Clinical Medicine">
R - D - Alexsandra Santos Silva
R - D - Alexsandra Santos Silva
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CURITIBA
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iv
v
AGRADECIMENTOS
(Mateus 7:25)
ix
RESUMO
ABSTRACT
Introduction: Obesity is a disease that directly affects the health and quality of life of
millions of people around the world. Despite the relevance of the theme to health and
economics, studies that describe performance difficulties in daily activities and measure
these data are still scarce, especially in Brazil. Understanding the difficulties faced by
obese people helps in understanding the functionality of this population. Objectives: To
evaluate and classify the limitations in the occupational performance of obese people.
Among the secondary objectives are: to correlate the limitations found with Body Mass
Index (BMI) and waist circumference (WC); to compare the limitations presented by obese
individuals according to the degree of obesity and to indicate which are the main reasons
that affect the occupational performance of obese people. Methods: Descriptive, cross-
sectional study conducted at a public university hospital with participants aged ≥ 18 years,
BMI ≥ 30 kg / m², without neurological, orthopedic or cognitive sequelae that compromised
performance and were divided into groups according to the degree of obesity. All
respondents answered a socio-demographic questionnaire, followed by the application of
the Canadian Measure of Occupational Performance (COPM), in addition to having their
weight, height and waist circumference (AC) measured. They were also asked about the
reason they perceived to be associated with the reported difficulty. The complaints found
at the COPM were classified with the International Classification of Functioning, Disability
and Health (CIF). Results: The sample consisted of 105 participants, divided into 3 groups
of 35 people. Regarding COPM, the means of performance and satisfaction were,
respectively, 4.31 (± 1.73) and 3.31 (± 2.13). 327 complaints were filed with the COPM,
which were classified into 22 domains of the ICF, with the most frequent limitations being:
clean housing (d6402) with 35 complaints; (d5204) with 33 complaints, playing sports
(d9201) with 30 complaints, walking long distances (d4501) and shoes (d5402) with 28
complaints. The research also pointed to a relationship between the presence of pain and
the increase in the number of complaints (p ≤ 0.017). The main reasons reported in COPM
were: pain sensation (b280) with 88 complaints, pelvic region structure (s740) with 75
reports and respiratory functions (b440) with 44 complaints. Conclusion: The results point
to a limitation in the areas of occupation, mainly for self-care, productive and leisure
activities. Occupational performance has proved to be an important area of intervention in
people with obesity. The complaints reported at the COPM could easily be classified with
the CIF. The action to improve the quality of life of the obese is a field full of possibilities
for various professions.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS
Dr. – doutor
Dra. - Doutora
ed. - edição
et at. - e outros
f. – folha
n. – número
p. – página
Prof. - professor
Profª. – professora
v – volume
xiv
LISTA DE SIGLAS
APÊNDICE
LISTA DE ANEXOS
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ...........................................................................................................1
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................3
2 OBJETIVOS .................................................................................................................6
2.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................6
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................6
3 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................7
3.1 OBESIDADE ..............................................................................................................7
3.1.1 Etiologia ..................................................................................................................7
3.1.2 Comorbidades ........................................................................................................7
3.1.3 Classificação ...........................................................................................................8
3.1.4 Circunferência Abdominal .......................................................................................9
3.1.5 Tratamento ........................................................................................................... 10
3.2 DESEMPENHO OCUPACIONAL ............................................................................ 12
3.2.1 Terapia Ocupacional e Obesidade........................................................................ 13
3.3 CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, INCAPACIDADE E
SAÚDE (CIF) ................................................................................................................. 15
3.3.1 Core Sets da CIF .................................................................................................. 17
3.3.2 Core Set da obesidade ......................................................................................... 18
4 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................................... 20
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ....................................................................... 20
4.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO .................................................................................... 21
4.3 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ................................................................................... 21
4.4 INSTRUMENTOS DA COLETA DE DADOS ........................................................... 22
4.4.1 Aferição do peso, altura, circunferência abdominal e cálculo do IMC ................... 22
4.4.2 Questionário Sociodemográfico ............................................................................ 22
4.4.3 Canadian Occupational Performance Measure (COPM) ...................................... 23
4.4.4 Motivos relacionados às queixas .......................................................................... 24
4.4.5 Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) ...... 24
4.5 ANÁLISES ESTATÍSTICAS ..................................................................................... 25
5 RESULTADOS ........................................................................................................... 26
5.1 DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS .......................................................................... 26
xviii
APRESENTAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
2 OBJETIVOS
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 OBESIDADE
3.1.1 Etiologia
3.1.2 Comorbidades
3.1.3 Classificação
podem apresentar IMC falsamente elevado. Esses fatores, porém, são facilmente
avaliáveis durante o exame clínico do paciente. (MANCINI, 2001).
