Neurociência Das Emoções Parte 2
Neurociência Das Emoções Parte 2
Neurociência Das Emoções Parte 2
2
capazes de promover sensíveis e diferentes movimentos faciais e reações
(Caramaschi; Joaquim, 2021).
No quadro a seguir, diferenciamos os sinais faciais que, em conjunto,
expressam um complexo sistema de informações dos indivíduos. Quando
identificados por outras pessoas em um processo de interação, esses sinais são
base para que façamos julgamentos ou as chamadas primeiras impressões: “tais
avaliações normalmente são processos complexos de centenas de informações
verbais e não verbais que nos proporcionam um resultado intuitivo, a cujos
meandros não temos acesso racional” (Caramaschi; Joaquim, 2021, p. 19).
3
conseguem expressar elementos internos de uma pessoa, ou seja, eles
externalizam sensações pessoais e individuais.
As sensações internas incluem tanto estados subjetivos, como os estados
de ânimo ou humor, quanto os estados fisiológico e orgânico. Por exemplo,
podemos perceber a expressão de sono de aluno entediados na sala de aula
(estado orgânico) como podemos perceber, por expressões faciais de sinais de
tristeza, uma condição emocional que pode variar da tristeza até um quadro
melancólico e/ou patológico, como a depressão. Tais considerações são
importantes porque conseguimos compreender que as emoções não se limitam a
um sistema interno de sensações e sentimentos, mas que são uma experiência
subjetiva que pode ser expressa na face. Ou seja, as emoções não são,
necessariamente, guardadas e exclusivas às pessoas que as sentem
(Caramaschi; Joaquim, 2021).
Crianças são bastante sensíveis às expressões de seus pais. Elas
conseguem perceber informações de riscos, sensações desagradáveis ou
prazerosas a partir da expressão dos seus pais e tendem a imitá-los, evitando
estímulos desagradáveis já nos primeiros dias de vida. Ou seja, as crianças
tendem a incrementar o seu repertório de expressões inatas das emoções com
aquilo que aprendem ao longo do seu desenvolvimento. Isso não significa, porém,
que as crianças são livres para se manifestar, pois o componente cultural em que
estão inseridas exerce papel importante para que elas deixem de expressar suas
emoções livremente para que aprendam o que é adequado para as convenções
da cultura e da sociedade em que está inserida. Exemplo claro disso é a máxima
muito comum em nossa sociedade de que “homens não choram” (Caramaschi;
Joaquim, 2021).
Chegamos a um ponto importante para reflexão: como aprendemos a
expressar nossas emoções? Caramaschi e Joaquim (2021) explicam que as
pessoas tendem a aprender por: a) imitação, como as crianças que imitam seus
cuidadores; b) observação, como as pessoas que se inserem em diferentes
países e culturas; c) instrução, quando adultos explicam às crianças que, embora
aborrecidas, elas não devem fazer cara feia as pessoas ao seu entorno. Tais
afirmações nos permitem compreender o papel importante que o social,
especialmente um adulto (seja ele professor, cuidador, pais etc.), possuem na
regulação emocional de uma criança, dissolvendo a ideia, por vezes prevalente,
4
de que as dificuldades emocionais de uma criança são consequência exclusiva
de limitações pessoais ou de patologias.
Obviamente que a interação humana é complexa e que a construção de
um repertório de expressividade pode ser vivenciada com especial dificuldade
para algumas pessoas, resultado, em casos mais graves, em timidez excessiva,
fobia social etc. Treinos de habilidade sociais e a construção progressiva de novas
estratégias tendem a ser eficazes nesses casos. Abaixo, listamos 3 situações
apontadas por Ekman (2003), citado por Caramaschi e Joaquim (2021), em que a
expressividade pode falhar.
5
culturas, Paul Ekman e colaboradores propuseram que as emoções básicas
podem ser anatomicamente definidas, implicando em uma base biológica inata e
universal da experiência emocional (Freitas-Magalhaes, 2013).
