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Liliana Silva MGDRH 2020
Liliana Silva MGDRH 2020
Liliana Silva MGDRH 2020
SUPERIOR
DE CONTABILIDADE
E ADMINISTRAÇÃO
DO PORTO
POLITÉCNICO
DO PORTO
M MESTRADO
GESTÃO E DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HUMANOS
Portuguesas
2019/2020
INSTITUTO
SUPERIOR
DE CONTABILIDADE
E ADMINISTRAÇÃO
DO PORTO
POLITÉCNICO
DO PORTO
M MESTRADO
GESTÃO E DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HUMANOS
Versão Final
Liliana Filipa Teixeira Jesus e Silva
Portuguesas
2019/2020
ii
“Deus deu-te a luz para os teus objetivos
Determinação e Coragem
Final de Sonho
Que linda Viagem”
Maria do Carmo
iii
Agradecimentos
Fernando Pessoa
A decisão de iniciar esta nova etapa na minha formação, representou, numa fase inicial,
um sonho, uma miragem. Desde que embarquei nesta aventura, vivi e senti um misto de
emoções, marcados por felicidade, desilusão, orgulho e cansaço, mas que, apesar das
pedras encontradas no caminho, realizou-se. Hoje, posso afirmar que foi sensivelmente
das melhores decisões que tomei. E a melhor parte é que a viagem vai só no início!
Aos meus pais, por acreditarem que eu sou capaz de fazer tudo aquilo que desejar, desde
que seja feito com dedicação, persistência, humildade e garra. Estou grata pela ajuda e
carinho que ainda recebo. Sem vocês, este caminho não tinha sido possível.
À minha irmã Joana, minha alma gémea e melhor versão de mim própria, obrigada por
seres uma verdadeira companheira de viagem, desde o primeiro dia. Estás sempre lá para
me apoiar, dar a mão e levantar do chão. Pelos momentos em que adivinhámos o que vai
na cabeça uma da outra e conseguimos ler pensamentos através do olhar, somos
inseparáveis. Contigo, ia até ao fim do mundo.
Ao meu irmão Pedro, por ser o meu ídolo e modelo a seguir. Pelos momentos de
orientação, motivação, de partilha e escuta, característico de um verdadeiro irmão mais
velho, ajudas-me a ser cada vez melhor.
Ao Eduardo, namorado e amor da minha vida, pela paciência com que lidas comigo, pela
tua capacidade de me acalmar com o toque e me chamares de volta à terra. Pela história
que estamos a construir juntos, a vida ao teu lado é um sonho tornado realidade. O teu
abraço continua a ser o melhor do mundo.
À minha família de coração, Carma, Geraldo, Carlos e Carla, por me ensinarem que o
amor vai muito além de uma condição biológica que nos é imposta. Em especial, a ti,
Maria do Carmo, por me dares as melhores lembranças da minha infância, pela paciência,
responsabilidade, resiliência e amor com que aceitaste o desafio de sermos também tuas,
sem pedir nada em troca.
iv
Aos meus sobrinhos, Margarida e Salvador, por serem crianças felizes e me fazerem,
também, feliz. Estou grata por vos ter na minha vida e poder assistir na primeira fila às
vossas pequenas grandes conquistas. Por todos os momentos de brincadeira,
aprendizagem, crescimento e carinho, fazem-me a tia mais realizada do mundo.
Aos meus amigos, pelo otimismo, pelas conversas sobre tudo e sobre nada, pelos
conselhos, gargalhadas e apoio incondicional. Com vocês, os obstáculos parecem perder
tamanho e os risos ouvem-se mais alto.
v
Resumo:
Os resultados obtidos mostram que a forma tradicional de trabalho está a alterar-se para
uma vertente digital, com novas dinâmicas de trabalho e de equipas, originando isto que
as empresas definam estratégias de adaptação a um mundo em mudança.
vi
Abstract
With the introduction of the Industry 4.0 concept, starting in 2011, boosted a digital
transformation process with a special focus, in this study, on the impact on the labor
market. In this sense, the professions have changed with the introduction of machines and
technologies, driving several changes. If, on the one hand, there has been a large
investment by organizations for the use of digital, believing it to be indispensable to
guarantee competitive advantage, on the other hand, there has also been an investment in
the training of professionals for an easy and natural adaptation to the market’s
requirements. In this context, the skills that companies are currently looking for, have
changed to respond to an increasingly fast and technological market. Hence, training
professionals with the necessary skills to respond to the business and generate value,
becomes essential for the survival and consequent development of a company.
This study aims to understand the impact of digital transformations, about the skills and
functional profiles that companies look for in the digital age to respond to challenges and
opportunities.
The results obtained show that the traditional way of working has changed to a digital
aspect, with new work and team’s dynamics. This has led companies to define strategies
for adapting to a changing world. It is possible to conclude that the competencies sought
by the organizations also changed and started to be oriented towards a digital and
technological aspect, however, with prevalence of Soft Skills.
vii
Índice geral
Introdução ....................................................................................................................... 1
viii
3.2 Competências ........................................................................................................ 73
Capítulo V – Conclusão................................................................................................ 92
ix
Índice de Figuras
x
Índice de Tabelas
xi
Lista de Siglas e Abreviaturas
xii
INTRODUÇÃO
1
No decorrer da última década, assistimos ao aparecimento de novas tecnologias que têm
proporcionado uma crescente digitalização com repercussões na forma de viver, estar e
comunicar em sociedade e, mais especificamente, nas organizações. Através de um
processo de transformação digital, de uma forma transversal, os trabalhos ficaram mais
ricos e exigentes, permitindo verdadeiras oportunidades de desenvolvimento profissional
(MacDougall, 2014).
Existe ainda poucos estudos realizados, havendo escassez de informação sobre o impacto
da transformação digital, essencialmente na organização do trabalho e das equipas, assim
2
como sobre as competências que as empresas procuram. Nesse sentido, para o
desenvolvimento deste estudo, colocou-se a seguinte questão de partida: Qual o impacto
da Revolução 4.0 nos perfis funcionais e competências procuradas pelas empresas em
Portugal?
Esta dissertação apresenta uma estrutura dividida em cinco capítulos. O primeiro diz
respeito ao enquadramento teórico do tema, onde foram desenvolvidos os conceitos da
evolução histórica até chegar à Indústria 4.0, as tecnologias emergentes, os desafios da
revolução 4.0, as tipologias de competências e o perfil do trabalhador 4.0. No segundo
capítulo, é apresentado o estudo empírico, com a identificação dos objetivos do estudo, a
explicação sobre a metodologia qualitativa e a técnica de entrevista utilizada, a referência
ao processo de codificação dos dados do estudo e a caracterização dos participantes. O
capítulo três e quatro referem-se à apresentação e, respetiva discussão dos resultados
obtidos neste estudo. E, por último, no capítulo cinco são apresentadas as conclusões e
reflexões finais, onde se resumem os principais resultados, realizando-se a descrição das
limitações apontadas, com algumas sugestões que poderão constituir-se reflexões futuras
sobre este tema.
3
CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO
4
1.1 Evolução histórica: da primeira à quarta revolução industrial
Este estudo refere os quatro períodos históricos definidos pelo Centro Alemão de pesquisa
de Inteligência Artificial (DFKI) e apresentados por Kagermann et al. (2013), ilustrados
na figura 1. Começando pela mecanização, assim se pode caracterizar a primeira
revolução. Ocorreu no século XVIII e foi impulsionada pela inovação da máquina a vapor
e a sua aplicação no mercado têxtil. Causou bastante impacto, na medida em que
impulsionou a criação de novas profissões, aumentou a quantidade de mercadorias
produzidas e permitiu o crescimento das cidades e ferrovias. No final do século, com o
surgimento da electricidade, onde foi introduzido a utilização da energia elétrica e a
produção em massa com a criação de linhas de montagem, revolucionou todo o século,
caracterizando a segunda revolução industrial. Nesta época, foram introduzidas a
metalúrgica, a siderurgia e a química como as novas ascendentes da indústria. De seguida,
a terceira revolução industrial, conhecida também como “revolução digital” iniciou-se na
década de 1960 e caracterizou-se pela revolução das tecnologias de informação. Consistiu
na utilização das tecnologias de informação, caracterizada pela proliferação e uso dos
semicondutores, dos computadores, automação e robotização em linhas de produção, com
informação armazenada e processada de forma digital, as comunicações, os telefones
móveis e a internet (Hermann, Pentek, & Otto, 2015). No início do século XXI, com o
desenvolvimento da internet, software e hardware cada vez mais sofisticado, a capacidade
das máquinas aprenderem e colaborarem, criando gigantescas redes de “coisas”,
impulsionou uma transformação na indústria, cujo impacto na competitividade, na
5
sociedade e na economia será de tal forma notório que irá transformar o mundo tal como
o conhecemos (Kagermann, 2014).
No estudo apresentado no evento EurOMA, Klingerberg & Junior (2017) fazem uma
análise histórica relativamente às revoluções industriais vividas até hoje e, identificam a
quarta revolução industrial como a indústria 4.0, em que as tecnologias emergentes da
indústria 4.0 irão ter impactos muito significativos na economia e na sociedade. Os
autores identificaram três elementos, que caracterizam cada uma das revoluções,
nomeadamente: avanços técnicos, cenário económico e demografia. Embora, estejamos
a falar de contextos e realidades diferentes, a verdade é que em cada uma das revoluções
impulsionou mudanças e uma nova forma de olhar o mundo (Klingenberg & Junior,
2017).
O termo "Indústria 4.0" surgiu pela primeira vez em 2011, numa iniciativa com o mesmo
nome, que reuniu pessoas em diversas áreas, tais como políticos, representantes de
empresas e académicos, com o objetivo de analisar e encontrar soluções para a
6
competitividade da Indústria Alemã (Kagermann, Lukas & Wahlster, 2011). Mais tarde,
o governo alemão anunciou que a temática da indústria 4.0, assim referida a quarta
revolução industrial, iria integrar a iniciativa “High-Tech Strategy 2020 for Germany” e
foi publicamente introduzido o tema na “Hannover Fair” em 2011 (Kagermann, Lukas
& Wahlster, 2011).
No estudo realizado por Hermann et al. (2015), foram identificadas quatro componentes
associadas à Indústria 4.0, nomeadamente: os sistemas Cíber-físicos, Internet das Coisas,
Internet de Serviços (IoS) e Fábrica Inteligente. Através da identificação destes quatro
componentes, chegam a uma definição de indústria 4.0 como um termo coletivo para
tecnologias e conceitos de valor organizados em cadeia. Dentro das fábricas inteligentes
da indústria 4.0, os sistemas cíber-físicos monitorizam processos físicos, criam uma cópia
virtual do mundo físico e tomam decisões descentralizadas. Na internet das coisas, os
sistemas cíber-físicos comunicam entre si e cooperam uns com os outros e com humanos
em tempo real. Por meio da internet de serviços, “serviços internos e interorganizacionais
são oferecidos e utilizados pelos participantes da cadeia de valor” (Hermann, Pentek, &
Otto, 2015, p.3929).
7
Através da análise efectuada por Qin et al. (2016), existe ainda um gap entre a indústria
atual e aquilo que seria o alcance expectável da Indústria 4.0, embora salientem que o
futuro da indústria está a ser desenvolvido em direção à Indústria 4.0.
8
1.2 A Indústria 4.0 e a Transformação Digital
A Indústria 4.0 tem vindo a promover muitas discussões e preocupações do que será o
futuro, a relação homem-máquina, essencialmente pelo poder de transformar a forma
como os produtos são desenhados, fabricados e automatizados, entregues e pagos
(Hofmann & Rusch, 2017). O impacto da indústria 4.0 será sentido numa revolução de
processos, nas relações e nos hábitos de consumo. Embora os impactos reais ainda não
foram medidos, para Thames & Schaefer (2016) a indústria 4.0. será algo promissor, que
irá contribuir para a redução de custos, aperfeiçoamento de processos produtivos,
automatização e a própria interação. Para além dos factores identificados, períodos mais
curtos de desenvolvimento, customização dos produtos, flexibilidade e eficiência dos
processos, são identificados como as expectativas associadas à indústria 4.0 (Lasi et al.,
2014; MacDougall, 2014). Ficar fora desta revolução, segundo os autores, não será uma
opção, porque à nossa volta, no nosso quotidiano, já assistimos à sua implementação.
À Indústria 4.0 estão associados os termos inteligência artificial, automação, Big Data e
internet das coisas (Drath et al., 2014; Liao et al., 2017). Para a Boston Consulting Group,
no artigo intitulado de “Industry 4.0: The Future of Productivity and Growth in
Manufacturing Industries” são apresentados os nove pilares da Indústria 4.0 (Figura 2)
como sendo o big bata, automatização, sistemas integrados, simulação, internet das
coisas, cibersegurança, cloud, manufaturação aditiva e realidade aumentada (Gerbert, et
al., 2015).
9
Para Gerbert et al. (2015), os nove pilares da Indústria 4.0 irão revolucionar a forma
tradicional de funcionamento da Indústria, tornando as relações existentes muitos mais
interligadas e conectáveis. O estudo, é fundamentado em alguns exemplos, tais como o
Big Data, que se traduz na ciência capaz de tratar, analisar e obter informações a partir
de uma grande quantidade de dados. A aplicação do Big Data permite, por exemplo, a
uma empresa de semicondutores reduzir as falhas do produto, uma vez que com a
aplicação desta tecnologia a empresa identifica padrões que ajudam a descarregar chips
defeituosos no início do processo de produção e, em consequência, a melhorar a qualidade
da produção do produto. Ou, por exemplo, quando falamos de robôs automatizados,
muitas indústrias recorrem a eles para a realização de tarefas mais complexas, sendo que
estes robôs estão a tornar-se cada vez mais autónomos, flexíveis e cooperativos, dando
espaço à implementação dos Cobots. Estes, serão capazes de interagir e trabalharão em
segurança lado a lado com os humanos e aprenderão com eles. Este facto, leva-nos ao
tema da IA, incontornável na indústria 4.0, a aplicação e o impacto desta tecnologia
representa em grande parte esta revolução industrial, sobretudo pelas mudanças nos
processos produtivos de uma organização (Gerbert et al., 2015). Existem exemplos reais,
que nos permitem verificar a existência da sua aplicação na automatização de processos,
sendo que já em 1961, a fábrica da General Motors substituiu funcionários da sua linha
de montagem pelo primeiro robô industrial a ser criado, o Unimate (Mateus, 2018).
Por sua vez, a IoT torna possível que todas as “coisas físicas” se possam transformar nas
chamadas "coisas inteligentes", apresentando pequenos computadores ligados à Internet.
As “coisas” trocam dados entre si e com a internet, sendo capazes de tomar decisões
automaticamente, sem interação humana, através de programação (Fleisch, 2010). É
possível, por exemplo, controlar uma casa, a partir de qualquer lugar. Para isso, basta
utilizar um computador ou um dispositivo móvel, que esteja ligado à Internet, e a partir
daí é possível ter um controlo total da casa, como o nível de aquecimento, as luzes ou
mesmo campainhas inteligentes.
11
tecnologias web, permitindo que empresas e utilizadores criem e ofereçam novos tipos de
serviços de valor agregado. A internet dos serviços surge a partir da utilização dos
recursos da internet das coisas num sistema integrado. Se, por um lado a IoT envolve uma
comunicação frequente entre máquinas e máquinas e entre máquinas e humanos, quanto
mais inteligente ela fica, mais as empresas associam-lhe um serviço (Wahlster et al.,
2014). Por exemplo, a Tesla, tem veículos com hardware e software que podem ser
atualizados. Essas atualizações irão fornecer inteligência extra via internet, sendo que ao
pagar pelos upgrades, o cliente contribui para o aumento da receita da Tesla.
12
a Realidade Aumentada (RA) caracteriza-se por uma experiência no mundo real, em
tempo real. A RA aglomera elementos virtuais ao mundo real, sendo que este tipo de
tecnologia é mais aproximada ao mundo real do que a RV, pelo facto de que não mudando
o seu princípio, é possível aumentar o que se vê, ouve, sente ou cheira (Kivrak et al.,
2013). Estas tecnologias estão a ser utilizadas pelas equipas de RH em vários processos,
nomeadamente através de RA é possível imergir um candidato a várias problemáticas e
analisar de que forma atua perante situações simuladas (Muhanna, 2015). Da mesma
forma que através da utilização de RV é possível realizar uma entrevista remota,
apresentando o espaço da empresa ou mesmo promover um Onboarding mais prático e
realístico (Muhanna, 2015).
