor representa espaços principais de
trabalho, acessados pelos funcionários do local como a cozinha, administração
e vestiários/banheiros. A quarta cor é utilizada para assinalar a área de acesso
de funcionários e mercadorias ao interior da edificação.
No caso dos organogramas é importante entender que as setas utiliza-
das não representam o fl uxo, tendo em vista que este ainda será traba-
lhado, mas a hierarquia e as relações entre espaços. Esta representação
gráfi ca é muito importante para que os espaços internos da sua edifi cação
comecem a ser organizados.

Fluxograma
Enquanto o organograma se refere à organização, o fluxograma é um dia-
grama de fluxos entre os ambientes da edificação. Mais uma vez, é impor-
tante salientar que, para que estas etapas ocorram, é necessário que o pro-
grama arquitetônico de necessidades esteja bem definido (KOWALTOWSKI e
colaboradores, 2011).
Esses diagramas buscam uma melhor compreensão entre as atividades que
serão desenvolvidas na edificação e como será possível acessá-las. Essa é a
principal questão dos fluxos: é fundamental que o projeto seja desenvolvido de
forma que os fluxos não interfiram nas atividades principais.
Por exemplo, considerando que você está trabalhando no projeto do res-
taurante na sua cidade, a cozinha deve ser organizada e colocada em uma área
adequada onde sejam cumpridas algumas diretrizes:
• As atividades feitas no fogão não podem ser interrompidas;
• O fluxo que vai da cozinha ao salão onde as refeições são servidas não
pode interferir na produção dos alimentos;

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• A etapa de limpeza de alimentos deve estar próxima à estação onde eles
são preparados;
• A etapa de limpeza da louça deve ficar próxima à entrada pela qual os
garçons entram com elas.
Essas são algumas regras importantes que você pode seguir no projeto
para a área da cozinha. Mas lembre-se de pensar neste fluxo para outras áreas
também. É possível compreender um pouco mais sobre a ideia de fluxos obser-
vando os fluxogramas apresentados nas Figuras 11 e 12.
A Figura 11 demonstra um fluxograma isométrico de uma cozinha, ressal-
tando a colocação de cada estação de acordo com o que será executado nela.
A Figura 12, por outro lado, aplica a ideia dos fluxos para um restaurante com-
pleto, que contém uma área externa para alimentação, delivery de alimentos
e área de mercado, onde são vendidos alguns produtos produzidos ali, e outra
área de preparos mais rápidos.

Fluxograma isométrico da cozinha do restaurante

Minitransportador
Forno convencional

Geladeira

Limpeza

Unidade de
comida quente

Garçom
Base do chefe

Talheres

Figura 11. Fluxograma isométrico de equipamentos de cozinha de um restaurante. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/01/2021.

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Loja de
Restaurante Cozinha
alimentos

Espaço
externo

Fast-food

Ponto de delivery

Figura 12. Fluxograma isométrico de um restaurante com diversos serviços. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 19/01/2021.

As Figuras 11 e 12 apresentam a possibilidade de mostrar esses fluxo-


gramas a partir de perspectivas isométricas. Entretanto, é possível começar
esse processo usando gráficos mais simples como o apresentado na etapa
de formulação dos organogramas. Nesta fase, é interessante utilizar setas
que representarão os fluxos. Elas ajudarão na demarcação das áreas de fluxo
problemático em que talvez seja interessante deixar áreas de circulação mais
amplas, por exemplo.
Lembre-se do exemplo utilizado no organograma da Figura 10. Lá, o sanitário
destinado ao público estava localizado ao lado do bar e da adega. As-
sim, como será o fluxo de um usuário que esteja sentado no canto
esquerdo, próximo ao acesso, até o banheiro? Este usuá-
rio, com certeza, precisará passar pela área de adega.
É necessário, então, pensar na organização desta
área, incluindo seu layout, para que esta circulação
não atrapalhe quem estiver sentado ali, mas tam-
bém não constranja quem precisar utilizar o sanitário.

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O estudo de fluxos será, inclusive, uma ferramenta muito interessante
para organizar o layout do projeto como um todo. Sejam as áreas de aces-
so ao público, a cozinha, sanitários, administração ou qualquer outro espaço
que esteja ali incorporado. Essa etapa ajudará a definir a localização dos es-
paços e o conteúdo deles.
Porém, há ainda uma outra variável que deve ser trabalhada para que
você apresente o primeiro estudo do seu projeto de restaurante: a dimen-
são destes espaços que estarão contidos na planta.

Pré-dimensionamento
Neste momento, já vimos a necessidade de um organograma e de um flu-
xograma deste espaço, provenientes do estudo do programa de necessida-
des e do estudo de referências de outros projetos de restaurantes. Agora,
como pensar quais as áreas que serão ocupadas por cada um destes espaços
do restaurante?
Uma das ferramentas que podem auxiliar neste processo é fazer o pré-
-dimensionamento de cada um dos ambientes. Nesta etapa, é preciso consi-
derar o mobiliário e equipamentos que cada área deverá ter, assim como as
relações entre usuários que serão ali desenvolvidas.
Que tal começarmos pensando em quantos usuários devem ocupar
um determinado ambiente? Voltando ao exemplo de programa de neces-
sidades arquitetônico adotado no organograma apresentado, podemos
começar estipulando qual será a ocupação do salão principal, ou seja,
qual o número máximo de clientes que o salão suportará. Qual o núme-
ro de banheiros necessários para atendê-los? Sobre a área de serviços,
quantos funcionários trabalharão ao mesmo tempo na cozinha? Relacione
estas variáveis às dimensões do mobiliário e às tarefas que serão realiza-
das nestes ambientes.

DICA
Para determinar o dimensionamento de ambientes arquitetônicos, é possível
tomar como referência vários livros disponíveis no mercado e bibliotecas.
Entre eles o Manual do Arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto,
de Pâmela Buxton, e os livros bastante conhecidos de Ernst Neufert.

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Veja, então, que é possível adotar esta etapa para os diversos espaços que
compõem o projeto. Com o auxílio dos livros destinados ao dimensio-
namento em arquitetura, podemos verificar e determinar tamanhos
e espaços das mais variadas áreas. A partir disso, conse-
guimos organizar cada ambiente, com um layout inicial.
Caso sejam necessárias reformulações, adote
novamente cada uma das etapas. Aliás, adote-as
para qualquer tipologia de projeto que esteja fa-
zendo e certamente se sairá bem.