Antes disso, o próprio Charles Darwin já havia feito menção sobre um
possível controle genético das emoções, pois havia observado que expressões
faciais, atitudes corporais, reações autonômicas e comportamentos instintivos
eram semelhantes em diversas espécies. Na espécie humana, por sua vez, a
experiência emocional humana também parece muito homogênea mesmo quando
comparamos povos racial e geograficamente isolados. Isso não somente na
expressão da emoção, mas também parece haver uma tendência comum das
situações que normalmente evocam o medo e a ansiedade em nossa espécie
(Ramos, 2015).
Embora já tenhamos abordado ao longo dessa etapa o conceito da palavra
emoção, é importante ressaltar que a definição de emoção no campo da
Psicologia é complexo e possui diferentes posicionamentos e linhas de
explicação. Aqui, vamos compreender as emoções a partir de um modelo
integrativo para em seguida discorrer sobre um dos seus componentes, que é a
expressão. O modelo integrativo pressupõe que as emoções não são mais
compreendidas como uma reação única, mas como um processo que envolve
múltiplas variáveis. “Nesse sentido, a emoção poderia ser definida como uma
condição complexa e momentânea que surge em experiências de caráter afetivo,
provocando alterações em várias áreas do funcionamento psicológico e
fisiológico, preparando o indivíduo para a ação” (Miguel, 2015 p. 153).
Embora seja comum encontrar o termo emoções básicas, não existe um
consenso quanto à definição em relação a quantas e quais são as emoções
básicas. Porém, a maioria dos autores costuma citar as seguintes ou alguma
variação delas: alegria, medo, surpresa, tristeza, nojo e raiva. E, assim como a
delimitação das emoções difere entre os autores, atualmente existem diferentes
modelos teóricos os principais componentes da emoção. De forma geral, sabemos
que ela inclui reação muscular interna, comportamento expresso, impressão
afetiva subjetiva e cognições (Miguel, 2015).
Sabe-se que as emoções apresentam certa variedade em sua forma de
expressão nos seus aspectos comportamentais e no conjunto de estruturas
cerebrais envolvidos em sua expressão. Atualmente, o avanço de técnicas de
neuroimagem funcional, especialmente da Ressonância Nuclear Magnética
6
Funcional, tem permitido uma série de estudos que sugerem a existência de
alguns substratos cerebrais mais bem definidos para as emoções (Ramos, 2015).
A seguir, apresentamos os mecanismos envolvidos na expressão das
emoções alegria, medo, surpresa, tristeza e nojo a partir da perspectiva de
Joaquim (2021).
2.1 Alegria
2.2 Medo
7
alguns contextos, mas em determinadas culturas ela pode representar um
recomeço, uma nova oportunidade, e, portanto, não é algo a se temer (Pereira;
Joaquim, 2021a).
Se formos analisar o papel do medo na preservação da espécie humana, é
possível reconhecermos que ele é importante para sobrevivência, pois é ele que
nos protege de situações perigosas (Pereira, Joaquim, 2021a).
A neurobiologia do medo abrange impreterivelmente a amígdala, pois ela
2.3 Surpresa
2.4 Tristeza
8
2.5 Nojo
2.6 Raiva
9
pássaros. Alguns autores defendem a análise do cérebro a partir de 3
diferenciações. O primeiro é o chamado cérebro reptiliano, ou seja, uma região
mais central do cérebro, presente nos animais mais primitivos, ou, por assim dizer,
menos complexos. Ele está associado a comportamentos instintivos, como fome,
reprodução, fuga e defesa. A segunda “camada” do cérebro faz referência ao
sistema límbico, que compreende uma série de estrutura que veremos adiante, e
está associado a comportamentos mais complexos. O nível final do cérebro é
chamado de “neocortex”, que alcançou seu pico nos primatas, e se relaciona
diretamente com a inteligência, consciência e subsidia o comportamento social
complexo em que estamos inseridos (Amthor, 2017).