13
1.3 O impacto da Transformação Digital no Trabalho
As tecnologias emergentes, tem um grande impacto sobre a educação das pessoas. Para
Benesova & Tupa (2017), apenas os trabalhadores qualificados serão capazes de controlar
e gerir essas tecnologias. Daí que a temática da quarta revolução industrial, tem vindo a
ser cada vez mais analisada, com foco naquilo que será o seu impacto no mercado de
trabalho e nos perfis funcionais das organizações. Isto tem acontecido, numa tentativa de
prever quais as profissões que a curto e/ou médio prazo, irão sofrer alterações, ou mesmo
deixarem de existir, fruto da aplicação de tecnologias emergentes, identificadas
anteriormente, como a inteligência artificial, big data, internet das coisas, entre tantas
outras. Para Kagermann et al. (2013), irá sentir-se de forma significativa uma maior
necessidade, relativamente à força de trabalho, na gestão da complexidade, assim como
na resolução de problemas. Desta forma, da relação direta entre a indústria 4.0 e a
automatização de processos, é possível verificar que a mesma tem um impacto direto no
mercado de trabalho, mais concretamente na natureza do trabalho como o conhecemos.
Num estudo realizado pela consultora Mckinsey, no período de dez a quinze anos, a
adoção de tecnologias associadas à automação e à inteligência artificial transformará o
mercado de trabalho, na medida em que as próprias máquinas serão cada vez mais
inteligentes, assim como a interação do Homem com as máquinas. Neste estudo,
intitulado de Skill Shift Automation and the Future of the work, associada a essa interação
de homem-máquina, estão vários benefícios como, por exemplo, um impacto direto no
aumento da produtividade, crescimento do PIB, ou mesmo, um melhor desempenho
organizacional. No entanto, este mesmo estudo salienta que esta evolução tecnológica,
implicará também uma mudança ao nível das competências exigidas dos trabalhadores
(Bughin, et al., 2018).
14
foca no emprego, nas competências e na força de trabalho para a industria 4.0, considera
existir efetivamente uma mudança que está a ocorrer e, serão as nossas ações do presente
a determinar se a mudança resulta em despedimento de trabalhadores, ou se irá
representar o surgimento de novas oportunidades profissionais (World Economic Forum,
2016). Por isso mesmo, conhecer o seu impacto é tão importante. O estudo da consultora
Gartner (2017), apresenta uma visão positivista, na medida em que considera que o futuro
do crescimento de emprego passará claramente por esta relação de aliança entre Homem-
Máquina, em que um complementará o trabalho do outro. Alguns empregos irão ser
eliminados, mas irão também surgir novos, e mais desafiantes oportunidades
profissionais, é esta a conclusão da consultora. A Gartner (2017) refere que 2020 será o
ano crucial para as dinâmicas provocadas pela inteligência artificial e que este terá um
impulso positivo no mercado de emprego. O relatório mostra que o número de empregos
afetados pelas novas tecnologias de IA irá variar conforme a indústria. Isto é, em 2019, a
previsão seria que a manufatura, por exemplo, sofreria as maiores consequências
negativas, enquanto a saúde, sector público e educação assistiriam a um aumento das
ofertas de trabalho (Gartner, 2017).
A área de Recursos Humanos (RH) tem passado por várias transformações digitais,
caracterizada pela evolução da tecnologia. Mais recentemente, através da digitalização, a
área de Recursos Humanos passou a ter um papel mais estratégico na organização, pela
necessidade de desenvolvimento de competências dos recursos humanos e consequente
aumento da produtividade (Gerbert et al., 2015). Nessa lógica, a vertente digital associada
à área de RH proporcionou a criação do termo e-HRM (Eletronic Human Resource
Management), que agrega a área de Gestão de Recursos Humanos com as tecnologias de
informação, numa perspetiva de criação de valor e de tornar mais eficiente a função de
RH (Bondarouk & Ruel, 2009). Assistimos, por isso, à transformação dos diversos
processos de recursos humanos, passando de processos considerados burocráticos para
processos digitais e automatizados (Radel, 2017) através da introdução de softwares. Este
processo de digitalização permitiu uma redução significativa de papel, que anteriormente
era bastante utilizado para dar resposta às atividades diárias (Zonato et al., 2015). Para
Radel (2017), o número de empresas que tem vindo a apostar na digitalização é cada vez
maior, sendo que no processo de recrutamento e seleção, tem sido através do recrutamento
15
eletrónico, denominado e-recruitment, no qual o processo R&S é realizado de forma
digital, permitindo uma interação entre entrevistador e entrevistado, também digital. Na
mesma linha de pensamento, Stone et al. (2015) refere que a digitalização na área de
recursos humanos, permitiu que no processo de R&S a utilização de redes sociais como
o Linkedin, tornassem o processo mais simplificado e interativo (Dhamija, 2012) sendo
possível chegar até potenciais candidatos em qualquer geografia, através da colocação de
anúncios nesta rede, permite às empresas uma pesquisa proativa de talento e triagem do
mesmo (Stone et al., 2015). Relativamente ao processo de formação, Salas et al. (2005),
destacam que as organizações passaram a disponibilizar conteúdos digitais, denominados
e-learning, sendo possível a realização das formações em qualquer lado, a qualquer
momento, assim como uma maior personalização do conteúdo formativo, que tem
caracterizado a grande transformação deste processo. Este método de formação digital é
essencial para que os profissionais de uma organização tenham acesso a formações
ajustadas à Era Digital e desenvolvam as competências necessárias para o desempenho
eficiente da sua função (Zhan et al., 2004). Também no processamento salarial, esta
função passou a ser automatizada, com a informação a ser introduzida e consultada em
plataformas digitais, reduzindo por isso a utilização do papel (Zonato et al., 2015). Com
a crescente digitalização surgem novas formas de organização de trabalho,
nomeadamente um aumento significativo no trabalho remoto, modificando a forma
tradicional de trabalho no escritório, para o teletrabalho. As vantagens associadas ao
teletrabalho são enumeradas por Goulart (2009) e caracterizam-se pela diminuição do
absentismo e o turnover, assim como um aumento da produtividade e maior qualidade de
vida (Silva, 2004).
16
1.4 Competências 4.0.
A aplicação de uma maior automação, por exemplo, numa indústria, substituirá alguns
perfis funcionais menos qualificados, mas irá exigir a existência de mão-de-obra mais
qualificada e com as competências certas para monitorizar e gerir a “fábrica do futuro”
(Gerbert et al., 2015). Para isso, a indústria deve aliar-se às universidades, com o objectivo
de alinharem o plano de estudos e as competências dos jovens profissionais do futuro
(Baygin et al., 2016). A verdadeira revolução para os trabalhadores será no
“enriquecimento qualitativo dos seus trabalhos”, que se irá traduzir num ambiente com
mais autonomia e oportunidades de desenvolvimento profissional (MacDougall, 2014,
p.2). Para isso, será necessário um planeamento estratégico da força de trabalho tendo em
conta os pilares da Indústria 4.0. Nesse sentido, ajustar funções, a existência de um
processo de recrutamento e formação especializado, para preparar e desenvolver a força
de trabalho para as competências adicionais, serão necessários para sobreviver no
mercado de trabalho (Gerbert et al., 2015). Estas competências, consideradas necessárias
para a Era digital, surgem a partir de uma propaganda na qual são identificadas para os
Humanos as competências de criatividade, inovação e comunicação, ou seja, as Soft
Skills, deixando as tarefas mais rotineiras e pesadas para as máquinas (Erol et al., 2016).
De acordo com Erol et al. (2016) as competências requeridas, olhando para o mercado de
trabalho na era da Indústria 4.0 podem ser definidas em quatro grupos, com resumo das
definições na Tabela 1.
17
outro papel e responsabilidades neste processo, mas
precisará de fazer a gestão das relações entre os vários
intervenientes, essencialmente em fluxos de informação,
resolução de problemas, entre outros.
É a capacidade de um individuo transformar ideias, em
ações, quer num contexto pessoal como profissional.
Competências relacionadas à ação Trata-se de fazer acontecer. Por exemplo, a digitalização
de um chão de fábrica vai requerer dos humanos fortes
capacidades analíticas, de boas práticas e resolução de
problemas.
Referem-se à capacidade de aceder e utilizar o
conhecimento do domínio para um trabalho ou tarefa
específica, o que incluiu metodologias e ferramentas
determinantes para a resolução de um problema.
Competências relacionadas com o domínio Software e dados são elementos-chave para planeamento
e controlo inteligentes de máquinas e,
consequentemente, fábricas do futuro. Por isso, é
necessário adquirir conhecimento, por exemplo, sobre
arquitetura de software, modelagem de dados e
linguagens de programação. Para isso, será necessário
ter o “domínio”.
Uma outra abordagem com vista a uma definição de quais as competências necessárias
para a Indústria 4.0 recorda para o facto de independentemente da área de formação, o
mercado de trabalho é multidisciplinar e, por isso, irá exigir mais e mais rápido. Desta
forma, outros autores (Benesova, 2017; Hecklau, 2016; Pinzone, 2017; Schallock, 2018)
apresentam uma abordagem semelhante à de Erol et al. (2016). Identificam quatro
categorias de competências transversais aos diferentes setores de atividade, que irão ditar
a eficiência e competitividade no mercado de trabalho. As categorias podem ser divididas
em competências técnicas cujo requisito principal é possuir conhecimento de ponta. Isto
é, conhecimento e entendimento sobre as tecnologias e processos mais recentes e
competências/conhecimento de tecnologias de informação (segurança informática,
programação, etc). A segunda categoria são as competências metodológicas, que diz
respeito à criatividade, resolução de problemas, tomada de decisão, capacidade analítica
e de pesquisa são apontadas como as principais. As competências sociais, são a terceira
categoria, e são identificadas como as habilidades de comunicação com diferentes
culturas, uma comunicação eficaz, networking, capacidade de trabalho em equipa,
comprometimento e cooperação, assim como a capacidade para transferir conhecimento
18
e liderança. Esta categoria é apresentada de forma muito semelhante às competências
sociais e interpessoais apresentada por Erol et al. (2016). Por último, na categoria de
competências pessoais será exigido dos profissionais, flexibilidade, tolerância ao nível de
rotação de tarefas, motivação para aprender, capacidade de trabalhar sob pressão,
autonomia, responsabilidade e pensamento crítico (Benesova, 2017; Hecklau, 2016;
Pinzone, 2017; Schallock, 2018).
Obviamente que a situação que se prevê para o futuro, será diferente daquela que
conhecemos hoje. Para Gehrke et al. (2015) a identificação e divisão das competências
para a era da Indústria 4.0 está estruturada em Qualificações e Competências Pessoais e
Qualificações e Competências Técnicas, identificadas na Tabela 2.
de TI (Tecnologias de programação
Informação)
informática
(humano-máquina | homem-
robô)
aprendizagem contínua
Trabalho em equipa
19
Qualificações e Competências sociais
comunicação
Partindo para a divisão que Gehrke et al. (2015) efectuam entre as qualificações e
competências técnicas e as pessoais, as mesmas estão estruturadas por prioridade, em três
níveis diferentes. O primeiro é o Têm, sendo que os autores identificam nesta coluna quais
as qualificações e competências técnicas e pessoais, que os trabalhadores têm de possuir
como forma de acompanharem e se destacarem no mercado de trabalho. Na parte técnica,
destaca-se o conhecimento da área de tecnologias de informação, o processamento e
análise de informações e dados, conhecimento organizacional e processual,
inevitavelmente a capacidade de compreensão e interação Homem-Máquina. Os
conhecimentos de gestão ou um conhecimento genérico de Tecnologias de Informação,
são dois exemplos das competências identificadas como os trabalhadores “devem ter”. A
programação, ergonomia ou assuntos jurídicos, ficam em terceiro plano, com a indicação
de “podem ter”, não tendo neste caso uma componente considerada de obrigatoriedade.
Referente às qualificações e competências pessoais, é orientado para as Soft Skills, que os
autores consideram como obrigatórias: competências sociais e de comunicação,
adaptação a uma constante mudança, o trabalho em equipa e a autogestão de tempo. Em
segundo plano, os trabalhadores devem possuir confiança em novas tecnologias e procura
por melhoria e aprendizagem ao longo da vida.
Num artigo do BBVA, são apresentadas as três razões pelas quais os humanos serão
insubstituíveis, essencialmente quando falamos de perfis que dominam um conjunto de
competências intangíveis, orientadas novamente para as Soft Skills. A curiosidade é a
primeira razão apresentada por esta instituição, fundamentada no facto de que o mercado
de trabalho pede profissionais que estejam disponíveis para adaptar os seus talentos a
cada nova habilidade, o interesse por aprender e entender como as competências podem
ser aplicados em novas áreas. Isso requer, segundo o artigo, um alto quociente de
curiosidade (CQ), que se caracteriza por um apetite insaciável pela descoberta. A
aprendizagem é a constante principal, mas é um trabalho desenvolvido não só pelo
trabalhador da era 4.0, mas sim pelos empregadores, que terão de desenvolver as suas
organizações orientadas para o desenvolvimento de talentos. A segunda competência
20
identificada é a criatividade. Nos vários sectores de atividades, existe uma grande procura
por profissionais criativos, essencialmente na forma de solucionar problemas, no
desempenho de uma função e tarefas que surgem com os avanços tecnológicos. Esta
competência permite que possamos ser criativos, basta seguir um processo simples, em
que se juntam ideias e princípios de diferentes áreas para criar algo novo e diferente.
Por último, a inteligência emocional, é considerada um diferenciador humano, pela qual
os robôs nunca poderiam substituir-nos, uma vez que somos únicos na capacidade de
sentir, reconhecer e adaptar-nos às emoções das outras pessoas e fazer a distinção dos
vários sentimentos, que determinam a forma como nós pensamos e agimos perante
diferentes situações (BBVA, 2017).
Com base nas pesquisas e estudos sobre o tema, Kaasinen et al. (2020), elaboram a sua
própria definição do trabalhador 4.0. O conceito de trabalhador 4.0. está ligado de forma
inerente a três pilares, nomeadamente o bem-estar no trabalho, capacitação e o
21
compromisso. O bem-estar no trabalho pode ser abordado como o gostar, ou não, do seu
trabalho e tarefas, a excedência das expectativas relativas às suas tarefas ou mesmo um
estado positivo referente ao trabalho desempenhado, onde exista autonomia e desafios
profissionais (Kaasinen et al., 2020). A existência de bem-estar no trabalho possibilita a
produtividade. O segundo pilar do trabalhador 4.0. é a sua capacitação para uma
adaptação ao ambiente de fábrica. Isto é, as mudanças que a aplicação de tecnologias
emergentes à indústria 4.0. irão criar irá requerer do trabalhador 4.0. a capacidade de se
adaptar de forma flexível a novos processos e sistemas. Não esquecendo que os
operadores são essenciais para as fábricas inteligentes, será necessário capacitá-los de
flexibilidade e criatividade, como fator diferenciador e de destaque no mercado de
trabalho. Por fim, o compromisso, numa perspetiva de envolver os trabalhadores nas
tomadas de decisões, nos processos implementados, na partilha de conhecimento e
aprendizagem contínua (Kaasinen et al., 2020). O trabalhador 4.0 está inserido num
ambiente de trabalho inteligente, adaptado ao seu nível de competências, capacidades e
preferências. Isso implica que as organizações estejam, por sua vez, adaptadas com a
realidade da sua mão de obra, como forma de desenvolvimento das competências do
trabalhador 4.0. Trata-se de uma relação win-win.