Alguns autores denominam super obesos os indivíduos com IMC > 55 kg/m²
ou > 50 kg/m², devido às dificuldades particulares do próprio manejo pessoal e à
extensa gama de complicações clínicas que incidem nessa população. A população
de super obesos cresceu 500% na última década e corresponde entre 30 a 50 %
dos obesos mórbidos. (BRAY, 1992; PUGLIA, 2004; SANTO, et al, 2014).
Pesquisas demonstram ainda que indivíduos com IMC superiores a 45
Kg/m2 apresentam redução da expectativa de vida em 13 anos para os homens e
oito anos para as mulheres (MECHANICK et al., 2008).
3.1.5 Tratamento
escalas específicas para essa avaliação no Brasil. Ressaltam ainda que o declínio
na qualidade de vida é mais acentuado nos obesos que não seguem tratamento
para a perda de peso.
Muitos são os protocolos utilizados em estudos para avaliar a qualidade de
vida de obesos, entre eles: Stanford Health Assessment Questionnaire (HAQ -20),
World Health Organization Quality of life (WHOQOL 100), Bariatric Analysis and
Reporting Outcome Sistem (BAROS); Impact of Weight Questionaire on Obesity Life-
Lite (IWQOL – Lite), Short Form Health Survey (SF-36), Obesity Related Well –
Being Questionnaire (Orweel 97). (DINIZ, et al, 2003; ENGEL, et al, 2003;
KOLOKTIN, et al, 2006; BRILMANN, et al, 2007; ORSI, et al, 2008; TOLEDO, et al,
2010).
O termo core set pode ser traduzido como “conjunto principal” ou “itens
essenciais” e refere-se ao conjunto de categorias da CIF que descreve de forma
típica a funcionalidade das pessoas com uma determinada condição de saúde, a
obesidade, por exemplo.
De acordo com Cieza, et al, (2004), o objetivo dos Core sets da CIF é
selecionar as categorias da classificação completa que são como padrões mínimos
para a avaliação e documentação da funcionalidade e saúde em estudos clínicos,
encontros clínicos e avaliação multiprofissional abrangente. A ideia por trás dos Core
sets da CIF é que, ao invés de avaliar mais de 1400 aspectos da funcionalidade das
pessoas descritos na CIF, devem-se avaliar apenas aquelas categorias que são
típicas e significativas numa determinada condição de saúde.
Além dos Core sets abrangentes, existem ainda os resumidos. Os core sets
abrangentes têm de 55 a 130 categorias e esse número varia de 9 a 39 nos
resumidos.
Um Core set resumido para uma condição específica inclui o menor número
possível de categorias para ser prático, mas tantos quantos forem necessários para
18
core set resumido incluiu um total de nove categorias de segundo nível com três
funções corporais, quatro atividades e participação e dois sobre fatores ambientais.
20
4 MATERIAIS E MÉTODOS
5 RESULTADOS
A idade média da amostra foi de 47,24 anos (± 13,04), sendo das mulheres
48,55 anos (±12,64) e dos homens 38,71 anos (±12,83).
Além dos dados apresentados na Tabela 2, ainda foram verificados dados
sobre comorbidades, tabagismo, etilismo, prática de atividade física, presença de
dor, local da dor, tempo de obesidade, fator desencadeador da obesidade e
qualidade de sono. As comorbidades foram verificadas em prontuário e confirmadas
com os entrevistados, as demais informações foram relatadas pelo próprio
entrevistado.
Do total de entrevistados, 96 (91,4 %) apresentaram pelo menos uma
comorbidade descrita em prontuário, sendo que nas mulheres esse número foi de 85
(93,4%) e nos homens 11 (78,65%). As principais comorbidades estão descritas na
Tabela 3.
A verificação da diferença entre os grupos foi feita por meio do teste não
paramétrico de Kruskal Wallis onde se verificou que os grupos estudados diferem
entre si, com um p≤0,000. Verificou-se que os grupos não diferem em relação à
idade (p≤0,441), ou seja, a distribuição de idade entre os grupos apresenta-se de
forma equiparada.