Embora não haja um acordo entre as estruturas cerebrais que compõem o
sistema límbico, consideramos que “fazem parte do lobo límbico a região do septo
(área subcalosa), o giro do cíngulo, o giro para-hipocampal, o hipocampo, parte
da ínsula e da amígdala, o pólo temporal e, ainda, as porções medial e orbital da
área pré-frontal" (Cosenza, 2014, p. 38). Algumas estruturas, não citadas acima,
funcionam como uma mudança gradativa entre as regiões mais profundas do
cérebro, como partes da ínsula e do córtex pré-frontal medial e orbital. Na tabela
abaixo, abordaremos as estruturas mais relevantes:
10
Amígdala Está bastante associada com a coordenação de respostas
emocionais, especialmente com o medo, e na regulação do
comportamento agressivo. Também participa de processos
cognitivos, como atenção, percepção e memória. Está
associada ao processo de atribuir significado emocional a
estímulos externos.
Créditos: Cosenza, 2014.
11
perspectiva laboral, os grêmios ensinavam principalmente por meio da imitação.
Cabia ao aprendiz imitar ou fazer a réplica do modelo que o mestre ensinava.
No Renascimento, por sua vez, havia um único conhecimento verdadeiro
que deveria ser aprendido e esse conhecimento era religioso ou aquele aprovado
pela igreja, em que regras mnemônicas eram virtudes a ser cultivadas. Na
sociedade moderna atual, por sua vez, a educação parece generalizada em
diferentes locais e pessoas, em uma formação permanente e massiva. Pozo
(2016) ressalta que as demandas de aprendizagem atuais não se limitam ao
contexto educacional, afinal cada vez mais temos que aprender novas exigências,
como por exemplo, o manejo com as tecnologias do nosso cotidiano (celular, caixa
eletrônico, transporte, televisão etc.). Ou seja, em nossa cultura, estamos
inseridos a distintas comunidades de aprendizagem às quais pertencemos ao
mesmo tempo.
Atualmente sabemos que o conhecimento não está restrito à figura de uma
pessoa (um líder religioso, como no passado, por exemplo) nem mesmo na figura
do professor. A informação não só está mais acessível (haja vista os canais de
internet, cada vez mais acessíveis), como ela nos procura a depender dos
diferentes canais de comunicação social (aplicativos de celular, propagandas e
programas de televisão). Isso muda drasticamente o que esperamos da
aprendizagem e vale o questionamento: afinal, o que é aprendizagem? É
transmitir conhecimento ou refletir sobre ele?
A aprendizagem repetitiva tem se mostrado cada vez mais ineficaz e
insuficiente nos dias atuais. O foco da aprendizagem deixou de ser o
armazenamento ou a reprodução de um conhecimento ou de uma informação,
tampouco o nosso acesso a ela, mas, sobretudo o que fazemos com essas
informações, ou seja, como usá-las de forma relevante. A seguir, vamos
compreender como as perspectivas atuais, pautadas nas neurociências, vêm
contribuindo para compreender como o nosso cérebro responde às demandas
contemporâneas de aprendizagem, e, especialmente, como as emoções auxiliam
na aprendizagem eficaz.
12
envolvidos nos processos de aprendizagem a partir de uma perspectiva mais atual
das neurociências, que integram como o nosso aparato orgânico, e aqui se
referindo especialmente ao cérebro, responde às demandas contemporâneas da
nossa forma de viver em sociedade e na nossa cultura.
Sabemos que o bebê humano nasce imaturo se compararmos com bebês
de outras espécies. Isso quer dizer que ele nasce, além de dependente de outro
humano, com características que ainda precisam ser desenvolvidas para que
garantam a sua sobrevivência, e com o cérebro isso não é diferente. Porém,
quando atinge sua maturação, somos capazes de realizar muitas funções que
outras espécies não possuem.
Hoje sabemos que quando um bebê nasce, parte do sistema nervoso já foi
construído no período embrionário e fetal. Nas primeiras semanas embrionárias,
o sistema nervoso inicia o seu desenvolvimento a partir de um minúsculo tubo
com paredes formadas por células-tronco, que mais tarde formarão os neurônios.