22
1.5 Os desafios da Gestão de Recursos Humanos na Era 4.0.
Paralelamente aos desafios que emergem na indústria 4.0, presentes no nosso quotidiano
e na forma como nos relacionamos e trabalhámos, os profissionais de recursos humanos
irão encontrar desafios específicos. Para Brahma (2018), os profissionais de recursos
humanos têm de se preparar e preparar as organizações para três desafios principais,
nomeadamente a substituição da mão de obra humana por robots, gestão de problemas e
situações que advém da relação laboral entre homem-máquina e, por último, o facto dos
robots executarem tarefas, até agora, da responsabilidade dos recursos humanos. Com
este pressuposto, identifica uma lista de profissões como as mais previsíveis de serem
substituídas, entre eles pedreiros, operadores, jornalistas e analistas financeiros (Brahma,
2018). Esta substituição de força humana por máquinas, torna claro que o profissional de
recursos humanos pouco ou nenhum controlo tem sobre a tecnologia que está a surgir nas
organizações e que vai ocupar alguns dos perfis funcionais existentes. Nesta linha de
pensamento, isso significa que a força de trabalho humana precisa aprender a trabalhar
com robôs, como colegas de trabalho. Por isso, o papel do gestor de recursos humanos na
formação, orientação e capacitação dos profissionais das organizações com competências
que permitam uma comunicação e agilidade eficaz com os robots, será de extrema
importância (Brahma, 2018). Para Bala (2015) o principal desafio será convencer os
recursos humanos de uma organização de que não irão ser substituídos por máquinas, mas
que estas vão complementar as suas atividades e tornar mais fácil a sua execução. A
existência de mão de obra qualificada, será a vantagem competitiva de uma empresa pelo
que as empresas devem focar-se no desenvolvimento da sua mão de obra, através do
gestor de recursos humanos, que terá o papel crítico de garantir o desenvolvimento e
formação dos trabalhadores (Benesova & Tupa, 2017).
23
aquando de mudanças (Hecklau et al., 2016). Olhando para as funções inerentes ao gestor
de recursos humanos, há uns atrás poderíamos dizer que seriam os processos de
recrutamento, seleção, retenção e funções administrativas como o processamento salarial.
No entanto, mudam-se os tempos, e é necessário adaptar competências. Por essa razão,
na indústria 4.0. o gestor de recursos humanos terá a responsabilidade acrescida sobre o
desenvolvimento dos trabalhadores. O número de profissões com um grande nível de
complexidade vai aumentar, pelo que será necessário um alto nível de formação/educação
por parte dos trabalhadores, como forma de acompanharem a demanda do mercado de
trabalho (Hecklau et al., 2016).
24
CAPÍTULO II – ESTUDO EMPÍRICO
25
O presente capítulo destina-se à descrição das opções metodológicas aplicadas na
realização do trabalho de investigação. Como tal, será apresentada a questão de
investigação e os objetivos de estudo. Seguidamente, serão ainda apresentadas as
principais características da opção metodológica aplicada – metodologia qualitativa,
assim como a técnica de recolha de informação. Por último, é apresentada a caracterização
da população-alvo deste estudo.
26
2.2 Opção Metodológica
A decisão do método de abordagem a aplicar neste trabalho foi orientada pelos objetivos
que se pretende alcançar. Desta forma, utilizou-se o método qualitativo.
27
semiestruturada, o entrevistador deverá estar preparado com um guião de entrevista, com
as perguntas principais, associadas aos tópicos a ser abordados, complementadas por
questões de cariz mais momentâneo, de resposta aberta, na qual o entrevistador poderá
dar seguimento a um ponto ou tema que desperte particularmente interesse de desenvolver
ou até, caso seja necessário, alterar a ordem das perguntas (Bryman, 2004; Gibson &
Brown, 2009; Legard, Keegan & Ward, 2003). Ou seja, o entrevistador segue-se pelas
questões previamente definidas, embora o faça num contexto informal (Boni &
Quaresma, 2005). Esta flexibilidade permite que a entrevista possa desenvolver-se tendo
por base uma proximidade entre entrevistador e entrevistado, cujo resultado serão
respostas mais espontâneas, realistas e abertas.
28
empresas e vai ao encontro do quarto objetivo definido neste estudo, com questões
numeradas de seis a nove, inclui-se Atualmente, quais sãs as competências transversais
que procura quando recruta alguém para a sua empresa? e Como se caracteriza hoje o
trabalhador 4.0. na sua empresa?.
Nos meses de Março, Abril, Maio e Junho, foram contactados 56 possíveis participantes,
sendo que 16 responderam ao contacto efetuado e, 11 efetivamente aceitaram colaborar
neste estudo. Após confirmação da participação no estudo e, antes da realização da
29
entrevista, enviou-se o questionário sociodemográfico, assim como o consentimento
informado, os quais foram recolhidos.
A codificação aberta consiste na primeira etapa do processo de análise dos dados. Esta
etapa, inicia-se com a leitura das entrevistas onde se efetua uma codificação linha a linha,
considerando todas as palavras ou expressões relevantes na análise. Esta leitura, segundo
30
Corbin & Strauss (2008) obriga a bastante atenção, observação e capacidade para
comparar e descrever o que se está a ler. Desta forma, a codificação aberta caracteriza-se
por um processo analítico em que os conceitos identificados e as suas propriedades e
dimensões são expostos através dos dados (Corbin & Strauss, 2008). Ainda, para
Urquhart (2013), a codificação aberta consiste na interpretação da informação, através de
rótulos, onde é possível destacar os dados mais importantes e proporcionar uma análise
futura.
A amostra deste estudo é composta por profissionais de Recursos Humanos, que possuem
nove ou mais anos de experiência profissional na área e que exerçam funções há nove ou
mais anos na empresa atual. Para que os objetivos da investigação possam sejam
atingidos, a relevância dos participantes está relacionada com as suas características,
conhecimentos, experiências e opiniões (Gibson & Brown, 2009).
31
Através da realização das entrevistas, foi possível chegar a dados relevantes sobre o tema
em estudo. Foram entrevistados onze participantes, sendo sete do sexo feminino (63,64%)
e quatro do sexo masculino (36,36%). O participante mais novo tem 34 anos de idade e o
mais velho tem 53 anos de idade, sendo a média de idades dos participantes 42 anos de
idade.
Na amostra, é possível verificar que a empresa mais antiga é do ano de 1911 e, a mais
recente foi fundada em 2008. A empresa com maior número de colaboradores integra 30
mil profissionais e a empresa com menor dimensão integra 38 colaboradores. Portanto, a
média de colaboradores desta amostra é de 3502, 45 colaboradores.
32
CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
33
Neste capítulo apresentam-se e descrevem-se os resultados obtidos através das entrevistas
realizadas. Da análise da informação emergiram as categorias Transformação Digital e
Competências. Na tabela 3, é apresentada a codificação seletiva, axial e aberta resultante
do tratamento das entrevistas aos participantes neste estudo.
34
3.1 Transformação Digital
Foi possível identificar que a digitalização da área de RH evoluiu desde o início desta era
4.0. para a utilização de softwares e automatização de processos.
"Neste período temporal de 10 anos sente-se uma diferença brutal, quer na forma como
os processos eram tratados, quer digitalmente e não só quer pessoalmente, até os
próprios procedimentos, as alterações que foram sofrendo, as ligações e a forma até
de cooperar com o próprio trabalhador. Tudo isto, realmente e olhando para trás, vê-
se um crescimento claro e nós não queremos parar por aqui." (Entrevista 7)
"Em primeiro lugar, em 2011, os nossos processos eram muito diferentes e muito menos
tecnológicos. As mudanças foram várias e muito positivas." (Entrevista 9)
35
O início da Era Digital foi, sobretudo, associado à implementação de soluções
tecnológicas, como softwares, transversalmente a diferentes departamentos, conforme
sugerem três participantes:
"Na área de RH, o que se nota mais é mesmo esse apoio a nível das plataformas, dos
sistemas, softwares. Deixas de fazer muita coisa manual e passa a ser mais automática.
O facto de tudo o que estamos a fazer em recursos humanos estar a ser integrado quer
na área financeira quer na contabilidade, está tudo interligado, quando inicialmente
eram setores completamente separados, sem comunicação." (Entrevista 2)
"(...) tem sido um caminho que nós temos vindo a trilhar e que, por exemplo, na área
de recursos humanos, naquela que eu tenho responsabilidade, culminou por exemplo
com a implementação do Meta4, há 4 anos atrás, para quê? para transformarmos todos
os processos que tínhamos, para já de forma desgarrada, ou seja, faltava aqui um
elemento que era um elemento da relação da informação uma com a outra que nós
conseguirmos ser o mais analíticos possíveis para mais facilmente tomarmos decisões
com segurança." (Entrevista 5)
"Temos uma equipa que trabalha especificamente para nós, para a área de recursos
humanos e que desenvolve alguns programas à nossa medida e isso tem crescido nos
últimos 12/13 anos" (Entrevista 7)
A evolução da Era Digital, ou seja, o período entre o início da Indústria 4.0. até ao
momento atual possibilitou agilizar processos internos de RH, orientar o foco noutras
atividades mais estratégicas, assim como a eliminação do papel no dia a dia da empresa.
Seguem-se alguns excertos indicativos destas alterações:
"Mas mesmo a nível dos processos da empresa, estão cada vez mais automatizados
para nos dar tempo de nos dedicarmos a outras tarefas." (Entrevista 1)
36
segurança e confiança às pessoas, o que nos permitiu passo a passo desenvolver outro
tipo de processos." (Entrevista 7)
"O primeiro grande projeto, que havia uma necessidade de fazer essa transformação e
que achávamos que ia ter um impacto grande na nossa atividade porque temos mais de
1000 trabalhadores, era digitalizar tudo aquilo que são os processos dos
trabalhadores, o cadastro digamos assim do trabalhador. Quando o trabalhador entra,
tinha um registo que era em papel e quanto mais longa fosse a carreira do trabalhador,
mais acumulava no processo administrativo, ou seja, tínhamos um arquivo com os
processos todos, de todos os colaboradores presentes mais os passados e tínhamos de
passar para arquivo morto, sendo que eu precisava de consultar uma informação sobre
o trabalhador, seja pesquisar o vínculo, um certificado, perceber se ele teve alguma
formação específica, tinha de ir ao arquivo que estava organizado por ordem
alfabética, mas era um trabalho muito chato. Então o que se fez foi digitalizar todos os
processos de todos os colaboradores.” (Entrevista 8)
“Ou seja, todos nós temos de definir uma ação por departamento orientada para a
digitalização e indústria 4.0, e no departamento de RH têm passado sempre pela
otimização desses processos, e este ano está ainda mais relacionado com a eliminação
do papel, ou seja, tudo aquilo que nós podermos passar para um workflow para formato
digital, estamos a fazê-lo.” (Entrevista 8)
37
• Recrutamento e Seleção
O recrutamento e seleção, desde 2010 que verifica uma transformação gradual, evoluindo
de um processo cuja colocação de anúncios era efetuada nos jornais, para um processo
digital e mais intuitivo, privilegiando-se o email, a página da empresa, portais de emprego
e as redes sociais, conforme destacam alguns participantes:
"Foi um processo gradual, não foi assim de um momento para o outro. Antes
colocávamos o anúncio no jornal, as pessoas enviam então as cartas e íamos ao Jornal
Notícias que era a referência no Norte e tinha um maço enorme de papel. Depois,
entretanto, começamos a fazer as publicações no jornal e disponibilizávamos um email
para as pessoas se candidatarem. Ou seja, fez com que a deslocação ao jornal não
fosse necessária. Depois começamos a alargar os sites, a começar a publicar nos sites
de emprego, como por exemplo o sapo emprego, até que chegou ao Linkedin e às redes
sociais que acabaram por ajudar muito nesse processo. Por isso foi uma transformação
gradual, não foi assim radical. Foi uma adaptação que foi sendo feita" (Entrevista 1)
38
"...o que faz com que a equipa de recrutamento, não tendo uma ferramenta que os
ajudasse a gerir todos os processos, a transparência com as chefias que solicitavam os
pedidos para fazerem a validação das entrevistas, enfim, toda essa comunicação dentro
de um software único não existia e agora vai existir, com uma panóplia de
funcionalidades que é uma loucura, já com ligações também com as redes sociais, com
os algoritmos alinhados do ponto de vista da área em que é publicada e o google faz
scroll, os motores de busca já estão alinhados com o software e vai ser uma maravilha
e o go-live vai ser já na quarta-feira." (Entrevista 6)
"O Software também nos permite perceber qual foi o percurso da pessoa na
organização. Uma pessoa que entre de novo, num processo de recrutamento, eu consigo
facilmente perceber e aceder a toda a documentação daquele processo." (Entrevista 7)
"Existem indicadores para nós percebermos qual é o número de candidatos que nós
temos para determinado processo para percebermos como é que está a oferta e a
procura. Estes dados, hoje tratados assim dão-nos uma informação muito mais clara
de como é que as coisas estão a evoluir.” (Entrevista 5)
"Então algumas das coisas que fizemos foi criar ficheiros em Excel, com uma serie de
fórmulas, que nos permitem obter os dados que procuramos, nomeadamente, número
de candidatos entrevistados por vaga, quantos candidatos selecionados e quantos
recusados, quem se candidata diretamente ao anúncio e quem é abordado no Linkedin,
duração do processo, apresentação de proposta, entre outros." (Entrevista 9)
39
"E começamos a perceber contratações mal efetuadas quando começamos a analisar
os dados dos reports que fomos implementando, nomeadamente a percentagem do
nosso turnover e percebemos claramente que não se tratava de falta de competências
técnicas, mas sim de competências pessoais." (Entrevista 9)
"No recrutamento e seleção, nós vamos ajustando consoante a função que é, vamos
adaptando-nos às plataformas que existem. O método é mais ou menos o mesmo. Há
uma pré-seleção dos currículos, depois há a entrevista, depois há análise da parte
técnica. Esse processo continua a ser este. O que eu noto é que, antigamente, nós não
púnhamos os anúncios no linkedin e, agora, é das principais. Colocamos em mais
plataformas, mais divulgação das vagas e isso é uma vantagem." (Entrevista 3)
“No recrutamento e seleção, por exemplo, que foi fruto do aparecimento de algumas
ferramentas como o linkedin e outras, houve claramente uma alteração brutal.”
(Entrevista 5)
"Hoje, eu posso dizer que de forma diferente, o nosso recrutamento não começa na
Universidade, não começa no último ano, fazemos tudo: hackathons, presença nas
feiras, etc, mas basicamente vamos acompanhar os alunos muito, muito cedo, desde o
10º ano, que trabalhamos com eles. E a realidade é que eles têm uma identidade com o
propósito da organização muito grande, muito maior do que qualquer outra
organização que os queira recrutar.” (Entrevista 4)
40
As empresas que têm vindo a fazer esta transformação digital, preocupam-se em alinhar
essa transformação com o perfil dos candidatos que procuram para conseguirem ser
atrativas e alinhar expectativas com os jovens profissionais, já completamente
tecnológicos.
“Quando eu contrato hoje alguém numa faixa etária inferior aos 23 anos que é o que
acontece com a maioria dos recém-licenciados, eles já estão habituados a isto de tal
forma que se as empresas não estiverem alinhadas, temos que fazer formação para
trás.” (Entrevista 5)
Uma das fases principais do processo de recrutamento e seleção está relacionada com a
entrevista de seleção. Tipicamente, este era um momento presencial. Contudo, este
processo mudou e hoje, as empresas vêm vantagens na utilização de plataformas e
softwares, como por exemplo, o Microsoft Teams, para a realização das entrevistas.
Alguns participantes identificam as vantagens de utilizar estas plataformas para
realização das entrevistas de seleção, nomeadamente, possibilidade de recrutamento
internacional, facilidade de comunicação e, principalmente, a possibilidade de gravação
do conteúdo, caso seja necessário mais tarde analisar.