Analisando-se o número de queixas presente em cada grau de obesidade,
verificou-se a hipótese nula, identificando que não há diferença entre o número de
queixas e os graus de obesidade (p≤0,076). Porém foi verificado que há diferença
entre a presença de dor e o número de queixas, rejeitando a hipótese nula de que os
indivíduos que referem dor tem o mesmo número de queixas que aqueles que não a
apresentam. (p≤0,017).
31
Após a verificação das queixas apresentadas pela COPM, foi feita sua
classificação de acordo com a CIF, e a frequência de distribuição das queixas de
acordo com os grupos está apresentada na Tabela 10. A Tabela 11 e a Tabela 12
apresentam as queixas no grupo dos homens e no grupo das mulheres. O código da
CIF bem como o título apresentado na versão brasileira também estão descritos na
tabela. A classificação foi feita considerando-se a descrição apresentada para cada
item. A Tabela apresenta a classificação de acordo com o número total de queixas
(soma dos 3 grupos), porém deve-se atentar que em alguns grupos, algumas
atividades foram mais significativas que outras.
32
.
TABELA 11 – DISTRIBUIÇÃO DAS QUEIXAS NOS HOMENS DA AMOSTRA
Grau I Grau II Grau III Total
Código CIF Categoria % % % %
(N=4) (N=3) (N=7) (N=14)
6 DISCUSSÃO
unhas dos pés, limpeza doméstica, dessa forma, a condição financeira se torna uma
barreira ou um facilitador para a realização de algumas atividades. Uma limitação do
estudo é o fato dele ter sido realizado em um hospital público com uma população de
baixa renda.
Um estudo realizado em Portugal corrobora com essa afirmação quando
aponta para a relação entre o nível econômico e a obesidade. Os produtos que
fornecem muita energia a baixo custo são mais acessíveis e se beneficiam de
campanhas publicitárias muito fortes, o que acaba por fazer com que cheguem mais
facilmente às pessoas mais carentes e com menor grau de instrução, logo, com menor
capacidade para evitar o seu consumo. A idade e o grau de instrução são também
fatores importantes uma vez que as pessoas de mais idade e com menos escolaridade
sofrem mais com a obesidade. (DGE, 2016)
As comorbidades também são descritas na literatura como possíveis fatores
limitantes da capacidade funcional. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é
considerada por muitos autores como a comorbidade que se encontra mais relacionada
à obesidade, pois o excesso de peso pode provocá-la ou agravá-la. Estudos realizados
nas Universidades de Harvard e Pensilvânia verificaram que a prevalência de HAS é
inversamente proporcional ao nível da capacidade física, assim como o risco de se
tornar hipertenso é maior nas pessoas com baixa capacidade física. (BLAIR, et al,
1984; LEE, HSICH, PAFFENBARGER, 1995; GRUNDY, et al, 2004).
Como esperado, a comorbidade mais presente na amostra foi a HAS com
66,7% dos entrevistados, porém é importante ressaltar que a coleta foi realizada em
ambulatórios onde pessoas obesas que apresentavam comorbidades faziam
acompanhamento endocrinológico.
A diabetes mellitus tipo 2 (DM2) também é uma comorbidade recorrente na
amostra estudada. Um estudo multicêntrico realizado no Brasil verificou que a
obesidade já atinge um percentual de pacientes com DM2 semelhante ao relatado em
estudos europeus, mas ainda menor do que o observado nos Estados Unidos. A
prevalência de obesidade nos pacientes diabéticos foi três vezes maior do que a
observada na população brasileira em geral de acordo com os dados do IBGE.
(GOMES, et al.,2006)
Outra comorbidade recorrente na obesidade e na amostra estudada é a
osteoartrite (OA). A OA na pessoa obesa pode aumentar a intensidade da dor e das
limitações funcionais, devido a uma maior descarga de peso na articulação acometida,
40
com estreitamento do espaço intra-articular, que pode aumentar a dor articular, rigidez
e atrofia muscular. O peso excessivo aumenta tanto a pressão quanto a força sobre a
articulação, ativa mecanismos de degradação da cartilagem articular, esclerose do osso
subcondral e formação de osteófitos e leva ao agravamento da OA. (JINKS; JORDAN;
CROFT, 2006; BLAZEK, et.al; 2013).
Os autores Blagojevic, et al. (2010) numa metanálise, avaliaram o risco para o
aparecimento da OA e verificaram que pessoas obesas têm três vezes mais risco de
desenvolver OA em relação a indivíduos sem sobrepeso.