A contínua divisão celular permite que o embrião vá aumentando de tamanho, e
o pequeno tubo vai ganhando paredes mais espessas. As células-tronco se
deslocam para os lugares que estão pré-determinadas geneticamente e começam
a se diferenciar, ou seja, começam a desenvolver seus prolongamentos, dendritos
e axônios. Vale ressaltar que os neurônios podem ter diferentes formatos e
tamanhos, a depender de cada região do sistema nervoso. A fase seguinte tem
como foco a formação das conexões entre os neurônios, criando circuitos,
ocorrendo o que chamamos de sinaptogênese, ou seja, a formação das sinapses
que irão completar efetivamente os circuitos nervosos (Cosenza; Guerra, 2011).
Conhecer o processo de formação do cérebro é relevante porque nos
permite compreender que as primeiras fases do desenvolvimento do sistema
nervoso são fundamentais para que as estruturas cerebrais possam desempenhar
suas funções, de modo que erros em alguma dessas fases podem ter
consequências patológicas ou incapacidades importantes. Após o nascimento, o
bebê possui um exponencial desenvolvimento motor que permitirá sua interação
com o ambiente, e essas interações é que estimularão a formação de novas
13
sinapses em todo sistema nervoso, reforçando a mielinização das células e
tornando as vias mais eficientes. É por essa razão que o cérebro da criança dobra
de peso no primeiro ano de vida, tão importante são as novas ligações.
Temos aqui um ponto importante sobre a aprendizagem: a interação com
o ambiente é fundamental, porque permitirá a formação de conexões nervosas e
consequentemente a aprendizagem e o aparecimento de novos comportamentos.
Tal constatação é especialmente importante nos primeiros anos de vida, em que
o cérebro é mais plástico, ou mais permeável, favorecendo a aprendizagem, já
que está favorável para o aparecimento de novas ligações sinápticas. Obviamente
que isso não significa que o cérebro adulto não seja capaz de aprender. Ao
contrário disso, pesquisadores vêm reforçando a ideia da permanente plasticidade
do cérebro, ou seja, a sua capacidade de fazer e desfazer ligações entre os
neurônios a partir das experiências vividas. Ao longo da vida, é preciso reconhecer
que, embora a plasticidade persista, ela tende a diminuir, exigindo mais tempo e
esforço para a aprendizagem (Cosenza; Guerra, 2011).
Até aqui compreendemos a aprendizagem a partir de uma perspectiva
bioquímica, por meio dos sistemas de conexões e sinapses: “do ponto de vista
neurobiológico a aprendizagem se traduz pela formação e consolidação das
ligações entre células nervosas. É fruto de modificações químicas e estruturais no
sistema nervoso de cada um, que exigem energia e tempo para se manifestar”
(Cosenza, Guerra, 2011, p. 38).
14
A informação a ser aprendida e memorizada origina-se habitualmente na
periferia e é levada ao SNC por sinais elétricos (potenciais de ação) por
vias aferentes. Muitas vezes, porém, a informação que será ou não
memorizada é endógena (pensamentos, ideias, ordens). No SNC, é
transformada em sinais bioquímicos que se armazenam e se
autorreproduzem por diversos períodos de tempo (memória imediata:
segundos; memórias de curta duração: minutos, horas; memórias de
longa duração: mais de seis horas, dias, anos). No momento da
evocação, esses sinais são reconvertidos em sinais elétricos que se
dirigem aos órgãos efetores (conjuntos musculares, glândulas),
produzindo a evocação específica de cada informação. (Quevedo;
Izquierdo, 2020, p. 220)
15
REFERÊNCIAS
16
_____. Nojo. In: JOAQUIM, R. M. (Org.). Neuropsicologia das emoções:
caracterização, expressão fácil e aspectos psicopatológicos. Belo Horizonte:
Editora Ampla, 2021.
17