Science">
Paper - Segunda Avaliação - CPB - Wildson Ronielle
Paper - Segunda Avaliação - CPB - Wildson Ronielle
Paper - Segunda Avaliação - CPB - Wildson Ronielle
CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CAMPINA GRANDE – PB
2023
Passados Presentes: Que relação podemos fazer entre o modelo de nação
brasileira e o pensamento político brasileiro?
RESUMO
O Brasil passou por diferentes fases e influências culturais ao longo de sua história,
incluindo o período colonial, a escravidão, a independência, a era republicana, a
industrialização e a globalização. Esses eventos moldaram a sociedade brasileira e
influenciaram a forma como o pensamento político brasileiro se desenvolveu para interpretar o
Brasil. Ao explorar essa transição, a fim de oferecer uma visão sobre a relação entre o modelo
de nação brasileira e o pensamento político. Este artigo busca explorar a relação entre o modelo
nacional brasileiro e o pensamento político brasileiro a partir das contribuições de importantes
autores que procuraram, por meio de suas obras, examina a questão da identidade nacional: a
formação social e cultural do Brasil, as influências históricas, as relações de poder e as
possibilidades e desafios para a construção de uma democracia estável.
Past Present: What relationship can we make between the Brazilian nation model and
Brazilian political thought?
ABSTRACT
Brazil has gone through different phases and cultural influences throughout its history,
including the colonial period, slavery, independence, the republican era, industrialization, and
globalization. These events have shaped Brazilian society and influenced the way Brazilian
political thought has developed to interpret Brazil. In exploring this transition, in order to offer
1
Aluno do bacharelado em Ciências Sociais, Unidade Acadêmica de Ciências Sociais, UFCG, Campina
Grande – PB, e-mail: wildson.ronielle28@gmail.com
insight into the relationship between the Brazilian nation model and political thought. This
article seeks to explore the relationship between the Brazilian nation model and Brazilian
political thought from the contributions of important authors who sought, through their works,
to examine the question of national identity: the social and cultural formation of Brazil,
historical influences, power relations, and the possibilities and challenges for the construction
of a stable democracy.
INTRODUÇÃO
2
Durante o período de 1920 a 1940, o ensaísmo brasileiro assumiu um papel de destaque na literatura e
no pensamento sociopolítico do país. Escritores e intelectuais dedicaram-se à produção de ensaios literários e
críticos que visavam refletir sobre a cultura e a identidade brasileira. Entre os pensadores mais influentes desse
período, destaca-se Gilberto Freyre (1900-1987), cuja obra "Casa Grande & Senzala" (1933) enfatizou a
importância da miscigenação e do hibridismo cultural na formação da identidade nacional brasileira. Freyre
também ressaltou a influência da família como a primeira unidade de poder político, destacando suas
características oligárquicas desde sua formação. Outro pensador proeminente dessa época foi Sérgio Buarque de
Holanda (1902-1982), autor de "Raízes do Brasil" (1936). Nessa obra, Buarque de Holanda analisou as bases
históricas que moldaram as raízes brasileiras, como o tradicional personalismo e a falta de coesão social. Ele
argumentou que a ausência de um projeto coeso e a preocupação da elite em manter o poder são obstáculos para o
desenvolvimento do país. Na perspectiva marxista, Caio Prado Junior (1907-1990) em sua obra "Formação do
Brasil Contemporâneo" (1942) criticou o sistema capitalista, a colonização europeia no Brasil e a elite dominante.
Prado Junior argumentou que a independência do país foi um marco importante para a criação da nacionalidade,
mas não trouxe mudanças significativas na estrutura econômica e social. A elite dominante brasileira, composta
por grandes proprietários de terras, manteve o controle do poder político e econômico, preservando seus privilégios
mesmo após a transferência do poder para os grandes centros urbanos. Entre as décadas de 1950 e 1990, ocorreu
uma efervescência intelectual no Brasil, com o surgimento de pensadores que buscavam compreender e refletir
sobre os desafios e problemas da sociedade brasileira. Florestan Fernandes (1920-1995), em sua obra "A
Revolução Burguesa no Brasil" (1974), criticou as elites políticas autoritárias e seu uso do poder para manter
privilégios e influência. Ele defendeu a participação popular como forma de superar as desigualdades sociais.