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Sintetizando
Nessa unidade, abordamos um projeto de restaurantes. Para isso, foram
apresentadas, inicialmente, informações sobre o desenvolvimento dos espa-
ços comerciais nas cidades e a relação existente entre estes dois elementos.
Depois, tratamos sobre um breve histórico sobre os projetos de restaurantes
que nos levam a compreender como esta tipologia surgiu e se desenvolveu
ao longo dos anos. Finalmente, vimos alguns exemplos contemporâneos de
projetos de arquitetura destinados a restaurantes, cada um deles com particu-
laridades que os tornam únicos.
Em seguida, foi discutida a relação existente entre a arquitetura de restau-
rantes e o contexto urbano do qual eles estão inseridos, bem como a relação
entre os usuários e esta tipologia de projeto. Neste momento, foi possível ob-
servar um pouco sobre a interferência entre espaços projetados e a história e
elementos culturais típicos de uma área. A partir do conhecimento da cultura
e dos usuários, torna-se mais fácil determinar como será desenvolvido um
projeto de restaurante.
Finalmente, para que o projeto comece a ser desenvolvido, vimos que é
possível utilizar algumas ferramentas básicas. Dentre elas, o organograma, o
fluxograma e o pré-dimensionamento. Com elas, podemos organizar o progra-
ma de necessidades recebido pelo cliente, ou já desenvolvido a partir das de-
mandas, e pensar na locação de cada ambiente, sem que haja interferências
negativas entre eles. Devem ser considerados, também, os fluxos e a dimensão
dos mobiliários, bem como a quantidade de clientes esperada ou mesmo de
funcionários que ocuparão a área.

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Referências bibliográficas
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BUXTON, P. Manual do arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto. 5.
ed. Porto Alegre: Bookman, 2017.
FRANCO, A. De caçador a gourmet: uma história da gastronomia. São Paulo:
Editora SENAC Nacional, 2001.
GARCIA, R. K. et al. O projeto de extensão “Turismo e gastronomia: unindo sabo-
res e saberes”. Revista Conhecimento Online, Novo Hamburgo, v. 2, p. 82–93,
2015. Disponível em: <https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistaco-
nhecimentoonline/article/view/315>. Acesso em: 19 jan. 2021.
KOWALTOWSKI, D. K. et al. (Orgs.). O processo de projeto em arquitetura. São
Paulo: Oficina de Textos, 2011.
NEUFERT, E. Arte de projetar em arquitetura. 18. ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2013.
SOMAVILLA, G. P.; LOPES, C. E. J. Orientações técnicas, legais e normativas para pro-
jetos de espaços destinados a serviços de alimentação coletiva. Revista de Arquite-
tura da IMED, Passo Fundo, v. 2, n. 2, p. 108–122, 2013. Disponível em: <https://seer.
imed.edu.br/index.php/arqimed/article/view/438/424>. Acesso em: 19 jan. 2021.
SPANG, R. L. A invenção do restaurante. Rio de Janeiro: Record, 2003.
VARGAS, H. C. Espaço terciário: o lugar, a arquitetura e a imagem do comércio.
São Paulo: Senac, 2001.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 89

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UNIDADE

4 DESENVOLVIMENTO
DO PROJETO:
RESTAURANTES

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Objetivos da unidade
Compreender quais as legislações envolvidas no processo de projeto em
arquitetura e urbanismo e quais suas recomendações;

Relacionar os aspectos ambientais e a importância da fachada no projeto de


um restaurante;

Compreender quais as diferentes formas de apresentação de um projeto de


arquitetura.

Tópicos de estudo
Condicionantes naturais: pro- Noções de legislação aplicadas
jetos de restaurantes à arquitetura
Estudo do lote: aspectos Introdução da legislação na
ambientais arquitetura
Relação entre fachada e Plano Diretor e leis de uso e
entorno ocupação do solo
Normas técnicas
Desenvolvimento do projeto:
restaurantes
Representação de projeto:
croquis iniciais
Plantas e cortes
Perspectivas e detalhamento

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Condicionantes naturais: projetos de restaurantes
Propor um projeto de arquitetura, seja qual for a tipologia, implica em
conhecer, de forma aprofundada, o contexto no qual ele se encontrará. Isto
porque os aspectos ambientais de um terreno podem influenciar diretamen-
te no resultado da edificação, assim como as escolhas de projeto refletem no
entorno em que este edifício está inserido. Quando se trata de projetar um
restaurante, o processo não poderia ser diferente: esse edifício reflete dire-
tamente no contexto.
Desta forma, a seguir apresentaremos como é possível englobar estes ele-
mentos na concepção projetual. Partindo do lote e das suas variáveis especí-
ficas e indo em direção ao entorno, você poderá entender como acrescentar
esse conjunto de fatores ao seu projeto de restaurante.

Estudo do lote: aspectos ambientais


Para que o restaurante seja desenvolvido, conhecendo previamente algu-
mas condicionantes, como o programa de necessidades arquitetônico, você
precisa atentar-se a outros pontos fundamentais do estudo inicial. Dentre
eles, os aspectos ambientais apresentados pelo lote a ser edificado.
Quando se tem um terreno disponível para projeto, é interessante con-
siderar a topografia para que a edificação seja proposta. Essa análise topo-
gráfica considera as características físicas do terreno, incluindo seu desenho
e inclinação. O estudo adequado dessas propriedades permite visualizar as
possibilidades de ocupação da área, bem como a necessidade ou não de fazer
movimentos de terra. O estudo de possíveis movimentações de terra pode
ser feito por cortes topográficos em sentidos transversal e horizontal.
Um dos exemplos da arquitetura que está em total consonância com as
questões topográficas é a feita por Alvaro Siza. O arquiteto português man-
tém em seu escritório, na cidade do Porto, uma sala destinada às maquetes
físicas para estudos de projeto. Com isto, consegue criar projetos como o da
Leça da Palmeira, em Matosinhos, Portugal. O projeto, apresentado na Figura
1, contém um complexo de piscinas combinadas à formação do terreno natu-
ral (BALTERS, 2013).

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 92

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Figura 1. Leça da Palmeira, Portugal. Arquiteto Alvaro Siza. Fonte: BALTERS. Acesso em: 20/01/2021.