"Temos uma taxa de entrevistas presenciais no primeiro contacto que deve andar a
volta dos 5%. [São realizadas] de preferência, no Teams. Nós temos uma aplicação no
teams que grava as entrevistas, ela fica arquivada durante 30 dias e o candidato
também pode consultar (...) os próprios managers já se começam a entrosar com este
mecanismo e isto permite também que depois o storytelling da entrevista fique
disponível gravado e acessível." (Entrevista 5)
"A nível de recrutamento é assim a maior diferença que eu noto porque de resto, o facto
de se fazer entrevistas a distância pelo Skype, também é outra diferença e com isto da
pandemia ainda se tornou mais frequente, agora digamos que é quase a prática
comum." (Entrevista 10)
41
"A nível de processos de RH, basicamente, cada vez menos e isso tem sido política da
empresa, é usar o mínimo de papel possível, portanto, cada vez menos é frequente as
pessoas virem entregar o CV em mãos, isto falando do recrutamento." (Entrevista 10)
“Nós tínhamos acumulado tudo, eu tinha currículos de 2010, 2011, em dossiês, já foi
tudo eliminado, e mudar estas pequenas coisas nas pessoas, na cultura, na forma de
estar e trabalhar, tem sido um desafio." (Entrevista 8)
"Há 9 anos era muito mais frequente as pessoas virem pessoalmente entregar o CV, ou
até mesmo pelo correio, hoje eu já não recebo um único CV pelo correio, já há muito
tempo e antigamente era de facto muito frequente isso acontecer." (Entrevista 10)
• Formação
"Nós temos uma plataforma, que não existia, disponibilizada através da Internet como
chega a toda a gente e essa formação consta de um catálogo onde tem formações mais
técnicas, algumas ministradas por entidades formativas, mas também tem esse
conhecimento que é feita pela equipa que estão no terreno e nos projectos." (Entrevista
1)
"Tudo aquilo que foram plataformas que nós desenvolvemos e implementamos, foi a
grande diferença. Está a ser ainda desenvolvida a plataforma de formação online. Para
todos terem acesso a formação online, mesmo aquelas que damos presencialmente, em
sala, para que a formação fique disponibilizada para outros e que tenham acesso mais
tarde ao conteúdo." (Entrevista 3)
"Eles [colaboradores] têm 6 plataformas onde eles escolhem onde querem fazer este
curso ou outro. É acionável, as formações são acionáveis.” (Entrevista 4)
A aposta na qualificação das pessoas é apontada como a principal razão para a criação
destas plataformas:
42
"A Academia de formação [digital] basicamente já existe há muitos anos, talvez 8 anos,
em que a empresa percebeu claramente que deveríamos apostar na formação e
qualificação das nossas pessoas." (Entrevista 9)
"No entanto, o que aconteceu até há uns anos era que a aposta era feita, mas para um
público alvo de funcionários que não possuíam as soft Skills que procurávamos e aqui
encontrámos um problema, não estávamos a obter os resultados esperados. Com a
transformação do processo, introdução de nova tecnologia, novas formas de analisar
os dados, percebemos de onde vinha o problema e atuamos rapidamente, pelo que
agora é uma área em expansão, com muito potencial e com muita adesão, porque as
pessoas procuram a aprendizagem e quando é a empresa a possibilitar esta
aprendizagem contínua, é maravilhoso – as pessoas apreciam." (Entrevista 9)
"Isso também nos levou a ter uma plataforma de e-learning neste momento, que
utilizamos bastante e basicamente a nossa formação hoje 60% é através de uma
plataforma de e-learning." (Entrevista 5)
43
Outra das principais alterações passa pela dinamização das formações através de vídeos,
como o objetivo de o conteúdo ser mais acessível, a qualquer momento:
A acessibilidade das formações nas organizações foi apontada como uma principal
evolução deste processo, uma vez que o colaborador pode, hoje, aceder sempre que quiser
aos conteúdos formativos:
"Temos o plano de formação que é obrigatório, as pessoas têm de fazer. E temos uma
quantidade de ações de formações que quem quiser faz desde que tenha o user e a
password. E, portanto, se eu quiser fazer uma formação sobre segurança, eu faço. Não
está no meu plano de formação, mas eu faço. Conta na mesma para o número de horas,
para o rácio das ações de formação, mas é também nós dividirmos isto entre aquilo
que eu necessito para formar o colaborador e o que é que o colaborador quer formar-
se, conseguimos aqui um mix. " (Entrevista 5)
A organização deste processo foi também orientada para a criação de uma estrutura de
formação mais abrangente, que possibilitasse o acesso a várias áreas de conhecimento,
como refere o participante 9:
44
Desde 2010, complementando o investimento em plataformas de formação, verifica-se
que o processo está a ser, também, realizado através da formação presencial, no posto de
trabalho:
"A nossa formação também é muito orientada para aquilo que é a nossa população, e
para a produção, muito relacionada com formação técnica, que muitas vezes é mesmo
no posto de trabalho, ou formação relacionada higiene e segurança, produtos
químicos, tem sempre uma parte prática muito grande e uma componente teórica em
sala." (Entrevista 8)
"Em 2011 eramos claramente tradicionalistas no processo, ou seja, nós fazíamos uma
formação normalmente, aliás nós já tínhamos dois formatos de formação o que já nos
distinguia da maioria das empresas: a formação presencial e formação On Job."
(Entrevista 11)
"Quando as pessoas entram têm um plano de formação interna, por norma, 1 mês
praticamente é todo para absorver conhecimento, incluindo nos softwares internos"
(Entrevista 10)
• Processamento Salarial
“Pegando num processo administrativo, no payroll por exemplo há 9, 10, 11 anos atrás,
o payroll era muito assente em outputs de outras áreas que eram os nossos inputs do
ponto de vista de recursos humanos, muito alicerçado no envio de informação avulsa,
de email, seja o que for, registo de tempos de trabalho.” (Entrevista 5)
"Antigamente era tudo manual, era pedido por email, “vou fazer um empréstimo,
preciso da declaração para este e aquele banco”, “preciso dos recibos de x números
de meses atrás” era todo um conjunto de tarefas burocráticas e administrativas que
basicamente era email para cá, email para lá." (Entrevista 6)
45
"Antigamente era tudo através do telefone, por email, pediam os documentos. Há 9
anos, imprimíamos uma série de recibos de vencimento, apesar de já termos a
funcionalidade de envio por email, havia pessoas que ainda não tinham email e nós
imprimíamos e enviamos em papel. Hoje já, sei lá, temos 2 ou 3 casos, porque temos
pessoas com faixa etária elevada e nunca tiveram email e nunca vão ter e nós
facilitamos isso. Mas de facto, hoje em dia, já não acontece." (Entrevista 10)
"Hoje, o que existe é uma plataforma onde qualquer pessoa quando tem uma baixa,
injeta lá a sua baixa no PDF e, por isso, não precisa de enviar o documento para a
área de recursos humanos, fica digitalizado, fica arquivado juntamente com os PDF
que estão agregados ao processo individual de cada uma das pessoas e
automaticamente o processamento vai, em vez de ter aquele período que tinha à muitos
anos atrás de 5 dias, não ele vai-se auto fazendo a partir do primeiro dia útil."
(Entrevista 5)
"Com o novo isso já não acontecia porque a informação passou a conseguir que essa
informação fosse convertida diretamente para o software Primavera e haver uma
ligação de dados e nós deixamos de perder tempo com essa questão. Passou a ser
automático." (Entrevista 7)
"Uma das coisas que mudou mais foi por exemplo o processamento salarial, em que
agora está tudo interligado a outras tecnologias, como relógios de ponto, biométricos,
46
e isso tudo e faz todo uma integração e antigamente não. Era literalmente uma folha
que era feita, era lançado tudo a mão e muitas vezes até eram os contabilistas que
faziam o processamento dos salários, mais precisamente por isso que era uma folha,
uma folha Excel." (Entrevista 3)
"Entretanto fomos melhorando essa ferramenta, porque essa ferramenta no fundo está
ligada com o SAP, ou seja, o próprio SAP, nós só temos quando o colaborador entra
temos de abastecer os dados em SAP para efeitos de processamento, nós trabalhamos
sempre com o SAP, as picagens dos colaboradores caem no SAP, por isso os dados nós
só temos de carregar numa única plataforma, que era esse também o nosso objectivo,
não queríamos ter uma plataforma onde tivéssemos de carregar dados novamente, por
isso nós só abastecemos o SAP e o SAP automaticamente abastece essa plataforma."
(Entrevista 8)
Outros dos aspetos enfatizado pelos participantes, foi o fato do processamento salarial ser
um processo tecnológico e integrado, possibilitando a redução do tempo na sua
realização:
Por sua vez, esta digitalização requereu alteração dos profissionais de payroll, que
passaram a assumir um papel diferente na sua equipa:
"[A Tecnologia] transformou que as pessoas que estavam no Payroll deixassem de ser
meros executantes e passassem a ser também analistas e isto também alterou o perfil
das pessoas que fazem."
• Avaliação de Desempenho
Este processo desenvolveu-se ao longo dos anos, passando de um formato em papel para
o digital, em que as empresas apostaram em ferramentas muitas vezes internas e, um
envolvimento coletivo, para que fosse possível inovar, como é possível verificar através
do testemunho do participante 8: "tivemos em 2018/2019, o projecto da avaliação de
desempenho, pela primeira vez conseguimos implementar um projecto de avaliação de
desempenho que abrange toda a população da empresa, ou seja, é abrangente a todos os
níveis da empresa."
47
A aposta no desenvolvimento de uma plataforma de avaliação de desempenho interna
possibilitou o acesso a maior diversidade de informação relacionada com o desempenho
dos colaboradores:
"Mas tivemos outro desafio (...) que foi no feedback da avaliação de desempenho. Para
nós era importante garantir que tínhamos a confirmação de todos que tinham recebido
o feedback e, queríamos um ok de todos os colaboradores que receberam feedback e a
questão era como é que iríamos fazer isso? Para quem tem email era muito fácil, gerava
um email para o departamento de recursos humanos automaticamente e o colaborador
só tinha de assinalar que sim, que recebeu. Para quem não tinha email como é que nós
íamos fazer? Então o que nos foi proposto foi gerar uma SMS, em que os colaboradores
tinham que ter um smartphone, ou seja, nem todos têm, clicar no link e confirmar. E,
em alguns casos, como os colaboradores não tinham smartphone, demos outra
possibilidade que era com a chefia ao pé deles, entrassem no computador da chefia,
colocassem o seu cartão de cidadão e o colaborador só tinha de dar um clique no
computador de chefia. Tivemos só alguns casos em que demos a possibilidade de
imprimir um papel com o link para quem quisesse fazer em casa, mas não recebemos
nenhum ok por papel, foi tudo em formato digital." (Entrevista 8)
48
3.1.3 Impacto da implementação de novas tecnologias
• Organização do trabalho
"O que, por exemplo, hoje nós tratamos os candidatos na mesma lógica que tratamos
os colaboradores, ou seja, eles estão numa base de dados e tem logo um número quando
se candidatam. Esse número acompanha-os até serem trabalhadores da empresa. Isto
para quê? para apanharmos aquele espectro de informação muito mais rico do que
tínhamos há 9, 10, 11 12 anos." (Entrevista 5)
"As novas admissões, nos últimos 4/5 anos já tem muito o hábito de comunicar
connosco por email, já recebem o recibo de vencimento em formato eletrónico, já não
recebem em papel." (Entrevista 8)
"[Na plataforma] tem também um módulo de comunidades, é quase uma rede social
interna, onde partilhamos toda a informação institucional, regras, notícias,
regulamentos internos." (Entrevista 10)
Paralelamente, hoje é possível que o trabalho entre elementos de uma equipa de recursos
humanos possa ser efetuado, recorrendo muitas vezes à utilização do mesmo ficheiro e,
ao mesmo tempo existir uma partilha da informação por toda a equipa, conforme destaca
um dos participantes:
49
"Antigamente, cada um tinha o seu Excel. Hoje não, o Excel é de uma equipa e isso faz
com que os processos de trabalho sejam completamente partilhados e que se trabalhe
claramente em equipa e há aqui um paradigma muito enfatizado por esse efeito."
(Entrevista 5)
Desde 2010, através do uso de novas ferramentas, foi possível que o reporte de trabalho
à administração fosse também muito diferente, passando a ser realizado com base em
dados e em números:
"Isso levou-nos a fazer uma outra coisa, sempre que queremos fazer uma coisa nova,
vamos pedir ajuda a um parceiro. A visão de um parceiro que já fez aquele processo
10 vezes, ajuda-nos claramente a fechar temas. E, portanto, depois de termos o
desenho, o fluxograma daquilo que queremos fazer, aí já somos muito diretivos, muito
pragmáticos e atuamos rapidamente." (Entrevista 5)
O trabalho sendo hoje organizado tendo por base tecnologias de informação, possibilitou
que nestes últimos anos fosse possível a automatização de processos. Os participantes 5
e 6, explicam de que forma isso aconteceu nas suas empresas:
"Nós no armazém, há 10 anos, eram precisas 100 pessoas para carregar, por exemplo,
por semana 800 camiões e hoje tenho 5 pessoas no armazém para carregar os mesmos
camiões (...) Nós temos uma logica de ticketing by line, ou seja, os medicamentos não
têm interação humana até chegarem ao estafeta, quer no abastecimento, quer na
preparação das encomendas para sair, porque temos um armazém que só sabemos o
que lá esta, muitas vezes nem sabemos a olho nu, onde é o que os medicamentos estão.
Mas o sistema de informação sabe, quando eu carrego na nota de expedição, aquilo
funciona tudo automático." (Entrevista 5)
50
"Da parte das impressoras, em vez de termos uma impressora em cada sítio, instalamos
um sistema de self service, o que torna possível imprimir através de um código, ou seja,
podemos imprimir o que nós quisermos, onde nós estivermos." (Entrevista 6)
Para o trabalhador passou a ser possível comunicar com a área de Recursos Humanos,
colocando questões através do software, o que permitiu agilizar o processo:
"Repara, uma empresa há 20 anos, 15 anos, não tinha computadores e escrevia tudo à
máquina e agora com os computadores o que é que faz? Continuam a trabalhar. Por
isso, para mim o impacto tem sido sempre positivo" (Entrevista 1)
Apesar de toda a transformação digital que ocorreu nos últimos 10 anos, para o
participante 1 existe trabalho para todos, desde que exista uma boa capacidade de
adaptação e de aprendizagem:
"Há empresas que tem algum medo de implementar este tipo de tecnologia porque diz
que vai reduzir os postos de trabalho, mas o que é certo é que o tempo tem-nos
demonstrado que existe trabalho para toda a gente e a reconversão da função, apesar
de ter... se nós automatizarmos uma linha de montagem claro que vão existir alguns
postos de trabalho perdidos mas as pessoas podem ser ensinadas a fazer outra coisa."
(Entrevista 1)
Por exemplo, a Era Digital possibilitou que as equipas estejam mais próximas e sempre
presentes, como refere o participante 1:
"Precisamente esta mudança, de nós conseguirmos estar mais presentes e mais perto."
(Entrevista 1)
51
A liderança das equipas, por sua vez, tornou-se mais fácil e mais direta, através do uso de
tecnologia, tal como sublinha um dos entrevistados:
"O nosso modelo de liderança é muito fácil: a nossa capacidade de liderar pessoas, o
nosso desafio é brutal, e a capacidade de suportar as pessoas. Nós sabemos que se
desafiarmos as pessoas e as suportamos, as pessoas entram em exploração. "
(Entrevista 4)
Esta liderança de equipas tornou-se mais facilitada com a criação de aplicações que
auxiliam os gestores e responsáveis a manter uma comunicação mais facilitada com a
equipa, seja em termos de agilidade na partilha de informação seja na periocidade da
comunicação através de reuniões:
"Nós temos uma aplicação que sugere como deve ser feita uma reunião de equipa.
