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As Nações Indígenas Na Coleção de Livros Didáticos História
As Nações Indígenas Na Coleção de Livros Didáticos História
As Nações Indígenas Na Coleção de Livros Didáticos História
ISSN: 1981-2434
Dourados - MS - Brasil
EDSON SILVA**
Abstract: The article presents a qualitative research and was configured as a document
analysis study, specifically aimed at investigating the textual and imaginary production about
indigenous nations in the textbook collection “History, society & citizenship”, by the author
Alfredo Boulos Júnior, published by the FTD publisher, approved in the National Textbook
Program (PNLD, 2018), for the curriculum component History, high school stage. The path taken
to guide the research in the elucidation of the proposed question was initially to carry out the
survey, selection, study, elaboration of records and bibliography annotations (books, articles)
concerning the research theme. In the second moment, proceed with a systematic reading and
* Apesar deste trabalho ter como objeto de estudo as imagens presentes na coleção de livros didáticos,
ao longo deste texto, elas não são expostas, devido à possibilidade de restrição do direito autoral sobre
o uso deste material presente nas obras.
** Licenciatura Plena em História pela Universidade do Estado da Bahia (2012), Especialização em
Educação a Distância pela Universidade do Estado da Bahia (2019), Especialização em Inclusão e
Diversidade na Educação (2020) e Mestrado em História pela Universidade Federal de Campina Grande
(2015). Doutorando em Memória: Linguagem e Sociedade pela Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia (UESB). E-mail: edisomsilva@gmail.com
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study of the chapters of the three books that make up the didactic collection “History, society
& citizenship”, by the author Alfredo Boulos Júnior, from the High School stage, identifying the
texts and images that present the theme of history and culture of indigenous peoples.
Keywords: Textbooks; History; Culture; Indigenous.
Introdução
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(a), autores (as), técnicos (as) gráficos, programadores (as), ilustradores (as), dentre
outros. Assim sendo, como produto da industrial cultural, a obra não é produto de
escolhas estritas do autor. Contudo, de um conjunto de outros especialistas que
participaram na produção. Apesar disto, deve-se observar que os usos feitos por
professores e estudantes dos livros didáticos no cotidiano escolar são diversos,
podem constituírem-se em instrumentos criativos e inventivos de ensino, portanto,
não uma mera reprodução das concepções dos autores e editoras (BITTENCOURT,
2004, p.72-73).
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Marco legal importante para a educação brasileiro foi a lei 11.645/2008, que
institui a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena
nos currículos escolares. A expectativa no campo da educação era de que a citada
legislação levasse a uma renovação da produção didática, no que diz respeito
ao ensino da história e da cultura indígena, superando os conceitos estanques, o
imaginário estereotipado, as generalizações, as discriminações, os preconceitos e o
desconhecimento.
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Colonialidade e interculturalidade
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(PLND). A coleção foi aprovada no PLND 2018, sendo utilizada por professores de
História e estudantes em diversas salas de aulas de escolas públicas país.
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No primeiro capítulo, outro povo indígena citado são os Kayabi, nação que
habita no Estado do Mato Grosso. Ao tratar dos diferentes conceitos de tempo, o
texto do livro didático apresenta a nação indígena como exemplo de comunidade
que organiza a noção a partir dos fenômenos naturais, pelo tempo da natureza.
Diferente dos Wajãpi, os Kayabi foram mencionados dentro do texto principal do
capítulo. Entretanto, aparecem como exemplo, como algo pontual, uma informação
dentro de um contexto, portanto, sem uma apresentação da complexidade do povo
indígena e da sua concepção de tempo. Na mesma página aparece uma cerâmica
indígena atribuída a nação Asurini e um texto curto (boxe) com informações somente
da localização do território e do tronco linguístico da língua, o Tupi. Constata-se que
as nações indígenas aparecem no livro, mas de maneira diminuta, fragmentada e
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Outro aspecto que chama atenção nas imagens presentes neste capítulo
(páginas 24, 25, 27 e 28) é que todas são de nações indígenas que habitam territórios
nas regiões Norte (maior parte das imagens) e Centro-Oeste. Certo que a maior
parte das nações indígenas brasileiras estão situadas nas regiões citadas, mas não
exclusivamente. As sequências de imagens acabam invisibilizando outras nações
indígenas presentes nas demais regiões do território nacional e criando um imaginário
reducionista, associando a existência das sociedades indígenas restrita a região da
floresta Amazônica. O livro produz uma leitura limitada da diversidade das nações
indígenas brasileiras, levando os estudantes a identificarem os indígenas distantes ou
ausentes das suas localidades, do Estado que residem e das regiões Nordeste, Sul e
Sudoeste.