Além da topografia, outra importante variável relacionada à área de projeto


é a sua orientação com relação ao sol. É interessante que se conheça e indique
onde o sol nasce, seu caminho durante o dia e onde se põe para que a edifica-
ção projetada esteja em conformidade com os parâmetros de conforto térmico
e lumínico.
Para adequar o conforto térmico de uma edificação também é importante
verificar os ventos predominantes na região. Essa verificação é realizada a par-
tir de dados de institutos de meteorologia e está diretamente relacio-
nada ao terreno e ao posicionamento do projeto nele. A preocupa-
ção com parâmetros de conforto é fundamental tanto
do ponto de vista do usuário quanto da sustentabili-
dade. Isso porque a utilização correta de ventilação
e insolação em um projeto diminui a necessidade
de sistemas de condicionamento térmico e insolação,
gerando economias do ponto de vista energético.
A Tucson Mountain Retreat é um bom exemplo de projeto onde a orienta-
ção solar foi aproveitada da forma correta. Sendo construída em um deserto
no Arizona, nos Estados Unidos, o projeto sofre interferência direta de um cli-
ma muito quente e seco durante o dia e frio no período noturno. O posiciona-
mento dentro do terreno foi essencial para minimizar a exposição da casa ao
sol (ARCHDAILY, 2013).

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Outro ponto importante é a verificação da existência ou não de áreas vege-
tadas no terreno. Sendo assim, pode-se manter algumas áreas de vegetação
existente, englobando-as ao projeto proposto. É uma alternativa econômica e
ambientalmente favorável, evitando derrubar vegetação desnecessariamente.
Agora, portando estas informações, verifique-as na área destinada ao seu
projeto do restaurante. Entenda a topografia, a orientação do sol e ventos com
relação ao terreno, bem como a preexistência de áreas verdes e vegetadas.
Esse processo possibilitará o enriquecimento de suas decisões projetuais.

Relação entre fachada e entorno


Já vimos o quanto é importante relacionar a área que se está projetando
e suas condicionantes à edificação que será proposta. Porém, é importante
compreender que há outros fatores determinantes que se relacionam com a
fachada do novo edifício e com o entorno.
Como é a interface entre seu projeto e o exterior, as áreas públicas e semi-
públicas da cidade ao redor? É possível que o pedestre adentre seu projeto de
forma óbvia? Aqueles que estão apenas de passagem conseguem assimilar
algo da sua proposta? É possível que a sua fachada seja um atrativo de clien-
tes para o restaurante?
A primeira possibilidade que você tem, ao visitar a área de projeto, é fo-
tografar todo o entorno dela. Com as fotos, crie mapas de visadas, nos quais
será possível destacar os pontos principais, a altura média das edificações
e as características de interesse. Por meio desse processo, podemos com-
preender quais são os pontos que deverão ser alterados e quais os pontos
que merecem reforço neste entorno.
Esta operação nada mais é que a discussão entre cidade-edifício-usuários,
que busca uma integração entre os três elementos, criando áreas urbanas
onde haja a convivência harmônica deles. Entretanto, para que esta convi-
vência ocorra, por vezes é necessário não apenas projetar uma edificação
e colocá-la na cidade. Mais do que isso: é necessário convidar os usuários a
interagirem com o edifício e integrar-se a ele.
Mas como é possível fazer tal operação? Gehl (2015) trabalhou em diversas
possibilidades de criação dos espaços urbanos voltados diretamente para as

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pessoas. Entre elas, está a proposta das fachadas ativas, convidativas e mis-
tas. Elas seriam capazes de reforçar a circulação de pessoas ali e transformar
uma paisagem pouco interessante em algo atrativo. O Quadro 1 apresenta os
tipos de fachada descritos por Gehl.

QUADRO 1. TIPOS DE FACHADA

Tipo de fachada Descrição

Aquelas que apresentam muitas portas, diversas funções, detalhes e


Ativa relevos variados, e que, no geral, são compostas por pequenas uni-
dades.

Possuem uma quantidade intermediária de portas – cerca de 10 a 14


Convidativa a cada 100 metros de fachada – com alguma variedade nas funções e
sem muitos detalhamentos e relevos.

Fachadas que possuem unidades pequenas e grandes, de forma


Mista variada, e com uma variedade pequena de funções, onde é possível
observar também fachadas cegas.

São fachadas compostas por grandes unidades – cerca de duas a cin-


Monótona co portas a cada 100 metros de fachada –, unidades cegas ou áreas de
pouco interessantes e sem detalhes.

Aquelas que possuem grandes unidades e pouca variação funcional,


Inativa
enquanto o número de unidades cegas é maior.

Fonte: GEHL, 2015.

As ideias defendidas por Gehl (2015) assinalam a importância de que as fa-


chadas sejam atrativas ao público. As fachadas monótonas e inativas, por outro
lado, transmitem a sensação de insegurança e de falta de ação àqueles que cir-
culam diante delas. Não exercem sobre o público a atração que se espera para
conseguir que ele utilize os espaços que estão além das fachadas.

DICA
Leia o livro completo de Gehl, Cidades para pessoas (2015). Nele, você
encontrará uma perspectiva ainda mais trabalhada sobre as fachadas
no projeto arquitetônico e na interação com a cidade, bem como outras
estratégias para evidenciar o indivíduo nas propostas urbanas.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, a Lei municipal nº 16.402/2016, de


Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo em São Paulo (SÃO PAULO, 2016), to-
mou como uma das iniciativas de desenvolvimento de bairros periféricos a

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adoção da fachada ativa. Nestes bairros, há predominância de uso residencial
e a Lei promove o uso misto e a fachada ativa para ampliar as relações entre
pessoas e cidades. Observe a Figura 2 para verificar a proposição feita pela
Prefeitura Municipal.

Fachada ativa
Incentivo urbanístico para
edifícios com comércio, serviços
e equipamentos no térreo,
com acesso aberto à população.

Figura 2. Estratégia de fachada ativa segundo a Lei municipal nº 16.402/2016 de São Paulo. Fonte: São Paulo, 2016.

Podemos entender, agora, que o processo de projeto de um lote vai além de


seus limites e interage com as variáveis locais, como as ruas e os usuários dela.
Por meio desse conteúdo, introduza no projeto do restaurante as noções dos
tipos de fachada e como elas podem ser utilizadas especificamente para o caso
com o qual estão trabalhando.