Antigamente, isso não era prática, não era tão forte. " (Entrevista 5)
"Existiu sempre uma orientação para a área de recursos humanos numa vertente de
comunicação, de que todas as equipas deviam ter pelo menos uma reunião de equipa
uma vez por semana, durante 1 hora, ou então essa hora podia ser transformada em
vários períodos durante os dias." (Entrevista 5)
"Mas nas nossas operações de armazém é obrigatório, uma reunião de 10 min no início
de cada turno, exatamente para falar de tudo, incluindo aquilo que o colaborador quer
perguntar. E essas situações hoje, temos uma no armazém que já gravamos as reuniões,
existe uma camara montada pela área de segurança, a reunião ocorre num espaço que
está perfeitamente limitado, as pessoas estão em pé, falam e existe uma gravação
daquela reunião. E as pessoas durante o dia, que quiserem nos seus pc’s consultarem
essa reunião, podem consultar, até podem ter ouvido qualquer coisa mal, portanto seja
o que for." (Entrevista 5)
A tecnologia permitiu, assim, que as lideranças pudessem fazer uma coordenação mais
eficiente e eficaz das suas equipas, especialmente quando existe diversidade numéria e de
atividades sob a supervisão do mesmo líder:
"Eu dentro da minha equipa de Recursos humanos que são 9 pessoas, tenho pessoas
que resolvem problemas. Mas tenho a área de Payroll comigo também. Eu tenho
pessoas para resolver problemas, agora a mim compete-me perceber quais os
problemas que elas resolvem, e quais os que elas mais resolvem, ou aqueles que mais
acontecem. Há uma cascata de responsabilidades, que é preciso ter alguém na gestão
52
de recursos humanos que se dedique a procurar caminhos. Mas a área de RH numa
vertente mais técnica, é de resolver problemas, mas nós só resolvemos melhor ou pior
os problemas se tivermos uma orientação estratégica mais ou menos clara." (Entrevista
5)
A transformação digital implicou, também, a aposta numa equipa jovem, com mais
qualificações tecnológicas, de forma a facilitar o processo de adaptação por parte de toda
a equipa à Era Digital e capaz de potencializar o uso da tecnologia nas empresas na Era
Digital:
"(...) nós estamos a recrutar sempre recém licenciados e portanto também temos aqui
alguém sénior neste aspeto, mas é uma decisão quer da direção, quer do próprio serviço
de RH porque a equipa já era bastante antiga e portanto mesmo nos vencimentos vamos
ter esse problema, a média de idade do serviço ultrapassa os 50 anos e portanto temos
aqui... e isto claro que depois com as mudanças das equipas a adaptação aos software,
aios procedimentos será facilitada não é?" (Entrevista 7)
Por vezes, pode haver o risco de foco do recrutamento ser mais para o domínio de
competências tecnológicas e menos para o conteúdo funcional. Nestes casos, as empresas
consideram que o investimento nesta pessoa pode ser útil à organização, alocando-o a
outra função que se enquadre melhor nas expectativas e competências técnicas. O
importante tende a ser, cada vez mais, a necessidade de investir em candidatos com
domínio tecnológico.
"Depois, não sendo possível, ou tentando recrutar alguém para o lugar e percebemos
que essa pessoa não se identifica com o cargo ou o serviço, não se identifica com essa
pessoa, nós tentamos alocá-la noutro local onde a pessoa se sinta realizada, portanto
há um novo processo de adaptação, para poder criar ligação com o serviço e que a
pessoa possa sentir-se à vontade." (Entrevista 7)
Na Era 4.0 a comunicação intra equipas passou a ter uma dinâmica diferente, mais
acessível e fácil, permitindo que hoje possa ser realizada através de plataformas como o
Microsoft Teams:
"Eu às vezes tenho pessoas da minha equipa, evidentemente por causa de razões de
segurança do COVID também, mas tenho a minha equipa do lado de fora do meu
gabinete e faço um “teams”, isto parece que já é... são estas questões que nos levam
também muitas das vezes a sermos pressionados para sermos melhores, para ajudar os
nossos colaboradores a serem melhores também." (Entrevista 5)
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• Teletrabalho
“Hoje, a maioria das nossas pessoas quer comunicar através de plataformas, muito
por causa do facto de já fazermos trabalho remoto há algum tempo.” (Entrevista 9)
"Claro que o perfil que agora nós pretendemos para a organização e, quando fazemos
um recrutamento, tentamos já que as pessoas sejam e, estejam já adaptadas a
tecnologia. E nós percebemos isso agora com a questão do teletrabalho, que de um
momento para o outro, as pessoas tiveram de se adaptar e tivemos muitas pessoas com
dificuldade em fazê-lo." (Entrevista 7)
"Nós fizemos agora um inquérito às pessoas que tiveram de estar em teletrabalho, cerca
de 350 pessoas, onde fomos tentar perceber quais as vantagens que eles viam nesta
forma de trabalhar e viram vantagens claramente, muitas, que tem a ver com a forma
de poderem gerir uma vida laboral muito mais próxima de uma vida pessoal."
(Entrevista 5)
"A flexibilização do trabalho, nós antes da pandemia, antes de virmos para casa já
tínhamos instituído aqui a flexibilidade com o trabalho remoto, nós temos um programa
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que se chama flexirup, onde temos várias iniciativas, mas claro tudo isto só é possível
tendo plataformas e softwares que permitam fazer a gestão do trabalho e das equipas
a distância. Tudo isto ajuda também a criar uma melhor conciliação entre vida pessoal
e profissional. Os benefícios do trabalho remoto têm sido vários." (Entrevista 11)
Para um dos participantes, que tinha a prática de viajar de forma frequente para Espanha,
o teletrabalho revelou-se vantajoso na medida em que a empresa verificou que a sua
presença física no escritório pôde ser substituída pela presença digital:
“E agora estou a trabalhar melhor do que nunca, não vou lá há 3 meses, e estou a
trabalhar cada vez melhor, a comunicar melhor e a minha presença física foi
dispensável e no sentido contrário, aumentei a minha influência na organização,
consegui avançar com mais projectos, avançar com muita coisa que tinha de ser feita,
mas a verdade é que trabalhei mais, mas aproveitei melhor o tempo (...) assim mais
imediata e mais recentemente a questão da necessidade de reuniões físicas, já havia
essa perceção, agora ficou mais patente de que o teletrabalho não é um problema
nenhum e que deve ser incentivado, deve ser o caminho.” (Entrevista 6)
No entanto, para alguns profissionais, a presença física no escritório continua a ser uma
preferência, não vendo o teletrabalho como um benefício para o seu desempenho e bem-
estar.
"Mas também há muitas pessoas que acham isso um ponto negativo, e, portanto,
querem estar aqui. Há para tudo.” (Entrevista 5)
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"O COVID foi um acelerador fantástico, e foi fantástico por eu ter aqui duas pessoas
da minha equipa a redefinir perfis profissionais, porque o teletrabalho está a
revolucionar isto tudo." (Entrevista 5)
Dois participantes, referem haver ainda algum caminho a percorrer para que o teletrabalho
se apresente eficaz nas empresas da Era Digital. Um dos aspetos a trabalhar está
relacionado com a necessidade de definir legislação específica para o teletrabalho, que
oriente empresas para a sua adoção. Por outro lado, ainda não estão totalmente estudados
os riscos psicossociais da utilização intensiva de teletrabalho, motivos que têm levado as
organizações a fazer um uso mais cauteloso de modelo de organização do trabalho:
“Mas a questão do teletrabalho é uma das mais valias, é um grande desafio, porque
tem outro tipo de riscos psicossociais, etc, por isso tem de ser trabalhado, estudado e
legislado de forma diferente.” (Entrevista 6)
"Houve pessoas na minha equipa em que não tinham, lá está, com esta alteração nunca
se adaptaram aos nossos softwares e que tiveram em teletrabalho em que nós tivemos
de arranjar outro tipo de funções, para continuar em casa e protegida e continuasse a
trabalhar." (Entrevista 7)
• Inteligência Artificial
Os chatbots revelam-se uma ferramenta, tendo por base inteligência artificial, que as
empresas já estão a utilizar, servindo para responder a algumas questões padronizadas da
área de Recursos Humanos:
“Enquanto que as pessoas estão muito mais autónomas, podem esclarecer dúvidas nós
por exemplo nos recursos humanos temos um chatbot. Ou seja, o chatbot tem um nível
de generalização suficiente para dar resposta, mas depois se for uma coisa mais
concreta e especifica ele orienta para o local onde pode consultar a informação e a
pessoa vai ler o documento que for indicado, ou depois até indica que não consegues
responder e pede para contactar a colega X. Mas é mais processos administrativos –
“quero uma declaração de frequência da formação” e aí nos orientamos, tens de ir ao
Success factor fazes assim e pronto já está.” (Entrevista 11)
• Plataformas digitais
"E na altura eu decidi criar um software, não adotar uma solução de mercado e, decidi
adotar um software que foi desenvolvido internamente, porque nós também temos a
parte de desenvolvimento para os nossos clientes. Por isso há 9 anos atrás decidimos
iniciar um processo de fazer o nosso próprio ERP e o nosso próprio CRM, que
chamamos de XRM" (Entrevista 2)
"Nós já temos o SAP como ERP há uns anos, se calhar há 12/13 anos, quando eu entrei
já existia, já tínhamos o SAP integrado no início até ao final do processo, todas as
áreas que trabalhavam com o SAP, estava completamente integrado na empresa, foi
um processo de mudança e transformação muito grande." (Entrevista 8)
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"Nós deixaremos de emitir faturas em papel, todas as faturas passarão a ser em formato
digital. Que na prática é também um finalizar de um processo que foi iniciado há 10
anos e que na realidade genérica da empresa já acabou há 3 ou 4 anos e que num ponto
de vista total faltava a questão das faturas e isso é muito positivo, quer de um ponto de
visto de custos, organizacional" (Entrevista 2)
"Um dos projectos que nós tivemos foi um software de gestão documental, há 4 ou 5
anos que foi mais um marco nessa desmaterialização e burocratização. Foi transversal,
foi basicamente um arquivo digital, que é especialmente útil para a área financeira,
parte das faturas, com workflows de validação de faturas, que evitou uma serie de papel
a circular na organização." (Entrevista 6)
"O primeiro grande projecto, que havia uma necessidade de fazer essa transformação
e que achávamos que ia ter um impacto grande na nossa atividade porque temos mais
de 1000 trabalhadores, era digitalizar tudo aquilo que é processos dos trabalhadores,
o cadastro digamos assim do trabalhador." (Entrevista 8)
"Para além disso, adquirimos aquela plataforma de testes técnicos para o nosso
processo de recrutamento, com o objectivo de reduzirmos o nosso turnover e sermos
mais eficientes no processo." (Entrevista 9)
“(...)o que acontece é que desde que implementamos o software de salários novo, houve
uma serie de melhorias, porque também é um software mais robusto e que nos permitiu
também optimizar uma serie de processos que anteriormente eram feitos de forma
muito mais manual, com base em documentos Excel e mapas que hoje em dia já
deixaram de ser necessários e que saem automaticamente do sistema a todo o tempo
que a gente queria, vamos ao sistema e retiramos, não é preciso estar todos os meses a
atualizar a informação para quando precisássemos dela termos lá atualizada, portanto
houve aqui uma melhoria e uma optimização dos processos muito grande." (Entrevista
10)
"Um objetivo futuro é criarmos uma página do colaborador, mesmo aqueles que não
tem acesso a um email da empresa, possam ter acesso a uma página com um user, que
podem aceder através de casa, ou através de quiosques que podem ser disponibilizados
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na fábrica. Podem aceder a uma página onde podem pedir para atualizar documentos,
podem aceder as férias, podem aceder a alterar a sua situação tributária,
etc.”(Entrevista 8)
"Existe também agora, um projeto piloto que está a ser desenvolvido há cerca de 1 ano,
que é uma plataforma de realidade aumentada para aqueles processos mais técnicos,
que exigem “por a mão na massa” ter a realidade aumentada aplicada nesses
processos formativos." (Entrevista 1)
"Por exemplo, nós já temos na nossa logística, temos formação a ser dada com
realidade mista, com óculos HoloLens, que vamos por através dos processos de
inovação e de melhoria contínua que temos estado continuamente à procura de
soluções." (Entrevista 11)
• Automatização e Robotização
“Em toda a nossa produção, criamos checkpoints, que nos permite neste momento
iniciar uma encomenda e através de uma página sua, do próprio cliente, conseguir
acompanhar todo o processo da sua encomenda, em que posição é que ela está na sua
produção, desde que coloca a encomenda ao comercial, até que ela é expedida para o
cliente." (Entrevista 2)
"Na nossa produção, nós estamos a frente de tecnologia porque fazemos máquinas para
os nossos clientes tenham as suas linhas de produção completamente automatizadas."
(Entrevista 3)
Para o participante 3, há um aumento da procura deste tipo de tecnologia por parte das
empresas:
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"O que eu noto é que nós sentimos um aumento muito grande por exemplo na parte da
procura dos clientes. Essa parte nota-se e em diferentes áreas, em que primeiro nós
estávamos mais ligados a parte automóvel, linhas de montagem, robotização, nota-se
que já há mais clientes a quererem ir por aí." (Entrevista 3)
• Big Data
Embora seja uma tecnologia ainda recente, verifica-se a criação de departamentos nas
empresas que possibilitem a análise de uma grande quantidade de dados, como referem
os participantes 5 e 11:
"Em relação a tudo o resto, o departamento de dados que neste momento estamos a
começar a fazer dashboard, este exemplo do software é um exemplo claro, é uma
espécie de Google forms em que conseguimos fazer inquéritos internos e gerir os dados
rapidamente e aquilo automaticamente gerava uma apresentação e fazia logo uma
analise estatística básica, e outra mais complexa caso assim quiséssemos ou
soubéssemos utilizar." (Entrevista 5)
"Temos vindo a adequar a estratégia com base naquilo que os dados nos fornecem, é
muito mais fácil ter um sistema centralizado de analisar dados e temos áreas
especificas na empresa que fazem isso para oferecermos o melhor serviço." (Entrevista
11)
A utilização do Big Data tem particular incidência no negócio das empresas, sendo um
factor de diferenciação para os clientes:
“Eu consigo mais do que nunca hoje, através de Business Inteligente trabalhar este big
data. Tudo aquilo que são os orçamentos que se dá, a faturação que se presta, eu
consigo através de forma automática mostrar a um comercial nosso qual é a cadência
de encomendas de determinado cliente, para que por exemplo se essa cadência falhar,
automaticamente através do software sai um email automático para o comercial. E isto
é muito interessante para quem trabalha connosco." (Entrevista 2)
Para um dos participantes, o big data revela-se especialmente útil, permitindo uma análise
detalhada por exemplo, nos processos de recrutamento e seleção e formação:
"E tivemos aí um projecto que era no sentido de KPI’s em que trabalhamos num
dashboard, em que todas as chefias tem um dashboard que podem aceder através de
telemóvel ou do computador onde tem muitos mais dados para além destes, os dados
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estão em Power BI e linkam com o software. Também tem sido muito útil porque temos
conseguido ter uma fotografia desde turnover, absentismo, custos com trabalho
extraordinário, custos com pessoal, custos com formação atualizados." (Entrevista 8)
Para alguns participantes, a análise dos dados vai indicar melhores decisões a serem
adotadas:
"Ou tomas uma decisão por aquilo que intuis ou tomas decisões com dados. E é preciso
ter os dois. É importante teres intuição, mas também é preciso ter dados para suportar
a tua intuição." (Entrevista 4)
"Basicamente, são estas as diferenças: sairmos de uma base de dados com segurança,
para utilizarmos dados com muita capacidade para boas tomadas de decisão."
(Entrevista 5)
"A esse nível diria que melhorou bastante e o foco passou a estar mais ...o foco das
nossas decisões passou a estar muito mais vinculado a dados concretos do que
propriamente “isto parece-me que é mais ou menos assim” a “tendência é mais ou
menos esta.” (Entrevista 6)
3.1.5 Mudanças
Nesta subcategoria, iremos especificar quais as mudanças e, as áreas nas quais foram
identificadas, com a transformação digital. Aqui temos como códigos abertos a interação
com/entre os colaboradores, acessibilidade, liderança, perfis funcionais e
omnicanalidade.
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• Interação com/entre os colaboradores
Na era 4.0, o modo como as pessoas comunicam umas com as outras é diferente. As
alterações foram referidas por alguns participantes, como sendo bastante positivas, uma
vez que aproximou as pessoas:
“As relações humanas privilegiam muito, em vez de existir por um computador, haver
um conjunto de instrumentos que aproxima as pessoas é a coisa mais importante."
(Entrevista 4)
"O que existe é, uma proximidade aos colegas de trabalho muito mais forte e depois
isso proporciona estilos de liderança diferentes, aumentou a comunicação de uma
forma drástica, hoje qualquer manager faz uma reunião de equipa pelo menos todas as
semanas." (Entrevista 5)
"Mas depois, entretanto percebi que o contacto telefónico e por email tinha aumentado
muito mais, portanto a ligação com o trabalhador também melhorou imenso."