Raymundo Faoro (1925-2003), em "Os Donos do Poder" (1958), realizou uma análise crítica da estrutura e
dinâmica do poder no Brasil. Faoro descreveu a elite política brasileira como patrimonialista, onde o poder é visto
como uma propriedade privada e hereditária, em vez de um bem público. Segundo ele, as tradições políticas e
culturais brasileiras resultam em uma estrutura fechada e centralizada, onde a elite se perpetua no poder por meio
de alianças, corrupção e clientelismo.
entendimento dos padrões e dilemas fundamentais da sociedade e da política brasileira
(BRANDÃO, 2007).
Ou seja, pode-se aludir a ideia de uma identidade que está relacionada ao vínculo do
cidadão com uma referência social, como raça, idade e sexo, símbolos, costumes que permite
sua localização dentro do sistema e sua identificação pelos outros. Dessa forma, a identidade
social é simultaneamente uma maneira de identificar e diferenciar, incluir e excluir, unindo
aqueles que compartilham algo em comum e distinguindo-os dos demais. No entanto, surge um
questionamento diante da ideia de nação ou unidade em um país que marginaliza uma parcela
significativa da população em termos políticos e econômicos. Como conceber a democracia
quando a esfera política parece negligenciar seus principais atores? Como propor algo "novo",
como uma moral cristã e uma ordem militar, quando a história brasileira tem sido marcada pela
violência e pela religião? O próprio povo brasileiro é um testemunho vivo do fracasso dessas
abordagens.
Assim, influenciado por diversas correntes teóricas e ideológicas, tanto internas quanto
externas. Teorias como o positivismo, o marxismo, o estruturalismo, o liberalismo e o
conservadorismo tiveram impacto no desenvolvimento do pensamento brasileiro. No entanto,
é importante ressaltar que essas influências foram reinterpretadas e adaptadas ao contexto e às
questões específicas do Brasil. Assim, a ideia de um pensamento político brasileiro surge da
necessidade de produzir uma interpretação da identidade nacional a partir da compreensão e
análise das características e peculiaridades do contexto brasileiro.
DEBATE TEORICO
Essa perspectiva crítica de Faoro suscita debates e reflexões sobre a natureza e o caráter
do pensamento político no Brasil, bem como sobre as influências externas e internas que
moldam suas particularidades. Além disso, suas observações levantam questões sobre a relação
entre a classe dominante e as ideologias políticas adotadas no país, questionando se essas
ideologias são genuinamente voltadas para a transformação social ou apenas servem aos
interesses das elites no poder. Dessa forma, a análise de Faoro oferece uma visão provocativa
e contestadora sobre o Pensamento Político Brasileiro, chamando a atenção para a necessidade
de examinar criticamente as ideias políticas e suas raízes históricas e culturais no contexto
brasileiro.
Além disso, o pensamento político brasileiro tem sido objeto de análise desde o período
colonial, destacando-se diferentes perspectivas sobre sua natureza e influências. Ressalta-se
que, apesar das considerações levantadas por Raymundo Faoro, Christian Lynch adota uma
abordagem distinta ao empregar a expressão "pensamento político". Nesse contexto, essa
3
Ver FAORO, Raymundo. Existe um pensamento político brasileiro?. Estudos avançados, v. 1, p. 9-58,
1987.
expressão é utilizada no sentido amplamente aceito na literatura internacional, referindo-se a
um conjunto de autores ou obras que são característicos de uma determinada nacionalidade
(LYNCH, 2013).
4
Faoro não nega a existência de pensadores políticos brasileiros ou a produção intelectual no país. Ele
reconhece a presença de uma rica tradição intelectual no Brasil, porém argumenta que essa tradição foi influenciada
por correntes de pensamento estrangeiras. Nesse sentido, ele ressalta a importância de compreender o pensamento
político brasileiro dentro de um contexto global, considerando as trocas e interações com teorias e ideias
provenientes de outras nações. Essa dinâmica contribuiu para a formação de uma identidade intelectual,
caracterizada por uma combinação de elementos endógenos e exógenos.