Desenvolvimento do projeto: restaurantes


A principal linguagem de um arquiteto para representar seus projetos é o
desenho. Ele é importante desde as etapas iniciais de concepção até as fases
finais, quando o projeto está pronto para ser encaminhado para a obra.
Ao longo destas etapas, o nível de detalhamento cresce e a linguagem dos
desenhos de arquitetura começa a ser norteada pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT). Isso significa que o caráter técnico é atribuído aos
projetos e, portanto, regras devem ser seguidas.

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Dentre os desenhos usualmente apresentados estão as plantas, cortes,
fachadas e detalhamentos específicos. Ao longo deste tópico, veremos como
é possível avançar nos seus projetos pelo desenho nas fases iniciais e como
desenvolvê-los dominando a linguagem técnica.

Representação de projeto: croquis iniciais


Imagine a seguinte situação: você faz parte da equipe de projeto de ar-
quitetura que está propondo um novo restaurante para a sua cidade. Desta
equipe, uma parte estará dedicada a desenvolver os primeiros croquis, outra
parte as plantas e cortes, e a terceira, relacionada às perspectivas e detalha-
mentos. Assim, você terá que desenvolver uma apresentação para os mem-
bros mais novos da equipe assinalando do que se trata cada uma das fases de
representação de projeto que farão.
Para começar, você fará disposições sobre os croquis de projeto. É impor-
tante saber que em todo desenvolvimento de projetos, independentemente
de seus propósitos finais, o desenho está presente. Desenhar um objeto, ar-
quitetônico ou não, é a representação de uma ideia, ao mesmo tempo que
descreve suas etapas. Os desenhos servem para o entendimento e comuni-
cação com os demais profissionais envolvidos na elaboração de um projeto,
para apresentar as ideias aos clientes e, ainda, para orientar a execução de
uma obra.
Contudo, é importante compreender que o processo de desenho, bem
como o de desenvolvimento de um projeto de arquitetura, não é linear. Sendo
assim, ideias e formas de representação iniciais podem ser adotadas ao longo
de todo o processo de projetação. O croqui, entretanto, costuma ser utilizado
para a representação inicial.
Para transmitir as ideias e impressões iniciais sobre um projeto de arqui-
tetura, pode-se utilizar a linguagem do croqui. É um desenho, predominante-
mente feito à mão livre, demonstrando estudos do conceito projetual, leitura
espacial e relacionada ao terreno e, ainda, o partido arquitetônico.
Segundo Oliveira (2009), nesta etapa o arquiteto pode fazer croquis de
referência também. Esse tipo de croqui serve para ampliar o repertório do
profissional sobre determinada tipologia ou solução estrutural e material.

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Neste caso, é possível que esse exercício auxilie a empregar tais soluções
estudadas a composições posteriores. No caso do projeto de restaurante,
é possível buscar outros projetos de tipologia semelhante e fazer desenhos
livres apontando as principais ideias e soluções ali empregadas.
Observando a Figura 3, podemos notar que um croqui
pode conter também anotações, insights projetuais, referên-
cias sobre os materiais que podem ser utilizados,
entre outros. Além disso, na concepção dos cro-
quis, podem ou não ser utilizadas cores que
auxiliem na apresentação das ideias tidas para
o projeto.

Figura 3. Exemplo de um croqui. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 20/01/2021.

DICA
Que tal se inspirar ainda mais no desenvolvimento dos croquis e fazer uma
busca sobre como Oscar Niemeyer os utilizava durante o processo de
projeto? O arquiteto, um dos maiores do Brasil até então, era reconhecido
pelos seus desenhos à mão livre. Pesquise como ele buscou representar
os diversos projetos que desenvolveu: Brasília, Pampulha (Belo Horizonte,
MG), Museu de Arte Contemporânea de Niterói (RJ), entre tantos outros.

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Plantas e cortes
A linguagem de desenho é, de fato, primordial para um projeto arquitetôni-
co. Em primeiro momento, ele é utilizado para comunicar ideias à equipe, por
exemplo. Mas, posteriormente, é necessário apresentar o projeto para clientes
e equipe de obras, o que torna imprescindível a precisão de representação.
Para desenhos mais precisos que os croquis anteriormente assinalados, é
possível utilizar as plantas, cortes e fachadas de um edifício. Mas o que é cada
um deles? O Quadro 2 identifica cada um desses elementos.

QUADRO 2. DESCRIÇÃO DE DESENHOS DE ARQUITETURA

Tipo de desenho Descrição

É a representação horizontal de um determinado edifício. Pode ser


Planta dividida em planta de situação, implantação ou a planta da edifica-
ção, especificamente.

É um plano secante que divide uma edificação em duas partes, no


Corte
sentido transversal ou no longitudinal.

Fachada Representação das faces externas da edificação.

O ideal, em um projeto de arquitetura, é que os desenhos sejam represen-


tados de forma técnica. A linguagem técnica é aquela que possui normas que a
regem e, assim, segue regras para a sua confecção que a tornam compreensí-
vel para os diversos profissionais envolvidos, desde o projeto até a obra.
A normativa responsável por determinar as diretrizes de desenho técnico
de um projeto arquitetônico é a NBR 6492 (“Representação de
projetos de arquitetura”) (ABNT, 1994). Nela estão contidas to-
das as informações referentes ao desenho técnico e deve ser
seguida tanto para a execução de projetos à
mão quanto auxiliados por computador. As
principais informações contidas neste do-
cumento são as definições e condições
gerais e específicas de execução do dese-
nho técnico por qualquer profissional envol-
vido na construção civil.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 99

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Os desenhos dos quais a NBR 6492 trata são os chamados desenhos orto-
gonais. Para fazê-los, ao contrário do que acontece em alguns croquis, é sem-
pre necessário trabalhar em escala. Os desenhos ortogonais permitem fazer
estudos mais complexos quanto aos acessos do projeto, a locação em relação
ao terreno e suas condicionantes, além do layout de um edifício, por exemplo.

EXPLICANDO
Você sabe o que é uma escala? Ela consiste na relação entre dimen-
sões reais e dimensões representadas em um desenho gráfico (planta
ou mapa). Ela pode apresentar este desenho em tamanho real, reduzi-
do ou ampliado.