Corroborando com esses dados, Neto, et al (2016) compararam um grupo de
idosos obesos com OA e um grupo de idosos com OA porém sem obesidade. O estudo
observou redução de desempenho no teste Time Up and go (TUG), velocidade da
marcha rápida e caminhada de seis minutos (TC6) dos idosos obesos. Com o teste
Westerm Ontario and McMaster Universities (Womac) verificou-se no domínio de
severidade da dor, maior presença de dor no grupo de obesos ao “subir escada” e “dor
noturna”. No domínio dificuldade de execução de atividades, comparado com o grupo
de não obesos, os idosos obesos apresentaram maior dificuldade nos itens “descer
escadas”, “levantar da cadeira”, “ficar de pé” e “sentar/levantar do vaso sanitário”. A
conclusão desse estudo foi de que a OA associada à obesidade impacta negativamente
a capacidade funcional, sendo que idosos obesos com OA apresentam redução da
capacidade funcional, maior nível de dor e dificuldade de executar tarefas cotidianas
que exigem esforço. Essas alterações podem estar associadas a maior quantidade de
massa corporal e consequente sobrecarga na articulação.
A depressão foi uma comorbidade presente na amostra de mulheres e ausente
na dos homens. Na revisão sistemática realizada por Atlantis e Baker (2008) sobre a
obesidade e depressão verificou-se que as medidas de efeito relatadas na maioria dos
estudos transversais dos Estados Unidos apoiaram a hipótese de associação entre
obesidade e prevalência de depressão para mulheres, mas não para homens. As
medidas de efeito relatadas em todos os estudos de coorte prospectivos sugeriram que
a obesidade pode aumentar as probabilidades de resultados futuros da depressão
(sintomas ou diagnóstico não clínico de depressão).
Na amostra estudada, o número de fumantes e ex-fumantes somou 36,2% dos
entrevistados, bem como o número de sedentários foi de 42,9%. Um estudo de coorte
realizado na Europa concluiu que tabagismo, sedentarismo e obesidade associados
levam à diminuição de aproximadamente oito anos na expectativa de vida e de seis
41
reduzir o medo dos olhares e comentários das pessoas e para melhorar a possibilidade
de apoio social, poderia ser a organização de grupos de exercícios abertos,
caminhadas, futebol, ou até mesmo idas à piscina, apenas para pessoas com
obesidade. Além disso, discutir como lidar com comentários embaraçosos poderia
contribuir. Esse campo de atuação abre janelas para a atuação de diversos
profissionais como fisioterapeutas, educadores físicos e psicólogos por exemplo.
Na presente pesquisa, não foram somente as atitudes sociais que levaram às
dificuldades de realizar atividade física, aliás, essa queixa só foi relatada por uma
pessoa da amostra. Os principais motivos para essa atividade foram os relacionados à
dor, falta de ar e tamanho da barriga, classificados como b280, b440 e s740 na CIF.
Aliada à dificuldade de realizar atividade física, destaca-se ainda a queixa para
andar distâncias longas (d4501) e calçar (d5402) que ficaram com o quarto lugar nas
queixas relatas na amostra, ambas com 28 queixas (26,7%) e ambas realizadas tanto
por homens quanto por mulheres.
Muitos dos prejuízos à caminhada relacionados à obesidade podem ser
atribuídos a diferenças nos parâmetros de marcha observados entre populações
obesas e de peso normal. Ao caminhar em um ritmo normal, indivíduos obesos
caminham a uma velocidade mais lenta com menor comprimento de passada e gastam
mais tempo com os pés em contato com o solo. (LAI, et al., 2008) Adultos obesos
também andam em uma cadência mais lenta (passos por minuto) com larguras de
passo maiores e tempos de oscilação mais curtos (quantidade de tempo entre as
etapas). (WEARING, 2006)
A dificuldade para calçar o sapato ou de colocar a meia foi classificada na CIF
como calçar (d5402). Tal queixa se fez presente tanto entre os homens quanto entre as
mulheres e faz parte do vestir, porém como o vestir envolve também a vestimenta da
parte superior e essa queixa não foi realizada na amostra, optou-se em realizar a
classificação de terceiro nível. Foi comum ao se questionar se a pessoa apresentava
dificuldade para calçar o sapato, escutar que não tinha tal dificuldade, pois parou de
utilizar sapato de amarrar, fazendo uso de sapatos que pudessem ser utilizados
somente encaixando o pé, sem a flexão do tronco, como sapatilhas.