(Entrevista 7)
"Eu acho que as pessoas continuam a interagir muito, de uma forma muito positiva, o
que mudou sim, foi a nossa capacidade de resposta que é mais ágil e mais rápida às
solicitações dos colaboradores. Encontrarmos outros canais de comunicação, o digital,
mas não senti falta de interação entre as pessoas." (Entrevista 10)
• Acessibilidade
Foi destacado por dois participantes que o acesso rápido e mais fácil quer a informação,
documentação como a pessoas dentro da empresa, foi uma das principais mudanças:
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"Acessibilidade a informação mais rápido, ter a capacidade para aceder as pessoas
que sabem mais sobre aquilo. Não andar a fazer 50 perguntas, aceder mais fácil, aceder
ao CEO quando quiser, poder aceder, é livre acesso, mais rápido.” (Entrevista 4)
"E isso, permitiu quer ao trabalhador quer a nós facilitar imenso o trabalho, porque a
informação que neste momento está acessível a toda a gente, quer ao trabalhador ou
ao serviço, que em qualquer momento, em qualquer sítio pode aceder essa informação,
permite muitas vezes agilizar os processos." (Entrevista 7)
• Liderança
"Uma equipa comercial que tenha 12 elementos, o diretor comercial não tem tempo
para ter uma proximidade com 12 elementos como tem hoje, porque hoje o Teams traz
uma aproximação muito grande e faz com que de facto exista outro tipo de atenção
entre as pessoas e vice-versa, que as pessoas sintam uma proximidade muito forte com
o líder também." (Entrevista 5)
• Perfis funcionais
Alguns participantes revelam que procuram atualmente perfis mais qualificados para as
suas organizações, sendo essa procura essencialmente focada em competências digitais:
"Por isso, o nosso perfil mudou muito, já não somos pessoas que já não trabalharam
toda a vida no têxtil, vêm de áreas diferentes ou é alguém que vem cá fazer um estágio
e depois vai para a faculdade, também temos esses exemplos." (Entrevista 8)
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"Eu costumo dizer que é um investimento que nos trás muito lucro, nós exigimos hoje
uma mão de obra cada vez mais qualificada e apostamos nas competências certas para
que as pessoas possam crescer e desenvolver-se dentro da organização, diminuindo o
nosso turnover, reduzindo o tempo e dinheiro gasto em recrutamento, garantindo que
o conhecimento fica guardado dentro de portas.” (Entrevista 9)
"Nós temos uma vantagem que é, não temos operadores indiferenciados, todos os
nossos operadores são técnicos de CNC, que vieram maioritariamente do Cenfim e que
são pessoas já com fluência digital, pelo menos as últimas gerações que entraram,
temos uma produção muito automatizadas, todos os nossos técnicos são qualificados e
são especialistas naquelas áreas, isso também é uma vantagem." (Entrevista 10)
Com a Era Digital, surgem novas funções e atividades, que vêm alterar o tipo de
competências que as empresas procuram:
"O que nós temos é uma quantidade de funções que não tínhamos no passado, temos
uma perspetiva estratégica que é diferente do passado, eu acho que é natural que os
perfis mudam. E mudam, quer do ponto de vista das soft skills, quer do ponto de vista
de hard skills." (Entrevista 5)
A criação de funções na empresa, até então inexistentes, foi uma mudança identificada
para um dos participantes:
"As alterações tem a ver com a área de sistemas de gestão integrada, com a área do
IT, fruto da grande evolução tecnológica das mudanças que tivemos, nos próprios
recursos humanos a mudança que tivemos em não ter ninguém na área analítica e hoje
temos, nas áreas financeiras também, já fruto do controlo de gestão e de todo o
processo de interação com os clientes, é tudo organizado de forma diferente, a forma
como se paga, como se recebe, tudo isso e mesmo ao nível das nossas opções mais core
por exemplo logística farmacêutica, logística automotiva, sejam todas elas, e um
bocadinho nós sendo um operador logístico, eu tenho multi perfis. Eu tenho uma gestão
de recursos humanos, com pessoas diferentes, requisitos diferentes e perfis diferentes."
(Entrevista 5)
• Omnicanalidade
Outra das mudanças identificadas foi a implementação de mais canais de venda de forma
a chegar a todo o tipo de clientes, quer presencialmente, quer através do online, entre
outras opções disponíveis. Isto permitiu atualizarem o seu negócio e adaptarem-no na era
4.0:
64
"Fomos de encontro às expectativas do cliente numa perspetiva de futuro e fomos de
encontro às preferências, que muitas vezes é uma questão secundária no que diz
respeito ao omnichannel, mas é bem verdade, a preferência do cliente, ele tem uma
preferência na forma como quer ser tratado, escolha entre 4 canais (...) vou-lhe dar um
exemplo, agora por causa do COVID, passamos a ter clientes que de forma espontânea
nos abordaram e passaram a ser clientes através do online." (Entrevista 6)
3.1.6 Vantagens
• Redução de tempo
“Se temos tudo digitalizado, temos uma base de dados perfeitamente organizada com
a informação toda e não perdemos muito tempo na procura dessa informação.”
(Entrevista 5)
• Eficácia
"Existe uma preocupação em perceber que coisas tão simples como para fazer uma
tarefa dar três cliques, como é que pomos a dar 1 clique e temos a mesma eficácia."
(Entrevista 2)
65
• Eficiência
"Para já, brutal aumento da eficiência, quer dizer, eu comecei a trabalhar na altura em
que se estava a utilizar o email e hoje em dia não sei quantos emails despacho por dia,
mas são umas largas dezenas. A velocidade com que estamos a tomar decisões, a
libertar, a delegar, a velocidade que estamos a avançar é infinitamente superior.
Portanto estamos a ganhar em termos de eficiência individual, toda a organização,
todos os colaboradores que abraçam a tecnologia obviamente estão em vantagem.”
(Entrevista 6)
"Eu quando estou em reunião, basta clicar numa task que tenho aqui e apresenta a
política de crédito. E nós podemos falar da política de crédito de uma forma muito
objectiva, ponto 1, alínea a, etc. Aquilo que se fazia numa hora, às vezes em 5 min hoje
fecha-se. Fecha-se porque existe objectividade na comunicação também e, portanto,
isto alterou de facto a produtividade, a eficiência, a eficácia, seja o que for.”
(Entrevista 5)
• Comunicação
"Mas sem dúvida nenhuma que esta possibilidade de podermos utilizar estar
tecnologias para estarmos mais juntos, é uma vantagem. É um facilitador para a
comunicação" (Entrevista 1)
"A vantagem é estar sempre, dentro do possível, estar sempre disponível, em contacto
com todos. Facilmente consegues ter a empresa toda em contacto, é mais fácil".
(Entrevista 3)
"A nível de comunicação considero que hoje é mais fácil, mais rápido e mais prático a
comunicação, se antes eu estava a espera que a pessoa chegasse ao escritório, ou saísse
de uma reunião, ou qualquer outro motivo, hoje independentemente disso eu envio
aquilo que pretendo obter para o teams o skype e passado poucos minutos tenho a
resposta, por isso a comunicação ganhou outras formas que nos têm ajudado."
(Entrevista 9)
• Teletrabalho
"Há 10 anos atrás, estarmos todos em teletrabalho e comunicarmos desta forma era
impossível. Uma das vantagens é mesmo a conectividade entre os vários
departamentos, a informação on time e claro, isso depois deixa que as pessoas
desempenharem outro tipo de analise e de trabalho." (Entrevista 3)
66
• Retorno de Investimento
"Hoje olhando para trás o pay back é brutal, acho que toda a gente reconhece isso, que
todos os euros investidos, o retorno foi muito bom do ponto de vista retorno do
investimento e do ponto de vista valor do investimento." (Entrevista 2)
"Do ponto de vista qualitativo, do ponto de vista do cliente perceciona uma empresa
que tem mais tecnologia que esta mais avançada, que pode contar para o futuro, com
quem eles assentar o seu negócio sem o risco de um fornecedor não estar lá para eles."
(Entrevista 6)
• Redução do papel
“Depois uma questão importante que tem vindo a acontecer é também a digitalização,
ou seja, é nós deixamos de ter o papel que praticamente não existe, aliás há um desígnio
na empresa que é PAPEL 0 que é uma atividade que é desenvolvida pela área de
ambiente, de compras, pela área de RH e pela área de sistemas de informação, são 4
áreas, no sentido de nós eliminarmos o papel.” (Entrevista 5)
• Produtividade
"As vantagens são várias, mesmo. Sentimos que a nossa produtividade, através da
utilização destas tecnologias, aumentou, aquilo que fazíamos antigamente numa
semana, hoje é possível fazermos em dois dias, por isso é muito positivo, conseguimos
focar-nos em responsabilidades mais analíticas, mais estratégicas, do que
propriamente administrativas." (Entrevista 9)
"E, lá está, aumento da produtividade porque as pessoas não estão a perder tempo com
mapinhas, mapinhas ali, mapinhas acolá." (Entrevista 10)
3.1.7 Dificuldades
67
• Resistência à mudança
"Há sempre os resistentes, porque é uma coisa nova, porque tem de aprender uma coisa
nova. Eu acho que as vezes até ver o proveito que podem tirar daquilo há sempre uma
resistência a mudança." (Entrevista 3)
"O processo de digitalização, era suposto ter impacto praticamente em todas as áreas,
mas a verdade é que houve áreas que não aderiram, não viram mais valia e só parte
delas é que na prática aderiram." (Entrevista 6)
Para dois dos participantes, a resistência à mudança surge por parte de lideranças, que
influencia a restante equipa nesse processo:
"Portanto, isso foi eventualmente um dos maiores obstáculos, uma liderança anterior
um pouco resistente a essa mudança (...) e muitas vezes quando não há um sponsor,
quando a liderança não é um verdadeiro sponsor, que promove a liderança e a
mudança digital e a mais valia, se as pessoas não ouvem o diretor geral completamente
alinhada e impulsionar da tecnologia, em vez disso se vem dizer que “olha vamos
implementar isto e pode ser que corra bem” as pessoas não acreditam e as gerações
mais resistentes ganham força." (Entrevista 6)
"no fundo há sempre uma chefia, há sempre uma pessoa mais resistente e eu digo
sempre que as equipas são o espelho das suas chefias e é verdade, nós temos setores
que quase não nos dão trabalho, ou seja, as coisas fluem, a mudança é bem aceite, as
pessoas aderem e depois há outros que são sempre os mais resistentes e nós estamos
cá para os ter que trabalhar e para que eles não percam essa linha condutora e que
não fiquem a parte ou à margem." (Entrevista 8)
"Para as pessoas mais velhas, que estão há mais tempo na empresa, sentimos que
revelam alguma resistência quando queremos implementar algo novo, seja um novo
documento, seja a implementação de um software, porque lhes custa sair da zona de
conforto, apesar de verem vantagens neste tipo de implementações." (Entrevista 9)
"Nas insígnias mais maduras, é onde reside a nossa população mais envelhecida, temos
as pessoas mais antigas da empresa e isto naturalmente não é heterogéneo em todos os
pontos do país, também tem variações, mas esta cultura digital ainda não ...ainda está
a entrar." (Entrevista 11)
68
• Investimento
"A realidade é que nós termos este processo de digitalização in-house requer que as
empresas invistam bastante." (Entrevista 2)
"Por isso, diria que o dinheiro é uma das nossas dificuldades, todas as soluções do
mercado são bastante dispendiosas e não se trata só de dinheiro, o nosso tempo é
dinheiro, o tempo do CEO para analisar e aprovar estas soluções, representam
dinheiro, por isso é mais difícil." (Entrevista 9)
• Interação
"Claro que há processos que são mais sensíveis, como a avaliação de desempenho em
que é bastante complicado fazer uma gestão estando mais longe das pessoas… em que
um email ou um telefone não resolve, terá mesmo de ser resolvido diretamente com o
trabalhador, para que ele se sinta à vontade." (Entrevista 7)
"Eu focaria a perda da relação, ou seja, a partir do momento em que nós digitalizamos
ou passamos para o formato digital, coisas que no passado eram feitas presencialmente
acaba por se perder interação, ou contacto com as pessoas, a criação de relações e
empatias, sistemas de apoio, redes, portanto há aqui nitidamente isto." (Entrevista 11)
• Inexistência de Competências
"Quando tivemos de fazer esse processo tivemos de perder muito tempo e ganhar muitas
competências para poder fazer um trabalho bem feito. Também não valia de nada eu
ter as competências de desenvolver software se esse software não tivesse mais valias
interessantes do ponto de vista prático. Então acho que esse foi um dos principais
problemas que tivemos. Tivemos que correr muito atrás e ganhar competências em
áreas que não tínhamos." (Entrevista 2)
"Eu diria que uma das dificuldades também é a falta de qualificação das pessoas."
(Entrevista 6)
"Devo dizer-lhe que recebi imensas reclamações por parte de alguns profissionais,
porque não estavam habituados, principalmente com uma faixa etária mais elevada,
nunca utilizaram o zoom e de um dia para o outro tiveram que o fazer." (Entrevista 7)
69
"Lembro-me de um caso, de uma senhora que entrou cá e que teve muita dificuldade
em trabalhar com o display da máquina e naquele posto de trabalho não conseguimos
mesmo um reajuste, aliás ela chegou a estar na confeção, depois passamos para outra
máquina e percebemos logo que ela tinha uma limitação e não conseguia ultrapassar."
(Entrevista 8)
"Nos últimos anos não conseguíamos contratar pessoas para trabalhar na fábrica para
as nossas profissões (tecelões, etc) havia uma escassez deste tipo de profissões mais
técnica." (Entrevista 8)
Por outro lado, a falta de soft skills por parte dos candidatos é apontado como a principal
lacuna existente:
"Isto ajuda-nos também a perceber como está o mercado, estudar o mercado, lei da
procura e oferta e temos vindo a perceber que cada vez mais, existe lacunas de
profissionais com soft skills desenvolvidas, é uma das nossas dificuldades." (Entrevista
9)
"Nós temos uma dificuldade à partida que é, nós começamos a desenvolver estas
ferramentas com a nossa equipa e a nossa equipa acaba por estar muito sobrelotada a
nível de trabalho e às vezes não consegue dar resposta em tempo útil porque essa tal
transformação acaba por ser necessária na fábrica toda, em todas as áreas."
(Entrevista 8)
"Existe uma grande pressão e um grande foco, uma grande orientação para o
cumprimento de processos e obtenção de resultados. E isto, na minha ótima, tira foco
na relação humana." (Entrevista 11)
A revolução 4.0 trouxe novos desafios, determinantes para a criação de novas abordagens
por parte das empresas, nomeadamente em termos de contacto humano, tempo,
centralização da informação e recursos humanos.
70
• Contacto humano
"Claro que o contacto humano é sempre importante e nós não prescindirmos disso,
fazemos sempre duas atividades anuais para que as pessoas todas se encontram,
estejam juntas." (Entrevista 1)
• Tempo
"Tivemos algumas limitações com a equipa de IT, que não conseguiam ter o tempo
disponível para desenvolver este tipo de soluções porque estavam muito ligados a
automação, e ao SAP, porque uma organização na altura com 250 pessoas, não só na
área de BackOffice, ocupava praticamente todo o trabalho. Tudo aquilo que era
desenvolvimento de soluções, fora daquilo que era o business as usual, era bastante
complicado." (Entrevista 6)
"Os sistemas de informação nem sempre conseguem dar suporte em tempo útil, ou o
tempo que nós gostaríamos que fosse o desejado, porque efectivamente tudo aquilo que
nós estamos a fazer já devia estar feito há muito tempo, é a nossa sensação sempre."