É importante salientar que os desenhos técnicos aparecem desde a fase prelimi-


nar do projeto até o executivo, quando todas as modificações e decisões foram apro-
vadas pelo cliente.
Nesse momento, será preciso apresentar, por exemplo, os diversos tipos de plan-
tas. Uma planta de situação normalmente é apresentada aos órgãos públicos a fim
de auxiliar na aprovação do projeto e compreende, além de informações do terreno,
dados gerais sobre o partido arquitetônico adotado. A implantação contém, além das
informações do próprio projeto, dados relacionados ao entorno e à infraestrutura ali
existente. A planta da edificação, por sua vez, é uma vista secante horizontal a uma
altura de cerca de 1,50 m de todo o projeto, em todos os pavimentos (ABNT, 1994).
Lembre-se que é necessário sempre aprovar um projeto nos órgãos convenientes
da sua cidade, estado ou país. Neste caso, os desenhos serão os principais documen-
tos apresentados.

Perspectivas e detalhamento
Após realizar toda a fase destinada aos desenhos técnicos da sua edifica-
ção, será preciso encarar mais duas situações: na primeira, você terá que fazer
algumas apresentações do projeto ao seu cliente para que ele o aprove e, as-
sim, seguir para as etapas finais de projeto executivo e obra. Além disso, em
segunda instância, com a aprovação do projeto, você e a equipe precisarão
desenvolver os detalhamentos de algumas partes específicas do projeto.

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Mas o que são exatamente e qual a importância destes dois itens? Para
apresentar o projeto para o cliente, você pode utilizar perspectivas, que são
um importante auxílio para estudar volumetrias de um projeto, além de serem
fundamentais para ilustrar e tornar os projetos mais claros para os espectado-
res leigos, que desconhecem a linguagem do desenho técnico.
Como é possível ver na Figura 4, que representa a perspectiva interna de
um restaurante, ela é um recurso precioso para o entendimento do projeto.
O uso de cores e texturas, por exemplo, a enriquece ainda mais, permitindo a
compreensão de materiais a serem utilizados na execução de uma edificação.
Observe que esta é uma representação de um espaço tridimensional.

Figura 4. Perspectiva tridimensional do interior de um restaurante. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 21/01/2021.

Contudo, após a aprovação do projeto, quando ele está sendo finalizado,


pode ser necessário acrescentar informações aos desenhos executivos. Neste
caso, é preciso executar os detalhes construtivos. Detalhar nada mais é do que
apresentar as particularidades de uma determinada parte da obra, para que
ela possa ser executada da forma correta.
Os detalhamentos podem, por exemplo, apresentar as sequências nas
quais os materiais são colocados em um sistema construtivo, como é feita a
ligação entre dois materiais ou qualquer outra particularidade do projeto. Eles
devem ser feitos para que, durante a execução, não existam dúvidas quanto à
forma pela qual um edifício ou suas partes é construído.

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De acordo com Dejtiar (2017), o desenho dos detalhes pode ser feito des-
de o início do processo de desenvolvimento de um projeto para que possam
ser compreendidos pequenos detalhes práticos de alguns materiais e sistemas
construtivos. Seu uso pode melhorar a qualidade das edificações projetadas e
minimizar quaisquer erros de execução.
Os detalhes construtivos não são obrigatórios no projeto, mas é neces-
sário atentar que eles devem ser representados segundo as regras da NBR
6492 (ABNT, 1994) e com uma escala pertinente para o entendimento de
seu leitor. Podem ser utilizados, ainda, quadros que os deixem em destaque
para que a representação final do projeto não fique confusa ou com infor-
mações desencontradas.
Gibbs (2017) aponta que o detalhamento é um importante componente dos
projetos executivos de arquitetura, uma vez que, neste momento, podem ser
apresentados desenhos detalhados de todos os componentes de um projeto.
Nesta hora, podem ser apresentados detalhes de áreas molhadas, como cozi-
nhas, banheiros, lavabos e áreas de serviço.
Para verificar alguns outros tipos de plantas e desenhos arquitetônicos que
precisam de detalhamento, observe as seguintes indicações:
• Paginação de acabamentos e revestimentos: é necessário criar plantas
e/ou vistas internas das paredes com detalhes da paginação dos revestimen-
tos, bem como suas alturas. É possível utilizar a escala 1:25;
• Paginação de pisos: assim como o anterior, normalmente é necessário
criar pranchas na escala 1:25 para indicar as especificações de como as pe-
ças cerâmicas são assentadas, onde se encontram ralos, esgotos e desníveis
ou o sentido dos veios (em pedras naturais) ou dos desenhos que o revesti-
mento possa ter;
• Portas e metais: é utilizado para o detalhamento de partes ou objetos
específicos, como a maçaneta de uma porta. Neste caso, as escalas utiliza-
das são maiores: 1:10, 1:5 ou 1:2;
• Marcenaria: quando o projeto do interior de uma edificação englobar
a fabricação de marcenaria, o arquiteto deve detalhar os materiais utiliza-
dos, tipos de encaixes e cada uma das dimensões. Assim como o anterior,
pode-se usar uma escala maior, como a 1:10, dependendo da dimensão do
móvel a ser projetado.

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Agora, pense: quais seriam os detalhes necessários? Há algum mobiliário
que será executado junto com a obra e precisa ser detalhado? Marcenarias ou
bancadas e áreas molhadas? Verifique cada ambiente e planeje os detalhamen-
tos que a equipe deverá fazer.

Noções de legislação aplicadas à arquitetura


O projeto de arquitetura engloba, além das especificações refe-
rentes ao programa de necessidades do local e suas
relações com o entorno, a adequação às normas
técnicas. No Brasil, especificamente, a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é responsável
por um conjunto de normativas que regularizam os
projetos arquitetônicos.
Neste tópico, apresentaremos algumas destas normas que regulam a ar-
quitetura, desde as premissas da ABNT até as regulações específicas das pre-
feituras municipais.