No estudo de Forhan, et al (2010), a queixa de calçar também se fez presente,
com descrição inclusive de pessoas que encontraram outras maneiras de realizar a
atividade, não fazendo uso de meias, meia-calça e determinados sapatos. A atuação
do terapeuta ocupacional junto aos pacientes que tem dificuldade para calçar meias e
46
atividades sociais. (THOMAS, et al, 2008; LEWIS, et al, 2011; NOSSUM, et al, 2017).
Estudos anteriores também revelam que as pessoas com obesidade usam
frequentemente meios sociais como o Twitter, Facebook e blogs para procurar por
informação e apoio e para partilhar experiências sobre vestir e comprar roupas.
(LEWIS, 2011a; CHOU, PRESTIN, KUNATH, 2014)
Nossum, et al, (2017) sugerem que os terapeutas ocupacionais que trabalham
com obesos devem ter capacidade de planejar suas intervenções, realizando quando
necessário, orientação à seus pacientes para lojas e sites relevantes. Além disso,
fabricantes de vestuário podem encontrar nessa população uma oportunidade de
negócio, fornecendo roupas de tamanhos adequados e a preços razoáveis.
A atividade de cuidados relacionados aos processos de excreção (d530)
decorrente de queixas relacionadas à dificuldade para realizar higiene no vaso também
apareceu na amostra em nono lugar, onde 10,5% dos entrevistados relataram
dificuldade. Em relação à essa dificuldade, Forhan, et al,(2010) em sua pesquisa
reforçam que esse assunto não costuma ser abordado por ser algo “embaraçoso”, mas
é comum entre as queixas do obesos, especialmente os de grau III. As autoras
reforçam ainda que problemas relacionados a escapes de urina foram frequentes entre
os relatos apresentados, sendo mais um limitador na participação social.
Na presente pesquisa, questões relacionadas ao controle de esfíncter não
foram questionadas e sim somente dificuldades de realizar a higienização ao fazer uso
do vaso sanitário.
Queixas como dificuldade para fazer uso de transporte público (passar a roleta,
sentar nos bancos) foram classificadas na CIF como utilização de transporte público
d4702. Essa queixa também foi encontrada em outros estudos que avaliaram o
desempenho de pessoas com obesidade, porém nesses estudos queixas relacionadas
à assentos de avião foram mais frequentes. Na amostra todas as queixas foram
relacionadas ao uso do ônibus. Reforça-se ainda a característica socioeconômica da
amostra. (FORHAN, et al, 2010; NOSSUM, et al, 2017)
As dificuldades relatadas para ser aceito, encontrar e manter um emprego
foram classificadas como conseguir, manter e sair de um emprego (d845). Um estudo
que avaliou a interferência da dor musculoesquelética nas atividades de trabalho de
indivíduos obesos concluiu que a execução de atividade de trabalho em obesos muitas
vezes é impedida e/ ou prejudicada devido à dor. Dentre esse população de obesos
estudada, 44,21% deixou de trabalhar em algum período no decorrer de 12 meses
49
Por fim, as atividades que tiveram apenas uma queixa, mas mesmo assim
foram citadas na amostra, foram relacionadas à dificuldade de terminar o programa
escolar por questões de acessibilidade, sendo classificada como terminar o programa
de educação escolar (d8203) e a dificuldade de preparar refeições ao fazer uso do
fogão classificada como preparação de refeições (d630).
A tarefa preparação de refeições foi relatada nessa amostra como prejudicada,
porém não por dificuldade em preparar refeições saudáveis, mais sim pela dificuldade
em permanecer na posição ortostática por muito tempo. Em outro estudo realizado com
a utilização da COPM a queixa de preparar refeições foi relacionada à implementação
de alimentação saudável. (NOSSUM, et al, 2017). Esse mesmo estudo reforça que o
terapeuta ocupacional pode ajudar seus clientes a estabelecerem uma rotina diária,
discutindo opções realistas para escolhas alimentares saudáveis, preparar listas de
compras e preparar alimentos junto com seus clientes.
A atividade de preparação de refeições chegou a ser analisada para a inclusão
no core set, porém após a tomada de decisão a atividade ficou de fora. Os argumentos
utilizados na discussão do core set apontam que na obesidade grau 3 a realização de
múltiplas tarefas pode ser um problema. Na pesquisa, essa tarefa foi citada apenas
uma vez, por uma pessoa com obesidade grau I, porém outras pesquisas apontam para
a limitação nessa atividade.
durante a realização das AVD´s e AIVD´s que minimizem a dor, bem como promover
adequações ambientais sempre que possível.