(Entrevista 8)
• Centralização da Informação
71
• Recursos Humanos
"Isto é um papel que os recursos humanos têm de ter muito nas organizações, preparar
as pessoas para a inovação e para a tecnologia. Eu, em vez de dizer a uma pessoa
“olhe, você tem um problema, você tem de aprender, de mudar o seu processo de
trabalho, tem de aprender coisas novas” posso dizer desta forma, ou então posso dizer
de outra forma “você já passou por tanta coisa até hoje, tem aqui mais um desafio que
tenho a certeza que você vai ultrapassar. O desafio é uma mudança de paradigma, você
já fez para aí 20 ao longo da sua carreira e agora vai fazer o vigésimo primeiro com
uma perna as costas” eu disse a mesma coisa, mas de uma forma diferente e as pessoas
percebem de uma forma diferente. " (Entrevista 5)
72
3.2 Competências
• Comunicação
"Por exemplo, quando implementamos algo novo, há sempre uma informação geral do
que vai acontecer e por isso comunicamos que é importante, a indicar como vai ser o
processo, as etapas, os departamentos envolvidos, informar as pessoas das etapas até
à mudança.” (Entrevista 3)
"Então, o trabalho é envolver estas pessoas desde o início ao fim do processo, para que
percebam claramente que elas podem fazer parte de um processo de mudança, de
melhoria para todos na empresa e ao perceberem este envolvimento e as vantagens
associadas, o processo já está ganho, porque ganhamos embaixadores do processo."
(Entrevista 9)
73
"Sempre que se fazia alguma coisa, tínhamos uma preocupação sempre de receber
feedback. E esse feedback era muito importante e valioso, porque eram as equipas que
iram sugerindo o que estava bem, o que estava mal e o que fazia falta." (Entrevista 2)
"[A informação é] sempre comunicada nas redes sociais, por email, há vídeos no
youtube. Ou seja, a empresa está constantemente a colocar conteúdos, que orientem os
colaboradores a pensar e abraçar esta nova área. Nós preparamos as pessoas através
da comunicação." (Entrevista 1)
"A parte disso, a parte de ser muito intuitiva e ser user-friendly, em que a pessoa em
vez de demorar 1 semana a adaptar-se, num dia facilmente começa a trabalhar com a
solução." (Entrevista 2)
• Formação
A formação foi bastante referida pelos participantes, sendo através deste processo que
grande parte das empresas desenvolve e investe nos seus colaboradores.
"Um manager que tenha 10 anos no grupo, tem 25 mil euros em formação
garantidamente gasto. O resultado disso é muito bom." (Entrevista 5)
74
"Nós tivemos pessoas já com os seus 60 e muitos anos que de repente tiveram que se
adaptar a um software diferente, nada igual ao que tinham feito até então, e nesse caso,
ficamos a dar formações as pessoas." (Entrevista 7)
O investimento nesta área de conhecimento, foi realizado através de uma estrutura interna
nas empresas, nomeadamente a criação de academias de formação:
Para além disso, criou-se também a função de mentor ou formador interno, para ajudar
neste processo de aquisição de conhecimento:
"Nós não temos grande dificuldade em integrar os mais velhos nestes processos. E
porque é que não temos? Nós há muitos anos que criamos uma função de formador
interno que vamos dando aos mais velhos. Fazemos com que os mais velhos sejam os
primeiros a participarem em ações de formação, nos processos de aprendizagem para
que isto depois façam ... que isto seja mais simples de gerir. " (Entrevista 5)
"Outra coisa que nós estamos a tentar fazer...é a questão de termos um mentor dentro
dos locais de trabalho, sempre que alguém entra podermos ter alguém que possa
orientar a pessoa que entrou para que se possa adaptar melhor ao seu posto de
trabalho." (Entrevista 7)
Para alguns dos participantes, a preparação das empresas realiza-se através de formação
em tecnologia:
"De qualquer das formas, todas as pessoas que entram connosco e vão trabalhar com
o software, em todo o seu processo de acolhimento tem uma parte de formação
presencial e, portanto, explicamos a pessoa o que é o software, em que vetores da
empresa mexa e como é que funciona." (Entrevista 2)
"Eu quando entrei cá, algumas pessoas chegaram a dizer que a primeira vez que
contactaram com um display foi cá dentro, ou seja, pessoas que nunca tinham
75
trabalhado com um computador, cá dentro tiveram de se adaptar ao display da
máquina, foi dada formação." (Entrevista 8)
As formações em Soft Skills têm sido igualmente uma das mais trabalhadas por parte das
empresas:
"Quando nós vemos que a pessoa precisa de inglês para a sua função, nós damos
formação de inglês". (Entrevista 3)
“Aquilo que nós procuramos é pessoas com as Soft Skills certas e poderão desenvolver
toda a sua carreira na empresa, porque existe esse investimento e essa aposta no capital
humano, afinal nós precisamos das pessoas, mas pessoas motivas, com atitude e
vontade de aprender." (Entrevista 9)
• Despedimentos
"Para trabalhar na minha empresa, tem de ser uma pessoa com capacidade de estar
orientada para o negócio. Ou seja, eu própria no departamento de recursos humanos
se vir que um potencial negócio em que a minha empresa pode estar implicada, eu falo
com a equipa comercial para dar conhecimento daquela oferta e tentar chegar ao
contacto com o cliente para nós entregarmos a nossa proposta comercial. Por isso tem
de existir essa orientação, as pessoas têm de ter noção de que apesar de fazerem o seu
próprio trabalho, também podem ser impulsionadores de novos negócios. E sempre que
estão no cliente devem sempre estar atentos, para tentar perceber quais são as
76
necessidades para nós chegarmos lá, uma vez que já estamos lá e sermos os primeiros
a responder." (Entrevista 1)
"A orientação para o cliente é crucial, é a razão da nossa existência, uma empresa não
sobrevive se não tiver pessoas com esta orientação muito clara para o cliente e, neste
caso, quando digo cliente digo cliente interno e externo. Que tem a ver com o
profissionalismo." (Entrevista 6)
• Inglês
"Tem que ter competências técnicas, muito específicas, como dominar idiomas porque
nós trabalhamos essencialmente para exportação e os nossos clientes são grandes
construtores automóveis, franceses, ingleses, tem de saber, ter uma grande bagagem
de idiomas, principalmente o inglês." (Entrevista 1)
"E aí mudou, já queríamos um perfil mais tecnológico, que soubesse falar inglês, com
maior capacidade de adaptação e por coincidência foram essas pessoas que nos
procuraram." (Entrevista 8)
• Conhecimento Técnico
"Depois a parte técnica, quer já venha de outras empresas com a mesma experiência,
quer tenha de ser formado internamente, mas é importante que tenha conhecimento
técnico do produto que está a produzir e dos processos produtivos em que está
envolvido." (Entrevista 10)
77
3.2.5 Competências digitais
O conhecimento digital apresenta-se como a competência digital mais procurada por parte
das empresas:
• Conhecimento digital
"As skills transversais que nós procuramos tem muito a ver com aquilo que está ligado
com a evolução, inovação tecnológica e a melhoria contínua." (Entrevista 5)
"Claro que o perfil que agora nós pretendemos para a organização e, quando fazemos
um recrutamento, tentamos já que as pessoas sejam e, estejam já adaptadas a
tecnologia." (Entrevista 7)
No que respeita ao cluster de Soft Skills mais procuradas pelos profissionais quando
recrutam alguém para as suas empresas, o trabalho em equipa, a adaptabilidade, a
proatividade, a capacidade relacional, a curiosidade, a capacidade comunicativa, a
resolução de problemas, a inteligência emocional, a capacidade analítica e a capacidade
de aprendizagem, são as que merecem destaque entre os participantes.
• Trabalho em equipa
“Uma coisa muito importante é o trabalho em equipa, somos uma empresa com alguma
dimensão e que está dividida por equipas e, mesmo essas várias equipas tem de
trabalhar em conjunto para obtermos o melhor resultado final, por exemplo.”
(Entrevista 3)
"O trabalho em equipa também é uma competência imprescindível, uma vez que o nosso
trabalho envolve todo o tipo de perfis na empresa e por isso dependemos sempre de
alguém e o outro depende de nós, por isso é importante que a entreajuda, o trabalho
em equipa aconteça e em entrevista colocamos questões práticas para validar esta
competência." (Entrevista 9)
78
• Adaptabilidade
"Uma competência importante é a adaptação, tanto podem estar nesta empresa hoje,
como estar na empresa X amanhã. E o trabalho muda, é diferente, mesmo a nível de
tecnologia. E uma competência que eu acho bastante importante é a capacidade de
adaptação e depois claro que o conhecimento em novas tecnologias e o adaptar-se a
novas tecnologias." (Entrevista 3)
"[Os candidatos] tenham outra coisa que é fundamental hoje, que é eu costumo dizer
ter um skill camaleónico – essa adaptação, essa capacidade de aprender e estar
disponível para aquilo que a empresa define como a melhor estratégia para atingirmos
os melhores resultados, é de facto muito interessante." (Entrevista 5)
• Proatividade
• Capacidade Relacional
"É relacionar coisas que os outros ainda não viram. Basicamente, a capacidade de
associar e relacionar coisas que aparentemente não tem nada a ver.” (Entrevista 4)
• Curiosidade
"Depois, sem dúvida que o bom profissional na Indústria 4.0 é algo orientado para
tecnologia/inovação, ou seja, que lê, pesquisa, está bem informado sobre a inovação
que está a acontecer à sua volta e tem interesse nesse tipo de temas." (Entrevista 9)
• Capacidade Comunicativa
"A comunicação é fundamental hoje, muito, quer na procura dela, quer na transmissão
de conhecimento." (Entrevista 5)
"E acho que cada vez mais, é necessária uma boa capacidade de comunicação, de
aliarmos todo o conhecimento técnico ou funcional que temos e sermos capazes de
apresenta-los de uma forma clara, simples e objectiva, esta competência é essencial
79
para o crescimento de alguém, para a evolução profissional, já não queremos “bichos
do mato.” (Entrevista 9)
• Resolução de Problemas
"Depois, procuramos também pessoas com foco na resolução de problemas, uma vez
que os problemas e dificuldades fazem parte do dia a dia de trabalho, procuramos
pessoas que tenham a capacidade de ver mais além, de encontrarem soluções e tirar o
máximo proveito de um problema, que originem mudança." (Entrevista 9)
• Inteligência Emocional
• Capacidade Analítica
“Depois temos aqui sentido de análise e de filtrar a informação, temos acesso a tanta
coisa, a tanta informação, tantos dados, às vezes somos confrontados com tantas
informações e por vezes, elas próprias, contraditórias, que a capacidade de síntese, de
análise, são fundamentais, o que é para mim relevante, o que eu vou priorizar, o que
eu vou filtrar, o que vou deixar cair e por isso a capacidade de gerir prioridades no
mundo de hoje é fundamental, porque as solicitações são tantas que é preciso dizer não
e saber pensar a longo prazo e não só que é tudo para hoje e saber por as coisas em
perspetiva.” (Entrevista 11)
• Capacidade de Aprendizagem
"Para além disso, aquilo que nós pretendemos são pessoas claramente que tenham uma
capacidade de aprendizagem e que gostem de aprender." (Entrevista 5)
80
3.2.7 Trabalhador 4.0
Hoje, para ser considerado um trabalhador 4.0, o perfil desejado deverá incluir um perfil
funcional que valoriza a inovação e a tecnologia assim como a detenção de competências
comportamentais, sendo que estas são as que acabam por ser muito valorizadas nos
candidatos dado a empresa ter mais dificuldade em ensiná-las.
• Perfil funcional
"Um trabalhador 4.0., há partida, tem que ter skills de conhecimento sobre as
principais ferramentas que o mundo empresarial utiliza hoje, pela lógica de facilitação
inicial e depois tem que gostar de um trabalho numa lógica de 4.0, numa lógica muito
mais de dados, muito mais de gestão da informação, muito mais de comunicação.”
(Entrevista 5)
"O trabalhador 4.0. é alguém orientado para o futuro, para a tecnologia, para a
inovação, gosta de ser desafiado, gosta de estudar e de aprender sempre mais. É
alguém que domina a tecnologia e tem a capacidade de se adaptar à evolução da
mesma." (Entrevista 9)
"É alguém que aposta muito na inovação. Um profissional que tem de estar sempre a
pensar no amanhã, não pode ficar parado no passado ou naquilo que é o hoje, nós
fazemos assim, mas amanhã podemos fazer melhor, por isso é alguém orientado para
a melhoria contínua, no serviço ao cliente, é o que nós esperamos de um trabalhador
4.0. – de inovação constante." (Entrevista 10)
"Quando recrutamos alguém, o nosso foco principal é nas soft skills, se as mesmas não
estiverem alinhadas com o que procuramos, nem sequer são selecionados." (Entrevista
9)
"Eu vou dar aqui bastante relevância às soft Skills, isto porque eu tenho uma crença de
que as hard skills e as competências mais técnicas, tendo as competências
comportamentais certa, a pessoa se quiser, se tiver vontade, desenvolve." (Entrevista
11)
82
Neste capítulo são discutidos os principais resultados obtidos, tendo por base os objetivos
de investigação norteadores desta dissertação. A discussão será realizada à luz da
literatura existente no âmbito da transformação digital originada pela quarta revolução
industrial e das competências desejadas pelas empresas para dar resposta a um mercado
cada vez mais tecnológico e digital.
83
pesquisa proativa e triagem de candidatos (Stone et al, 2015). Ao mesmo tempo, os
resultados do estudo, estando alinhados com a literatura (Coda & Coda, 2014; Rivero &
Dabos, 2017), permitem afirmar que os profissionais de recursos humanos, viram alterado
o seu propósito dentro da organização, deixando de assumir uma responsabilidade
puramente administrativa, para tarefas mais estratégicas e com valor acrescentado para a
organização. Tendo por base a literatura (Radel, 2017) sobre o tema, salienta-se que
atualmente, as organizações recorrem a sistemas de recrutamento eletrónico, denominado
e-recruitment, através do qual as empresas, no desenvolvimento de um processo de
recrutamento e seleção, usam softwares para testar os conhecimentos dos candidatos,
automatizando o processo e estando conectadas num modelo digital. Para além disso,
fruto da globalização e da transformação digital, os resultados do estudo indicam que
existe um aumento da utilização e, em alguns casos, uma preferência, de plataformas
como o Skype e Microsoft Teams, pela facilidade do contacto, no momento da realização
de entrevistas de seleção, deixando de ser um requisito para as empresas a realização de
entrevistas presenciais. A utilização destes softwares no momento de seleção, possibilita
a gravação do conteúdo da entrevista, através do qual é possível rever e analisar o mesmo
mais tarde, ajudando os profissionais de recursos humanos e responsáveis de equipa a
tomar a melhor decisão. Este resultado acrescenta novidade à literatura existente sobre o
tema (Radel, 2017; Zonato et al., 2015), a qual não foi encontrada referência a esta
vantagem. Para além disso, é de salientar que os dados acrescentam uma novidade ao
previamente analisado na literatura, na medida em que a atração de talento por parte das
empresas foca-se em candidatos cada vez mais jovens, nomeadamente a frequentar o
ensino secundário, como forma das empresas acompanharem o seu percurso escolar desde
cedo e, não apenas no final de uma formação superior, o que possibilita que, quando chega
o momento de selecionar os melhores candidatos, a relação entre as ambas as partes já é
duradoura. No processo de formação, assim como é referido na literatura prévia
(Benesova & Tupa, 2017), as empresas têm apostado na criação de formação
especializada, com a ajuda das Tecnologias de Informação, para assegurarem o
desenvolvimento e crescimento dos seus colaboradores, num mundo cada vez mais
digital, essencialmente através da criação de plataformas internas, um modelo de
formação digital, e-learning, que permite uma maior acessibilidade, uma vez que pode
ser realizada fora e dentro da organização, maior flexibilidade e personalização do
conteúdo da formação, podendo ser ajustada a cada colaborador (Salas, DeRouin, &
Littrell, 2005). Esta aposta num modelo e-learning, tem cativado os profissionais a
84
realizarem as formações, sendo que os mesmos podem escolher onde e quando a realizam,
sendo um formato de formação que lhes é cada vez mais familiar e apelativo. Segundo os
dados recolhidos, na formação a utilização de algoritmos inteligentes, permite que a
plataforma e-learning faça sugestões de formação, através de uma análise do histórico de
formações do colaborador e preferências. Relativamente à automatização do
processamento salarial, evidenciou-se que o registo de picagens, a atualização dos
salários, é atualmente um processo realizado através de um software de gestão integrado
com os vários departamentos, que possibilitou a diminuição de papel utilizado, passando
esta informação a estar disponível digitalmente para empresas e colaboradores (Zonato et
al., 2015). Por último, as empresas têm utilizado cada vez mais tecnologias para a
realização do processo de avaliação de desempenho, onde é possível ter acesso a um
registo contínuo das avaliações do colaborador, assim como toda a informação relativa a
pontos de melhoria e desempenho do mesmo (Stone et al., 2015). Para a maioria dos
entrevistados, a utilização de software para o processo de avaliação de desempenho,
partiu de um investimento interno através da criação de soluções tecnológicas únicas e
ajustadas às suas realidades. A revolução 4.0. impulsionou uma série de tecnologias
emergentes que as empresas referem já utilizar no seu dia-a-dia. Esta interação entre
homem-máquina, tal como refere a literatura prévia Huang & Rust (2018), é característico
da revolução 4.0, onde se verifica que a inteligência artificial, numa relação de interação
com o colaborador, é capaz de desempenhar tarefas e acrescentar valor, melhorando e
tornando os processos mais eficientes. Ainda no processo de formação, a Realidade
Aumentada e Virtual tem sido uma das principais apostas por parte das empresas, que
utilizam esta tecnologia para dar um contexto mais prático a formação, através, por
exemplo, de óculos hololens. Também os chatbots foram identificados como fazendo
parte da realidade dos participantes, na medida em que facilitam o processo de respostas
padronizadas por parte dos profissionais de recursos humanos, através daquilo que é
escrito no chat ou através de mecanismos de busca, o chatbot automaticamente responde
através do algoritmo desenvolvido (Pushflow, 2017). Isto possibilita que, por um lado, os
colaboradores tenham uma resposta mais rápida a questões simples e comuns e, por outro
lado, os profissionais de recursos humanos podem focar-se noutras tarefas. Os dados
demonstram que a digitalização nas empresas ocorreu de forma transversal através da
implementação de plataformas digitais, essencialmente através de ERP’s. Na opinião dos
entrevistados, isto levou a uma redução significativa de papel, tendo em conta que a
informação passou a estar toda digitalizada através da utilização dos softwares (Zonato et
85
al., 2015). Conforme verificado neste estudo, os participantes indicaram que a
digitalização trouxe várias vantagens, nomeadamente a análise de dados para tomadas de
decisão, otimização de processos e o acesso mais fácil e rápido à informação. Na perceção
dos participantes, o big data é uma das tecnologias utilizadas, a qual permite analisar e
trabalhar uma grande quantidade de dados disponível, considerados agregadores de valor
quer para a empresa, quer para a própria gestão de pessoas. Através do big data, é possível
trabalhar os dados relativos à atração e retenção de talento, à formação, ao desempenho e
a produtividade são alguns dos exemplos principais. Como vimos anteriormente, trata-se
da tomada de decisão através de dados, sendo considerado um dos aspetos principais para
a posição estratégica que os profissionais de recursos humanos têm hoje nas suas
organizações (Rivero & Dabos, 2017).