Introdução da legislação na arquitetura


Há uma série de legislações e normas que são responsáveis por verifi car
a viabilidade de construir uma certa edifi cação, que regularizam a apresen-
tação de desenhos e projetos e que organizam como deve ser ocupada a
terra urbana.
Vimos que o desenho técnico implica em uma série de regras que estão
englobadas na NBR 6492 (ABNT, 1994), que torna os desenhos arquitetôni-
cos compreensíveis por todos os envolvidos no processo de projeto. Sendo
assim, ao desenhar de forma técnica é preciso seguir uma norma ou lei.
Pensemos em outro exemplo: o que acontece caso o cliente já tenha algu-
mas ideias específicas para o espaço? Ao receber essas ideias do seu cliente, é
imprescindível verificar se elas são viáveis do ponto de vista da legislação.
Então, o que precisa ser verificado? Comece com a legislação urbana muni-
cipal e, a seguir, defina a possibilidade de adequar o projeto também às outras
normas técnicas definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 103

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Plano Diretor e leis de uso e ocupação do solo
Você conhece a legislação urbana da sua cidade? Mais ainda, você sabe o
que é a legislação urbana e qual sua importância para as cidades? Segundo
Rolnik (1999), a legislação urbana é um conjunto de leis, normas e decretos
responsáveis por regular o uso e a ocupação da terra urbana. Ou seja, por
meio dela o território é organizado e classifi cado, e as formas de ocupação
são permitidas ou proibidas.
Em 2001, a Lei nº 10.257 criou o Estatuto da Cidade que seria o respon-
sável por regular o uso da propriedade urbana, pensando no bem coletivo,
segurança, equilíbrio ambiental e bem-estar de todos os cidadãos. Nes-
te sentido, buscou ordenar o uso da propriedade urbana garantindo, por
exemplo, o direito à cidade sustentável e provida de infraestrutura urbana,
saneamento ambiental, serviços públicos, transporte e lazer (BRASIL, 2001).
E o que essas leis e normas signifi cam, na prática, para a produção das ci-
dades e na arquitetura e urbanismo. Elas estabelecem áreas que podem ou
não receber determinados usos, bem como qual é a ocupação máxima que
um lote urbano pode ter, por exemplo.
Considerando o que se estabeleceu no Estatuto da Cidade, muitas áreas
urbanas possuem o Plano Diretor, que é um instrumento de organização
da cidade, orientando sua ocupação de acordo com os interesses coletivos.
Esse Plano orienta tanto as políticas públicas quanto as ações da iniciativa
privada no território urbano, sendo o principal plano urbanístico de uma
determinada cidade.
E todas as cidades possuem Plano Diretor? Não. Ele é obrigatório de acor-
do com cinco preceitos:
• Em cidades que possuam mais de vinte mil habitantes;
• Em cidades que integram as regiões metropolitanas;
• Em cidades nas quais o Poder Público municipal vise utilizar instrumen-
tos urbanísticos previstos na Constituição Federal de 1988;
• Em cidades onde haja interesse turístico;
• Em cidades que estejam inseridas dentro de uma área com infl uência
de atividades ou empreendimentos de impacto signifi cativo nos âmbitos re-
gional ou nacional.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 104

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A cidade de São Paulo, por exemplo, possui um Plano Diretor estratégico,
concebido em 2014, que deve orientar o crescimento da cidade até o ano de
2030. Ele foi elaborado com a participação da sociedade e divide a cidade
em várias zonas. A Figura 5 apresenta um trecho deste zoneamento referen-
te a uma área próxima ao centro da cidade.

Figura 5. Zoneamento de parte da área central de São Paulo. Fonte: São Paulo, 2015.

Na Figura 5, é possível verificar uma área que contém, predominantemente,


ZEIS-3 e ZEIS-6. Mas você sabe o que é uma ZEIS? As ZEIS são a sigla para “Zonas
Especiais de Interesse Social”, ou seja, áreas onde devem ser implantados pro-
jetos voltados para habitação social, por exemplo. Nestas áreas, para que esta
função social seja cumprida, podem existir leis mais permissivas.
Pesquise se na sua cidade existe o Plano Diretor e quais são suas deter-
minações para a área onde você está implantando esta edificação. Verifique,
sobretudo, se o uso comercial é permitido para esta área e este lote específico.
Este é o primeiro passo. O seguinte é conhecer um pouco mais do que é deter-
minado para os lotes vizinhos e para as áreas adjacentes ao projeto. Verifique
se existe algum plano especial de desenvolvimento para aquela área ou mesmo
se algum novo empreendimento está sendo implantado, além do seu, é claro.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 105

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Em seguida, volte novamente para o seu lote específico e busque referên-
cias sobre uma outra lei importante: o Código de Edificações da cidade. Este
Código é fundamental para estabelecer os coeficientes de ocupação que serão
utilizados na área na qual se está projetando. Por meio dele, pode-se calcular,
por exemplo, a área máxima que poderá ser construída no local.
Dentre os coeficientes que são estabelecidos pelo Código, atente-se
aos seguintes:
• Coeficiente de aproveitamento (CA): o máximo de metros quadrados
que podem ser construídos a partir da área total do terreno;
• Taxa de ocupação (TO): corresponde à divisão entre projeção da área
edificada e a área total do terreno;
• Afastamentos das divisas laterais e fundos: são os recuos mínimos das
laterais e dos fundos em relação aos lotes vizinhos;
• Recuo mínimo do alinhamento: distância mínima entre o alinhamento
da calçada e o início da área construída de um determinado lote;
• Área permeável: porcentagem do terreno que deve conter solo permeá-
vel, ou seja, que não pode ser impermeabilizado.

EXEMPLIFICANDO
O coeficiente de aproveitamento (CA) depende diretamente da área total
(AT) e da área construída computável máxima (AC). Assim, o CA é dado
por CA = AC/AT. Se você possui um terreno com 1000m² e um coeficiente
de aproveitamento de 2, a área construída computável máxima será de
2x1000, ou seja, AC = 2000m².

Outro fator determinante que não deve ser esquecido é que a altura máxi-
ma permitida para uma edificação não está ligada com a taxa de ocupação (TA)
máxima. Mas por quê? Lembre-se: a taxa de ocupação trata da área projetada
do edifício em relação ao solo, à sua área total. Ou seja, a taxa de ocupação leva
em conta a projeção horizontal e não o número de pavimentos.
Sendo assim, o índice que afeta o número de pavimentos de uma edifica-
ção é o coeficiente de aproveitamento (CA), porque você precisará considerar a
área total construída, ou seja, todos os pavimentos.
Verificar essa legislação desde o início reduz as probabilidades de risco de
projetar uma edificação com mais pavimentos ou mais área construída do que

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o permitido. Não se arriscará, ainda, a deixar recuos menores que os permiti-
dos pelas leis municipais ou a colocar mais áreas impermeáveis do que o Códi-
go de Obras permite.