Num subtítulo “As lutas dos povos indígenas” são mencionadas algumas
organizações lideradas por indígenas e a conquista de direitos, resultado das lutas
empreendidas, como a participação na elaboração da Constituição de 1988, que
resultou no reconhecimento do direito à diferença, o direito a demarcação dos territórios
indígenas, o direito a educação escolar indígena diferenciada, com seus processos
próprios de aprendizagem. O texto deste subtítulo aparece como um ponto relevante
no livro didático, pontuando a presença das nações indígenas na sociedade brasileira
e o protagonismo indígena na luta política, com a conquista de direitos de cidadania
e dos seus territórios. Apesar deste reconhecimento importante, contribuições na
formação da sociedade brasileira são tratadas de maneira tímida e superficial, sendo
citado apenas algumas palavras de origem indígena num texto de um boxe, seção
“Dialogando”, presentes na língua portuguesa falada no Brasil. De uma maneira geral,
os saberes indígenas permanecem invisibilizados na coleção didática.
2 O Governo Geral constitui enquanto uma forma de organização da administração colonial portuguesa
para centralizar as decisões e criar condições de defesa do território. Em suma, foi uma forma do poder
da coroa portuguesa se fazer presente no território colonial na América, estabelecendo um governo,
designando representantes da justiça e responsáveis pela defesa militar. O primeiro governador-geral
foi Tomé de Sousa, designado em 1549, e a sede administrativa a cidade de Salvador.
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indígenas as doenças trazidas pelos colonos (gripe, varíola) para as quais não tinham
imunidade.
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Considerações finais
principal do capítulo. Parte considerável das imagens inseridas nos livros são de
indígenas da região do Norte do Brasil, o que induz uma leitura restrita, associando
a presença apenas na região, e ignorando as nações distribuídas no conjunto do
território, inclusive em áreas urbanas. Além disso, a coleção não apresenta uma
sintonia com a nova historiografia voltada para a temática da história indígena, que
ressalta o protagonismo histórico a partir das relações de resistência e aliança, e as
trocas culturais.
Nos três livros (1°, 2° e 3° ano) que compõem a coleção a visibilidade maior das
nações indígenas está localizada nos capítulos que tratam do contexto da colonização
portuguesa. A temática da história e da cultura indígena permanece situada no
passado colonial, reservando a invisibilidade nos contextos históricos do Brasil Império
e República. Ao situá-los num passado remoto a coleção didática coloca os povos
indígenas numa condição de subalternidade, produz estereótipos e preconceitos.
Por outro lado, estão ausentes na coleção didática referências a contribuições no
campo social, econômico e político, sendo registradas de maneira breve, apenas
contribuições na língua portuguesa e nos hábitos alimentares. Ignoram-se os saberes
e valores das diversas nações indígenas. Em síntese, a invisibilidade da história e
da cultura dos diferentes grupos indígenas, os desconsideram como sujeitos sociais
e partícipes da formação da sociedade brasileira, produz o desconhecimento, gera
situações de preconceito e discriminação étnico-racial. A invisibilidade das nações
indígenas faz parte do conjunto de relações de poder ainda latentes na sociedade, no
campo da educação e na produção do livro didático, que produz silenciamento do ser
e dos saberes indígenas.
Referências:
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As nações indígenas na coleção de livros didáticos história, sociedade & cidadania*
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História sociedade & cidadania. 3° ano. 2. Ed. São
Paulo: FTD, 2016.
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História sociedade & cidadania. 2° ano. 2. Ed. São
Paulo: FTD, 2016.
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História sociedade & cidadania. 1° ano. 2. Ed. São
Paulo: FTD, 2016.
LIMA E FONSECA, Thais Nívia de. História & ensino de História. 2ª. Ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2006.
OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; CANDAU, Vera Maria Ferrão. Pedagogia decolonial
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Revista História em Reflexão, Vol. 16, N. 31 | 2022 | Dossiê Ensino de História e Cultura Indígena nas escolas
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