é dinâmica e complexa, uma vez que o pensamento político também contribui para a construção
e redefinição de pensar o modelo de nação ao longo do tempo5.
DISCURSÃO
5
Essa diversidade favoreceu a acumulação de capital teórico e, de maneira alguma, impediu a
consolidação de um campo intelectual distinto, que se baseava no reconhecimento de uma rica tradição de
pensamento social e político no Brasil. Essa reflexão sobre os "clássicos" do pensamento brasileiro inclui figuras
como o visconde de Uruguai, Tavares Bastos, Sílvio Romero, Joaquim Nabuco, Ruy Barbosa, Euclides da Cunha,
Alberto Torres, Oliveira Vianna, Azevedo Amaral, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Nestor Duarte,
Caio Prado Jr., Raymundo Faoro, Victor Nunes Leal, Guerreiro Ramos, Florestan Fernandes, Celso Furtado, entre
outros. Esses intelectuais contribuíram para a consolidação de um corpus teórico singular, enriquecendo o
panorama intelectual brasileiro com suas ideias e perspectivas distintas. Ver Brandão, 2007.
6
Ver SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Leya, 2017.
fatores moldaram as percepções e as representações culturais, afetando, não raras vezes, a
identificação dos brasileiros com a sua própria nação.
Oliveira Viana (1974) argumenta que o Brasil possui duas realidades distintas que
coexistem e influenciam o desenvolvimento do país. O "Brasil real" refere-se à realidade
concreta vivenciada pelas populações, marcada por características sociais, econômicas e
culturais específicas. É o Brasil das relações cotidianas, das práticas sociais, dos costumes, das
desigualdades e das dinâmicas locais. Nessa concepção, Viana destaca a importância de
compreender a diversidade e as particularidades regionais do país, reconhecendo que essas
realidades locais têm um impacto significativo no funcionamento da sociedade como um todo.
Por outro lado, o "Brasil legal" refere-se à ordem jurídica formal, às leis, aos princípios
constitucionais e às instituições governamentais. É o Brasil das normas estabelecidas, da
estrutura oficial de poder, da administração pública e do sistema legal. Viana destaca que o
Brasil legal muitas vezes não reflete adequadamente a realidade concreta vivida pelas
populações, e que há uma distância entre o que está previsto na legislação e como as coisas de
fato ocorrem na prática.
7
FERREIRA, Poliana da Silva et al. População Negra e prisão no Brasil: Impactos Da Covid. Afro
Cebrap: Informativo Desigualdades Raciais e Covid-19, São Paulo, v. 4, p. 1-35, 2020.
estimativa é baseada na quantia requerida para sustentar uma família de quatro pessoas. O valor
necessário representa 5 vezes o salário mínimo oficial de R$ 1.302,00. No mês anterior, em
março, o valor necessário era de R$ 6.571,52, corresponde a cinco (5) vezes do piso mínimo.
Em abril de 2022, o salário mínimo necessário foi calculado em R$ 6.754,33, equivalente a
quase 6 (seis) vezes o valor vigente na época, que era R$ 1.212,00. Essas informações
evidenciam a diferença entre o salário mínimo oficial e o valor necessário para garantir
condições mínimas de subsistência às famílias no Brasil.
Esses exemplos apresentam como a distinção entre "Brasil real" e "Brasil legal" ainda é
pertinente na atualidade brasileira. Ela demonstra que a realidade concreta do país muitas vezes
não corresponde ao que é estabelecido legalmente, revelando desafios e contradições que
precisam ser enfrentados para uma efetiva transformação social. Similarmente, ao se lançar a
pensar o Brasil, José de Souza Martins, destaca a persistência de certos padrões sociais ao longo
do tempo que, Segundo o autor, em contraposição à ideia de um progresso acelerado e
revolucionário a história brasileira é lenta. Ou seja, a transformação social ocorre de forma
gradual, muitas vezes imperceptível, e que está enraizado em estruturas e práticas arraigadas na
sociedade.