Normas técnicas
Vimos algumas importantes regras a serem seguidas para se construir
em solo urbano. Tratam-se das legislações, que podem ser municipais, es-
taduais ou mesmo federais. Mas é importante saber que elas não são as
únicas leis que regem a construção de um edifício.
Além delas, existe uma série de normas técnicas que devem ser ado-
tadas, cuja responsabilidade, em geral, é da Associação Brasileira de Nor-
mas Técnicas (ABNT). As normas brasileiras publicadas pela ABNT são do-
cumentos legais estabelecidos por um consenso e que estabelecem regras,
diretrizes ou recomendações mínimas para atividades ou resultados para
obtenção de um grau de qualidade em um contexto específi co (ABNT, 2015).
Considerando que o projeto de um restaurante é um espaço
para frequentação de público diverso, é necessário se
atentar à NBR 9050 (ABNT, 2015), que trata de aces-
sibilidade a edifi cações, mobiliário, espaços e equi-
pamentos urbanos. Ela foi criada para estabelecer
parâmetros e critérios mínimos para projetos, cons-
truções, edifi cações e instalações no meio urbano ou rural em detrimento
das condições de acessibilidade universal (ABNT, 2015).
Para tal, há diversas orientações a serem seguidas visando organizar o
espaço comercial. Vejamos algumas delas:
• Disponibilizar informação e sinalização (projetos de identidade visual
com placas, sinalização de emergência, comunicações etc.);
• Pensar no projeto a partir de parâmetros antropométricos, ou seja,
considerando os alcances visuais e manuais da população conforme esta-
belecidos na norma técnica;
• Projetar sanitários e vestiários com um número mínimo de banheiros
para atender ao público com difi culdades de acessibilidade, verifi cando as
dimensões recomendadas na NBR 9050/2015;

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 107

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• Gerar acessos e circulações internos e externos ao edifício com os pa-
râmetros mínimos da norma técnica, permitindo acessibilidade à circulação
vertical e horizontal, criando vãos com dimensões mínimas estabelecidas e
respeitando as distâncias máximas percorridas;
• Projetar mobiliário urbano acessível, como bancos, pontos de hidrata-
ção e lixeiras.
Para nortear estas orientações, a NBR 9050/2015 traz uma série de ilus-
trações e tabelas que tornam mais nítidos os parâmetros definidos para a
acessibilidade. A Figura 6 expõe alguns dos parâmetros apresentados pela
norma técnica, a respeito das dimensões referenciais de descolamentos de
uma pessoa em pé. Estas dimensões consideram pessoas que tem alguma
dificuldade de locomoção e que, portanto, precisam de algum dispositivo
que os auxilie a caminhar, e são primordiais para calcular as dimensões de
uma área de circulação, por exemplo.

0,75 0,90 0,90


a) Uma bengala b) Duas bengalas c) Andador
com rodas

0,85 0,75
d) Andador rígido – vistas frontal e lateral

0,95
1,20 1,20
e) Muletas – vistas frontal e lateral
0,60

0,60
0,90 0,90
f) Muletas tipo canadense g) Apoio de tripé h) Sem órtese

Figura 6. Dimensões para deslocamento de pessoas em pé. Fonte: ABNT, 2015.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 108

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A NBR 9050/2015 também determina como calcular as rampas de um de-
terminado projeto. Importante ressaltar que, já tendo verificado o terreno no
qual está projetando e sua topografia, é preciso ter uma noção se será ou não
necessário criar uma rampa para que o estabelecimento seja acessível às pes-
soas que têm alguma dificuldade de locomoção. Se sim, mas você ainda não
sabe como poderia calcular uma rampa, verifique a Figura 7.
h ∙ 100
i= (1)
c
Onde
i é a inclinação, expressa em porcentagem (%);
h é a altura do desnível;
c é o comprimento da projeção horizontal.

Dimensões em metros

i i

i i

1,20 c 1,20 c 1,20


a) Vista superior

h
h
h
h

b) Vista lateral

Figura 7. Dimensionamento de rampas. Fonte: ABNT, 2015. (Adaptado).

Sabe-se que as rampas são áreas de piso com declividades supe-


riores a 5%. Além disso, a inclinação máxima ideal para uma área
rampada é de 8,33%. Dependendo da distância neces-
sária em rampa para vencer uma altura, é ideal que
se criem áreas de descanso, que são áreas horizon-
tais e sem inclinação. Outras inclinações possíveis
e dimensões, como larguras das rampas, podem ser
conferidas na íntegra na norma técnica.

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 109

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É importante seguir esta Norma não apenas considerando o ponto de vista
legislativo, mas também considerando que é o desenho universal aplicado aos
projetos, além de torná-los mais inclusivos e humanizados. Sobretudo, as áreas
de amplo acesso, como os locais públicos, semipúblicos e de comércio devem
seguir estes preceitos e respeitar as regras de dimensionamento.
Não esqueça de buscar, também, a configuração de circulações e as áreas de
sanitários para que seu projeto como um todo contenha acessibilidade.
Vale lembrar que a norma de acessibilidade não é a única a ser considerada
em um projeto de edificação. Além dela, é possível considerar, ainda, a importân-
cia de seguir as normas do Corpo de Bombeiros. Eles estabelecem várias instru-
ções técnicas que, no caso, têm abrangência estadual. Sendo assim, dependendo
da cidade para a qual se está projetando, é necessário verificar esta normativa.
A prevenção contra incêndios é um tópico extremamente importante para
uma edificação e expressa-se tanto pela educação pública quanto por medi-
das de proteção. Assim, as medidas assinaladas na Norma estadual do Corpo
de Bombeiros visam, à presença de um incêndio, o seu combate e extinção,
bem como a redução de seus efeitos antes da chegada do Corpo de Bombei-
ros (SÃO PAULO, 2018).
Para tal, as medidas de combate a incêndio a serem previstas pela legislação
abrangem a extinção do fogo, alarme e detecção, que são medidas ativas. Há,
ainda, as medidas passivas, que são aquelas que controlam os materiais utiliza-
dos em uma edificação e seu comportamento diante do fogo, os meios de escape
e compartimentação de uma edificação, bem como a proteção das estruturas.
A ideia principal diante de um episódio de incêndio é a proteção da vida dos
ocupantes de uma edificação, bem como a redução de quaisquer danos ao pa-
trimônio e ao meio ambiente. Há, também, a necessidade de garantir acesso do
Corpo de Bombeiros para eventual combate a um incêndio naquela área.
Ou seja, pensando no projeto do seu restaurante, as áreas devem ser acessí-
veis ao carro de Bombeiros para que eles possam atuar caso tenha alguma ocor-
rência. Verifique, de acordo com a sua cidade, quais as demandas relacionadas
aos acessos pelo Corpo de Bombeiros.
Além disso, deve-se verificar se são respeitados alguns requisitos mínimos
exigidos pelo Corpo de Bombeiros. Dentre eles:
• Extintores;

