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3 o Que É Abusivo Uma Revisão Sobre Relacionamentos Abusivos
3 o Que É Abusivo Uma Revisão Sobre Relacionamentos Abusivos
3 o Que É Abusivo Uma Revisão Sobre Relacionamentos Abusivos
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CAPÍTULO 3
O QUE É ABUSIVO:
UMA REVISÃO SOBRE RELACIONAMENTOS ABUSIVOS 2
Daniela Zibenberg
Letícia Bandeira de Mello da Fonseca Costa
RESUMO
Relacionamentos abusivos são um tema recorrente e crescente, por exemplo nas redes sociais. Contudo, não há na
literatura uma definição clara e uniforme a respeito das características que definem relacionamentos como
abusivos. Diante disso, o presente estudo buscou estudar, a partir de uma análise de literatura, definições de
relacionamentos abusivos. Encontrou-se que tais relacionamentos devem ser caracterizados por uma dinâmica de
poder e domínio, exercida por meio de algum tipo de violência. Discute-se a diferença destes relacionamentos para
violência doméstica e violência conjugal, e sua designação para além de relacionamentos amorosos heteroafetivos.
1. INTRODUÇÃO
Em 2010, uma pesquisa no site de busca Google pelo termo exato “Relacionamento
abusivo” decorreria em 73 resultados distribuídos em 8 páginas. A mesma pesquisa em 2015,
no entanto, decorreria em 136 resultados, distribuídos em 13 páginas. E, se feita em 2021,
decorreria em 187 resultados, distribuídos em 19 páginas. É evidente, portanto, o aumento de
produções e conteúdos sobre relacionamentos abusivos na mídia, com resultados em sites de
busca como o Google aumentando em mais de 200% em uma década. Deste modo, apesar de
relacionamentos abusivos não serem uma invenção nova (eg.: ALMEIDA, 2001), sua
nomenclatura vem sendo popularizada recentemente.
Relacionamento abusivo é um tema recorrente nas mídias sociais, por exemplo a hashtag
#relacionamentoabusivo no Instagram em 2022 contou com mais de 600 mil resultados de
busca. As postagens, no entanto, muitas vezes se entrelaçam com outras definições e
diagnósticos, como relacionamentos com narcisistas, relacionamento tóxico, dependência
emocional, depressão e ansiedade. Contudo, não há definição que operacionalize o que são
relacionamentos abusivos em manuais estatísticos de diagnóstico ou documentos legais (eg.:
CID-11, DSM-5, Código Civil), e este construto ainda é pouco explorado cientificamente.
2
Programa fomentador: CAPES; CNPQ.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Relacionamentos abusivos são, muitas vezes, descritos como compostos por ciclos de
violência que se repetem (NORONHA; DOURADO, 2012). Fases de tensão, agressão e
conflito, são seguidas por fases de desculpas e reconciliação, repletas de juras de amor e
promessas de mudança e melhora. Enquanto a reconciliação é denominada “lua de mel”, os
conflitos ocorrem de maneira crescente, com um aumento da tensão, podendo gerar
consequências cada vez mais graves e fatais. Contudo, não é evidente se o ciclo engloba apenas
a violência física ou também os demais tipos de violência (eg.: moral, patrimonial, psicológica
e sexual).
3. PRESENTE ESTUDO
4. MÉTODO
O presente estudo consistiu em uma revisão de literatura. Foi feita uma busca eletrônica
nas bases de dados Google Scholar, SciELO e PePSIC, utilizando as palavras-chaves
“relacionamento abusivo”. Foram adotados os critérios de inclusão: artigo no idioma Português,
publicado no período entre 2017 e 2021 e conter as palavras chaves no título. Foram
encontrados inicialmente 34 artigos (Google Scholar= 34; SciELO= 0; PePSIC= 0).
5. RESULTADOS
Tabela 1: Características dos Artigos e Definição de Relacionamentos Abusivos nos Artigos Revisados.
Figura 2: Nuvem de palavras organizadas por frequência e categoria usadas para descrever e definir
relacionamentos abusivos.
6. CONCLUSÃO
Deste modo, notou-se uma preocupação dos autores em apontar não só os aspectos
relacionados a violência física, mas também a dinâmica psicológica encontrada na relação
abusiva. A violência psicológica tem se tornado cada vez mais objeto de estudo no campo das
ciências sociais, ganhando reconhecimento social e respaldo legal com a criação da Lei n.
14.188/2021, que tipifica como crime o dano emocional resultante da vivência dessa forma de
violência pelas mulheres (MELLO, 2022).
Setenta por cento dos artigos analisados destacaram a dificuldade da vítima em perceber
que está em um relacionamento abusivo (D’AGOSTINI et al., 2021; SANTOS et al., 2019;
CARVALHO; FREITAS, 2022; SILVA, 2021; SILVA et al., 2020; FERNANDES et al.,
2019). Por exemplo, Leandro et al. (2022) e Carvalho e Freitas (2022) destacam a forma quase
imperceptível que o relacionamento abusivo começa, modificando as configurações do
relacionamento de forma sutil. Ainda, comportamentos abusivos são muitas vezes naturalizados
ou romantizados (FERNANDES et al., 2019; SILVA et al., 2020), entendidos muitas vezes
como formas de cuidado. Tais dados alertam para um dos obstáculos que constituem a
dificuldade da vítima em romper o relacionamento e/ou procurar ajuda relativa a uma queixa
relacional. Destaca-se portanto a importância de amigos e familiares interferirem no
relacionamento e alertarem para o perigo da integridade física e mental da vítima. Além disso,
a falta de percepção sobre estar em um relacionamento abusivo também se constitui como uma
limitação para a construção de instrumentos de autorrelato para avaliação de abusos em
relacionamentos.
Contudo, apesar das similaridades entre esses dois conceitos, compreende-se que os
relacionamentos abusivos podem englobar as demais relações, não sendo exclusivamente
resultante de uma dinâmica conjugal. Ademais, apesar de muito relacionada, relacionamentos
abusivos também não podem ser compreendidos como sinônimo de violência contra a mulher,
porque o conceito engloba todo tipo de relacionamento e gênero, seja ele homoafetivo, familiar,
ou de demais configurações, onde nem sempre a vítima será uma mulher.
Ainda, entende-se que os relacionamentos abusivos também não estão restritos aos
casos de violência doméstica, pois apesar deste conceito considerar de forma mais ampla os
atos de violência que não se restringem somente às relações conjugais e contra as mulheres, se
limitam aos casos de violências que ocorrem no ambiente familiar. Segundo Diniz e Angelim
(2003, p. 22) exemplos de violência doméstica são “abuso sexual de crianças e adolescentes,
incesto, estupro conjugal, espancamento, abuso de idosos”. As autoras postulam que, diferente
de simples atos de violência que ocorrem no ambiente doméstico, ainda permeia um cenário
complexo onde a lealdade familiar impossibilita o rompimento desse ciclo de violência.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, T. Violência nos relacionamentos amorosos. Brasil medicina, [S. l.], p. 1-7, 23.
2001. Retirado de https://www.academia.edu/download/6232374/artigo15.pdf. Acessado em:
Set. 2022.
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