Se um paciente com obesidade não é capaz de se deslocar com uma
intensidade e frequência necessária para perder peso ou evitar ganho de peso eles têm
maior risco de sofrer alterações na mobilidade e aqueles pacientes com mobilidade
reduzida continuarão a sofrer restrições em atividades em casa, trabalho, escola e na
comunidade, com impacto negativo na qualidade de vida relacionada à saúde.
(FORHAM, et al, 2013a).
Quando o motivo relatado para uma determinada queixa foi o tamanho da
barriga, a classificação foi feita como estrutura da região pélvica (s740) e se relaciona
ao volume abdominal gerado pelo excesso de gordura. Das 327 queixas apontadas
pela amostra, 75 (22,94%) tiveram como motivo o volume abdominal. Esse motivo foi o
mais relatado nas atividades de cuidado com as unhas dos pés, calçar, lavar partes do
corpo e vestir-se.
Considerando as atividades expostas, a indicação bem como o treinamento do
uso de dispositivos de tecnologia assistiva como calçadores de meias, escovas de cabo
longo, barras de apoio, cortadores de unha adaptados, entre outros, poderiam
minimizar as dificuldades apresentadas nessas AVD´s.
As queixas trazidas como falta de ar e/ou fôlego para realização de
determinada atividade foram classificadas como funções respiratórias (b440) na CIF.
Um estudo realizado por Orsi et al (2008), avaliando a capacidade respiratória, aponta
para a diminuição da aptidão física e da capacidade funcional em mulheres obesas
quando comparadas à mulheres eutróficas e com sobrepeso. A fadiga em obesos,
limitando as atividades e aumentando o tempo de execução das mesmas, também foi
descrita no trabalho de Alley e Chang (2007).
A prática de esportes e qualidade do sono foram as atividades mais
prejudicadas na presente amostra devido à função respiratória. Novamente, uma
abordagem multidisciplinar se faz necessária para auxiliar nessas demandas.
As funções relacionadas à mobilidade das articulações (b710) foram
classificadas dessa forma devido à percepção da falta de flexibilidade e amplitude de
movimento que algumas pessoas relataram serem limitantes. Os cuidados relacionados
aos processos de excreção e os cuidados com os pelos foram as atividades que mais
foram afetadas por essa função. Marcelino e Patrício (2011) confirmam essa afirmação
quando apontam que a falta de flexibilidade das articulações, a dor e o edema
52
verificar que para a intervenção junto ao individuo obeso o uso de tecnologia assistiva,
a graduação da atividade, o auxílio na mudança de hábitos, o treino de técnicas de
conservação de energia, o estímulo ao engajamento e participação e a eliminação de
barreiras são estratégias que podem ser utilizadas pelos terapeutas ocupacionais.
56
7 CONCLUSÕES
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ANEXOS E APÊNDICES
ANEXO 1 - MEDIDA CANADENSE DE DESEMPENHO OCUPACIONAL (COPM)
68
69
1 – DADOS PESSOAIS
Nome: _____________________________________________________________Sexo: ( 0 ) F
(1)M
DN: ____/____/____ Idade: _________ Naturalidade: ______________ Cor: _________
Aposentado: (0)S (1)N Ocupação: _______________________Estado Civil:
____________________ Escolaridade: ___________ Renda Familiar: ________
Religião: __________ Telefones:_____________________
2 - ANAMNESE
Peso: _____________ Altura: ___________ CA: _________ IMC: _______________
Comorbidades: ( ) HAS ( ) DM ( ) DSLP ( ) OA ( )Depressão ( ) Hipotireoidismo ( ) Outros
Problemas Ortopédicos: ( ) S ( ) N Local: ____________________ Tempo:
___________________
Tabagista: ( )S ( )N ( ) Ex Tempo: __________ Cigarros por dia: ______________
Etilista: ( )S ( )N ( ) Ex Tempo: __________ Doses por dia: ________________
Exercício Físico: ( ) S ( ) N
Dores relacionadas ao peso: ( )S ( ) N
Dorme bem: ( )S ( )N Motivo: _____________
Obesidade há quanto tempo: _______________________________________________
Percebeu algum fator como desencadeador:___________________________________
73
______________________________________________________________
(Nome e Assinatura do participante da pesquisa ou responsável legal)
Local e data:
______________________________________________________________
Alexsandra Santos Silva
Local e data:
75