Weird Souls Volume 0
Weird Souls Volume 0
Weird Souls Volume 0
número 0
de edith Nesbit
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Todos os direitos reservados.
Copyright © 2020 Pyro Books
Copyright da tradução© 2020 Thassio Rodriguez Capranera
Essa é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares, organizações e
situações são produtos da imaginação do autor ou usados como ficção.
Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.
Ilustração de capa: William Heath Robinson - Arte: Act I. Scene I. Valentine. But, like a cloistress,
she will veiled walk - Ilustração interna: Herbert Railton - Old Doorway, Lamb Court
Culto Literário
do Inominável
É com grande prazer que apresentamos a vocês o
Culto Literário do Inominável, o clube de assi-
natura da Pyro Books. Criado especialmente para
as pessoas que amam literatura fantástica, horror e
ficção científica, trará os principais autores e histó-
rias lançados nas revistas pulp norte-americanas no
começo do século XX, especialmente as famosas
Weird Tales e The Argosy.
Nossa ideia com a revista Weird Souls é trazer todo
o ar de mistério e terror que recheavam essas edições.
Para isso faremos uma curadoria bastante meticulosa,
não apenas dos textos, mas de todo o material gráfico
que produziremos para acompanhar a leitura.
Esperamos que vocês se divirtam e se apaixonem pela
ficção weird, da mesma forma que nós.
e
le estava esperando por ela. Esteve espe-
rando por uma hora e meia em uma
estrada suburbana empoeirada, com uma
sequência de grandes olmos de um lado e alguns
lotes para elegíveis construções no outro — e bem
longe, a sudoeste, as luzes amarelas e intermiten-
tes do Crystal Palace. Não era bem como uma
estrada de campo, pois ela era pavimentada e
tinha postes com lâmpadas, mas não era um
lugar ruim para um encontro, de forma alguma.
E mais à frente, em direção ao cemitério, era
um tanto rural, e quase agradável, especial-
mente ao crepúsculo. Mas o crepúsculo havia
se tornado noite há muito, e ele ainda esperava.
Ele a amava, e estava prestes a casar-se com ela,
com a completa desaprovação de cada uma das
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pessoas sensatas que haviam sido consultadas. E
esse encontro meio clandestino haveria de ocor-
rer naquela noite, para substituir a entrevista
semanal aceita de má vontade – porque um
certo tio rico estava visitando a casa dela, e sua
mãe não era a mulher para manifestar apreço
a um tio endinheirado, que poderia “ir embora”
qualquer dia, uma relação tão profundamente
inaceitável como a dela com ele.
Então ele esperou por ela, e o frio de uma noite
de maio incomumente severa invadiu seus ossos.
O policial passou por ele com uma resposta
ríspida ao seu “Boa noite”. Os ciclistas passa-
vam por ele como fantasmas cinzentos com
buzinas de neblina; eram quase dez da noite, e
ela ainda não havia chegado.
Ele deu de ombros e voltou-se em direção a
seus alojamentos. Sua estrada levava-o para a
casa dela — desejável, cômoda, geminada — e
ele caminhou lentamente enquanto se aproxi-
mava dela. Ela deveria, naquele exato momento,
estar saindo de lá. Mas não estava. Não havia
sinal de movimento ao redor da casa, nenhum
sinal de vida, não havia luzes nem mesmo nas
janelas. E sua família não era uma família que
dormia cedo.
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Ele estancou diante do portão, perguntando-se.
Então notou que a porta da frente estava
escancarada, e o poste da rua iluminava um
pouco o corredor escuro. Havia algo em tudo ali
que não o agradava de forma alguma — aquilo
o assustava um pouco, de fato. A casa tinha um
ar deserto e sombrio. Era obviamente impos-
sível que aquele lugar abrigasse um tio rico. O
velho deveria ter ido embora cedo. Nesse caso…
Ele caminhou pela passarela de ladrilhos
esmaltados, e pôs-se a escutar. Nenhum sinal de
vida. Ele atravessou o corredor. Não havia luz
em qualquer lugar. Onde estaria todo mundo,
e por que a porta da frente estava aberta? Não
havia ninguém na sala de estar; a sala de jantar
e o escritório (nove por sete pés1) estavam
igualmente vazios. Todo mundo estava fora,
evidentemente. Mas a sensação desagradável
de que ele não era, talvez, o primeiro visitante
casual a caminhar porta adentro impeliu-o a
olhar por toda a casa antes de ir embora e fechá-
-la atrás de si. Então ele subiu as escadas, e, na
porta do primeiro quarto com a qual se depa-
rou, riscou um fósforo de cera, assim como fez
Fim
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edith Nesbit (1858-1924)
foi uma escritora e poeta inglesa que publicou durante
sua vida mais de 60 títulos, entre poesia, narrativas
curtas de horror e ficção infantojuvenil e romances.
Apesar de ser conhecida principalmente como autora
de livros infantis – tendo sido adaptada para tv e cinema
inúmeras vezes –, Nesbit é também um ícone do conto de
fantasma, tendo publicado diversas coletâneas com o tema.
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Sobre o conto
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"Então ele subiu as escadas, e, na porta do
primeiro quarto com a qual se deparou, riscou um
fósforo de cera, assim como fez nas salas. Assim
que o fez sentiu que não estava sozinho."
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