Além disso, de acordo com José de Souza Martins, a história lenta utilizada como
instrumento de poder, pode-se também ser observada nas transformações culturais e nas
mentalidades da sociedade brasileira. Apesar de avanços em questões como direitos humanos,
diversidade e igualdade de gênero, certas visões conservadoras e preconceituosas persistem em
setores da sociedade, refletindo uma transformação gradual e desigual nas mentalidades. Por
exemplo, durante o período compreendido entre 2013 e 2018, ocorreu uma notável constatação
no Brasil, surpreendendo muitos: a existência de uma direita/extrema-direita militante e
combativa no país. Essa vertente da sociedade brasileira se mobilizou nas ruas, abandonando a
reticência anteriormente presente, e, no decorrer do processo do impeachment de Dilma
Rousseff, passou a exercer uma hegemonia na imprensa, nas redes sociais e na definição da
agenda política e moral do país.
8
Entre agosto de 2021 e julho de 2022, o desmatamento na Amazônia atingiu uma área de 11.568 km²,
equivalente ao território da Jamaica, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE) nesta quarta-feira (30). Embora essa taxa represente uma redução de 11% em relação ao ano
anterior, interrompendo uma sequência de aumentos consecutivos desde 2018, ainda é considerada elevada. Desde
2013, a região amazônica tem enfrentado um aumento no desmatamento, após um período de queda nos anos 2000.
Com a posse do presidente Jair Bolsonaro em 2019, esses números se agravaram ainda mais. O atual governo, que
encerra seu mandato em 2022, estabeleceu recordes de destruição florestal, resultando em um aumento de 59,9%
no desmatamento em comparação aos quatro anos anteriores, durante os governos de Dilma Rousseff e Michel
Temer. A área perdida desde 2019 é maior do que o território do estado do Rio de Janeiro. Ver VICK, Mariana. A
curva do desmate no caos ambiental de Bolsonaro. Nexo jornal, São Paulo, 30 de nov. de 2022. Disponível em:
< https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/11/30/A-curva-do-desmate-no-caos-ambiental-de-Bolsonaro >.
Acesso em: 14 de jun. de 2023.
Assim sendo, ao considerarmos a concepção dos princípios de liberdade, igualdade,
participação popular, prosperidade financeira, entre outros. Percebe-se que o modelo adotado
no Brasil é resultado da importação de pressupostos de outras nações, visto que a forma desigual
na qual a nação brasileira se constituiu resulta em uma acumulação de recursos concentrada
apenas em uma elite. Em outras palavras, enquanto uma minoria desfruta de grandes privilégios
e riquezas, a maioria da população possui recursos limitados. Esse cenário de desigualdade
social e econômica reflete as estruturas de poder e as relações de classe presentes na sociedade
brasileira. A concentração de riqueza nas mãos de poucos está intrinsecamente ligada a
processos históricos, como a colonização e a escravidão, que contribuíram para a formação de
uma estrutura socioeconômica desigual. Essa desigualdade se perpetua ao longo do tempo,
perpetuando ciclos de pobreza e exclusão para a maioria da população. No entanto, seria
equivocado afirmar que tais fenômenos ocorrem exclusivamente no Brasil, uma vez que
também são observados em outros países. Assim, Apesar das abordagens e perspectivas
distintas desses pensadores, todos eles buscaram compreender a formação da sociedade
brasileira, suas particularidades históricas, culturais e sociais, bem como analisar o modelo
econômico baseado no sistema capitalista. Todos destacaram a importância de compreender a
identidade nacional brasileira e enfrentar desafios como a desigualdade social e a concentração
de poder.
9
SAKAMOTO, Leonardo. No Brasil de Bolsonaro, famintos crescem 73% enquanto bilionários, 48%.
Uol, São Paulo, 09 de jun. de 2022. Disponível em: < Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-
CONCLUSÃO
sakamoto/2022/06/09/brasil-que-passa-fome-cresceu-73-e-o-que-tem-mais-de-us-1-bi-subiu-
48.htm?cmpid=copiaecola >. Acesso em: 15 de jun. de 2023
direção à democracia, ainda existem resquícios de uma mentalidade e estrutura social antiga
que persistem e impactam o desenvolvimento democrático do Brasil.
REFERÊNCIAS