PROJETO DE ARQUITETURA E URBANISMO IV 110

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• Sistema de hidrantes;
• Sistema de alarme de incêndio e detecção de calor e fumaça;
• Sistema de chuveiros automáticos;
• Sistema de iluminação de emergência;
• Compartimentação vertical e horizontal;
• Escadas de segurança;
• Isolamento de risco;
• Sistemas fixos de espuma CO2 e Halon, entre outras proteções.
Pensando nos requisitos de segurança referentes aos materiais utilizados,
algumas Instruções Técnicas (IT) do Corpo de Bombeiros podem estabelecer
que os materiais de acabamento e revestimento devem ser controlados. Isto
ocorre porque determinados materiais podem propagar ainda mais um incên-
dio, enquanto outros pode ajudar a extingui-lo ou, pelo menos, minimizá-lo.
A partir dos itens anteriores, é necessário pensar em escadas de segurança.
Estas escadas fazem parte do conjunto de rotas de fuga de um determinado
edifício e devem conter portas com abertura antipânico e devem ser devida-
mente compartimentadas para que o fogo não atinja estas áreas. Além disso,
fazem parte deste sistema de rotas de fuga as saídas de emergência.

CONTEXTUALIZANDO
A partir do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do
Sul, em janeiro de 2017, ficou determinado que todos os municípios
devem ter uma legislação específica referente ao combate e preven-
ção de incêndios e desastres. Esta necessidade foi estabelecida pela
Lei Federal nº 13.425/2017.

Sabendo destas informações, pense nas possíveis rotas de fuga de seu res-
taurante, a partir de uma consulta às legislações estadual e municipal. Não se
esqueça de buscar referências de materiais que podem auxiliar em casos de
incêndio, sobretudo nas áreas onde há manipulação de fogo, como as cozinhas.
Aliás, no caso das cozinhas, a legislação do Corpo de Bombeiros não é a úni-
ca que deve ser seguida. De acordo com a Anvisa (2004), as cozinhas industriais
devem ter, predominantemente, a cor branca. Isso ocorre porque há uso amplo
de aço nestas áreas e o branco não interfere no índice de reflexão de cor deste
aço e não cria, assim, áreas ou cantos escuros. Inclusive, a cor clara demonstra

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com maior facilidade a presença de sujidades no ambiente, o que é essencial
para as áreas como cozinhas, onde a limpeza é fundamental.
Com relação ao piso utilizado em áreas de cozinhas, é importante que eles
sejam laváveis e antiderrapantes para evitar acidentes, uma vez que há pre-
sença de elementos escorregadios, como gorduras e óleos. Além disso, não
pode haver fendas ou rachaduras que debilitam o processo de desinfecção das
áreas. Devido ao fluxo intenso nessas áreas, o piso deve ser PEI 5, ou seja, com
alta resistência à abrasão, além de anticorrosivo para suportar os agentes de
limpeza química ali aplicados e, muitas vezes, possuir rejuntes antiácidos (AN-
VISA, 2004).
Quanto aos pisos é importante observar, ainda, que sejam criados desníveis
e inclinações que sejam capazes de drenar naturalmente os líquidos para saí-
das com ralos ou grelhas sifonadas, evitando com que a água fique empossada.
O uso de ralos e grelhas sifonadas também é um fator fundamental para evitar
o retorno de odores pelo esgoto, bem como a entradas de animais. Além disso,
segundo a Anvisa (2004), sempre que possível, é ideal adotar os pisos monolí-
ticos, que facilitam os transportes por meio de carrinhos.
Finalmente, é fundamental que as portas sejam assentadas em cozinhas
industriais com material liso e não absorvente, além de ajuste exato com as
esquadrias e evitando folgas entre elas e o piso, para que não haja a possibi-
lidade de entrada de insetos e roedores no local. Quanto às janelas também
é necessário que elas barrem a entrada de agentes externos como animais e,
ainda, que sejam projetadas de modo que o acúmulo de sujeira seja o menor
possível. Em algumas situações, é preciso instalar telas.
O ideal é que as janelas estejam nas áreas superiores da parede. Essa locali-
zação permite a ocorrência do “efeito chaminé”, que leva os ares mais quentes
para a parte superior do ambiente e facilita as trocas de ar. Além disso, tal
localização permite uma boa iluminação natural sem a presença de sombras.
Observamos a necessidade de seguir várias regras, normas ou leis para que
o restaurante esteja em conformidade com a legislação vigente. Neste sentido,
tente aplicar os conhecimentos adquiridos na especificação dos materiais do
seu projeto e na determinação das esquadrias utilizadas.

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Sintetizando
Nesta unidade, aprendemos sobre a importância de alguns fatores para o
desenvolvimento de um projeto de restaurante. Primeiramente, vimos como
é importante se atentar às determinantes do local, tais como os aspectos do
terreno no qual a edificação será localizada. O estudo correto destas variá-
veis permite que o conforto térmico seja levado à sua máxima potência. Além
disso, ainda vimos como é importante estudar o tipo de relação que deverá
ocorrer entre o que foi projetado e as áreas do entorno.
Depois tratamos das normativas referentes ao desenvolvimento da apre-
sentação de um projeto. Verificamos como os desenhos fazem parte de todo
o processo de projetação e como deve ser desenvolvida cada uma das etapas
para que o resultado do desenho seja condizente com o esperado. Podemos
utilizar croquis no início, partir para desenhos técnicos já na etapa de ante-
projeto e, ao final, utilizar-se de desenhos técnicos muito detalhados para
enviar o projeto à obra.
Finalmente, verificamos a importância de seguir a legislação vigente ao
projetar um edifício. Desde regras relacionadas ao espaço urbano, onde o
planejamento da cidade e as edificações ali alocadas está relacionado, até
as normas mais específicas de acessibilidade e o Corpo de Bombeiros, abor-
damos os preceitos que devem reger um projeto arquitetônico. Mais do que
isso, em se tratando de um restaurante, ainda vimos algumas recomenda-
ções sobre o projeto de cozinhas.
Espero que estes conhecimentos ajudem a torná-lo um grande profissional.
Bons estudos!

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