86
empresas, uma aposta crescente numa equipa mais jovem e mais tecnológica, para
facilitar a adaptação e potencializar o uso da tecnologia. Esta situação remete para o que
é referido na literatura, uma vez que as competências técnicas e digitais estão a crescer
em todas as funções (Manpower Group, 2019). Para além disso, as tecnologias de
informação têm-se revelado um catalisador para a promoção do teletrabalho nas empresas
que, segundo os participantes do estudo, permite um maior equilíbrio entre a vida
profissional e a vida pessoal. Tal como referido na literatura (Silva, 2004), o teletrabalho
proporciona vantagens significativas quer aos colaboradores quer às empresas e
influenciam positivamente a qualidade de vida. No entanto, um dos aspectos a trabalhar
é a criação de legislação que oriente as empresas para a utilização cada vez maior do
teletrabalho, motivo pela qual algumas empresas se sentem ainda reticentes a este modelo
de organização de trabalho. Se, por um lado o teletrabalho é bem aceite pelos profissionais
com maior experiência na utilização de softwares, por outro lado, representa um desafio
para os organizações, quando se trata de colaboradores que possuem limitações no uso da
tecnologia, o que obriga as organizações a adaptar as funções desses colaboradores para
uma menor dependência da tecnologia. Os dados revelam que as funções tradicionais têm
vindo a sofrer alterações, passando a ser funções digitais e automatizadas. Estes dados
foram também sugeridos pela literatura prévia (e.g. Radel, 2017). Sendo assim, há já
novas funções a serem criadas dentro das organizações, especificamente na área de
recursos humanos, para uma vertente mais analítica. Estes dados vão ao encontro do
referido por Erol et al. (2016), uma vez que as funções rotineiras existentes, deixarão de
ser atrativas para as empresas e poderão mesmo deixar de existir. Destacado nos dados
deste estudo estão as vantagens proporcionadas pela Indústria 4.0, que permitem aos
profissionais de recursos humanos a redução de tempo, anteriormente despendido em
tarefas burocráticas, aumentando a eficácia, eficiência e, ao mesmo tempo, possibilitando
um investimento em atividades mais estratégicas. Isto proporciona a prestação de um
serviço de maior qualidade para o colaborador, na medida em que tem uma resposta mais
rápida e satisfatória (Ruel, Bondarouk, & Van der Velde, 2007). A tecnologia serve o
propósito de nos ajudar a trabalhar de forma mais fácil e rápida, sendo que através da sua
aplicação, assim como os dados deste estudo destacam, verifica-se um aumento da
produtividade, indo ao encontro do que é referido na literatura (Erol et al., 2016; &
Bughin et al., 2018). Por outro lado, a resistência à mudança é apontada de forma unânime
pelos participantes como uma das principais dificuldades de gerações mais velhas.
Verifica-se que as empresas são constituídas por gerações bastante diferentes a nível de
87
conhecimento tecnológico, sendo as gerações mais velhas as mais resistentes à adoção de
novas tecnologias. No entanto, são as que possuem mais conhecimento prático sobre a
função e, por isso são pessoas com grande valor dentro das organizações. Com base nisto,
as empresas têm apostado numa estratégia de transferência de conhecimento, através da
atribuição de “mentor”, que se caracteriza por um colega de trabalho mais jovem e com
maior conhecimento tecnológico, possibilitando uma dinâmica de trabalho
multigeracional. Conforme verificado neste estudo, foi destacado pelos entrevistados a
falta de competências dos colaboradores, num mundo que exige cada vez mais
conhecimentos tecnológicos. Assim, como referido na literatura prévia (Bughin et al.,
2018), a evolução tecnológica implicará também uma mudança ao nível das competências
exigidas dos trabalhadores. A área de recursos humanos enfrenta novos desafios fruto da
digitalização, sendo que a literatura destaca a capacitação dos profissionais da
organização, com o objetivo de uma utilização eficiente da tecnologia (Harshwardhan,
2008).
88
competências adicionais através de uma área interna de formação, torna-se essencial para
sobreviver no mercado de trabalho 4.0 (Gerbert et al., 2015). Embora se destaque este
investimento por parte das organizações, é importante salientar que as empresas esperam
que os profissionais revelem o gosto pela aprendizagem e invistam na sua formação, de
forma proativa, ao longo da vida, como é apontado por Ferreira (2010). A ideia de que
após uma formação superior, o profissional termina o processo de aprendizagem, é
desmitificado, procura-se cada vez mais que um profissional continue à procura de
conhecimento, para que consequentemente a qualidade do seu trabalho possa também
melhorar, num mundo em constante evolução. Por outro lado, verifica-se que as
empresas têm também preparado os seus profissionais através de comunicação interna,
como forma de envolver toda a organização no processo de mudança e transformação
digital. Isto acontece através da partilha de informação geral pela organização, com a
explicação do processo, modo de funcionamento e vantagens da sua implementação, pelo
que vai encontro do referido por Kaasinen et al. (2020), que defende que é necessário
envolver os trabalhadores nas tomadas de decisões da organização, nos processos
implementados na partilha de conhecimento e aprendizagem contínua. Destaca-se ainda,
a prática de solicitação de feedback aos colaboradores, dotando-os de uma voz ativa no
processo de mudança, através do qual a empresa valoriza os seus colaboradores e os
colaboradores sentem-se valorizados. A literatura (Erickson, 2015) vai ao encontro destes
resultados, acrescentando que quer a comunicação quer o feedback são essenciais na
retenção destes profissionais. Foi possível, também, reconhecer que são as ações adotadas
atualmente pelas empresas que determinam se esta mudança resulta em despedimento de
colaboradores ou se irá representar uma readaptação de funções, tal como é referido na
literatura (World Economic Forum, 2016). Conforme verificado neste estudo, nos casos
em que se verificou total ausência de conhecimentos, essencialmente tecnológicos e, após
tentativas de formação por parte das organizações, houve despedimentos destes
profissionais.
89
empresas expandiram os seus negócios para outras geografias, o que requer da parte dos
profissionais conhecimentos de línguas estrangeiras, tendo sido identificado pelos
participantes o Inglês, como uma das principais competências da Era 4.0. Salienta-se o
facto de as competências técnicas e digitais também fazerem parte das competências
consideradas essenciais, o que vai encontro da literatura prévia (Benesova, 2017;
Hecklau, 2016; Pinzone, 2017; Schallock, 2018), que aponta que as empresas procuram
profissionais com conhecimento sobre as tecnologias e processos mais atuais,
consideradas pelos participantes como fulcrais para o desempenho de uma função na Era
4.0. Ainda, para Hecklau et al. (2017) o domínio da competência tecnológica é essencial
no contexto de transformação digital. As competências de gestão, correspondente à
capacidade de utilizar a informação para contribuírem de uma forma estratégica para o
negócio, foi uma das competências identificada pelos participantes, indo ao encontro do
que é referido na literatura (Hecklau et al., 2017). Os dados recolhidos neste estudo estão
alinhados com a literatura prévia (Benesova, 2017; Hecklau, 2016; Pinzone, 2017;
Schallock, 2018; Erol et al., 2016), e permitem identificar as competências
comportamentais mais procuradas pelas organizações, nomeadamente a adaptabilidade,
capacidade comunicativa, criatividade, resolução de problemas, capacidade analítica e
trabalho em equipa. É possível ainda destacar outra competência comportamental
mencionada pelos entrevistados com a existente na literatura (World Economic Forum,
2016), nomeadamente a inteligência emocional, que sendo ainda considerada recente é
reconhecida a sua importância pelos participantes, pois permite aos colaboradores a
capacidade para gerir emoções.
90
trabalhador 4.0. tem a capacidade de inovar, na medida em que se consegue adaptar de
forma flexível a novos processos e sistemas, sendo necessário que as organizações onde
trabalham estejam adaptadas com a realidade da sua mão de obra, como forma de
desenvolvimento e inovação das competências destes profissionais.
91
CAPÍTULO V – CONCLUSÃO
92
Este estudo teve como principal objetivo conhecer a perceção dos profissionais de
Recursos Humanos, sobre o impacto da revolução 4.0, com especial destaque para as
competências desejadas para a Era Digital.
O presente estudo permitiu ainda concluir que é nas gerações mais velhas, e com menos
competências digitais, que se verifica uma maior resistência às mudanças tecnológicas
implementadas, representando um dos principais desafios para as organizações. Deste
modo, as empresas têm apostado na criação de um papel de formador interno, como forma
de facilitar a adaptação destes profissionais à Era Digital.
Os resultados permitem acrescentar que a atração de talento tem sido direcionada para
candidatos mais jovens, a frequentar o ensino secundário, como forma de acompanhar as
93
novas gerações a entrar no mercado de trabalho, através da criação de um histórico e
ligação de vários anos, para facilitar a tomada de decisão quando chega o momento da
seleção.
Ter pessoas talentosas, capazes de gerar valor para a organização, é aquilo que todas as
empresas procuram. No entanto, foi possível concluir que as empresas consideram existir
uma lacuna de competências da parte dos seus colaboradores. Nesse sentido, tem existido
um reajuste de funções, criação de novas e um grande investimento na capacitação dos
profissionais (Harshwardhan, 2008), que não possuem as competências necessárias. Para
isso, a criação de academias de formação internas, para a área da formação digital, através
de conteúdos e-learning, é na perceção dos participantes entrevistados a principal forma
de preparação implementada para a capacitação de competências internas. Concluiu-se
que são as formações técnicas, digitais e tecnológicas a maior aposta por parte das
empresas.
Apesar deste investimento em formação, os profissionais que, após várias tentativas para
aquisição de conhecimento, não foram capazes de o assimilar, um reajuste de funções e,
em último caso, despedimentos. É possível concluir que os participantes não consideram
que a implementações de tecnologias substitui a mão de obra humana. Verificou-se sim,
a necessidade de adaptar a força de trabalho com a criação e reajuste de algumas funções.
94
5.1 Limitações do Estudo
A segunda limitação está relacionada com a fiabilidade dos resultados obtidos, uma vez
que esta é uma investigação qualitativa, em que a resposta obtida através da realização de
entrevistas depende da fiabilidade da resposta dos participantes, assim como os
entrevistados podem ter focado as suas respostas naquilo que acreditavam ser o mais
correcto ou expectável.
Propõe-se para futuros estudos, aprofundar a eficácia da seleção de pessoas com base nas
competências referidas como desejáveis pelas organizações. Também, uma análise mais
profunda, recolhendo os testemunhos de gestores de recursos humanos e profissionais
para a identificação do modo como as empresas têm readaptado os perfis dentro da
organização. Explorar a criação, a transformação e a eliminação de funções geradas pela
Era Digital nos diferentes setores de atividade, configura-se como objeto de estudo
pertinente de ser estudado.
Futuros estudos podem, também, procurar explorar a perceção dos gestores de empresas,
das instituições de ensino ou até dos próprios profissionais, com o objetivo de perceber
as dificuldades do uso da tecnologia, nomeadamente por profissionais com diferentes
qualificações e de diferentes gerações.
95
A realização de um estudo que privilegie uma metodologia quantitativa pode revelar-se
pertinente, no sentido que possibilitará realizar generalizações dos resultados obtidos.
96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
97
Aguinis, H., Heule, A., & Beaty Jr, C. (2001). Virtual Reality Technology: A New Tool
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ANEXOS
106
Anexo I – Declaração de Consentimento Informado
Nesse sentido, pretende-se contribuir para um melhor conhecimento sobre este tema,
tornando-se necessário a participação de profissionais que desempenhem a sua atividade
na área de Recursos Humanos. A sua colaboração será essencial!
Tendo em conta a relevante contribuição que irá proporcionar a este estudo, se consentir,
o agradecimento explícito (com referência ao seu nome e nome da organização que
representa) poderá ser efectuado nos agradecimentos deste trabalho de investigação,
reconhecendo a sua participação.
Investigador: ___________________________
Participante: ___________________________
Data: _____-______-_____
107
Anexo II – Questionário Sociodemográfico
Deste modo, este questionário tem como principal objetivo a caracterização dos
participantes deste estudo, assim como as organizações nas quais desempenham as suas
funções. Garante-se confidencialidade e anonimato dos dados, sendo os mesmos
utilizados apenas para fins académicos.
1. Sexo
Feminino Masculino
2. Idade
3. Habilitações Académicas
4. Área de Formação
5. Quantos anos de experiência profissional tem na sua área de educação e/ou
formação?
6. Há quanto tempo trabalha na organização?
7. Quais as atividades desempenhadas?
Recrutamento e Seleção Gestão de Competências
Gestão e Avaliação de Desempenho Gestão de Carreira
Gestão de Talento HR Analytics
Gestão de Inovação e Desenvolvimento Gestão da Cultura Organizacional
Gestão de equipa Outra: _________________
8. Área de Atividade da Organização
9. Ano de Fundação da Organização
10. Número de Colaboradores
108
Anexo III - Guião de Entrevista
Data da entrevista:
Duração da Entrevista:
Parte III – Impacto da Revolução 4.0 nos Perfis Funcionais nas Organizações
6- Na sua opinião, hoje para se ser um bom profissional na Indústria 4.0, que
competências deveria possuir?
7- De que forma a empresa preparou os trabalhadores para a transformação digital?
Que medidas implementou?
8- Atualmente, quais sãs as competências que procura quando recruta alguém para a
sua empresa?
9- Como se caracteriza hoje o trabalhador 4.0. na sua organização?
109